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Cult: Filme – O pântano — Intranet MPF https://portal.mpf.mp.

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Cult: Filme – O pântano


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Premiada produção argentina mostra colapso da classe
média local com narrativa que influenciou o cinema
mundial

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Por Edgar
Aristimunho
Entre todos os
procedimentos
narrativos
utilizados pelo
cinema para Arte: Template do Canva adaptado
contar uma pela Comunicação MPF com fotos
história, o reproduzidas da internet
naturalismo
foi, sem dúvida, muito bem empregado pelos
realizadores que optaram por mostrar e não contar a
história. A ideia de que a ação depende dos pequenos
atos do cotidiano fez parte daquilo que se
convencionou chamar de “cinema da contemplação”,
no caso, dos dramas. O pântano (La ciénaga), filme
argentino de 2001, é um dos marcos numa modificação
na forma de narrar do cinema contemporâneo. Junte-se
a isto tudo a capacidade de enxergar o social, a política
e a sociedade, bem como a mudanças nos modos de ver
a realidade, e teremos um grande filme. Este grande
filme é O pântano, um retrato do esvaziamento da
capacidade de o indivíduo reagir ao seu destino e
aceitar uma ordem autoritária maior.
O pântano é parte de uma trilogia sobre a sociedade
argentina na região de Salta, ao norte do país, terra
natal da diretora Lucrecia Martel. O filme conta a
história de duas famílias em férias num sítio. O calor e o
número excessivo de filhos faz os adultos ficarem à
beira da piscina. É também o visual quase putrefato que
se encontra a piscina no sítio da família de Mecha, uma
das protagonistas. Mas é sobretudo uma metáfora da
circunstância mental que contamina a tudo e a todos,
um pântano onde sentimentos e desejos se afundam,
apodrecem e corrompem-se, não necessariamente
nessa ordem. O círculo narrativo começa com um
pequeno incidente à beira, claro, da piscina: copos
vazios e mãos segurando uma garrafa de vinho ocupam
o campo visual, na trilha sonora o ruído do
derramamento do vinho gera um som extremamente
próximo, assim como o barulho do gelo sacudido pela
mão que segura a taça. Uma mulher, Mecha (Mercedes
Moran), levanta-se para carregar algumas taças,
escorrega na superfície coberta de musgo, cai e se corta.

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A exposição do sangue desestabiliza o ambiente e


detona a largada do filme. Os adultos, contudo, nem se
mexem. É a empregada quem vem dar os primeiros
socorros, seguida de uma das filhas adolescentes. A
bagunça está só começando, e o registro de câmera e
som aproveita todas as nuances e angústias, silêncios e
segredos, movimentos bruscos e impiedosos. Os pais
não estão nem aí com os filhos: o dono da casa vai
morar no quarto dos fundos, após trair a esposa; Mecha,
a esposa, está em fase avançada de alcoolismo; o casal
de filhos adolescentes flerta seus corpos; dois pequenos
empunham espingardas pela mata e levam juntos os
menores; a filha anda grudada na emprega e corre a
pequena cidade na carroceria de uma caminhonete, em
festas e estrepolias. Ninguém olha por ninguém. A vida
é um pântano naquela família classe média mais ou
menos decadente, autoritária e preconceituosa com as
populações indígenas. O pântano está em toda parte,
representado pela água turva, o vinho e o sangue que
reaparece a toda hora.

O projeto cinematográfico de Lucrecia Martel (ffoottoo),


diretora premiada em Berlim no ano de 2001, é muito
simples, coerente e eficaz; é ela mesma quem explica:
“não há verdades ocultas a serem encontradas pelos
personagens, nem há qualquer ligação entre causa e
efeito”… “o que faço é tudo mentira, é tudo artefato.
Não acredito na verdade e se há algum efeito de
verdade nos meus filmes, é um milagre”. Ao optar pelo
procedimento naturalista de acompanhar a tragédia da
sociedade argentina, o filme nos deixa livre. As
sequências exibem, sem nenhum pudor, vários
personagens de diferentes idades, que acorrem ao sítio
para escapar do calor, mas as conexões familiares entre
eles não são evidentes à primeira vista, é preciso atentar
para os detalhes do quadro, para o soslaio dos
movimentos, para lograr alguma identificação. É como
se toda a representação da sociedade argentina
estivesse ali. Essa concepção cinematográfica de
mostrar esteve presente, no passado, em filmes como
Hiroshima meu amor, Clèo às cinco, O eclipse, A rotina
tem seu encanto e o recentemente resgatado Jeanne
Dielman 23 quai du Comerce 1080 Bruxelas1, filme de
1975 eleito o melhor de todos os tempos pela revista
britânica Sight&Sound. Nesse contexto cinematográfico
que se insere o cinema de Lucrecia Martel, uma vez que
seu procedimento narrativo acaba por influenciar o
cinema contemporâneo e a forma de narrar, na qual o
naturalismo da encenação está a serviço da
identificação dos dramas da humanidade. Exemplos de
filmes assim são Tio Boonmee que pode recordar suas
vidas passados, Inverno da alma, Lucky, e aqui no
Brasil, Arábia, Hoje eu vou voltar sozinho, O som ao
redor, Rodantes, Mormaço, Açúcar e o definitivo e

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distópico Mato seco em chamas.


Tratando de temas sociais profundos (o autoritarismo, o
machismo, a violência doméstica, o incesto e o
preconceito de raça), O pântano usa os aspectos triviais
do cotidiano para colocar o espectador no epicentro de
uma explosão social que ainda está por vir
Bom divertimento.
(1) Trata-se de um filme de 3h13min que acompanha o
cotidiano de uma dona de casa, a partir do registro de
todos os passos de seu dia-a-dia, numa rotina repetitiva
e enfadonha de partes de três dias, filmados em tempo
real.
CULT # 609 – 27/09/2023
Na data de publicação desta coluna, o filme estava
disponível no streaming da Mubi
registrado em: Cult

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