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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

INSTITUTO DE GEOGRAFIA, DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE


DISCIPLINA: TEORIA E MÉTODO EM GEOGRAFIA

FLÁVIA ALESSANDRA DOS SANTOS SILVA

Resenha acerca do documentário “A BRASKEM PASSOU POR AQUI: A catástrofe de


Maceió”

Maceió/AL
2021
FLÁVIA ALESSANDRA DOS SANTOS SILVA

Resenha acerca do documentário “A BRASKEM PASSOU POR AQUI: A catástrofe de


Maceió”
Resenha crítica acerca do documentário
“A BRASKEM PASSOU POR AQUI: A
catástrofe de Maceió” de Carlos
Pronzato, atividade solicitada como
complemento de nota da avaliação
bimestral 2 (AB2), da disciplina de
Teoria e Método em Geografia,
ministrada pelo Prof. Dr. Avelar Jr.

Maceió/AL
2021
A BRASKEM PASSOU POR AQUI: A catástrofe de Maceió

A BRASKEM PASSOU POR AQUI: A catástrofe de Maceió. Direção: Carlos Pronzato,


Benival Farias. Produzido por Carlos Pronzato. Youtube. 5 de ago. de 2021. Vídeo (81 min.).

O ilustre cineasta, diretor, escritor e ativista por causas sociais, Carlos Pronzato, é um
argentino que percorreu a América Latina em busca de relatar em suas obras as lutas políticas
e sociais desses povos. Residente no Brasil desde meados da década de 1980, produziu obras
em audiovisual como o documentário “1917, a Greve Geral” e escreveu livros como o
intitulado “Che, um Poema Guerrilheiro”. Pronzato realizou no ano de 2021 o documentário
sobre um dos maiores crimes e desastres ambientais e sociais, ocasionado pela mineração da
empresa Braskem na cidade de Maceió do estado de Alagoas.
O trabalho organizado por Pronzato, expôs diversos pontos de vista acerca do crime
que foi instaurado em Maceió desde a década de 1970 no bairro do Pontal da Barra, com a
iniciação da extração de sal-gema para a produção de cloro-soda. O contexto estrutural e
geológico da cidade na qual a empresa se estabeleceu, foi em uma área de bacia sedimentar,
considerada um santuário ecológico, em uma área litorânea, de restingas, nas imediações da
Laguna Mundaú, um dos maiores ecossistemas do estado de Alagoas e com uma grande
importância histórica, cultural e econômica.
A empresa inicialmente nomeada Salgema e posteriormente Braskem, teve uma
instalação conturbada na cidade, dado que especialistas na área de geologia e ecologia faziam
alertas sobre os riscos de subsidência nas áreas exploradas que viriam a ser causados pela
extração intensiva de sal-gema na região. A geóloga e engenheira Regla Toujaguez, conta
como a ação da empresa não foi sozinha, mas como esse processo das extrações foram
autorizadas por órgãos municipais e estaduais, isto é, ao longo das décadas, não houve uma
fiscalização ambiental para que pudesse ter sido efetuada uma mineração mais sustentável,
considerando as limitações e instabilidade do solo. Uma vez que as minas estão situadas no
subsolo de uma região urbana, e que o risco de afundamento do solo coloca em risco famílias,
que por sua vez, não sabiam da iminência do risco no local em que habitavam.
A confirmação de que as fissuras geradas pelo tremor de terra (sismos) que ocorreu na
região no início de 2018, foi de responsabilidade da empresa mineradora que atua na região.
A tragédia atingiu diretamente os bairros de Bebedouro, Pinheiro, Mutange e Bom Parto, e
bairros adjacentes atingidos indiretamente devido à proximidade da área de risco. Nos quais,
não houve apenas danos ambientais, como também culturais, históricos, patrimônio público,
econômicos e psicológicos aos moradores das comunidades afetadas. O impedimento de
circulação em algumas áreas fez com que o deslocamento de pessoas entre a cidade fosse
interrompido, prejudicando a mobilidade urbana. Os vazamentos de óleo e outros resíduos
gerados pela mineração, afetam a qualidade da água da Laguna Mundaú, consequentemente,
impactando os pescadores e marisqueiras que retiram da lagoa seus meios de subsistência
como o sururu, denotando assim, as diversas vertentes causadas pelo desastre. Muitos
moradores demonstram revolta e o desamparo com relação ao ressarcimento pelos danos
causados, onde até o presente momento, uma parcela da população ainda não foi indenizada, e
o valor é dado pela própria empresa.
No que tange a economia local dos bairros atingidos, muitas microempresas e
pequenos negócios como mercadinhos e padarias produziam empregos no local, que foram
totalmente impactados quando os bairros foram desativados. Alguns moradores,
principalmente os mais antigos, muitas vezes negam a gravidade do problema e se recusam a
deixar suas casas. Permanecendo assim, sujeitos a outros possíveis eventos que podem
acontecer devido à vulnerabilidade e instabilidade do solo. A geóloga Toujaguez, destaca a
falta de comunicação com esses moradores, onde não foram notificados que habitavam uma
região suscetível à ocorrência de subsidência.
A magnitude inegável do problema deixa questionamentos, em especialistas da área e
na própria comunidade, como o problema está sendo noticiado e por quais razões um evento
tão raro de acontecer não está sendo pauta e tratado com a devida importância e atenção, pela
mídia, bem como ninguém ainda foi responsabilizado pela ocorrência dos danos gerados pela
mineração criminosa da empresa. Muitos questionamentos perduram até o epílogo do
documentário, em relação a forma que o problema está sendo noticiado, à vista dos inúmeros
efeitos catastróficos que o crime operado pela empresa Braskem obteve em Maceió, os
noticiários vem esquecendo de constatar como a população está sofrendo com os resquícios
deixados pela tragédia. O documentário denuncia a forma como esta notícia está sendo
repassada como uma tragédia evitada, o que evidentemente, não é o que se verifica
efetivamente, uma vez que notas são dadas pela própria empresa, o que mascara a magnitude
de tal problema, com a falsa sensação de que o desastre foi controlado. Mas Pronzato, através
das entrevistas realizadas, denota como a voz da população precisa ser ouvida, e a dimensão
do crime.
Em síntese, o documentário expõe o contexto inicial dos problemas que ocorreram
desde a instalação da empresa na cidade de Maceió, e dos riscos iminentes com a exploração
de sal-gema. Destaca-se ainda, a precarização no ressarcimento, onde muitos moradores ainda
não foram devidamente indenizados. O documentário deixa uma reflexão de como os
impactos diretos na vida das pessoas que habitavam essas comunidades estão sendo
invisibilizados, e não sendo tratados com a devida importância. E ainda, se a empresa tem
planos para o uso da área futuramente, uma vez que, ao passo que os moradores assinam o
acordo para deixar suas casas para trás, as propriedades passam a ser de domínio da empresa.
E como a falta de órgãos ambientais para fiscalizar essa extração do recurso, juntamente à
negligência por parte dos órgãos municipais e estaduais, possibilitaram a continuidade dessa
extração criminosa que proporcionou incontáveis danos em diversos aspectos, ambientais,
sociais, econômicos, perda cultural, deixando famílias desamparadas e bairros históricos
completamente fantasmas e destroçados.
Estas foram as ponderações apresentadas ao longo do documentário “A BRASKEM
PASSOU POR AQUI: A catástrofe de Maceió” de Carlos Pronzato, que sempre buscou em
seus trabalhos, evidenciar fatos históricos a partir da perspectiva da classe trabalhadora. Os
problemas da desigualdade social e da falta de oportunidades é um destaque no documentário,
onde em um trecho mostra como as pessoas estão sobrevivendo e tirando uma pequena renda
de atividades precárias, como o garimpo de tijolos das casas abandonadas, para revender.
Mostra como o problema está sendo tratado pelos governantes, um ato desumano, onde a
população atingida além de estarem sujeitas aos riscos evidentes do local, estão sujeitas a
atividades precárias, sem renda fixa, e num contexto pandêmico. Os questionamentos são
inúmeros, como a população mais vulnerável pode cumprir protocolos de segurança quando
não há a certeza de que irá se alimentar. A disparidade é inquestionável, sendo exposta para
entender o tamanho do real problema que acontece na cidade de Maceió.
É notório como a gravidade do problema que cerca os bairros atingidos e a
possibilidade de haver uma ampliação maior nas áreas em risco parecem não ser o suficiente
para emitir alertas de emergência para o que a população de Maceió está sujeita, o qual
aproximadamente de três a quatro segundos de movimentação no subsolo foram capazes de
atingir uma imensa área e gerar diversas fissuras e rachaduras. Em um curto período de tempo
houve um deslocamento de mais de 50.000 mil habitantes, um êxodo urbano causando não
com a finalidade da população buscar melhorias em outras regiões, mas sim um deslocamento
forçado, devido à um desastre ambiental criminoso, onde pessoas foram retiradas de suas
casas, de onde haviam construído suas histórias, culturas, e meio econômico. O Serviço
Geológico Brasileiro (CPRM), através de estudos realizados como a Análise de Sonares das
Cavidade de Extração de Sal-Gema, detectou que a Braskem, através da extração de sal-gema,
formou cavidades no solo que estão se movendo ocasionando a subsidência e a reativação de
estruturas geológicas. Por conseguinte, afetando as superfícies dos bairros atingidos, gerando
nas casas, as rachaduras devido a essa movimentação interna. Ainda está havendo a pesquisa
em diversas outras áreas de maceió que não estão inseridas no mapa de risco para avaliar até
onde se alastra a dimensão dos danos no subsolo.
Mediante à todos os aspectos mencionados anteriormente, e que são evidenciados no
documentário de Pronzato, é notório que os problemas acarretados pelo crime da Braskem
em Maceió são extensos e de tamanha importância que se tome conhecimento sobre ele. A
tragédia precisa ser devidamente noticiada em função da busca de justiça para a população
diretamente afetada pelo crime, e para que os devidos culpados sejam responsabilizados. O
documentário faz uma síntese dos problemas geológicos, sociais e ambientais dos bairros
atingidos, sendo assim, de interesse de todos para compreender a perda que sofre o município
de Maceió, bem como, para alertar sobre a importância da fiscalização ambiental e da opinião
técnica de especialistas para evitar futuramente, uma perda histórica, cultural e uma tragédia
ambiental.

Resenha por: Flávia Alessandra dos Santos Silva

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A BRASKEM PASSOU POR AQUI: A catástrofe de Maceió. Direção: Carlos Pronzato,


Benival Farias. Produzido por Carlos Pronzato. Youtube. 5 de ago. de 2021. Vídeo (81 min.).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zBOJbOGcBwo>. Acesso em: 14 set.
2021.

Carlos Pronzato - www.lamestizaaudiovisual.com.br http://www.lamestizaaudiovisual.com.br

Carlos Pronzato, um cineasta das lutas sociais da América | Cultura (brasildefators.com.br)


https://www.brasildefators.com.br/2020/07/30/carlos-pronzato-um-cineasta-das-lutas-sociais-
da-america-latina

IBGE | Biblioteca | Detalhes | Lagoa Mundaú : Pontal da Barra : Maceió, AL


https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=427060
https://www.gazetaweb.com/noticias/maceio/incerteza-sobre-indenizacao-apavora-moradores-
afetados-por-mineracao-em-maceio/#:~:text=Moradores%20do%20Lote%201%2C%20dos%
20pr%C3%A9dios%20demolidos%20no,foram%20indenizados%2C%20n%C3%A3o%20sab
em%20o%20valor%20da%20indeniza%C3%A7%C3%A3o
Braskem : https://www.braskem.com.br/view-alagoas-teste

Serviço Geológico do Brasil (cprm.gov.br)


http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Acoes-Especiais/Apresentacao-dos-Resul
tados---Estudos-sobre-a-Instabilidade-do-Terreno-nos-Bairros-Pinheiro%2C-Mutange-e-Bebe
douro%2C-Maceio-%28AL%29-5669.html

Afundamento de Maceió provoca êxodo urbano de 55 mil pessoas (metropoles.com)


https://www.metropoles.com/materias-especiais/afundamento-de-maceio-provoca-exodo-urba
no-de-55-mil-pessoas

Serviço Geológico do Brasil (cprm.gov.br)


http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Acoes-Especiais/Apresentacao-dos-Resul
tados---Estudos-sobre-a-Instabilidade-do-Terreno-nos-Bairros-Pinheiro%2C-Mutange-e-Bebe
douro%2C-Maceio-%28AL%29-5669.html

Bahia.ba | MPF investiga vazamento de óleo pela Braskem em Maceió


https://bahia.ba/brasil/vazamento-de-oleo-pela-braskem-em-maceio-e-investigado-pelo-mpf/

PowerPoint Presentation (cprm.gov.br)


http://www.cprm.gov.br/imprensa/pdf/apresentacaoaudienciapublicamaceio.pdf

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