Você está na página 1de 2

Teste de compreensão oral 3

O palhaço
O palhaço chorou.
O palhaço saiu do circo a chorar. Havia pouca gent e a ver o espetáculo e
ninguém achar a graça às suas graças. Era noite alta e o palhaço f oi muito
triste para o pequeno quarto da pensão da vilór ia. Noutro tempo, andara por
grandes cidades e luxuosos hotéis e arrancara muit as gargalhadas e longas
ovações.
Não dorm iu quase nada, sent ia -se velho e cansado e, de manhã cedo,
levantou-se, encostou o nar iz à janela e f icou assim a pensar. A rua era
estreit inha e, na janela em f rente, estava um garoto a rir -se para ele. Era
para ele, com certeza. O miúdo f oi chamar outro miúdo e ambos apontaram
para o palhaço, apontavam para o nar iz do palhaço e ambos se r iam. O
palhaço percebeu, achavam graça ao seu nariz esborrachado na vidraça.
Então, o palhaço riu -se. Já havia três garotos à janela. Fez - lhes sin al
que vinha já e, num a corrida, f oi buscar à mesa de cabeceira o seu nariz de
of ício, nariz de palhaço, grande, verm elhão. Quando voltou ao seu palco
improvisado, já não tinham conta os garotos, empoleirados uns nos outros,
em três janelas. Era uma escola e, certamente, o prof essor ainda não tinha
chegado. Então, o p alhaço, entusiasmado, remoçado, fez todo o seu
número, numa ânsia, numa f ebre. Esgotou o reportór io de caret as e
piruetas, inventou gaif onas e truques, perante o gáudio da meninada que ria
a bandeir as despregadas, f azia uma f esta danada.
Estava f eliz o pal haço, mas durou pouco o seu encanto. Bruscamente, os
meninos f ugiram das janelas. A prof essora (er a uma prof essora) tinha
chegado e, pela car a dela, quando assomou à janela, o palhaço percebeu
logo que ela não er a para br incadeiras. Pouco depois, a pr of ess ora f echou
até as janelas de madeira, certamente porque os m eninos não prestavam
atenção ao que ela dizia.
O palhaço chorou. Era bom de mais o que lhe acontecera: crianças a r ir
das suas graças.

C a r l o s P i n h ã o , U ma G a i v o t a c o m Ó c u l o s , E d . V e g a , 1 9 9 2
DIAL5CP ©Porto Editora

Você também pode gostar