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br Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA

FISIOLOGIA 2016
Arlindo Ugulino Netto; Alanna Almeida Alves.

GRAVIDEZ E LACTAÇÃO

A gravidez é conhecida como o período de tempo compreendido que vai desde a fecundação do óvulo pelo
espermatozoide até o momento do parto. Neste período incluem os processos de crescimento e desenvolvimento do feto
no útero da mãe e também as importantes mudanças que além de físicas são morfológicas e metabólicas.

FECUNDAÇÃO
Por definição, fecundação consiste no processo em que um espermatozoide penetra no ovócito II, dando início a
uma série de fenômenos que caracterizam a gestação. O processo geralmente ocorre na trompa uterina (mais
especificamente, na ampola tubária, aproximadamente na região do terço proximal da trompa).
Após a fecundação, o zigoto é transportado até o útero (blastocisto maduro), onde ocorre uma sequência de
divisões celulares que segue: Zigoto  2 células  4 células  8 células  Mórula (16 células)  Blastocisto (cisto já
na cavidade). A gestação, entretanto, só ocorre no momento da nidação, que é implantação do blastocisto (na trompa
ou na cavidade uterina).

No momento do coito, o gameta masculino é auxiliado por produtos contidos:


 No sêmen (prostaglandinas);
 Nas secreções vaginais;
 Descargas hormonais reflexas (ocitocina e prolactina) - fricção do pênis contra a mucosa vaginal;

A fecundação depende da:


 Vitalidade do espermatozoide (sobrevida após a ejaculação de 48h – 72h);
 Capacitação do espermatozoide (ocorre durante o trajeto em direção ao óvulo);
 Condição do muco cervical (após a ovulação, com os níveis maiores de progesterona, o muco pode ficar mais
espesso);
 Contração uterina;
 Maior proximidade entre o coito e a ovulação.

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NIDAÇÃO
Nidação é a implantação do blastocisto maduro no endométrio. Durante o transporte lento do óvulo fertilizado
através da tuba uterina, ocorre diversos estágios de divisão celular (blastocisto antes de entrar no útero). Geralmente,
acontece nove dias após a fecundação.
Ao contato com o endométrio, as células do blastocisto passam a digerir um pequeno orifício na superfície da
mucosa, no qual se aninham. Assim que as células trofoblásticas invadem a decídua (células inchadas contendo
grandes quantidades de glicogênio), os nutrientes armazenados nela são usados pelo embrião para o seu
desenvolvimento. Durante a primeira semana após a implantação, esse é o único meio pelo qual o embrião consegue
obter nutrientes.
Após a nidação ocorre a multiplicação celular, com formação das vilosidades coriônicas. Elas digerem e
destroem as células do parênquima endometrial, penetrando no interior dos vasos, fazendo contato direto com o sangue
materno.
O córion, membrana de contato que se forma entre as vilosidades e o sangue materno, é formado pelo:
 Sincício-trofoblasto: camada externa e em contato com o sangue materno;
 Citotrofoblasto: camada mais interna.

PLACENTA
A placenta é um anexo embrionário existente apenas na
infraclasse Eutheria, onde estão os mamíferos placentários ou nos
marsupiais, através da qual ocorrem as trocas entre a mãe e seu filho.
É formada pelos tecidos do óvulo, embriologicamente derivada
do córion. Através da placenta, o concepto "respira" (ocorrem as
trocas de oxigênio e gás carbônico), "alimenta-se" (recebendo
diretamente os nutrientes por difusão do sangue materno) e excreta
produtos de seu metabolismo (excretas nitrogenadas).
Na formação da placenta, enquanto os cordões trofoblasticos dos
blastocistos estão ligando-se ao útero, capilares sanguíneos crescem nos
cordões do sistema vascular do novo embrião em formação.
Simultaneamente, sinusoides sanguíneos supridos de sangue materno
desenvolvem-se em torno das partes externas dos cordões trofoblásticos.
As células trofoblásticas enviam cada vez mais projeções que se tornam vilosidades placentárias, nas quais
capilares fetais crescem. Assim, as vilosidades, carregando sangue fetal, são rodeadas por sinusoides que contêm
sangue materno.
A principal função da placenta é proporcionar difusão de nutrientes e oxigênio do sangue materno para o sangue
do feto e difusão de produtos de excreção do feto de volta para a mãe. O sangue fetal se dirige à placenta por duas
artérias umbilicais que se dispõem de forma helicoidal em torno de uma veia umbilical (centralmente ao cordão).
As trocas entre a mãe e o feto:
 Difusão simples de oxigênio e gás carbônico;
 Difusão facilitada de glicose, aminoácidos;
 Transporte ativo (nutrientes, eletrólitos, gases respiratórios, metabólitos, drogas e hormônios podem se
difundir nos dois sentidos).

FATORES HORMONAIS NA GRAVIDEZ


Na gravidez, a placenta forma quantidades especialmente grandes de gonadatrofina coriônica humana,
estrogênios, progesterona e o lactogênio placentário (também conhecido como somatotrofina coriônica humana).

GONADATROFINA CORIÔNICA HUMANA (HCG)


É um hormônio glicoproteico da mesma família das gonadotrofinas hipofisárias. O HCG é secretado pelas
células trofoblásticas sinciciais para os líquidos maternos pouco depois da implantação no endométrio. Sua produção se
inicia precocemente com a formação da placenta e seus níveis são detectáveis 8 a 9 dias (segunda semana) após a
ovulação. Em seguida, a taxa de secreção aumenta rapidamente, atingindo um nível máximo em torno de 10 a 12
semanas de gestação (período de maior atividade endócrina do corpo lúteo) e diminuindo novamente a um valor baixo
em torno de 16 a 20 semanas de gestação, continuando neste nível pelo restante da gravidez.
Com o declínio das taxas de HCG, o corpo lúteo praticamente cessa a sua produção de esteroides, diminuindo
lentamente depois da 13ª a 17º semana. Depois da 12ª semana, a placenta secreta quantidades suficientes de
progesterona e estrogênios para manter a gravidez.
Funções:
 Evita a involução do corpo lúteo ao final do ciclo sexual feminino;
 Induz o corpo lúteo a secretar quantidades ainda maiores de seus hormônios sexuais (estrogênio e
progesterona);
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 Impede a menstruação e faz com que o endométrio continue crescendo e armazenando grande quantidade de
nutrientes.
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OBS : O diagnóstico laboratorial da gestação consiste na pesquisa do HCG na urina ou no sangue. Como vimos, o
HCG atinge seu pico entre 8 a 10 semanas. A subunidade alfa do HCG pode estar aumentado nos casos de LH, FSH e
TSH aumentados, podendo causar resultados falso-positivos em alguns casos (pacientes portadoras de doença
tireoidiana, pacientes no climatério, etc.). Já a subunidade beta é encontrada apenas no HCG e, portanto, é ela quem
deve ser dosada:
 Beta-HCG no sangue: mais sensível.
 Exame de urina:
o Técnica antiga: positivo só com mais de 14 dias de atraso.
o Técnica nova (hemaglutinação passiva reversa): já pode se mostrar positivo com 1 a 3 dias de atraso.
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OBS : A gonadatrofina coriônica humana exerce um efeito estimulador das células intersticiais sobre os testículos do
feto masculino, resultando na produção de testosterona até o nascimento (crescimento e diferenciação dos órgãos e
descida dos testículos para o saco escrotal).

ESTROGÊNIO
É secretado pelas células sinciciais trofoblásticas da placenta. Ao final da gestação, sua produção diária
aumenta cerca de 30 vezes. Os estrogênios secretados pela placenta não são sintetizados a partir de substratos básicos
da placenta, eles são formados a partir de compostos esteroides androgênicos, fabricados tanto nas glândulas adrenais
da mãe quanto do feto.
Funções:
 Aumento do útero materno;
 Aumento das mamas maternas e crescimento da estrutura dos ductos da mama;
 Aumento da genitália externa feminina da mãe;
 Relaxamento dos ligamentos pélvicos da mãe (passagem do feto pelo canal de parto);
 Aspectos gerais do desenvolvimento fetal durante a gravidez (a intensidade da reprodução celular no embrião).

PROGESTERONA
A progesterona também é essencial para uma gravidez bem sucedida. É secretada em quantidades moderadas
pelo corpo lúteo no início da gravidez, posteriormente em quantidades enormes pela placenta, aumentando em média 10
vezes.
Funções:
 Faz com que as células deciduais se desenvolvam no endométrio uterino (nutrição do embrião);
 Diminui a contratilidade do útero grávido, evitando que as contrações uterinas causem aborto espontâneo;
 Durante a gravidez ajuda o estrogênio a preparar as mamas da mãe para a lactação.
 Contribui para o desenvolvimento do concepto mesmo antes da implantação (aumenta a secreção das tubas
uterinas e do útero, o que serve de nutrição para o desenvolvimento da mórula e do blastocisto).

LACTOGÊNIO PLACENTÁRIO
O lactogênio placentário é um hormônio produzido pela placenta cuja secreção se inicia após a quarta
semana embrionária e tem um aumento significativo no segundo trimestre gestacional. Ao final da gestação sua
produção pode chegar a mais de 1g por dia. É importante por suas funções no crescimento, lactação e produção
de esteroides lúteos, além de ser um antagonista da insulina.
Funções:
 Desenvolvimento parcial das mamas (animais), e em alguns casos a lactação;
 Semelhante à prolactina;
 Formação de tecidos proteicos;
 Aumenta a resistência à insulina da mãe, disponibilizando quantidades maiores de glicose para o feto;
 Liberação de ácido graxos livres das reservas de gordura da mãe, proporcionando assim fonte alternativa de
energia para o metabolismo materno durante a gravidez.
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OBS : Como se pode perceber, praticamente todas as alterações que ocorrem no organismo da mãe durante a gestação
tem a finalidade de favorecer o desenvolvimento adequado do feto. A produção do lactogênio placentário, por exemplo,
ao aumentar a resistência à insulina na mãe, faz com que mais glicose esteja disponível na corrente sanguínea materna
e, por conseguinte, chegue até a placenta para nutrir o concepto. Entretanto, este mecanismo pode se tornar nocivo à
saúde da mãe: na segunda metade da gestação, a placenta passa a secretar muitos hormônios contra-insulínicos
(estrogênio, progesterona, cortisol e o próprio lactogênio placentário) e, caso o pâncreas da paciente não desenvolva
mecanismos compensatórios, ela pode desenvolver diabetes gestacional (sendo necessária a administração de insulina
exógena). Por esta razão, devemos pesquisar diabetes na 2ª metade da gestação.
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SECREÇÃO HIPOFISÁRIA
 A hipófise anterior (adeno-hipófise) da mãe aumenta 50%;
 Aumenta a produção dos hormônios corticotropina, tireotropina e prolactina;
 A secreção do FSH e do LH é quase totalmente suprimida, devido aos efeitos inibidores dos estrogênios e
progesterona da placenta.

SECREÇÃO DE CORTICOSTEROIDE
 Secreção de glicocorticoides moderadamente elevada durante a gravidez;
 Ajudam a mobilizar aminoácidos dos tecidos maternos para serem usados na síntese de tecidos fetais;
 Secreção aumentada de aldosterona (2x), atingindo o pico no final da gestação. A aldosterona mais o
estrogênio causa tendência, mesmo na gestante normal, de reabsorver o excesso de sódio, retendo líquido,
levando à hipertensão induzida pela gravidez.

SECREÇÃO PELA GLÂNDULA TIREOIDE


 Aumenta durante a gravidez em tamanho e na produção de tiroxina em até 50%;
 A maior produção de tiroxina é causada por efeito tireotrópico, devido a estimulação da gonadotropina coriônica
humana e da tireotropina coriônica humana (TSH), ambos secretados pela placenta.

SECREÇÃO PELAS GLÃNDULAS PARATIREÓIDES


 Geralmente aumentam durante a gravidez, principalmente se a mãe tiver sob dieta pobre em cálcio;
 Ocorre aumento da absorção de cálcio dos ossos maternos, para manter a concentração normal no LEC
materno, mesmo quando o feto remove cálcio para ossificar seus próprios ossos;
 A secreção intensifica mais ainda durante a lactação, após o nascimento (bebê precisa de mais cálcio do que o
feto).

SECREÇÃO DE RELAXINA
A relaxina é um hormônio secretado pelo corpo lúteo do ovário e pelos tecidos placentários. Sua secreção
aumenta por um efeito estimulador da gonadatropina coriônica humana ao mesmo tempo em que o corpo lúteo e a
placenta secretam grandes quantidades de estrogênio e progesterona.
Funções:
 Diminuir a contratilidade uterina, inibindo a indução de trabalho de parto prematuro;
 Relaxamento dos ligamentos da sínfise pubiana (melhorando as propriedades elásticas da pelve);
 Amolece o colo uterino no momento do parto.

MODIFICAÇÕES NA GESTAÇÃO: RESPOSTA DO CORPO MATERNO À GRAVIDEZ


As adaptações anatômicas e bioquímicas de todos os aparelhos e sistemas na gestação ocorrem, em quase sua
totalidade, da reação orgânica à presença do concepto e seus tecidos (aloenxerto), da sobrecarga hormonal
experimentada pela gestante ou da ação mecânica desencadeada pelo útero gravídico.
De uma forma geral, todas as adaptações visam promover condições para um desenvolvimento fetal adequado e
em completo equilíbrio com o organismo materno. No entanto, algumas modificações podem agravar entidades
mórbidas pré-existentes ou produzir sintomas que, mesmo fisiológicos, são incômodos.

NUTRIÇÃO
O ganho de peso na gestante é devido a uma
série de fatores, como por exemplo: crescimento fetal,
crescimento da placenta e anexos, líquido amniótico,
crescimento das mamas, aumento da volemia
(quantidade de sangue circulando no corpo), aumento
da massa uterina e aumento da massa adiposa
(mamas e região pélvica).
Em relação a nutrição durante a gravidez, o
crescimento fetal é maior durante o último trimestre,
duplicando de peso. Comumente a mãe não absorve
proteínas, cálcio, fosfatos e ferro suficientes pela dieta
para suprir as necessidades extras do feto. Entretanto,
antecipando essas necessidades extras, o corpo da
mãe já armazenou essas substâncias (parte na
placenta, mas a maioria nos depósitos normais da
mulher).

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Para uma gestação saudável, é importante adotar uma alimentação equilibrada, evitando problemas sérios,
como o diabetes gestacional. A pirâmide a baixo representa como deve ser a alimentação adequada para a gestante
durante a gravidez e até durante a amamentação.

METABOLISMO
O metabolismo durante a gravidez:
 Aumenta 15% durante a última metade da gravidez, devido a maior secreção de muitos hormônios;
 Produz calor excessivo (aumento do metabolismo);
 Gasta mais energia muscular, em razão da carga extra que está carregando.

Especificamente, ocorre:
 Hipoaldosteronismo secundário: existe uma ativação fisiológica do sistema renina-angiotensina-
aldosterona com o intuito de reter sódio para evitar hiponatremia, devido à retenção fisiológica de Causas
líquido da gestante. de edema
 Redução da pressão coloidosmótica.
 Diminuição (dilucional) da albumina circulante (apesar do aumento absoluto das proteínas séricas).
 Metabolismo dos carboidratos: o feto aproveita a glicose da mãe como fonte de energia; por esta razão, a glicose
passa por difusão facilitada pela placenta, explicando as seguintes alterações:
 A mulher tem tendência à hipoglicemia de jejum, pois passa glicose por difusão facilitada para o feto
(orientar a gestante a se alimentar a cada 3 horas);
 Tem tendência também a desenvolve hiperglicemia pós-prandial, no intuito de alimentar melhor o feto:
esse mecanismo se dá por um aumento fisiológico da resistência periférica à insulina devido à produção
de hormônios pela placenta (causando hiperinsulinemia).

MUDANÇAS NO SISTEMA CIRCULATÓRIO MATERNO


A gravidez produz alterações em todo organismo materno. O sistema cardiovascular sofre mudanças
progressivas durante a gestação e o parto, resultando em alterações hemodinâmicas características destes períodos.
 O fluxo de sangue através da placenta e o débito cardíaco
(produto do volume sistólico pela frequência cardíaca)
materno aumentam: na 27ª semana o fluxo tem aumentado
de 30 a 40% acima do normal. Mas, o DC diminui até um
pouco acima do normal durante as últimas 8 semanas;
 O volume de sangue materno aumenta: 30% acima do
normal (última metade da gestação), devido à aldosterona
e ao estrogênio que aumentam muito durante a gravidez, e
à maior retenção de líquido pelos rins;
 A medula óssea fica mais ativa, e produz hemácias extras
circulantes no excesso de volume de líquido;
 Devido ao aumento do metabolismo e ao tamanho da mãe,
a quantidade total de oxigênio usado pela mãe é
aproximadamente 20% acima do normal;
 Quantidade proporcional de CO2 é formada;
 Altos níveis de progesterona aumentam a sensibilidade do centro respiratório ao dióxido de carbono;
 O útero em crescimento pressiona os conteúdos abdominais para cima, fazendo uma pressão ascendente contra
o diafragma, de maneira que a excursão total do diafragma diminui. Consequentemente, a frequência
respiratória aumenta para manter a ventilação extra;

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 A taxa de formação de urina na gestante geralmente é maior devido ao aumento da ingestão de líquido e a maior
carga ou produtos excretórios;
 Há uma maior reabsorção para o sódio, cloreto, potássio e água, em decorrência da produção de hormônios
esteroides;
 A filtração glomerular e de fluxo sanguíneo renal aumentam devido à vasodilatação da artéria renal;
 Normalmente, o volume do líquido amniótico fica entre 500 ml a 1 litro;
 A água do líquido amniótico pode ser substituída a cada três horas e os eletrólitos (sódio e potássio) uma vez a
cada 15 horas (média);
 Grande parte do líquido amniótico é derivado da excreção renal do feto e em grande parte dele ocorre absorção
através do trato gastrointestinal e dos pulmões do feto.

OUTRAS ALTERAÇÕES
 Alterações hematológicas:
 Ocorre aumento fisiológico do volume plasmático (50%), o que causa hemodiluição, causando anemia
fisiológica (isso porque o aumento da massa eritrocitária, que é de 20 a 30%, é proporcionalmente
menor ao aumento do plasma, que é de 50%).
 Leucocitose sem desvio à esquerda (isto é: os bastões devem estar normais).
 Tendência pró-coagulante: ocorre aumento do fibrinogênio e da maioria dos fatores de coagulação.
Diminuem: fibrinólise e fatores XI e XIII.

 Alterações osteoarticulares:
 Marcha anserina;
 Relaxamento dos ligamentos por ação da progesterona.

 Alterações pulmonares: como a mulher tem que “respirar por dois”, há uma tendência à hiperventilação da
seguinte forma:
 ↑ Expansão do tórax
 ↑ Expiração
 ↑ Volume corrente.
 Gasometria: alcalose respiratória compensada (↓paCO 2, o que dá uma sensação de dispneia fisiológica,
mesmo frente a um exame físico normal).

 Alterações urinárias:
 ↑ Taxa de filtração glomerular (50%): ↓ Ureia e creatinina; glicosúria fisiológica.
 Compressão ureteral: dilatação pielocalicial maior à direita.

 Alterações gastrointestinais:
 Relaxa esfíncter esofagiano (predisposição ao refluxo);
 Redução do esvaziamento gástrico (tendência à broncoaspiração);
 Relaxa vesícula (maior risco de cálculos). OBS: 1ª cirurgia não-obstétrica mais realizada:
apendicectomia; 2ª cirurgia: colecistectomia.
 Diminuição da peristalse (constipação).
 Redução da secreção ácida (diminuição da incidência de úlcera péptica).

SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS DA GESTAÇÃO


Existem sinais clínicos de presunção, probabilidade e de certeza de gestação que podem auxiliar no diagnóstico
desta condição.
Sinais de certeza Sinais e sintomas de presunção Evidências de probabilidade
Ausculta dos batimentos  Atraso menstrual (principalmente  Cloasma gravídico (aumento da
cardíacos fetais: em mulheres com ciclo regulares); pigmentação na face);
 USG: embrião com CCN ≥  Presença de náuseas ou vômitos  Sinal de Halban (lanugem na testa);
5mm (7 a 8 semanas). (supostamente pelo aumento do β-  Consistência uterina amolecida;
 Sonar: 12 semanas. HCG);  Contrações de Braxton-Hicks
 Pinard: 18 a 20 semanas.  Polaciúria (a anteflexão acentuada (contrações irregulares que ocorrem
 Movimentação fetal (16 a 20 do útero comprime a bexiga e durante a metade da gestação);
semanas de gestação) causa micção frequente);  Sinal de Puzos (rechaço fetal);
 Alterações mamárias (mastalgia,  Sinal de Osiander (pulso vaginal);
aumento da circulação venosa,  Hartmann (sangramento decorrente
etc.). da implantação ovular que ocorre
após cerca de 17 dias da concepção).

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ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL
O Ministério da Saúde recomenda um número mínimo de 6 consultas (para considerar que o pré-natal foi bem
feito). Durante as consultas, deve-se, pelo menos:
 Anotar o número de gestações, partos e abortamento (GxPxAx);
 Medir pressão arterial / Pesar gestante;
 Medir altura uterina (AU) / Auscultar os batimentos cardíacos fetais;
 Recomendar e orientar a paciente com relação às medicações, vacinas e exames.

RESUMO DAS PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES FETAIS DURANTE A GESTAÇÃO

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OBS : Atente para os seguintes conceitos:
 Embrião é o nome que o concepto recebe desde a fecundação até a 8ª semana da gravidez.
 A partir da 8ª semana até o nascimento, o concepto é um feto e não mais um embrião.
 O feto já tem todos os órgãos internos, enquanto o embrião ainda está desenvolvendo cada um deles.
 O feto começa a formar as extremidades até adquirir a forma completa do bebê.
 O embrião não tem todas as partes do corpo definidas.

RESUMO DAS PRINCIPAIS ETAPAS DA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL


- 10 dias: β-HCG é detectado no plasma; Iniciar Ácido Fólico (de preferência, 3
meses antes da gestação); Solicitar exames complementares pertinentes à primeira
consulta: Hemograma, hematócrito, Glicemia de jejum, Sumário de urina (EAS),
Urinocultura, VDRL, anti-HIV, HBsAg, IgM e IgG para Toxoplasmose.
- 4 semanas: saco gestacional detectável na USG pélvica transvaginal (TV).
- 6-10 semanas: melhor momento para aferição do comprimento cabeça-nádega
(CCN) pela USG pélvica TV.
- 12 semanas: bcf detectáveis ao sonar; altura uterina aferível.
- 11-14 semanas: avaliação da translucência nucal e osso nasal na USG
transabdominal.
- 18-20 semanas: iniciar ferro 40mg/dia (usar até o final da lactação).
- 18-24 semanas: solicitar USG morfológica transabdominal.
- 27-34 semanas: USG obstétrica de 3º trimestre.
- 30 semanas: solicitar novos exames de controle (Hb, Glicemia de jejum, TOTG
75g, anti-HIV, IgM e IgG para Toxoplasmose, EAS, Urinocultura).
- 34-37 semanas: realizar swab perineal + Cultura para S. agalactiae (GBS).

PARTO
Parto significa nascimento do bebê. Ao final da gravidez, o útero torna-se progressivamente mais excitável, até
que finalmente desenvolve contrações rítmicas tão fortes que o bebê é expelido. Não se sabe a causa exata do aumento
da atividade uterina, porém dois eventos são principais:
 Mudanças hormonais progressivas que aumentam a excitabilidade da musculatura uterina;
 Mudanças mecânicas progressivas.

FATORES HORMONAIS
 Maior proporção de estrogênios em relação à progesterona:
 O estrogênio tem tendência para aumentar o grau de contratilidade uterina, pois, aumentam o número
de junções comunicantes entre as células do músculo liso uterino;
 A partir do sétimo mês a secreção de estrogênio continua a aumentar, enquanto a de progesterona
permanece constante ou até mesmo diminui um pouco.

 Efeito da ocitocina:
 Secretado pela neuro-hipófise;
 Causa contração do útero;
 A musculatura uterina aumenta seus receptores de ocitocina e portanto aumenta sua sensibilidade a
determinada dose de ocitocina durante os últimos meses de gravidez (ação do aumento da
concentração de cortisol fetal e o predomínio da ação estrogênica);
 A secreção de ocitocina é consideravelmente maior no momento do parto;
 O trabalho de parto é prolongado em animais hipofisectomizados;
 A irritação ou a dilatação do colo uterino pode causar reflexo neurogênico para a neuro-hipófise
aumentar a secreção de ocitocina.

 Efeitos de hormônios fetais sobre o útero:


 A hipófise do feto secreta grande quantidade de ocitocina;
 As glândulas adrenais do feto secretam grande quantidade de cortisol, outro possível estimulante
uterino (atuam sobre a placenta diminuindo a produção de progesterona);
 As membranas fetais liberam prostaglandinas em concentrações elevadas, no momento do trabalho de
parto, que podem aumentar a intensidade das contrações uterinas.

FATORES MECÂNICOS
 Distensão da musculatura uterina: os movimentos fetais estimulam a distensão da musculatura lisa uterina,
aumentando a sua contratilidade.
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 Distensão ou irritação do colo uterino:


 Provocação do rompimento das membranas de tal forma que a cabeça do bebê distende o colo uterino
(a ruptura das membranas pode ser espontânea ou realizada pelo médico);
 Irritação cervical excita o colo uterino (pouco conhecido);
 Estimulação sensorial de terminações nervosas no colo uterino provoca contrações uterinas reflexas.

FEEDBACK POSITIVO NO TRABALHO DE PARTO


Durante grande parte da gravidez, o útero sofre episódios periódicos de contrações rítmicas fracas e lentas,
denominadas contrações de Braxton Hicks. Essas contrações tornam-se progressivamente mais fortes ao final na
gravidez; então mudam subitamente, em questão de horas, e tornam-se excepcionalmente fortes, começando a
distender o colo uterino e posteriormente forçando o bebê através do canal de parto. Este processo é denominado
trabalho de parto e as contrações fortes são denominadas contrações do trabalho de parto. No início do trabalho de
parto as contrações ocorrem a cada 30 minutos, com a progressão do trabalho de parto passam a ocorrer em 1 a 3
minutos. Os seguintes pontos merecem destaque:
 A distensão do colo uterino, pela cabeça do feto, provoca forte reflexo no aumento da contratilidade do corpo
uterino; isso empurra o bebê para frente, o que distende mais o colo e desencadeia mais feedback positivo ao
corpo uterino;
 O processo se repete até o bebê ser expelido.
 A distensão do colo uterino faz com que todo o corpo do útero se contraia, e tal contração, distende o colo ainda
mais, devido à força da cabeça do bebê para baixo;
 A distensão cervical também faz com que a neuro-hipófise secrete ocitocina, aumentando a contratilidade;
 As contrações têm início no topo do fundo e se espalham para todo o corpo uterino;
 São contrações intermitentes, evitando a interrupção do fluxo sanguíneo através da placenta.
 Durante o trabalho de parto, sinais de dor originam-se tanto do útero quanto do canal de parto;
 Ocorrem reflexos neurogênicos na medula espinal para os músculos abdominais, causando contrações intensas
desses músculos;
 As contrações abdominais acrescentam muito à força que causa a expulsão do bebê;
 A contração do útero desencadeia o reflexo de defecação, através do qual a mãe contrai voluntariamente a
musculatura da parede abdominal.
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OBS : O mecanismo fisiológico e efetivo de contração uterina durante o parto é conhecido como Tríplice Gradiente
Descendente, que é definido por contrações que começam e são mais intensas no fundo uterino e se propagam do
fundo para o colo uterino. O relaxamento uterino ocorre todo ao mesmo tempo enquanto as contrações exercem um
efeito semelhante ao movimento realizado para ordenhar vacas.

Em cerca de 95% dos nascimentos, a cabeça é a primeira parte do bebê a ser expelida, e, na maioria dos outros
casos, as nádegas apresentam-se primeiro. A cabeça age como uma cunha que abre as estruturas do canal de parto
enquanto o feto é forçado para baixo.
O chamado primeiro estágio de trabalho do parto é um período de dilatação cervical progressiva, que vai até a
abertura cervical estar tão grande quanto a cabeça do feto. Esse estágio geralmente dura de 8 a 24 horas na primeira
gestação, mas muitas vezes apenas alguns minutos depois de várias gestações.
Quando o colo está totalmente dilatado, as membranas fetais geralmente se rompem e o líquido amniótico vaza
abruptamente pela vagina. Em seguida, a cabeça do feto move-se rapidamente para o canal de parto, e com a força
descendente adicional, ele continua a forçar caminho através do canal até a expulsão final. Trata-se do segundo estágio
de trabalho de parto, e pode durar tão pouco quanto 1 minuto depois de várias gestações até 30 minutos ou mais na
primeira gestação.
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Em torno de 10 a 45 minutos após o nascimento do bebê, o útero continua a contrair-se, reduzindo


progressivamente de tamanho. Isto leva a um cisalhamento ente as paredes uterinas e placentárias, causando a
separação desta placenta que será expulsa. Basicamente, as funções das contrações pós-parto são:
 Provocar o deslocamento da placenta, decídua e anexos;
 Comprimir a região de inserção da placenta (evitar hemorragia);
 Ao comprimir a placenta dentro da cavidade uterina, fazem com que um certo volume de sangue, seja
transferido para a criança pelo cordão umbilical (evitar anemia);
 Propiciar a acomodação do útero à cavidade pélvica.

LACTAÇÃO
As mamas femininas começam a se desenvolver durante a puberdade pela
ação proliferativa do estrogênio, que atua nos ductos mamários promovendo o
crescimento e ramificação. Simultaneamente, o estroma presente nas mamas
aumenta em quantidade, e grandes quantidades de gordura são depositadas no
estroma. Outros hormônios (hormônio do crescimento, prolactina, glicocorticoides
adrenais e insulina) também são importantes para o crescimento do sistema de
ductos, atuando no metabolismo das proteínas. O GH, cortisol, paratormônio e
insulina são importantes para fornecer aminoácidos, ácidos graxos, glicose e cálcio
fundamentais para a formação do leite.
O início da lactação dá-se com a produção de leite, que ocorre nos
alvéolos das glândulas mamárias. O leite sai dos alvéolos e percorre até o mamilo
através dos seios lactíferos. O estrogênio e a progesterona, apesar do importante
papel de desenvolver fisicamente as mamas durante a gravidez, exercem a função
inibitória da secreção do leite. Então a prolactina tem o efeito oposto, promovendo
a secreção de leite. Este hormônio é secretado pela hipófise anterior materna, e
sua concentração sanguínea aumenta progressivamente desde a 5ª semana de
gestação até o nascimento do bebê. Tal hormônio é responsável pelo crescimento
e pela atividade secretora dos alvéolos mamários.
Além deste hormônio, a placenta secreta grandes quantidades de somatomamotrofina coriônica humana, a qual
possui propriedades lactogênicas e auxilia na atividade da prolactina materna durante a gravidez.
O liquido primário a ser secretado é denominado colostro, produzido por glândulas imaturas, assemelhando-se
muito a um transudato (líquido pobre em proteína) do plasma, sendo melhor para defesa do bebê, além de possuir mais
vitaminas lipossolúveis.
Enquanto houver a sucção do mamilo pelo bebê, a prolactina continuará produzindo leite. Isto acontece porque
quando o bebê faz esta sucção nos mamilos, estimula o hipotálamo a secretar o fator liberador da prolactina, mantendo
seus níveis e, consequentemente, a produção de leite. A cada amamentação, sinais neurais dos mamilos para o
hipotálamo causam um pico de 10 a 20 vezes a secreção de prolactina (1 hora).
A sucção do mamilo também estimulará a hipófise posterior, que irá secretar ocitocina. Este hormônio é o
responsável pela ejeção do leite. Tal mecanismo ocorre porque a ocitocina contrai as células mioepiteliais dos músculos
ao redor dos alvéolos, transportando assim o leite dos alvéolos para os ductos. Assim a sucção do bebê torna-se efetiva
para a remoção do leite.

O ato de sugar uma mama faz com que o leite flua não apenas em uma mama, mas também na oposta. Por isso
que quando a mãe pensa no bebê ou escuta-o chorar, sinais emocionais são enviados ao hipotálamo, causando a
ejeção do leite. A inibição da ejeção do leite ocorre devido a diversos fatores psicológicos ou por estimulação
generalizada do sistema nervoso simpático em todo o corpo materno, que seja capaz de inibir a secreção de ocitocina e
por consequência a ejeção do leite. Por isso, as mães devem ter seu puerpério sem transtornos para obter sucesso na
amamentação do seu bebê.

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