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CAMPBELL

Conceitos do Pós Estruturalismo: Anti-fundacionismo

O analista quando fala sobre o mundo apresenta uma interpretação, mas não
representa uma realidade objetiva. O analista não fundamenta suas opiniões numa
suposta realidade, ou seja, todo conhecimento sobre o mundo é uma mera interpretação,
não sendo nenhuma mais verdadeira que a outra. A verdade é fruto de uma articulação
de práticas discursivas entre poder e conhecimento.

Capilaridade de poder: O poder não está só no estado, mas sim nas várias
relações humanas. Se estabelecem a partir do momento em que há autorização para
dizer quem está dentro e quem está fora, o que é normal ou anormal. Relações de poder
nem sempre são visíveis. O poder não é capacidade material, mas sim exercício. Vemos
a manifestação dele, mas não é algo que se detém materialmente.

As Relações Internacionais são inspiradas nessas ideias foucaltianas, e é obvio


que nas Relações Internacionais se questionaria as abordagens tradicionais.

A primeira coisa que Campbell faz é questionar o estadocentrismo.


Influenciado pela ideia de que o poder é exercido, não só pelo tomador de decisão. Há
uma linha direto com as teorias clássicas, como realismo e liberalismo, pois pensa nas
influências sob o tomador de decisão, no mundo doméstico etc.

Campbell critica não no sentido de incluir mais atores, mas sim no sentido de
querer entender Política Externa como algo distinto, como prática. Prática que constitui
identidade. Diferencia Política Externa (com letra maiúscula de política externa (com
letra minúscula). Essa politica externa é a que vai ser entendida como pratica social:
quando se tem um agente atuando, isso é uma pratica se possui significado, para ter
significado para que todos entendam essa ação, que precisa mobilizar regras. (Ex.: para
chegar e dar uma aula precisa se mobilizar uma serie de representações- ser professor,
ser fonte de conhecimento- quando se fala algo se mobiliza coisas que já são entendidas
desde muito cedo, como a idéia do que um professor representa). A prática é o
exercício que mobiliza representações, que por conseguinte produz sentido/resultado.
Conceitos que vão ser mobilizados em uma ação para produzir um resultado.
A construção de identidade não se dá pela idéia de papeis, mas sim de
representação conceitual. A representação produz realidade, então, na representação de
algo se usa representações aprendidas socialmente com a interação com o mundo que
são assimiladas por outros.

Regimes de verdade que mudam de tempos em tempos que dizem o que é


verdade/certo etc. Portanto, tem-se vários momentos históricos com diferentes
representações de verdade.

Convenção: Reformada o tempo inteiro. E se age sempre em relação a essa


convenção. As representações estão em constante mudança. (Ex.: representação da
soberania – conceito que mobiliza convenções). Não tem ponto de chegada (diferente
do marxismo – emancipação individual de todas as amarras, se o Estado é opressão, ele
irá decair). A história não é linear.

Ligação materialidade e ideia: Porque verdades de alguns grupos prevalece a


de outros grupos¿ Pois alguns grupos são mais fortes. Isso é explicado pelo conceito de
materialidade.

Essa teoria não é materialista pois não tem fundação na idade objetiva. Não
tem materialidade prévia a interação porque o que importa é como essa materialidade
vai sendo representada. O Pós Estruturalismo não se importa com o “porque” mais sim
o “como”. Ele narra o processo.

Se eu digo que não me importo se essa realidade objetiva existe, preciso decidir
sobre como ela é representada, pois as consequências politicas dela só advém da
representação dela de determinada forma. (Ex.: Só consigo justificar uma intervenção
de um pais da África porque caracterizei o soberano como aquele que deve ser
democrático e deve obedecer aos DH). Preciso olhar para as representações majoritárias
para entender as consequências políticas. As representações são condições de
possibilidade e reaçãO,portanto, só consigo intervir na África porque eu represento
aquele povo como indigno de soberania. As práticas discursivas só produzem efeitos se
mobilizam representações amplamente aceitas.

Campbell diz que política externa é um conjunto de práticas que constitui a


identidade nos Estados. A crítica ao estadocentrismo se dá pelo fato de teorias clássicas
estadocentricas pensam o Estado como algo que tem interesses, identidade e que depois
dessa existência começa a interagir com outros Estados. Diz que existem práticas
cotidianas que vão construindo a identidade de um país. (Ex.: Praticas dos tomadores de
decisão, dos diplomatas das pessoas que interagem com pessoas de outros países. Não
precisa ser apenas o aparato estatal. Essa interação mobiliza representações - sobre o
que e ser pacifico, interesse ou não sobre usar a forca, democracia) e ao mobilizar essas
representações constituem a identidade.

Não tenho um Estado pronto e acabado interagindo com outro, mas sim grupos
de pessoas que mobilizam representações o tempo inteiro e ao mobilizar essas
representações constituem a identidade daquele Estado. Inclusive constituem essa ideia
de unidade porque se mobiliza a ideia de estado soberano que na verdade é uma ficção
que é muito poderosa porque se essa ideia existe, se consegue organizar uma ideia de
intervenção. (Ex.: novamente da intervenção militar no RJ). Mobilizando a ideia de
soberania é que “dentro” eu tenho paz e lá “fora” eu tenho guerra, mas eu mobilizo essa
ideia de que soberano é aquele que tem uso legitimo da força.

A transgressão está sempre presente no Pós Estruturalismo, a representação do


que é ser soberano vai ser o tempo inteiro transgredida. política externa são essas
praticas cotidianas que mobilizam as representações majoritárias dentro de um
determinado espaço geográfico, no mundo. ( Ex.: A representação do Brasil como
pacifico constitui a sua identidade. Agora se olhar para as favelas se vê que isso não é
verdade. As representações, portanto, são muito poderosas, ainda que não representem a
realidade. Assim se dá a ideia de unidade ao Brasil, por meio dessas representações e
mobilizações da população). Portanto, política externa não é a “política externa” do
estado, mas sim de um conjunto de pessoas que mobilizam representações.

Para que eu consiga criar uma identidade eu represento outros que estão fora
como ameaça. O self só se constitui por oposição ao outro. São representações que não
são auto referenciadas. Essa identidade estatal que é constituída nessas práticas
cotidianas só consegue se completar por eu ser algo que o outro não é.

Para falar de identidade dos EUA, Campbell fala da conquista das Américas,
afirmando que não foram descobertos, mas sim criados, por meio de representações que
os colonizadores faziam sobre o que os americanos eram. (Ex.: Diziam que os nativos
eram completamente selvagens e indignos, que não eram capazes de racionar sobre o
que era moral. O europeu define os nativos em oposição ao que eles eram).
As representações podem mudar por meio de embates, onde uma interpretação
minoritária até pode se tornar uma representação majoritária.

Campbell cita que durante toda a Guerra Fria os EUA se caracterizavam como
o protetor da democracia e a URSS como regime opressor. Então ao se entender como
democrático se dá por oposição a um modo de organização completamente diferente, se
caracterizando como perigoso em relação a seus próprios cidadãos, autoritário. A
representação da URSS foi essencial para essa consolidação da sociedade americana
como líder dos povos democráticos, como aquele que leva a democracia para os demais.

As representações politicas mobilizam a representação de outras áreas no plano


internacional, podendo as vezes caracterizar o outro como ameaça pelo uso de
metáforas ligadas a doenças, ou coisas negativas.

A Política Externa é a que já estamos mais acostumados, a estatal. Essa política


estatal é informada por essas práticas cotidianas porque os tomadores de decisão quando
agem no plano internacional mobilizam as mesmas representações que as pessoas
comuns. Então para compreender a Política Externa eu tenho que compreender
a política externa pois as mesmas representações que são utilizadas nessa política
externa são utilizadas pelos tomadores de decisão na prática.

Campbell mostra que é possível fazer Análise de Política Externa por uma
logica pós-estruturalista, se preciso observar quais são as representações estão sendo
feitas nas práticas estatais, tendo que olhar nos discursos quais são suas representações.
É ver quais são as representações mobilizadas pelos tomadores de decisão na hora de
agir no sistema internacional porque essas representações sobre o que é cada país
identificam quais são as consequências politicas do uso daquela representação. O
método utilizado pelo Pós Estruturalismo é a analise de discurso, buscando na fala dos
tomadores de decisão as representações. O modo como eu caracterizo o outro permite
determinadas reações.

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