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SINCRONICIDADE

JUNG no prefácio de seu livro Sincronicidade diz: “Como


psiquiatra e psicoterapeuta, eu tenho entrado freqüentemente em
contato com os fenômenos em questão e pude, sobretudo, me
convencer do quanto eles significam para a experiência interior do
homem. Na maioria das vezes eram coisas de que as pessoas não
falam, com medo de se exporem a um ridículo insensato.
Espantava-me de ver quantas pessoas tinham experiências desta
natureza e como este segredo era cuidadosamente ocultado. Assim,
meu interesse por este problema tem sua razão de ser não somente
científica mas também humana”.
Há um princípio filosófico que é a causalidade – nexo entre
causa e efeito – base para o método científico, donde a repetição
de um fenômeno sempre igual, implica numa causa sempre a
mesma a lhe preceder, daí concluiremos seu ciclo e engendramos
sua Lei. Um método científico implica sempre na busca de leis
gerais, totalmente oposto à idéia de acontecimentos únicos ou
raros. A menos que possamos dizer que se trata de acaso ou
coincidência, ou ainda, que sua causalidade ainda não foi
descoberta.
Mas a vida, nossa e dos que estão à nossa volta, por vezes,
traz fatos que não se encaixam nas “leis”, Jung descobriu que
esses fatos possuem uma coincidência significativa ou conexão
acausal. Estão fora do tempo e fora do espaço conforme os
compreendemos, são, portanto, atemporais e aespaciais e, por
estarem fora das leis de causalidade que conhecemos, são acausais.
Jung traz inúmeros casos em suas obras, em especial na
acima citada, sobre o nosso tema, que demonstram que nesses
casos há um caráter, inclusive, numinoso ( numeno para Kant é o
limite do nosso conhecimento, não podemos penetrá-lo – é um
mistério).
Jung nos relata que buscou o termo para esses eventos em
Schopenhauer: “O sujeito do grande sonho da vida...é um só” –
que ele concebia como a vontade (veremos com detalhes em aula
específica ao que ele realmente se referia), a prima causa –
relação de simultaneidade significativa – porque todas as coisas
são uma só. Há em Schopenhauer um caráter transcendente a seus
pressupostos, pois a vontade está fora do indivíduo e o dirige para

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uma fatalidade sobre a qual ele não tem nenhum poder – niilismo.
Contrapondo-se à ciência, como sempre a concebemos, onde
sempre existem causa e efeito, certezas e leis, e onde o tempo e o
espaço são absolutos, a nova física trouxe novos parâmetros:
tempo e espaço são relativos, e ainda a ciência está tendo que se
deparar com dois novos pressupostos, até então inconcebíveis;
indeterminismo e incerteza.
Jung teve contato com expressivos físicos modernos Nils
Bohr, Wolfgang Pauli com quem manteve fecundos estudos e ainda
sua amizade com Einstein. A partir desses contatos pode fazer uma
correspondência, ou seja, verificar um paralelo, entre a física
teórica e a psicologia profunda. A partir de então pode pensar em
sincronicidade como uma relatividade do tempo e do espaço
condicionada psiquicamente. Mesmo porque tempo e espaço não
são absolutos, mas relativos, e também produtos de origem
essencialmente psíquica.
Sincronicidade inclui fenômenos físicos como os não físicos,
considerando-os em relação não-causal, porém significativa uns
aos outros.
Vejamos o caso do escaravelho. (Jung, Sincronicidade,
parágrafo 972) “O exemplo que vos proponho é o de uma jovem
paciente que se mostrava inacessível, psicologicamente falando,
apesar das tentativas de parte a parte neste sentido. A dificuldade
residia no fato de ela pretender saber sempre melhor as coisas do
que os outros. Sua excelente formação lhe fornecia uma arma
adequada para isto, a saber, um racionalismo cartesiano
aguçadíssimo, acompanhado de uma concepção geometricamente
impecável da realidade. Após algumas tentativas de atenuar o seu
racionalismo com um pensamento mais humano, tive de me limitar
à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse, algo
que fosse capaz de despedaçar a retorta intelectual em que ela se
encerrava. Assim, certo dia eu estava sentado diante dela, de
costas para a janela, a fim de escutar a sua torrente de eloquência.
Na noite anterior ela havia tido um sonho impressionante no qual
alguém lhe dava um escaravelho de ouro (uma jóia preciosa) de
presente. Enquanto ela me contava o sonho, eu ouvi que alguma
coisa batia de leve na janela, por trás de mim. Voltei-me e vi que
se tratava de um inseto alado de certo tamanho, que se chocou com
a vidraça, pelo lado de fora, evidentemente com a intenção de
entrar no aposento escuro. Isto me pareceu estranho. Abri

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imediatamente a janela e apanhei o animalzinho em pleno vôo, no
ar. Era um escarabeídeo, da espécie da cetonia aurata, o besouro-
rosa comum, cuja cor verde-dourada torna-o muito semelhante a
um escaravelho de ouro. Estendi-lhe o besouro dizendo-lhe: ‘está
aqui o seu escaravelho’. Este acontecimento abriu a brecha
desejada no seu racionalismo, e com isto rompeu-se o gelo de sua
resistência intelectual. O tratamento pôde então ser conduzido com
êxito”.
Os casos de coincidências significativas, que devemos
distinguir dos grupos casuais, parecem repousar sobre
fundamentos arquetípicos. Jung nos trás diversos significados
relacionados ao escaravelho, por exemplo. Mas também podemos
levantar em inúmeros outros casos esses mesmos fundamentos, não
só na obra de Jung, sobre os quais ele mesmo se encarrega, mas,
também, em nossa experiência, mesmo que leve muito tempo para
atingirmos seu sentido.
Sonhos arquetípicos – levando a progressos quando a
psicoterapia encontra-se num momento de paralisação e não se
encontram meios de fazê-la progredir.
Devemos distinguir sincronismo = ocorrência simultânea de
dois fenômenos, de sincronicidade = é a simultaneidade de um
estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem
como paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo
e, também, vice-versa.
Os acontecimentos sincronísticos também podem repousar na
simultaneidade de dois estados psíquicos diferentes . Por exemplo:
na relação de sonhos ou de fatos e sonhos envolvendo 2 ou mais
pessoas. Um exemplo é citado por Jung, quando um indivíduo
sonhou com a morte de um amigo, com todos os detalhes da
mesma, e no dia seguinte recebera a notícia de sua morte, sendo
todos os detalhes confirmados depois. Sonhos premonitórios em
relação a outras pessoas também não são raros.
Todo estado emocional opera uma mudança na consciência,
que, via de regra, pode vir acompanhado de um fortalecimento
simultâneo do inconsciente – surgem os complexos, cuja base
última é o arquétipo. O inconsciente possui também percepções
subliminares.
Aqui faremos um paralelo com Leibniz e a monadologia -
tendo a mônada como a parte individual e única, porém inter-
relacionada a todos as outras; é a harmonia preestabelecida – tendo

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o universo como um amplo modelo onde as partes estão inter-
relacionadas. É a própria idéia do holograma. Ele diz: “Todo corpo
reage a tudo que acontece no universo, de tal sorte que, se alguém
pudesse perceber tudo, poderia ler em cada coisa o que está
acontecendo em toda parte, e até mesmo o que já aconteceu e o que
acontecerá”, mas, esclarece ainda: “uma alma só consegue
compreender dela mesma o que aí se acha representado
distintamente. Não pode, de uma só vez, explorar todos os seus
recônditos, porque eles se estendem ao infinito”. (Leibniz, in
Progoff, Ira. Jung, Sincronicidade e Destino Humano , págs.66/67).
A idéia de Leibniz em relação à mônada é a mesma de Jung
em relação ao Self, como o arquétipo universal do ser humano. E
aí Jung, paralelamente a Leibniz dá o salto para o mito do
significado, ou destino humano, diz Leibniz: “Os corpos agem em
conformidade com as leis de causas eficientes” – o que quer dizer
que devemos interpretar o mundo físico como sendo determinado
pelos princípios de causa e efeito. Por outro lado, “as almas agem
em conformidade com as leis de causas finais, através de seus
desejos, meios e fins”, (ibidem, pág. 69) é o sentido teleológico
em que a alma opera.
Temos então os três princípios de interpretação com o qual
Jung trabalhou: causalidade, teleologia e sincronicidade.
Para Jung a psique carrega dentro de si mesma todas as
respostas necessárias. É a visão interior, em harmonia cósmica,
quando através da determinação das formas específicas o
macrocosmo se torna manifesto no microcosmo da personalidade
humana. É este o propósito da análise dos arquétipos e verdadeiro
fundamento da teoria da sincronicidade, pois a situação que se
instala quando um arquétipo se torna ativo na vida humana,
transcende o nível pessoal – “caráter cósmico”. Como se algo da
divindade universal tivesse se individualizado.
A partir desses fenômenos Jung começou a se interessar pelas
tradições esotéricas e verificar em que medida seus resultados
eram verídicos e semelhantes aos que ele analisara.
Dentre os métodos mânticos (mantismo tem a pretensão,
senão de produzir realmente acontecimentos sincronísticos, pelo
menos de fazê-los servir a seus objetivos) um dos que Jung mais se
aproximou foi o I Ching “livro das mutações”, que busca uma
percepção em que o detalhe seja visto como parte do todo (visão
oriental). Traz a própria idéia do Tao imbuída em seu mecanismo.

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Dois sábios chineses baseando-se na hipótese da unidade da
natureza procuraram explicar a simultaneidade de um estado
psíquico com um processo físico como uma equivalência de
sentido. É utilizado a partir do jogo de moedas ou varinhas de
milefólio.
Eu acredito, certamente como Jung fez com Ira Progoff, que
não devemos divagar e buscar explicar como funciona, ou se
funciona o I Ching. Devemos utilizá-lo em algum momento
significativo de nossas vidas, e, então, tirarmos as nossas
deduções. Tentar racionalizar métodos mânticos é totalmente
impossível, uma vez que sua linguagem não é a da consciência,
mas a do inconsciente. Inconsciente se experiencia, não se explica,
ele irá nos surpreender sempre e nossa lógica jamais o alcançará.
Jung buscou ainda uma compreensão da Astrologia, sem
dúvida um dos conhecimentos mais antigos de toda a humanidade,
ao qual ele acreditava que estava em vias de se tornar uma ciência.
Na conclusão do seu livro Sincronicidade, Jung traz alguns
relatos de casos de indivíduos em estados inconscientes e, por
vezes, próximos da morte, e que, ainda assim, apesar de uma
percepção alterada de tempo e espaço, e também do próprio corpo,
tiveram “consciência” dos fatos ocorridos em sua volta durante
esse estado de coma.
O próprio Jung teve um momento bastante peculiar em sua
vida, quando experienciou a proximidade da morte e teve uma
visão bastante significativa, que ele relata em Memórias, Sonhos e
Reflexões. Há ainda um desfecho impressionantemente
sincronístico na relação de Jung com um seu paciente, narrado
entre outras obras em Psicologia e Religião.
Se trabalharmos um pouco mais nossa intuição, tão
adormecida pela correria da modernidade e pela tirania da
racionalidade, estaremos mais abertos para que ocorrências
sincrônicas ocorram em nossas vidas. É preciso ousar a mutação,
permitir que nosso casulo atinja seu objetivo e nos dê asas para
voar.
Ercilia Simone Dalvio Magaldi

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ÓRFICOS = dizia a tradição órfica: “devemos encontrar as
perguntas certas às nossas expectativas, pois todas as questões já
possuem respostas conhecidas pela alma, ela tudo sabe mesmo
antes de nascer, portanto, é preciso recordar o conhecimento da
alma”. Daí a ponte para as “reminiscências” platônicas, ponte para
o inconsciente coletivo de JUNG.

CAMPO = região de influência física. A física atual reconhece


vários tipos de campos fundamentais: os campos gravitacional e
eletromagnético, e os campos da matéria da física quântica. Na
biologia, os campos morfogenéticos organizam o desenvolvimento
e a manutenção da forma corporal. De acordo com a hipótese da
causação formativa, os campos mórficos organizam a estrutura e o
comportamento de organismos em todos os níveis de complexidade
e contém memória inerente.
CAMPO MÓRFICO = campo no interior e em volta de um sistema
auto-organizador, e que organiza a sua estrutura e o seu padrão de
atividade característico. De acordo com a hipótese da causação
formativa, os campos mórficos contêm uma memória inerente,
transmitida de sistemas semelhantes anteriores por meio de
ressonância mórfica, e tendem a se tornar cada vez mais habituais.
Os campos mórficos incluem os campos morfogenético,
comportamental, social, cultural e mental. Quanto maior for o grau
de similaridade, tanto maior será a influência da ressonância
mórfica. Em geral, os sistemas se parecem mais estreitamente
consigo mesmos no passado e estão sujeitos à auto-ressonância
com seus próprios estados passados.
CAMPO MORFOGENÉTICO = campos que desempenham um papel

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causal na morfogênese. Essa expressão, proposta pela primeira vez
na década de 1920, é agora amplamente usada por biólogos do
desenvolvimento. De acordo com a hipótese da causação
formativa, esses campos contêm uma memória inerente,
transmitida pelo processo da ressonância mórfica.
CAUSAÇÃO FORMATIVA = em sua hipótese de causação formativa
Rupert Sheldrake sugere que os sistemas auto-organizadores, em
todos os níveis – inclusive as moléculas, os cristais, os tecidos,
organismos e sociedade de organismos – são organizados por
campos mórficos.
CAUSALIDADE = o princípio de que uma causa precede sempre
qualquer efeito.
CENTÉSIMO MACACO = Conta-se que cientistas observaram o
surgimento do hábito de alguns macacos lavarem na água da praia,
antes de comerem, as batatas que ganhavam como ração. O exemplo
dos pioneiros foi sendo seguido, aos poucos, por mais indivíduos.
Quando o número de macacos que lavavam as batatas chegou a certo
ponto, macacos de outras ilhas distantes passaram a ter o mesmo
comportamento.
COMPLEMENTARIDADE = característica de objetos quânticos
possuírem aspectos opostos, tais como de onda e partícula, apenas
um dos quais podemos ver em um dado arranjo experimental. De
acordo com Amit Goswami, os aspectos de complementaridade de
um objeto quântico referem-se a ondas transcendentais e partículas
imanentes.
COMPRIMENTO DE ONDA = comprimento de um ciclo de onda: a
distância entre os picos da onda.

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CONSCIÊNCIA = é o diferencial que, a partir do nascimento, e por
toda a vida, vamos desenvolvendo em relação ao inconsciente, que
é de onde a consciência emana e vai se construindo somando-se às
experiências vividas.
CONSCIÊNCIA (na perspectiva quântica) = o fundamento do ser
(original, auto-suficiente e constitutiva de todas as coisas) que se
manifesta como o sujeito que escolhe, e experimenta o que
escolhe, ao produzir o colapso auto-referencial da função de onda
quântica em presença da percepção do cérebro-mente.
CONTINUUN ESPAÇO-TEMPO = modelo geométrico
guadrimensional para histórias naturais, popularizado por Einstein
em suas teorias da relatividade.
CORPO DIAMANTINO = corpo incorruptível, fruto sagrado,
advento e nascimento de uma personalidade superior.(termo
encontrado no texto O Segredo da Flor de Ouro , prefaciado por
Jung: “Se quiseres completar o corpo diamantino sem efluxões,
Deves aquecer diligentemente a raiz da consciência e da vida.
Deves iluminar a terra bem-aventurada e sempre vizinha
E nela deixar sempre escondido teu verdadeiro eu.” (pág. 134).
DUALISMO = idéia de que a mente (incluindo a consciência) e o
cérebro pertencem a dois reinos separados da realidade. Porém,
paraliza ao tentar explicar como esses reinos interagem, sem negar
a lei de conservação da energia.
ENTROPIA = esse é um conceito bastante complexo e usado em
diversas ciências, hoje ele é livremente utilizado por filósofos e
ecólogos diferentemente do conceito-mãe que é o da física =
ENTROPIA é uma medida da desordem de um sistema físico. É

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definida como a quantidade de informação sobre o movimento
microscópico dos átomos que constituem o sistema, a qual não é
determinada por uma descrição do estado macroscópico daquele
sistema. Um sistema está em equilíbrio, ou em equilíbrio
termodinâmico, quando tem a maior quantidade possível de
entropia. Por exemplo, a mistura de dois gases como O 2 e H 2 .
BOFF conceitua ENTROPIA como: desgaste natural e irreversível
da energia de um sistema fechado, tendendo a zero; equivale à
morte térmica. Na biofísica a compreensão é: a vida é
conseqüência da baixa entropia e elevado teor de energia livre, ou
seja, aquela energia disponibilizada para realizar trabalho. A morte
é quando não se consegue mais gerar a energia livre para manter a
entropia baixa. No entanto, a física afirma que é mais confortável,
a nível energético, a entropia, portanto, todo sistema tende a
entropia máxima.
EON = (Aion, em grego; que é também o título de uma das obras
de Jung: Aion – Estudos do simbolismo do Si-mesmo ) tempo,
eternidade. Eon é também conhecido como o primeiro Logos. Para
os gnósticos representava períodos de tempo; emanações da
essência divina e seres celestiais, gênios e anjos. No Hinduismo
corresponde ao Kalpa ou Manvantara.
NÃO-LOCALIDADE = uma influência ou comunicação instantânea,
sem qualquer troca de sinais através do espaço-tempo; uma
totalidade intacta ou não-separatividade que transcende espaço-
tempo.
PRINCÍPIO DA IDENTIDADE = é a identidade do sujeito, o que
quer que seja; pessoa, animal, planta, objeto, etc. É a condição do
pensamento que só pode ser conhecido, pensado e expressado
como identidade.

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PRINCÍPIO DA INCERTEZA = o princípio de que quantidades
complementares, como momentum e posição de um objeto
quântico, não podem ser medidas simultaneamente com precisão
absoluta.
RESSONÂNCIA MÓRFICA = influência de estruturas de atividade
anteriores sobre estruturas de atividade semelhantes subseqüentes,
organizadas por campos mórficos. De acordo com a hipótese da
causação formativa, a ressonância mórfica envolve a transmissão
de influências formativas através do tempo e do espaço, ao longo
deles, sem que ocorra diminuição devido a distância ou ao lapso de
tempo.
BIBLIOGRAFIA
JUNG, C. G. Sincronicidade. Vozes.
PROGOFF, Ira. Jung, Sincronicidade e Destino Humano. Cultrix.
BOLEN, Jean Shinoda. A Sincronicidade e o Tao. Cultrix.
FRANZ. M. L. von. Adivinhação e Sincronicidade. Cultrix.
TUIAVII. O Papalagui. Marco Zero.
JAFFÉ, A. – FREY-ROHN, L. – FRANZ. M. L. von. A Morte à Luz
da Psicologia. Cultrix.
HILLMAN, J. O Código do Ser. Objetiva.
COMPLEMENTAR – QUÂNTICA
ABRAHAM. Ralph – McKENNA, Terence – SHELDRAKE Rupert.
Caos, Criatividade e o Retorno do Sagrado. Cultrix/Pensamento.
BOFF. L. Saber Cuidar. Vozes.
CAVALCANTI, Raïssa. O Retorno do Sagrado. Cultrix.
CHARDIN, Teilhard de. Mundo, Homem e Deus. Cultrix.
IDEM. O Fenômeno Humano. Cultrix.
DAVIES, Paul. A Mente de Deus. Ediouro.
GOSWAMI, Amit. O Universo Autoconsciente. Rosa dos Tempos.
MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Lisboa.
Instituto Piaget.
RUSSEL, Peter. O Buraco Branco do Tempo. Aquariana.
TOBEN, B. e WOLF, F. A. Espaço, Tempo e Além. Cultrix.
ZOHAR, Danah. O Ser Quântico. Best Seller.

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RECEBIDO POR E-MAIL, VALE A PENA LER.
Simone

Carlos Ribeiro
19/03/2006 - 20:03
"Yo no creo en sincronicidades, pero que las hay, las hay". O famoso dito espanhol, relativo às
brujas, aplica-se perfeitamente ao conceito de "coincidência
significativa", adotado por uma legião de seguidores do pensador Carl Gustav Jung e rejeitado por
correntes científicas mais tradicionais.

Para C. G. Jung, sincronicidade é o nome que dá à ocorrência simultânea de acontecimentos que


não têm, entre si, uma relação de causa e efeito. Quem já
não vivenciou uma dessas coincidências "incríveis", sem aparente explicação lógica? E, no
entanto, quem admite que possa haver nelas algo mais do que um
simples acaso?

No livro Além das coincidências: uma explicação científica para os acontecimentos atribuídos ao
acaso, os jornalistas Martin Plimmer e Brian King catalogam
várias dessas histórias inacreditáveis, como a seguinte:

"Em 1899, o ator shakespeariano Charles Francis Coghlan, natural da ilha Prince Edward, no
Canadá, morreu subitamente quando se apresentava na cidade portuária
de Galveston, no Texas, sudoeste dos Estados Unidos. Como a distância era grande demais para
trasladar o corpo para casa, ele foi colocado em um caixão
de chumbo e enterrado num túmulo de granito num cemitério local.

No dia 8 de setembro de 1900, um grande furacão atingiu Galveston - lançando ondas contra o
cemitério e arrancando túmulos. O caixão de Coghland foi arrastado
para o mar. Ele flutuou até o Golfo do México e seguiu pela costa da Flórida até o Atlântico, onde a
corrente do golfo o apanhou e o levou para o norte.

Em outubro de 1908, pescadores da ilha Prince Edward viram uma grande caixa corroída pelo
tempo flutuando na costa. Após nove anos e 5.500 quilômetros,
o corpo de Charles Coghlan tinha voltado para casa. Seus concidadãos o enterraram no cemitério
da igreja onde ele tinha sido batizado".

PROBABILIDADES - O que torna esta história digna ou não de crédito? Descontando a


possibilidade de que as fontes dos autores não sejam confiáveis, a questão
básica relativa a tal fato poder ou não ter acontecido diz respeito à probabilidade. "Os matemáticos
dizem que se uma coisa pode acontecer, acontecerá
- um dia.

Apenas coisas impossíveis não acontecem - como descobrir icebergs no Saara ou táxis sob a
chuva", dizem Plimmer e King. Em outras palavras: se alguém disser
que a chance de uma coisa acontecer é de uma em cada 73 milhões, não está dizendo que é
impossível. "Se uma em cada 73 milhões de pessoas ficar verde,
haverá 84 pessoas verdes no mundo".

Veja-se o caso do guarda florestal Roy Cleveland Sullivan, atingido por um raio nada menos que
sete vezes. "O que Sullivan tinha feito para merecer tanto

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azar? Seis anos depois do sétimo raio, ele cometeu suicídio. O motivo, como foi dito na época, era
que ele tinha azar no amor. Um caso de não ser escolhido".

Azar? Se se mudasse para a Bahia após o segundo raio, é provável que Sullivan tomasse um bom
banho de folhas - e certamente não seria mais atingido por
raios, independentemente ou não do fato de que a ocorrência desses fenômenos atmosféricos seja
bem mais rara por aqui. De acordo com os matemáticos, o
caso não é assim tão espantoso, já que as chances de uma pessoa ser atingida novamente por um
raio são exatamente as mesmas.

Bem mais difícil, no caso, seria a probabilidade de um meteorito cair na cabeça de alguém: de um
em um quatrilhão. Mas, contam os autores do citado livro,
uma vaca foi atingida por um meteorito, certa vez - só não disseram como alguém soube que ela
estava lá. Assim, informa o matemático Ian Stewart, "é provável
que, nos próximos dez mil anos, alguém seja atingido por um meteorito."

CAMADAS PROFUNDAS - Este é o aspecto anedótico da sincronicidade - ótimo para fisgar


leitores de jornais dominicais. Mas não é o mais importante. Saber
que um balão solto por uma garota de 10 anos, Laura Buxton, no jardim de casa, pousou 220
quilômetros depois, no jardim de uma outra Laura Buxton de 10
anos de idade, pode ser interessante, mas não passa de uma história fantástica que logo será
esquecida.

Para o físico Paul Kammerer, que estudou exaustivamente, no início do século XX, séries
temporais de fenômenos sincrônicos, o mais importante é conhecer
o que se passa por baixo da "crista das ondas", daquilo que nos parecem coincidências isoladas. A
essas camadas profundas o psicanalista Carl Gustav Jung
deu o nome de inconsciente coletivo.

A sincronicidade tem sido, desde a primeira metade do século passado, objeto de questionamentos
científicos que levam tanto ao âmbito da psicanálise como
da física quântica, este ramo das ciências exatas tão citado e tão pouco compreendido. E, nele, à
percepção, cada dia mais consensual, de que essas coincidências
ocorrem, não num cenário de seres e objetos materiais, mas de um complexo campo de
consciência, no qual a matéria não passa de uma ilusão.

Nada é por acaso

A grande dificuldade para compreender melhor as coincidências estaria na resistência a fugir à


lógica da filosofia grega

Carlos Ribeiro

Para entender a sincronicidade, é necessário perceber, como diz o físico David Bohm, que a
separação entre matéria e espírito é uma abstração. Ou, como
afirmou o Prêmio Nobel Wolfgang Pauli, que espírito e corpo são aspectos complementares de
uma mesma realidade.

As evidências de que a matéria é inexistente levou o filósofo e matemático Bertrand Russel a uma
definição genial: que "a matéria é uma fórmula cômoda para
descrever o que acontece onde ela não está". O astrônomo V. A. Firsoff acrescenta: "Afirmar que
existe só matéria e nenhum espírito é a mais ilógica das
propostas. É bem diferente das descobertas da física moderna. Esta mostra que, no significado
tradicional do termo, não existe matéria".

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Tal afirmação se contrapõe ao senso comum. Mas, para se ter uma idéia mais clara do que
afirmam os físicos, basta dizer que, segundo cálculo feito por Einstein,
se os espaços entre todos os átomos em todos os seres humanos da Terra fossem eliminados,
deixando apenas matéria concentrada, sobraria alguma coisa aproximadamente
do tamanho de uma bola de baseball (embora muito mais pesada).

Se todo este vasto conjunto de matéria que forma o planeta é pouco mais do que uma ilusão, o
que sobra? Responde o físico Max Planck: "A energia é a origem
de toda a matéria. Realidade, existência verdadeira, isso não é matéria, que é visível e perecível,
mas a invisível e imortal energia - isso é verdade".

SIGNIFICADO - O que seria a coincidência neste ambiente imaterial? Para Jung, "atos da criação
no tempo" - atos estes que são, muitas vezes, catalisados
por "catarses emocionais".

A grande dificuldade, segundo eminentes cientistas, para se compreender melhor as


sincronicidades está - sobretudo, como diz o escritor húngaro Arthur Koestler,
em seu famoso livro As raízes da coincidência (1972) - na dificuldade de se pensar fora das
"categorias lógicas da filosofia grega, que impregna nosso
vocabulário e conceitos e decide, por nós, o que é concebível e o que é inconcebível".

Para o baiano Beto Hoisel, autor do ensaio ficcional Anais de um simpósio imaginário -
entretenimento para cientistas (1998), a sincronicidade não se esgota
na simples enumeração de coincidências. "Mexer com elas implica mexer com as bases
metafísicas da nossa civilização. Implica, sobretudo, mexer no nosso
paradigma que é ainda newtoniano, materialista, causalista, determinista, freudiano. Ou seja:
aquele que não admite nada que não esteja além da matéria".

A surpresa em relação às coincidências, segundo Beto, é conseqüência da incompreensão em


relação ao dado fundamental de que tudo é possível. "As pessoas
vivem sobrenadando num oceano de sincronicidades, das quais percebem só uma pequeníssima
parte. Tudo acontece, com diferentes probabilidades. Mas quem
determina as probabilidades? É aí que se escondem os deuses".

Para o médico clínico e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional Bahia
(Sobrames), Márcio Leite, o mais importante é destacar
o que há de significativo, num determinado acontecimento, para a pessoa que o vive. É aí que se
encontra o aspecto terapêutico da sincronicidade.

"É importante perceber algo que se passa do lado de fora que está conectado com o que a pessoa
sente, percebe, sonha." O conceito de sincronicidade implica
na idéia de que o universo é indivisível, e que há uma relação entre o que está dentro de nós (na
psique) com o que está fora (realidade física) - e que
essa interação se dá de forma não-causal.

Como diz sabiamente Renée Haynes, no post-scriptum de As razões da coincidência, "é a


qualidade, o significado, que cintila como uma estrela cadente através
da sincronicidade".

SUPERSTIÇÕES - Uma das razões da postura cética de muitos cientistas é, possivelmente, a


avalanche de tolices e superstições que está sempre pronta a inundar
qualquer espaço aberto pela ciência em suas defesas racionais. Sem falar nas pessoas suscetíveis
a ver "estranhas ligações" onde não existem.

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Se "a idéia de que o mundo é um jogo da consciência, um jogo de Deus", como disse
recentemente o físico indiano Amit Goswami, ao programa Roda Viva, da
TV Cultura, deve ser considerada, por outro lado, deve-se ressaltar que este Deus não é o que
está sentado num trono com sua trombeta, mandando os inimigos
do Povo Eleito para o inferno, nem muito menos o que promete um paraíso repleto de virgens para
aqueles que morrerem eliminando o maior número de infiéis.

À pergunta sobre se tinha uma religião, Arthur Koestler afirmou: "Se religião significa um
amontoado de dogmas, então, certamente, não tenho. Tudo o que
posso dizer é que há níveis de realidade além dos limites da ciência, e dos quais temos tido
rápidas visões". Talvez seja um avanço a idéia, segundo Goswami,
de que logo, no início do terceiro milênio, Deus será objeto de ciência e não mais de religião.

Acreditando ou não em coincidências significativas, ou em bruxas, o fundamental, segundo Márcio


Leite, é que não se tenha preconceito, sobretudo na investigação
científica. O que pode salvar o mundo do embate entre céticos, fundamentalistas e a física pós-
materialista, é o bom humor. Como nessa historinha contada
por Brian King e Martin Plimmer:

"Certa vez perguntaram ao famoso físico Niels Bohr por que ele tinha uma ferradura pendurada
sobre a porta do seu escritório. 'O senhor certamente não acredita
que isso fará qualquer diferença em sua sorte?', perguntou um colega. 'Não', respondeu ele, 'Mas
eu ouvi dizer que funciona mesmo com aqueles que não acreditam'".

Leia mais

As raízes da coincidência, de Arthur Koestler (Nova Fronteira, 1972)


Sincronicidade, de C. G. Jung (Vozes, 1991)
Sincronicidade - Ou porque nada é por acaso, de Robert H. Hopcke (Ed. Nova Era, 2001)
Anais de um simpósio imaginário - Entretenimento para cientistas, de Beto Hoisel (Ed. Palas
Athena, 1998. Tel: 11 3279-6288. www.palasathena.org).

Serviço

Além das coincidências: Uma explicação científica


para os acontecimentos atribuídos ao acaso
Martin Plimmer e Brian King
Relume Dumará (21 3882-8200/ www.relumedumara.com.br)
286 páginas
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