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CENTRO UNIVERSITÁRIO NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO

FACULDADE DE SAÚDE E CIÊNCIAS DA VIDA


CURSO DE PSICOLOGIA

BIANCA C. DE SOUZA RODRIGUES


CINTIA ALINE RODRIGUES DOS SANTOS
DEBORA EMILIO
FRANCISMARI G. M. LEOCÁDIO
GABRIELA CRISTINA DE LIMA PILTA
JULIANA DO PRADO
MARIANA ELIZA PROVATTI
RAFAEL POLTONIERI
RAFAELA FERRAZ
TAINARA CRISTINA DE MORAES
TAIS CAPRIOLI
TALITA CAPRIOLI
VINICIUS FERNANDES

ANÁLISE DO FILME: “O ILUMINADO”

ITU - SP
2018
BIANCA C. DE SOUZA RODRIGUES - 083337
CINTIA ALINE RODRIGUES DOS SANTOS - 1095980
DEBORA EMILIO - 0912760
FRANCISMARI G. M. LEOCÁDIO - 1095110
GABRIELA CRISTINA DE LIMA PILTA - 1056080
JULIANA DO PRADO – 1094520
MARIANA ELIZA PROVATTI - 19135165
RAFAEL POLTONIERI - 1072260
RAFAELA FERRAZ - 0959050
TAINARA CRISTINA DE MORAES - 108432
TAIS CAPRIOLI - 1060190
TALITA CAPRIOLI - 1060240
VINICIUS FERNANDES - 1054110

ANÁLISE DO FILME: “O ILUMINADO”

Trabalho de Processos Grupais e Relações


Interpessoais I, apresentado no curso de
Psicologia, do 5º Semestre, período noturno, da
Faculdade de Saúde e Ciências da Vida, como
requisito parcial da média semestral da disciplina.

Orientadora: Prof. Me. Ellen Taline de Ramos

ITU - SP
2018
APRESENTAÇÃO

O presente trabalho pretende interpretar e analisar criticamente o filme “O


iluminado” segundo as teorias dos autores Sigmund Freud, Enrique Pichon-Rivière,
Kurt Lewin e Jacob Levy Moreno. Analisando a interação dos indivíduos que formam
o grupo distintamente, o papel desempenhado por cada personagem e sua
importância para o contexto grupal a partir das interpretações teóricas de cada autor
estudado ao longo do semestre.
SUMÁRIO

1 SINOPSE 3

2 SIGMUND FREUD 4

3 ENRIQUE PICHON-RIVIÈRE 5

4 KURT LEWIN 9

5 JACOB LEVY MORENO 10

REFERÊNCIAS 13
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1 SINOPSE

O filme ‘O Iluminado’, lançado em 1980, é uma adaptação do livro escrito pelo


americano Stephen King, The Shining (1977). Dirigido por Stanley Kubrick, traz
como personagem principal Jack Torrance, um ex-alcoólatra buscando sua
redenção como escritor, que aceita o emprego de zelador do hotel Overlook, durante
o inverno, mesmo após ser informado sobre o assassinato ocorrido no respectivo
hotel, no qual o antigo zelador matou suas duas filhas e esposa e, posteriormente,
cometeu suicídio vitimado pelo que o diretor do hotel chama de síndrome da cabana.
Além de Jack, a constituição familiar possui Danny, o filho, e Wendy, esposa
do escritor. Danny, denominado como “Iluminado” por conta das habilidades
consegue ver o passado sombrio do hotel, possui capacidade de comunicação
mental e visões, habilidade herdada, por Jack.
Após o primeiro mês, Jack demonstra sinais de abstinência alcoólica,
alucinações e irritabilidade. O escritor é atormentado pelos espíritos do hotel. A
interação com suas alucinações o leva a pensar que deve matar sua família.
Durante o tempo no hotel, Jack se torna um maníaco homicida, colocando a vida de
sua esposa, Wendy e de seu filho Danny em risco.
FICHA TÉCNICA:
O Iluminado (The Shining, EUA/Reino Unido – 1980)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, Diane Johnson (baseado em romance de Stephen King)
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Barry
Nelson, Philip Stone, Joe Turkel, Anne Jackson, Tony Burton, Lia Beldam, Billie
Gibson, Barry Dennen
Duração: 144 min.
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2 SIGMUND FREUD

Jack é o responsável pelo grupo, composto por sua mulher e seu filho,
exercendo uma liderança constituída por laços afetivos que devem compor um
núcleo familiar, a qual tem modelo determinado pela sociedade.
Como observou Freud, a família parece trabalhar em harmonia, porém um
incidente dentro de um grupo atinge o todo e influencia as ações. Isoladamente, os
Torrance obteriam comportamentos diferentes dos quais foram apresentados em
grupo, as reações teriam caráter divergente. A necessidade de vivência e a
socialização oferecem ao indivíduo inserido no grupo a ideia de segurança. Para
Wendy e Danny, o pertencimento dava-lhes a sensação de segurança por conta da
liderança de Jack, em paralelo, criou-se uma identidade de grupo, anulando seu
ego, “eu” em prol dos desejos do genitor, divergente das individualidades de cada
sujeito.
Segundo Freud, a capacidade do indivíduo quando inserido em um grupo,
pode alterar em questão de minutos, tornando-se um “anjo” ou um “demônio”,
podendo ser sedutor e assustador ao mesmo tempo, especialmente em casos
extremos que mudam os objetivos iniciais, como demonstrados na trama, a decisão
de Wendy de desertar em busca de prioridades, como a saúde de seu filho.
Após o rompimento de objetivos iniciais, inicia-se a construção de um novo
grupo, composto por Wendy e Danny. Com a configuração modificada, a mãe passa
a exercer a liderança sobre o filho e Jack passa a ser outro grupo, com objetivo
divergente ao inicial, tendo agora o desejo de aniquilar sua família.
Dado o exposto, nota-se a capacidade do indivíduo em sociedade, ser
formação e formador de novos grupos, afastando-se de seus objetivos iniciais que
foram institucionalizados, preocupando-se ou não em gerar uma resposta a
determinada ordem social, porém, mesmo sob a coação de Jack a continuarem na
hospedagem, o grupo rompe, quando em uma situação extrema suas vidas estão
sob ameaça do líder inicial.
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3 ENRIQUE PICHON-RIVIÈRE

No longa de Stanley Kubrick, é retratada a trama da família Torrance. Aos


dois anos de idade, Danny sofreu uma lesão causada por seu pai, Jack. Ao chegar
em sua residência embriagado o genitor encontrou seus papéis espalhados no chão
e em um acesso de fúria deslocou o braço de seu filho.
Após o ocorrido, surgiram sintomas de transtorno dissociativo de identidade,
criando um alter ego denominado de Toni. Danny apresentava episódios de perda
de memória, alucinações recorrentes e automutilação após adentrar em estados
hipnóticos, retratando Toni como “o menino que mora na minha boca”.
Por decorrência ao descontrole emocional, Jack decidiu abandonar o álcool,
porém seu insucesso como escritor e professor o frustrou, causando mal-estar
psíquico e sentimentos de fracasso.
O genitor possui vínculos familiares que fazem alusão a deus, colocando-o
em posição de líder soberano e incontestável, tratando sua ocupação profissional
como bem quisto pelo grupo familiar, ocultando a história relatada sobre o
assassinato ocorrido anteriormente, impondo-lhes uma condição precária de
convívio social e temperatura, em um ambiente sem acesso a saída durante o
período de estadia.
Jack recebe uma proposta para trabalhar em um hotel afastado, durante a
temporada de inverno. Ao ser recebido pelo gerente, obtém as instruções a respeito
das tarefas em que deverá desempenhar, sendo elas, manter a manutenção da
hospedagem, o funcionamento do aquecimento de forma adequada, a limpeza do
hotel, etc. Durante um diálogo, o administrador informou a Jack que o zelador
antecessor após um surto psicótico, assassinou sua família. Finalizando com um
questionamento a respeito da estadia e o bem-estar da família, Jack impõe
novamente sua posição de líder, informando de antemão que sua família adorará a
hospedagem sem antes consultá-los. Ao adentrar a hospedagem, o genitor sente-se
autoconfiante, com comportamentos prepotentes, sentindo-se responsável por um
feito grandioso, lidando com o hotel como um santuário capaz de torná-lo um
indivíduo respeitável e capaz.
Analogicamente representada, a obra se pauta em indícios citados na teoria
de Pichon-Rivière. Segundo o autor, o grupo desempenha tarefas de acordo com um
interesse em comum, anterior ao alcance do sucesso do objetivo, é realizada a pré-
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tarefa, momento a qual os indivíduos interagem sem a execução de uma tarefa em


si. Em seguida há a aplicação das tarefas, havendo as distribuições de funções e
amenizar a ansiedade grupal.
Para Pichon-Rivière, não há grupo sem relações de vínculo. Durante a trama
são revelados pontos cruciais que demonstram a quebra de confiança,
desalinhamento do grupo e o aflorar de ansiedades e paranoias. A falta de um
coordenador grupal, representante de um líder capaz de estruturar o vínculo e
equiparação entre os papéis desempenhados demonstra a peculiaridade sofrida no
grupo regido por um líder soberano.
A tarefa desempenhada em comunhão do grupo era a interação familiar e a
manutenção do hotel durante a temporada, e por conseguinte, a tentativa infrutífera
de Jack de desempenhar sua escrita criativa.
Pichon-Rivière estrutura grupos em três dimensões, sendo elas divididas
entre o depositado, o indivíduo incapaz de assumir suas responsabilidades e suas
negatividades, transferindo seus encargos ao outro, papel representado por Jack,
depositando suas infelicidades em sua esposa, tratando-a com desprezo, abusos
verbais e culpando-a por todos seus fracassos. Depositário, aqueles que recebem
as responsabilidades incumbidas pelo outro e o depositador, que serve como
“espaço” para serem depositadas as culpas do outro, dimensões atribuídas a Wendy
e a Danny, recebedores de demandas dadas por Jack.
Além das três dimensões, o autor traz cinco características de representações
de papéis desempenhadas pelo grupo, sendo elas: o líder de mudança, indivíduo
que busca mudanças dentro do meio. O líder de resistência, visando a resistência
frente às mudanças propostas. Bode expiatório, representante do ruim, como o
“bobo da corte” e que assumirá a culpa do grupo. Representante do silêncio,
indivíduo que mantém seu silêncio para que os outros possam se posicionar. O
Porta-voz, responsável por manifestações de sentimentos e situações referentes ao
grupo.
Os papéis representados pela família durante a trama alternam conforme as
situações impostas. Jack inicialmente adentra o hotel trazendo características de um
líder de mudanças, visando avanços pessoais e profissionais, porém ao ter sua
posição de liderança questionada, apresenta características de líder de resistência,
buscando conduzir o grupo a manter-se na posição atual e não deixar a estadia no
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hotel. A mudança no ponto de vista de Jack representa o fracasso, e


consequentemente, seus delírios progressivamente passam a se manifestar.
Em meio aos seus devaneios, Jack encontra-se com um indivíduo a qual o
genitor infere ser Grady, o antigo zelador, que por sua vez, não reconhece sua
posição, assumindo o papel de um garçom, complementando que Jack é o único
líder presente no hotel. Grady em sua breve aparição desempenha o porta-voz,
manifestando as ansiedades do grupo, verbalizando os problemas existentes no
grupo, denunciando os conflitos que Danny está enfrentando, levantando reflexões e
fazendo com que Jack mude seus comportamentos perante a família. Através de
visões, caracterizadas por experiências sobrenaturais, como a aparição de Grady, o
progenitor compreende que para a aniquilação das mudanças que o geram
ansiedade, é necessário o extermínio de sua família.
O líder que age segundo este pressuposto básico se comporta como se
fosse “onipotente” ou “onisciente”, características próprias de uma
divindade. Qualquer pessoa que queira ocupar o lugar de líder, uma vez já
ocupado (ou pelo menos atribuído pelos membros do grupo), pode ser
rechaçada, desdenhada ou menosprezada. Quando o suposto líder recusa-
se a agir segundo o papel que se espera dele, cria-se um mal-estar no
grupo, que pode recorrer a explicações fantasiosas para manter-se coeso.
(SAMPAIO, 2002)
Wendy durante o longa demonstrou oscilação de papéis, iniciando sua
experiência como bode expiatório, responsável por toda culpa do fracasso sofrido
por Jack, após notar indícios da paranoia do marido, Wendy passa a representar o
papel de líder de mudança, impulsionando seu filho a fuga, alteração no destino da
família, quebrando o porvir e impulsionando Danny a se mover pela sobrevivência e
se dispondo a matar seu marido em defesa própria.
Danny apresentou características de papel de representante do silêncio, por
decorrência a sua possível disfunção psíquica e a repressão sofrida pelo pai,
mantendo-se em posição de coadjuvante grupal, mantendo sua mãe e seu genitor
disputando pela liderança. Após o surto de seu pai, Danny passa a representar o
porta-voz, buscando formas de alertar sua mãe que seu genitor estava com planos
de assassiná-los, porém, seu papel de porta-voz mostrou-se presente pela voz de
Toni, seu alter ego.
Na chegada da família Torrance ao hotel, foram informados sobre a ausência
de bebidas alcoólicas no estabelecimento durante a temporada de inverno, a qual se
mantinha fechado a hospedagem. Durante os acessos de alucinações vivenciadas
por Jack, há um episódio de encontro entre o genitor e Lloyd, um barman, a qual
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após um longo diálogo, o progenitor solicita uma bebida e constata estar sem
dinheiro na carteira, Lloyd o serve mesmo assim, minutos após a vivência, Wendy
adentra o local e não nota sinais de embriaguez no marido, constatando episódios
de alucinações decorrentes a abstinência. Poucos dias após, Jack retorna ao bar,
sua carteira está cheia, e Lloyd lhe serve informando que seu dinheiro não é aceito
no estabelecimento.
A abstinência do álcool possibilitou a Jack o acesso de fúria vivenciado
durante anos, juntamente ao isolamento social e o contato com seus sentimentos, a
ausência de um auxiliador para conciliar as angústias e a interação grupal
possivelmente agravou as possibilidades de acesso de paranoias. A interação social
foi abalada, e o convívio, aniquilado.
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4 KURT LEWIN

Para Kurt Lewin, há relação entre o campo grupal e o espaço vital. O campo
representa o conjunto de fatores que estão presentes no grupo, as experiências e os
fatos já ocorridos e são trazidos com cada indivíduo, como apresenta a família
Torrance.
O decorrer da trama apresenta mudanças de comportamentos de Jack,
demonstrando irritabilidade, agressão verbal e alucinações. A relação se
desestabilizou quando Danny surgiu com o pescoço lesionado e em estado de
choque. O hotel estava sendo habitado apenas pela família, sem uma explicação
plausível para o ocorrido, Wendy decide ir embora do hotel prezando a
sobrevivência de ambos, acusando o marido de ter agredido o filho.
Cada fator influencia no grupo, mudança de comportamento em um dos
sujeitos modifica o grupo como um todo, sendo uma relação dialética de influência
do individual com o grupo e vice-versa. O comportamento alucinógeno de Jack
influenciou diretamente seu filho e sua esposa, fazendo com que se sentissem
amedrontados e ameaçados, planejando fugir e lutar por suas vidas, o que contraria
a ideia inicial do grupo, que estava pautado no convívio.
O espaço vital, onde tudo ocorre é essencial para essas relações e para as
consequências trazidas, o determinante para os próximos passos e como essas
relações irão se desenvolver. Durante o longa, é possível visualizar o espaço vital
como o hotel pelo qual a família se responsabilizou em zelar durante o período de
inverno. O histórico sanguinário do hotel, causado pelo antigo zelador, o
confinamento e o estresse gerados durante a estadia, foi determinante para as
atitudes de Jack, influenciando Danny e Wendy, sendo o local determinante para o
desfecho da trama. Contando com as alucinações geradas, a qual os espíritos
influenciam o pai a matar sua família para discipliná-los, o desejo surgiu em Jack,
que contraditoriamente relatou que jamais causaria qualquer dano a Danny.
Conclusivamente, o campo grupal, o espaço vital e a individualidade são
importantes e influenciadores de grande proporção sobre o grupo como um todo,
determinando seu início, meio e fim. Quando há alterações comportamentais em um
dos indivíduos, os demais também são transformados, assim vão sendo modificadas
as relações e condições do grupo.
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5 JACOB LEVY MORENO

Em 1921, Moreno assinalou o nascimento de seu método, denominado


Psicodrama. A psicoterapia em grupo consiste em dramatização e desempenho de
papéis em situações com fortes cargas emocionais, com o objetivo de desenvolver a
espontaneidade e catarse.
Na teoria de Moreno, o conceito de Espontaneidade-Criatividade é
fundamental e de extrema importância, em sua obra define espontaneidade como
uma nova resposta a uma nova situação ou uma nova resposta a sua situação
antiga, fator que está interligado com a criatividade.
De certo modo, a cultura dificulta essa capacidade, determinando formas
adequadas de pensar e agir. Através do método, há possibilidade de interpretação
referente à interação individual e a relação dos grupos.
Desconsiderando o sobrenatural, Jack possui indícios de alucinações durante
a trama, porém, reprimido por ser socialmente inaceitável. O isolamento da família
Torrance e outras influências apenas agravaram sua insanidade.
Moreno afirma que para alcançar a espontaneidade, é preciso mudar a
realidade e gerar uma ação frente à ocasião.
No contexto apresentado na trama, Jack supostamente apresenta um estado
espontâneo quando surgem as alucinações, resultado da criatividade momentânea
que o faz imaginar coisas fora da realidade e tomar decisões severas, aceitando
sugestões sem senso crítico, e assim, em um desempenho agressivo, finalmente
pôde agir livremente e interpretar a si mesmo.
Em meio às teorias de Moreno, há ramificações, dentre eles, a Tele, do grego,
significa “Influência a distância”. Consiste na capacidade de diferenciar pessoas,
coisas e objetos. Esse fator surge na infância, se desenvolve e se especializa
conforme a complexidade do meio e no desdobramento da vida afetiva. A tele está
relacionado à capacidade de formação de vínculos. Na infância a tele é
indiferenciada, podendo haver confusão entre fantasia e a realidade, porém, com o
tempo, espera-se o desenvolvimento da capacidade discriminativa.
Jack pode não ter desenvolvido corretamente a tele. Retratado na cena de
seu encontro com suposto antigo zelador, a qual o genitor tinha conhecimento do
assassinato cometido pelo mesmo, Jack recebe o conselho de que deveria corrigir
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sua esposa e seu filho, da mesma forma em que o zelador fizera anteriormente.
Segundo um dos conceitos de Moreno:
Para que o momento seja experimentado como um momento sui generis,
são requeridas as seguintes circunstâncias: (a) deve ocorrer uma mudança
na situação; (b) a mudança deve ser suficiente para que o indivíduo perceba
a experiência de novidade; (c) essa percepção implica atividade por parte
do indivíduo, um ato de aquecimento preparatório de um estado espontâneo
(MORENO, 2003, p.155).
Jack se apropria do conselho do zelador por se tratar de algo oculto em sua
mente:
Alter Ego – Técnica em que o coordenador ou um ego auxiliar diz ao ouvido
do protagonista o que acha que está oculto em sua mente para que esse
“tome consciência” do material reprimido ou escotomizado, com o que
geralmente ocorre uma quebra na comunicação estereotipada do
protagonista. (OSÓRIO, p. 44).
No contexto apresentado na trama, Jack supostamente apresenta um estado
espontâneo quando surgem as alucinações, resultado da criatividade momentânea
que o faz imaginar coisas fora da realidade e tomar decisões severas, aceitando
sugestões sem senso crítico, e assim, em um desempenho agressivo, finalmente
pôde agir livremente e interpretar a si mesmo.
Partindo do pressuposto de que os fantasmas faziam parte da sua mente,
alguns métodos semelhantes às técnicas psicodramáticas são demonstrados nas
atuações de Jack, como o solilóquio, técnica na qual o protagonista é estimulado a
“pensar alto”, dizer em voz alta o que está sentindo, como se falasse consigo
mesmo. Estase, aplicada quando em meio a um delírio, ele supostamente conversa
com os fantasmas, falando em voz alta e repetindo o que supostamente sua mente
está dizendo para ele em forma de alucinações. Outra técnica é o “duplo”, na qual é
posto um ego auxiliar ao lado do protagonista para expressar o que esse não
consegue transmitir, como acontece com as aparições que atuam dizendo
supostamente os próprios desejos internos de Jack.
Jack, ainda que de forma insciente, não se identifica com os papéis de pai e
marido a qual desempenha, ou da forma a qual prática. Em uma cena retratada no
longa, é possível notar-se essa falta de identificação, ao Jack passar dias
escrevendo a frase “Allworkand no play makes Jack a dull boy”, em tradução do
inglês: “Muito trabalho e pouco divertimento tornam Jack um rapaz deprimido”. Ao
Wendy encontrar seus papéis que deveriam ser parte de seu livro e posteriormente
o surto de Jack, demonstra seu desejo de pôr fim no modelo de vida seguido até o
momento. Segundo a teoria dos papéis de Moreno:
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Embora seja esperado que cada um de nós desempenhe os papéis que nos
estão designados na sociedade (familiares, profissionais, de cidadania), na
verdade cada um de nós pode e deseja encarnar muitos outros papéis
distintos ou além dos que nos estão permitidos desempenhar na vida. Esse
desejo seria fonte permanente de ansiedade pela pressão que exerce sobre
os papéis oficiais ou manifestos que nos tocam desempenhar (OSÓRIO, p.
43).
Osório cita o relato de Moreno, a respeito da atriz Bárbara, que representava
de maneira notável papéis de moça ingênua, mas passado algum tempo em seu
casamento com um espectador chamado Jorge, o marido procurou Moreno a quem
se queixou de sua esposa ser uma pessoa completamente diferente no convívio
conjugal, pois enquanto representava angelicalmente, na vida familiar se
comportava de modo que parecia “endemoniada” e até mesmo o agredia. A partir do
ocorrido, Moreno decidiu colocá-la para representar uma prostituta que seria
atacada e assassinada, mas Bárbara representou de forma inesperada e reagiu
agredindo o ator, a ponto de os espectadores pedirem que a contivessem. Como
consequência, no decorrer do processo, Barbara obteve melhora. Mas ao contrário
da atriz que obteve ajuda e conseguiu melhorar seu convívio, Jack se reprimiu, e
sem ajuda não desenvolveu sua espontaneidade e catarse, com isso passou a vida
escondendo sua real personalidade e no momento que não podia mais suportar,
deixou-se surtar.
Moreno afirma que para alcançar a espontaneidade, é preciso mudar a
realidade e gerar uma ação frente à ocasião.
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REFERÊNCIAS

MORENO, Jacob Levy. Psicodrama. 9ª ed. São Paulo: Pensamento Cultrix Ltda,
2003

NOVAES, Marcos Bidart. O conceito de tele em Moreno. Disponível em:


<http://escoladeredes.net/group/biblioteca-jacob-moreno/forum/topics/o-conceito-de-
tele-em-moreno>. Acesso em: 20 de abr. de 2018.

OSÓRIO, Luiz Carlos. Psicologia Grupal: Uma nova disciplina para o advento de
uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003.

OSÓRIO, Luiz Carlos. Grupos: Teorias e Práticas - Acessando a era da


grupalidade – Porto Alegre: Artes Médicas Sul 2000. p. 19-23

PICHON-REVIÉRE, Enrique. O processo grupal. 6ºed. Rev. São Paulo: Martins


Fontes.

PSICOATIVO, O Universo da Psicologia. Psicologia de Grupo e a Análise do Ego.


Resumo/Resenha. Disponível em: <http://psicoativo.com/2017/01/psicologia-de-
grupo-e-analise-do-ego-freud-resumo-resenha.html>. Acesso em: 19 de abr. de
2018.

SAMPAIO, Jáder dos Reis. A dinâmica de grupos de Bion e as organizações de


trabalho. São Paulo, 2002, Psicol. USP, vol. 13, n. 2.

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