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Um novo caminho

Saber conviver pressupõe, obrigatoriamen-


te, aprender sobre o outro e enxergá-lo de
forma ampla e realista. Não é diferente na con-
vivência da população com o Semiárido nor-

CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


destino. É preciso aprendizado, pé no chão, ou
melhor, na terra, experiência de vida e um novo
GERALDO BARRETO é engenheiro-agrônomo olhar, que passa pela adoção de tecnologias so-
e professor Livre Docente aposentado da Uni- ciais e técnicas conservacionistas.
versidade Federal Rural de Pernambuco (UFR- Para equilibrar a alternância de extremos
PE), especializado em Conservação de Solo. hídricos da região (secas e enchentes), a so-
Atuou nas áreas de ensino, pesquisa e exten-  TÉ CNICAS DE CONSERV AÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA lução mais viável ecológica, social e econo-
são, irrigação e drenagem, manejo de bacias micamente correta é, sem dúvida, a adoção,
hidrográficas, ambientalismo e cooperativismo. por parte dos produtores rurais, agricultores
É autor do livro “Cálculo do Tempo de Ope-  USO DO CLINÔ METRO familiares e assentados, das esquecidas técni-
ração de Máquinas Agrícolas”. Ministra cursos cas conservacionistas. É olhar o passado para
voltados para: manejo e conservação do solo e  NIV ELADOR DE ALV O caminhar para o futuro.
É necessária uma nova estratégia para as
da água, barragens subterrâneas e sistema de

CAMINHOS PARA
pequenas barragens vertedouras e sucessivas zonas semiáridas dos sertões Brasileiro: capaci-
em alvenaria de pedras secas (Sistema BBZ); e  USO DA CURV A DE NÍ V EL tar os próprios agricultores familiares e assen-
“Uso do Clinômetro Rústico”. tados rurais, a partir de suas lideranças, para
É colaborador técnico consultor das Funda-
ções Araripe e Esquel Brasil, e da ONG Agendha
 BARRAMENTO BASE Z ERO que possam adotar, em suas terras, sistema
agrosilvopastoril sustentáveis que promovam
e Secretário da Cooperativa de Energia, Comu- um desenvolvimento ecologicamente correto,

A AGRICULTURA
nicação e Desenvolvimento do Litoral de Per- tornando seus lotes produtivos e fixadores.
nambuco (CERLIT). Nessa nova estratégia, na qual os próprios
camponeses são os agentes multiplicadores de
práticas conservacionistas, um dos fatores bási-
OSANI GODOY é engenheiro-agrônomo e pro- cos é a confecção e o manejo de instrumentos
fessor aposentado da Universidade Federal Ru- rústicos, capazes de substituírem os caros e so-

SUSTENTÁVEL
ral de Pernambuco (UFRPE). Atuou nas áreas de fisticados instrumentos topográficos.
ensino, pesquisa e extensão, alimentos, indús- Com o objetivo de colaborar para a preser-
tria, ambientalismo e cooperativismo. É asses- vação do meio ambiente procurando difundir
sor técnico junto a empreendimentos rurais na boas práticas para uma convivência sustentável
área de produção de alimentos, manejo e uso com a semiaridez que promovam a segurança
sustentável de recursos naturais. Atuou na for- alimentar, hídrica, energética e conservem as
mação técnica de multiplicadores de boas práti- paisagens a Fundação Araripe e o Ministério
cas de produção sustentável no semiárido. do Meio Ambiente com apoio do Fundo Clima
É autor dos livros “Industrialização do jambo
do Pará” e “Levantamento agropecuário da APA
PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS e da Editora IABS publicam o livro “Caminhos
para a agricultura sustentável: princípios con-
servacionistas para o pequeno produtor rural”,
– Chapada do Araripe e entorno”, entre outros”.
Ministra cursos voltados para: “Tecnologias
Sociais – biodigestores no meio rural”; “Tecnolo-
APOIO
PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL de Geraldo Barreto e Osani Godoy.
Esta publicação é destinada aos técnicos
gia de Alimentos”; “Uso do Clinômetro Rústico”; (de todas as profissões) que atuam no sertão,
“Capacitação sobre Sistema de Barragens Base desprovidos de meios, vencendo todas as di-
Zero e Prática de Conservação do Solo e da Água, ficuldades e sem acesso à literatura especia-
com Instrumentos Rústicos”, entre outros temas. lizada sobre Conservação do Solo e da Água.
É colaborador técnico das Fundações Ara- REALIZAÇÃO Nesta obra, estão detalhadas as seguintes
ripe e Esquel Brasil, da Agendha, Presidente da tecnologias: Uso do Clinômetro, Nivelador de
Cooperativa de Energia, Comunicação e Desen- Alvo, Barramento Base Zero e Técnicas de
volvimento do Litoral de Pernambuco (CERLIT) Conservação do Solo e da Água. Esperamos
e membro da Comissão de Ética da Organização que o produtor possa aumentar sua produção
Brasileira de Cooperativas (OCB). e sua renda.
CAMINHOS PARA
A AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL
PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS
PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL
República Federativa do Brasil
Presidenta: Dilma Rousseff

Ministério do Meio Ambiente


Ministra: Izabella Mônica Vieira Teixeira
Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável - SEDR
Secretário: Carlos Mário Guedes de Guedes
Departamento de Combate à Desertificação
Diretor: Francisco Carneiro Barreto Campello

Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental


Secretário: Carlos Augusto Klink
Fundo Nacional sobre Mudança do Clima
Gerente: Marcos Estevan Del Prette

Fundação para o Desenvolvimento Sustentável do Araripe


Secretário-Geral da Fundação Araripe: Pierre Maurice Gervaiseau

COLABORAÇÃO /PARCEIROS:
Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA)
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS)

EQUIPE TÉCNICA:
Jaime Camps Saiz (DCD-SEDR-MMA)
João Savio Padilha de Castro (DCD-SEDR-MMA)
Luciana Hemétrio Valadares (DCD-SEDR-MMA)
Marcos Oliveira Santana (DCD-SEDR-MMA)
Michelle de Rezende Souza (IICA)
Myrce Millene Silva (DCD-SEDR-MMA)
Ricardo Henrique Padilha de Castro (DCD-SEDR-MMA)
Rodrigo Oliveira Silva (DCD-SEDR-MMA)
Valdineide Barbosa de Santana (DCD-SEDR-MMA)
Vânia Apolônio de Trajano (IICA)
Fabio Teixeira de Souza (IBAMA-PE)

EQUIPE TÉCNICA: FUNDAÇÃO ARARIPE


Maria do Rosário Pinheiro - Presidente da Fundação
Bruna Vieira de Souza
Francisco das Chagas Vieira Salles
Francisco José
Lucia Maria de Araújo
Magno Antônio Amaro da Costa Ramos Feitosa
Maria do Carmo Bezerra
Francisco José de Souza Nunes
CAMINHOS PARA
A AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL
PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS
PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL

GERALDO BARRETO
OSANI GODOY BRASÍLIA | 2015

APOIO

REALIZAÇÃO
Coordenação editorial
Marta Moraes

Revisão ortográfica
Stela Máris Zica

Editoração
Editora IABS

Fotos
Arquivo Pessoal dos autores
Arquivo Ibama
Arquivo MMA
Divulgação Araripe
Fábio Teixeira
João Vital

Caminhos para a agricultura sustentável: princípios conser-


vacionistas para o pequeno produtor rural. Geraldo Barreto e Osani
Godoy (Autores). Editora IABS, Brasília-DF, Brasil - 2015.

ISBN 978-85-64478-51-0
240 p.

1. Técnicas conservacionistas. 2. Convivência com o Semiárido.


3. Conservação do solo e da água I. Título. II. Autores III. Editora IABS.

CDU: 502/504
556
7.02
SUMÁRIO

PREFÁCIO ....................................................................................................................................... 9
APRESENTAÇÃO | FUNDAÇÃO ARARIPE........................................................... 11
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 13
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ 15

CAPÍTULO I

1 CAUSAS DO EMPOBRECIMENTO DO SOLO ....................................................................... 17


2 EQUILÍBRIO NATURAL ........................................................................................................... 17
3 DESEQUILÍBRIO PROVOCADO PELO HOMEM ................................................................... 18
4 A EROSÃO ANTRÓPICA OU ACELERADA ............................................................................ 19
5 FATORES DA EROSÃO............................................................................................................. 21
6 CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS .............................................. 23
7 CLASSIFICAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL QUANTO À PROTEÇÃO DAS TERRAS ......... 24
8 COMBATE AO EMPOBRECIMENTO DO SOLO .................................................................... 25
9 MANEJO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS ............................................................................. 41
ANEXO I – DOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO ......................................................................... 45

CAPÍTULO II

1 HISTÓRICO .............................................................................................................................. 61
2 IMPORTÂNCIA........................................................................................................................ 61
3 DESCRIÇÃO DO APARELHO ................................................................................................... 62
4 MANEJO DO APARELHO ........................................................................................................ 62
5 TEORIA ..................................................................................................................................... 64
6 CONSTRUÇÃO DO APARELHO .............................................................................................. 65
7 MANEJO DO PERPENDÍCULO .............................................................................................. 67
8 ADAPTAÇÃO DO PERPENDÍCULO AO NOVO CÓDIGO FLORESTAL.................................. 68
9 A UTILIZAÇÃO DO PERPENDÍCULO NO LEVANTAMENTO DE PERFIL TOPOGRÁFICO..... 70
10 PLANTAS DE PERFIS................................................................................................................ 76
11 MONTAGEM ARTESANAL DO CLINÔMETRO ΠR.FA.......................................................... 77
ANEXO – DOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO ............................................................................ 79

CAPÍTULO III

1 HISTÓRICO................................................................................................................................ 87
2 IMPORTÂNCIA AGRÍCOLA...................................................................................................... 88
3 DESCRIÇÃO DO APARELHO.................................................................................................... 89
4 MANEJO DO APARELHO......................................................................................................... 91
5 VANTAGENS DO NIVELADOR DE ALVO SOBRE OS DEMAIS INSTRUMENTOS
CONGÊNERES NA IMPLANTAÇÃO DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS
DO SOLO E DA ÁGUA............................................................................................................101
6 MONTAGEM ARTESANAL DO NIVELADOR E DA MIRA DE ALVO...................................103
ANEXO – DOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO...........................................................................109

CAPÍTULO IV

1 HISTÓRICO..............................................................................................................................125
2 IMPORTÂNCIA .......................................................................................................................126
3 CONCEITO ..............................................................................................................................126
4 LOCAÇÃO DAS CURVAS DE NÍVEL.......................................................................................126
5 CULTIVO EM CONTORNO.....................................................................................................128
5.1 Fileiras paralelas à nivelada básica superior....................................................................133
5.2 Fileiras paralelas à nivelada básica inferior......................................................................134
5.3 Fileiras paralelas à nivelada básica superior e fileiras paralelas à nivelada básica inferior....... 134

6 ENCORDOAMENTO DO MATO............................................................................................135
7 CARREADORES EM CONTORNO.........................................................................................138
8 FAIXAS DE VEGETAÇÃO PERMANENTE..............................................................................141
9 TERRAÇOS DE ABSORÇÃO...................................................................................................145
10 MURETAS DE PEDRA EM CONTORNO...............................................................................152
11 BENEFÍCIOS OBTIDOS COM ALGUMAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS...................153
12 COMENTÁRIOS SOBRE FAIXAS DE VEGETAÇÃO PERMANENTE....................................154
13 EXEMPLO DO CÁLCULO DA “PROPORÇÃO RELATIVA DO CONTROLE
DE EROSÃO OBTIDO COM A PRÁTICA DE ENCORDOAMENTO” ...................................155
ANEXO – DOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO...........................................................................157

CAPÍTULO V

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................165
1 REGIME HIDROLÓGICO DO SEMIÁRIDO...........................................................................166
2 MELHORIA DO REGIME DOS CURSOS DE ÁGUA..............................................................166
3 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS BARRAGENS BASE ZERO – BBZS............................168
4 FINALIDADES DO SISTEMA BBZ..........................................................................................169
5 MARCAÇÃO DA OBRA...........................................................................................................170
6 CONSTRUÇÃO DA OBRA......................................................................................................172
7 COMENTÁRIOS......................................................................................................................175
8 MARCAÇÃO SIMPLIFICADA DA OBRA EM NÍVEL DE PEQUENO
PRODUTOR RURAL...............................................................................................................180
9 CÁLCULO DOS VOLUMES DOS MATERIAIS.......................................................................183
10 ORÇAMENTO.........................................................................................................................185
11 GEOMETRIA DO ARCO ROMANO.......................................................................................185
12 EXERCÍCIO..............................................................................................................................186
13 OUTRA ALTERNATIVA...........................................................................................................189
14 AS BBZS E O CONTROLE DAS VOÇOROCAS.......................................................................190
15 A ESCOLHA DO LOCAL DE UMA BBZ..................................................................................194
16 O REMONTE DA BBZ, FACE AO ATERRAMENTO DE SUA VAZANTE
E A RELOCAÇÃO DO CENTRO GEOMÉTRICO DA OBRA..................................................192
ANEXO I – PLANTAS..................................................................................................................195
ANEXO II – PLANILHAS.............................................................................................................199
ANEXO III – DOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO.....................................................................203
PREFÁCIO

O livro “Caminhos para a Agricultura Sustentável: princípios conserva-


cionistas para o pequeno produtor rural”, retrata o esforço do Ministério do
Meio Ambiente para assegurar um processo de institucionalidade que pro-
mova uma mudança de paradigma e possibilite a implementação de ações
adaptadas à seca, para uma convivência sustentável com a semiaridez, que
sejam estruturantes e alcancem o efetivo combate à desertificação.
O livro vem somar-se aos esforços de uma “Pátria Educadora” co-
laborando para promover a superação da pobreza, assegurar alimento,
água e energia para todos por meio da conservação e do uso sustentá-
vel dos solos e das paisagens. Mais do que isso, ajuda a compreender os
processos naturais de formação e estabilização da capacidade de carga
dos ecossistemas, de modo a intervir com o conhecimento suficiente para
recuperar, conservar e, eventualmente, incrementar as condições de uso
sustentável dos recursos naturais, e usá-los, em escala necessária para
se alcançar os ODS, no cenário de sinergia entre as Convenções do Rio e
diante da imperativa demanda por alimento, água e energia no mundo.
A publicação congrega esforços para uma transição ecológica de pro-
dução, para uma ação de convivência sustentável com a semiaridez e o
combate à desertificação. É provocativa no sentido de trazer o homem

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 9


do campo para o papel de protagonista desse processo e empoderá-lo no
nível da autonomia econômica e da soberania política.
As atividades agrícolas são a segunda maior fonte de emissão de di-
óxido de carbono, por outro lado, as boas práticas de manejo e conserva-
ção de solos possibilitam a fixação de até 30% de carbono no solo.
É preciso promover processos de formação técnica que possibilitem
a difusão das boas práticas de produção “adaptadas” à seca para uma con-
vivência sustentável com a semiaridez. Nesse sentido, o livro “Caminhos
para uma Agricultura Sustentável” é uma ferramenta para uma institucio-
nalização dos conhecimentos, base para os processos transformadores.

Francisco Gaetani
Secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA)

Carlos Guedes
Secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável
(SEDR/MMA)

Francisco Campello
Diretor de Combate à Desertificação (DCD/SEDR/MMA)

10 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


APRESENTAÇÃO | FUNDAÇÃO ARARIPE

O Brasil é uma nação jovem e, por ser um país continental, de uma


diversidade extrema, tem sido muito afetado pelas transformações pelas
quais a Terra tem passado nas últimas décadas. Observando o interior do
Nordeste, nesse contexto ele aparece marcado pela coexistência de for-
mas anteriores de organização de sua sociedade, de novas formas de tra-
balho e de instituições recentes em fase de estruturação, que precisam,
acima de tudo, quebrar paradigmas e avançar rumo ao desenvolvimento
sustentável.
A Fundação Araripe é uma Organização da Sociedade Civil de Inte-
resse Público (Oscip), apartidária, sem fins lucrativos, criada em 2000 com
o objetivo de possibilitar a participação do conjunto da população nas
decisões públicas com vistas ao desenvolvimento regional. Ela procura
dar contribuições para a transformação do interior do Nordeste em vá-
rios planos: (1) na proteção dos recursos naturais regionais e das paisa-
gens; (2) na integração das massas humanas das zonas rurais e do entorno
das cidades na vida da sociedade nordestina; (3) na descentralização da
gestão das instituições públicas; (4) no desenvolvimento da educação, da
saúde, da agricultura familiar, da circulação da informação científica e téc-
nica da vida social e cultural nesse interior do Nordeste. Concretamente, a

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 11


Fundação Araripe envolveu-se na criação da APA Chapada do Araripe, na
criação do Comitê da Bacia do Rio Salgado, no fortalecimento técnico das
prefeituras da região na área da saúde ambiental, no desenvolvimento da
cidadania em vários municípios (dos estados do Ceará e Pernambuco), na
promoção do manejo florestal regional, na assistência técnica ao municí-
pio de Irauçuba (CE), ameaçado pela seca, na luta pela sustentabilidade
do Polo Gesseiro de Pernambuco, entre outras operações e debates. Em-
bora não disponha de recursos financeiros próprios, a Fundação Araripe
busca alternativas de parcerias por meio de editais públicos para desen-
volver suas operações.
A presente publicação inscreve-se nos esforços para o desenvolvi-
mento dos processos de formação técnica em direção aos agricultores
multiplicadores e aos quadros profissionais dessa área.

Pierre Gervaiseau
Secretário-Geral da Fundação Araripe

12 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


INTRODUÇÃO

Do ponto de vista conservacionista, o Brasil apresenta um quadro de


desafios. Nas empresas agropecuárias, voltadas para a exportação, de-
tentoras de grandes áreas, com capacidade de investimentos, acesso a
tecnologias e a incentivos oficiais, adotam-se práticas conservacionistas
sofisticadas.
Nos assentamentos agrários e na agricultura familiar, com máxima
mão de obra e mínimo capital (salvo honrosas exceções), infelizmente,
as práticas conservacionistas são inexistentes, face a fatores sociais, polí-
ticos, econômicos e assistenciais.
Na agricultura familiar e assentamentos rurais, que correspondem à
70% do abastecimento de gêneros alimentares no Brasil, segundo a Orga-
nização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o siste-
ma produtivo que impera é, ainda, o do tempo da colonização: o sistema
da agricultura itinerante. Desmatamento, queimada, cultivo por alguns
anos e abandono da gleba esgotada e reinício deste ciclo degradante e
desertificante em gleba próxima.
Se esse sistema era tolerável na época da colonização, com muita
terra disponível para pouca gente, hoje é inaceitável, pois existe pouca
terra para muita gente; “gente campesina”.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 13


Essa pouca terra ocupada pelo campesinato – à custa de muita
“luta,” – está se exaurindo, se degradando e/ou se desertificando. Inca-
paz de fixar os seus assentados em condições dignas, por falta de práticas
conservacionistas, pois os órgãos públicos de assistência técnica federais,
estaduais e municipais não têm condições materiais e funcionais de aten-
dê-los a contento, salvo honrosas exceções.
É lamentável ver a terra tão duramente conquistada pelo campesina-
to, perder a batalha interna contra a erosão, a degradação e a desertifica-
ção e, inexoravelmente, resultar em um novo e paradoxal êxodo rural: “o
êxodo dos assentados e agricultores familiares”.
É necessária outra estratégia: capacitar os próprios agricultores fa-
miliares e assentados rurais, a partir de suas lideranças, a adotarem em
suas terras sistema agrosilvopastoris de desenvolvimento sustentável e
ecologicamente corretos, para tornar seus lotes produtivos e fixadores.
Nessa nova estratégia, na qual os próprios camponeses são os agen-
tes multiplicadores de práticas conservacionistas, um dos fatores básicos
é a confecção e manejo de instrumentos rústicos, capazes de substituírem
os caros e sofisticados instrumentos topográficos e seus operadores elitis-
tas, principalmente o “nivelador de alvo” em substituição ao “nível ótico”
e o “perpendículo” em lugar do “clinômetro ótico” , ou seja, busca-se a
opção pela “tecnologia social”.
Quando todo agricultor familiar e assentado dispuser e souber ma-
nejar corretamente esses instrumentos, a batalha contra a erosão, de-
gradação e desertificação estará vitoriosa, e eles e suas famílias fixados
definitivamente em suas glebas, com padrão de vida digno.

Geraldo Barreto
Osani Godoy
Autores

14 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a colaboração de Renato Freitas e Marga-


rete Mendes, respectivamente gerente e secretária da Cooperativa de
Energia e Desenvolvimento do Litoral de Pernambuco (Cerlit), nos tra-
balhos fotográficos, digitação e manipulação do programa “AutoCAD”,
para a realização deste livro.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 15


NOÇÕES BÁSICAS DE CONSERVAÇÃO DO
SOLO E DA ÁGUA NOS ASSENTAMENTOS
I
AGRÁRIOS E NA AGRICULTURA FAMILIAR
NA BIORREGIÃO DO ARARIPE

1 CAUSAS DO EMPOBRECIMENTO DO SOLO


Os solos empobrecem devido a quatro causas:

 Nutrição das Plantas;


 Combustão da Matéria Orgânica;
 Lixiviação;
 Erosão.

2 EQUILÍBRIO NATURAL
A natureza, sem a interferência do homem, apresenta um admirável
equilíbrio dinâmico, em que através de processos de reciclagem contínuo,
das quatro causas do empobrecimento, a fertilidade do solo permanece
estável e, às vezes, até eleva-se.
Através das raízes, as plantas retiram do solo os nutrientes, sob forma
de seiva bruta, que ascende às folhas verdes e, sob a energia solar, é trans-
formada em seiva orgânica (elaborada) que alimenta todas as suas células.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 17


Essas células, em curto ou longo prazo, retornam ao solo, através dos teci-
dos mortos: folhas, flores, frutos, ramos e troncos, que são mineralizados
pela ação dos microrganismos, voltando assim à forma de nutrientes. Nada
é exportado, tudo o que a vegetação retira do solo a ele retorna, diretamen-
te como restos vegetais, e, indiretamente, pela atividade dos animais.
A combustão da matéria orgânica, pela temperatura e radiação solar,
é prontamente compensada pela decomposição dos tecidos mortos da
vegetação, que chega até superar esse déficit, elevando o teor de matéria
orgânica do solo.
Lixiviação – processo em que os nutrientes das camadas superiores do
solo são dissolvidos e carregados para as camadas mais profundas, porém
ocorre uma compensação pela extração, através das longas raízes das árvo-
res e arbustos, dos nutrientes profundos que vão nutrir as células vegetais e
retornar posteriormente à camada superficial do solo, sob a forma de restos
vegetais, folhas, flores, ramos e troncos – os animais também participam
dessas reações de equilíbrio –, onde serão novamente mineralizados.
A erosão – arraste das partículas do solo pela água e pelo vento – é
anulada pela ação da vegetação que trava o solo, aglutina suas partículas,
cria obstáculos ao escoamento acelerado das águas, aumenta a sua infiltra-
ção, impede o impacto direto das gotas de chuva e freia a ação dos ventos.
No equilíbrio natural, a única erosão existente é a geológica, em que
as forças destrutivas do solo estão em equilíbrio com as forças construtivas.
Esse tipo de erosão é que modelou o relevo das terras, fez os vales dos rios, os
baixios, os morros e colinas, as chapadas, os tabuleiros, os pés de serra; seus
efeitos são medidos em séculos, em uma geração passam despercebidos.

3 DESEQUILÍBRIO PROVOCADO PELO HOMEM


O admirável equilíbrio dinâmico é quebrado pela ação do homem,
com suas atividades agrícolas, pecuárias e florestais.
Os nutrientes do solo não são mais reciclados no local, mas, sim, ex-
portados na forma de produtos: agrícolas (milho, feijão, arroz, mandioca,
etc.), pecuários (leite, queijo, carnes, couros, etc.) ou florestais (estacas,
lenha, carvão, etc.).

18 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


A combustão da matéria orgânica é acelerada pela sua exposição direta
ao sol, e a sua renovação é interrompida ou reduzida, pois não há mais re-
torno dos restos vegetais – ou quando retornam é em quantidade reduzida.
A lixiviação aumenta, pois o solo cultivado fica exposto à chuva, e
não há mais raízes profundas das árvores para ascenderem os nutrientes
das camadas profundas para a camada superficial.
A erosão se instala. Os solos desnudos e mobilizados pelo arado e gra-
des são facilmente desagregados e carreados pelas chuvas e pelos ventos.
Pela ação do homem, os processos naturais de reciclagem dos nu-
trientes, da matéria orgânica e da proteção do solo contra a erosão são
fragilizados, gerando o empobrecimento gradativo das terras e o compro-
metimento dos recursos hídricos com todo o seu trágico cortejo:

 Desvalorização das terras;


 Queda da produtividade rural;
 Êxodo rural;
 Empobrecimento rural;
 Enchentes devastadoras e assoreamento dos cursos de água, açu-
des e barragens;
 Secamento das fontes, nascentes e olhos-d’água;
 Degradação e/ou desertificação.

Resumidamente, segundo Quintiliano Marques, gerando “a instabi-


lidade econômica e social e comprometendo o patrimônio e a segurança
da coletividade”.

4 EROSÃO ANTRÓPICA OU ACELERADA


A erosão provocada pelo homem, ou erosão antrópica, é a maior e
supera a somatória das outras três causas do empobrecimento dos solos,
razão pela qual será estudada com mais detalhes a seguir.
A erosão antrópica pode ser definida como o processo de desprendi-
mento e arraste acelerado das partículas do solo – pela água e pelo vento
– provocado pela interferência do homem na natureza.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 19


“A erosão resulta, fundamentalmente, de uma inadequada relação entre o
solo e o homem” (SUAREZ DE CASTRO).

Quanto ao agente, a erosão antrópica classifica-se em eólica e hídrica.

4.1 EÓLICA

Provocada pelo vento, ocorre nas regiões de solos desnudos, relati-


vamente planos, ressequidos, sujeitos a ventos quentes, secos e fortes,
como no “Raso da Catarina”, no sertão norte da Bahia; em Pernambuco,
no sertão do São Francisco, entre Petrolândia e Petrolina, e no topo da
Chapada do Araripe, notadamente na “Serra” das Torres, em Araripina.

4.2 HÍDRICA

Provocada pelas águas, ocorre em todas as regiões, tanto úmidas


como áridas, já que o início da curta estação chuvosa do sertão caracte-
riza-se por violentos temporais, com o solo despido de vegetação herbá-
cea e a arbustiva/arbórea quase desfolhada – só garrancheira, que quase
nada o protege. A erosão hídrica, quanto à forma, classifica-se em:

4.2.1 Laminar

Quando as partículas do solo são desagregadas e arrastadas em ca-


madas mais ou menos uniformes; geralmente na fase inicial passa desper-
cebida. É a forma de erosão que causa maiores prejuízos.

4.2.2 Sulcos

Quando as partículas são desagregadas e arrastadas, concentradas


em pequenas canaletas, acompanhando o maior declive do terreno.
A tendência desses sulcos é se agruparem, formando uma rede de dre-
nagem superficial, que vai se ramificando e se aprofundando, degradando
totalmente o terreno, deixando-o seco e impróprio para o cultivo, pois quase
toda a chuva se perde através da rede de sulcos.

20 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


4.2.3 Voçorocas* ou Carcavas

Como o nome de origem tupi indica, são grandes valas abertas no ter-
reno pelas águas das enxurradas, com profundidade e largura consideráveis,
como consequência da desagregação e arraste de grandes massas de solo.
Ressalta-se que essas formas de erosão hídrica são etapas de um úni-
co processo de perda de solo e de água, ou seja, a erosão inicia-se como
laminar, desgastando as camadas superficiais do terreno; pouco a pouco,
concentra-se nos sulcos, que vão se agrupando nas linhas de drenagem
maiores, resultando nas voçorocas.

4.2.4 Subterrâneas

Quando as camadas profundas do subsolo ou da “rocha mater” são


carreadas por fluxo subterrâneo, criando um “vazio ou caverna” no seu
interior, fazendo aluir o seu “teto” e criando “crateras” na superfície do
terreno. Muitos autores não consideram um processo erosivo, apenas um
fenômeno geológico.

4.2.5 Desbarrancamento

Quando grandes massas de solo se desprendem das encostas das


colinas ou montanhas, face à desestabilização de seus sopés, geralmente
por fatores antrópicos, causando grandes tragédias, como perdas huma-
nas, em propriedades e no ambiente.

5 FATORES DA EROSÃO
A degradação das partículas do solo e seu arraste pelas águas esco-
antes só se processam depois que o escoamento das águas ultrapassa
uma determinada velocidade denominada “velocidade crítica”, quando
se inicia o processo erosivo, ou seja, as partículas do solo estão retidas

* Palavra de origem tupi-guarani – valados das chuvas

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 21


com uma determinada “força de coesão”, que será anulada quando a ve-
locidade do escoamento adquirir uma força viva, a ela superior.
A força de retenção das partículas é função das características do
solo. Todas as práticas conservacionistas de combate à erosão baseiam-se
em manter o escoamento das águas abaixo da “velocidade crítica” que
varia em função das características de cada solo.

5.1 CARACTERÍSTICAS DO SOLO

A força com que as partículas do solo estão retidas é função da com-


posição, textura, estrutura e permeabilidade. Nos solos arenosos as par-
tículas do solo estão fracamente retidas e sua “velocidade crítica” é baixa
(0,5 m/s), ao passo que nos argilosos a retenção é forte e a “velocidade
crítica” é elevada (1,2 m/s).

5.2 COBERTURA VEGETAL

A cobertura vegetal é um dos fatores mais importantes no processo


erosivo, como atesta o Quadro 1, abaixo.

Quadro 1 – Perdas de solo e água em função da cobertura

COBERTURA SOLO t/ha/ANO ÁGUA (%) CHUVA

Mata 0,002 1,2

Pastagem 1,000 1,4

Cafezal 1,900 1,6

Algodão 34,000 6,1

Fonte: IAC 1949

Obs.: Infelizmente as pesquisas não envolvem os solos total ou parcialmente ausentes de ve-
getação, como nas terras tradicionalmente agricultadas ou com cobertura de caatinga desfo-
lhada, no início da estação chuvosa – característica do Semiárido Nordestino e onde as perdas
de solo e água são alarmantes, sendo as principais causas de desertificação da região.

22 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


5.3 RELEVO DO TERRENO

A topografia ou relevo das terras tem uma influência enorme na ten-


dência à erosão: nos solos planos ela é nula; moderada nos ondulados e
intensa nos montanhosos. No relevo distingue-se:

5.3.1 Declive

A velocidade de escoamento é diretamente proporcional à declivida-


de ou à inclinação.

5.3.2 Comprimento da rampa

O escoamento superficial obedece à lei do movimento uniformemente


acelerado, a exemplo de uma bola em uma ladeira abaixo; quanto maior o
percurso, maior a sua velocidade. Assim, nas mesmas condições de solo, co-
bertura e declive, quanto maior a rampa, maior será a possibilidade de erosão.

5.4 CLIMA

O regime das chuvas atua decisivamente no processo erosivo. Um regi-


me bem distribuído de chuvas ao longo de todo o ano, com baixa intensidade
e longa duração, tem um efeito suave sobre a erosão, como no Rio Grande do
Sul; ao passo que as chuvas concentradas numa única e breve estação, com
chuvas torrenciais e breves, os “Torós”, como na Biorregião do Araripe, têm
um efeito devastador sobre a erosão. Assim, paradoxalmente, em regiões
como Ouricuri (PE), com 500 mm anuais de chuva, o processo erosivo é mui-
to mais intenso do que em Livramento (RS) com 2.000 mm anuais de chuva.

6 CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS


O Solo, a Água, o Ar, a Flora e a Fauna são os cinco recursos naturais
renováveis; deles dependem a sobrevivência da humanidade e de nossa
civilização. É preciso saber usar esses recursos com sabedoria, a fim de

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 23


permitir que a natureza possa reciclá-los continuamente, ou seja, explo-
rá-los de maneira sustentável.

“A meta da conservação não é proteger os recursos naturais renováveis,


como um fim em si mesmo, senão a de assegurar a melhor utilização deles
de maneira a usá-los sem destruí-los” (WELLS, 1948).

7 CLASSIFICAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL QUANTO À


PROTEÇÃO DAS TERRAS

Como vimos no Quadro 1, a cobertura vegetal exerce um papel fun-


damental nas perdas de solo e água pela erosão hídrica. O Quadro 2, abai-
xo, classifica a cobertura quanto à proteção das terras, baseado no traba-
lho de Suarez de Castro.

Quadro 2 – Classificação das coberturas vegetais quanto à proteção das terras

NOTA PROTEÇÃO COBERTURA

10 Máxima Mata

08 Ótima Pastagens, culturas sombreadas (café, cacau, etc.)

06 Boa Culturas permanentes arbustivas ou arbóreas

04 Razoável Culturas semipermanentes

02 Sofrível Culturas temporárias adensadas (trigo, centeio, aveia)

00 Mínima Culturas temporárias no limpo (algodão, milho, mandioca)

Fonte: Suarez de Castro – Conservación de Suelos – Madrid 1956

24 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


8 COMBATE AO EMPOBRECIMENTO DO SOLO
As técnicas de combate ao empobrecimento do solo são denomi-
nadas de práticas conservacionistas e, de acordo com sua natureza, são
classificadas em: práticas edáficas, vegetativas ou mecânicas.

8.1 PRÁTICAS EDÁFICAS

As práticas edáficas visam à melhoria das condições químicas, físicas


e biológicas do solo. As principais são:

 Destinação das glebas em função da capacidade do uso das terras;


 Adubação orgânica;
 Adubação química;
 Rotação das culturas;
 Controle das queimadas;
 Correção da acidez ou alcalinidade
 Pousio.

8.1.1 Destinação das glebas em função da capacidade do uso das terras


ou vocação natural das glebas

De todas as práticas conservacionistas, quer edáficas, vegetativas ou me-


cânicas, a destinação das glebas de acordo com sua capacidade de uso é a
mais importante. É de fato a base da conservação do solo e da água. Se em
uma região todas as propriedades utilizarem suas terras em função da sua ca-
pacidade de uso – sem as demais práticas conservacionistas – considera-se
que se fez quase tudo em matéria de conservação; por outro lado, se utilizar-
-se todas as demais práticas sem esta, considera-se que nada foi feito.
Todas as terras têm uma vocação natural para uso, isto é, uma utilização
sustentável em função das características do solo, topografia e clima. As terras
altamente sujeitas à erosão e/ou altamente degradadas só podem ser destina-
das às matas e aos reflorestamentos; as terras livres de erosão e/ou degradação,
aos cultivos em limpo, como milho, algodão e mandioca, conforme o Quadro 2.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 25


Vale ressaltar que nada impede de se reflorestar ou implantar pas-
tagens em terras livres de erosão; porém o inverso não é permitido, ou
seja, não se pode utilizar uma terra altamente sujeita à erosão para culti-
vos limpos de milho, algodão e mandioca.
Internacionalmente adota-se a classificação de Norton, do Serviço de
Conservação do Solo dos EUA, de capacidade de uso das terras. Conside-
ram-se as terras em três grupos e oito classes, como mostra o Quadro 3.

Quadro 3 – Capacidade de uso das terras segundo Norton

GRUPOS:

Estão estabelecidos com base na maior ou menor intensidade


de uso da terra, representados da seguinte forma:

A – Terras cultiváveis;
B – Terras para pastagem e/ou reflorestamento;
C – Terras apropriadas para proteção de flora e fauna silvestre,
recreação ou armazenamento de água.

CLASSES:

A classificação Norton, universalmente aceita, compreende


as oito classes de capacidade de uso (abaixo), agrupando ter-
ras com limitações de uso e/ou riscos de degradação do solo
semelhantes:

A – TERRAS CULTIVÁVEIS

Classe I – Terras cultiváveis aparentemente sem problemas es-


peciais de conservação do solo.

Classe II – Terras cultiváveis com problemas simples de


conservação.

26 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Classe III – Terras cultiváveis com problemas complexos de
conservação.

Classe IV – Terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em ex-


tensão limitada, com sérios problemas de conservação.

B – TERRAS CULTIVÁVEIS APENAS EM CASOS ESPECIAIS DE


ALGUMAS CULTURAS PERMANENTES E ADAPTADAS, EM GE-
RAL PARA PASTAGEM OU REFLORESTAMENTO

Classe V – Terras cultiváveis apenas em casos especiais de al-


gumas culturas permanentes e adaptadas, em geral para pasta-
gem ou reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais
de conservação.

Classe VI – Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algu-


mas culturas permanentes e adaptadas, em geral para pastagem
ou reflorestamento, com problemas simples de conservação.

Classe VII – Terras cultiváveis apenas em casos especiais de


algumas culturas permanentes e adaptadas, em geral para
pastagem ou reflorestamento, com problemas complexos de
conservação.

C – TERRAS IMPRÓPRIAS PARA VEGETAÇÃO PRODUTIVA E


PRÓPRIAS PARA PROTEÇÃO DE FAUNA SILVESTRE, RECREA-
ÇÃO OU PARA ARMAZENAMENTO DE ÁGUA

Classe VIII – Terras impróprias para culturas, pastagem ou re-


florestamento, podendo servir apenas como abrigo da fauna
silvestre, como ambiente para recreação ou para fins de arma-
zenamento de água.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 27


Obs.: As classes, por sua vez, estão subdivididas em quatro subclasses que, no que lhe diz respei-
to, estão divididas em várias unidades, de modo que só um pedólogo especializado tem condições
de fazer um levantamento completo que, além de trabalhoso, é demorado e oneroso.

Inegavelmente, a classificação de Norton é excelente, porém, na


região semiárida e nas suas condições, fica restrita a grandes projetos
financiados ou empresas agrícolas, posto que necessita de plantas pla-
nialtimétricas, levantamentos pedológicos, levantamento e planejamento
conservacionista, que fogem às posses da grande maioria dos produtores
rurais dos assentamentos agrários, bem como da agricultura familiar.
Para essa região recomenda-se a classificação da capacidade de uso
mais simplificada, ao nível de produtor rural, constante no Quadro 4, que
possibilita a ocupação das diversas glebas da propriedade, em bases con-
servacionistas, bem como do manejo de pequenas bacias hidrográficas,
de uma forma racional e prática.

Quadro 4 – Destinação das terras em função da sua capacidade de uso ou vocação natural

Nº Susceptibilidade à erosão e/ou


Destinação das glebas
Ord. degradação atual do solo

01 Alta Florestas ou reflorestamento

Florestas, reflorestamento, pastagens,


02 Forte
culturas sombreadas

Florestas, reflorestamento, pastagens,


03 Moderada culturas sombreadas, permanentes
arbustivas ou arbóreas

Florestas, reflorestamento, pastagens,


culturas sombreadas, culturas permanentes
04 Pouca arbustivas ou arbóreas, culturas
semipermanentes, culturas temporárias
adensadas.

Florestas, reflorestamento, pastagens,


culturas sombreadas, culturas permanentes
05 Ausente arbustivas ou arbóreas, culturas
semipermanentes, culturas temporárias
adensadas e culturas temporárias limpas.

Fonte: Suarez de Castro

28 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Os quadros 1, 2 e 4 seguem uma sequência lógica, como se pode
observar, de modo que ao mapear a destinação das diversas glebas da
propriedade, em função da capacidade de uso do solo, convém ao técnico
consultá-los com frequência.
A destinação das glebas pode ser assim, decidida no próprio local,
por técnico ou produtor rural esclarecido, por meio de uma vistoria de-
talhada da propriedade, onde se verifica as características de cada gleba
de terra: solo, topografia, cobertura, clima, vocação natural, tendência
regional, tipo de exploração, demanda do mercado, etc.
O ideal é o técnico portar um clinômetro a fim de medir os diversos
declives das glebas e um trado ou “enxadeco” para colher dados do solo. Na
falta de uma planta topográfica, registrar os dados do levantamento em um
simples “croqui” e no escritório mapear a destinação de cada gleba.
Além das recomendações acima comentadas, pelo novo Código Flores-
tal, Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, a destinação das glebas tem que
obedecer às normas do Quadro 5 (abaixo), bem como preservar e/ou reflores-
tar as matas ciliares, o entorno dos “corpos de água”, das nascentes, as bordas
das chapadas, grutas e sítios históricos e, no Nordeste, destinar 20% da área
do imóvel rural como Reserva Legal – geralmente as glebas mais susceptíveis à
erosão e/ou degradação atual do solo. Os escritores do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) distribuem gratuitamen-
te, aos produtores rurais, exemplares do novo Código Florestal.

Quadro 5 – Uso legal das terras, em função de sua declividade, segundo o novo Código
Florestal – Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012

DECLIVE USO LEGAL

GRAUS° •

Menor de 25° Sem restrições

Maior de 25° e menor de 45° Com restrições

Igual ou maior que 45° Área de preservação permanente

Fonte: Novo Código Florestal –MMA.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 29


8.1.2 Adubação orgânica

Como vimos no item 3, nos processos agrícolas a matéria orgânica do


solo é rapidamente destruída, sendo necessária a sua reposição artificial
através de estrume de curral, composto orgânico, torta de filtro de usina
açucareira, etc. Uma incorporação leve é na base de 10 t/ha/ano e uma
maciça é de 30 t/ha/ano. Infelizmente é pouco praticado devido ao regi-
me pecuário semiextensivo, a reduzida prática da produção do composto
e a limitações econômicas. É ainda praticado em culturas irrigadas de alto
rendimento, como cebola, tomate e fruticultura.

8.1.3 Adubação química

No item 3 verificamos que grandes quantidades de nutrientes do


solo são exportadas através de produtos agrícolas, pecuários e flores-
tais, empobrecendo os solos em relação a nitrogênio, fósforo, potás-
sio, cálcio, entre outros, sendo necessária a sua reposição. A adubação
química é uma prática onerosa e de certo risco. Deve ser feita baseada
em análise química de amostras do solo em laboratório conceituado e
obedecendo às suas recomendações. Muitas vezes a relação custo/be-
nefício é negativa.

8.1.4 Rotação das culturas

Desde os primórdios da agricultura, tem se observado que o cultivo


contínuo de uma mesma espécie vegetal em uma mesma gleba de terra
tende ao decréscimo de sua produtividade, tendo-se aventado as mais
diversas teorias para justificar esse fato incontestável.
Uma das práticas mais antigas é a de se cultivar sequencialmente
diferentes espécies vegetais em uma mesma gleba de terra. Nessa região,
essa prática tem pouco uso devido ao hábito da consorciação das cultu-
ras: mandioca, milho, feijão, abóbora, maxixe, algodão, gergelim, entre
outras, tudo misturado. A moderna agricultura aprova essa consorciação
heterogênea dos pontos de vista econômico, nutricional, fitossanitário e
ecológico, praticada intuitivamente pelos caboclos.

30 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


8.1.5 Controle das queimadas

Vide melhoramento das pastagens.

8.1.6 Correção da acidez ou alcalinidade

A excessiva acidez do solo (pH baixo) é uma das limitações dos terrenos
do topo da Chapada do Araripe. A maioria das plantas cultivadas tem uma
faixa de tolerância à acidez, fora da qual a sua produtividade é comprometi-
da, bem como muitos nutrientes do solo tornam-se inassimiláveis fora dessa
faixa. A acidez do solo é corrigida pela incorporação de calcário finamente
moído e distribuído “a voleio”, quer por máquinas especiais, quer manual-
mente. A incorporação do calcário ou “calagem” é uma prática barata, de
excelentes resultados e retorno rápido. Deve ser feita baseada em amos-
tra de solo em laboratório conceituado e obedecer às recomendações das
quantidades, parcelamento das aplicações e prazos. Na Biorregião do Arari-
pe, devido ao “Polo Gesseiro”, essa prática torna-se economicamente viável.
A excessiva alcalinidade dos solos (pH alto) também é uma das limi-
tações da produtividade de alguns solos do sertão, como aluviões e colú-
vios salinos. A correção da alcalinidade é feita através de incorporação de
gesso finamente moído, enxofre ou ácido sulfúrico diluído. A gessagem
deve ser baseada em análises de solos por laboratório conceituado e obe-
decer às suas recomendações técnicas.

8.1.7 Pousio

A técnica do pousio ou descanso da terra já era praticada na Me-


sopotâmia, Egito, China e Oriente Médio. No Talmud, livro sagrado dos
Judeus, já havia a prescrição do ano sabático. Após seis anos de cultivo a
terra fica em repouso – pousio – durante um ano. O pousio é praticado
tradicionalmente nas terras do topo da Chapada do Araripe e da Serra do
Inácio. Após quatro ou cinco anos de cultivo de mandioca consorciado ao
feijão de corda, a terra fica se “encapoeirando” durante dois ou três anos.
O pousio é, nesse caso, uma rotação de cultura com capoeira. É também
praticada em pés de serras e no sertão.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 31


8.2 PRÁTICAS VEGETATIVAS

Nas práticas vegetativas utilizam-se plantas a fim de melhorar as


condições do solo e controlar a erosão.
As práticas vegetativas mais utilizadas são:

 Melhoria das pastagens;


 Reflorestamento;
 Sombreamento;
 Adubação verde;
 Faixas de vegetação permanente;
 Alternância das limpas;
 Ceifa do mato.

8.2.1 Melhoria das pastagens

Embora as pastagens sejam a segunda melhor proteção contra as


perdas de solo e água – só superada pela mata (vide Quadro 1), é neces-
sário, assim mesmo, obedecer a uma série de cuidados a fim de proteger
o solo contra a erosão, controlar o escoamento das águas e obter lucros
compensadores com os pastos.

8.2.1.1 Pastagens cultivadas

Na Biorregião do Araripe predominam as pastagens cultivadas de


capim andropogom, braquiária e bufell, respectivamente no Ceará, Per-
nambuco e Piauí.
A formação das pastagens, em sua maioria, é efetuada por meio de par-
ceria com caboclos, barateando, assim, os custos da sua implantação. O pro-
prietário cede uma gleba de terra bruta ao caboclo que a desmata, encoivara,
queima* e a utiliza em seu proveito por alguns anos com lavoura de subsistên-
cia, com a obrigação de deixar a pastagem implantada. Ao esgotar-se o pra-
zo do contrato verbal, que coincide com o declínio da produtividade da terra,

* A maléfica prática da “queimada” deve ser substituída pela prática do encordoamento do mato.

32 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


sendo a semente por conta do proprietário. Ultimamente, com a redução
das terras ociosas, esse binômio sequencial “agricultura familiar itinerante e
pastagens cultivadas permanentes”, tem diminuído sensivelmente seu ritmo.
Muitos empresários preferem implantar diretamente suas pastagens, com re-
cursos próprios e alta tecnologia, prejudicando uma grande parcela dos “sem-
-terra” e eliminando uma singular e tradicional forma de parceria agrícola.
As principais melhorias das pastagens cultivadas são:

A – CAPACIDADE DE SUPORTE

A capacidade de suporte é calculada em função da necessidade nutricio-


nal do animal e da exploração sustentável da pastagem, isto é, usando-a de
modo a permitir sua natural renovação. Nas pastagens cultivadas da região do
Araripe é de uma Unidade Animal ha/ano, ou seja, de um bovino adulto, ou
oito ovinos adultos ou ainda de oito caprinos adultos por hectare, permanen-
tes no pasto o ano inteiro. Como é tradicional a transmudança dos rebanhos
do topo da Chapada para os pés de Serra e sertão e vice-versa – a retirada ou
“despastamento” é usual às combinações constantes do Quadro 6.

Quadro 6 – Capacidade de suporte das pastagens cultivadas da Biorregião do Araripe e


suas possíveis combinações

Período pastejo
Nº Ord. Bovino adulto Ovino/Caprino adulto
Mês

01 1 8 12

02 2 16 6

03 4 32 3
Fonte: Fundação Araripe – Crato (CE).

A conservação das pastagens exige que jamais seja ultrapassada a ca-


pacidade de suporte, sobre pena de sua degradação e/ou desertificação.

B – SOMBREAMENTO

Na formação das pastagens cultivadas deve-se evitar a eliminação


total da vegetação nativa, exigindo-se manter de forma seletiva e dispersa

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 33


pelo menos 30% dela, a fim de formar-se um pasto sombreado que, se-
gundo levantamento do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Se-
miárido da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (CPTSA – Embra-
pa), tem a mesma capacidade de suporte das pastagens descampadas,
além de oferecer sombra para o rebanho e contribuir para o equilíbrio do
meio ambiente. Deve-se considerar também que os rebanhos aproveitem
as ramas de muitas espécies, como juazeiro, mororó, jurema, quebra-fa-
ca, favela, entre outras. Além do “conforto dos rebanhos” produzido pelo
sombreamento que, segundo a Embrapa Cerrado, propicia até 20% de
aumento da produtividade na arroubação e/ou na produção leiteira.

C – CONTROLE DE PLANTAS INVASORAS OU TÓXICAS

Periódica e imediatamente após a retirada dos rebanhos, deve-se


bater os pastos e eliminar as plantas invasoras ou tóxicas, a fim de evitar
a competição com as forrageiras, ou acidentes com intoxicação dos ani-
mais. As plantas tóxicas mais comuns no Araripe são: maniçoba, mamo-
na, tingui, erva-de-bicho, etc. Elas devem ser erradicadas, encoivaradas e
queimadas. Tem-se utilizado herbicidas e arbusticidas, o que suscita pro-
testos dos ambientalistas.

D – CONTROLE DAS QUEIMADAS

A queima dos pastos é uma herança cultural do caboclo, bem


como dos pastores portugueses e espanhóis. Ainda hoje é praticada na
Serra da Estrela e nos Pirineus, no fim do outono, para rebrotamento
na primavera. É uma prática controvertida, defendida por poucos téc-
nicos, tolerada por uma grande maioria e condenada por outros com
argumentos, pesquisas e exemplos, de modo a não permitir uma con-
clusão definitiva.
Não havendo consenso, recomenda-se uma posição conciliatória. A
queimada em situações de grande necessidade, e obedecendo às normas
do Código Florestal e Posturas Municipais, a fim de evitar o mal maior,
que são os incêndios florestais, centenas de vezes pior do que a própria
queimada em si e geralmente causados por queimadas malconduzidas.

34 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


E – ADUBAÇÃO QUÍMICA

O pastejo exporta uma grande quantidade de nutrientes do solo na


forma de leite ou dos próprios animais negociados, posto que seus tecidos,
órgãos, músculos, esqueletos, entre outros, foram formados à custa dos
minerais do terreno. Assim, para equilibrar esse saque de nutrientes, ne-
cessita-se de uma adubação química de reposição, o que, infelizmente, não
é usual entre nós, devido a fatores culturais e econômicos (vide item 8.1.3).

F - CORREÇÃO DA ACIDEZ OU ALCALINIDADE DO SOLO (pH)

A correção da acidez ou alcalinidade dos pastos é uma prática pouco


onerosa, de excelentes resultados em curto prazo, porém, infelizmente,
pouco praticada nos assentamentos agrários e o mesmo para a agricultu-
ra familiar (vide item 8.1.6).

G – ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Como em quase todo o Brasil, no Araripe a única adubação orgânica


nas pastagens de pisoteio é a praticada pelos próprios animais no campo,
através de seus dejetos, reservando-se o estrume de curral para as capi-
neiras de corte, ao contrário da Europa, onde os pastos recebem pesadas
adubações orgânicas. Isso é devido às grandes dimensões de nossos pas-
tos, à ausência de produção do composto orgânico e ao regime de criação
semiextensivo dos rebanhos.

8.2.1.2 Pastagens nativas

As pastagens nativas do Araripe compõem-se das Caatingas, Carras-


cos e Cerrados – associação heterogênea de ervas, arbustos e árvores,
adaptadas ao Semiárido – caracterizados pela alternância de abundância
de forragens no curto período chuvoso e extrema penúria na longa esta-
ção marcada pela estiagem.

As principais melhorias indicadas são:

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 35


H – CAPACIDADE DE SUPORTE

A capacidade de suporte é baixíssima: 0,1 UA/ha/ano, ou seja, são


necessários 10 ha para um bovino adulto, ou oito caprinos adultos ou oito
ovinos adultos, durante todo o ano, ou as combinações proporcionalmen-
te possíveis, semelhante ao Quadro 6.

I – SOMBREAMENTO

Nos pastos nativos da região já existe um percentual razoável de árvores


de folhagem perene que dão excelentes sombras, como juazeiro, baraúna,
jatobá, oiticica, que servem de “malhadores” para os animais se abrigarem
da canícula, do sol a pino, e que muito contribuem para a sanidade e o con-
forto dos rebanhos. As áreas de sombra ou “malhadas” devem ser limpas,
destocadas e todos os buracos existentes tapados, a fim de evitar acidentes
traumáticos ou mordedura de cobras (vide item 8.2.1.1 – B).

J – RALEAMENTO

O raleamento consiste em se reduzir a densidade da vegetação arbórea/


arbustiva, pela eliminação seletiva das espécies não forrageiras, de modo a
permitir a “saída” do pasto herbáceo e aumentar a massa de “rama” das es-
pécies forrageiras. Segundo o professor João Ambrósio – uma das principais
autoridades no assunto – o raleamento ideal corresponde a uma densidade
aproximada de 200 árvores/ha*, ou espaçamento de 7 m x 7 m. Essa técnica
é denominada “Savanização da Caatinga” – termo criado em alusão ao típico
bioma africano, que consta da eliminação das espécies tóxicas, invasoras e de
baixo valor forrageiro. Após retirar a madeira para traves (linhas), mourões,
estacas, varas e lenhas, o restolho deve ser “pinicado” a facão e foice e arru-
mado em “leiras”, afastadas entre si cerca de 20 passadas, em linhas retas
nas áreas planas e em contorno (curva de nível) nas áreas declivosas, ou seja:
enleiramento do mato (vide itens 5.0 e 5.1). Entretanto, nas áreas declivosas,
o afastamento entre leiras deve obedecer aos valores da Tabela 1 do capítulo
“Uso da Curva de Nível na Conservação do Solo e da Água nos Assentamentos
Agrários e na Agricultura Familiar deste livro, dos mesmos autores.

36 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Para mais detalhes, consultar os trabalhos e publicações do profes-
sor João Ambrósio de Araújo Filho.

K – REBAIXAMENTO

Essa técnica consiste em se podar as espécies forrageiras ao nível


da cabeça dos animais pastejantes, de modo a induzir a produção incre-
mentada de “rama”, totalmente aproveitada pelos rebanhos. Essa técnica
geralmente é associada à do raleamento (subitem “J”).

L – ENRIQUECIMENTO

Introdução de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, nativas ou


exóticas, tolerantes às secas, como capim buffel, andropogon, braquiária,
camaratuba, carqueja, algaroba, leucena, etc.

M – ELIMINAÇÃO DAS QUEIMADAS

Se as queimadas nas pastagens cultivadas têm seus grupos de defenso-


res e tolerantes, a queima das pastagens nativas, no Araripe, é condenada de
forma severa e unânime por todos os técnicos, já que na verdade é um incên-
dio florestal que mata definitivamente a vegetação arbustiva e arbórea, não
permitindo o seu brotamento, ao contrário das pastagens cultivadas, cujo re-
brotamento é até incrementado.
Considerando-se que a maior parte dos recursos forrageiros dos pastos na-
tivos da região é representada pelas “ramas” – folhagens de arbustos e árvores
–, a maléfica prática das queimadas propicia a degradação e/ou desertificação
da região, pois a parcela de forrageiras herbáceas, além do seu baixo percentual,
é efêmera – só sobrevivendo no início da estação chuvosa (vide item 8.2.1.1 – B).

N – ADUBAÇÃO QUÍMICA

Considerando-se o regime semiextensivo de criação da região e as


grandes extensões dos pastos, a adubação química destes torna-se inviá-
vel economicamente.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 37


O – ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Inviável, pelas mesmas razões do subitem “N”.

P – CORREÇÃO DA REAÇÃO DO SOLO (pH)

Inviável, pelas mesmas razões do subitem “N”.

8.2.2 Reflorestamento

O reflorestamento é o cultivo de espécies florestais nativas ou exó-


ticas. É uma das práticas de melhores resultados, pois sendo a floresta a
melhor cobertura, no que concerne às perdas de solo e água (vide Qua-
dro 1), ainda tem o grande mérito de restabelecer o equilíbrio dinâmico
natural, quebrado pela interferência do homem (vide item 2). Embora
o reflorestamento possa ser implantado em todas as classes de terras
(vide Quadro 4), geralmente destina-se às glebas de alta e forte sus-
ceptibilidade à erosão ou degradação atual para o reflorestamento (Nº
Ord. 01 e 02 Quadro 4). Convém lembrar que na Biorregião do Araripe,
como em toda a Região Nordeste, o Código Florestal exige que 20% da
área dos imóveis rurais seja ocupada por matas nativas ou reflorestadas,
incluindo as encostas com mais de 100% de declividade, bordas das cha-
padas, etc., conforme item 8.1.1.

8.2.3 Sombreamento

É a técnica de consorciar culturas perenes arbustivas com árvores


de grande porte, sombra rala, de preferência leguminosa para enri-
quecimento do solo com nitrogênio. Como podemos verificar no Qua-
dro 2, a proteção é ótima, nota 8, pois é um tipo de cobertura que
mais se assemelha à floresta, muito empregado em plantações de café
e cacau, na Zona da Mata de Pernambuco e Bahia. No topo da Chapada
do Araripe ainda se encontram velhos cafezais domésticos sombrea-
dos com cajueiros.

38 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


8.2.4 Adubação verde

É a técnica de se incorporar ao solo, massa foliar de plantas aden-


sadas, preferencialmente leguminosas, para enriquecê-lo de matéria or-
gânica. As espécies mais utilizadas são mucuna, lab-lab, feijão-de-porco,
crotalária, etc. A sua incorporação ao solo deve ser feita durante a sua
floração, quando o rendimento em conversão de matéria orgânica é má-
ximo. É uma prática pouco praticada no Araripe (PE).

8.2.5 Faixas de vegetação permanente

Vide capítulo deste livro, “Uso da Curva de Nível na Conservação do


Solo e da Água nos Assentamentos Rurais e na Agricultura Familiar”, dos
mesmos autores.

8.2.6 Alternância das limpas

Essa técnica só se aplica nos cultivos em contorno ou curva de nível.


Consiste em limpar, alternadamente, o mato das ruas entre as carreiras
das plantas, de modo a frear o escoamento das águas e não permitir alcan-
çar a velocidade crítica, onde começaria o processo erosivo. É uma prática
excelente e barata, pois não há nenhum gasto com ela. Vulgarmente é
denominada “limpa de rua sim, rua não”. Com essa prática, as perdas de
solo pela erosão apresentam uma diminuição de 50%, e as perdas de água
uma diminuição de 26%, conforme pesquisa do IAC/São Paulo (1949).

8.2.7 Ceifa ou roço do mato

Essa prática consiste em se “roçar” o mato em vez de limpar o ter-


reno com enxada ou usar o arado, grade ou cultivador. No roço só a par-
te aérea do mato é cortada, formando uma camada protetora ao solo,
ficando intactos seus colos e raízes, que freiam o escoamento da água,
não permitindo atingir a “velocidade crítica”, inibindo a erosão. Além
disso, enriquecem o solo de matéria orgânica e o protegem da ação es-
terilizante da radiação solar. O roço pode ser mecanizado, acoplando-se

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 39


a roçadeira à tomada de força do trator, ou de forma manual, com es-
trovenga ou roçadeira. Com a adoção dessa prática, há uma redução de
92% nas perdas de solo e de 45% nas perdas de água, segundo o IAC/
São Paulo (1949).

8.3 PRÁTICAS MECÂNICAS

São as práticas de controle da erosão através de estruturas, desde


as mais reduzidas, como o cultivo em contorno, até as grandes como os
terraços. As mais recomendadas para a Biorregião do Araripe, são:

 Cultivo em contorno;
 Encordoamento do mato em contorno;
 Terraços em contorno;
 Carreadores em contorno;
 Muretas de pedra em contorno;
 Estabilização das voçorocas (carcavas ou ravinas).

Os cinco primeiros itens acima estão detalhados no capítulo deste


livro “Uso da Curva de Nível na Conservação do Solo e da Água nos Assen-
tamentos Rurais e na Agricultura Familiar”, dos mesmos autores.

8.3.1 – Estabilização das voçorocas (carcavas ou ravinas)

As voçorocas, como visto no item 4.2.3, são grandes valados aber-


tos pelas enxurradas descontroladas. São o clímax do processo erosivo,
cujo início é a erosão laminar, concentrando-se na erosão em sulcos e
culminando com as voçorocas – transformando férteis terras agrícolas em
áreas improdutivas, degradadas e desertificadas.
O controle das voçorocas compreende:

 Considerar como área de preservação provisória – do início ao


seu término – as margens das carcavas, com largura mínima de
2,5 vezes a sua profundidade;

40 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


 Construção de barramentos contínuos, ao longo de todo o “tal-
veg” das voçorocas – em alvenaria de pedra seca (barragens de
pedras secas), sacaria com barro ou pau a pique – formando uma
sucessão de degraus, tal que o coroamento de qualquer barra-
mento seja nivelado com o sopé do barramento a montante. A
construção da série de diques deve iniciar-se pela cabeceira da
carcava e prosseguir no sentido do fluxo. Recomenda-se que as
alturas dos diques não excedam ¼ da profundidade das voçorocas
e, à medida que vão se aterrando, vão sendo remontadas suas al-
turas e suas “saias” – até a cicatrização do terreno. Recomenda-se
que, mesmo depois da cicatrização do terreno, o mesmo continue
como área de preservação provisória;

 Despejo de todo tipo de restolho das culturas, roço de mato, ra-


madas, poda de árvores, pausada, entre outras, ao longo da car-
cava, entre os diques, a fim de retardar o fluxo erosivo.

Com essas medidas, pouco a pouco a enxurrada vai depositando os


seus sólidos em suspensão – argila, limo e areia –, aterrando a voçoroca,
cujos níveis dos barramentos têm de ser paulatinamente remontados até
a cicatrização final do terreno.
Ressalte-se que as voçorocas são o clímax do processo erosivo e seu
controle preventivo reside nas práticas conservacionistas da erosão lami-
nar e em sulcos.

9 MANEJO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS


Muito embora a propriedade seja uma unidade administrativamente
autônoma – gerenciada por seu(s) dono(s) –, do ponto de vista hidrológi-
co, não passa de uma célula de um órgão maior que é a bacia hidrográfica.
Se as células estão sadias, todo o organismo é sadio; assim é necessário
que todas as propriedades de uma bacia sejam planejadas em bases con-
servacionistas, para que toda a bacia seja conservada.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 41


O conceito de bacia hidrográfica é intuitivo para os caboclos, que sa-
biamente a denominam de águas pendentes. Assim, durante uma chuva
forte e prolongada, as áreas das quais escoam as águas para uma mesma
saída, pertencem a uma mesma bacia.
A bacia hidrográfica é uma unidade hidrológica, pois nela se processa
a reciclagem das águas. A linha divisória das águas pendentes é chamada
divisor de água, acompanhando sempre o espinhaço das serras, o topo
das chapadas, os altos dos morros e espigões. Por exemplo, a Chapada
do Araripe é o divisor de água das três grandes bacias do Nordeste, como
mostra o Quadro 7 abaixo.

Quadro 7 – Bacias do Nordeste divididas pela Chapada do Araripe

Vertente Bacia Estado

Norte Jaguaribe Ceará

Sul São Francisco Pernambuco

Oeste Parnaíba Piauí e Maranhão

Fonte: Fundação Araripe – Crato (CE)

As bacias são classificadas em micro, mini, pequenas, médias e gran-


des bacias. A reunião de várias microbacias que tributam uma bacia maior
forma uma minibacia e assim, sucessivamente, até as grandes bacias.
A ocupação das glebas de terras, em função da capacidade de uso do
solo e demais práticas conservacionistas recomendadas, não deve ficar
restrita a uma única propriedade isolada, pois os benefícios serão muito
limitados. É necessário também que os seus vizinhos adiram a essas prá-
ticas até que toda a pequena bacia esteja sendo manejada em bases con-
servacionistas. Esse mesmo programa será ampliado para as pequenas
bacias de um mesmo sistema até as grandes bacias.
Nas bacias manejadas em bases conservacionistas, a erosão é contro-
lada, as enchentes e inundações desaparecem, as nascentes e olhos-d’água

42 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


ressurgem, os riachos efêmeros tornam-se perenes, os assoreamentos dos
açudes e cursos de água cessam, as terras voltam à antiga fertilidade, há
estabilidade social e econômica, a vida ressurge.
A nova legislação prevê a criação, em cada bacia, de um Comitê Ges-
tor dos Recursos Hídricos, com representantes dos usuários, das autorida-
des e da sociedade civil organizada, a fim de traçar diretrizes, estabelecer
normas de uso e redimir conflitos de interesses. É necessária uma campa-
nha esclarecedora e participativa para a comunidade, para democratizar
o uso da água e o respeito à Natureza.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 43


ANEXO
DOCUMENTÁRIO
FOTOGRÁFICO
Fotos 1 e 2 – Erosão laminar seve-
ra e generalizada – fase inicial do
processo erosivo – assentamento
agrário 10 de abril em Crato (CE).
Observe que as cama das superfi-
ciais e mais produtivas já foram car-
readas, como atestam os números
e característicos “patamares desér-
ticos” mostrando também as trilhas
compactadas de animais

Foto 3 – Erosão em sulcos


– fase intermediária do pro-
cesso erosivo – assentamen-
to agrário 10 de abril em
Crato (CE). Observe o sulco
principal já bastante desen-
volvido e em seu entorno a
intensa e generalizada ero-
são laminar, como atestam
os inúmeros e característi-
cos “patamares desérticos”.

46 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


46 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 4 – Erosão em voçoroca
– fase final do processo erosi-
vo. Sítio Baixa Funda – Lagoa
Grande (PE). Entre os inúmeros
malefícios conhecidos das vo-
çorocas um passa geralmente
despercebido: o ressecamento
das terras agrícolas face ao seu
papel de drenagem profunda,
fator altamente negativista no
Semiárido Nordestino. Obser-
va-se, no seu entorno, a severa
e generalizada erosão laminar,
como atestam os inúmeros e
característicos “patamares de-
sérticos”. O sistema BBZ – em
barramento contínuo – é o mé-
todo mais eficiente no controle
da erosão em voçoroca.

Foto 5 – Erosão por desbarranca-


mento no assentamento agrário
10 de abril em Crato (CE). Gran-
de massa de solo desprendida da
encosta – em face de desestabili-
zação de seu sopé – pelo desma-
tamento e queimadas sucessivas.

Foto 6 – Encosta totalmente des-


matada (brocada) e pronta para a
queimada no assentamento agrá-
rio 10 de abril em Crato (CE). Práti-
ca tradicional no Nordeste, no pro-
cesso de “agricultura itinerante”.
Após alguns anos de cultivo, com
a queda da fertilidade, é abando-
nada para “encapoeirar-se” e no-
vas áreas são incorporadas pelo
mesmo processo, cujo inevitável
desfecho é a desertificação.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 47


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 47
Fotos 7 e 8 – A prática da queima-
da do mato “brocado” – após a
retirada das “linhas”, “enchamés”,
“morões”, estacas, varas e le-
nha –, infelizmente, ainda é uma
prática tradicional no Semiárido,
herança de nossos avoengos indí-
genas, deixando o solo totalmen-
te desnudo, sujeito à erosão e ao
ressecamento, cujo destino inevi-
tável é a desertificação. Essa práti-
ca prejudicial tem de ser substitu-
ída pela prática conservacionista
do “encordoamento do mato” ou
“barreiras mortas”, a exemplo da
Faz. Nª. Srª. do Rosário da agroin-
dústria Peixe, em seus 3000 ha,
em Pesqueira, e do “Eng. Novo do
Muro”, em seus 500 ha, em Carpi-
na, ambos em Pernambuco.

Fotos 9 e 10 – As florestas são a cobertura vegetal de máxima proteção


contra a erosão, mantendo a fertilidade do solo e até elevando-a. As gle-
bas com alta suscetibilidade à erosão ou degradação atual devem ser flo-
restadas. Pelo novo Código Florestal, serão 20% da área total do imóvel
rural, no Nordeste, bem como as encostas com declive igual ou superior à
45⁰ (100%), o entorno das nascentes, corpos de água, grutas, sítios ecoló-
gicos e margens de riachos e rios (matas ciliares).

48 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


48 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 11 e 12 – As pastagens
adensadas de pisoteio são co-
berturas vegetais de boa pro-
teção contra a erosão – desde
que bem manejadas. Capaci-
dade de suporte, rotação de
pastos, pousio, locação racio-
nal das aguadas, controle das
queimadas, sombreamento
despersivo, entre outras são
indicadas, preferencialmente,
para glebas com forte ou mo-
derada suscetibilidade à ero-
são ou degradação atual.

Fotos 13 e 14 – As culturas perenes, como bananeiras, laranjeiras, man-


gueiras e videiras são coberturas vegetais de média proteção do solo contra
a erosão – desde que combinadas com outras práticas conservacionistas.
São indicadas preferencialmente para as glebas de suscetibilidade à erosão
ou degradação atual de moderada a ausente.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 49


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 49
Fotos 15 e 16 – As culturas temporárias, como milho, mandioca, feijão, sorgo e al-
godão, que requerem mobilização do solo e “limpas” frequentes, são as coberturas
vegetais mais vulneráveis à erosão do solo, razão pela qual são indicadas apenas para
glebas de suscetibilidade praticamente nula à erosão e/ou degradação atual.

Foto 17 – Destinação das glebas em função da capacidade de uso das terras ou


“utilização sustentável”. Na fazenda retratada acima, a utilização das diversas glebas
destinada em função de sua “vocação natural” ou “utilização sustentável”:
• As áreas planas ocupadas com cultivo de cereais que exigem mobilização do
solo e “limpas” frequentes;
• As áreas onduladas ocupadas com pastagens adensadas de pisoteio;
• As áreas montanhosas com florestas nativas e/ou cultivadas.
Observa-se a mata ciliar, às margens do riacho, conforme o novo Código Florestal.

50 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


50 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 18 – Faixa de vegeta-
ção permanente ou “barreira
viva”. Faixa de vegetação her-
bácea – capim murumbu –
implantada em contorno, ser-
vindo de nivelada básica para
cultivos anuais em contorno.
Muitos técnicos, como os au-
tores, consideram as “barrei-
ras vivas” um substituto mais
ecológico, econômico e segu-
ro que o terraceamento.

Foto 19 – Faixa de vegetação perma-


nente ou “barreira viva”. Faixa de vege-
tação arbustiva/arbórea nativa – propo-
sitadamente preservada em contorno
– servindo de nivelada básica para as
fileiras das culturas temporárias. Muitos
técnicos, como os autores, consideram
as “barreiras vivas” um substituto mais
ecológico, econômico e seguro que o
terraceamento.

Foto 20 – Encordoamento do
mato ou “barreiras mortas”. Área
com culturas temporárias em
contorno, tendo como “niveladas
básicas” cordões em contorno
originados pela “maravalha” –
restos da cobertura vegetal resul-
tantes da limpeza da gleba – prá-
tica conservacionista conhecida
como “encordoamento do mato”
ou “barreiras mortas”.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 51


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 51
Foto 21 – Canavial cultivado em contorno (curva de nível) em Igarassu (PE).
Observe os carreadores principais em curva de nível e os secundários em “gre-
ga”. O cultivo em contorno é uma prática conservacionista tradicional e secular,
desde a época colonial, na zona canavieira nordestina, introduzido pelos coloni-
zadores portugueses que, por sua vez, a herdou da cultura árabe. O cultivo em
contorno, além da conservação do solo e da água, é também um importante
fator econômico, já que os tratos culturais – manuais ou mecânicos – são sem-
pre na horizontalidade, economizando energia.
Crédito da foto: Folha de Pernambuco

Foto 22 – Cultivo de arroz irrigado


em tabuleiros, em curva de nível, no
Vietnã. O cultivo em contorno é uma
prática conservacionista milenar no
Sudeste Asiático. O cultivo em con-
torno, além da conservação do solo
e da água, é também um importante
fator econômico, já que os tratos cul-
turais – manuais ou mecânicos – são
sempre na horizontalidade, econo-
mizando energia.
Crédito da foto: National Geographic

Foto 23 – Cultivo de arroz irrigado em


tabuleiros, em curva de nível, no Vietnã.
O cultivo em contorno, além da conser-
vação do solo e da água, é também um
importante fator econômico, já que os
tratos culturais – manuais ou mecânicos
– são sempre na horizontalidade, eco-
nomizando energia.
Crédito da foto: National Geographic

52 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


52 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 24 – Cultivo de vinhedos em terraços nivelados no Vale
do Douro, Portugal. Observe os carreadores principais em nível
e os secundários em “grega”. O cultivo em contorno, além da
conservação do solo e da água, é também um importante fator
econômico, já que os tratos culturais – manuais ou mecânicos –
são sempre na horizontalidade, economizando energia.
Crédito da foto: Jornal do Commercio – PE

Foto 25 – Cultivo de vinhedos em terraços nivelados no Vale do Douro, Portugal. O


cultivo em contorno é uma prática conservacionista milenar introduzida na Península
Ibérica pelos conquistadores árabes. Observe os carreadores principais em nível e os
secundários em “grega”. O cultivo em contorno, além da conservação do solo e da
água, é também um importante fator econômico, já que os tratos culturais – manuais
ou mecânicos – são sempre na horizontalidade, economizando energia.
Crédito da foto: Jornal do Commercio – PE.

Fotos 26 e 27 – Construção mecânica de terraço tipo “mangum” – terraço de base


larga, com dois canais paralelos – a montante e a jusante do camalhão central.
Esse tipo de terraço é indicado para as terras agrícolas de suave declive.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 53


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 53
Foto 28 – Terraceamento tipo
“mangum” – retratado nas
fotos 26 e 27 – em fase final
de conclusão. Esse tipo de ter-
raço permite o cultivo, no seu
camalhão, de algumas cultu-
ras, para maior aproveitamen-
to da área.

Foto 29 – Terraço tipo “nichols”,


recém-construído mecanicamen-
te. Terraço de base larga com
único canal a montante do cama-
lhão. Esse tipo de terraço é indi-
cado para as terras agrícolas de
declive mais acentuado.

Foto 30 – Calagem/gessa-
gem mecânica, para corre-
ção de solo e fertilização.
Crédito da foto: Profa. Izabel
Galindo, UFRPE

54 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


54 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 31 – Caminhão caçamba des-
carregando compostagem no solo.
Crédito da foto: Profa. Izabel Galin-
do, UFRPE

Foto 32 – Nódulos de bactérias nitri-


ficantes, em raízes de leguminosas.
Crédito da foto: Profa. Izabel Galin-
do, UFRPE

Cultivo de feijão-de-porco

Fotos 33 e 34 – Adubação verde. Cultivo de


mucuna e de feijão-de-porco para posterior
incorporação de matéria orgânica ao solo. Essa
incorporação deve ocorrer na época da flora-
ção, quando, além de maior massa, contém
maiores teores de nitrogênio assimiláveis.
Crédito da foto: Profa. Izabel Galindo, UFRPE
Cultivo de mucuna

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 55


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 55
Foto 35 – Cultivo em contorno de cro-
talária para adubação e incorporação
de matéria orgânica ao solo na zona
canavieira de Pernambuco. Objeti-
vando o futuro desenvolvimento do
canavial, a ser semeado nos sulcos.
Crédito da foto: Profa. Izabel Galindo,
UFRPE

Foto 36 – Destinação das gle-


bas em função da capacidade
de uso das terras – mata na-
tiva, reflorestamento, pasta-
gens e cultura de limpo.
Crédito da foto: Profa. Izabel
Galindo, UFRPE

Foto 37 – Pousio em faixa de contorno


com alternância de cobertura vegetal
– faixas claras, cultivo de tomate, fai-
xas escuras capoeira. Faz. Nª. Srª. do CAPOEIRA
Rosário – indústria Peixe – Pesqueira
Crédito da foto: Profa. Izabel Galindo, TOMATE
UFRPE

Foto 38 – Ceifa mecânica do mato em bana-


neiral. Com a adoção dessa prática, há uma
redução de 92% e 45% nas perdas de solo e
água, respectivamente.
Crédito da foto: Profa. Izabel Galindo, UFRPE

56 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


56 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 39 – Barreiras vivas de capim murumbu
servindo de NBs (niveladas básicas) em milha-
ral em contorno, método das fileiras paralelas
às niveladas básicas inferiores. IPA – Glória do
Goitá (PE)
Crédito da foto: Profa. Izabel Galindo, UFRPE

Foto 40 – Barreiras vivas de ca-


pim murumbu, servindo de NBs
(niveladas básicas) em milharal
em contorno, método das fi-
leiras paralelas às niveladas
básicas inferiores. Observe no
esquema o acúmulo de sedi-
mento a montante das barrei-
ras. IPA – Glória do Goitá (PE)
Crédito da foto: Profa. Izabel
Galindo, UFRPE

Foto 41 – Barreiras vivas de pal-


ma forrageira adensada. Obser-
va-se o acúmulo de sedimento
a montante das barreiras. IPA
– São Bento do Una (PE)
Crédito da foto: Profa. Izabel
Galindo, UFRPE

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 57


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 57
Foto 42 – Carreadores em contorno servindo de NB para
cafezal. Observe a cobertura morta do mato roçado. IPA –
São Bento do Una (PE)
Crédito da foto: Profa. Izabel Galindo, UFRPE

Foto 43 – Em primeiro plano,


terraços servindo de NB para
plantio de trigo em contorno.
Observe o açude abastecido pela
drenagem do sistema de terraço.
Crédito da foto: Profa. Izabel Ga-
lindo, UFRPE

Foto 44 – Terraceamento tipo


mangum, servindo de NB
para plantio em contorno no
método de fileiras paralelas
às NBs superiores e inferio-
res. Observe na parte central
a formação de mindinhas.
Crédito da foto: Profa. Izabel
Galindo, UFRPE

58 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


58 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 45 – Encordoa-
mento do mato.
Crédito da foto: Profa.
Izabel Galindo, UFRPE

Foto 46 – Mureta de pedra


em contorno, Triunfo (PE).
Crédito da foto: Profa. Iza-
bel Galindo, UFRPE

Foto 47 – Mureta de pedra


em Serra Talhada (PE).
Crédito da foto: Profa. Izabel
Galindo, UFRPE

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 59


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 59
60 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
USO DO CLINÔMETRO RÚSTICO
– PERPENDÍCULO – NA MEDIÇÃO
II
DA DECLIVIDADE DAS TERRAS

1 HISTÓRICO

O perpendículo já era utilizado pelos povos antigos, como os meso-


potâmicos, egípcios e chineses, para medição da declividade das terras,
rampas de estradas e edificações. Foi largamente empregado na Idade
Média, inclusive na topografia subterrânea, nas minas.

2 IMPORTÂNCIA

A determinação da declividade das terras é um dos fatores básicos


nos inventários, planejamentos e práticas conservacionistas, contudo,
pouco utilizada, visto que os clinômetros de precisão são caros e importa-
dos. Daí a grande importância dos clinômetros rústicos ou perpendículos,
de baixo custo e com vantagem de poderem ser utilizados por qualquer
agricultor esclarecido, devido à sua simplicidade operacional. Com o novo
Código Florestal, o clinômetro tornou-se indispensável não só para técni-
cos como, também, para os agricultores.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 61


3 DESCRIÇÃO DO APARELHO
O perpendículo consta, basicamente, de um semicírculo, em cujo cen-
tro está fixado um fio de prumo, e cujo limbo graduado tem origem (marca
zero) na perpendicular baixada no seu centro. Assim, estando o fio de pru-
mo na marca ”zero”, o seu diâmetro estará, forçosamente, em horizontal. O
limbo é dividido em graus, de 0° a 45°, ou em porcentagens, de 0% a 100%.
As dimensões do perpendículo são arbitrárias, porém, um raio entre 10
cm e 15 cm alia a precisão da leitura à efetividade do manuseio do aparelho.

Figura 1

4 MANEJO DO APARELHO
Em um local plano, o operador deverá ajustar uma “referência” hori-
zontal ao nível de seus olhos. Essa “referência” pode ser de preferência um
alvo alvirrubro, móvel ao longo de uma régua, que pode ser imobilizado por

62 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


um parafuso de “porca borboleta”. Esse conjunto é chamado de “mira de
alvo”. Na falta da mira de alvo, o operador pode improvisar uma tira de pano,
ou cruzeta em uma base vertical, ou ainda utilizar os olhos do operador ao
nível de uma parte anatômica do seu auxiliar (ver fotos A, B e C a seguir).

FOTOS MOSTRANDO COMO AJUSTAR UMA “REFERÊNCIA” DE ACORDO COM A ALTURA


DO OPERADOR

A – Com a “mira de alvo”.

B – Com uma “cruzeta” ou uma “tira de pano”


em uma base vertical qualquer.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 63


C – Com uma parte anatômica do auxiliar.

Seu auxiliar deve se deslocar, rampa acima ou abaixo, na linha de maior


pendente, para o ponto desejado, transportando a “mira de alvo” ou a “re-
ferência”. O operador visará o alvo, mirando pelo diâmetro do perpendículo
e, depois de estabilizado (“serenado”), o fio de prumo é fixado pelo dedo do
operador, que fará a leitura no limbo (ver fotos de 2.1 a 4.1).

5 TEORIA
Seja o operador, estacionado no ponto A visando, com o perpendícu-
lo, o alvo estacionado no ponto B. Como o alvo está ao nível dos olhos do
operador, a visada A1B1 será por construção, paralela à rampa AB.
Seja B2, a projeção ortogonal do ponto B, na horizontal, passando
pelo ponto A. A declividade I da rampa AB é por definição:

= Declividade
= Distância vertical entre os pontos A e B
= Distância horizontal entre os pontos A e B.

64 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Figura 2 – O ângulo α, lido no limbo do perpendículo, é igual ao ângulo α,
da rampa, visto que seus lados são perpendiculares entre si.

Ora, nessas medidas, o ângulo medido no perpendículo é igual ao ân-


gulo α, por construção, visto que seus lados são perpendiculares entre si.
Assim, por exemplo: se o ângulo medido no perpendículo for de 14°,
a declividade corresponde a 24,933%, aproximadamente 25%, visto que:

25% = 25/100 = 0,25, ora, o valor da tangente 0,25 corresponde ao


ângulo de 14°.

Como é norma na literatura conservacionista expressar as declivida-


des em porcentagens, é bem mais prático dividir o limbo diretamente em
porcentagens, conforme veremos no próximo item.

6 CONSTRUÇÃO DO APARELHO
 Trace com compasso e régua um semicírculo;

 Trace o raio perpendicular ao diâmetro marcando, na periferia, a


marca zero do limbo;

 Com transferidor, concêntrico ao semicírculo, a partir da marca


zero, trace na periferia os ângulos correspondentes às declivida-
des nos dois quadrantes, conforme Tabela 1. Assim, por exemplo,
para se marcar no limbo o valor de 25%, aplica-se o transferidor

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 65


concêntrico ao semicírculo, com o seu zero coincidindo com o
zero do limbo e abre-se para a esquerda e para a direita o ângulo
de 14°, como foi explicado no item 5;

 Fixe o fio de prumo no centro do semicírculo, deixando o pião


afastado, no mínimo, 5 cm de sua borda externa.

Obs.: O fio de prumo referido é aquele utilizado em aparelhos


topográficos, como teodolito e nível de luneta, facilmente adqui-
ridos nas casas do ramo, porém, podem ser fabricados por qual-
quer torneiro mecânico, ou ainda substituídos por um pião e en-
fieira de brinquedo. Aconselha-se a desenhar o aparelho em uma
cartolina e depois colar em um compensado. Uma versão mais
sofisticada utiliza uma placa metálica, plástica ou acrílica, com as
divisões do limbo gravadas. Modelos mais sofisticados dispõem
de massa e alça de mira, para maior precisão nas visadas.

A fim de facilitar o desenho do clinômetro, após o item 8 deste capítulo


constam impressos os limbos de um clinômetro, nas proporções corretas e
prontas para serem recortadas e coladas nos dois lados de uma tábua de 10
mm a 15 mm de espessura, serrada com o mesmo perfil do desenho.

Tabela 1 – Correspondência entre declividade, em %, e ângulo formado com a horizontal

% Graus % Graus % Graus

0 0 20 11,3 65 33,0
2 1,14 25 14 70 35,0
2,5 1,4 30 16,7 75 37,0
5 2,9 35 19,3 80 38,6
7,5 4,3 40 21,8 85 40,4
10 5,7 45 24,2 90 42,0
12,5 7,1 50 26,6 95 43,5
15 8,5 55 28,8 100 45,0
17,5 9,92 60 31,0

66 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


7 MANEJO DO PERPENDÍCULO

O operador visa, pelo diâmetro do perpendículo, o centro do alvo


previamente ajustado à altura de seus olhos (ver fotos 3.1 e 3.2) e fixa
com um dedo o fio de prumo, lendo no limbo o ângulo ou a porcentagem
de inclinação da rampa (ver foto 4.1).
Ressalta-se que tanto o operador quanto a mira de alvo devem per-
manecer na vertical.

Figura 3 – Mira de alvo – Observa-se o disco alvirrubro, corrediço ao longo


do rasgo da régua para a sua ajustagem à altura dos olhos do operador,
e o seu parafuso com porca borboleta para sua fixação.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 67


8 ADAPTAÇÃO DO PERPENDÍCULO AO NOVO CÓDIGO
FLORESTAL – LEI 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012

Atendendo às exigências do novo Código Florestal Brasileiro, no


que se refere ao uso legal das terras, em função de sua declividade
(Tabela 2), a Fundação Araripe adaptou um novo limbo, em graus, con-
cêntrico ao já existente nos modelos tradicionais em %, conforme Fi-
gura 4. Essa adaptação permite a própria e imediata demarcação, no
campo, das faixas de uso legal do solo, sem consulta à Tabela 1, não só
por técnicos como, também, pelos próprios agricultores – popularizan-
do e barateando a aplicação do novo Código, ou seja, tecnologia social
de baixo custo (Figura 4).

Tabela 2 – Uso legal das terras, em função de sua declividade, segundo o novo Código
Florestal.

Declive Uso Legal

Graus° -

Menor de 25° Sem restrições

Maior de 25° e menor de 45° Com restrições

Igual ou maior que 45° Área de Preservação Permanente

Tabela 3 – Uso das terras de acordo com sua declividade segundo o novo Código Florestal

Declive Uso Legal

Graus° -

Menor de 25° Sem restrições

Maior de 25° e menor de 45° Com restrições

Igual ou maior que 45° Área de Preservação Permanente (APP)

*Perpendículo MOD. πR.FA em homenagem ao Dr. Pierre Maurice Gervaiseau

68 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 69
A fim de facilitar os trabalhos, a Tabela 2 consta dos novos modelos dos
clinômetros na face oposta aos dois limbos graduados. Esse novo modelo,
adaptado pela Fundação Araripe, foi batizado de πR.FA em justa home-
nagem ao idealizador, criador, fundador e atual presidente da Fundação
Araripe, Dr. Pierre Maurice Gervaiseau.

9 A UTILIZAÇÃO DO PERPENDÍCULO NO LEVANTAMEN-


TO DE PERFIL TOPOGRÁFICO

9.1 GENERALIDADES

Às vezes, a simples determinação das declividades das rampas não é


o bastante, sendo necessário o levantamento do perfil topográfico, como
é o caso de instalações hidráulicas, eletrificação rural, de estradas, obser-
vância do Código Florestal, etc.

9.2 CONCEITO DE PERFIL TOPOGRÁFICO

É a figura resultante da intercepção da superfície do terreno, por um


Plano Vertical e Perpendicular ao Plano Topográfico, e Plano Horizontal, cuja
cota é a média das cotas dos mares. Um conceito mais simplista seria o de
um morro cortado verticalmente e visto de lado ou de perfil, daí o seu nome.

9.3 LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO

 O operador determina por três balizas – ou outro método qualquer


– um alinhamento do trecho em estudo, através de uma série de
piquetes: 0, 1, 2, 3, 4,....N, localizados nos pontos de variação da
declividade ou rampas (Ver Figura 5 do item Plantas de Perfis, que
se encontra em anexo).

 O operador, estacionado no Piquete Zero (P.0), localiza o seu auxi-


liar, que carrega a sua Referência de nível (Foto 3.0), localizado no
Piquete 1(P.1), determinando a primeira declividade ou rampa, e

70 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


medindo com trena a distância horizontal entre os dois piquetes.
Recomenda-se utilizar três auxiliares, portando três balizas, lem-
brando-se de manejar sempre a trena nivelada. A mensuração da
declividade e da distância horizontal será registrada nas colunas
(b) e (c) da Caderneta de Campo, do Quadro 1, abaixo. O operador
repetirá esse procedimento até o último piquete.

Quadro 1 – Caderneta de Campo para levantamento de perfil topográfico

DISTÂNCIA DISTÂNCIA DISTÂNCIA NO


PIQUETES DECLIVE OBS
HORIZONTAL VERTICAL TERRENO

- % m m m
0→1 - - - -
1→2 - - - -
2→3 - - - -
- - - - -
N-1→N _______ __________ ________ _______
∑ - - -
a b c d e f

9.4 CÁLCULO DA DISTÂNCIA VERTICAL E DA DISTÂNCIA NO TER-


RENO, NA CADERNETA DE CAMPO – Quadro 1

 As distâncias verticais, entre piquetes, coluna (d), serão calculadas,


popularmente, por meio de “regras de três”, com os valores das colu-
nas (b) e (c), conforme exemplo prático do item 9.6, ou por meio de
métodos trigonométricos, para o pessoal de nível técnico, já que a
declividade corresponde à tangente do vértice (item 5, Figura 2).

 As distâncias no terreno, coluna (e), serão calculadas popularmen-


te, por meio do Teorema de Pitágoras, conforme exemplo prático
do item 9.6, já que toda calculadora eletrônica escolar extrai a
raiz quadrada, ou por métodos trigonométricos, para o pessoal de
nível técnico, conforme comentário acima.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 71


Quadro 2 – Levantamento topográfico da adutora do Sítio Redenção – Igarassu/PE

DISTÂNCIA DISTÂNCIA DISTÂNCIA


PIQUETES I OBS.
HORIZONTAL VERTICAL NO TERRENO

- % m m m -

0→1 (+) 12 210 - - SUBIDA; RIACHO

1→2 (+) 15 49 - - SUBIDA

2→3 (+) 20 80 - - SUBIDA

3→4 0 200 - - PLANO

4→5 (-) 19 30 - - DESCIDA

5→6 (-) 10 25 - - DESCIDA; TANQUE

a b c d e f

Obs.: Os valores dos aclives (subidas) são positivos (+) e os dos declives (descidas) são negati-
vos (-). Só os dados das três primeiras colunas são levantados no campo; os demais, calculados
depois, no escritório. Este se resume a uma mesa e a uma calculadora escolar.

9.5 DESENHO DO PERFIL

9.5.1 Método dos Triângulos Retângulos

Desenhe em papel milimetrado ou quadriculado, de preferência, o per-


fil com os dados da Caderneta de Campo, do Quadro 1, na escala de sua
conveniência, sendo as declividades das rampas determinadas por uma sé-
rie de triângulos retângulos cujos vértices são os piquetes do alinhamento;
seus catetos adjacentes (base), as distâncias horizontais entre piquetes; seus
catetos opostos (alturas), as verticais; e suas hipotenusas (lados inclinados),
as distâncias no terreno entre piquetes, (Figura 6 do item Plantas de Perfis,
que se encontra em anexo), ou seja:

+ Vértices → Piquetes
+ Dһ = Catetos adjacentes (Bases) → Distâncias horizontais
+ Dv = Catetos opostos (Alturas) → Distâncias verticais
+ Dt = Hipotenusa (Lados Inclinados) → Distâncias no terreno

72 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Pelo Teorema de Pitágoras, temos:

9.5.2 Método das Coordenadas Cartesianas

Em um Sistema Cartesiano Ortogonal, cuja origem é o ponto do Piquete


Zero (P.0), as abscissas (eixo x), as distâncias horizontais dos piquetes ao pon-
to de origem, e as ordenadas (eixo y), as distâncias verticais dos piquetes,
são pontos de origem. A linha, definida por esse conjunto de pontos traduz
o perfil do terreno. No exemplo prático do item 9.6, o Piquete Um (P.1) terá
as coordenadas: X1, = 210 m; Y1, = 25,20 m ou P1 (210,00; 25,20) conforme
Quadro 3, porém, o próximo piquete, (P.2), terá as coordenadas P.2 (259,00;
32,55), pois a distância horizontal dele à origem será seu valor acrescido do
valor de P.1, ou seja: 259,00 = 210,00 + 49,00, e a distância vertical dele à
origem será o seu valor acrescido do valor do de P.1, ou seja: 32,55 = 25,20 +
32,55. Com igual raciocínio, montamos o Quadro 4, no item 9.6.

Quadro 3 – Cálculo das coordenadas cartesianas do perfil da adutora do Sítio Redenção


– Igarassu/PE

PIQUETE
P.0 P.1 P.2 P.3 P.4 P.5 P.6
m m m m m m m
EIXO

X
0 210,00 259,00 339,00 539,00 569,00 594,00
ABSCISSAS

Y
0 25,20 32,55 48,55 48,55 42,85 40,35
ORDENADAS

Desenho do Perfil – Trace em papel milimetrado ou quadriculado, de


preferência, um Sistema Cartesiano e, em escala de sua preferência, utili-
zando os dados das abscissas e ordenadas do Quadro 3, plote (marque) os
pontos dos piquetes conforme Figura 7, do item Plantas de Perfis, que se
encontra em anexo. A linha definida pelos pontos plotados (assinalados)
traduz o perfil do terreno.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 73


9.6 EXEMPLO PRÁTICO

Preencher a Caderneta de Campo, do Quadro 2, e traçar o perfil da


Adutora do Sítio Redenção, em Igarassu/PE.

9.6.1 Cálculo da Distância Vertical (Desnível) entre os piquetes

Como já foi exposto (item 9.4), será calculado por “regra de três”,
com os valores das colunas (b) e (c), como se segue:
Desnível entre o Piquete Zero (P.0) e o Piquete Um (P.1). “Se a decli-
vidade é 12%, em 100 m horizontais subirá 12 m, logo, em 210 m horizon-
tais subirá X”, ou: 100 m sobe 12 m, em 210 m subirá X”.

100 m – 12 m

210 m – , donde = 25,20 m; valor este a ser lan-


çado na Caderneta de Campo que, por razões didáticas, reproduzimos
no Quadro 5 do item Plantas de Perfis, que se encontra em anexo. Igual
procedimento para os demais piquetes.

Quadro 4 – Cálculo das distâncias verticais e no terreno entre piquetes

DISTÂNCIA DISTÂNCIA DISTÂNCIA


PIQUETES I OBS
HORIZONTAL VERTICAL NO TERRENO

(a) (b) (c) (d) (e) (f)

- % m m m -

(+)
0→1 (+) 12 210,00 211,51 SUBIDA (+); RIACHO
25,20

1→2 (+) 15 49,00 (+) 7,35 49,55 SUBIDA (+)

(+)
2→3 (+) 20 80,00 81,58 SUBIDA (+)
16,00

3→4 0 200,00 (+) 0,00 200,00 PLANO

4→5 (-) 19 30,00 (-) 5,70 30,54 DESCIDA (-)

5→6 (-) 10 25,00 (-) 2,50 25,12 DESCIDA (-); TANQUE

∑ - 594,00 40,35 598,30 -

74 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


9.6.2 Cálculo da Distância no Terreno entre piquetes

Como já foi exposto (item 9.4), será calculado pelo Teorema de Pitágoras:
“O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos Cate-
tos”, onde:

Hipotenusa = distância no terreno entre piquetes..........................= Dt


Cateto adjacente = distância horizontal entre piquetes..................= Dh
Cateto oposto = distância vertical entre piquetes...........................= Dv

ou:

Assim, no exemplo prático do item 9.6, o cálculo da distância do ter-


reno entre o Piquete Zero (P.0) e o Piquete Um (P.l) seria:

, onde:
= 211,51 m, valor este a ser lançado na coluna
(c) do Quadro 4. Esse procedimento será repetido até o último trecho dos
piquetes e seus valores lançados na Caderneta de Campo, na coluna (c).

9.6.3 Desenho do Perfil – Método dos Triângulos Retângulos

 Marque o ponto correspondente ao Piquete Zero (P.0), no papel mili-


metrado ou quadriculado, de preferência, conforme Figura 5 do item
Plantas de Perfis, que se encontra em anexo; e, por ele, trace um seg-
mento horizontal de 10 cm = 100 mm; em cuja extremidade, trace um
segmento vertical de 1,2 cm = 12 mm; trace uma reta inclinada unin-
do o P.0 ao topo do segmento vertical. A inclinação dessa reta é por
construção de 12%, já que 12 mm verticais correspondem a 100 mm
horizontais, ou 12 mm ÷ 100 mm = 12%, valor da coluna do Quadro 2.

 Marque na linha inclinada (Hipotenusa do Triângulo) a distância


no terreno de 211,51 m, conforme coluna (c) do Quadro 4, de
acordo com a escala adotada, no caso da Figura 5, de 1:1.000. Ou

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 75


seja, 211,51 cm, o ponto P.1, fica perfeitamente localizado por co-
ordenadas vetoriais: Ângulo e Distância (Figura 5 do item Plantas
de Perfis, que se encontra em anexo).

 A partir do ponto 1, repete-se o procedimento para P.2, com o mes-


mo segmento de 100 mm, porém, o segmento vertical. Agora será
de 15 mm, já que a declividade é 15%, conforme coluna (b), Qua-
dros 2 e 4. Repete-se esse procedimento até o último piquete, con-
forme Figura 6 do item Plantas de Perfis, que se encontra em anexo.

9.6.4 Desenho do Perfil – Método das Coordenadas Cartesianas

Vide item 9.5.2 e Figura 7 do item Plantas de Perfis, que se encontra


em anexo.

Observações:

 O Perfil Topográfico pode ser:

Normal – Quando as distâncias verticais e horizontais no dese-


nho obedecem à mesma escala e representam o relevo natural
do terreno, como nas Figuras 5 e 7 do item Plantas de Perfis, que
se encontra em anexo.

Alteado – Quando as distâncias verticais obedecem a uma escala


menor que as horizontais, ou seja, os desníveis são acerbados.
Muito utilizado em cortes, nos mapas geográficos, para ressaltar
detalhes de altitudes.

 Utilizou-se, neste livro, ponto e piquete como sinônimos, em vir-


tude do piquete ser a materialização do Ponto Topográfico.

10 PLANTAS DE PERFIS
Veja em anexo ao final deste livro.

76 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


11 MONTAGEM ARTESANAL DO CLINÔMETRO ∏R.FA
A fim de difundir e popularizar a utilização do clinômetro, em obe-
diência ao novo Código Florestal e principalmente ao uso sustentável dos
recursos naturais renováveis, os autores se propõem a facultar, a todos
que tiverem acesso a esse livro, a confeccionarem, com recursos próprios,
seus instrumentos, conforme instruções abaixo:

Instruções para fabricação artesanal do Clinômetro πR.FA:

1. Tirar cópias coloridas, com as dimensões originais, da Figura 4 e


Tabela 3 do item 8 deste capítuloe recortar as duas figuras;

2. Recortar em madeira compensada ou chapa de fibra de madeira


de média densidade (MDF) ou de alta densidade (HDF), de 1,0 cm
de espessura, um semicírculo de raio de 13 cm igual ao da Figura
4, e mostrado nas fotos 1.3, 1.4, 4.1 e 4.2. O mais indicado é o de
alta densidade;

3. Colar as duas cópias recortadas, na frente e no verso do molde de


madeira, conforme fotos acima referidas;

4. *Perfurar o centro do semicírculo e fixar o fio e o pião, conforme


fotos citadas acima na instrução 2.

O perpendículo está pronto. Bom proveito!

*Observações: O orifício no centro do semicírculo, trespassado pelo


fio de prumo, deve ser inclinado 45⁰, de modo que, na face da Figura 4, se
origina na sua aresta e na contraface um pouco abaixo de sua aresta, onde
se dá o nó para sua fixação, conforme fotos 1.3, 1.4, 4.1 e 4.2.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 77


ANEXO
DOCUMENTÁRIO
FOTOGRÁFICO
Foto 1 – Dois modelos de clinômetros confeccionados pela Fundação Araripe, com raio
de 13 cm em duas posições

1.1 – Modelo 1999 – lado do limbo 1.2 – Modelo 1999 – lado reverso.
graduado em porcentagem (%).

1.3 – Modelo πR.FA 2013 – Lado do 1.4 – Modelo πR.FA 2013 – Lado
limbo periférico em porcentagem reverso, uso das terras de acordo
(%) e do limbo interno em faixas com o novo Código Florestal.
de uso permitido em graus(°). Mostrando também o orifício abaixo
Mostrando também o fio saindo da do diâmetro do aparelho, para que o
aresta do diâmetro do aparelho. fio receba o nó, trespasse a madeira
e saia no outro lado.

80 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


80 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 2 – Três maneiras de ajustar a referência de nível – em terreno nivelado – à altura
dos olhos do operador

2.1 – Mira de Alvo

2.2 – Cruzeta improvisada

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 81


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 81
2.3 – Detalhe anatômico do auxiliar,
no caso, as sobrancelhas

Foto 3 – Disposição do auxiliar e do operador na medição da declividade do terreno

3.1 – Em aclive

82 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


82 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
3.2 – Em declive

Foto 4 – Detalhe da Foto 3.2

4.1 – O fio de prumo indica uma declividade


de 30% no limbo periférico e, no limbo
interno, situa-se na faixa verde, valor
inferior a 25° que corresponde ao uso legal
“SEM RESTRIÇÕES”. Observa-se também a
saída do fio de prumo exatamente na aresta
do diâmetro do aparelho.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 83


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 83
4.2 – Lado reverso da Foto 4.1, mostrando
detalhe do uso das terras – menor que 25°
“SEM RESTRIÇÕES”. Observa-se também
o nó e o orifício de entrada do fio de prumo,
abaixo da aresta do diâmetro do semicírculo.

84 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


84 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
86 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
O NIVELADOR DE ALVO
E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A
III
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL –
TECNOLOGIA SOCIAL DE BAIXO
CUSTO PARA PRODUTORES RURAIS

1 HISTÓRICO
O nivelador de alvo já era utilizado pelos povos antigos que dominaram
a tecnologia da fabricação de tubos de vidro. Foi o precursor dos atuais
níveis topográficos de lunetas, sendo utilizado no traçado de canais e es-
tradas, além da construção civil, militar e em levantamentos altimétricos. Os
niveladores de alvo primitivos constavam de um tubo de vidro transparente
em formato de “U”, com as extremidades abertas, fixado pelo ramo hori-
zontal ao topo de uma régua. O tubo era preenchido com água colorida de
modo que o operador tirasse uma visada em nível pelos seus dois meniscos. O
aparelho era pouco prático, sujeito a frequentes perdas de água ou quebra do
tubo de vidro. Com o advento dos níveis de pedreiro, seu uso generalizou-se,
só sendo recentemente suplantado pelos modernos níveis topográficos de
luneta (ver foto a seguir).

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 87


NIVELADOR PRIMITIVO

Utilizado pelos povos da Antiguidade na Mesopotâmia,


Egito, Índia e China.
Consta basicamente de um tubo transparente em
forma de “U”, cheio de água colorida, montado em
uma armação de madeira em formato de “T”. O
operador faz as visadas niveladas através dos meniscos
nos dois “braços” do tubo em “U”.
Observe as rolhas com os seus suspiros (agulhas de
injeção), para evitar vazamento e permitir o equilíbrio
da pressão atmosférica nos dois “braços” do tubo.

2 IMPORTÂNCIA PARA A AGRICULTURA


O nivelador de alvo é um instrumento de grande utilidade em diversas
atividades agrícolas, principalmente nas práticas de conservação do solo e da
água e na irrigação, tais como curvas de nível, terraceamento, sulcos em con-
torno, cultura em faixa, canais escoadouros, canais de irrigação, drenagem e
carreadores. Devido à sua simplicidade, rusticidade e baixo custo, pode ser
fabricado por qualquer carpinteiro, sendo seus componentes encontrados em
todas as vilas e localidades. Tem ainda a grande vantagem de poder ser opera-
do por qualquer agricultor que tenha participado de um treinamento simples.
O nivelador de alvo executa as mesmas tarefas dos instrumentos “pé
de galinha” e do nível de mangueira com a vantagem de maior precisão.
Cada ponto nivelado independe do anterior, apresenta melhoria considerá-
vel na sua operacionalidade e pode operar em áreas de Caatinga, capoeira e
mesmo em mata rala.
O nivelador de alvo atualmente é um instrumento indispensável ao
produtor rural, face às exigências legais do Novo Código Florestal Brasileiro
(Lei 12.651, de 25 de maio de 2012). Considerando-se a dificuldade de ma-
nuseio e aquisição de equipamentos tecnológicos sofisticados, pela maioria
dos produtores rurais, ou a contratação de profissionais especializados para
serviços topográficos, pois o nivelador pode ser operado por qualquer pro-
dutor rural , levando-se em consideração que os caboclos são inteligentes e
ativos, a exemplo dos ótimos mecânicos, tratoristas, marceneiros, pedreiros e

88 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


ferreiros por esse sertão afora. Entre as várias práticas agrícolas executadas
com ajuda desses instrumentos, enumeramos as descritas no Quadro 1,
apresentado a seguir. A operacionalidade de cada uma dessas técnicas
está descrita detalhadamente nos Informativos da Fundação Araripe, no
Quadro 1 abaixo.

Quadro 1 – Principais técnicas agrícolas executadas com a ajuda do nivelador de alvo

Técnicas

Locação (marcação) de curvas de nível e niveladas básicas

Locação de curva com pendente

Nivelamento simples entre dois pontos

Nivelamento composto entre dois pontos

Nivelamento de canais e estradas

Locação (marcação) de canais de irrigação

Locação (marcação) de canais de drenagem

Locação (marcação) de estradas e carreadores

Levantamento planialtimétrico básico para projeto de açudagem

Construção de açudes de terra e/ou alvenaria de pedra

Locação e construção de Barragens Base Zero – BBZ

3 DESCRIÇÃO DO APARELHO
O nivelador de alvo consta basicamente de uma régua vertical, com altu-
ra aproximada do queixo do operador, em cujo topo está fixada uma travessa
perpendicular, formando um “T”, que serve de apoio a um “nível de pedreiro”.
Por cima da bolha indicadora de nível, um espelho inclinado de 45°, fixado ao
seu suporte por duas peças laterais à régua, de modo a permitir a colocação
ou retirada do “nível de pedreiro” com segurança e comodidade, além de um
afastamento entre o espelho e o “nível de pedreiro” para permitir a visada
pelo operador (Figura 1).

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 89


Figura 1 – Nivelador de alvo (medidas em cm) – ver item 6

1 – Vista de frente observando o espelho pela “quina” do espelho


2 – Vista de lado
3 – Vista do lado sem a peça lateral que fixa o suporte do espelho
A – Régua 145 cm x 6 cm x 2 cm (Pé)
B – Apoio do “nível de pedreiro” 35 cm x 2 cm x 1 cm (Cruzeta)
C – Peça lateral de fixação do suporte do espelho 3 cm x 6 cm x 2 cm (Orelhas)
D – Suporte do espelho em formato prisma trapezoidal 12 cm x 6 cm x 6 cm x 2 cm
(Trapézio)
E – Espelho retangular – 8,5 cm x 2,0 cm x qualquer espessura
F – “Nível de pedreiro”(qualquer comprimento); quanto maior,mais precisas as visadas.
Utiliza-se o de 40 cm, largura máxima de2 cm para encaixar no seu apoio B (Cruzeta)
rasgo da cruzeta, e altura máxima de 6,5 cm afim de não obstruir o vão das visadas.

O nivelador de alvo opera sempre acompanhado da mira de alvo que


consta de um alvo alvirrubro, corrediço ao longo de uma régua com um
parafuso de borboleta para sua fixação. Nas costas da régua, uma escala –
geralmente uma fita métrica – permite ao auxiliar anotar, em caderneta, a
leitura do alvo, tendo como referencial o centro do parafuso. As dimensões
do nivelador de alvo e da mira de alvo são arbitrárias. Recomenda-se, contu-
do, adotar as dimensões aproximadas das figuras 1 e 2 (ver item 6).

90 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Figura 2 – Mira de alvo (medida em cm)

1 – Vista lateral de quina


2 – Vista de frente
3 – Vista de trás, costa
F – Régua 200 cm x 6 cm x cm. Observa-se o rasgo
central com 150 cm x 1 cm e a escala impressa atrás.
G – Alvo circular alvirrubro Ø 40 cm x 1 cm de
espessura. Observa-se o parafuso H com arruela e
porca borboleta I para sua fixação ao longo da mira e
as guias laterais J para evitar que o disco gire. Observe
no detalhe da foto as guias laterais, a trena ou fita métrica e o centro do parafuso no
centímetro 0 (zero) da fita coincidindo com o início do rasgo na régua.

4 MANEJO DO APARELHO
Em um ponto conveniente crava-se no solo um piquete, de modo
que seu topo fique cerca de 1 cm acima do terreno, apoiando nele a so-
leira da régua. O operador centra a bolha de nível, refletida no espelho,
corrigindo a verticalidade da régua e, simultaneamente,fará as visadas ar-
restando com a face superior do “nível de pedreiro”. Nessas condições todas

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 91


as visadas situam-se no mesmo plano horizontal ao nível dos olhos do ope-
rador. Diz-se que o aparelho está estacionado. (Figura 3)

Figura 3 – Estacionamento do nivelador de alvo (esquema). Apoiando o aparelho


em um piquete, o operador centra a bolha do “nível de pedreiro”
observando-a através do espelho.

1 – Piquete ou Torno
2 – Régua
3 – “Nível de Pedreiro”
4 – Espelho x 45⁰
5 – Operador

4.1 LOCAÇÃO (MARCAÇÃO) DE CURVAS DE NÍVEL

Após estacionar o aparelho, conforme item 4, o operador instrui o seu


auxiliar a localizar a mira de alvo no ponto inicial da curva de nível – assina-
lada por um piquete “P0”– e a regular o alvo ao nível de sua visada. Fixado

92 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


o alvo pelo aperto da porca de borboleta, o auxiliar desloca-se cerca de dez
a 20 passos à frente, conduzindo a mira, com o alvo fixado, rampa acima ou
abaixo, ao comando do operador, até que o centro do alvo se enquadre na
sua visada. Nesse ponto o ajudante crava o piquete seguinte “P1” da curva
e repete a operação até que surja algum obstáculo, ou as visadas fiquem
muito distantes. É a ocasião da mudança do aparelho. O operador muda o
aparelho estacionando mais à frente, em um ponto de sua conveniência,
conforme item 4, e faz nova visada a ré para a mira de alvo no último pi-
quete localizado. Logicamente, como a altura instrumental modificou-se, o
operador comandará o seu auxiliar para ajustar novamente o alvo à altura da
visada atual e procederá como já foi descrito anteriormente.
Como os piquetes localizados estão em nível, a distância entre eles é
arbitrária, recomendando-se, na prática, uma distância de dez a 20 passos.
No entanto, nos contornos de grotas e espigões os espaçamentos entre
piquetes deverão ser menores.

Figura 4 – Locação de curvas de nível

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 93


O operador estaciona o aparelho em um ponto conveniente, visa a
ré, a mira de alvo, no piquete inicial P0 e comanda o ajuste do alvo à sua
visada nivelada. Fixando o alvo à altura da visada, o auxiliar desloca-se
para frente (dez a 20 passos) e, carregando a mira, desce ou sobe a ladei-
ra, até que o centro do alvo se enquadre na visada do operador. O piquete
seguinte será batido ao pé da mira e terá, forçosamente, a mesma cota do
primeiro piquete. Os demais piquetes serão posicionados com o mesmo
procedimento. Como a curva é em nível, o espaçamento entre piquetes
pode variar. Observa-se, mais abaixo, a curva de nível já posicionada.

Figura 5 – Locação de curvas de nível. Apoiado o nivelador em um piquete rente


ao solo, o operador visa, simultaneamente, o centro da mira enquanto mantém
a bolha centralizada. Todos os pontos estarão em nível.

A distância entre os piquetes pode variar, porém, a altura do alvo


permanece constante. Os pontos 0, 1, 2,...N têm a mesma cota, posto
que, por construção, situam-se em um plano nivelado e paralelo ao pla-
no nivelado à altura dos olhos do operador. A visada AB é nivelada, por
construção, à altura do alvo BB’ = AA’ é constante, logo a figura ABB’A’ é,
por construção, um retângulo e, consequentemente, os pontos 0, 1, 2,...N
estão contidos na nivelada A’B’, paralela à nivelada AB.

94 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


4.2 LOCAÇÃO (MARCAÇÃO) DE CURVAS COM PENDENTE

Nesse caso, os piquetes, forçosamente, serão equiespaçados, geral-


mente l0m. O operador procederá como no item 4.1, porém, o auxiliar
terá de ajustar a altura do alvo, a cada nova visada, correspondente à pen-
dente (inclinação ou gradiente) desejada.
Assim, por exemplo, adotando-se o equiespaçamento entre piquete
de l0m e desejando uma pendente de 2%0 (2:1000). Após a visada de ré,
no piquete inicial “P0”, o auxiliar alteará o alvo em 2 cm, afim de que a so-
leira da régua desça, relativamente, este acréscimo para obter a pendente
desejada, posto que:

Distância vertical = Dv = 2 cm
Distância horizontal = Dh =10 m = l000 cm
Pendente =I =Dv :Dh = 2 cm : 1000 cm = 0,002 = 2%o (adimensional)

A fim de manter os piquetes equiespaçados, utiliza-se uma corda,


corrente ou arame, de comprimento desejado, com duas argolas nas ex-
tremidades – uma abraça o piquete anterior; a outra o pé da mira de alvo.
O auxiliar se deslocará, com a corrente retesada, ao comando do opera-
dor, rampa acima ou rampa abaixo ao longo de um arco, cujo raio é corrente,
até que o operador enquadre o centro na sua visada.
Nesse ponto, o operador bate um novo piquete, “P1”, repetindo a
mesma operação até que surja algum obstáculo, ou as visadas fiquem mui-
to distantes, necessitando da mudança do aparelho, procedimento que será
a repetição do já descrito no item 4.1.
O procedimento acima descrito refere-se à locação da curva de pen-
dente com fluxo, no sentido do caminho do auxiliar, isto é, do inicial “P0”
para o último piquete “Pn”. No entanto, muitas vezes é necessário localizar
a linha com fluxo inverso, isto é, com queda do último para o piquete inicial
“P0”, bastando para isso que o auxiliar, em vez de altear o alvo correspon-
dente à pendente desejada, como já foi explicado, rebaixe o alvo ao mesmo
valor, fazendo com que a soleira da mira de alvo se eleve, relativamente,
durante as visadas (Figura 7).

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 95


Figura 6 – Locação da linha de pendente com fluxo a favor do sentido do
caminhamento dos piquetes

Os piquetes são, obrigatoriamente, equiespaçados, ou seja, a distân-


cia entre eles é constante. A cada nova locação de piquete, o alvo é eleva-
do o correspondente à pendente desejada, isto é, relativamente, a soleira
da mira é rebaixada em relação ao nível da visada nivelada. Nessas condi-
ções, a distância vertical e horizontal, entre dois piquetes sucessivos, por
construção, é constante, logo, os pontos 0, 1, 2, 3 e 4 pertencem à mesma
reta inclinada, que forma com a horizontal o ângulo (alfa), cuja tangente
é a declividade desejada.

96 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Figura 07 – Locação da linha de pendente com fluxo contrário ao
caminhamento dos piquetes.

Os piquetes são, obrigatoriamente, equiespaçados, ou seja, a dis-


tância entre eles é constante. A cada nova locação de piquete, o alvo é
rebaixado o correspondente à pendente desejada, isto é, relativamente,
a soleira da mira é elevada em relação ao nível da visada nivelada. Nessas
condições, a distância vertical e horizontal, entre dois piquetes sucessi-
vos, por construção, é constante. Logo, os pontos 0, 1, 2, 3 e 4 pertencem
à mesma reta inclinada, que forma com a horizontal o ângulo (alfa), cuja
tangente é a declividade desejada.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 97


4.3 NIVELAMENTO SIMPLES ENTRE OS PONTOS “A” E “B” DO TER-
RENO

O operador estaciona o aparelho, conforme item 4, visando a ré o


ponto “A” e comandando o seu auxiliar para o ajustamento do alvo, ao
nível de sua visada. Ocasião em que o auxiliar anota na caderneta a al-
tura do alvo, lida na escala detrás da régua. Após o auxiliar situar a mira
de alvo no ponto “B”, regulando novamente a altura do alvo de acordo
com o comando do operador, até que o alvo seja enquadrado na visada
do operador, ocasião em que o auxiliar anota a nova altura do alvo lida
na escala detrás da mira. A diferença entre as duas alturas do alvo é o
desnível entre os dois pontos.
Para melhor operacionalidade, geralmente o operador estaciona o
aparelho no ponto “C”, entre os dois pontos “A” e “B”, de modo que na
visada a ré, ponto «A», o alvo esteja na parte baixa da mira e na visada de
avante, ponto “B”, na parte alta da mira.

Figura 8 – Nivelamento simples

98 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


O desnível entre os pontos “A” e “B” é reduzido, permitindo o nivela-
mento com uma única visada nivelada. O operador estaciona o nivelador
no ponto “C”, de sua conveniência, entre os pontos “A” e “B”. O auxiliar si-
tua a mira no ponto “A” e, sob o comando do operador, ajusta o centro do
alvo à sua visada nivelada, anotando sua leitura na escala, nas costas da
mira, tendo por referencial o centro do parafuso de fixação. Depois, muda
a mira para o ponto “B” e repete a operação acima referida. A diferença
entre as duas leituras é o desnível entre os dois pontos.

4.4 NIVELAMENTO COMPOSTO ENTRE OS PONTOS “A” E “B”

Quando é impossível com uma única visada nivelada determinar o


desnível entre os pontos “A” e “B”, recorre-se ao nivelamento composto,
isto é, determina-se o desnível entre vários pontos intermediários, como
descrito no item 4.3. A somatória dos desníveis parciais entre os pontos
intermediários corresponde ao desnível entre o ponto “A” e “B” (Figura 9).

Figura 9 – Nivelamento composto

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 99


O desnível entre “A” e “B” é exagerado, impedindo o nivelamento
simples com uma única visada. Utiliza-se, nesse caso, o ponto intermedi-
ário “D”, entre os pontos “A” e “B”. O operador estaciona o nivelador no
ponto “C”, entre os pontos “A” e “D”, e, procedendo como já foi descrito
no nivelamento simples, determina o desnível entre os pontos “A” e “D”.
Depois, muda o aparelho para o ponto “E”, entre os pontos “D” e “B”, e
procede como já foi descrito no nivelamento simples, determinando o
desnível entre os pontos”D” e “B”. Como o desnível entre os pontos “A”
e “B” é muito exagerado, há necessidade de se estabelecer vários pontos
intermediários. A somatória dos desníveis dos pontos intermediários será
o desnível entre “A” e “B”.

4.5 NIVELAMENTO DE CANAIS E ESTRADAS

As curvas de nível e curvas com pendentes, descritas nos itens 4.1 e 4.2
caracterizam-se por seus pontos (representados no terreno pelos piquetes)
situarem-se sempre na superfície do solo, isto é, “na flor do chão”. Por isso
elas têm sempre um traçado coleante ou serpenteante.
Embora alguns canais e estradas sejam localizados como curvas com
pendentes (traçado coleante ou serpenteante), sempre à superfície do solo,
o mais usual em irrigação e estradas é um traçado com vários trechos re-
tilíneos (com aterro e o desmonte) interligados por trechos curvilíneos,
onde também haverá aterro ou desmonte. O nivelador de alvo pode ser
usado também para o nivelamento desses canais e estradas, tanto nos tre-
chos retos quanto nos trechos curvos.

4.5.1 Nivelamento de canais de pequeno porte

O operador marcará no terreno o traçado do canal por meio de pi-


quetes equidistantes, de 10 m a 20 m nos trechos retos. Nos trechos cur-
vos, essa distância será reduzida para 2 m a 4 m. Estacionará o aparelho em
um ponto conveniente, conforme item 4, e visará a ré o topo de uma estaca
no piquete inicial“P0”, que estará na cota inicial do canal ou estrada. Logo a
seguir visará o seguinte piquete “P1”, sendo a altura do alvo ajustado à pen-
dente escolhida, como já foi descrito no item 4.2.

100 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


O porta-mira, no piquete “P1”, ao comando do operador, levantará
ou baixará a mira, continuando o alvo imóvel, até que ele seja enqua-
drado na visada do operador. A altura da soleira da mira de alvo indica a
cota do canal. Caso a soleira esteja acima do piquete,deve-se bater uma
estaca de modo que, apoiada a soleira da mira no seu topo, o alvo se
enquadre na visada, ou seja, o topo da estaca indica a altura do aterro
do canal ou estrada.
Na situação inversa, em que para enquadrar o alvo seja preciso abrir
uma cova, o fundo desta indica a profundidade do corte do terreno. Nesse
caso, convém bater um piquete de modo que seu topo fique nivelado com
o fundo da cova.

5 VANTAGENS DO NIVELADOR DE ALVO SOBRE OS


DEMAIS INSTRUMENTOS CONGÊNERES NA IMPLANTA-
ÇÃO DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO
E DA ÁGUA

As vantagens do nivelador de alvo sobre os demais instrumentos


congêneres,nível de luneta, “pé de galinha” e nível de mangueira, são de
caráter econômico e operacional, conforme Quadro2.
Ressaltando-se que só o nivelador de alvo é capaz de operar em
terreno com cobertura vegetal de Caatinga e/ou capoeira, os demais
congêneres só operam em cobertura vegetal rasteira ou “descampa-
dos”. Daí sua grande vantagem ecológica: permitir nas áreas de Caatin-
ga ou capoeira locar previamente as faixas de proteção de vegetação
nativas, em contorno, antes do desmatamento ou “broca”, conforme
o Informativo 3 da Fundação Araripe (item 8, dos mesmos autores),
descrito a seguir:
“Diversos profissionais, como os autores, preferem marcaras curvas
de nível, no terreno ainda capoeirado ou ematado, antes do desbrava-
mento ou “broca”, o que é relativamente fácil com nível de alvo”. Na broca
da mata ou capoeira, respeitam-se as faixas de vegetação nativa, ao longo
das curvas de nível, com largura mínima de 2m, de modo a obter as faixas
de vegetação permanente pela própria natureza.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 101


102
Quadro 2 – Método de locação de curvas de nível e com pendente e suas características operacionais

ESPAÇAMENTO
Nº ORIGEM/
APARELHO PRECISÃO OPERADOR AUXILIAR(ES) OPERAÇÃO ENTRE OBS.
ORD. CUSTO
PIQUETES (m)

Cada ponto nivelado


Nível de independe do anterior;
Importado Engenheiro
luneta Porta-mira e Rápida e os erros ficam isolados
Máxima ou 10 - 20
01 e mira Piqueteiro Fácil e são facilmente
Muito Alto Topógrafo
falante corrigidos. Só operam
em áreas descampadas.
Cada ponto nivelado
independe do anterior;
Nivelador Carpintaria os erros ficam isolados

CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


de alvo e Trabalhador Porta-mira e Rápida e e são facilmente
Boa 10 - 20
02 mira de Muito Rural Piqueteiro Fácil corrigidos. Operam em
alvo Baixo áreas descampadas,
com Caatinga e
capoeiras.
Cada ponto nivelado
Carpintaria depende do anterior; os
Pé de Trabalhador Lenta e erros se acumulam não
Razoável Piqueteiro 2
03 Galinha Muito Rural Trabalhosa podendo ser corrigidos.
Baixo Só operam em áreas
descampadas.
Cada ponto nivelado
Carpintaria depende do anterior; os
Nível de Trabalhador Lenta e erros se acumulam não
Razoável Piqueteiro 10
04 Mangueira Muito Rural Trabalhosa podendo ser corrigidos.
Baixo Só operam em áreas
descampadas.
Essa modalidade é recomendada principalmente para o Nordeste,
considerando-se que o solo recém-desbravado, ainda sem a proteção das
faixas de vegetação ou das fileiras das plantas, é presa fácil da erosão
provocada pelas “trovoadas” que antecedem a estação chuvosa, durante
a qual se pode plantar as faixas de vegetação e as carreiras da lavouras.
Depois que as carreiras das plantas estiverem desenvolvidas, e pas-
sado o período crítico das trovoadas, as faixas de vegetação nativa podem
ser, paulatinamente, substituídas pelas tradicionais gramíneas recomen-
dadas. No entanto, é muito mais ecológico permanecer a faixa de vegeta-
ção nativa que, inclusive, pode ser contabilizada como Reserva Florestal
Legal da propriedade que, no Nordeste, é de 20% da área do imóvel rural.
Esse método é ainda mais facilmente aplicado quando a cobertura
vegetal é herbácea.

6 MONTAGEM ARTESANAL DO NIVELADOR E DA MIRA DE


ALVO

A fim de difundir e popularizar a utilização do nivelador e da mira de


alvo, em obediência ao novo Código Florestal e principalmente levando-
-se em consideração o uso sustentável dos recursos naturais renováveis,
os autores se propõem a facultar, a todos que tiverem acesso a este in-
formativo, a confeccionarem, com recursos próprios, seus instrumentos,
conforme instruções abaixo:

6.1 NIVELADOR DE ALVO

6.1.1 Peças: confeccione ou encomende a uma carpintaria as seguin-


tes peças:

A – Uma régua com 145 cm x 6 cm x 2 cm (Pé);

B – Uma tábua com 35 cm x 2 cm x1 cm (Cruzeta);

C – Duas tábuas com 30 cm x 6 cm x 1 cm (Orelhas);

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 103


D – Um prisma trapezoidal com 12 cm x 6 cm x 6 cm e 2 cm de espes-
sura (Trapézio);

E – Um espelho com 8,5 cm x 2 cm e de qualquer espessura.

6.1.2 Montagem (Veja fotos de 10.0 a 10.6)

 Fixe, no topo da régua “A”, a cruzeta “B”, de modo que sua largura
“case” com a espessura da régua, formando um “T” de braços
iguais;

 Fixe, na lateral da régua “A” e a 7 cm do seu topo, a orelha esquer-


da “C”, de modo que as duas larguras se “casem”;

 Fixe, no topo da orelha esquerda “C”, o trapézio “D”, de modo que


as suas larguras se “casem” e os seus topos se nivelem;

 Fixe o espelho “E” no lado inclinado (chanfrado) do trapézio “D”;

 Fixe, na outra lateral da régua “A” e a 7 cm do seu topo, a orelha


direita “C”, de modo que as suas larguras se “casem” e seus topos
se nivelem.

A montagem do nivelador de alvo está concluída. Encaixe o “nível de


pedreiro ”em seu suporte e bom proveito.

Obs.: Nesse modelo o “nível de pedreiro” deve obedecer às seguin-


tes restrições:

 Comprimento: Sem restrição, quanto maior, melhor para avisada;

 Largura: Não exceder 2 cm, afim de encaixar em seu suporte;

 Altura: Não exceder 6,5 cm, afim de não obturar o vão da visada
do operador.

104 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


A altura da régua deve se ajustar àaltura do seu operador; recomen-
da-se 145 cm por se ajustar à altura média dos caboclos da região. Uma
regra prática é que a altura da régua corresponda à do queixo do seu
operador.
Na fixação das peças pode-se empregar cola e preguinhos, ou me-
lhor, parafuso de fenda, com a vantagem de serem facilmente montados
e/ou desmontados, tanto para seu transporte como, também, para de-
monstração prática.

6.2 MIRA DE ALVO

6.2.1 Peças: confeccione ou encomende a uma carpintaria as seguin-


tes peças:

F –Umarégua com 200 cm x 6 cm x2 cm, tendo um rasgo, ao longo de


seu eixo longitudinal, com 150 cm e 1 cm de largura – por onde correrá o
parafuso do alvo – iniciando-se a 12 cm do seu topo;

G –Um disco com 20 cm de raio e 1 cm de espessura,o alvo,com uma


das faces pintada, quatro quadrantes alternados alvirrubros, tendo no cen-
tro um furo de 5mm;

H –Um parafuso Francês φ (bitola) 5 mm x 65 mm, com arruela e


porca borboleta;

I –Uma fita métrica de costureira de 150 cm;

J – Dois guias de madeira de 30 cm x 1 cm x 1 cm.

6.2.2 Montagem

 Fixe a fita métrica “I” ao longo do rasgo da régua “F”, de modo que
seu início “case” com o início do rasgo (Fotos: 4.1, 4.3, 4.5, 4.6, 8.2
e 8.3);

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 105


 Do lado oposto da régua“F”, fixe o alvo “G”, (Foto 4.4) com o para-
fuso Francês “H” e, atrás, a arruela e porca borboleta (Fotos: 4.1,
4.5; 4.6, 8.2 e 8.3);

 Fixe às duas pequenas tábuas dois guias de madeira“J”, na parte


traseira do alvo, de modo que o mesmo possa correr ao longo da
régua sem girar (Fotos: 4.5, 4.6, 8.2 e 8.3).

Obs.:

 O parafuso Francês tem a cabeça abaulada por cima e quadrada


embaixo, de modo a aprisioná-lo na madeira, evitando que ele
gire ao se apertar a porca borboleta.

 Havendo dificuldade de fazer o rasgo longitudinal na régua “F”,


deve-se substituir por duas réguas geminadas, afastadas entre si
por um calço com 12 cm x 1 cm x 2 cm, no topo, e um calço com
50 cm x 1 cm x 2 cm, na soleira.

A mira de alvo está pronta. Bom proveito.

106 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


ANEXO
DOCUMENTÁRIO
FOTOGRÁFICO
Fotos 1.0 – Nivelador de alvo, sem o “nível de pedreiro”, visto em três posições

Foto 1.3 – Atrás

Foto 1.1 – Lado


Foto 1.2 – Frente

Fotos 2.0 – “Nível de pedreiro” em duas posições

Foto 2.1 – Lado

Foto 2.2 – Deitado

110 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


110 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 3.0 – Nivelador de alvo em três posições com o “nível de pedreiro”

Foto 3.2 – Frente:observe a


bolha refletida no espelho

Foto 3.3 –
Atrás:observe
Foto 3.1 – Lado: a abertura para
operador mirando permitir a visada

Fotos 4.0 – Mira de alvo em seis posições

Foto 4.2 – Frente


Foto 4.1 – Lado Foto 4.3 – Atrás

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 111


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 111
Foto 4.4 – Frente: detalhe do
alvo no topo da mira.

Foto 4.5 – Parte de trás,


detalhe do alvo no topo da
mira. Observa-se o centro do
parafuso nonumeral zero da
escala, o rasgo da tupia no
eixo vertical da régua e as
duas guias laterais.

Foto 4.6 – Detalhe do alvo em


29 cm, na escala traseira, sendo
o referencial o centro do parafuso.
Observa-se o rasgo da tupia, no
eixo vertical da régua e as duas
guias do disco.

112 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


112 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 5.0 – Operação do nivelador de alvo

Foto 5.1 – Nivelador de alvo estacionado. Observa-se o operador tirando


uma visada nivelada para a mira de alvo, pela face superior do “nível de
pedreiro”, confirmada pela centralização da bolha deste, refletida no
espelho, inclinado 45º.

Foto 5.2 – Detalhe da centralização da


bolha do “nível de pedreiro”, refletida
no espelho (ver Foto 5.1)

Foto 5.3 – O porta-mira, sob


o comando do operador do
nível de alvo, ajusta o disco
alvirrubro à visada nivelada,
no caso presente, rebaixando
o alvo até que seu diâmetro
se ajuste à visada nivelada. A
Foto é didática, na prática a
distância entre o nivelador e
a mira é sempre muito maior.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 113


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 113
Foto 6.0 – Nivelamento simples entre os pontos “A” e “B”

Foto 6.1 – Com o nivelador estacionado em um ponto de sua conveniência, o


operador comanda o porta-mira, localizado no ponto “A”,para ajustar o alvo
à sua visada nivelada. O porta-mira anota em caderneta a leitura na escala
atrás da mira. A seguir,o porta-mira desloca-se para o ponto “B” e repete a
operação acima. O desnível entre o ponto “A” e “B” corresponde à diferença
entre as leituras na escala atrás da mira.

Fotos 7.0 – Locação (marcação) de curva de nível

P0

Foto 7.1 – Porta-mira posicionado


no piquete inicial da curva, “P0”.
Nivelador estacionado em um ponto
de conveniência do operador, que
comanda o porta-mira a ajustar e
fixar o alvo à sua visada nivelada.

114 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


114 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 7.2 – Porta-mira
deslocando-se, ao longo
do contorno do terreno,
cerca de dez passos, para
marcação do próximo
piquete da curva de
nível, “P1”.

Foto 7.3 – Locação do próximo


piquete da curva de nível,
“P1”. O porta-mira, com o alvo
anteriormente fixado, sobe ou
desce a encosta até o operador
enquadrar o alvo. Ao fundo se P0
vê um balizeiro posicionado
no piquete inicial, “P0”,e,à
esquerda, o operador com o
nível de alvo estacionado.

Foto 7.4 – Marcação do piquete


da curva de nível, “P1”. Após o
operador enquadrar o alvo, na
sua visada nivelada, o auxiliar
bate o piquete ao pé da mira.
Nessas condições os dois
piquetes têm a mesma cota.
Como a curva é em nível, a
P1 distância entre piquetes pode
variar. À direita, o operador com
o nivelador de alvo estacionado.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 115


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 115
Foto 7.5 – Marcação do piquete
da curva de nível, “P2”. O porta-
mira, com o alvo anteriormente
fixado, sobe ou desce a encosta
até o operador enquadrar o alvo. P0
P1
Ao fundo se vê dois balizeiros
posicionados nos piquetes “P0”
e “P1” e o operador com o
nivelador de alvo estacionado à
esquerda. (Foto .35) P2

Fotos 8.0 – Locação de curva com pendente de 2:1000, com fluxo a favor do sentido do
caminhamento dos piquetes

Foto 8.1 – Porta-mira


posicionado no piquete inicial
da curva,“P0”. Nivelador
estacionado em um ponto de
conveniência do operador,
P0
que comanda o porta-mira
a ajustar e fixar o alvo à sua
visada nivelada.

Foto 8.2 – Leitura, na


escala atrás da mira,
da posição do alvo no
piquete inicial, “P0”. No
presente caso, 30 cm.

116 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


116 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 8.3 – Ajustamento da
posição do alvo para locação
do próximo piquete, “P1”,
com pendente de 2:1000. No
presente caso, o alvo sobe
2cm, para leitura 28cm, na
escala atrás da mira. Vide
observação na próxima página.

Foto 8.4 – Marcação do


próximo piquete da curva com
pendente, “P1”. Porta-mira
tendo como raio uma trena de
A
P1
10 m, cujo centro é o balizeiro
no piquete inicial, “P0”, sobe ou
P0 desce a encosta ao comando
do operador até enquadrar o
alvo na sua visada nivelada. Em
“A”, operador com o nivelador
estacionado. Nessa situação a
OBSERVAÇÕES: soleira da mira tem uma cota
de 2cm menor do que a
1 – Na marcação da curva de nível (Foto 7.0), a cota do piquete inicial, “P0”,
altura do disco na mira é constante, e a distância ou seja, uma queda de
entre os piquetes pode variar. Ao passo que, na 2cm, correspondente à
marcação da curva com pendente, a altura do pendente de 2:1000:
disco na mira, forçosamente, tem deser ajustada 10m = 1000cm
piquete a piquete,porém, a distância entre 2cm : 1000cm = 0,002 ou 2:1000.
piquetes permanece constante.

2 – A marcação dos demais piquetes, na curva com pendente (Foto 8.0),obedecerá à


mesma metodologia, lembrando que o alvo da mira terá deser ajustado em 2 cm para
cada piquete seguinte, afim de manter a pendente estabelecida de 2:1000.

3 – No caso presente (Fotos 8.2 e 8.3) o “zero” da escala coincide com o topo da mira.
Assim, ao ajustar o disco na escala, no valor de 30cm para 28cm, na realidade o disco
subiu 2cm de altura e, consequentemente, a soleira da mira desceu 2 cm em relação à
visada nivelada, ou seja, a cota do piquete “P1” é 2cm inferior à do piquete inicial “P0”.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 117


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 117
4 – A numeração dos piquetes obedece ao mesmo critério da régua escolar: a origem
da escala é o traço zero (0); o primeiro segmento, um (1); o segundo, dois (2); o terceiro,
três (3); etc.

5 – Por definição,“piquete” é a materialização do ponto topográfico. Por tradição, nas


questões teóricas usa-se o termo “ponto”; e “piquete” nas práticas de campo.

Fotos 9.0 – Peças componentes do nivelador de alvo

Fotos 9.1 e 9.2 – Conjunto geral das peças desmontadas, vistas de dois ângulos

Foto 9.1 Foto 9.2

Foto 9.3 – Detalhe individual


A A – Régua vertical (pé) 145 cm x 6 cm x 2 cm.
Observe o consultor da Fundação Araripe,
Geraldo Barreto, medindo a altura da régua
“A” com a trena.

118 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


118 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 9.4 – Detalhe individual

Foto 9.5 – Detalhe individual

Foto 9.6 – Detalhe


individual – visto de cima

Foto 9.7 – Detalhe individual –


visto em perspectiva

Foto 9.8 – Detalhe individual

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 119


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 119
Fotos 10.0 – Montagem do nivelador de alvo pelo consultor da Fundação Araripe,
Geraldo Barreto.

Foto 10.2– Fixando


Foto 10.1– Fixando na lateral da régua Foto 10.3– Fixando
a cruzeta “B” no “A”, e a7 cm do no topo da orelha
topo da régua “A”, seu topo, a orelha esquerda “C”, o
de modo que a sua esquerda “C”, de trapézio “D”, de
largura, “case” com modo que as duas modo que as suas
a espessura da larguras se “casem”. larguras se “casem”
régua, formando um e os seus topos
“T” de braços iguais. se nivelem

Foto 10.4– Fixando o


espelho “E” no lado
inclinado (chanfrado)
do trapézio “D”.

120 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


120 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 10.5– Fixando, na outra lateral
da régua “A” e a7 cm de seu topo,
a orelha direita “C”, de modo que
as suas larguras se “casem” e seus
topos se nivelem.

Foto 10.6 – Montagem do nivelador de


alvo concluída. Bom proveito!
Na fixação das peças pode-se empregar
cola e preguinhos, ou melhor, parafuso
defenda, com a vantagem de serem
facilmente montados e/ou desmontados,
tanto para o transporte como também
para demonstrações práticas.

Fotos 11.0 – Evolução do nivelador de alvo ao longo dos tempos

Foto 11.1 – Nivelador primitivo.


Utilizado pelos povos da Antiguidade, na
Mesopotâmia, Egito, Índia e China. Consta
basicamente de um tubo transparente em forma
de “U”, cheio de água colorida, montado em
uma armação de madeira em formato de “T”.
O operador faz as visadas niveladas, através
dosmeniscos, nos dois “braços” do tubo em “U”.
Observam-se as rolhas com os seus suspiros,
para evitar vazamento e permitir o equilíbrio da
pressão atmosférica nos dois “braços” do tubo.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 121


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 121
Foto 11.2 – Detalhe do nivelador primitivo.
Nesta reconstituição utilizou-se uma mangueira
plástica “cristal” φ1,4 mm x 1 m e rolhas de
cortiça perfuradas por uma agulha hipodérmica
(injeção), para os “suspiros”. Esse modelo foi
utilizado durante toda a Antiguidade e na Idade
Média até o surgimento do “nível de pedreiro”
que, pela sua praticabilidade, desbancou o
antecessor.
Consta basicamente de um tubo transparente
em forma de “U”, cheio de água colorida,
montado em uma armação de madeira em
formato de “T”. O operador faz as visadas
niveladas, através dosmeniscos, nos dois
“braços” do tubo em “U”.
Observam-se as rolhas com os seus suspiros,
para evitar vazamento e permitir o equilíbrio da
pressão atmosférica nos dois “braços” do tubo.

Foto 11.3 – Modelo sofisticado de nivelador de alvo,


projetado e construído em 2010, pelo topógrafo e
desenhista técnico José Carlos de Lima, ex-funcionário
da Fundação Araripe e atualmente lotado no Instituto
de Desenvolvimento Agrário do Ceará, Crato (CE).
Toda a estrutura do modelo é em perfil de alumínio, o
“nível de pedreiro” mede 72 cm, possui alça de mira
circular e espelho basculante.

Foto 11.4 – Detalhe do nivelador de alvo da


Foto 11.3. Observa-se o perfil de alumínio
de sua estrutura, a alça circular de mira e o
espelho basculante. Nesse modelo, o nivelador
de alvo chegou ao clímax de evolução.

122 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


122 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
USO DA CURVA DE NÍVEL NA
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
IV
NOS ASSENTAMENTOS AGRÁRIOS
E NA AGRICULTURA FAMILIAR

1 HISTÓRICO

A curva de nível, na conservação do solo e da água, já era utiliza-


da pelas antigas civilizações do Velho Mundo, como Mesopotâmia, Egito,
China, e também no Novo Mundo: Astecas, Maias e Incas. No Nordeste do
Brasil, desde os tempos da colonização em Triunfo (PE) e Princesa Isabel
(PB), utiliza-se, tradicionalmente, as cercas de pedra seca em nível para
retenção do solo e da água nas íngremes encostas da Serra da Borbore-
ma. Mais recentemente, na década de 1940, a região cafeeira do agreste
meridional (Bezerros, Gravatá, Garanhuns, Brejão, Canhotinho, Bonito)
e o polo tomateiro de Pesqueira, ambos em Pernambuco, adotaram os
plantios em curva de nível.
Todos os campos de cooperação e demonstração instalados nos es-
tados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará,
entre 1971-76, pelo Instituto de Fomento ao Algodão e Oleaginosas do
Ministério da Agricultura (Infaol–MA), foram em curva de nível.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 125


2 IMPORTÂNCIA
A curva de nível é a base da maioria das práticas mecânicas de con-
servação do solo e da água, tais como:

 Cultivo em contorno;
 Encordoamento do mato;
 Carreadores em contorno;
 Faixas de vegetação permanente;
 Terraços em contorno;
 Mureta de pedras em contorno.

3 CONCEITO
A definição topográfica da curva de nível é de uma linha cujos pontos
têm a mesma cota, isto é, uma linha em nível, sem subida ou descida. O
exemplo clássico da curva de nível é a linha-d’água de um açude, lagoa ou
lago. A curva de nível acompanha o modelado do terreno sempre à flor do
chão, sem cortes ou aterros, em um traçado coleante ou serpenteante.

4 LOCAÇÃO DAS CURVAS DE NÍVEL


A locação ou marcação das curvas de nível é efetuada de quatro
maneiras conforme Quadro 1, apresentado abaixo, cuja análise conclui
que, para as nossas atuais condições, o melhor método é o nivelador de
alvo e mira de alvo, descrito no capítulo “O nivelador de alvo e sua con-
tribuição para a agricultura sustentável – Tecnologia social de baixo custo
ao nível de produtor rural”.

126 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Quadro 1 – Métodos de locação de curvas de nível e com pendente e suas características operacionais

ESPAÇAMENTO
Nº ORIGEM/
APARELHO PRECISÃO OPERADOR AUXILIAR (ES) OPERAÇÃO ENTRE OBS.:
ORD. CUSTO
PIQUETES (m)

Cada ponto nivelado


independe do anterior;
Nível de
Importado Engenheiro Porta-mira e Rápida e os erros ficam isolados e
01 luneta e Máxima 10 - 20
Muito Alto ou Topógrafo Piqueteiro Fácil são facilmente corrigidos.
mira falante
Só operam em áreas
descampadas.

Cada ponto nivelado


Nivelador independe do anterior; os
de alvo e Carpintaria Rápida e erros ficam isolados e são
02 Trabalhador Porta-mira e 10 - 20
mira de Muito Baixo Boa Fácil facilmente corrigidos. Operam
Rural Piqueteiro
alvo em áreas descampadas, com
Caatinga e capoeira.

Cada ponto nivelado depende


do anterior; os erros se
Pé de Carpintaria Trabalhador Lenta e
03 Razoável Piqueteiro 2 acumulam não podendo ser
Galinha Muito Baixo Rural Trabalhosa
corrigidos. Só operam em
áreas descampadas.

Cada ponto nivelado depende


do anterior; os erros se
Nível de Carpintaria Lenta e
04 Razoável Trabalhador Piqueteiro 10 acumulam não podendo ser
Mangueira Muito Baixo Trabalhosa

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL


Rural corrigidos. Só operam em
áreas descampadas.

127
5 CULTIVO EM CONTORNO
É uma das práticas conservacionistas mais eficientes e baratas, po-
pularmente denominada “Plantio Contra as Águas”. Compreende as
operações de preparo do solo: aração e gradeamento; o plantio e tratos
culturais; limpas e escarificações, aproximadamente em nível. Não é ne-
cessário que todas as fileiras das plantas sejam em nível – o que é huma-
namente impossível. É suficiente que sejam paralelas a algumas curvas de
nível, marcadas no terreno, que servem de guias e, por isso, denominadas
“Niveladas Básicas” ou “Niveladas Mestras”. As Niveladas Básicas (NB) são
marcadas no terreno do alto para baixo e a distância ou espaçamento má-
ximo – quanto mais íngreme o terreno, mais próximas – conforme Tabela
1 e exemplo da Figura 1.

Tabela 1 – Espaçamento horizontal entre Niveladas Básicas (NB) de acordo com a


declividade

DECLIVE % DISTÂNCIA HORIZONTAL (m) DECLIVE % DISTÂNCIA HORIZONTAL (m)

Até 1,0 60 8,1 – 10,0 35

1,1 – 3,0 50 10,1 – 12,0 30

3,1 – 5,0 45 Maior 12,0 20

5,1 – 8,0 40 - -

FONTE: Métodos de combate à erosão: Correa, Altir


Observa-se que quanto menor a declividade do terreno, maior o espaço entre as Niveladas
Básicas.

Ressalta-se que o cultivo em contorno obrigatoriamente está asso-


ciado às práticas conservacionistas de encordoamento do mato, carrea-
dores, faixas de vegetação permanente, terraços e mureta de pedra.
Ressalta-se que o valor da declividade, na primeira coluna da Tabela 1,
refere-se à média dos declives ao longo da NB-01, e nunca a média dos de-
clives ao longo de todo o perfil do terreno.

128 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Figura 1 – Exemplo de marcação de Niveladas Básicas (NB). Na parte mais alta
do terreno, o operador marca a primeira das niveladas básicas (NB-01), com uma
série de piquetes nivelados. Depois, com o auxílio de um clinômetro, ao longo
da NB-01, determina-se a declividade de várias rampas abaixo. No exemplo acima,
foram marcadas dez rampas: de D-1 a D-10. Com o valor da média dos declives (5,3%)
entra-se na primeira coluna da Tabela 1 e determina-se a distância horizontal (40 m)
da próxima nivelada básica, ou seja, NB-02, que deverá ser medida em um
dos declives que mais se aproxima do valor da média (5,0).

Para isso, depois de localizar a 1ª NB – no alto e dentro dos limites do


terreno – o operador irá tirar várias declividades, com o clinômetro* ao
longo da NB-01, para a parte inferior e calculará a sua média aritmética
(5,3%). Com esse valor entrará na primeira coluna da Tabela 1 e achará
na segunda coluna a distância horizontal (40 m), para marcar a próxima
nivelada básica NB-02. Idêntico procedimento para as demais. Ressalta-se
que a distância horizontal deverá ser marcada na rampa a declividade que
mais se aproximar da média encontrada (5%).

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 129


Tabela 2 – Declividades medidas ao longo da NB-01

DECLIVE VALOR % DECLIVE VALOR %

D-1 5 D-6 4

D-2 6 D-7 5

D-3 4 D-8 7

D-4 6 D-9 6

D-5 5 D - 10 5

Média Aritmética: 5,3%, valor este situado entre 5,1 - 8,0, na 1ª co-
luna da Tabela 1, que corresponde a 40 m de distância horizontal, da pró-
xima nivelada básica, na 2ª coluna, da mesma tabela. Essa distância de
40 m será medida ao longo dos declives: D-l ou D-5, ou D-7 ou D-10, pois
todos eles têm o valor de 5% muito próximo da média 5,3%. Após marcar
NB-02, deve-se proceder de modo idêntico para marcar a NB-03, e assim
por diante até o fim do terreno, na parte inferior.
Pelas normas conservacionistas, o cultivo em contorno é obrigatório
para todas as terras com agricultura, exceto as totalmente planas, como
as do topo das “Serras” do Araripe, do Inácio e Dois Irmãos, etc. Para as
terras com agricultura de declive até 2,5%, o cultivo em contorno é a úni-
ca prática conservacionista de natureza mecânica obrigatória; para decli-
ves maiores serão associadas outras práticas mecânicas mais complexas
como será apresentado adiante.
Muitos caboclos são contrários ao cultivo em contorno, pois alegam,
aliás, com razão, que é mais difícil “limpar o mato” em contorno, pois,
ao apoiar o gume da enxada no chão, o cabo da mesma fica “atravessa-
do” em relação ao prumo dos seus corpos. Contudo, considerando-se os
grandes benefícios decorrentes da adoção do método, ele terá que ser
forçosamente adotado, nem que para isso seja necessário arcar-se com
ágio na diária ou na empreitada por tarefa.
O cultivo em contorno é a prática mecânica de conservação do solo
e da água mais barata, menos trabalhosa e de melhores resultados para
as terras de agricultura. Seus custos limitam-se à marcação das niveladas

* Ver capítulo “Uso do clinômetro rústico – perpendículo – na determinação da declividade das terras”.

130 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


básicas, pois as operações de preparo do solo, plantio e limpas são mais
econômicas do que o plantio a favor das águas, já que as máquinas agrí-
colas motorizadas ou com tração animal trabalham aproximadamente em
nível, poupando energia e tempo. Ressalta-se, contudo, que nas limpas
com a enxada, nos terrenos muito declivosos, os custos são ligeiramente
superiores, como referido no parágrafo anterior.
O solo cultivado em contorno apresenta uma miríade de miniobstáculos
ao livre escoamento das águas, retardando o seu fluxo e aumentando bastan-
te a sua infiltração, reduzindo as perdas de água e solo, como atesta a Tabela
3, descrita abaixo. A quantidade de obstáculos ao fluxo é representada pe-
las leiras, sulcos, restos do mato, entre as “ruas”, e caules e raízes, nas fileiras
de plantas, todos, aproximadamente em nível, funcionam como uma imensa
rede de minúsculas “barragens”, segurando o solo e as águas da chuva.

Tabela 3 – Perdas de solo e água, terras cultivadas em contorno e a favor das águas

Perda do solo Perda da água


Cultivo
t/ha/ano % Chuva por ano

(Tradicional) a favor das águas 3,16 4,02

(Em contorno) contra as águas 1,24 2,52

Fonte: Instituto de Pesquisa Agronômica – IPA-PE – 1978

A Tabela 3 atesta que o cultivo em contorno perde cerca de 2,5 vezes


menos solo e 1,6 vez menos água do que o cultivo tradicional “ladeira
abaixo”. Ou seja, só com a adoção do cultivo em contorno o agricultor
contabiliza a mais 60% da chuva em sua lavoura, o que é importantíssimo
para o Semiárido.
Resultados ainda mais expressivos foram obtidos pelo conceituado
Instituto Agronômico de Campinas (IAC), como atesta a Figura 2, onde o
cultivo em contorno perde duas vezes menos solo e 2,3 vezes menos água
do que o cultivo tradicional “ladeira abaixo”. Ou seja, só com a adoção do
cultivo em contorno o agricultor contabiliza mais de 100% da chuva em
sua lavoura, o que é fundamental para o agreste e o sertão, que têm na
sua baixa pluviosidade o fator limitante de sua produtividade.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 131


EFEITO DA DIREÇÃO DE FILEIRAS EM CULTURAS ANUAIS SOBRE AS
PERDAS POR EROSÃO

MÉDIAS ANUAIS NA BASE DE 1300 MILÍMETROS DE CHUVAS PARA AS


CULTURAS DE MILHO E ALGODÃO. E PARA OS TRÊS GRANDES TIPOS DE
SOLO DO ESTADO DE SÃO PAULO (ARENÓSA, MASSAPÉ E RÔXA), DECLI-
VES ENTRE 6,3 E 10,8%, DADOS PRELIMINARES DA SECÇÃO DE CON-
SERVAÇÃO DO SOLO DO INSTITUTO AGRONÔMICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO, ATÉ 1948/49 (*).

Figura 2 – Efeito da direção de fileiras em culturas anuais sobre as perdas por erosão

(*) MARQUES, GROHMANN, BERTONI e ALENCAR. Relatório da secção de Conservação do Solo


em 1948/49.

Marcadas as niveladas básicas no terreno, o preparo do solo é efe-


tuado com as máquinas trabalhando, paralelamente a elas, de modo que
as leiras e sulcos do arado e grade funcionem como obstáculos ao livre
escoamento das águas, como já mencionado anteriormente.

132 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Após o preparo do solo, o plantio também é efetuado paralelamente
às niveladas básicas, a fim de que as fileiras de plantas também funcio-
nem como barreiras ao escoamento das águas. Para isso, utiliza-se um
dos três métodos a seguir:

5.1 FILEIRAS PARALELAS À NIVELADA BÁSICA SUPERIOR

Nesse método, as linhas “mortas” ou “mindinhas” – aquelas que per-


deram a horizontalidade e adquiriram ligeira inclinação – concentram-se,
imediatamente, acima da nivelada básica inferior, sendo, por essa razão,
mais indicado para as regiões de maior intensidade pluviométrica e/ou
solos de baixa permeabilidade (Figura 3).

SISTEMAS DE TERRAÇO DAS RUAS EM CONTORNO EM QUE AS PARA-


LELAS FICAM PARA UM ÚNICO LADO DAS LINHAS NIVELADAS BÁSICAS.

Figura 3 – Sistemas de terraço das ruas em contorno em que as paralelas ficam para um
único lado das linhas niveladas básicas.

Fonte: Quintiliano Marques (IAC – São Paulo) – Conservação do Solo em Cafezal.

Esse método é indicado para o Nordeste do Brasil, sujeito a chuvas


de alta intensidade e curta duração, os “torós”, resultando um regime plu-
viométrico paradoxal: chuvas de alta intensidade e baixa pluviosidade.
Ressalta-se que, mesmo adotando o método das fileiras paralelas à
NB superior, na área entre o limite superior do terreno e a NB-1 (Figura 1,
citada acima), caso seja cultivado, as fileiras serão paralelas à NB-01, ou
seja: paralelas à NB inferior. Muitos agricultores reservam essa área para
mata ou pasto adensado.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 133


5.2 FILEIRAS PARALELAS À NIVELADA BÁSICA INFERIOR

Nesse método, as linhas “mortas” ou “mindinhas” concentram-se,


imediatamente, acima da nivelada básica superior, sendo, por essa razão,
mais indicado para as regiões de menor intensidade pluviométrica e/ou
solos de permeabilidade alta (Figura 3, citada acima).

5.3 FILEIRAS PARALELAS À NIVELADA BÁSICA SUPERIOR E FILEI-


RAS PARALELAS À NIVELADA BÁSICA INFERIOR

Nesse método, as linhas “mortas” ou “mindinhas” concentram-se na


faixa central, entre as niveladas básicas superior e inferior, sendo indicado
para as regiões de pluviosidade média e solos de permeabilidade média. É
o método mais trabalhoso e, por isso, pouco usado (Figura 4).
Nos plantios mecanizados, a maioria das máquinas possui um “risca-
dor lateral”, de modo que enquanto planta uma fileira ou fileiras, marcam
a próxima. Nos plantios manuais, que requerem comandos à enxada ou
com plantadeiras “tico-tico”, as fileiras são marcadas “a olho” paralelas às
niveladas básicas. Dessa forma, os caboclos usam sua expertise, de modo
a manter fileiras sempre paralelas.

SISTEMAS DE TERRAÇO DAS RUAS EM CONTORNO EM QUE AS PARALE-


LAS FICAM PARA AMBOS OS LADOS DAS LINHAS NIVELADAS BÁSICAS.

Figura 4 – Sistemas de terraço das ruas em contorno em que as paralelas ficam para
ambos os lados das linhas niveladas básicas.
Fonte: Do mesmo autor.

134 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


6 ENCORDOAMENTO DO MATO
O encordoamento do mato é uma prática eficiente e barata, consistin-
do em arrumar o mato roçado em uma série de “rolos” em nível, formando
barreiras para frear a velocidade do escoamento, reduzindo as perdas de
solo e água. Ela é usada tanto para o “mato fino” roçado como também para
o “mato grosso”, que é embolado ladeira abaixo – quer por forcados, forqui-
lhas ou levas, manualmente, quer por lâmina ou ancinho mecânico – e arru-
mado em curva de nível. O espaçamento máximo entre os encordoamentos
corresponde à Tabela 1, porém, é muito usual espaçamentos menores para
reduzir a operação. O encordoamento do mato é sempre associado ao plan-
tio em contorno, potencializando os seus benefícios.
Na prática, após o roço da vegetação, deixa-se o mato “murchar”
para facilitar a operação, marcam-se as niveladas básicas e “enrola-se” o
“mato murcho” depositando-o ao longo das curvas de nível previamente
marcadas, ou seja, se a massa do mato e a distância entre as curvas de
nível permitirem. Se a massa do mato e a distância entre as curvas forem
exageradas, deve-se construir um ou mais cordões de mato intermediá-
rios entre duas niveladas básicas.
Vistas de longe se assemelham a uma série de “cordas” estendidas
no terreno em contorno, daí o seu nome: encordoamento.
Os benefícios advindos da adoção do encordoamento do mato são
resultantes de:

 As massas mortas do mato em contorno funcionam como uma sé-


rie de barreiras, diminuindo a velocidade da enxurrada, reduzindo
o seu poder erosivo e aumentando a infiltração da água no solo;

 Com a arrumação do mato em cordões, elimina-se a tradicional e


nefasta prática das queimadas;

 As faixas do terreno ocupadas pelas “cordas” de mato enrique-


cem, com o passar do tempo – o húmus – pela decomposição
da massa morta, e pelas partículas de argila e limo, filtradas da

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 135


enxurrada e por elas retidas. Ocasião em que se deslocam os
próximos encordoamentos para outra faixa, imediatamente a ela
abaixo, e se cultiva a antiga faixa com excelentes resultados;

 As massas mortas do mato, em contorno, funcionam como verda-


deiros filtros, retendo as partículas de solo, carregada pela enxur-
rada, só permitindo passar lentamente, a água límpida;

 Experimentos conduzidos pelo IAC em cafezal, conforme Figura 5,


demonstram que a perda de solo é 1,4 vez menor nas plantações
com encordoamento do mato. Paradoxalmente, reduzindo o efei-
to sobre as perdas de água.

Muito embora o encordoamento do mato tenha sido desenvolvido


como uma prática mecânica de controle da erosão, ela também é pratica-
da nos terrenos planos, como o topo da Serra do Araripe, pelos benefícios
advindos dos dois últimos itens acima citados com uma particularidade:
as “cordas” de mato se dispõem em linhas retas, geralmente, formando
um reticulado.
A prática do encordoamento do mato é recomendada nas “brocas”
(desbravamentos) da vegetação arbustiva, arbórea, nos “roços” da capo-
eira arbustiva e até mesmo nas limpas da vegetação herbácea. Caso a la-
voura já esteja implantada, o mato é encordoado entre as “ruas” ou junto
às carreiras de plantas.
Ressalta-se que o encordoamento do mato está sempre associado
à prática do cultivo em contorno e, em muitas ocasiões, os próprios cor-
dões servem de niveladas básicas.

136 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


EFEITO DO ENCORDOAMENTO DO MATO EM CONTORNO
EM CAFEZAL SOBRE AS PERDAS POR EROSÃO.

MÉDIA ANUAIS NA BASE DE 1.300 MILÍMETRO DE CHUVA PARA OS TRÊS


GRANDES TIPOS DE SOLO NO ESTADO DE SÃO PAULO (ARENOSA, MASSA-
PÉ E ROXA), EM DECLIVES ENTRE 6,5 E 10%. DADOS PRELIMINARES DA
SECÇÃO DE CONSERVAÇÃO DO SOLO DO INSTITUTO AGRONÔMICO DO
ESTADO DE SÃO PAOLO, ATÉ 1948/49 (*).

Figura 5 – Efeito do encordoamento do mato em contorno, em cafezal


sobre as perdas por erosão.

(*) MARQUES, GROHMANN, BERTONI e ALENCAR. Relatório da seção de Conservação do Solo


em 1948/49.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 137


7 CARREADORES EM CONTORNO
Carreadores são as estradas de serviços nas plantações, necessárias
para o trânsito de veículos, máquinas, animais e trabalhadores nas fainas
agrícolas.

Figura 6 – Traçado dos carreadores segundo as normas conservacionistas

138 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Os carreadores principais são localizados em curva de nível, acompa-
nhando o contorno do terreno. Os carreadores secundários – interligando os
principais – são localizados, aproximadamente, em esquadro com os princi-
pais, porém, em traçado de “grega”, a fim de reduzir o poder erosivo das águas.
As normas conservacionistas exigem que os traçados dos carreado-
res principais sejam em contorno, porque o seu traçado a favor das águas
favorece em muito o processo erosivo.
Os carreadores principais são localizados em curva de nível, espaça-
dos entre si, entre 100 m a 150 m, e a interligação entre eles deve ser feita
por carreadores secundários, que devem ser localizados ao longo dos es-
pigões ou grotas, onde as pendentes são mais suaves, conforme Figura 7.

COMPARAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE DISPOSIÇÃO DOS


CARREADORES EM CAFEZAL

DISPOSIÇÃO EM ESQUADRO E DISPOSIÇÃO EM CONTORNO

OS CARREADORES ALINHADOS SEM CONSIDERAR O MESMO TERRENO DA FIGURA ANTERIOR COM


O RELEVO DO TERRENO FACILITAM A EROSÃO OS CARREADORES RACIONALMENTE DISPOSTOS

Figura 7: Comparação entre os sistemas de disposição dos carreadores em cafezal.

Fonte: Quintiliano Marques (IAC-São Paulo) – Conservação do Solo em Cafezal.

No caso de ser necessário locar carreadores secundários ao longo da


maior pendente, ou seja, normais, aos em contorno, o seu traçado deve
ser em “grega”, conforme Figura 6 (representada acima), a fim de amorte-
cer a velocidade das águas, pelo anteparo dos carreadores em nível.
Os carreadores em nível, ao contrário do que se pratica, devem apre-
sentar plataformas vegetadas, com queda de 2o/oo (dois por mil) para o lado

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 139


do aterro. Não devem ter a valeta junto ao corte e devem ser protegidas em
ambos os lados por um renque de vegetação, conforme modelo sul-africano
(Figura 8). Tal disposição permite que a água da chuva nela recolhida seja
dispersa uniformemente, sem apresentar pontos de concentração de enxur-
rada. Periodicamente, roça-se a vegetação da plataforma, com estrovenga
manual ou roçadeira mecânica, porém, jamais com enxada ou grade, ou de-
pendendo da agricultura praticada, o seu controle é realizado pastoreando-
-se animais herbívoros, como carneiros, cabras, cavalos e bois.
Vale destacar que os carreadores em contorno estão sempre associa-
dos à prática do cultivo em contorno e, em muitas ocasiões, os próprios
carreadores servem de niveladas básicas.

Figura 8 – Corte de um carreador em contorno (modelo sul-africano)

A largura do carreador é em função dos veículos que nele trafegam. A


plataforma apresenta uma queda de 1% no sentido do aterro, é vegetada

140 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


com gramíneas densas, de pequeno porte, resistentes à seca e ao piso-
teio. O excesso da enxurrada nela acumulada é disperso uniformemente,
ao longo do carreador, formando um lençol de água delgado e de fluxo
lento, sem poder erosivo.

8 FAIXAS DE VEGETAÇÃO PERMANENTE


Chamadas também de renque de vegetação cerrada ou barreiras vi-
vas. Consistem em uma série de faixas de plantas perenes dispostas em
curva de nível e espaçadas entre si oferecendo obstáculos à enxurrada
– de modo a jamais permitir que as águas escoadas atinjam a velocidade
crítica – capaz de provocar erosão.
Utilizam-se, geralmente, gramíneas perenes, densas, de crescimento
rápido, rústicas, de raízes fartas, resistentes à seca e com algum aprovei-
tamento econômico. Sua largura varia entre 1 m a 3 m, porém, alguns téc-
nicos, como os do Departamento de Engenharia e Mecânica Agrícola de
São Paulo indicam de 2 m a 5 m. O espaçamento entre elas é em função
do tipo de solo e do declive, como atesta a Tabela 4, baseado nos experi-
mentos do IAC (em 1972).

Tabela 4 – Espaçamento vertical e horizontal entre as faixas de vegetação permanente ou


terraços para dois tipos de solo.

Declive Terra Arenosa Terra Argilosa


(%) EV (m) EH (m) EV (m) EH (m)

1 0,38 37,75 0,43 43,10

2 0,56 28,20 0,64 32,20

3 0,71 23,20 0,82 27,20

4 0,84 21,10 0,96 24,10

5 0,96 19,20 1,10 21,95

6 1,07 17,80 1,22 20,30

7 1,17 16,65 1,33 19,05

8 1,26 15,75 1,44 18,00

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 141


Declive Terra Arenosa Terra Argilosa
(%) EV (m) EH (m) EV (m) EH (m)

9 1,35 15,00 1,54 17,15

10 1,43 14,35 1,64 16,40

12 1,60 13,30 1,82 15,20

14 1,74 12,45 1,99 14,20

16 1,89 11,80 2,15 13,45

18 2,02 11,20 2,30 12,80

20 2,14 10,70 2,45 12,25

EV (Espaçamento Vertical) – EH (Espaçamento Horizontal).

Fonte: Instituto Agronômico de Campinas – IAC – São Paulo (1972)

Muitos técnicos preferem calcular o espaçamento por meio de fórmu-


las empíricas como a de Bentley, do Departamento de Agricultura dos EUA:

EV = T + SD
EH = EV ÷ D onde;
EV = Espaçamento Vertical entre faixas – cm
EH = Espaçamento Horizontal entre faixas – m
D - Declive - % Valor Absoluto
T - Parâmetro Edáfico - Adimensional – Tabela 5
S - Parâmetro Edáfico - Adimensional – Tabela 5

Tabela 5 – Valores dos parâmetros edáficos da fórmula de Bentley para dois tipos de solo.

Tipo de solo T S

ARENOSO 55 8

ARGILOSO 60 9

Fonte: Quintiliano Marques – IAC/São Paulo.

142 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Ressalta-se que as faixas de vegetação permanente estão sempre
associadas à prática do cultivo em contorno e, em muitas ocasiões, as
próprias faixas servem de niveladas básicas.

Exemplo: Calcular o espaçamento vertical e horizontal entre as faixas


de vegetação permanente para um solo arenoso com declive de 6%, pela
fórmula de Bentley.

Consultando-se a Tabela 5, temos:

T = 55; S = 8; D = 6 (valor absoluto), logo:


EV = T + SD = 55 + 8 x 6 = 103 cm = 1,03 m
EH = EV: D = 103 : 6 = 17,17 m

Ressalta-se que na fórmula empírica, o valor do espaçamento verti-


cal é expresso em centímetros, o do horizontal em metros e o da decli-
vidade em termos absolutos, isto é, no exemplo, em vez de 6% = 6/100,
entra, apenas, com 6 (valor absoluto).

Resultado semelhante se obtém consultando-se a Tabela 4, ou seja:

EV = 1,07 m; EH = 17,80 m

O erro absoluto entre os valores calculados e tabelados são, respec-


tivamente, 1,9% e 1,8% para o espaçamento vertical e horizontal, ambos
inferiores a 5% do valor do erro tolerado, como se segue:

‫׀‬E‫( = ׀‬G1 – G2) : (G1 + G2)


‫׀‬E‫ = ׀‬Erro Absoluto
G1 - Valor Tabelado
G2 - Valor Calculado
‫׀‬E‫( = ׀‬1,7 – 1,03) : (1,07 + 1,03) = 0,019 – 1,9% - vertical
‫׀‬E‫( = ׀‬17,80 – 17,17) : (17,80 + 17,17) = 0,018 = 1,8% - horizontal

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 143


Como o valor do erro é absoluto, os valores de G1 e G2 podem ser
invertidos que o resultado será sempre o mesmo.
Vale ressaltar que na determinação da declividade e na marcação
da distância ou espaçamento horizontal, deve-se proceder como já foi
descrito na marcação das niveladas básicas, item 5.
As faixas de vegetação funcionam de modo semelhante ao encor-
doamento do mato, filtrando as partículas do solo, trazidas pela enxur-
rada, de modo que, com o passar do tempo, o material acumulado ao
longo da faixa, forma um aterro, transformando-o em um terraço de
base estreita.
Muitos técnicos consideram as faixas permanentes como uma
maneira barata, prática e eficiente de se construir – contando com a
própria natureza – um sistema de terraceamento em nível, em longo
prazo. Esse procedimento é usual na Venezuela e na Colômbia.
Uma grande vantagem das faixas de vegetação permanente é sua
segurança em relação ao terraceamento, sempre passível de transbor-
dar durante um temporal anormal, provocando um rompimento em
série no sistema de proteção pela concentração da enxurrada em um
único local e a instalação de “vossorocas” ou “carcavas” no terreno,
além dos prejuízos na lavoura. Muitas vezes, mesmo durante um tem-
poral normal, os terraços estouram devido aos buracos de formigas,
tatus ou roedores, sendo difícil a identificação e o reparo.
Nas terras protegidas por um sistema de faixa de vegetação per-
manente, ocorrendo um temporal anormal, a enxurrada excessiva flui,
uniformemente ao longo da faixa, formando um lençol de água, e nun-
ca concentrando-se em um único local. Por essas razões muitos técni-
cos preferem as faixas de vegetação aos terraços.
Diversos profissionais, como os autores, preferem marcar as curvas
de nível, no terreno ainda capoeirado ou ematado, antes do desbrava-
mento ou “broca”, o que é relativamente fácil com o nível de alvo. Na bro-
ca da mata ou capoeira, respeitam-se faixas da vegetação nativa, ao longo
das curvas de nível, com largura mínima de 2 m, de modo a obterem-se as
faixas de vegetação permanente, já implantadas pela natureza.
Essa modalidade é recomendada, principalmente para o Nordeste,
considerando-se que o solo recém-desbravado – ainda sem a proteção

144 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


das faixas de vegetação ou das fileiras das plantas – é presa fácil da
erosão provocada pelas “trovoadas” que antecedem a estação chuvo-
sa, durante a qual é que se pode plantar as faixas de vegetação e as
carreiras da lavoura.
Depois das carreiras das plantas já desenvolvidas – e passado o
período crítico das trovoadas – as faixas de vegetação nativa podem
ser, paulatinamente, substituídas pelas tradicionais gramíneas reco-
mendadas, contudo, é muito mais ecológico permanecer a faixa de
vegetação nativa que, inclusive, pode ser contabilizada como reserva
florestal legal da propriedade, que no Nordeste é de 20% da área do
imóvel rural.
Esse método é ainda mais facilmente aplicado quando a cobertura
vegetal é herbácea.

9 TERRAÇOS DE ABSORÇÃO
Os terraços são chamados no Nordeste de “aparadouros”. Con-
sistem em uma série de canais escavados em contorno e espaçados
entre si, de modo a interceptar a enxurrada, antes que ela atinja a
velocidade crítica e provoque a erosão do solo. Sua prática é milenar,
tanto no Velho como no Novo Mundo. É a prática conservacionista
mais onerosa, difícil e sujeita a desastres (vide item 8), porém, é a
prática de maior efeito sobre a conservação do solo e, paradoxalmen-
te, mínimo efeito sobre a água. Seu planejamento e execução neces-
sitam da supervisão de um engenheiro-agrônomo ou agrícola, com
especialização em terraceamento. Um terraceamento bem planejado,
calculado, executado e conservado dá o máximo de proteção às terras
de agricultura, por outro lado, um mau terraceamento provoca danos
muitas vezes irreparáveis à natureza.
O efeito do terraceamento na conservação do solo e da água está
documentado na Figura 9, por meio do qual se verifica que as terras ter-
raceadas perdem 7,4 vezes menos solo e apenas 1,14 vez menos água que
as não terraceadas.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 145


EFEITO DO TERRACEAMENTO EM CAFEZAL SOBRE AS PERDAS POR
EROSÃO

DADOS APROXIMADOS BASEADOS NA MÉDIA DE CONTROLE DE EROSÃO,


PROPORCIONADO PELO TERRACEAMENTO EM CULTURAS ANUAIS DE 7
(SETE) ESTAÇÕES EXPERIMENTAIS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO DOS ESTA-
DOS UNIDOS DA AMERICA DO NORTE (CLARINDA, ZANESVILLE, BETHANY,
GUTHRIE, CHEROKEE, TEMPLE E STATESVILLE) E NOS DADOS OBTIDOS
ATÉ 1948/49, EM TRATOS COMUNS EM CAFEZAL (TESTEMUNHA) PELA
SECÇÃO DE CONSERVAÇÃO DO SOLO DO INSTITUTO AGRONÔMICO DO
ESTADO DE SÃO PAULO(*).

Figura 9 – Efeito do terraceamento em cafezal sobre as perdas por erosão

(*) MARQUES, GROHMANN, BERTONI e ALENCAR. Relatório da secção de Conservação do Solo


em 1948/49.

146 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Os terraços podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios:

Quanto ao seu gradiente:

 Sem queda em nível ou de absorção.

A enxurrada fica acumulada na sua secção e é eliminada por in-


filtração, evaporação e descarga em suas extremidades, prefe-
rencialmente em grotas vegetadas e estabilizadas por septos de
pedras secas, estaqueamento ou sacos com barro. Indicado para
pequenas e médias áreas, como assentamentos agrários e agri-
cultura familiar. Só pode ser projetado para as regiões de solo pro-
fundo de alta permeabilidade, sujeito às chuvas moderadas.

 Com queda ou de drenagem.

A enxurrada recolhida em seu canal é conduzida ao longo dos ter-


raços para um escoadouro e, daí, para fora do terreno. No Semiá-
rido é usual aproveitar-se o deságue, para um barreiro ou açude.
Este tipo de terraço é indicado para grandes áreas ou latifúndios e
exigem um projeto detalhado, que deve ficar a cargo de um pro-
fissional de Agronomia.

Quanto às suas construções (Figura 10):

 Tipo Nichols – O camalhão é construído com terra removida somen-


te da parte superior, ou seja, ao se escavar o seu canal, a terra é
acumulada da sua borda inferior.

 Tipo Mangum – O camalhão é construído com terra removida tanto


da parte inferior como da superior, ou seja, ao se escavar o seu canal,
a terra é acumulada na borda inferior. Posteriormente, é escavado
outro canal, mais reduzido, paralelo ao primeiro e a remoção de sua
terra irá reforçar o camalhão já iniciado.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 147


TERRAÇOS CAMALHÃO DE BASE LARGA EM CAFEZAL

Figura 10 – Terraços camalhão de base larga em cafezal

Fonte: Quintiliano Marques – Conservação do Solo em Cafezal.

148 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Quanto à Secção – A secção do terraço compreende o conjunto canal e
camalhão.

 Base Estreita – Secção com 2 m a 3 m;

 Base Média – Secção com 3 m a 6 m;

 Base Larga – Secção com 6 m a 12 m;

 Patamar – Em formato de degraus, cujas dimensões dependem


da cultura; são de alto custo. Só se justifica em terras íngremes
altamente valorizadas.

Esses critérios podem combinar-se entre si, de acordo com projetista


do sistema de terraceamento.
Para as nossas condições atuais, o mais indicado é o terraço de base
estreita e de absorção. Sempre que possível, suas extremidades devem
permanecer abertas, desaguando nas grotas naturais, que devem receber
proteção especial, mantendo-as sempre vegetadas e, se preciso, com pe-
quenas barragens de pedra seca, para frear a velocidade do escoamento.
Nas áreas desprovidas de pedras, barragens podem ser construídas com
sacos de nylon ou plásticos cheios de terra. Com o passar do tempo, as
grotas íngremes transformam-se, pela deposição do material, em uma sé-
rie de minicascatas niveladas.
Na presente publicação, só nos ocuparemos dos terraços de absor-
ção e de base estreita, também chamados de cordão em contorno, muito
difundidos nos cafezais de São Paulo e de Pernambuco. Os cordões em
contorno são localizados em curvas de nível, como já foi citado no item 5.
O espaçamento entre eles é o mesmo das faixas de vegetação permanen-
te constante da Tabela 4 ou calculado pela fórmula de Bentley, ambos já
descritos no item 8.0.
A secção do cordão em contorno e a técnica de sua construção cons-
tam das figuras 11 e 12.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 149


CORDÕES EM CONTORNO EM CAFEZAL

Figura 11 – Cordões em contorno em cafezal

Fonte: Quintiliano Marques – Conservação do Solo em Cafezal.

150 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


CORDÕES EM CONTORNO EM CAFEZAL

DISPOSIÇÃO COM RELAÇÃO ÀS RUAS

Figura 12 – Cordões em contorno em cafezal

Fonte: Quintiliano Marques – Conservação do Solo em Cafezal.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 151


Importante ressaltar que os terraços estão sempre associados à prá-
tica do cultivo em contorno e, em muitas ocasiões, os próprios terraços
servem de niveladas básicas.

10 MURETAS DE PEDRA EM CONTORNO

Muretas de pedra em contorno, denominadas também de “Barreiras


Mortas”, são cordões de alvenaria de pedra seca (sem argamassa), cons-
truídas ao longo de curvas de nível, previamente e espaçadas entre si, de
tal forma que freiem o escoamento das águas antes de alcançar a veloci-
dade crítica, ou seja, antes de iniciar o processo erosivo.
Os espaçamentos entre as muretas são idênticos aos adotados para fai-
xas de vegetação permanente ou terraços, explicitados na Tabela 4, bem como
seus benefícios são muito semelhantes ao do terraceamento (Tabela 6).
Essa prática conservacionista é tradicional nas íngremes, férteis e pe-
dregosas encostas da Serra da Borborema, notadamente em Triunfo (PE)
e Princesa Isabel (PB).
Essas muretas são construídas com as pedras superficiais, retiradas
das faixas do terreno entre as curvas de nível, e sua construção é lenta,
contínua e envolve várias gerações, passando de pai para filho.
Além do benefício da conservação do solo e da água, livra o terreno
das pedras superficiais, facilitando os trabalhos agrícolas.
Após marcar as curvas de nível, constroem-se as muretas com o mí-
nimo de altura, com as pedras recolhidas das faixas do terreno entre elas
e, gradativamente, ao longo dos anos, vai se ampliando a altura da mure-
ta, à medida que se vai cultivando as faixas.
Ao longo do tempo, o terreno tende a formar uma série escalonada de
plataformas niveladas ou terraços em degraus – pela deposição da argila e do
limo em suspensão das enxurradas – de alta fertilidade. Razão pela qual é ne-
cessário sempre remontar as muretas, a fim de mantê-las acima do nível do solo
a montante, com as pedras retiradas das faixas do terreno entre as muretas.
Vale destacar que as muretas de pedra estão sempre associadas à
prática do cultivo em contorno e, em muitas ocasiões, as próprias mure-
tas servem de niveladas básicas.

152 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


11 BENEFÍCIOS OBTIDOS COM ALGUMAS PRÁTICAS
CONSERVACIONISTAS

A Tabela 6, descrita abaixo, lista os benefícios obtidos com a adoção


de algumas práticas conservacionistas, baseados nos trabalhos de Quinti-
liano Marques, do IAC/São Paulo.

Tabela 6 – Proporções relativas do controle da erosão obtidas com três práticas conser-
vacionistas de natureza mecânica

Prática Conservacionista Solo (%) Água (%)

Cultivo em Contorno 51 56

Terraceamento 87 12

Encordoamento 29 06

Fonte: Quintiliano Marques – IAC/São Paulo.

Como se observa, o cultivo em contorno, que é uma prática simples,


barata e pouco trabalhosa, é a prática conservacionista que exerce o maior
controle sobre as perdas de água nas terras cultivadas, fato de maior rele-
vância para a agricultura no Semiárido, cujo fator limitante da produtivida-
de é sempre a baixa precipitação. Assim, a adoção do cultivo em contorno
passa a ser um fator de fixação e sobrevivência para a população sertaneja.
Ressalta-se que as práticas conservacionistas intensivas como ter-
raceamento, carreadores em contorno e faixa de vegetação permanente
não dispensam o cultivo em contorno, ao contrário, eles servirão de nive-
ladas básicas para a implantação do sistema.
Existem outras práticas mecânicas em função da curva de nível,
como culturas em faixas de rotação em contorno, muito utilizadas em São
Paulo, mas que não têm muita utilidade no Semiárido, onde predomina a
consorciação de culturas, e nunca culturas isoladas.
Outras práticas mecânicas como enleiramento permanente, banque-
tas individuais, coveamento e valetamento, comuns em São Paulo, têm,
também, por base, a curva de nível. Mas, por diversos motivos, não são
utilizadas na região do Semiárido, razão pela qual não foram descritas.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 153


12 COMENTÁRIOS SOBRE FAIXAS DE VEGETAÇÃO PER-
MANENTE

O IAC/São Paulo não tem experimentos sobre o efeito do uso de fai-


xas de vegetação permanente na conservação do solo e da água, visto
que essa prática é pouco utilizada na região Sul do País, ao contrário do
Nordeste, onde a tendência é que ela substitua a do terraceamento.
Contudo, os resultados preliminares dos ensaios conduzidos pelo setor
de conservação do solo do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA/PE),
nos mediadores da erosão em Glória do Goitá e Caruaru, confirmam que os
efeitos sobre a perda de solo e da água entre a prática do terraceamento
e a de faixas de vegetação permanente são muito semelhantes, razão pela
qual utiliza-se para ambas as práticas a mesma tabela (Tabela 4). Pode-se
considerar como válido para essas práticas a Figura 9, até a publicação dos
resultados conclusivos, que devem demorar ainda alguns anos.
Muitos cientistas consideram as faixas de vegetação permanente
como práticas naturais e ecologicamente corretas, ao passo que o terra-
ceamento seria uma intervenção contra a natureza.

13 EXEMPLO DO CÁLCULO DA “PROPORÇÃO RELATIVA


DO CONTROLE DE EROSÃO OBTIDO COM A PRÁTICA DE
ENCORDOAMENTO” (FIGURA 5 ITEM 6)

Cálculo da perda de água

Perda com a Prática = A =................. 2,160


Perda sem a Prática = B =................. 2,300
A : B = C = 2,16 : 2,30 =................... 0,939

Controle Total = 100%................... 1,000


Proporção Relativa ao Controle com a Prática
= 100% - C = 1,000 - 0,939 = 0,06 = 6%

154 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Cálculo da perda de água

A = 1,54
B = 2,16
A : B = C = 1,54 : 2,16 = 0,713
1,00 - 0,713 = 0,287 = 29%

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 155


ANEXO
DOCUMENTÁRIO
FOTOGRÁFICO
Foto 01 – Cordão vegetal sobre curvas de nível (niveladas básicas ou curvas
mestras) marcadas no terreno a intervalos regulares.
Crédito: Isabel Galindo

Foto 02 – Capinas alternadas em cultivo de milho em contorno – Gloria de Goitá – PE


Crédito: Isabel Galindo

158 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


158 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 03 – Canavial cultivado em contorno (curva de nível) em Igarassu – PE.
Crédito: folha de peranambuco. Observe os carreadores principais em curva
de nível e os secundários “em grega ”. O cultivo em contorno é um pratica
conservacionista tradicional e secular , desde a época colonial, na zona canavieira
nordestina, introduzido pelo colonizadores portugueses que por sua vez a
herdaram da cultura árabe. O cultivo em contorno, alem da conservação do solo
e da água, é também um importante fator econômico, já que os tratos culturais –
manuais ou mecânicos – são sempre na horizontalidade, economizando energia.

Foto 04 – Cureta de pedra seca em contorno


em bananeiral, triunfo – PE. Crédito: Cerlit –
PE. A construção de muretas de pedras secas
em contorno é uma prática conservacionista
tradicional e secular nas férteis escarpas
da serra da borborema, introduzidas pelos
colonizadores portugueses, que por sua
vez, herdaram dos árabes. As muretas em
contorno são construídas, ao longo dos
anos por gerações com as inúmeras pedras
superficiais das faixas de terra por elas
protegidas; assim, além da defesa do solo
contra a erosão deixam as terras livres da
pedregosidade, própria para o seu cultivo.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 159


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 159
Foto 05 – A foto anterior vista de outro
ângulo. Observe-se a sinuosidade do trecho
em construção recente – de menor altura –
acompanhando a curva de nível do terreno.
Crédito: Cerlit – PE

Foto 06 – Mureta de
pedra seca em contorno,
em terra de pasto nativo.
Triunfo – PE. Observe-se
o carreador em curva de
nível paralelo a mureta.
Crédito: Cerlit – PE

Foto 7 – Mureta de pedra seca


em contorno, em antigo cafezal.
Triunfo – PE. Observe-se os
carreadores em nível paralelo Foto 8 – A foto anterior vista
as muretas. Crédito: Cerlit – PE de outro ângulo. Observe-se os
carreadores em nível paralelo as
muretas. Crédito: Cerlit – PE

160 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


160 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 9 – Marcação de niveladas básicas (NB’s) para o cultivo em contorno, pelo
método das fileiras paralelas as NB’s superiores. Vide fig.01 e gráfico xxi.
Marcação da 1ª nivelada básica (NB-1) no limite superior do terreno, através de
uma série de piquetes nivelados e assinalados por miras de alvo. Centro Xingó,
Piranhas-AL. Crédito: – Fabíula Santos.
Legenda Nivelada básica NB-1;
Fileiras paralelas a NB-1 e concorrentes a NB-2.

Foto 10 – marcação de niveladas básicas (NB’s) para o cultivo em contorno, pelo


método das fileiras paralelas as NB’s superiores. Vide fig.01 e gráfico xxi.
Marcação da 2ª nivelada básica (NB-2) – a baixo da NB1 e dela distante, conforme
tabela 01 – através de uma série de piquetes nivelados e assinalados por miras de
alvo. Centro Xingó, Piranhas-AL. Crédito: – Fabíula Santos.
Legenda Nivelada básica NB-2;
Fileiras paralelas a NB-2 e concorrentes a NB-3 (em cota inferior)
Fileiras concorrentes a NB-2 e paralela a NB-1.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 161


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 161
Foto 11 – faixas de vegetação permanente ou barreiras vivas, utilizando-se
macambira – Bromeliácea Xerófila –, face ao clima semiárido, muito usual no
sertão nordestino em substituição as gramíneas, mais usuais nas zonas úmidas
e sub-úmidas. Observe-se entre as duas fileiras a faixa de terreno cultivável e
protegido da erosão. Poço Redondo – SE.

Foto 12 – carreador em contorno, protegido contra erosão por uma barreira viva
de macambira. Poço Redondo – SE.

162 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


162 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
SISTEMA DE PEQUENAS BARRAGENS
VERTEDOURAS E SUCESSIVAS, EM
V
PEDRA SECA, PARA MELHORIA DO
REGIME DOS RIACHOS SERTANEJOS

INTRODUÇÃO

Um dos principais fatores negativistas do Semiárido nordestino é,


sem dúvida, o regime anárquico de seus cursos de água, enchentes bre-
ves e desastrosas – levando tudo de roldão, arvoredo, plantações, ani-
mais, benfeitorias e até vidas humanas, durante e logo após as intensas
precipitações – seguido de longos períodos marcados por rios e riachos
totalmente secos: escaldantes caminhos de areia, seixos e pedras.
Para equilibrar essa alternância de extremos hídricos, igualmente de-
sastrosos, excesso e penúria de água, a solução mais viável ecológica, social
e economicamente correta é, sem dúvida, a adoção, em larga escala, do Sis-
tema de Barragens Sucessivas em Alvenaria de Pedra Seca, batizadas muito
apropriadamente, por Arthur Padilha, de Barragens Base Zero: BBZs.
Procurando difundir esse sistema, contando com todo o apoio da
Fundação Araripe, foi redigido este capítulo, destinado aos colegas de to-
das as profissões que atuam no sertão, desprovidos de meios, vencendo
as dificuldades e sem acesso à literatura especializada.
Na redação deste capítulo, propositadamente, logo no início, fez-se
questão de descrever a marcação e construção das BBZs, pois é indispensável

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 165


a perfeita compreensão e familiarização desses detalhes técnicos para en-
tender o aspecto mais profundo do sistema: aproveitar os processos gratui-
tos da Mãe Natureza, para gerar água permanente e férteis aluviões.

1 REGIME HIDROLÓGICO DO SEMIÁRIDO


Os cursos de água do Semiárido nordestino, com seus talvegues
abruptos e leitos pouco permeáveis e face aos fatores edáficos, topográ-
ficos, florísticos, climáticos e principalmente antrópicos, de suas bacias
hidrográficas, caracterizam-se pelo regime anárquico: breve período de
cheias avassaladoras – durante e logo após as chuvas intensas – alterna-
das por longo período de ausência total de fluxo, durante a estiada, visto
que são cursos de água efêmeros, ou seja, aqueles que só fluem durante
ou logo após as precipitações intensas.

2 MELHORIA DO REGIME DOS CURSOS DE ÁGUA


Considerando que os fatores climáticos fogem ao controle humano,
a melhoria do regime hidrológico, nessa região baseia-se sempre em dois
princípios:

 Redução máxima do escoamento superficial, pela maximização


da infiltração e retenção da água no solo;

 Retardamento máximo do fluxo de água nas linhas de drenagem.

O primeiro princípio é efetivado pela eliminação da agricultura itine-


rante e de métodos agrícolas antiecológicos, adoção de sistemas agrícolas
ecologicamente corretos baseados nos princípios da conservação do solo
e da água e no resgate da cobertura vegetal, reflorestamento, manejo
florestal de uso múltiplo, sistemas agroflorestais e silvipastoris, das matas
ciliares e recuperação das áreas degradadas e desertificadas de suas ba-
cias hidrográficas.

166 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Importante ressaltar que otimizando a fração de água retida no solo,
pela drástica redução da escoada, otimiza-se, também, a produção da
biomassa: maiores colheitas, melhorias das pastagens e, principalmente,
a regeneração do Bioma Caatinga.
O segundo princípio é efetivado por meio da construção de séries su-
cessivas de pequenas barragens vertedouras e filtráveis, em pedra seca, de
modo a retardar o fluxo e aumentar o “tempo de oportunidade de infiltra-
ção”, conforme modelo preconizado por Arthur Padilha: o Sistema Barragem
Base Zero ou BBZ. Esse sistema, de uma forma mais rudimentar, foi empre-
gado com grande êxito na Antiguidade, na Ásia, pelos sumérios, na Argélia
pelos romanos e nos tempos modernos pelo governo colonial francês.
No governo de Ronaldo da Cunha Lima, na Paraíba, foi criado um
programa especial, sob a coordenação de Arthur Padilha, que implantou,
no Semiárido do estado, esse modelo com melhoria sensível do regime
hidrológico da região e atualmente no Governo do estado de Alagoas.
É interessante lembrar que era uma das recomendações que o padre
Cícero Romão Batista, de Juazeiro (CE), dava aos romeiros que vinham
tomar sua bênção e ouvir conselhos: «Construam com pedras soltas,
pequenas tapagens, uma após as outras em todas as grotas e riachos do
sertão, de modo a ajuntar água para vossa serventia», frase resgatada
pelo professor Vasconcelos Sobrinho, da UFRPE, Patrono Nacional da
Caatinga e o maior ecologista e desertólogo do Brasil.
O Sistema Barragem Base Zero ou BBZ é extremamente simples e
barato: nas linhas de drenagens superficiais – grotas e riachos – da cabe-
ceira, no sentido do fluxo, constrói-se uma série sucessiva de muretas, de
pedras seca, sem alicerce ou fundação, daí seu nome, de reduzida altura,
cuja planimetria é um Arco Romano com a convexidade voltada a mon-
tante, a fim de transferir as pressões exercidas na parede para as ombrei-
ras das grotas ou riachos, dando máxima estabilidade à obra. A mureta é
filtrável, face aos seus interstícios visto que não se usa argamassa entre
pedras e ausência de fundação por onde escoa lentamente a água re-
presada, sedimentando grande parte de sua descarga sólida que, com o
tempo, forma um depósito acumulador de água subalveolar, a vazante,
tendendo a transformar o regime dos afluentes de efêmero em regime
temporário e o curso principal de temporário em perene.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 167


O processo é dinâmico, após cada escoamento forte, provocado por
chuvas intensas, se realinham as pedras deslocadas, e sobe-se e engros-
sa-se a parede, à medida que os sedimentos são depositados, procurando
sempre conservá-las acima do leito de sedimentos acumulados.
Após alguns anos, no leito de sedimento acumulado, durante a estia-
da, pratica-se a agricultura de vazante e, no seu entorno, culturas perenes
como fruteiras e também abrem-se cacimbas ou “poços amazonas”.
Essa solução ecológica será alcançada por meio da educação am-
biental com palestras, oficinas, reuniões, seminários, videoconferências
e, principalmente, a participação efetiva das populações locais mediante
a sociedade civil organizada.
Embora a técnica de barramento sucessivo em pedra seca fosse co-
nhecida desde a Antiguidade, sem dúvida coube a Arthur Padilha o estu-
do científico dos fatores hidromecânicos atuantes e o estabelecimento
das atuais normas técnicas de seu projeto e construção, baseado em 23
anos de estudo e experimentação em sua Fazenda Caroá, em Afogados da
Ingazeira (PE), sertão do Alto Pajeú.
O toque de genialidade de Arthur Padilha, quando racionalizou o
sistema BBZ, foi arquear o eixo da barragem, antes reto como no mode-
lo sumeriano, e, com isso, garantiu-se tanto a estabilidade máxima do
barramento, visto que as pressões hidráulicas exercidas nas paredes são
transferidas para as ombreiras das grotas ou riachos, bem como a dispo-
sição das pedras secas, em cunha radiais, resultando a máxima coesão
entre elas.
Assim, as normas técnicas, adotadas neste trabalho, são baseadas
nos estudos de Arthur Padilha, considerado, com toda a razão, “o pai do
Sistema BBZ”.

3 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS BARRAGENS BASE


ZERO – BBZS

Classe: vertedoura, em alvenaria de pedra seca e permeável (filtrável).


Fundação: ausente
Coroamento ou Crista: 30 a 50 cm

168 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Talude de jusante: no mínimo 1:1 (item 5.10); a montante a parede
é a prumo.
Eixo (Planimetria): Arco Romano, com convexidade a montante.
Perfil: trapézio reto; lado inclinado a jusante, lado em esquadro a
montante; base menor correspondendo à largura do coroamento e base
maior que a do pedestal.
Cortina argilosa subterrânea ou selo argiloso, optativa (vide item 6.1).

4 FINALIDADES DO SISTEMA BBZ


 Regularizar o regime hidrológico dos cursos efêmeros e temporá-
rios do Semiárido nordestino;

 Criar uma sucessão de pequenos açudes temporários;

 Criar vazantes produtivas a montante da barragem, pelo acúmulo


de sedimentos da descarga sólida das grotas e riachos, umedeci-
dos pelo barramento e elevação do lençol freático;

 Possibilitar a instalação de cacimbas (poços amazonas), nas va-


zantes, abastecidas durante todo o ano pelo lençol freático repre-
sado e elevado;

 Evitar o ressecamento das terras marginais, face à elevação do


nível do leito dos riachos e, consequentemente, do lençol freá-
tico, invertendo o fluxo atual, em que os riachos com seus leitos
rebaixados funcionam como drenos profundos;

 Contribuir para a preservação do meio ambiente;

 Promover, fixar, valorizar e dignificar as populações sertanejas;

 Elevar os padrões de vida das populações sertanejas e possibilitar


a sua convivência com as secas e estiagens.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 169


5 MARCAÇÃO DA OBRA
5.1 Definir o local do eixo da BBZ, a altura da parede (cota de san-
gria), largura do coroamento e talude de jusante, em função das caracte-
rísticas do boqueirão e do riacho.

5.2 Com auxílio de duas balizas, loque/marque a secção da BBZ pelo


alinhamento de dois piquetes A e A’ nas duas margens do riacho, per-
pendicular ao seu curso nesse trecho, ou, se o trecho for curvilíneo, em
posição radial (plantas e fotos anexas).

5.3 No alinhamento dos dois piquetes A e A’ com visada por três bali-
zas loque o ponto de cota mais baixa da secção, dita cota zero ou piquete 0.

5.4 Com o nivelador de alvo, ou outro processo qualquer, e visadas por


três balizas no alinhamento A e A’, loque o piquete B e B’ nas duas ombreiras
da grota ou riacho tal que os mesmos distem verticalmente (Dv) do piquete
0, o valor equivalente à altura da parede (h), ou Dv = h, razão por que os pi-
quetes são chamados cota de sangria. O seguimento BB’ representa a corda
do arco jusante da BBZ, ou seja, o “vão” da parede (plantas e fotos em anexo).

5.5 Confeccionar um compasso de campo com duas balizas nos dois


pontos de sangria B e B’, ligadas por arame ou cordinha e com centro, alter-
nadamente no piquete B e B’ e raio igual ao “vão” (item 5.4); loque no terre-
no a jusante o piquete C, centro geométrico dos arcos, pelo cruzamento dos
dois riscos. Para isso mantenha uma das balizas estacionada e a outra des-
locando-se para outra ombreira, mantendo o arame esticado na horizontal
e no nível dos piquetes da cota de sangria, riscando um arco no terreno.
Repita a operação na outra ombreira; o cruzamento dos riscos é o centro
geométrico (plantas e fotos em anexo). Convém deixar sobra no arame a
fim de marcar o arco montante, conforme item 5.7.

5.6 Com o compasso de campo (item 5.5), centro no piquete C


e raio igual ao vão, marque, com piquetes provisórios no terreno, o

170 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Arco BB’ ou arco jusante da BBZ (plantas e fotos anexas), de piquete a
piquete de sangria. O espaçamento entre piquetes é arbitrário, poden-
do mesmo variar de um para o outro; o espaçamento mais utilizado é
cerca de um metro.

5.7 Com o compasso de campo, centro no piquete C e raio agora


igual ao valor do “vão”, acrescido da largura do coroamento, marque no
terreno, com piquetes provisórios e alinhados com os piquetes do arco
jusante e o centro dos arcos, o arco montante da BBZ (plantas e fotos em
anexo). O segmento anelar, definido pelos dois arcos, corresponde ao tra-
çado do coroamento da barragem (veja item 6.1).

5.8 Substituir os piquetes provisórios do arco montante por estacas


verticais, cujos topos sejam nivelados com os piquetes B e B’ na cota de
sangria, usando o nivelador de alvo ou outro processo qualquer (plantas
e fotos anexas)*.

5.9 Substituir também os piquetes provisórios do arco jusante por


estacas verticais e niveladas* com os piquetes de sangria, utilizando o
nivelador de alvo ou outro processo qualquer. Assim, obtêm-se pares de
estacas verticais e niveladas, dispostas radialmente, que servirão para
locar o coroamento da BBZ, como também para orientar a arrumação
das pedras secas, dispondo-as em cunha radiais e assim conseguir o má-
ximo de estabilidade da parede, visto que todas as pressões sobre elas
serão descarregadas nas ombreiras da grota ou riacho (plantas e fotos
em anexo).

5.10 A partir das estacas niveladas e verticais do arco jusante, em


função do talude adotado e da altura de cada estaca, também de forma
radial, conforme item 5.9, marcar, com piquetes, o arraste da saia de ju-
sante. Adotando-se o talude 1:1, o arraste da saia será igual à altura de
cada estaca também marcada radialmente, conforme o item 5.9. Para ta-
ludes 1,5:1, o arraste será 1,5 vez a altura de cada estaca; para taludes 2:1
será duas vezes a altura (plantas e fotos anexas). No Programa BBZ – PB e
Fundação Araripe adotaram-se taludes 2:1 para maior segurança.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 171


5.11 A fim de os trabalhadores visualizarem bem a marcação, é usual
bater-se pregos nos topos das estacas e piquete, e por eles fixar linha de
pedreiro ou fiti1ho plástico de modo a orientar a arrumação das pedras
secas (plantas e foto anexos)*.

5.12 A marcação da obra está concluída. As estacas referidas nos


itens acima, na realidade, são varas linheiras ou sarrafos serrados com os
topos planos e os pés apontados, se o terreno for penetrável para a sua
fixação vertical; se o terreno for impenetrável, os pés devem ser planos
e sua fixação vertical mantida por um rodapé de pedras soltas. Na con-
fecção do compasso de campo, utilizar um arame com argolas onde se
enfiam as duas balizas, a fixa e a móvel, conforme itens 5.5; 5.6 e 5.7. Os
termos “ponto” e “piquete” foram considerados como sinônimos, já que
o piquete é a materialização do ponto topográfico.

O toque de genialidade de Arthur Padilha, quando racionalizou o


sistema BBZ, foi arquear o eixo das barragens, antes reto como no mo-
delo sumeriano, e, com isso, garantiu-se tanto a estabilidade máxima do
barramento, visto que as pressões hidráulicas exercidas nas paredes são
transferidas para as ombreiras das grotas ou riachos, bem como a dispo-
sição das pedras secas, em cunha radiais, resultando a máxima coesão
entre elas.

6 CONSTRUÇÃO DA OBRA
6.1 Após a marcação da obra, conforme item 5, e embora a barragem
não tenha fundação, é necessário, contudo, remover a terra superficial en-
tre as estacas do arco montante (item 5.7) e os piquetes do arrasto da saia
da barragem (item 5.10), a fim de as pedras secas serem assentadas em
fileiras niveladas, formando cunhas radiais em relação ao centro geomé-
trico dos arcos, conforme item 5.9, visando aumentar a sua estabilidade.

* Caso o leito do riacho seja rochoso, dificultando nivelar pelo topo das estacas, o nivelamento é assinalado
por pregos batidos lateralmente nas estacas.

172 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Assim, a seção curvilínea do boqueirão toma um formato de patamares
nivelados, onde se vão arrumando, em nível, as camadas de pedra seca,
procurando a melhor posição, com brechas mínimas, formando a parede
filtrável – a prumo a montante e com arraste a jusante. Convém lembrar
que a largura do coroamento é constante, definida pela fila dupla e con-
cêntrica das estacas dos arcos montante e jusante, e, mesmo por ocasião
das sucessivas reformas e ampliações, a largura do coroamento permane-
ce constante, só ampliando-se a altura e o arraste da saia da barragem.

Contudo, quando o leito do riacho é arenoso, convém construir-se


uma cortina argilosa subterrânea (item 3) a fim de impedir que a pressão
hidráulica abra, por baixo da parede, galerias, comprometendo a estabi-
lidade dela e inviabilizando a função do barramento. Essa cortina é feita
abrindo-se uma vala com profundidade conveniente, no segmento anelar
referido do item 5.7, e preenchendo-a com material sílico-argiloso apro-
priado, umedecido e compactado.
Nesse caso, convém abrir a vala antes do estaqueamento referido
nos itens 5.8 e 5.9, preenchendo-a, totalmente, com o material apropria-
do e depois remarcar o arco montante e jusante conforme itens 5.6 e 5.7.
Teoricamente, a largura da vala seria igual à do coroamento; na prática, é
a necessária para os operários poderem escavá-la.
Contudo essa prática é questionada por alguns técnicos de larga ex-
periência no assunto, como a então equipe do Núcleo de Taperoá, do Pro-
grama Base Zero – PB, que optou por dispensá-la, preferindo realinhar,
remontar e nivelar os barramentos, nos locais dos abatimentos, já que a
alvenaria de pedra seca se autoacomoda.
Esta opção – ausência de cortina argilosa – foi monitorada tecnica-
mente, durante a vigência do Programa, concluindo-se por sua viabilidade
técnica e econômica, por meio do Balanço Custo/Beneficio, já que os aba-
timentos ocorridos representaram menos de 3% dos previstos, critério
adotado, também, pela Fundação Araripe.
Vale ressaltar que as pedras utilizadas nas BBZs são empregadas tal
como se apresentam na natureza, sem nenhum benefício, e devem ser
dispostas com seu eixo maior no sentido radial da obra e sua largura na
vertical – item 6.1 (vide fotos anexas).

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 173


6.2 Levantada toda a parede até a altura de sangria prevista, como foi
descrito no item anterior, é necessário, nas duas ombreiras da grota ou riacho,
levantar as proteções laterais contra a erosão das águas nos barrancos elevan-
do-se, nos dois lados, duas muretas, com altura conveniente, em função das
características da grota ou riacho, e com espessura igual ao do coroamento,
ou seja, construir seu vertedouro ou sangradouro. Muitos técnicos, em vez
das muretas de proteção laterais, optam por revestir as ombreiras por enroca-
mentos laterais, mais econômicos e também mais compatíveis com o proces-
so contínuo e progressivo de ampliação das BBZs (vide item 6.5). Caso o bo-
queirão seja rochoso, dispensam-se as proteções laterais ou os enrocamentos.

6.3 Muito embora a obra seja executada em pedra seca, convém,


para alguns técnicos, nas proteções laterais e na camada da soleira do
vertedouro, utilizar argamassa, cimento, areia, traço, 1:4, o que represen-
ta pequena despesa, compensada pela economia na sua manutenção; no
Programa Base Zero – PB e na Fundação Araripe não se utilizou argamassa.

6.4 Caso o leito da grota ou riacho seja de terra, também é acon-


selhado, ao pé do talude de jusante, fazer-se um enrocamento a fim de
evitar erosões, pelas águas vertidas; medida desnecessária se o leito do
riacho for rochoso (vide fotos anexas).

6.5 A obra está concluída, necessitando pequenos e periódicos reparos


e, à medida que o nível dos sedimentos aumenta a montante, formando a
vazante, deve-se aumentar a altura da parede e o arraste da saia, de modo que
o nível da soleira do vertedouro fique sempre acima do nível da vazante, con-
tudo, a largura do coroamento permanece constante, conforme item 6.1. Por
essa razão, recomenda-se, na primeira etapa, construir a barragem até 1,50 m
de altura, ampliando-a ao longo dos anos de acordo com a necessidade.

Ressalta-se que o processo é dinâmico, necessitando frequentes in-


tervenções, na sua manutenção e ampliação. Utilizando essa metodolo-
gia, Arthur Padilha tem em sua Fazenda Caroá, em Afogados da Ingazeira,
sertão do Alto Pajeú (PE), barragens com até 6 (seis) metros de altura,
amplas e produtivas vazantes, e cacimbas (poços amazonas), de boa e

174 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


permanente vazão, a exemplo da BBZ-11, no Riacho das Carapuças, fruto
de 23 anos de trabalho ininterrupto.
Alguns construtores, em vez do talude em rampa única, preferem a
obra em degraus ou patamares; no caso do talude 1:1, a altura de cada
patamar deve ser igual a sua largura; se o talude for 1,5:1 a largura será
1,5 vez a sua altura; se for 2:1 será 2 vezes sua altura.
Se a obra for em degraus, convém utilizar o compasso de campo ci-
tado nos itens 5.5 a 5.7, aumentando proporcionalmente os seus raios ao
aumento das cotas dos degraus, no sentido do arraste da saia ao coroa-
mento (fotos, planilha e plantas anexas).

7 COMENTÁRIOS
7.1 Barramento Contínuo

O sistema BBZ alcança o seu desempenho máximo quando as barragens


sucessivas são construídas em uma grota ou riacho, tal que os níveis de sangria
de qualquer de uma delas represe na saia da barragem anterior, ou seja, a cota
da soleira do vertedouro de qualquer uma das BBZs seja a mesma cota do ar-
raste da saia da anterior, situação denominada “Barramento Contínuo”. Dessa
maneira, formam-se verdadeiras cascatas, sucessões de açudes, escadarias de
produtivas vazantes e rosário de cacimba permanente, transformando a grota
ou riacho efêmero – com cheias curtas e avassaladoras de águas turvas, duran-
te os breves torós, alternando com longos períodos de fluxo cortado durante
o longo período de estiagem – em um manso regato temporário de águas lím-
pidas correndo ao longo de toda a estação chuvosa e parte da estiada, ou seja,
transformando o seu regime anárquico em semirregularizado.
Arthur Padilha, na sua Fazenda Caroá, citado no item 2, só no Riacho
das Carapuças, construiu nesse sistema 22 BBZs.

7.2 Regularização de grotas e riacho

A regularização de grotas e riacho é ideal quando o sistema BBZ é im-


plantado em “Barramento Contínuo”, desde a sua cabeceira até sua barra,

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 175


independentemente dos limites dos imóveis rurais ao longo de todo o seu cur-
so, o que só será efetivado por meio da conscientização ecológica, participa-
ção efetiva da população envolvida, esclarecida e motivada, mediante campa-
nhas educativas, palestras, oficinas, envolvendo sindicatos rurais, associações
comunitárias, grupos de jovens, igrejas, ONGs, sociedade civil organizada, etc.

7.3 Cenário Ideal

Do ponto de vista hidrológico, o cenário ideal seria a implantação


do Sistema BBZ, em “Barramento Contínuo”, em todas as grotas e ria-
chos sertanejos, iniciando-se pelas Microbacias Hidrográficas e expan-
dindo-se, progressivamente, para as Minis e Sub-Bacias, até abranger
toda a Bacia Hidrográfica – por meio de campanha regional, envolvendo
os órgãos oficiais federais, estaduais e municipais, órgãos de classe, so-
ciedade civil organizada, associações, sindicatos, igrejas, ONGs, etc. As
obras terão custo mínimo, face a sua tecnologia simples e barata, ao
alcance de todo sertanejo, visto que seriam executadas pelas comuni-
dades locais, educadas, esclarecidas e motivadas, com mão de obra fa-
miliar – disponível durante a estiada, contando com a abundância de pe-
dra no local, que pouco a pouco, iriam construindo suas BBZs, ano após
ano, orientadas por seus companheiros, já com experiência no ramo: os
agentes multiplicadores.
A Campanha Regional das BBZs, dado o seu arranco inicial, se man-
teria pela sua própria dinâmica, a exemplo da Campanha de Difusão da
Palma Forrageira, no Semiárido nordestino, fruto da ação conjunta e par-
ticular do comendador Arthur Lundgen e de seu agente Delmiro Gouveia,
em Pernambuco, e também do atual “Programa 1 Milhão de Cisternas”,
patrocinado pela ONG ASA, com tecnologia simples e barata, que caiu no
gosto do povo e hoje está presente em todo o sertão.
Caso essa campanha tenha êxito, o flagelo da seca será em muito
atenuado: adeus carro-pipa, adeus frente de trabalho, adeus “viúva” e
“órfãos da seca”, visto que o sertanejo não teria mais enchentes, nem
riacho cortado e, sim, atravessando a estiagem com reserva de água em
suas cacimbas, além de legumes, forragens, hortaliças e frutas em suas
vazantes – que assim Deus o permita.

176 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


O projeto é tão viável que Arthur Padilha, o maior técnico da área,
foi contratado pelo Governo da Paraíba, na gestão do então governador
Ronaldo da Cunha Lima, para difundir o sistema BBZ no sertão, naquele
estado vizinho, o que foi realizado com grande êxito e atualmente pelo
Governo de Alagoas.
Em resumo, a implantação generalizada do Sistema BBZ, em “Barra-
mento Contínuo”, será a redenção do Semiárido: riacho correndo em toda
a estação chuvosa, vazantes produzindo lavouras e forragens, cacimbas
de vazões permanentes e milhares de pequenos açudes temporários.
O cenário ideal é o sertão com seus riachos domados, correndo com
límpidas águas de janeiro a agosto, miríade de pequenos açudes tempo-
rários, de vazantes produtoras de lavouras e forragens, e de cacimbas pe-
renes. Tudo isso é possível caso o povo abrace a Campanha BBZ, e paro-
diando a já vitoriosa campanha da ASA: “1 milhão de BBZs”.
Considera-se inclusive ser dever governamental, o de criar o Progra-
ma “1 milhão de BBZs”, com financiamento diferenciado, a exemplo do
“Programa Base Zero PB”, visto que seria um investimento certo, definiti-
vo, valorizando o sertanejo e livrando-o das humilhantes medidas emer-
genciais, paliativas, politiqueiras e repetitivas, com vultosos gastos a fun-
do perdido, como a assistência dos carros-pipas e das frentes de trabalho
que, no dizer do saudoso Luiz Gonzaga: “Quando não mata de vergonha,
vicia o cidadão”.
Os técnicos do Programa Base Zero – PB afirmam que “só os benefí-
cios gerados nas vazantes, a montante das BBZs, pela deposição dos se-
dimentos, em apenas quatro anos, cobriram todas as despesas com suas
construções”, ou seja, as obras são autofinanciáveis, em curto prazo, gra-
ças ao trabalho gratuito da Mãe Natureza.

7.4 Objetivo

O Sistema BBZ não é uma sucessão de açudes convencionais, com


paredes impermeáveis para represar águas estáticas. Ao contrário, seu
objetivo é disciplinar o regime dinâmico das águas, nas grotas e riachos,
por meio de uma sucessão de pequenas barragens de paredes perme-
áveis que permitam o riacho continuar fluindo, porém, domado seu

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 177


ímpeto, mansamente com água límpida, pela decantação sucessiva dos
seus sedimentos, formando as vazantes e por um longo período de tempo
face à revensa nas permeáveis paredes de pedra seca, das águas represa-
das acima do leito de sedimentos, como, também, das águas retidas nos
poros do próprio leito de sedimentos que funciona como grande esponja,
ou seja, o lençol subalveolar, além da revensa por baixo da parede, face à
ausência de fundação ou alicerce nas BBZs.

7.5 A Folha e a Bacia

Arthur Padilha faz uma feliz analogia entre folha vegetal e Bacia Hi-
drográfica: a superfície da folha corresponde à área da bacia; a rede se-
cundária de suas nervuras vegetais, à rede de drenagem superficial da
bacia; a nervura vegetal principal, ao curso de água mestre da bacia.
Do mesmo modo que a seiva elaborada ou orgânica migra da mais
reduzida das nervuras, de calibre mínimo, e vão se anastomosando, for-
mando nervuras de ordem superior e maior calibre que, por sua vez, re-
pete o processo, cada vez mais aumentando o calibre até chegar à nervura
principal; assim também, na Bacia Hidrográfica, os minúsculos tributários
vão se congregando em afluentes de ordem cada vez maior até formar o
curso de água principal.
Se a seiva flui lenta e contínua, no imenso labirinto de suas nervuras,
a folha permanece túrgida e viva, se, porém, a seiva flui rápida e interrom-
pida, a folha seca e morre.
Assim, também, ocorre na Bacia Hidrográfica: se na imensa e rami-
ficada malha de sua drenagem superficial o fluxo de água é controlado,
a bacia é plena e estuante de vida, porém, se esse fluxo é acelerado, a
bacia e todas as suas formas de vida ficam comprometidas – a bacia está
morrendo. Face aos fatores já descritos no item 1, o fluxo, na rede de
drenagem superficial do Semiárido nordestino, ano a ano, é acelerado,
numa razão exponencial e retroalimentada, cujo desfecho fatal é a morte
de suas Bacias Hidrográficas, ou seja, sua desertificação, caso não haja
medidas urgentes para frear esse processo, ou melhor, revertê-lo. Entre
essas medidas uma das mais importantes é o sistema BBZs em Barramen-
to Contínuo.

178 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


7.6 Aspectos Legais

Toda e qualquer intervenção nos recursos hídricos, atualmente,


necessita de prévia autorização do Comitê da Bacia Hidrográfica local,
formado por representantes dos Órgãos Oficiais envolvidos, usuários e
da sociedade civil atuante, a fim de administrar o uso racional e har-
monioso do recurso hídrico, de forma social e ecologicamente correta.
Assim, os projetos das BBZs, antes de suas implantações, também preci-
sam de prévias autorizações; as solicitações deverão ser acompanhadas
de projetos técnicos por profissionais habilitados, responsáveis pelas
suas implantações e acompanhamentos, geralmente de órgãos oficiais,
ONGs, Oscips, etc.
No caso das BBZs, ao contrário dos projetos de barragens conven-
cionais, em que sempre há conflito de interesse entre usuários e mes-
mo entre os demais representantes do Comitê, as aprovações deverão
ser automáticas, visto que todos os usuários do curso de água a jusante
da intervenção só serão beneficiados: a vazão média do curso de água
não será afetada, apenas naturalmente regularizada, sem cheias prejudi-
ciais ou riacho cortado por longo período, mas, sim, correndo, com lím-
pidas águas, durante e logo após toda a estação chuvosa – geralmente
correndo de janeiro a agosto.

7.7 Soluções para o Controle do Regime dos Cursos de Água Sertanejos

Clássica: a solução clássica de controle do regime hidrológico com


grandes, custosas e demoradas obras hídricas públicas – as barragens
acumuladoras/reguladoras, que criam mais problemas – levantamentos
detalhados, estudos básicos, projetos, licença ambiental, indenizações,
reassentamento das populações, com graves consequências econômicas,
culturais e sociais. Essa solução não ataca a raiz do problema: o elevado
escoamento e a desertificação da sub-bacia.
Ecológica: propõe outra solução: natural, hidrológica, social, parti-
cipativa, cultural e economicamente correta, e de tecnologia simples e
barata.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 179


+ Em vez de investir em obras físicas, investe no coração e na mente
do povo, deixando as obras físicas para serem executadas por e à
custa da própria população, esclarecida, motivada e consciente,
contando com a abundância de pedras soltas nos próprios leitos
dos riachos e a mão de obra familiar.

+ Em vez de grandes represas com gastos astronômicos para o go-


verno, na sua construção e operação, se propõe a construir uma
multidão de microrrepresas, construída à custa da própria popu-
lação e operada pela natureza.

+ Em vez de submergir os baixios, a terra mais produtiva do sertão,


criam-se uma multidão de microbaixios, aproveitados para as la-
vouras de vazante e cacimbas.

+ Em vez de acumular a água, perdida, barrenta e furiosa das bacias,


em grandes e onerosas barragens, irá reter essa água, mansamente,
na multidão das microbarragens sucessivas, de pedras secas, com
seus sedimentos, evitando os assoreamentos das barragens já exis-
tentes e criando uma multidão de férteis minibaixios e cacimbas.

8 MARCAÇÃO SIMPLIFICADA DA OBRA EM NÍVEL DE PE-


QUENO PRODUTOR RURAL

8.1 Marque com dois piquetes o alinhamento da barragem, na mar-


gem da grota ou riacho, em esquadro com a carreira das águas.

8.2 Com visada por três balizas, no alinhamento da barragem, mar-


car o ponto mais baixo do leito do riacho, chamado cota zero.

8.3 Com visada por três balizas, no alinhamento da barragem, mar-


car os pontos nas duas ombreiras do riacho, tal que o seu desnível, medi-
do pelo nivelador de alvo ou outro processo, em relação à cota zero, seja

180 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


igual à altura pretendida da barragem. Esses dois pontos marcados nas
ombreiras são ditos “pontos de sangria”.

8.4 Coloque duas balizas, nos dois pontos de sangria, nas ombreiras
do riacho, ligadas por cordinha ou arame. As duas balizas ligadas pelo
arame é dito “compasso de campo”. Convém deixar sobra de arame para
marcar o arco montante, conforme itens 8.8 e 8.10.

8.5 Mantenha a baliza da ombreira direita fixa no ponto de sangria e


caminhe com a outra baliza em direção à ombreira esquerda, riscando o
meio do riacho, água abaixo. O arame deve estar esticado e na horizontal.

8.6 Agora mantenha a baliza da ombreira esquerda fixa e caminhe


com a outra baliza, em direção à ombreira direita, riscando o meio do
riacho, água abaixo. O arame deve estar esticado e na horizontal.

8.7 O cruzamento dos dois riscos, no meio do riacho, marca o centro


geométrico da obra.

8.8 Agora mantenha uma baliza do “compasso de campo” fixa no


centro geométrico da obra e outra no ponto de sangria da ombreira di-
reita e caminhe em direção à ombreira esquerda, água acima, marcan-
do o terreno com piquetes provisórios, espaçados aproximadamente
de 1 m, até o ponto de sangria da ombreira esquerda, marcando uma
curva dita “arco jusante”. A distância entre os piquetes pode ser qual-
quer uma, inclusive uns mais próximos e outros mais distantes, con-
quanto seja de acordo com o arame do compasso de campo, esticado
e nivelado.

8.9 Acrescente no arame do “compasso de campo” a largura do co-


roamento da barragem.

8.10 Mantenha uma das balizas do “compasso de campo” fixa no


centro geométrico da obra, e o arame, agora, encompridado esticado e
na horizontal, e alinhando com os piquetes do arco jusante, e o centro

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 181


geométrico, marque com piquetes provisórios, águas acima, de ombreira
a ombreira, uma curva dita “arco montante”.

8.11 Substitua os piquetes provisórios do arco jusante e do arco


montante, por estacas fincadas a prumo, cujas cabeças estão niveladas
com os pontos de sangria, para isso use o nivelador de alvo e um prumo
de pedreiro, ou outro processo qualquer.

8.12 Mantenha uma baliza do “compasso de campo” no centro geo-


métrico da obra e a outra, móvel nas cabeças das estacas do “arco jusante”
e, por esse alinhamento, meça a altura de cada estaca do “arco jusante” e
marque, águas abaixo e na horizontal, essa distância, com piquetes, se o
talude adotado for 1:1; se o talude for 2:1 marque duas vezes essa medida.
Essas medidas, água abaixo, vêm a ser o arraste da saia da barragem. Assim,
as estacas do “arco montante”, do “arco jusante” e os piquetes, do arraste
da saia, ficam no mesmo alinhamento com o centro geométrico da obra,
que nem o raios de uma bicicleta, ou seja, dispostos radialmente.

8.13 A fim de os trabalhadores visualizarem bem a marcação, é usual


baterem-se pregos nos topos das estacas e piquetes, e por eles fixar linha
de pedreiro ou fitilho plástico de modo a orientar a arrumação das pedras
secas (plantas e fotos em anexo).

8.14 A marcação da obra está concluída. As estacas referidas nos


itens acima, na realidade são varas linheiras ou sarrafos serrados, com
topos planos e os pés apontados, se o terreno for penetrável para a sua
fixação vertical; se o terreno for impenetrável, os pés devem ser planos e
sua fixação vertical mantida por um rodapé de pedras soltas. Na confec-
ção do compasso de campo, utilize um arame com argolas onde se enfiam
as duas balizas, a fixa e a móvel, conforme itens 5.5; 5.6 e 5.7. Os termos
“ponto” e “piquete” foram considerados como sinônimos, já que o pique-
te é a materialização do ponto geométrico.

O toque de genialidade de Arthur Padilha, quando racionalizou o Sis-


tema BBZ, foi arquear o eixo das barragens, antes reto como no modelo

182 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


sumeriano e, com isso, garantiu-se, tanto a estabilidade máxima do barra-
mento, visto que as pressões hidráulicas exercidas nas paredes são transfe-
ridas para as ombreiras das grotas ou riachos, bem como a disposição das
pedras secas, em cunha radiais, resultando a máxima coesão entre elas.

9 CÁLCULO DOS VOLUMES DOS MATERIAIS


9.1 Justificativa. Muito embora sejam obras simples e construída
com mão de obra familiar em regime de mutirão, às vezes é necessário
apresentar os volumes dos materiais empregados na obra, razão por que
é apresentado o roteiro seguinte.

9.2 Cálculo do volume da limpeza do terreno (inclui as áreas do coro-


amento e da saia da barragem).
Desenhe, em papel milimetrado, em escala conveniente, a planime-
tria do corpo da BBZ, assinalando os arcos montante e jusante e o arraste
da saia. Calcule sua área e multiplique pela profundidade da terra super-
ficial removida, geralmente em torno de 10 cm a 20 cm, conforme item
6.1, planilha e figura anexas.

9.3 Cálculo do volume da cortina argilosa (vide itens 3 e 6.1).


Calcule um arco imaginário cujo comprimento seja a média aritméti-
ca dos arcos montante e jusante e fatore esse valor pela largura e profun-
didade média da vala, conforme figura, plantas e planilhas anexas.

9.4 Cálculo do volume do corpo da BBZ.

 Desenhe em papel milimetrado, em escala conveniente, o perfil


do boqueirão, assinalando a cota zero e as cotas de sangria (itens
5.3 e 5.4), ou seja, a soleira do sangradouro. Divida essa área em
faixas de igual largura e paralelas à soleira do sangradouro, cor-
respondendo às cotas múltiplas da altura da BBZ, e calcule o com-
primento médio de cada faixa. Cada faixa é dita “subsecção do
boqueirão”, conforme figura, plantas e planilhas anexas.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 183


 Desenhe em papel milimetrado, em escala conveniente, o perfil
transversal da parede da BBZ, passando pela cota zero (vide item
5.3). Divida essa área em faixas de igual largura e paralelas ao co-
roamento, correspondendo às cotas múltiplas da altura da BBZ, e
calcule a área de cada faixa. Cada faixa é dita “subsecção da BBZ”,
conforme fotos, plantas e planilhas anexas.

 Fatore o comprimento médio de cada subsecção do boqueirão,


incluindo o encastoamento nas duas ombreiras, pela área da sub-
secção respectiva, gerando os volumes parciais cuja somatória cor-
responde ao volume da BBZ, conforme fotos, plantas e planilhas
anexas. No caso de ombreiras rochosas não há encastoamento.

 Cálculo dos volumes das muretas de proteção lateral (vide item 6.2)

 Calcule a área da secção da mureta, de proteção lateral, multipli-


cando sua altura – em função da vazão do riacho – pela largura
do coroamento da BBZ; fatore essa área pelo comprimento médio
das duas muretas, nas duas ombreiras, incluindo o seu encasto-
amento, cujo resultado é o valor do volume das duas proteções
laterais. No caso de ombreiras rochosas não há proteções. Vide
fotos, plantas e planilhas anexas.

 Cálculo do volume da soleira do sangradouro

 As últimas camadas de pedra da soleira do sangradouro podem ser


assentadas com argamassa, cimento/areia; traço 1:4, conforme item
6.3. Contudo, considerando que na zona rural o único ônus a mais,
entre a alvenaria de pedra com argamassa e alvenaria de pedra seca,
reside no custo do cimento – visto que a mão de obra é praticamente
a mesma e a areia é gratuita, e o reduzidíssimo volume desse item,
em relação ao volume total do corpo da BBZ, geralmente despreza-se
esse valor, cujo ônus é coberto no orçamento pelo item de despe-
sas eventuais, calculado em 5% do custo total. Nas BBZs do Programa
Base Zero – PB e Fundação Araripe não se utilizou argamassa.

184 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


10 ORÇAMENTO
10.1 Justificativa

O orçamento é baseado nos volumes dos materiais gastos na obra, de


acordo com item 9, e nos preços de mercado, atual e local, geralmente mui-
to inferior ao especificado pelas empreiteiras do ramo, conforme roteiro:

Preparo do terreno (vide item 9.2) R$


Escavação manual, remoção com bota-fora, de.........../m3, de terra
superficial ao preço de R$ ........./m3................................................

Cortina argilosa (vide item 9.3)


Escavação em terra solta, de......m3, ao preço de R$.........../m3............
Enchimento, com material sílico-argiloso apropriado, umedecido e
compactado de..................... m3, a R$................./m3................................

Corpo da BBZ (vide item 9.4)


Elevação de..... m3, em alvenaria de pedra seca ao preço de R$...../m3...

Muretas de proteção laterais (vide item 9.5)


Elevação de........................ m3 em alvenaria de pedra com argamassa
cimento/areia; traço 1:4 ao preço de R$......................./m3 ................
Subtotal:.......................
Despesas eventuais: (5% do Subtotal) .............................................
Total ................................................................................................

11 GEOMETRIA DO ARCO ROMANO


11.1 Generalidades

O Arco Romano, elemento fundamental na arquitetura romana, nos


pórticos, arcadas e pontes, baseia-se na relação de proporcionalidade do

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 185


hexágono regular, em que o comprimento do lado é igual ao do raio que o
circunscreve, dividindo o perímetro da circunferência em seis arcos iguais,
cujas cordas têm comprimento igual ao do raio, conforme figura anexa.
Em outras palavras, o vão do arco é igual ao raio da circunferência no qual
ele se escreve.

11.2 Relação entre comprimento do arco e comprimento da corda

Face ao exposto no item 11.1, temos:

Comprimento da circunferência 2πR

Comprimento do Arco Romano 2πR : 6 = 1/3πR

Comprimento da sua corda R

Relação arco/corda 1/3πR: R = 1/3π

Assim, conhecido o valor da corda, para se calcular o respectivo arco


basta multiplicar esse valor pelo Fator 1/3π ou, aproximadamente 1,047,
conforme planilhas anexas.

12 EXERCÍCIO
Para maior compreensão da teoria exposta, é apresentado o projeto,
de autoria dos mesmos autores, da BBZ-01 RL-CE, no Riacho do Lobo, Cra-
to (CE), em março de 2009.

12.1 Características técnicas da BBZ-01, RL-CE, em Riacho do Lobo,


Crato (CE)

Classe: vertedouras, em alvenaria de pedra seca.


Fundação: ausente
Coroamento: 0,30 m
Talude de jusante: 1:1 (parede a prumo a montante), em duas opções:
Rampa única e em degraus.
Eixo (planimetria): Arco Romano; convexidade a montante

186 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Perfil: trapézio reto
Altura de sangria: 1,50 m
Vão: 5,00 m Cortina argilosa (selo argiloso)
Largura: 0,50 m
Profundidade média: 1,00 m

12.2 Levantamento topográfico do boqueirão: caderneta de campo 01


(em anexo)

Sistema de coordenadas:
Origem = Cota zero
Abscissas = Distância Horizontal
Ordenadas = Cotas

12.3 Perfil normal do boqueirão (planta anexa)

A maioria dos projetistas, inclusive os autores, prefere o perfil alte-


ado, onde a escala vertical é dez vezes menor que a horizontal, a fim de
ressaltar as grandezas. No caso presente, por razões didáticas, preferiu-se
o perfil normal, a fim de se ter uma visão das proporções naturais entre
as grandezas do boqueirão e a do perfil do corpo da BBZ.
Observa-se as três subsecções, em faixas paralelas, a soleira do san-
gradouro e com cotas: + 1,50 m; +1,00 m; + 0,50 m, múltiplas da cota de
sangria. O comprimento médio de cada subsecção é medido, na planta,
na sua largura mediana.

12.4 Perfil do corpo da BBZ na sua secção máxima (passando na cota


zero).

Plantas anexas, nas versões: talude em rampa e talude em degraus.


Observa-se as 3 (três) subsecções, em faixas paralelas, ao coroamen-
to e com cotas: + l,50 m; + 1,00 m; + 0,50 m, múltiplas da cota de sangria.

12.5 Planimetria do corpo da BBZ = 7,35 m2. Plantas anexas, nas ver-
sões: talude em rampa e talude em degraus.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 187


12.6 Cálculo dos Volumes

Cálculo do volume da limpeza do terreno = 0,74 m3 Planilha 01 anexa

Cálculo do volume da cortina argilosa = 2,88 m3 Planilha 02 anexa

Cálculo do volume do corpo da BBZ = 7,63 m3 Planilha 03 anexa

Cálculo do volume das proteções laterais = 0,57 m3 Planilha 04 anexa

12.7 Orçamento: R$

Preparo do terreno (item 9.2, Planilha 01 e Tabela 01)


Escavação manual, remoção e bota-fora, de 0,74/m3, de terra su-
perficial ao preço de R$ 31,00/m3.......................................... 22,94

Cortina argilosa (item 9.3, Planilha 02 e Tabela 01)


Escavação em terra solta, de 2,88 m3, ao preço de R$ 15,00/m3
.......................................................................................... 43,20
Enchimento, com material silíco-argiloso apropriado, umedecido e
compactado de 2,88 m3, a R$ 44,00/m3 ............................... 126,72

Corpo da BBZ (item 9.4, Planilha 03 e Tabela 01)


Elevação de 7,63 m3, em alvenaria de pedra seca ao preço de
R$ 90,00/m3..................................................................... 686,70

Muretas de proteção laterais (item 9.5, Planilha 04 e Tabela 01)


Elevação de 0,57 m3 em alvenaria de pedra com argamassa
cimento/areia; traço 1:4 ao preço de R$ 220,00/m3.............. 125,40

Subtotal: 1.004,96
Despesas eventuais: (5% do Subtotal) ....................................... 50,25
Total Geral ............................................................................ 1.055,21

Obs.: No orçamento acima considerou-se a mão de obra, assalaria-


da. No caso de a obra ser executada em regime de mutirão familiar, o mais
usado no sertão, o orçamento cai pela metade.

188 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Tabela 01 – Preços praticados na construção de barragens na zona rural do Cariri cearen-
se, incluindo material e mão de obra, em março de 2009.

Especificação R$/m3

Escavação manual em terra a campo aberto, remoção e bota-fora 31,00

Escavação de vala em terra 15,00

Enchimento de valas, com material sílico-argiloso, umedecido e compactado 44,00

Elevação em alvenaria de pedra seca, com pedras retiradas no entorno 90,00

Elevação em alvenaria de pedra com argamassa cimento/areia, traço 1:4 220,00

Fonte: Edmundo de Sá Filho – Barbalha/CE


Eng. Civil e Construtor CREA 5802 D – PE

Obs.: O talude da BBZ-01 RL-CE foi modificado para 2:1 e seu coro-
amento para 0,50 m, para maior segurança; contudo em nada altera o
exemplo do item 12.

13 OUTRA ALTERNATIVA
Tradicionalmente, nos riachos e córregos, efêmeros ou temporários,
que drenam os diminutos vales encaixados nos “Tabuleiros Costeiros”
da “Mata Seca” de Pernambuco, enquadrados por Sérgio Tavares, como
“Bioma Cerrado”, e particularmente no município de Igarassu, constrói-se
Sistema de Pequenas Barragens Vertedouras e Sucessivas com a finalida-
de de melhorar seus regimes de fluxo.
Como na região inexistem pedras, face à geologia sedimentar, os barra-
mentos eram feitos com sacos de aniagens para 60 kg de açúcar, tecido natural
de pouca duração, cheio de barro e com as suas bocas costuradas. Atualmente
usam-se sacos de aniagem de tecido sintético com 60 cm x 80 cm, de duração
muito maior e menor preço, principalmente nas lojas de materiais reutilizados.
Esses barramentos tinham eixos retilíneos, porém, desde que foram
construídas essas barragens, em Arco Romano, no Sítio Recanto, no Ria-
cho Caetés, em Igarassu – PE, os vizinhos e visitantes passaram a copiar o

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 189


modelo arqueado, como no Sítio Redenção, onde estão sendo construí-
das 6 (seis) obras em “Barramento Contínuo” (7.1).
Algumas dessas barragens, com sacos sintéticos, têm mais de 10
anos e a sacaria apresenta-se em bom estado, necessitando de eventuais
reparos, particularmente aqueles banhados pelo sol, cuja radiação ultra-
violeta despolimeriza o plástico, danificando-o.
Nessas obras, os sacos com barro devem ser considerados como se
fossem tijolos numa alvenaria, ou seja, dispostos em “amarração inglesa”:
uma fileira cobrindo a anterior. Os sacos são dispostos radialmente, no
sentido do comprimento, de modo que as juntas de uma fileira situem-se
na metade da largura do saco da fileira abaixo e, também, na metade da
largura do saco da fileira acima; assim procedendo obtém-se o “efeito
cunha”, atingindo a máxima coesão entre os sacos.
Pela razão acima exposta, o coroamento é sempre de 0,80 m (com-
primento do saco), o talude de jusante mínimo é de 2:1, em degraus, e
naturalmente a face montante da parede permanece a prumo. Nessas
obras não se utilizam a cortina ou selo argiloso.
Acredita-se que o modelo adotado nos “Tabuleiros Costeiros”, acima
descrito, sirva de alternativa válida para alguns recantos do Semiárido,
não só onde inexistam pedras no entorno da obra, como ocorre em mui-
tas áreas sedimentares como, também, nos locais onde o transporte das
pedras torne a construção economicamente inviável.
Melhores resultados são obtidos quando, em vez de barro puro, no
enchimento dos sacos, utiliza-se barro dosado com cimento, no traço 1:20
ou 1:30, conforme a liga do barro, formando grandes blocos de solo-ci-
mento; mesmo quando a sacaria acaba os blocos de solo-cimento perma-
necem inalterados e a BBZ permanece estável e funcional.

14 AS BBZS E O CONTROLE DAS VOÇOROCAS


As BBZs são também muito empregadas no controle da erosão em
voçorocas, aqueles valados cavados na terra pelas enxurradas que vão
se alastrando e aprofundando por todo o terreno, tornando-o seco,
improdutivo e desertificado.

190 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Nos locais desprovidos de pedras, pode-se utilizar sacos cheios de barro
puro ou barro dosado com cimento ou cal, conforme item 12. As BBZs, nesse
caso, devem ser em Barramento Contínuo (veja item 7.2) não só na voçoroca
principal, como nas laterais e à medida que as BBZs forem aterradas serão
remontadas, até a perfeita “cicatrização” da superfície do terreno. Outras
medidas de proteção do solo contra a erosão superficial devem ser simulta-
neamente adotadas, pois as voçorocas resultam delas (veja item 2).

15 A ESCOLHA DO LOCAL DA CONSTRUÇÃO DE UMA BBZ


A locação de uma BBZ depende de vários fatores sendo o perfil do
boqueirão dos riachos um dos mais importantes. O perfil do boqueirão
pode ser “aberto”, “fechado” ou “intermediário”.

 Boqueirão “aberto”: as margens do riacho são suaves, o seu vão


(distâncias entres as margens) é longo e seu leito raso, como nas
fotos 42.0.

 Boqueirão “fechado”: as margens do riacho são abruptas e seu


vão é curto e seu leito profundo, como nas fotos 43.0.

 Boqueirões “intermediários”: as margens dos riachos são ladei-


rosas, seu vão e seu leito são medianos (nem longo, nem curto).

Nos boqueirões “abertos” a despesa com a obra é maior, pois o volu-


me da alvenaria de pedra seca é maior, porém, os benefícios serão maiores:
maior área de vazantes e maior vazão das cacimbas (veja fotos 42.0).
Nos boqueirões “fechados” a despesa com a obra é menor, pois o vo-
lume de alvenaria de pedra seca é menor, porém, os benefícios serão me-
nores: menor área de vazantes e menor vazão das cacimbas (veja foto 43.0).
Nos boqueirões intermediários a despesa e os benefícios serão
medianos.
Outros fatores também devem ser considerados, como proximi-
dade de pedras soltas no leito do riacho, estradas, veredas, caminhos,

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 191


proximidade das moradias, aguadas, bebedouros, eletrificação e desnível
das demais BBZs do sistema, etc.

16 O REMONTE DA BBZ FACE AO ATERRAMENTO DE SUA


VAZANTE E A RELOCAÇÃO DO CENTRO GEOMÉTRICO DA
OBRA

À medida que se remonta uma BBZ, pelo aterramento de sua vazante


a montante, consequentemente, sobe-se o seu primitivo nível de sangria
e aumenta-se o seu vão, face ao perfil do seu boqueirão (item 15).
Devido a esse fenômeno, é necessário, para conservar a geometria
do Arco Romano, de tempo em tempo, relocar o novo centro geométrico
da obra, os novos arcos jusante e montante e o novo arraste da saia (vide
item 5). Face ao acima exposto, ao longo do tempo, o eixo da BBZ aparen-
te e lentamente parece caminhar no sentido de montante.

192 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


ANEXO I
PLANTAS
Geometria do Arco Romano baseado no hexágono regular onde a cor-
da é igual ao raio, ou seja, onde o «vão» é igual ao raio da circunferência.

Comprimento da circunferência -------------------------= 2πR


Comprimento do Arco Romano -------------------------= 2πR:6=1/3πR
Comprimento de sua corda -------------------------------= R
Relação arco/corda ------------------------------------------= 1/3πR:R=1/3π

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 197


ANEXO II
PLANILHAS
Planilha 01 – Cálculo do volume da limpeza do terreno

Área Profundidade Volume

m² m m³

7,5 0,10 0,74

(1) (2) (3)

Obs.: (1) Área da Planimetria da BBZ – vide Planta


(2) Profundidade Média
(3) = (1) x (2)

Planilha 02 – Cálculo do volume da cortina argilosa

Largura Profundidade Área Comprimento Volume

m M m² m m³

0,50 1,00 0,50 5,75 2,88

(1) (2) (3) (4) (5)

Obs.: (2) Profundidade Média


(4) Comprimento do Arco Imaginário: Média do arco montante e jusante
(3) = (1) x (2)
(5) = (3) x (4)

200 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Planilha 03 – Cálculo do volume do corpo da BBZ (Planta do perfil do corpo da BBZ)

SS Base < Base > Altura Área Corda Fator Arco SS

- m m m m² m π:3 m m³

1ª 0,30 0,80 0,50 0,28 5,40 π:3 5,65 1,58

2ª 0,80 1,30 0,50 0,53 5,00 π:3 5,24 2,78

3ª 1,30 1,80 0,50 0,78 4,00 π:3 4,19 3,27

- - - - - - - ∑ 7,63

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)

Observações:
(1) Subsecção
(2) Medido no perfil do corpo de BBZ (7) Vide item 11.
(3) Medido no perfil do corpo de BBZ (8) = (6) x (7) vide item 11.
(4) Medido no perfil do corpo de BBZ (9) = (5) x (8)
(5) = (2) + (3) / 2 x (4)
(6) Comprimento médio das Subsecções, medido no perfil do boqueirão e acrescido de 0,60 m
referente ao encastoamento de 0,30 m em cada ombreira argilosa.

Planilha 04 – Cálculo do volume das proteções laterais

Margem Largura Altura Secção Comprimento Volume

- M M m² m m³

Direita 0,30 1,00 0,30 0,80 0,24

Esquerda 0,30 1,00 0,30 1,10 1,33

- - - - ∑ 0,57

- (1) (2) (3) (4) (5)

(3) = (1) x (2)


(4) = Comprimento médio acrescido de 0,30 m, referente ao encastoamento na ombreira
(5) = (3) x (4)

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 201


202 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
ANEXO III
DOCUMENTÁRIO
FOTOGRÁFICO

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 203


Fotos 01 e 02 – Os riachos sertanejos caracterizam-se pelo “regime
anárquico”. Enchentes breves e desastrosas, levando tudo de roldão:
arvoredo, plantações, animais, benfeitorias e até vidas humanas, durante e
logo após as intensas precipitações, seguidas de longos períodos de leitos
totalmente secos: escaldantes caminhos de areia, seixos e pedras.
Riacho da Varginha, Assentamento Casa de Pedra – Granito – PE
Foto: João Vital e Geraldo Leal

Fotos 03 e 04 – A adoção do Sistema de Barragens Sucessivas e Vertedouras,


em Alvenaria de Pedra Seca (BBZ), constitui uma das soluções mais viáveis
do ponto de vista social, econômico e ecologicamente corretas, a fim de
normalizar o regime dos riachos do sertão. Observa-se o arqueamento da
parede, os interstícios entre suas pedras, face à ausência de argamassa, e
sua permeabilidade, características intrínsecas das Barragens Base Zero.
Obra em Irauçuba – CE

204 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


204 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 05 e 06 – BBZ em construção. Observa-se a parede em Arco Romano,
a prumo, a montante e em talude 2:1 a jusante, em rampa única. Os técnicos
do Núcleo de Taperoá do Programa Base Zero – PB, entre outros, optaram,
nas suas obras, por dispensar o “selo argiloso”, mesmo em leitos arenosos,
preferindo realinhar, remontar e nivelar os barramentos, nos locais dos
abatimentos, já que a alvenaria de pedra seca se autoacomoda.
Foto 05: Bruna Souza; foto 06: Instituto Cactos

Foto 07 – BBZ em construção. Vala para implantação da “cortina” ou


“selo” argiloso, no leito arenoso do riacho correspondendo ao segmento
do anel limitado pelos arcos montante e jusante. Observam-se as estacas
verticais e niveladas dos arcos montante e jusante.
Foto: João Vital

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 205


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 205
Foto 08 – Equipe técnica da Fundação Araripe locando o eixo da BBZ – 02,
em função das características do riacho e do boqueirão. Observam-se as
ombreiras argilosas abruptas, o leito de argila compactado, totalmente
seco e a secção do boqueirão perpendicular a esse trecho do riacho.
A altura da parede (cota de sangria) foi arbitrada em 1,00 m, a largura
do coroamento em 0,30 m e 1:1 o talude de jusante.

Foto 09 – Marcação do eixo da BBZ – 02, pelo alinhamento dos piquetes


A e A’ situados nas duas margens e perpendicular ao trecho do riacho.
Observa-se o balizeiro da margem direita (o mais próximo na foto) e da
margem esquerda (o mais distante) ao lado da cerca.
Riacho do Lobo, Crato – CE
Foto: Francisco de Souza Nunes

206 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


206 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 10 – Marcação do ponto
mais baixo da secção do
boqueirão, piquete 0 (cota
zero), por visada em duas
balizas nos piquetes A e A’,
nas margens do riacho.

Foto 11 – Com o
nivelador e mira de alvo,
visando à ré o piquete 0
(cota zero) a fim de locar
os piquetes B e B’ (cotas
de sangria), nas duas
ombreiras, com desnível
de 1,00 m, altura
arbitrada para a BBZ.
Observa-se o alvo a 1,40
m na escala da mira.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 207


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 207
Fotos 12 e 13 – Locação dos piquetes B e B’ (cotas de sangria) nas
ombreiras do riacho, com desnível de 1,00 m do piquete 0 (cota zero).
O porta-mira obedece simultaneamente à orientação do operador
do nivelador de alvo – quanto ao desnível e dos balizeiros quanto
ao alinhamento AA’. Observa-se o alvo a 0,40 m na escala da mira,
resultando em desnível de 1,00 m, cota arbitrada para a altura da BBZ.
Riacho do Lobo, Crato – CE. Fotos: Francisco de Souza Nunes

208 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


208 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 14 – Construção do compasso de campo: com balizas, nos piquetes B e B’
(cotas de sangria) – ligadas por um arame esticado e na horizontal. Observam-se
as bandeirolas para melhor visualização do raio do compasso, igual à corda do
Arco Romano, do arco jusante e do vão da BBZ, no caso igual a 6,00 m.

Foto 15 – Marcação do centro geométrico dos arcos a jusante do


eixo da BBZ com o compasso de campo. O compasso de campo
centrado alternadamente nos piquetes B e B’ e raio igual à corda
ou vão do arco, riscam o leito do riacho. O cruzamento dos dois
riscos loca o piquete C ou centro geométrico dos arcos montante
e jusante. Observa-se o arame esticado e na horizontal. Riacho
do Lobo, Crato – CE. Foto: Francisco de Souza Nunes

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 209


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 209
Foto 16 – Marcação do arco jusante com o compasso de campo, centrado
no piquete C (centro geométrico da obra) e raio igual ao vão da BBZ. A
marcação é feita com piquetes provisórios espaçados, aproximadamente,
de 1,00 m, contudo, o espaçamento é arbitrário, podendo variar entre eles,
visto que a exigência é a disposição radial em relação ao piquete C, o qual
não está enquadrado na foto. Observa-se a sobra de arame, reservada para
acréscimo da largura do coroamento, para locação do arco montante, e que
o mesmo é mantido sempre esticado e na horizontal.
Foto: Francisco de Souza Nunes

210 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


210 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 17 e 18 – Marcação do arco montante com compasso de campo,
cujo raio já foi acrescido do valor do coroamento, através de piquetes
provisórios, em posição radial com o piquete C e cobrindo os piquetes
do arco jusante já implantados. Observa-se em primeiro plano, na foto
23, uma das balizas do compasso de campo “estacionada” no piquete
C e a outra móvel marcando o arco montante e cobrindo os piquetes
do arco jusante, já estabelecidos. Riacho do Lobo, Crato – CE. Foto:
Francisco de Souza Nunes

Foto 19 – Nivelamento do
topo da primeira estaca do
arco jusante com o piquete B’
(cota de sangria), na ombreira
esquerda, com auxílio de
régua e “nível de pedreiro”.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 211


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 211
Fotos 20 e 21 – Nivelamento dos topos das
estacas verticais, substitutas dos piquetes
provisórios – dos arcos jusante e montante –
com os piquetes B e B’ (cota de sangria) nas
ombreiras do riacho, com auxílio do nivelador
e mira de alvo. Na foto 25, em primeiro
plano, observam-se os dois primeiros pares
de estacas – no sentido da margem esquerda
para a direita – dispostos radialmente em
relação ao piquete C, sinalizado por baliza, em
segundo plano. Riacho do Lobo, Crato – CE.
Foto: Francisco de Souza Nunes

212 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


212 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 22 e 23 –
Verticalização das
estacas dos arcos
jusante e montante
com auxílio de
dois “níveis de
pedreiro”.

Foto 24 – Vista geral – de jusante para montante – de pares de estacas,


verticalizadas e niveladas, na cota de sangria, dos arcos montante e
jusante e alinhadas radialmente em relação ao piquete C. Riacho do
Lobo, Crato – CE. Foto: Francisco de Souza Nunes

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 213


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 213
Fotos 25 e 26 – Marcação do arraste da saia da BBZ, vista de jusante para montante.

Foto 25 – Medição da altura


da terceira estaca do arco
jusante, a contar da margem
esquerda, no caso 0,78 cm.
Igual procedimento nas
demais estacas.

Foto 26 – Medição do arraste da


saia na estaca da foto 30, com
auxílio do compasso de campo, a
fim de obedecer à disposição radial
da obra. Nesse caso, o arraste é de
0,78 m, medido na horizontal, face
ao talude adotado de 1:1. Igual
procedimento nas demais estacas.

214 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


214 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 27 e 28 – Vista geral da marcação da obra observada da margem direita, no
sentido de jusante para montante.

Foto 27 – Fitilho plástico


marcando o arraste da saia
e o coroamento da BBZ.

Foto 28 – Fitilho
plástico marcando
o arraste da saia, o
coroamento e o talude
de jusante, no caso,
1:1, a fim de facilitar
os trabalhadores
na visualização da
marcação, de modo a
orientar a arrumação
das “pedras secas”.
Riacho do Lobo, Crato
– CE. Foto: Francisco de
Souza Nunes

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 215


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 215
Fotos 29 e 30 – Diversos meios de transporte de pedras brutas, utilizadas
no sertão. Foto 29: Acervo Fundação Araripe. Foto 30: João Vital

Foto 31a: Acervo


Fundação Araripe

Foto 31b – A última pedra do coroamento


da BBZ, vista do meio do riacho a montante.
Observa-se a parede de montante a prumo
e nivelada pelo topo das estacas do arco de
montante. Foto: Instituto Cactos

216 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


216 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
32.0 – Série de fotos da BBZ 01. RV-PE, a primeira de uma série sucessiva, no Riacho
da Varzinha, no Assentamento Agrário Casa de Pedra, no lote individual de Antônio
Severino, Granito – PE, construída em regime de mutirão pelos assentados, sob
orientação da equipe técnica da Fundação Araripe – Crato – CE, em agosto de 2009.

Características Técnicas da BBZ 01. RV-PE


Altura máxima: 1,00 m
Vão: 15,60 m
Coroamento: 0,50 m
Talude de jusante: 2:1
Talude de montante: inexistente; face da parede a prumo
Volume da Alvenaria de Pedra Seca: 13,00 m3
Proteção das ombreiras: em ambas, de alvenaria de pedra argamassada.

A obra foi construída em dez dias de trabalho, por seis assentados, incluindo o
transporte manual das pedras. Preço irrisório considerando-se o grande benefício
hidrológico para o riacho.

Foto 32.1 – Transporte manual das pedras pelos assentados,


visto de jusante da ombreira esquerda. Observam-se
também alguns assentados visitantes.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 217


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 217
Foto 32.2 –
Transporte manual
das pedras pelos
assentados, visto de
jusante da ombreira
esquerda, de outro
ângulo.

Foto 32.3 – BBZ em obras, mureta e coroamento já concluídos, o arraste da


saia (arrimo) em conclusão, vista da ombreira direita a jusante. Observe-se a
mureta nivelada e os topos das estacas do arco de jusante. O seu formato em
Arco Romano transfere as pressões hidráulicas exercidas no barramento para
as ombreiras, dando a máxima estabilidade à obra, norma estabelecida por
Arthur Padilha – ex-diretor do Departamento Nacional de Obras contra as
Secas (Dnocs) – “o pai do Sistema BBZ”.

218 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


218 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 32.4 – Elevação do corpo da BBZ em alvenaria de pedra
seca, vista da ombreira esquerda. Observa-se a parede de
montante a prumo e o arraste da saia (arrimo), o consultor
Geraldo Leal e os seis assentados construtores da BBZ.

Foto 32.5 – Elevação do corpo da BBZ em alvenaria de pedra seca já concluída,


vista da ombreira esquerda. Observa-se a parede de montante a prumo, com
altura de 1,00 m, o coroamento com 0,50 m de largura, no nível do topo das
estacas do arco de montante e o arraste da saia (arrimo), o consultor Geraldo
Leal e os seis assentados construtores da BBZ. O seu formato em Arco Romano
transfere as pressões hidráulicas exercidas no barramento para as ombreiras,
dando a máxima estabilidade à obra, norma estabelecida por Arthur Padilha –
ex-diretor do Dnocs – “o pai do Sistema BBZ”.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 219


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 219
Foto 32.6 – BBZ já concluída, vista da ombreira esquerda a jusante. Observa-
se o talude 2:1, do arraste da saia da BBZ, o consultor Geraldo Leal e os seis
assentados construtores da obra.

Foto 32.7 – Vista geral da BBZ.


Foto tirada da ombreira direita
e a jusante do barramento.
Observa-se o arraste da saia
e as proteções das ombreiras,
face a sua natureza limosa.
O seu formato em Arco
Romano transfere as pressões
hidráulicas exercidas no
barramento para as suas
ombreiras, dando a máxima
estabilidade à obra, norma
estabelecida por Arthur
Padilha – ex-diretor do Dnocs
– “o pai do Sistema BBZ”.

220 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


220 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 32.8 – Formação
inicial das férteis
minivazantes pela
sedimentação da argila,
lima e barro depositado a
montante do barramento,
formando uma camada
sobre o primitivo leito
estéril e arenoso.

Foto 32.9 – Formação inicial das férteis minivazantes pela sedimentação


da argila, lima e barro depositado a montante do barramento, formando
uma camada sobre o primitivo leito estéril e arenoso.
Vista de outro ângulo.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 221


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 221
Foto 32.10 – Formação inicial das férteis minivazantes pela sedimentação
da argila, lima e barro depositado a montante do barramento, formando
uma camada sobre o primitivo leito estéril e arenoso. Vista de outro
ângulo. À medida que o nível da minivazante aumenta, ampliam,
proporcionalmente, a altura e o arraste da saia da BBZ, a fim de manter
as suas características originais. Contudo, vale ressaltar, a largura de seu
coroamento permanece constante.

222 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


222 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 33 – BBZ concluída, vista da ombreira direita, a montante. Observa-se o seu
coroamento nivelado pelo topo das estacas do arco montante e os interstícios
para filtragem das águas turvas, retendo a montante o barro, a lama e o limo,
formando as férteis minivazantes. O seu formato em Arco Romano transfere
as pressões hidráulicas exercidas no barramento para as ombreiras dando a
máxima estabilidade à obra, norma estabelecida por Arthur Padilha – ex-diretor
do Dnocs – “o pai do Sistema BBZ”. Foto: Instituto Cactos

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 223


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 223
Foto 34 – BBZ concluída, vista da ombreira esquerda, a montante, de
outro ângulo. Observa-se o seu coroamento nivelado e os interstícios
para filtragem das águas turvas, retendo a montante o barro, a lama
e o limo, formando as férteis minivazantes. O seu formato em Arco
Romano transfere as pressões hidráulicas exercidas no barramento para
as ombreiras dando a máxima estabilidade à obra, norma estabelecida
por Arthur Padilha – ex-diretor do Dnocs – “o pai do Sistema BBZ”.

224 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


224 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 35 – BBZ concluída, vista do meio do riacho, a montante. Observa-
se o seu coroamento nivelado pelos topos das estacas do arco montante
e os interstícios para filtragem das águas turvas, retendo a montante o
barro, a lama e o limo, formando as férteis minivazantes.

36.0 – Série de fotos da BBZ 01.RV-CE a primeira de uma série sucessiva, no Riacho da
Varzinha, no Assentamento Agrário “10 de Abril”, no lote comunitário Monte Alvene
– Crato – CE. Construído em regime de mutirão pelos assentados sob orientação da
equipe técnica da Fundação Araripe, Crato – CE em 21 de março de 2013.

Características Técnicas da BBZ 01.RV-CE


Altura máxima: 1,00 m
Vão: 3,80 m
Coroamento: 0,50 m
Talude de juzante: 2:1
Talude de montante: inexistente; face da parede a prumo
Volume da Alvenaria de Pedra Seca: 2,25 m3
Proteção das ombreiras: apenas na direita, em alvenaria de pedra argamassada, à
esquerda, rochosa, dispensa proteção.

A obra foi construída em um dia e meio de trabalho, por sete assentados, incluindo
o transporte manual das pedras. Preço irrisório considerando-se o grande benefício
hidrológico para o riacho.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 225


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 225
Foto 36.1 – Boqueirão eleito para locação da BBZ 01.RV-CE, local Argico Seco

226 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


226 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 36.2 – Locação do eixo da BBZ, perpendicular ao fluxo das águas, através
de dois piquetes nas margens do Riacho. Observa-se o angico, na margem
esquerda, que deu nome ao local, os assentados que construíram a obra e a
equipe técnica da Fundação Araripe.

Foto 36.3 – Locação


dos dois pontos
de sangria, B e
B´, em ambas as
margens, na cota 1.
No presente caso,
empregou-se a régua
e “nível de pedreiro”,
face à estreiteza
do vão da BBZ,
dispensando-se o
nivelador de alvo.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 227


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 227
Foto 36.4 – Locação dos
dois pontos de sangria,
B e B´, em ambas as
margens, na cota 1,
vista de outro ângulo.
No presente caso,
empregou-se a régua e
“nível de pedreiro”, face
à estreiteza do vão da
BBZ, dispensando-se o
nivelador de alvo.

Foto 36.5 – Marcação do centro geométrico da obra, por meio do


compasso de campo, cujo raio é igual ao vão da BBZ, ou seja, a distância
horizontal entre os dois pontos de sangria: B e B. Observa-se o consultor
Geraldo Barreto, “riscando” o leito do riacho, a jusante do eixo da BBZ,
com uma das balizas, e o fitilho que é o raio do compasso, ligado a outra
baliza no ponto de sangria B, na margem direita.

228 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


228 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 36.6 – O consultor
Osani Godoy corrige, com
o “nível de pedreiro”, a
horizontalidade do raio
do compasso de campo,
representado pelo fitilho.

Foto 36.7 – A consultora


Bruna Vieira estaciona
uma das balizas do
compasso de campo
no ponto de sangria,
da margem esquerda.
Observa-se, no canto
direito da foto, o consultor
Geraldo Barreto, de
chapéu de couro,
portando a outra baliza
do compasso e marcando
o centro geométrico da
obra. Observa-se o fitilho,
que corresponde ao raio
do compasso, e o angico
que deu nome ao local.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 229


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 229
Foto 36.8 – Marcação dos arcos jusante e montante, através de
piquetes provisórios. Observa-se o fitilho, com comprimento
igual ao vão da BBZ, e do raio do compasso, no caso 3,80 m.
Uma das balizas do compasso estacionada no centro geométrico
da obra, e a outra baliza marca os piquetes provisórios do arco
jusante, de metro em metro. Por visada nos piquetes do arco
jusante, já locados, para o centro geométrico, marca-se os
piquetes provisórios do arco montante, acrescido da largura do
coroamento, no caso 0,50 m.

230 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


230 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 36.9 – Marcação dos arcos jusante e montante, através de
piquetes provisórios, vista de outro ângulo. Observa-se o fitilho, com
comprimento igual ao vão da BBZ e do raio do compasso, no caso 3,80
m. Uma das balizas do compasso estacionada no centro geométrico da
obra, e a outra baliza marca os piquetes provisórios do arco jusante.
Por visada, nos piquetes do arco jusante, já locados, para o centro
geométrico, marca-se os piquetes provisórios do arco montante,
acrescido da largura do coroamento, no caso 0,50 m.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 231


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 231
Foto 36.10 – Marcação das estacas do arco de jusante, por estacas que
substituem os piquetes provisórios e cujos topos correspondem às cotas de
sangria, os pontos B e B´. No presente caso, face ao pequeno vão da BBZ,
utilizou-se régua e “nível de pedreiro”, dispensando o nivelador de alvo.

Foto 36.11 – Marcação


do arraste da saia da BBZ.
Observam-se as estacas
niveladas dos arcos jusante
e montante. Um assentado
mede a altura da estaca – no
caso um 1,00 m – e alinhado,
com o centro geométrico da
obra, marca o seu arraste,
no caso duas vezes a altura,
face ao talude adotado, ou
seja, 2,00m. Vulgarmente
o arraste da saia da BBZ é
denominado “arrimo”.

232 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


232 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 36.12 – Marcação do arraste da saia da BBZ, vista de
outro ângulo. Observam-se as estacas niveladas dos arcos
jusante e montante. Um assentado mede a altura da estaca –
no caso um 1,00 m – e alinhado, com o centro geométrico da
obra, marca o seu arraste, no caso duas vezes a altura, face
ao talude adotado, ou seja, 2,00 m. Vulgarmente o arraste da
saia da BBZ é denominado “arrimo”.

Foto 36.13 –
Marcação do corpo
da BBZ, pela
consultora Lúcia
Campello, através
de estacas, piquetes
e fitilhos, a fim de
orientar os assentados
na elevação da
alvenaria de pedra
seca, vista de jusante.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 233


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 233
Foto 36.14 – Marcação
do corpo da BBZ,
pela consultora Lúcia
Campello, através
de estacas, piquetes
e fitilhos, a fim de
orientar os assentados
na elevação da
alvenaria de pedra seca,
vista de montante.

Foto 36.15 – Marcação do corpo da BBZ, através de estacas, piquetes e


fitilhos do corpo da BBZ, pela consultora Lúcia Campello, a fim de orientar
os assentados na elevação da alvenaria de pedra seca, vista da ombreira
direita. Observa-se a disposição radial, para o centro geométrico da obra, dos
arcos montante e jusante e do arraste da saia da BBZ. O seu formato em Arco
Romano transfere as pressões hidráulicas exercidas no barramento para as
suas ombreiras dando a máxima estabilidade à obra, norma estabelecida por
Arthur Padilha – ex-diretor do Dnocs – “o pai do Sistema BBZ”.

234 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


234 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 36.16 – Início da elevação
do corpo da BBZ, em alvenaria
de pedra seca. As pedras são
dispostas no sentido longitudinal
para funcionarem como cunhas,
aumentando a estabilidade da
obra, norma estabelecida por
Arthur Padilha – ex-diretor do
Dnocs – “o pai do Sistema BBZ”.

Foto 36.17 – Início da elevação do corpo da BBZ, em alvenaria de pedra


seca, vista da ombreira direita. Observa-se o início da construção da mureta
e do arraste da saia, orientado pelas estacas dos arcos montante e jusante.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 235


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 235
Foto 36.18 – Início da elevação do corpo da BBZ, em alvenaria de pedra seca,
vista da ombreira direita. Observa-se o início da construção da mureta e do
arraste da saia, orientado pelas estacas dos arcos montante e jusante.

Foto 36.19 –
Assentados
transportando
manualmente as
pedras para a obra.

236 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


236 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Foto 36.20 – Elevação do corpo da BBZ, vista de jusante. Mureta e o
arraste da saia em conclusão. Observam-se algumas estacas do arco de
jusante, já perto da ombreira direita e os interstícios entre as pedras que
funcionarão como filtro, retendo, a montante, o barro, a lama e o limo em
suspensão nas águas turvas, formando as férteis minivazantes.

Foto 36.21 – BBZ concluída, vista de juzante. Observa-se o seu


coroamento nivelado, o arraste da saia (arrimo) e os interstícios entre
as pedras, que servirão de filtro das águas turvas, retendo a montante
o barro, a lama e o limo, formando as férteis minivazantes.

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 237


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 237
Foto 36.22 – BBZ concluída, vista de montante. Observa-se o seu
coroamento nivelado pelos topos das estacas do arco montante e os
interstícios para filtragem das águas turvas, retendo a montante o barro,
a lama e o limo, formando as férteis minivazantes. O seu formato em Arco
Romano transfere as pressões hidráulicas exercidas no barramento para as
ombreiras dando a máxima estabilidade à obra, norma estabelecida por
Arthur Padilha – ex-diretor do Dnocs – “o pai do Sistema BBZ”.

Foto 37 – O mestre e seu discípulo:


Arthur Padilha (à direita) e Geraldo
Barreto, colaborador da Fundação
Araripe, na Fazenda Caroá Afogados
da Ingazeira – PE, onde o mestre
desenvolveu o Sistema de Barragens
Base Zero – BBZ (agosto de 2013).

238 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


238 CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Fotos 38 e 39: O Sistema BBZ – em Barramento Contínuo
(item 7.2) – é o método mais eficiente no controle da erosão
em Voçoroca – valados escavados na terra pela enxurrada,
que vão se alastrando e aprofundando por todo o terreno,
podendo até alcançar a “rocha mãe”, tornando-o seco,
improdutivo e desertificado. Lagoa Grande (PE).

PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 239


PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL 239
Um novo caminho
Saber conviver pressupõe, obrigatoriamen-
te, aprender sobre o outro e enxergá-lo de
forma ampla e realista. Não é diferente na con-
vivência da população com o Semiárido nor-

CAMINHOS PARA A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


destino. É preciso aprendizado, pé no chão, ou
melhor, na terra, experiência de vida e um novo
GERALDO BARRETO é engenheiro-agrônomo olhar, que passa pela adoção de tecnologias so-
e professor Livre Docente aposentado da Uni- ciais e técnicas conservacionistas.
versidade Federal Rural de Pernambuco (UFR- Para equilibrar a alternância de extremos
PE), especializado em Conservação de Solo. hídricos da região (secas e enchentes), a so-
Atuou nas áreas de ensino, pesquisa e exten-  TÉ CNICAS DE CONSERV AÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA lução mais viável ecológica, social e econo-
são, irrigação e drenagem, manejo de bacias micamente correta é, sem dúvida, a adoção,
hidrográficas, ambientalismo e cooperativismo. por parte dos produtores rurais, agricultores
É autor do livro “Cálculo do Tempo de Ope-  USO DO CLINÔ METRO familiares e assentados, das esquecidas técni-
ração de Máquinas Agrícolas”. Ministra cursos cas conservacionistas. É olhar o passado para
voltados para: manejo e conservação do solo e  NIV ELADOR DE ALV O caminhar para o futuro.
É necessária uma nova estratégia para as
da água, barragens subterrâneas e sistema de

CAMINHOS PARA
pequenas barragens vertedouras e sucessivas zonas semiáridas dos sertões Brasileiro: capaci-
em alvenaria de pedras secas (Sistema BBZ); e  USO DA CURV A DE NÍ V EL tar os próprios agricultores familiares e assen-
“Uso do Clinômetro Rústico”. tados rurais, a partir de suas lideranças, para
É colaborador técnico consultor das Funda-
ções Araripe e Esquel Brasil, e da ONG Agendha
 BARRAMENTO BASE Z ERO que possam adotar, em suas terras, sistema
agrosilvopastoril sustentáveis que promovam
e Secretário da Cooperativa de Energia, Comu- um desenvolvimento ecologicamente correto,

A AGRICULTURA
nicação e Desenvolvimento do Litoral de Per- tornando seus lotes produtivos e fixadores.
nambuco (CERLIT). Nessa nova estratégia, na qual os próprios
camponeses são os agentes multiplicadores de
práticas conservacionistas, um dos fatores bási-
OSANI GODOY é engenheiro-agrônomo e pro- cos é a confecção e o manejo de instrumentos
fessor aposentado da Universidade Federal Ru- rústicos, capazes de substituírem os caros e so-

SUSTENTÁVEL
ral de Pernambuco (UFRPE). Atuou nas áreas de fisticados instrumentos topográficos.
ensino, pesquisa e extensão, alimentos, indús- Com o objetivo de colaborar para a preser-
tria, ambientalismo e cooperativismo. É asses- vação do meio ambiente procurando difundir
sor técnico junto a empreendimentos rurais na boas práticas para uma convivência sustentável
área de produção de alimentos, manejo e uso com a semiaridez que promovam a segurança
sustentável de recursos naturais. Atuou na for- alimentar, hídrica, energética e conservem as
mação técnica de multiplicadores de boas práti- paisagens a Fundação Araripe e o Ministério
cas de produção sustentável no semiárido. do Meio Ambiente com apoio do Fundo Clima
É autor dos livros “Industrialização do jambo
do Pará” e “Levantamento agropecuário da APA
PRINCÍPIOS CONSERVACIONISTAS e da Editora IABS publicam o livro “Caminhos
para a agricultura sustentável: princípios con-
servacionistas para o pequeno produtor rural”,
– Chapada do Araripe e entorno”, entre outros”.
Ministra cursos voltados para: “Tecnologias
Sociais – biodigestores no meio rural”; “Tecnolo-
APOIO
PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL de Geraldo Barreto e Osani Godoy.
Esta publicação é destinada aos técnicos
gia de Alimentos”; “Uso do Clinômetro Rústico”; (de todas as profissões) que atuam no sertão,
“Capacitação sobre Sistema de Barragens Base desprovidos de meios, vencendo todas as di-
Zero e Prática de Conservação do Solo e da Água, ficuldades e sem acesso à literatura especia-
com Instrumentos Rústicos”, entre outros temas. lizada sobre Conservação do Solo e da Água.
É colaborador técnico das Fundações Ara- REALIZAÇÃO Nesta obra, estão detalhadas as seguintes
ripe e Esquel Brasil, da Agendha, Presidente da tecnologias: Uso do Clinômetro, Nivelador de
Cooperativa de Energia, Comunicação e Desen- Alvo, Barramento Base Zero e Técnicas de
volvimento do Litoral de Pernambuco (CERLIT) Conservação do Solo e da Água. Esperamos
e membro da Comissão de Ética da Organização que o produtor possa aumentar sua produção
Brasileira de Cooperativas (OCB). e sua renda.

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