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Sáude em Revista
Queratinócitos e seus desafios: uma revisão da literatura sobre mecanismos intracelulares
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Rodrigo Augusto da Silva et al.
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é mediado pelos níveis de proteínas pró- liberação de fatores de morte, como Fas-L,
-apoptóticas e antiapoptóticas da família TNF, entre outros, os quais se ligam a esses
Bcl-2, como Bax, Bak, Bcl2 e Bcl-xL.11 A receptores, induzindo sua ativação e forma-
oligomerização de Bax e Bak determina a ção de um complexo de morte no interior
formação de canais na membrana mitocon- celular. Nesse complexo, a pró-caspase 8 é
drial interna, sendo esse evento responsável processada e convertida à sua forma ativa,
direto pela permeabilização da organela. que, por sua vez, cliva e ativa a caspase 3.15
Como proteção, proteínas, como Bcl2 e Vários estudos demonstraram que a
Bcl-xL, membros antiapoptóticos da famí- apoptose de queratinócitos induzida pela
lia Bcl2, acabam se ligando à Bax e Bak, radiação UV, estresse oxidativo ou agentes
impedindo que formem os poros. Uma vez citotóxicos é mediada pela via intrínseca,
que as quantidades de membros pró-apop- sendo, dessa forma, precedida pela despo-
tóticos da família Bcl2 seja superior ao dos larização da membrana mitocondrial, libe-
membros antiapoptóticos, há formação do ração do citocromo c e ativação de caspase
poro mitocondrial, por onde extravasam 9. Adicionalmente, a ativação secundária da
fatores pró-apoptóticos mitocondriais e, via extrínseca apoptótica constitui evento
também, citocromo c.14 O citocromo c, ao de grande importância para a amplificação
unir-se a dATP e a proteína APAF (fator de apoptótica nessas células, embora não seja
ativação de proteases apoptóticas), forma considerada essencial.14,15
uma estrutura denominada apoptossomo, a Em nenhum outro sistema, a apoptose
qual é responsável por ligar-se à caspase 9 possui tantas funções vitais como na pele,
em sua forma não ativa (pró-caspase 9), in- onde é crítica tanto para a proliferação
duzindo sua alteração estrutural e conversão controlada de queratinócitos como para a
para a forma ativa. A caspase 9 ativa cliva formação do estrato córneo, que é o resul-
e ativa uma segunda caspase, denominada tado final da diferenciação epidérmica. A
caspase 3, essa, sim, responsável direta pela apoptose também representa um importante
clivagem de proteínas citosólicas impor- mecanismo de defesa contra o câncer, pois
tantes para manutenção do funcionamento queratinócitos que tenham acumulado mu-
e sobrevivência celulares. Adicionalmente, tações ou outros danos genéticos como con-
proteínas e fatores pró-apoptóticos libe- sequência da radiação UV ou estresse oxi-
rados da mitocôndria contribuem de for- dativo são eliminados por apoptose.16 Neste
ma significativa para a eliminação celular, processo, a proteína supressora de tumor
chegando mesmo a serem os responsáveis p53 possui um importante papel, induzindo
diretos pela morte celular (na ausência de a parada do ciclo celular na fase G1 e a ati-
ativação de caspases) em alguns casos co- vação de mecanismos de correção de danos
nhecidos como apoptose independente de do DNA. Células cujos danos ao material
caspases. Já no mecanismo apoptótico me- genético não puderam ser reparados são
diado por receptores de morte localizados então eliminadas por mecanismos de morte
na membrana plasmática, via apoptótica celular programada, que, em grande parte,
extrínseca, estímulos estressores induzem à são induzidos e executados por proteínas
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Figura 2: Indução de apoptose pelas vias intrínseca e extrínseca. (A) A via intrínseca de
apoptose envolve a ativação da pró-caspase 9 pela liberação de proteínas apoptogênicas
mitocondriais para o citoplasma celular, incluindo AIF e citocromo c. A interação entre
citocromo c, dATP e fator de ativação de proteases apoptóticas-1 (Apaf-1) leva à formação
do apoptossomo onde ocorre a ativação da caspase 9. Uma vez ativada, a caspase 9 ativa
uma série de outras pró-caspases conhecidas como caspases executoras, entre elas, as
caspases 3, 6 e 7. (B) A via extrínseca da apoptose é mediada pela ativação de receptores
de morte como TNFR, Fas (CD95), DR3 e DR6 na membrana plasmática celular levando à
formação de complexos de morte citoplasmáticos denominados DISC. DISC são formados
pela associação de proteínas adaptadoras contendo domínio efetor de morte, como FADD
e TRADD, a porção citoplasmática dos receptores e a pró-caspases 8 ou 10 que se ligam a
essas proteínas adaptadoras via domínios de morte. A formação de DISC leva à ativação
das caspases 8 e 10, as quais podem então ativar as pró-caspases executoras 3, 6 ou 7,
resultando nas alterações bioquímicas e morfológicas características da morte apoptótica.
cuja expressão está sob controle da proteí- proteína de controle da integridade do ma-
na p53. Células que não possuem a proteína terial genético e, ao mesmo tempo, como
p53 funcional são incapazes de reparo de mediadora da homeostase do organismo,
danos genéticos e acumulam mutações que eliminando células potencialmente danosas
podem predispor o tecido ao aparecimento ao indivíduo.
de vários tipos de tumores.17 Em acordo, Em queratinócitos, a indução de apop-
mutações no gene codificador da proteína tose tem sido correlacionada, principalmen-
p53 constituem o principal tipo de mutação te, com a ativação das vias de sinalização
detectado em células tumorais e estão asso- mediadas pelas quinases JNK e MAPK p38,
ciadas ao câncer de pele, principalmente aos pertencentes à família de proteínas quinases
carcinomas de células escamosas ou células ativadas por mitógenos (MAPKs).19 JNK
basais.18 Dessa maneira, p53 age como uma e MAPK p38 podem fosforilar diferentes
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proteína quinase C delta (PKCd), induzindo bre esses processos terá importantes impli-
a eliminação celular.24 Desta forma, os que- cações na elucidação da biologia deste tipo
ratinócitos coordenam um delicado balanço celular e, consequentemente, na terapêutica
entre forças pró-apoptóticas e antiapoptó- dermatológica.
ticas em resposta ao estímulo extracelular,
deslocando o equilíbrio no sentido de sobre- Estresse oxidativo e
vivência ou morte celular quando uma das estresse hiperosmótico em
vias predomina. queratinócitos
De maneira surpreendente, embora
possa parecer, à primeira vista, que o me- Os queratinócitos representam os prin-
canismo molecular associado à apoptose cipais componentes da epiderme e respon-
de queratinócitos seja deflagrado somente dem a diferentes tipos de estresse, modu-
em ocasiões que requerem a morte celu- lando vias de sinalização que podem levar
lar, estudos recentes indicam que a relação a apoptose, sobrevivência, senescência ou
entre a maquinaria apoptótica e o destino diferenciação celular. Desta maneira, o des-
dos queratinócitos não é simples.19 De fato, tino dos queratinócitos expostos aos diver-
neste tipo celular, a ativação da maquina- sos estímulos estressores dependerá, entre
ria apoptótica nem sempre é sinônimo de outros fatores, da intensidade e duração do
morte celular, o que sugere a existência de estímulo estressor, bem como do próprio
uma complexa e altamente integrada rede contexto celular.
molecular responsável pelo destino dos O estresse hiperosmótico é considerado
queratinócitos.19 Nessa rede, a maquinaria um importante fator estressor de queratinó-
molecular apoptótica compartilha inúmeros citos, capaz de alterar a estrutura e função
mecanismos efetores e diversas moléculas epidérmica. Frequentemente, essa condição
(proteínas) sinalizadoras com outros pro- é resultado de uma sensibilização da cama-
cessos celulares, por exemplo, a diferencia- da córnea, decorrente de diversas patolo-
ção.25 Embora a apoptose e a diferenciação gias, como dermatoses, eczemas e psoríase.
de queratinócitos compartilhem alguns me- Além disso, a exposição da pele a eventos
canismos efetores de sinalização, eles são como variações de temperatura e umidade
processos distintos, executados em tempos ambiental, ou a substâncias como o sorbi-
diferentes e com resultados biológicos di- tol, também provoca alterações na home-
versos: o primeiro levando à eliminação de ostase da epiderme associadas ao estresse
células mortas individuais dos tecidos em hiperosmótico.26
horas, enquanto o segundo reside na sobre- Estudos demonstraram que a apopto-
vivência e maturação sincronizada de todas se induzida pelo choque hiperosmótico em
as camadas de células em semanas.16 Como queratinócitos pode ser ativada por meca-
dois mecanismos com finalidades tão dife- nismos moleculares distintos, sendo, muitas
rentes podem compartilhar vias de sinaliza- vezes, facultativa a ocorrência de eventos
ção, ainda não foi totalmente esclarecido e, como ativação de caspases, liberação do ci-
com certeza, o crescente conhecimento so- tocromo c e aumento da produção de espé-
cies reativas de oxigênio (EROs).27 Adicio- to de onda entre 320 e 280 nm, também co-
nalmente, dados da literatura demonstraram nhecido como onda média).29
que, em queratinócitos humanos, o estímu- Em doses fisiologicamente relevantes,
lo hiperosmótico causa aumento transitório a geração de EROs pela radiação UV ativa
da concentração de cálcio intracelular, au- inúmeras vias de sinalização, causa pero-
mento da expressão de proteínas do choque xidação lipídica e induz dano oxidativo ao
térmico (Hsp) e ativação de membros da DNA e proteínas celulares. Queratinócitos
família de proteínas quinases ativadas por que são severamente danificados e impossi-
mitógenos (MAPKs), como proteína quina- bilitados de reparar o DNA induzem apop-
se ativada por mitógeno p38 (MAPK p38) e tose como um mecanismo de escape, cau-
proteína quinase ativada por estresse c-Jun sando sua própria eliminação em benefício
N-terminal (JNK/SAPK).20 do organismo. Neste processo, a proteína
É interessante observar que a exposição supressora de tumor, p53, possui um im-
de queratinócitos ao estímulo hiperosmótico portante papel, induzindo a parada do ciclo
também induz aumento na expressão de im- celular na fase G1, em resposta à irradia-
portantes marcadores de diferenciação des- ção UV.17 Vários estudos demonstraram que
te tipo celular, como as proteínas queratina a apoptose de queratinócitos induzida pela
1 e 10 e a proteína involucrina.28 De fato, radiação UV, estresse oxidativo, ou agentes
embora o estresse hiperosmótico provoque citotóxicos, é precedida pela despolariza-
a morte de células da epiderme, em quera- ção da membrana mitocondrial, liberação
tinócitos este estímulo estressor pode tanto do citocromo c e ativação de caspase 9 (via
ativar vias de sinalização, levando à morte, intrínseca de ativação da apoptose), sendo
quanto induzir a diferenciação celular, sen- a ativação da via extrínseca, via Fas/Fas-
do, atualmente, um desafio para a área cien- -L, considerada mecanismo secundário de
tífica determinar os limites que levam a uma ativação apoptótica, visando à amplificação
ou outra condição, bem como diferenciar, no do sinal de ativação de caspases.23
nível molecular, ambos os processos.28 Por fim, cabe aqui mencionar que a ex-
Entre os tipos de estresse aos quais os posição de queratinócitos ao estresse oxida-
queratinócitos são submetidos, o mais estu- tivo e EROs formadas durante esse evento
dado, e talvez o de maior relevância fisioló- também pode ser usada como mecanismo
gica, é o estresse causado pela radiação ul- terapêutico. A alta reatividade química das
travioleta (UV). A geração EROs, tais como EROs e sua capacidade de reagir com di-
peróxido de hidrogênio (H2O2), radical hi- ferentes moléculas de maneira destrutiva
droxila (OH•) e ânion superóxido (O2•), pos- tem sido explorada em diferentes terapias,
sui papel central em iniciar e dirigir muitos visando à eliminação de queratinócitos que
dos eventos de sinalização que medeiam a tenham acumulado mutações ou outros da-
resposta celular à irradiação UVA (ultra- nos genéticos.30 Adicionalmente, EROs são
violeta de comprimento de onda entre 400 formadas fotoquimicamente e servem como
e 320 nm, também conhecido como onda mediadores de respostas celulares durante a
longa ) e UVB (ultravioleta de comprimen- irradiação UVA, empregada para fins cos-
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