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Abordagens Da Obra Literária De Alfredo Bosi

Por: Ademar dos Santos Lima | Publicado em : 29/05/2009

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 32. ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

Resenha de Ademar dos Santos Lima

1. PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS

Alfredo Bosi, nesse capítulo de “Pressupostos Históricos” busca destacar o reflexo de um


momento histórico para a corrente literária da época; os principais acontecimentos econômicos,
políticos e sociais, bem como suas relações com a produção artística e literária; cria condições
que possibilitam ao leitor fazer reflexões do senso crítico através da leitura e análise de obras
literárias e de autores que ressaltam a formação sócio-econômico-político-cultural da geração
modernista. Bosi vai numa seqüência cronológica dos acontecimentos tecendo comentários
sobre os principais fatos ocorridos, que marcaram a vida da sociedade brasileira desde o
começo do século XX.

No campo literário, segundo Bosi, as três escolas anteriormente estudadas continuam a ter
adeptos, mesmo com certo esvaziamento. De qualquer modo, nas duas primeiras décadas do
século XX, começa a formar-se uma nova consciência da realidade nacional, e novas
manifestações artísticas, estéticas, ajudarão a compor o ideário modernista, justamente por isto
é que ao período entre 1902 e 1922, deu-se o nome de Pré-moderismo, termo criado pelo crítico
Alceu Amoroso Lima em 1939, no livro Contribuição à história do Modernismo.

Segundo Alfredo Bosi, "a Semana de Arte Moderna foi, ao mesmo tempo, o ponto de
encontro das várias tendências que desde a I Guerra vinham se firmando em São Paulo e no
Rio, e a plataforma que permitiu a consolidação de grupos, a publicação de livros, revistas e
manifestos, numa palavra, o seu desdobrar-se em viva realidade cultural”. A necessidade de
consolidar a nova estética, de definir seus rumos, de romper com os padrões literários do
passado conferiu ao Modernismo da primeira fase um alto grau de radicalismo. Mário de
Andrade afirmou, a respeito da violência com que se processou a ruptura com o passado: "(...)
se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista. Isto é, o seu sentido
verdadeiramente específico. Porque, embora lançando inúmeros processos e idéias novas, o
movimento modernista foi essencialmente destruidor".

A "destruição" tinha como objetivo, em um primeiro momento, o rompimento com estéticas


passadas, especialmente a parnasiana. A figura do poeta parnasiano, comparado a uma
"máquina de fazer versos" no "Manifesto Antropófago" (1928) de Oswald de Andrade, foi
ridicularizada e atacada em inúmeros artigos e poemas, como Os Sapos, de Manuel Bandeira,
recitado por Ronald de Carvalho na segunda noite da Semana de Arte Moderna. Em oposição ao
rigor gramatical e ao preciosismo lingüístico parnasianos, os poetas modernistas valorizaram a
incorporação de gírias e de sintaxe irregular, e a aproximação da linguagem oral de vários
segmentos da sociedade brasileira, como se pode observar no poema Pronominais, de Oswald
de Andrade. Ainda no plano formal, o verso livre, a concisão e a objetividade são características
marcantes do movimento. No poema de Manuel Bandeira, Poética, estão expressas as principais
"palavras de ordem" da estética modernista.
1.1. Pré-modernismo

Sobre o “Pré-modernismo”, de acordo com Alfredo Bosi, o que se pode considerar de “‘Pré-
modernismo”, no século XX é “Tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematizava a
nossa realidade social e cultural”. Bosi faz uma abordagem sobre os escritores e suas obras:
Lima Barreto, Graça Aranha, Alberto torres, Oliveira Viana, Manuel Bonfim e em especial a
Euclides da Cunha, ao qual dedica um largo comentário, em torno de oito páginas sobre a
biografia e obra do escritor, dando ênfase a obra “Os Sertões”. Retrata, inclusive o pensamento
social do escritor. faz uma análise minuciosa da estrutura da obra, no sentido sintático,
semântico, sociológico, ideológico e histórico-geográfico. Pormenoriza as peculiaridades de
Euclides em nível cultural e científico. Segundo Alfredo Bosi “Os Sertões são obras de um
escritor comprometido com a natureza, com o homem e com a sociedade”. Portanto, “Os Sertões
são um livro de ciência e de paixão, de análise e de protesto”, ou seja, denuncia o crime que a
carnificina de Canudos representou.

Na página (314), Alfredo Bosi abre um parêntese para falar de um crítico independente:
João Ribeiro, que segundo o autor representa um grande crítico literário, filólogo e historiador,
tipo exemplar de humanista moderno; considerado o profeta do modernismo. De acordo com
Bosi (P.315), alguns escritores o consideravam como “O verdadeiro precursor do Modernismo de
1922”.

O romance social de Lima Barreto é outro enfoque que Alfredo Bosi comenta em seu livro,
ao qual ele dedicou nove páginas de sua obra (316 a 324). Faz uma abordagem completa da
biografia do autor, suas relações sociais e ideologias; destaque especial para obra “Triste Fim de
Policarpo Quaresma”, que segundo ele pode ser chamado de “Romance Social”.

A obra focaliza fatos históricos e políticos ocorridos durante a fase de instalação da


república, mais precisamente no governo de Floriano Peixoto (1891 - 1894). Seus ataques,
sempre escrachados, derramam-se para todos os lados significativos da sociedade que
contempla, a Primeira República, ou seja, as primeiras décadas desse regime aqui no Brasil.

Assim, segundo Bosi (p. 318), Lima Barreto encaixa-se no Pré-Modernismo (1902-22),
pois, respeita códigos literários antigos (principalmente o Naturalismo, conforme anteriormente
apontado), mas já apresenta uma linguagem nova, mais arejada em relação ao momento
anterior.

A descrição da sociedade é outro ponto forte de Lima Barreto, diz Bosi (p.319), pois
consegue muito bem criar personagens bastante significativas da classe média para baixo (daí
uma certa aproximação com o Naturalismo). Na presente obra criou-se uma galeria valiosíssima
de tipos sociais. Segundo Alfredo Bosi, podemos entender a obra como o desenvolvimento de
três grandes núcleos: o retrato da personagem (primeira parte), a situação da agricultura
(segunda parte) e o levante da Armada (terceira parte). O autor ainda faz alusão a outras obras,
mas não tão relevantes quanto “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.

1.2. Modernismo

Segundo Alfredo Bosi, o modernismo brasileiro, na sua fase heróica (1922-1930),


fundamenta-se numa proposta de ruptura com o academicismo e com as proposições artísticas
e temáticas precedentes. O rompimento começa a se configurar já na conferência de abertura da
Semana de Arte Moderna - A emoção estética na arte moderna - proferida por Graça Aranha,
quando questiona a associação da arte com o Belo: “Onde repousa o critério infalível do belo”;
ou já na noite seguinte, com Menotti del Picchia na conferência Arte Moderna. Bosi afirma que
Graça Aranha foi o único intelectual da velha guarda que realmente conseguiu passar da esfera
pré-modernista ao modernismo; e ainda, segundo ele “... nem tudo o que antecipa traços
modernos (Lobato, Lima Barreto) será moderno; e nem tudo o que foi modernista (o
decadentismo de Guilherme, de Menotti, de certo Oswaldo) parecerá, hoje, moderno” (P. 331).

Alfredo Bosi afirma que o Modernismo, como movimento ou como escola literária,
apresenta diferentes facetas. Não se pode caracterizá-lo de maneira única, na medida em que
havia grupos opostos que tentavam, cada qual, definir a arte moderna. No entanto, além da
ampla possibilidade temática e da valorização nacional, os modernistas buscaram renovar
esteticamente a arte, conferindo-lhe diversidade de ritmo e de criação:

“Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo

[e manifestações de apreço ao sr. Diretor”.

( Poética, Manuel Bandeira).

A obra literária de Alfredo Bosi, “História Concisa da Literatura Brasileira”, tem sido um
precioso livro de pesquisas na área de literatura, utilizado pelos os estudantes universitários e,
em especial o capítulo que aborda sobre os pressupostos históricos do surgimento da escola do
Modernismo no Brasil, o qual serviu de fonte de pesquisa para a produção desta resenha.

Perfil do autor
Possui graduação em Letras - Língua Portuguesa e Pós-Graduação em Metodologia do Ensino
Superior pela Universidade Federal do Amazonas (2006). Atualmente é professor - Secretaria
Municipal de Educação e Cultura de Manaus. Tem experiência na área de Educação, com
ênfase em Língua e Literatura Portuguesa

Impresso de http://www.artigonal.com/literatura-artigos/abordagens-da-obra-literaria-de-alfredo-
bosi-944141.html

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