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O Agronegócio no Brasil

A agropecuária brasileira é um bem gigantesco, um campo cheio de


oportunidades de investimento e desenvolvimento.
O Agronegócio no Brasil tem uma expressiva participação na economia do país e
representa aproximadamente 22,15% do PIB em 2012. Atualmente o país ocupa notável
posição mundial na produção agroindustrial.

Características e Diversidades
O Brasil é um país com vocação natural para o agronegócio devido às suas características
e diversidades, principalmente encontradas no clima favorável, no solo, na água, no relevo
e na luminosidade.
Com seus 8,5 milhões de km o Brasil é o país mais extenso da América do Sul e o quinto
do mundo com potencial de expansão de sua capacidade agrícola sem necessidade de
agredir o meio ambiente.
 O Agronegócio é atividade de capital intensivo.
 Exige máquinas e equipamentos;
 Insumos caros e sofisticados;
 Crescente emprego de tecnologia (agricultura precisão);
Condições favoráveis para o Agronegócio no Brasil
 Disponibilidade de terras agricultáveis
(atualmente apenas 7,3 % da área total é utilizada)
 Abundância de água
 Tecnologia de ponta
 Luminosidade
 Clima favorável
 Solo
Desafios a serem vencidos
 Infraestrutura e logística
 Legislação tributária complexa
 Recursos financeiros inadequados
 Gestão empresarial
 Mão de obra
 Concentração em grandes empresas

A Importância do Agronegócio no Brasil:


 Grande participação no Produto Interno Bruto
 Cria aproximadamente 37% de todos os empregos do país
 Responde por aproximadamente 39% das exportações
 Saldo comercial de aproximadamente 79 bilhões de dólares em 2012
 Aproximadamente 30% das terras brasileiras são utilizadas para
agropecuária
 Aproximadamente 61% do território ainda é coberto por matas originais
Nos últimos 20 anos, a área plantada com grãos cresceu 37% e produção,
mais de 176%.

Balança Comercial Brasileira


(US$ bilhões – FOB)
Saldo
Período Exportações Importações Saldo Geral
Agronegócio
2000 55,119 55,851 -0,732 14,811
2001 58,287 55,602 2,685 19,016
2002 60,439 47,243 13,196 20,347
2003 73,203 48,326 24,878 25,848
2004 96,677 62,836 33,842 34,134
2005 118,529 73,600 44,929 38,416
2006 137,807 91,351 46,457 42,727
2007 160,649 120,617 40,032 49,696
2008 197,942 172,985 24,958 57,714
2009 152,995 127,722 25,272 54,800
2010 201,915 181,768 20,147 63,000
2011 256,040 226,243 29,796 77,510
2012 242,580 223,142 19,438 79,408
2013 242,178 239,617 2,561 82,907
CONAB / Min. da Agricultura / Min. do
Fonte:
Desenvolvimento

A importância da atividade agropecuária para a economia e a sociedade.

O agronegócio, que atualmente recebe o nome de agrobusiness


(agronegócios em inglês), corresponde à junção de diversas atividades
produtivas que estão diretamente ligadas à produção e subprodução de
produtos derivados da agricultura e pecuária.

Quando se fala em agronegócio é comum associar somente a produção


in natura, como grãos e leite, por exemplo, no entanto esse segmento
produtivo é muito mais abrangente, pois existe um grande número de
participantes nesse processo.

O agronegócio deve ser entendido como um processo, na produção


agropecuária intensiva é utilizado uma série de tecnologias e
biotecnologias para alcançar níveis elevados de produtividade, para isso
é necessário que alguém ou uma empresa forneça tais elementos.

Diante disso, podemos citar vários setores da economia que faz parte do
agronegócio, como bancos que fornecem créditos, indústria de insumos
agrícolas (fertilizantes, herbicidas, inseticidas, sementes selecionadas
para plantio entre outros), indústria de tratores e peças, lojas veterinárias
e laboratórios que fornecem vacinas e rações para a pecuária de corte e
leiteira, isso na primeira etapa produtiva.

Posteriormente a esse processo são agregados novos integrantes do


agronegócio que correspondem às agroindústrias responsáveis pelo
processamento da matéria-prima oriunda da agropecuária.

A agroindústria realiza a transformação dos produtos primários da


agropecuária em subprodutos que podem inserir na produção de
alimentos, como os frigoríficos, indústria de enlatados, laticínios, indústria
de couro, biocombustíveis, produção têxtil entre muitos outros.

A produção agropecuária está diretamente ligada aos alimentos,


processados ou não, que fazem parte do nosso cotidiano, porém essa
produção é mais complexa, isso por que muitos dos itens que compõe
nossa vida são oriundos dessa atividade produtiva, madeira dos móveis,
as roupas de algodão, essência dos sabonetes e grande parte dos
remédios têm origem nos agronegócios.

A partir de 1970, o Brasil vivenciou um aumento no setor agroindustrial,


especialmente no processamento de café, soja, laranja e cana-de-açúcar
e também criação de animais, principais produtos da época.

A agroindústria, que corresponde à fusão entre a produção agropecuária


e a indústria, possui uma interdependência com relação a diversos ramos
da indústria, pois necessitam de embalagens, insumos agrícolas,
irrigação, máquinas e implementos.

Esse conjunto de interações dá à atividade alto grau de importância


econômica para o país, no ano de 1999 somente a agropecuária
respondeu por 9% do PIB do Brasil, entretanto, se enquadrarmos todas
as atividades (comercial, financeira e serviços envolvidos) ligadas ao
setor de agronegócios esse percentual se eleva de forma significativa
com a participação da agroindústria para aproximadamente 40% do PIB
total.

Esse processo também ocorre nos países centrais, nos quais a


agropecuária responde, em média, por 3% do Produto Interno Bruto
(PIB), mas os agronegócios ou agrobusiness representam um terço do
PIB. Essas características levam os líderes dos Estados Unidos e da
União Européia a conduzir sua produção agrícola de modo subsidiado
pelos seus respectivos governos, esses criam medidas protecionistas
(barreiras alfandegárias, impedimento de importação de produtos de
bens agrícolas) para preservar as atividades de seus produtores.

Em suma, o agronegócio ocupa um lugar de destaque na economia


mundial, principalmente nos países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, pois garante o sustento alimentar das pessoas e sua
manutenção, além disso, contribui para o crescimento da exportação e
do país que o executa.

. Na busca pelo desenvolvimento e lucro imediato, muitas empresas desrespeitam


as legislações ambientais e exploram o meio ambiente sem se importar com as
consequências dessa exploração, causando diversos problemas ambientais no
espaço agrário. Entre esses problemas, destacam-se:

 O Desmatamento é a primeira consequência da atividade agropecuária no Brasil.


Desde o início da colonização, grande parte das áreas de vegetação nativa do
litoral, região Sul e Centro-Oeste do Brasil foi desmatada para abrir espaço para
áreas de pastagem e cultivo. Em virtude desse crescente desmatamento, o
Cerrado e a Mata Atlântica já foram introduzidos na lista mundial de biomas com
grande diversidade que estão ameaçados de extinção (os chamados Hotspots),
existindo ainda a previsão do desaparecimento do Pantanal e da Amazônia nos
próximos anos caso sejam mantidos os mesmos índices de desmatamento nesses
biomas.
 Perda da biodiversidade: Com o desmatamento, muitas espécies da fauna e da
flora entram em extinção, pois não conseguem garantir a sua sobrevivência nas
pequenas reservas que restam de seu ecossistema.
 Degradação do solo: O desenvolvimento extensivo da agricultura tem causado a
degradação do solo, que acaba se tornando improdutivo ao longo do tempo,
gerando não só problemas ambientais, mas também problemas econômicos para
aqueles que o degradaram. As técnicas de cultivo inadequadas, o uso intensivo de
máquinas e a não rotatividade das culturas produzidas no solo podem ocasionar
oesgotamento dos nutrientes, compactação, erosão e aceleração
dadesertificação. Na pecuária, o pisoteamento contínuo do gado pode compactar
o solo e favorecer o desenvolvimento de processos erosivos.
 Esgotamento dos mananciais: em todo processo produtivo das atividades
relacionadas com o espaço agrário, utiliza-se grande quantidade de água. Para se
ter uma noção, na produção de milho, gastam-se 1750 litros por quilo produzido.
Já para a produção de carne no Brasil, gastam-se, em média, 4325 litros por quilo
de frango, 15.400 litros por quilo de carne bovina e 10.400 litros para cada quilo
de carne suína. A progressiva retirada de água de mananciais e de reservatórios
de águas subterrâneas por essas atividades pode acarretar a diminuição do
volume ou até mesmo o esgotamento de rios e lençóis freáticos.
 Contaminação do solo, ar e água. O uso indiscriminado de agrotóxicos,
fertilizantes e antibióticos tem causado a contaminação do ar, do solo e da água
no meio rural brasileiro. O agrotóxico, ao ser lançado nas plantações ou no pasto,
pode espalhar-se pelo ar, infiltrar-se no solo, atingir o lençol freático ou ser
levado pela água da chuva para os mananciais.
 Geração de resíduos: é cada vez maior a quantidade de resíduos gerados
durante a produção agropecuária no Brasil. Esse fato pode ocasionar problemas
no descarte desses materiais e, como resultado, contaminação ambiental, já que
muitos dos resíduos gerados, como potes de agrotóxicos e as fezes dos animais,
devem ter uma destinação especial.
Nos últimos anos, tem sido crescente o incentivo por práticas agrárias mais
conscientes e que haja um desenvolvimento sustentável do agronegócio no
Brasil. A sustentabilidade favorece não só o meio ambiente, mas também
aumenta a produtividade das empresas e diminui os gastos futuros. Pórem, ainda
é muito comum o desrespeito com as leis ambientais, já que, como a fiscalização
ainda é ineficiente, raramente se pune algum tipo de crime ambiental no país e,
quando isso acontece, na maioria dos casos, as punições são relativamente
brandas, as medidas de reparação exigidas não são postas em prática ou não
conseguem recuperar a área degradada.
Entenda como mudanças climáticas afetam o
agronegócio no Brasil
Foto: Shutterstock.

Discussão iniciada nas últimas duas décadas, a mudança climática toma cada vez mais a
atenção dos especialistas em agricultura devido às previsões nada otimistas para o futuro.
Um estudo do Banco Mundial aponta o aumento médio de temperatura superior a 2°C até
2050, abrindo caminho para a redução do potencial de irrigação, aumento da aridez do
solo e maior incidência de pragas e doenças. Esse cenário de grande desequilíbrio
agrícola alerta para perdas na produção e até mesmo para a migração de culturas de uma
região para outra.
O pesquisador do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à
Agricultura) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Hilton Silveira Pinto
participa de um grupo de análise das mudanças climáticas, responsável por projeções em
2002, 2008 e 2014, tendo como evolução das pesquisas o detalhamento das áreas de
cultivo no Brasil. No acompanhamento, a soja mostrou-se a cultura mais preocupante. "Se
nada for feito em relação ao manejo, desenvolvimento de variedade ou aplicação de
tecnologias, o primeiro impacto será sentido em 2020 com perda de 12,5% da área
produtiva devido ao aumento da temperatura e à deficiência hídrica." Café segue a
tendência de baixa na casa de 10% a 12%.
Para conter impactos, estudiosos de diversas entidades nacionais ligadas ao clima, meio
ambiente e agricultura têm proposto medidas que direcionam ao controle do
desmatamento, incentivo ao sistema de plantio direto, adoção de sistemas agroflorestais e
agrossilvipastoris, arborização nos cafezais e melhoramento genético.
O documento do Banco Mundial ainda mostra um rumo para a perda de solo com elevado
potencial agrícola em duas regiões. No Centro-Oeste e no Nordeste, a substituição de
pastagens pelo cultivo de grãos e cana-de-açúcar poderia compensar a estimativa de
perda de cerca da metade das terras cultiváveis e, especialmente, da produção de grãos
no Sul.
"No Centro-Oeste e no Nordeste, a substituição de pastagens pelo cultivo de grãos e cana-
de-açúcar poderia compensar a estimativa de perda de cerca da metade das terras
cultiváveis e, especialmente, da produção de grãos no Sul."
"Existe uma preocupação geral com eventos extremos, pois afetam qualquer cultura, e
com a incerteza sobre a incidência de chuva no Brasil. É preciso lembrar que fenômenos
são dinâmicos, não são mensurados com muita antecedência, mesmo com
supercomputadores e supermodelos", comenta Magda Lima, pesquisadora da Embrapa
Meio Ambiente (Jaguariúna, SP).
Melhoramento genético
Pesquisa em biotecnologia tende a entrar cada vez mais em pauta no agronegócio de
Norte a Sul do País. A busca de genes que aumentam a tolerância das plantas deve
resultar em variedades mais resistentes às mudanças climáticas. Porém, o melhoramento
genético tem uma tolerância biológica de até 2ºC de aumento. Se os termômetros subirem
mais do que isso, é necessário desenvolver uma nova espécie

A ofensiva do agronegócio
sobre as terras indígenas
por Rodrigo Martins — publicado 09/05/2013 09h54

Segundo a deputada, a pauta ruralista no Congresso visa


congelar as demarcações, deslegitimar a Funai e permitir o
avanço da mineração e da agropecuária sobre as aldeias

A deputada Janete Capiberibe durante cerimônia com os índios. Foto: Sizan


Esberci/Divulgação

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Quem são os donos da Terra?

'Situação de índios no Mato Grosso do Sul é vergonhosa'

Os conflitos fundiários envolvendo povos indígenas não dão sinais de


arrefecer, assim como o jogo político em torno da questão. Em protesto contra
a demarcação de terras feita pela Fundação Nacional do Índio (Funai), mais de
mil produtores rurais interromperam um discurso de Dilma Rousseff em Campo
Grande, na segunda-feira 29, aos brados: “Demarcação, não. Sim à produção”.
O episódio ocorreu uma semana após cerca de 700 índios de diversas etnias
ocuparem o plenário da Câmara na tentativa de impedir a tramitação da PEC
215, que transfere para o Congresso a decisão de homologar ou não as terras
indígenas.

Na prática, a medida congela a demarcação de novas reservas e ameaça as já


existentes, por causa da força do lobby do agronegócio no Parlamento, avalia a
deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), integrante da recém-criada Frente
Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas. “Há uma forte ofensiva
legislativa patrocinada pelo agronegócio”, alerta. Na entrevista abaixo, ela
elenca os principais projetos que ameaçam as terras indígenas, entre eles o
que prevê o arrendamento de aldeias para o agronegócio, e critica a postura de
seus colegas no Legislativo. “Eles se recusam a ouvir os índios ao avaliar
esses projetos.”

CartaCapital: O que representou a ocupação do Plenário da Câmara pelas


lideranças indígenas em 16 de abril?
Janete Capiberibe: A ocupação forçou a abertura de um canal de diálogo.
Além de motivar a criação da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos
Indígenas, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), teve de
ouvir as reclamações e propor um acordo. O deputado se comprometeu a só
instalar a comissão especial que vai avaliar a PEC 215 no segundo semestre.
Essa proposta transfere a decisão de homologar as demarcações de terras
indígenas para o Congresso, além de prever que os parlamentares ratificariam
as reservas já existentes. Ou seja, o Legislativo confirmaria ou não a posse
dessa terra pelos índios. Só que o lobby da bancada ruralista é muito forte na
Câmara. Uma medida como essa ameaça todas as reservas do País, novas ou
antigas. Os índios ocuparam o Parlamento para serem ouvidos, pois em
nenhum momento eles foram consultados sobre a possível mudança nas
regras das demarcações.

CC: Adianta simplesmente postergar o debate?


JC: Na verdade, houve outros avanços. Os líderes de oito partidos (PSB, PT,
PDT, PSDB, PSC, PSOL, PR e PCdoB) se comprometeram a não indicar
representantes para essa comissão especial da PEC 215. Sem essas
indicações, a comissão não pode ser instalada. É uma forma de evitar a
aprovação dessa emenda sem um debate mais amplo. Além disso, foi criado
um grupo de trabalho, com 10 lideranças indígenas e 10 deputados. Desses
parlamentares, metade é pró-indígena e a outra metade, ligada ao
agronegócio. O GT terá a missão de debater a proposta antes da instalação da
comissão propriamente dita que avaliará a PEC 215. Aliás, não somente essa
proposta, mas outros projetos de lei que ameaçam os índios. Há uma forte
ofensiva legislativa, patrocinada pelo agronegócio, sobre as terras indígenas.

CC: Que outras propostas ameaçam os índios?


JC: Há o Projeto de Lei 1610, de 1996, de autoria do senador Romero Jucá
(PMDB-RR), que permite a mineração privada em territórios indígenas
mediante o pagamento de royalties. Eu, inclusive, faço parte da comissão
parlamentar que avalia o tema, mas é muito forte a atuação dos parlamentares
anti-indígenas, ligados ao agronegócio ou à mineração. Eles são maioria no
Congresso. Trata-se de uma atividade econômica que provoca sérios impactos
ambientais e é bastante nociva para quem vive da floresta. Tem também a
PEC 237, de Nelson Padovani (PSC/PR), que prevê o arrendamento de terras
indígenas para o agronegócio.
CC: Mas se os índios arrendarem suas terras, vão fazer o quê?
JC: O risco é enorme. Eles podem ser forçados a migrar para os centros
urbanos, perder contato com sua cultura, seu modo de vida. A mineração
também é muito arriscada. Ela derruba tudo o que está por cima da terra. As
reservas indígenas que eles têm interesse de explorar estão na região
amazônica. Ou seja, o Congresso pode dar o aval para a derrubada da floresta,
ou mesmo do pouco que sobrou da Mata Atlântica. De que adianta pagar
royalties ou arrendamento? Os impactos serão gigantescos.

CC: Mas os índios aceitariam ceder suas terras?


JC: Acho muito difícil. O território para os povos indígenas tem um significado
muito maior do que o simples espaço geográfico. Tem ligação com sua própria
identidade, noção de pertencimento, práticas, tradições, cultura. Para uma
sociedade capitalista, a terra é apenas uma forma de produção, uma
mercadoria. Para os índios, é muito mais que isso. Recentemente, em protesto
contra as demarcações de terras feitas pela Funai, os ruralistas vaiaram a
presidenta Dilma Rousseff no Mato Grosso Sul. O estado é palco de dezenas
de conflitos fundiários envolvendo fazendeiros e os guaranis-kaiowá. Várias
lideranças indígenas foram assassinadas. Nos últimos 50 anos, o agronegócio
avançou sobre as suas terras de forma muito agressiva, e hoje eles estão
confinados em oito reservas com áreas entre 2,4 mil e 3,5 mil hectares. Estima-
se que 40 mil guaranis-kaiowá vivam em acampamentos espalhados pelo
País. Sem terra, os integrantes dessa etnia ameaçam cometer suicídio coletivo,
porque é inconcebível para eles não viver na terra de seus antepassados, de
seus ancestrais. E os parlamentares se recusam a ouvir os índios ao avaliar
todos esses projetos.
CC: Não houve consulta em nenhum dos casos?
JC: A convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual
o Brasil é signatário, garante o direito de consulta prévia às comunidades
indígenas e quilombolas antes de qualquer intervenção em seus territórios.
Mas a PEC 215 chegou a ser aprovada pela Comissão de Constituição e
Justiça antes de os índios serem ouvidos. A exemplo do ocorrido com a PEC
215, a relatoria da comissão que avalia a mineração em terras indígenas cria
obstáculos para fazer essa consulta. O projeto está praticamente pronto, mas
eu insisto num ponto: os deputados precisam percorrer as aldeias e perguntar
se os índios aprovam essa proposta. Só no meu estado, o Amapá, há 14 etnias
que podem sofrer as consequências nefastas desses projetos.
CC: O deputado Moreira Mendes (PSD-RO) diz ter coletado mais de 200
assinaturas para instalar uma CPI da Funai, questionando os critérios usados
nas demarcações de terra...
JC: Essa é apenas uma forma de desacreditar o trabalho da Funai, de
deslegitimar a demarcação das reservas. O agronegócio não aceita perder
espaço para os índios. Esse é o ponto

A ofensiva do agronegócio
sobre as terras indígenas
por Rodrigo Martins — publicado 09/05/2013 09h54

Segundo a deputada, a pauta ruralista no Congresso visa


congelar as demarcações, deslegitimar a Funai e permitir o
avanço da mineração e da agropecuária sobre as aldeias

A deputada Janete Capiberibe durante cerimônia com os índios. Foto: Sizan


Esberci/Divulgação

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Quem são os donos da Terra?

'Situação de índios no Mato Grosso do Sul é vergonhosa'

Os conflitos fundiários envolvendo povos indígenas não dão sinais de


arrefecer, assim como o jogo político em torno da questão. Em protesto contra
a demarcação de terras feita pela Fundação Nacional do Índio (Funai), mais de
mil produtores rurais interromperam um discurso de Dilma Rousseff em Campo
Grande, na segunda-feira 29, aos brados: “Demarcação, não. Sim à produção”.
O episódio ocorreu uma semana após cerca de 700 índios de diversas etnias
ocuparem o plenário da Câmara na tentativa de impedir a tramitação da PEC
215, que transfere para o Congresso a decisão de homologar ou não as terras
indígenas.

Na prática, a medida congela a demarcação de novas reservas e ameaça as já


existentes, por causa da força do lobby do agronegócio no Parlamento, avalia a
deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), integrante da recém-criada Frente
Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas. “Há uma forte ofensiva
legislativa patrocinada pelo agronegócio”, alerta. Na entrevista abaixo, ela
elenca os principais projetos que ameaçam as terras indígenas, entre eles o
que prevê o arrendamento de aldeias para o agronegócio, e critica a postura de
seus colegas no Legislativo. “Eles se recusam a ouvir os índios ao avaliar
esses projetos.”

CartaCapital: O que representou a ocupação do Plenário da Câmara pelas


lideranças indígenas em 16 de abril?
Janete Capiberibe: A ocupação forçou a abertura de um canal de diálogo.
Além de motivar a criação da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos
Indígenas, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), teve de
ouvir as reclamações e propor um acordo. O deputado se comprometeu a só
instalar a comissão especial que vai avaliar a PEC 215 no segundo semestre.
Essa proposta transfere a decisão de homologar as demarcações de terras
indígenas para o Congresso, além de prever que os parlamentares ratificariam
as reservas já existentes. Ou seja, o Legislativo confirmaria ou não a posse
dessa terra pelos índios. Só que o lobby da bancada ruralista é muito forte na
Câmara. Uma medida como essa ameaça todas as reservas do País, novas ou
antigas. Os índios ocuparam o Parlamento para serem ouvidos, pois em
nenhum momento eles foram consultados sobre a possível mudança nas
regras das demarcações.

CC: Adianta simplesmente postergar o debate?


JC: Na verdade, houve outros avanços. Os líderes de oito partidos (PSB, PT,
PDT, PSDB, PSC, PSOL, PR e PCdoB) se comprometeram a não indicar
representantes para essa comissão especial da PEC 215. Sem essas
indicações, a comissão não pode ser instalada. É uma forma de evitar a
aprovação dessa emenda sem um debate mais amplo. Além disso, foi criado
um grupo de trabalho, com 10 lideranças indígenas e 10 deputados. Desses
parlamentares, metade é pró-indígena e a outra metade, ligada ao
agronegócio. O GT terá a missão de debater a proposta antes da instalação da
comissão propriamente dita que avaliará a PEC 215. Aliás, não somente essa
proposta, mas outros projetos de lei que ameaçam os índios. Há uma forte
ofensiva legislativa, patrocinada pelo agronegócio, sobre as terras indígenas.

CC: Que outras propostas ameaçam os índios?


JC: Há o Projeto de Lei 1610, de 1996, de autoria do senador Romero Jucá
(PMDB-RR), que permite a mineração privada em territórios indígenas
mediante o pagamento de royalties. Eu, inclusive, faço parte da comissão
parlamentar que avalia o tema, mas é muito forte a atuação dos parlamentares
anti-indígenas, ligados ao agronegócio ou à mineração. Eles são maioria no
Congresso. Trata-se de uma atividade econômica que provoca sérios impactos
ambientais e é bastante nociva para quem vive da floresta. Tem também a
PEC 237, de Nelson Padovani (PSC/PR), que prevê o arrendamento de terras
indígenas para o agronegócio.
CC: Mas se os índios arrendarem suas terras, vão fazer o quê?
JC: O risco é enorme. Eles podem ser forçados a migrar para os centros
urbanos, perder contato com sua cultura, seu modo de vida. A mineração
também é muito arriscada. Ela derruba tudo o que está por cima da terra. As
reservas indígenas que eles têm interesse de explorar estão na região
amazônica. Ou seja, o Congresso pode dar o aval para a derrubada da floresta,
ou mesmo do pouco que sobrou da Mata Atlântica. De que adianta pagar
royalties ou arrendamento? Os impactos serão gigantescos.

CC: Mas os índios aceitariam ceder suas terras?


JC: Acho muito difícil. O território para os povos indígenas tem um significado
muito maior do que o simples espaço geográfico. Tem ligação com sua própria
identidade, noção de pertencimento, práticas, tradições, cultura. Para uma
sociedade capitalista, a terra é apenas uma forma de produção, uma
mercadoria. Para os índios, é muito mais que isso. Recentemente, em protesto
contra as demarcações de terras feitas pela Funai, os ruralistas vaiaram a
presidenta Dilma Rousseff no Mato Grosso Sul. O estado é palco de dezenas
de conflitos fundiários envolvendo fazendeiros e os guaranis-kaiowá. Várias
lideranças indígenas foram assassinadas. Nos últimos 50 anos, o agronegócio
avançou sobre as suas terras de forma muito agressiva, e hoje eles estão
confinados em oito reservas com áreas entre 2,4 mil e 3,5 mil hectares. Estima-
se que 40 mil guaranis-kaiowá vivam em acampamentos espalhados pelo
País. Sem terra, os integrantes dessa etnia ameaçam cometer suicídio coletivo,
porque é inconcebível para eles não viver na terra de seus antepassados, de
seus ancestrais. E os parlamentares se recusam a ouvir os índios ao avaliar
todos esses projetos.
CC: Não houve consulta em nenhum dos casos?
JC: A convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual
o Brasil é signatário, garante o direito de consulta prévia às comunidades
indígenas e quilombolas antes de qualquer intervenção em seus territórios.
Mas a PEC 215 chegou a ser aprovada pela Comissão de Constituição e
Justiça antes de os índios serem ouvidos. A exemplo do ocorrido com a PEC
215, a relatoria da comissão que avalia a mineração em terras indígenas cria
obstáculos para fazer essa consulta. O projeto está praticamente pronto, mas
eu insisto num ponto: os deputados precisam percorrer as aldeias e perguntar
se os índios aprovam essa proposta. Só no meu estado, o Amapá, há 14 etnias
que podem sofrer as consequências nefastas desses projetos.
CC: O deputado Moreira Mendes (PSD-RO) diz ter coletado mais de 200
assinaturas para instalar uma CPI da Funai, questionando os critérios usados
nas demarcações de terra...
JC: Essa é apenas uma forma de desacreditar o trabalho da Funai, de
deslegitimar a demarcação das reservas. O agronegócio não aceita perder
espaço para os índios. Esse é o ponto

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