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CONTEÚDO:
Introdução ................................................................................................................. 3
Necessidade X Obsolescência ................................................................................. 4
Conhecendo as limitações ........................................................................................ 6
Avaliando uso e necessidade ................................................................................... 7
Carregue menos! ...................................................................................................... 9
Não pense demais, use o disponível ...................................................................... 12
Conclusão ............................................................................................................... 14
SOBRE O AUTOR:
Eliseu Fiuza é fotógrafo de casamentos e família no Rio
de Janeiro. Com formação em música, traz do palco e
de suas muitas viagens todos os valores e o estilo que
se apresenta em sua fotografia. Tendo estudado dese-
nho, pintura e fotografia antes mesmo do trabalho mu-
sical, iniciou sua carreira de fotógrafo profissional em
2010. Hoje vive exclusivamente deste mercado, para
o qual contribui escrevendo para importantes blogs e
sites, especialmente sobre comportamento e reflexões
sobre a atividade fotográfica. Em 2015 faz parte do time
de palestrantes do Wedding Brasil, o maior congresso
de fotografia de casamento da América Latina.
Os textos e fotografias contidos neste material não podem ser reproduzidos sem autoriza-
ção prévia e expressa do autor.
Da esquerda para a direita: Canon EF 40mm 1:2.8 STM; Helios 44M-6 58mm 1:2.
Uma reflexão que tenho visto cada vez mais distante em nossos dias diz respeito
às necessidades de cada um. Muito se fala sobre o último lançamento, sobre a tecnologia
mais moderna e, principalmente, sobre o que vai no topo da mídia e da moda. “O que eu
realmente preciso?” Esta é uma pergunta crucial, mas tem se tornado cada vez mais dis-
tante. A obsolescência é uma coisa que afeta demais os fotógrafos. De um modo geral, eles
realmente acreditam que um determinado equipamento, especialmente se recém-lançado,
pode alavancar sua fotografia.
Uma outra questão é sobre equipamentos que não são os “tops” de cada fabricante.
Acredita-se que somente o equipamento mais caro, mais robusto ou com mais recursos
pode atender as necessidades de um fotógrafo sério.
Eu cresci com estas lentes (ou equivalentes). Elas fazem parte da minha história e
da construção do meu olhar. Quando se troca de equipamento de uma maneira muito rápi-
da, ou no ritmo absurdo que os fabricantes tentam impor, não conseguimos nos adaptar às
suas características e ficamos cada vez mais dependentes de upgrades para a satisfação
pessoal.
Esta foto foi feita em um dia chuvoso de março deste ano (2015), utilizando um speedlight
chinês (desses genéricos da Yongnuo), em modo manual e a lente Helios, montada através de
adaptador em uma Canon 5D clássica (MK I) de 2007, que foi levada como backup. Por razões de
segurança não costumo levar os equipamentos mais novos para ensaios, especialmente em condi-
ções tão adversas. Deste modo fico menos preocupado e sem cuidados demasiados.
O foco manual não atrapalha em nada no uso de uma lente quando você se acostuma. Na
verdade passa a te dar um controle e uma precisão até maior, visto que os anéis de foco destas
lentes antigas possuem um curso maior e mais preciso.
Desejar ter um bom equipamento não é errado. Devemos sim investir naquilo que
de melhor podemos ter. O erro, entretanto, está em acreditar que somente os equipamentos
mais caros, maiores, mais pesados e comentados poderão nos entregar bons resultados.
A foto acima é, para mim, uma das mais representativas da minha carreira. Foi minha
primeira foto a conquistar um prêmio importante na fotografia de casamento. Foi feita no início de
2012, com o único kit que eu tinha disponível: Uma Canon 5D clássica e uma lente Sigma 24-70mm
1:2.8 antiga. Quem já usou esta lente não a recomenda, dada a inconsistência de foco, a falta de
nitidez (especialmente periférica) e muitos outros aspectos negativos. Nunca gastei meu tempo
pensando no que não poderia realizar, mas no que poderia fazer para compensar as dificuldades e
realizar o trabalho que eu imaginava. Atitudes simples, como evitar as grandes aberturas e a gran-
de angular me garantiam fotos mais nítidas e menos erros.
Mais uma rara imagem que fiz com grande angular, utilizando a já citada 20-35mm. A lente
com quase 10 anos de uso ainda entrega boas fotos, como esta, que já foi escolhida pelos editores
da comunidade internacional de fotógrafos de casamento “My Wed”.
Lembro quando comecei a me interessar por fotografia nos anos 80. Prestava aten-
ção nos fotógrafos que cobriam eventos na igreja da qual eu fazia parte, incluindo o casa-
mento dos meus pais. Era uma lente de 50mm na câmera. Só. Haviam alguns mais moder-
ninhos, com suas lentes zoom, mas a pequena cinquentinha ainda era a mais comum.
Com o tempo o paradigma mudou. Parece que por um momento, realmente o tama-
nho era determinante para se obter maior qualidade, aberturas maiores, etc.
O KIT NINJA: Também o chamo de kit fantasma. Não consigo pensar em algo mais discre-
to, pelo menos não com uma DSLR Full-Frame. Mais de 90% de tudo que faço é com este peque-
no, porém eficiente kit.
É claro que muitos desistem, pois este pode ser um caminho mais exigente na con-
cepção das imagens. Ao limitar suas possibilidades, especialmente de distância focal, você
se exigirá muito mais em termos de movimentação, composição, criatividade e antecipa-
ção. Uma coisa eu posso garantir: é gratificante demais quando você passa a se obrigar a
pensar e se movimentar mais. Os resultados começam a ficar cada vez mais consistentes
e criativos. E tem mais: que maravilha é chegar em casa sem terríveis dores nas mãos,
pulsos e braços após dez horas de cobertura fotográfica! A fadiga é normal, mas aquela dor
terrível nunca mais!
Carregar menos coisas implica também em menor risco de perda e maior facilidade
de reposição caso um infortúnio ocorra. Hoje, eu carrego para os eventos as duas lentes
fixas preferidas e uma zoom, sendo duas delas mais para backup. Minha esposa carrega
basicamente o mesmo, sendo lentes diferentes das minhas, assim podemos revezar em
situações específicas demais, como fotografar um grupo muito grande onde não há recuo.
Dependendo da natureza do trabalho eu carrego ainda menos. Não acredito naquela histó-
ria de que o cliente/contratante quer ver você armado até os dentes para ter confiança em
seu trabalho. Meus clientes me contratam por minhas fotos. O que passar disso é folclore,
mitologia e sinceramente, não me interessa trabalhar para clientes que se preocupam com
isso.
Chegar perto sem chamar atenção é maravilhoso. Esta foto extremamente diferente e es-
pontânea me rendeu o segundo prêmio de 2014 na associação INSPIRATION PHOTOGRAPHERS.
Eu sempre aprendi, por exemplo, que a distância focal ideal para um retrato é de 70
a 100mm. Eu amo chegar perto com minha 40mm. E eu falo de chegar muito perto. Meus
clientes não esperam um retrato tecnicamente perfeito, um documento institucional livre de
distorções. Eles querem o que eu apresento. Eles querem a emoção, a luz, a diversão e a
criatividade. Minha mente fica livre dos preconceitos técnicos.
Faço questão de compartilhar esta história aqui pois me parece um bom exemplo.
Desconstrói alguns mitos. Para muitos fotógrafos, especialmente iniciantes, uma câmera
quase que de entrada, com sensor crop e uma lente zoom f/4 não são adequados para uma
fotografia que possa concorrer a um prêmio, muito menos ganhá-lo. Eu nunca pensei desse
jeito. Sempre acreditei que o elemento humano está acima de tudo de tudo isso.
*No sensor crop, os 24mm se aproximam muito do ângulo de visão dos 40mm que
costumo usar, por conta do fator de corte (crop factor) deste tipo de sensor. Recentemente,
uma lente pancake 24mm 1:2.8 também foi lançada pelo mesmo fabricante para as câme-
ras APS-C (sensor crop).
Olympus TRIP 35 e sua lente 40mm 2.8 Zenit 12XP equipada com a lente Helios 44M-6
No momento em que você descobrir o que é importante para você, para o seu olhar
e, principalmente o que te dá prazer, sua fotografia dará um grande salto, não importa o seu
nível.
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REALIZAÇÃO: APOIO:
ELISEU FIUZA
FOTOGRAFIA
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