Você está na página 1de 6

UC: Desenho e Artes Gráficas (Teoria e Prática na Europa Moderna) – Entrega 4

Docente: Sabina de Cavi – Discente: Ana Catarina Santiago Ferreira – Nº 2022129291


2º Ano de Licenciatura em História da Arte
Projeto para os altares no transepto na Abadia de Zwiefalten, c. 1740-50
Johann Michael Feichtmayr

Fig. 1
73 x 51.4 cm
Caneta e tinta cinzenta; lavagem cinzenta e cinzento azulado; grafite; linhas de enquadramento a
caneta e tinta preta
O desenho ornamental, arquitetónico e geométrico, parte de um sistema científico e técnico,
que vem treinar a bidimensionalidade e os corpos sólidos, onde se aplica o controlo das posições
e sombras dos objetos e elementos. Este género de desenho respeita a volumetria do corpo,
analisando-o geometricamente, numa perspetiva total, bastante valorizado na época do
Renascimento, por ser um desenho pensado através dos princípios da perspetiva linear. O desenho
ornamental foi divulgado pela restante Europa Ocidental dentro dos séc. XV e XVII, perdurando
até à atualidade.
Esta relação entre a estrutura e o revestimento arquitetónico foi também amplamente
discutida na história da ornamentação, nomeadamente na produção artística que se aplicava à
arquitetura gótica e barroca meridional, napolitana e no centro da Europa.
O desenho em análise é de autoria de Johann Michael Feichtmayr, um escultor e desenhista
alemão. A sua arte contribuiu para a decoração barroca ornamentada em várias Igrejas e edifícios,
como o caso da Abadia de Zwiefalten. As obras de Feichtmayr caracterizam-se sobretudo por
desenhos de estruturas e elementos que refletem a exuberância e o dinamismo do estilo barroco.
Esta obra de Feichtmayr é um desenho preparatório para a ornamentação que estaria presente num
dos altares transeptais da Abadia de Zwiefalten. Atualmente, maior parte da ornamentação do altar
é fiel ao projeto de Feichtmayr, apenas com algumas alterações, como notável nas Fig. 2 e 3.

Fig. 3

Fig. 2
Para expor esse mesmo projeto, de carácter arquitetónico e decorativo, o artista pegou em
várias técnicas do desenho, entre as quais a utilização da caneta e tinta cinzenta, um material cuja
cor é proveniente de uma reação química entre o ácido tânico, extraído de nozes de galha e de
sulfato de ferro, adicionada posteriormente a um aglutinante. Esta reação química pode ser
instável, por passar por várias fases de composição, sendo que quando está fresca, a tinta possui
um tom cinzento, que pode escurecer com o tempo.
Outro aspeto visível neste projeto, é a utilização da lavagem cinzenta através das pinceladas
mais largas, uma técnica que permite a transparência da tinta cinzenta da caneta, utilizada pelo
artista para obter as sombras dos elementos ornamentais, de um modo natural, como notável nos
colunelos, nos capitéis, nas esculturas dos anjos, e noutros elementos como as folhas de acanto
que revestem o altar transeptal da Abadia. No que diz respeito à lavagem cinzenta azulada, é
notável a sua utilização sobretudo no canto superior direito do desenho (Fig. 4), na ornamentação
vegetalista, nomeadamente composta por folhas de acanto.

Fig. 4
Um outro material utilizado neste desenho por Johann Michael Feichtmayr foi o grafite, um
material cristalino de carbono, que surge naturalmente nas rochas. Este material é composto por
partículas que produzem facilmente marcas no papel e que, muitas vezes, ao contacto com a luz,
se tornam brilhantes, uma qualidade que permite a distinção deste material com o giz preto. Aqui,
o artista escolheu utilizar este material para fazer certos detalhes mais pormenorizados e
minuciosos nos ornamentos e também alguns sombreados com tons mais escuros, de modo a
alcançar mais volume aos elementos.
O artista decidiu complementar o seu desenho, enquadrando-o numa espécie de moldura,
através das linhas finas a caneta e tinta preta, um material que produz marcas lineares fortes, sendo
o mesmo muito popular na Europa Central do séc. XVI.
Dado os aspetos analisados, pudemos referir que os desenhos ornamentais, nomeadamente
de carácter arquitetónico, eram maioritariamente utilizados para documentar a composição de um
determinado projeto. Assim, Feichtmayr desempenhou um papel significativo nesta formação
artística no sul da Alemanha durante o estilo barroco. Entre os projetos notáveis que se associam
ao artista, os de decoração de Igrejas e Abadias são os que mais se destacam, incluindo o projeto
que proporcionou o desenho em análise.
Bibliografia
CAVI, Sabina de; Dibujo y ornamento – Trazas y dibujos de artes decorativas entre Portugal,
España, Italia, Malta y Grecia; Diputación de Córdoba de Luca Editori d’Arte, 2013, pp. 22-23 e
pp. 29-30
MYERS, Mary L.; Architectural and Ornament Drawings: Juvarra, Vanvitelli, The Bebiena
Family, & Other Italian Draughtsmen; The Metropolitan Museum of Art (MET), 1975
WEEKS, Ursula, Techniques of Drawing from the 15th to 19th Centuries with illustrations from
the collection of drawings in the Ashmolean Museum, 1999, p. 6, pp. 27-28 e p. 32
Webgrafia
Zwiefalten, Zwiefalten Abbey, 2010, disponível em Zwiefalten | Two Travel Addicts
(wordpress.com), acedido a 01/12/2023
Design for the Transeptal Altars in the Klosterkirche Zwiefalten, The Metropolitan Museum
(MET), disponível em Johann Michael Feichtmayr | Design for the Transeptal Altars in the
Klosterkirche Zwiefalten | The Metropolitan Museum of Art (metmuseum.org), acedido a
27/11/2023
The Metropolitan Museum (MET); Graphite – How Graphite Drawings are made? – disponível
em Graphite | The Metropolitan Museum of Art (metmuseum.org), acedido a 01/12/2023

Você também pode gostar