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Ronaldo Bressane.
256 páginas.
Editora Reformatório.
Sem essa revolução formal e de conteúdo, Roberto Bolaño, por exemplo, não
teria metido a mão na narrativa policial para retratar a lógica perversa das ditaduras
latino-americanas. Compreender a opção de Bolaño (e de outros escritores latinos, como
o cubano Leonardo Padura ou o uruguaio Mario Levrero) pelo romance policial é
enxergar os elos que ligam sua narrativa à representação social do escritor e do
intelectual, e à relação da literatura com o poder e a violência, além do aprimoramento
do próprio gênero, criado por Edgar Allan Poe e seu detetive Auguste Dupin.
Esse esclarecimento chega inacabado (como tem que ser) e revela um continente
marcado por desigualdades sociais e regimes de exceção, onde seus heróis (e anti-
heróis) só encontram a salvação mediante o sexo, a fuga e as drogas, ainda que toda
tentativa de escapar descambe para o mesmo ponto. A chegada à “idílica” cidade de
Paraty encerra o “road book” (definido assim pelo próprio autor) e revela um paraíso
com surto de dengue e dominado por traficantes, para além dos cliques dos turistas e
dos outdoors das sofisticadas feiras literárias.