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Bernardo Ajzenberg.
192 páginas.
Editora Rocco.
Jorge Blikstein é um jornalista na casa dos trinta anos, que leva uma vida banal e
rotineira como editor-repórter de uma revista especializada na indústria dos transportes.
Silencioso, discreto, morno, sem amigos e quase recluso, mora em um apartamento estilo
“caixa de sapato”, cujas paredes logo se mostram incapazes de protegê-lo das invasões
sonoras do mundo exterior. É nesse contexto que o narrador se encontra; relutante em
lidar com a morte prematura da irmã Suzana, atropelada por um ônibus enquanto andava
de bicicleta. Prefere o imobilismo, a nostalgia, a margem, a quase nula vida social e sexual
(salvo a recorrência à masturbação).
Porém, já na primeira página, Jorge é surpreendido pelo barulho dos vizinhos (um
casal de franceses octogenários, Marcel e Rachelyne Durcan); nas páginas seguintes, por
suas histórias, charme, dicas e convites. Até que, aos poucos, começa a desenvolver com
esse casal uma estranha relação que voyeurismo e encantamento. Está montado o palco
para uma espécie de curto-circuito geracional que, em um primeiro momento, compara a
pasmaceira da vida de Jorge, com a energia colorida e cheia de movimento do casal de
velhinhos franceses (que parecem ter se banhado naquela piscina energizada do filme
“Cocoon”, de 1985, dirigido por Ron Howard).
Comparada a esse fingimento, a apatia que leva Jorge a viver à margem dos
sonhos, no máximo, à margem de seus fantasmas, é muito mais autêntica. Jorge é tão
fechado quando a ostra que intitula o romance, e talvez por isso relute tanto em comê-la.
Seria um gesto de autoconhecimento; autoconhecimento que encerraria em si mesmo a
ideia de luto. E o luto pelo qual passa o casal Durcan tem a ver com a vinda deles para o
Brasil e o fato de (segundo esclarecimento da nota do próprio autor) a personagem
Rachelyne Durcan ser livremente inspirada na vida da francesa Marceline Loridan-Ivens,
sobrevivente do campo de concentração de Birkenau-Auschwitz.
É aqui que o duplo diagnóstico de Ajzenberg se situa: jogar com a ideia do luto
como elaboração de uma perda irrecuperável (tanto no plano histórico quanto no
individual), e com a tese de que todas essas possíveis elaborações, com o tempo, podem
se transformar em adaptação ou esperança, em vez de se radicalizarem na melancolia, a
partir da qual o indivíduo passa a se sentir de algum modo culpado pela perda, fechando-
se em si mesmo, feito uma ostra. A chave para que isso não ocorra está na resiliência; em
Física, a capacidade que alguns corpos têm para retornar à forma original após terem sido
submetidos a uma deformação elástica; no romance de Ajzenberg, a lenta preparação para
o salto no abismo do mundo e de si mesmo, como forma de extração de um conhecimento
às avessas. Esse salto, segundo o autor, está ao alcance de todos nós, e pode começar com
uma simples mudança de hábitos.