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enzima e seu substrato, mas as enzimas não são rígidas

Enzimas como o modelo sugere.

O princípio básico – Estabilização do A hipótese do “ajuste induzido”


Enzimas são altamente flexíveis, moléculas
estado de transição
conformacionalmente dinâmicas, e muitas de suas
Em todas as reações químicas, os átomos reagentes ou
propriedades mais marcantes, incluindo a ligação do
moléculas passam através de um estado que é
substrato e catálise, são devido a sua flexibilidade
intermediário na estrutura entre o(s) reagente(s) e o(s)
estrutural. A capacidade de flexibilidade conformacional
produto(s). Considerando a transferência de um próton da
das proteínas levaram Daniel Koshland a levantar a
molécula de água para o ânion cloreto:
hipótese de que a ligação de um substrato (S) por uma
enzima é um processo interativo. Isto é, a forma do sítio
reagentes estado de transição produtos ativo da enzima é realmente modificado pela ligação de S,
num processo de reconhecimento dinâmico entre a
Na estrutura central, o próton está sendo transferindo e
enzima e o substrato chamado ajuste induzido. Na
está igualmente compartilhado pelos ânions hidroxila e
essência, a ligação de um substrato altera a conformação
cloreto. Esta estrutura representa, tão próximo como
da proteína, de maneira que a proteína o substrato “se
possível, a transição entre os reagentes e os produtos, e é
ajustam” mais precisamente. O processo é
conhecida como estado de transição1.
verdadeiramente interativo de maneira que a
Reações químicas nas quais um substrato (S) é convertido conformação do substrato também muda se adaptando a
a um produto (P) podem ser descritas como envolvendo conformação da enzima.
um estado de transição (que é indicado como X‡), uma
Esta idéia também ajuda a explicar algo sobre o enorme
espécie intermediária na estrutura entre S e P. O papel
poder catalítico das enzimas: na catálise enzimática, a
catalítico de uma enzima é reduzir a barreira energética
orientação precisa dos resíduos catalíticos que compõem
entre substrato e estado de transição. Isto é conseguido
o sítio ativo é necessária para a reação ocorrer; a ligação
através da formação de um complexo enzima-substrato
do substrato induz esta orientação precisa pelas
(ES). Este complexo é convertido ao produto passando
mudanças que causa na conformação da proteína.
através de um estado de transição, EX‡. Como mostrado, a
energia de EX‡ é claramente menor que X‡. Pode-se ser
tentado a concluir que este decréscimo na energia explica
Especificidade e reatividade
a aceleração na velocidade obtida pela enzima, mais há
Considere-se, por exemplo, porque a hexoquinase cataliza
mais coisas implicadas.
a fosforilação dependente de ATP de hexoses mas não
aceptores de grupos fosforil menores tais como glicerol,
etanol ou mesmo água. Certamente estes compostos
Hipótese da “chave e fechadura” menores não são estericamente proibidos de se
Estudos pioneiros sobre especificidade enzimática na
aproximarem do sítio ativo da hexoquinase. De fato, a
virada do século feitos pelo químico orgânico Emil Fischer
água pode penetrar o sítio ativo facilmente e serve como
levaram a noção da enzima como uma “fechadura” e seu
um aceptor de grupos fosforil altamente efetivo. A
substrato particular como a “chave”. Esta analogia
hexoquinase deveria mostrar alta atividade ATPásica. Mas
captura a essência da especificidade que existe entre uma
isto não ocorre. Somente a ligação de hexoses induz a
hexoquinase a assumir sua conformação totalmente ativa.

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É importante aqui distinguir estados de transição de “Ajuste induzido” e o estado de
intermediários. Um estado de transição é visto como uma
distorção extrema de uma ligação, e então o tempo de
transição intermediário
vida de um típico estado de transição é da ordem da O complexo cataliticamente ativo enzima:substrato é uma
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duração de uma vibração da ligação, tipicamente 10 estrutura interativa na qual a enzima faz com que o
seg. Intermediários, por outro lado, têm tempo de vida substrato adote uma forma que imita o intermediário da
-13 -3
mais longo, na faixa de 10 a 10 seg.

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reação. Assim, um substrato pobre deve ser aquele que genético sobre os níveis enzimáticos têm a
foi menos efetivo no direcionamento da formação da resposta-tempo de minutos em bactérias a horas
conformação otimamente ativa enzima:intermediário. (ou mais) em eucarióticos superiores.
Esta conformação ativa da molécula enzimática presume- 4- As enzimas podem ser reguladas por modificação
se ser relativamente instável na ausência do substrato e a covalente, a ligação covalente reversível de um
enzima livre então reverte a um estado grupo químico. Por exemplo, uma enzima
conformacionalmente diferente. totalmente ativa pode ser convertida na forma
inativa simplesmente pela ligação covalente de
um grupo funcional, tal como um fosforil.
Controle sobre a atividade Alternativamente, algumas enzimas existem no
enzimática estado inativo até que sejam especificamente
convertidas ao estado ativo através da adição
A atividade apresentada pelas enzimas é afetada por uma
covalente de um grupo funcional. Reações de
variedade de fatores, alguns dos quais são essenciais para
modificação covalentes são catalisadas por
a harmonia do metabolismo.
enzimas conversoras que são elas próprias
sujeitas a regulação metabólica.Embora a
modificação covalente represente uma alteração
1- A velocidade enzimática, v = d[P]/dt, diminui estável da enzima, uma enzima conversora
quando o produto se acumula e o equilíbrio é diferente opera para remover a modificação, de
alcançado. O aparente decréscimo na velocidade modo que, quando as condições que favoreciam
é devido a conversão de P em S pela reação a modificação da enzima não se encontram mais
reversa conforme [P] aumenta. Uma vez [P]/[S] = presentes, o processo pode ser revertido,
Keq, nenhuma reação posterior é aparente. Keq restaurando a enzima a seu estado não-
define o equilíbrio termodinâmico. As enzimas modificado. Muitos exemplos de modificação
não têm influência na termodinâmica de uma covalente em importantes junções metabólicas
reação. Além disso, a inibição de um produto são encontrados nas rotas metabólicas. Por
pode ser um fenômeno cineticamente válido: serem as modificações covalentes eventos
algumas enzimas são realmente inibidas pelos catalisados por enzimas, elas ocorrem muito
produtos de sua reação. rapidamente, com tempo-resposta de segundos
2- A disponibilidade dos substratos e cofatores ou mesmo menos ainda para significantes
determinará a velocidade da reação enzimática. mudanças na atividade metabólica. O Prêmio
Em geral, as enzimas têm evoluído tanto que Nobel de 1992 em fisiologia e medicina Edmond
seus valores de Km aproximadamente Fischer e Edwin Krebs foram agraciados por seus
prevalencem sobre concentração in vivo de seus estudos pioneiros de fosforilação protéica
substratos. (Também é verdade que a reversível como uma importante estratégia para
concentração de algumas enzimas nas células a regulação celular.
está dentro da faixa de uma ordem de magnitude 5- A atividade enzimática pode também ser ativada
ou mais da concentração de seus substratos.) ou inibida através de interação não covalente da
3- Há controles genéticos sobre a quantidade da enzima com pequenas moléculas (metabólitos)
enzima sintetizada (ou degradada) pelas células. que não sejam seu substrato. Esta forma de
Se o gene que codifica uma enzima particular é controle é denominada regulação alostérica,
ligado ou desligado, mudanças na quantidade da porque o ativador ou inibidor se liga a enzima em
atividade enzimática logo ocorrem. Indução, que sítio diferente (allo significa outro) do sítio ativo.
é a ativação da síntese enzimática e repressão, Além disso, tais reguladores alostéricos ou
que é a interrupção da síntese enzimática, são moléculas efetoras, são estericamente muito
importantes mecanismos para a regulação do diferentes do substrato. Por isso esta forma de
metabolismo. Controlando-se a quantidade de regulação que resulta simplesmente da ligação
uma enzima que está presente à qualquer reversível de ligantes regulatórios a enzima, tem
instante, as células podem também ativar ou
terminar várias rotas metabólicas. Controle

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a resposta-tempo celular quase virtualmente mantém juntos por causa de duas ligações dissulfeto, uma
instantânea. de A a B e uma de B a C. É interessante notar que a
6- Controles especializados: A regulação enzimática transformação do quimotripsinogênio inativo para a π-
é um ponto importante para as células e a quimotripsina requer a clivagem de somente uma ligação
evolução proveu uma variedade de opções peptídica em particular.
adicionais, incluindo zimogênios, isozimas e
proteínas moduladoras.

Zimogênios
A maior das proteínas se torna totalmente ativa quando
sua síntese é completa e espontaneamente se dobram em
sua conformação tridimensional nativa. Algumas
proteínas, no entanto, são sintetizadas como precursores
inativos, chamados zimogênios ou proenzimas, que
somente adquirem a atividade total sob clivagem
proteolítica específica de uma ou várias de suas ligações
peptídicas. Ao contrário da regulação alostérica ou
modificação covalente, a ativação de zimogênios por
proteólise específica é um processo irreversível. A
ativação das enzimas e outras proteínas fisiologicamente
importantes por proteólise específica é uma estratégia
freqüentemente explorada por sistemas biológicos para
ativar um processo no tempo e local apropriado, como
nos seguintes casos ilustrativos.

Insulina - Alguns hormônios protéicos são sintetizados na


forma de moléculas precursoras inativas, das quais os
hormônios ativos são produzidos por proteólise. Por
exemplo, insulina, um importante regulador metabólico,
é gerado por proteolítica excisão de um peptídeo
específico da proinsulina.

Enzimas proteolíticas do trato digestório - Enzimas do


trato digestório que servem para hidrolisar proteínas da
dieta são sintetizadas no estômago e pâncreas como
zimogênios. Somente sob ativação proteolítica estas
enzimas estão aptas a formar um sítio de ligação ao
substrato cataliticamente ativo. A ativação do
quimotripsinogênio é um exemplo interessante. O
quimotripsinogênio é uma cadeia polipeptídica de 245
resíduos interligada por cinco ligações dissulfeto. O
quimotripsinogênio é convertido a uma forma ativa
enzimaticamente chamada π-quimotripsina quando a
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tripsina cliva a ligação peptídica entre Arg e Ile . A
πquimotripsina enzimaticamente ativa age sobre outras
moléculas de π-quimotripsina retirando dois dipeptídeos,
Ser14-Arg15 e Thr147-Asn148. O produto final deste
processamento é a protease madura α-quimotripsina, na
qual as três cadeias peptídicas, A (resíduo 1 a 13), B
(resíduos 16 a 146) e C (resíduos 149 até 245) que se

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Fator X e culminam na formação do coágulo. A trombina
excisa peptídeos do fibrinogênio, ricos em cargas
negativas, convertendo-os em fibrina, uma molécula com
diferente distribuição superficial de cargas. A fibrina
prontamente agrega-os em fibras ordenadas que são
subseqüentemente estabilizadas por ligações covalentes
cruzadas. A trombina cliva especificamente ligações
peptídicas Arg-Gly e é homóloga a tripsina, que também é
uma serina protease (relembrando que a tripsina atua
somente em resíduos Arg e Lys).

Isozimas
Existem enzimas em mais de uma forma quaternária,
diferindo em suas proporções relativas de subunidades
polipeptídicas estruturalmente equivalentes mas
cataliticamente distintas. Um exemplo clássico é a lactato
desidrogenase de mamíferos (LDH), que existe como cinco
diferentes isozimas, dependendo da associação
tetramérica de suas duas diferentes subunidades: A4, A3B,
A2B2, AB3 e B4. As propriedades cinéticas das várias
isozimas LDH diferem em termos de suas afinidades
relativas para os vários substratos e sua sensitividade a
inibição pelo produto. Tecidos diferentes expressão
diferentes formas de isozimas, apropriadas a suas
necessidades metabólicas particulares. Pela regulação das
quantidade das subunidades A e B que sintetizam, as
células de vários tecidos controlam quais formas
isozímicas serão predominantes e então, quais
parâmetros cinéticos prevalecerão.

Proteínas moduladoras
São uma outra maneira das células mediarem a atividade
metabólica. Proteínas moduladoras são proteínas que se
ligam a enzimas e, através da ligação, influenciam a
atividade da enzima. Por exemplo, algumas enzimas, tais
como proteína quinase cAMP dependente, existe como
dímeros de subunidades catalíticas e subunidades
COAGULAÇÃO SANGUÍNEA – A formação dos coágulos
sanguíneos é o resultado de uma série de ativações de
zimogênios. A amplificação resultante desta cascata de
ativações enzimáticas permite a coagulação sanguínea
ocorrer rapidamente em resposta a uma injúria. Sete dos
fatores de coagulação em sua forma ativa são serina regulatórias. Estas subunidades regulatórias são proteínas
proteases: kalikreina, XIIa, XIa, IXa, VIIa, Xa e a trombina. moduladoras que suprimem a atividade das subunidades
Duas rotas para a formação dos coágulos sanguíneos catalíticas. A dissociação das subunidades regulatórias
existem. A via intrínseca é instigada quando o sangue tem (proteínas moduladoras) ativa as subunidades catalíticas e
contato físico causado por injúrias, com superfícies a reassociação novamente suprime a atividade. Inibidor 1
anormais; a via extrínseca é iniciada pelos fatores da fosfoproteína fosfatase (PPI-1) é outro exemplo de
liberados pelos tecidos lesionados. As vias se misturam no proteína moduladora. Quando PPI-1 é fosforilada em um
de seus resíduos serina, liga-se a fosfatase fosfoproteína,

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inibindo sua atividade fosfatase. O resultado é uma
aumentada fosforilação da enzima alvo interconversível
pelo ciclo proteína quinase/fosfoproteína fosfatase.
Onde um inibidor I, se liga reversivelmente a enzima no
mesmo sítio que S. A ligação a S e a ligação a I são
mutuamente excludentes, processo competitivo. A
formação do complexo ternário, EIS, onde ambos S e I
estão ligados, é fisicamente impossível. Esta condição
leva-nos a antecipar que S e I devem compartilhar um alto
grau de similaridade estrutural porque eles se ligam ao
mesmo sítio da enzima. Também note-se que, no nosso
Inibição modelo, EI não reage para dar origem a E + P. Isto é, I não
Inibidores enzimáticos são classificados de várias é modificado por interação com E. A velocidade da reação
maneiras. O inibidor pode interagir tanto reversível como de formação do produto é v = k2 [ES].
irreversivelmente com a enzima. Inibidores irreversíveis
interagem com a enzima através de reações não É revelador a comparação a equação para o caso não-
covalentes de associação/dissociação. Ao contrário, inibido, a Equação de Michaelis-Menten) com a equação
inibidores irreversíveis normalmente promovem para a velocidade da reação enzimática na presença de
alterações estáveis, covalentes, na enzima. Isto é, a uma concentração fixa de inibidor competitivo, [I]
consequência da inibição irreversível é um decréscimo na
concentração da enzima ativa. As cinéticas observadas são
consistentes com esta interpretação.

Inibição reversível
Inibidores reversíveis caem em duas categorias principais:
competitivos e não competitivos (embora outras O termo Km no denominador no caso inibido é aumentado
categorias não comuns sejam conhecidas). Inibidores pelo fator (1 + [I]/KI); então, v é menor na presença do
competitivos são caracterizados pelo fato que o substrato inibidor, como esperado. Claramente, na ausência de I, as
e o inibidor competem pelo mesmo sítio ligante na duas equações são idênticas.
enzima, o chamado sítio ativo ou sítio de ligação ao
substrato. Assim, aumentando a concentração de S há o
favorecimento da ligação de S a enzima ao invés do
inibidor, I. Isto é, maior [S] pode reverter os efeitos de I. O
outro tipo principal, inibição não-competitiva, não pode
ser revertido pelo aumento de [S}. Os dois tipos podem
ser distinguidos pelos padrões particulares obtidos
quando os dados cinéticos são analisados em gráficos
lineares, tais como duplo recíproco (Lineweaver-Burk).
Um formulação geral para interações inibitórias comuns
em nosso simples modelo cinético enzimático devem
incluir:
Várias características da inibição competitiva são
E+I EI e/ou I + ES IES
evidentes. Primeiro, a uma dada [I], v decresce (1/v
Isto é, serão consideradas aqui combinações reversíveis aumenta). Quando [S] se torna infinita, v = Vmax e não é
do inibidor com E e/ou ES. afetada por I porque toda a enzima está na forma ES.
Note que o valor do intercepto em x diminui com o
Inibição competitiva aumento de [I]. Este intercepto de x é denominado Km
Considere o seguinte sistema aparente porque é o Km aparente sob estas condições. O
critério diagnóstico para a inibição competitiva é que V max

5
não seja afetado por I; isto é, todas as linhas tem um Inibição não-competitiva mista
intercepto em y comum. Este critério é também a melhor Nesta situação a ligação de I por E influencia a ligação de S
indicação experimental para a ligação de duas substâncias por E. Ambos os sítios para I e S não próximos ou
ao mesmo sítio. Inibidores competitivos lembra S mudanças conformacionais em E causadas por I afetam a
estruturalmente. ligação de S. Neste caso, KI e KI’, como definidos
previamente, não são iguais, Ambos Km e Vmax são
Succinato desidrogenase – um exemplo clássico de alterados pela presença de I, e Km/Vmax não é constante.
inibição competitiva Este padrão inibitório é comumente encontrado. A
A enzima succinato desidrogenase (SDH) é explicação razoável é que o inibidor está ligado a um sítio
competitivamente inibida por malonato. A similaridade distinto do sítio ativo, mas influenciando a ligação de S ao
estrutural entre eles é óbvia e é a base da habilidade do sítio ativo.
malonato imitar o succinato e ligar-se ao sítio ativo da
SDH. No entanto, ao contrário do succinato que é oxidado
pela SDH para formar fumarato, o malonato não pode
perder dois hidrogênios, conseqüentemente, ele não
reage.

Inibição não-competitiva
Inibidores não competitivos interagem com ambos, E e ES
(ou com S e ES, mas este é um caso raro e especial).
Obviamente então, o inibidor não se liga ao mesmo sítio
que S, e a inibição não pode ser revertida pelo aumento
de [S]. Há dois tipos de inibição não competitiva: pura e
mista.

Inibição não-competitiva pura Provavelmente estes efeitos são transmitidos via


Nesta situação,a ligação de I por E não tem efeito na
alterações na conformação da proteína.
ligação de S por E. Isto é, S e I se ligam a diferentes sítios
de E e a ligação de I não afeta a ligação de S. Considere o Inibição irreversível
sistema Se o inibidor se combina irreversivelmente com a enzima,
por exemplo, por ligação covalente – o padrão cinético se
mostra como da inibição não-competitiva, porque o efeito
líquido é a diminuição da enzima ativa. Normalmente,
A inibição não-competitiva pura ocorre se KI = KI’. Esta este tido de inibição pode ser distinguido da inibição
situação é relativamente incomum; o gráfico de reversível não-competitiva uma vez que a reação de I com
Lineweaver-Burk para tal é dado a seguir. Note que Km E (e/ou ES) não é instantânea. Ao contrário, há uma
não é afetado por I (o intercepto em x permanece o diminuição da atividade enzimática tempo-dependente
mesmo, com ou sem I). Note também que Vmax diminui. conforme E + I → EI ocorre e a velocidade desta inativação
Um padrão similar é visto se a quantidade de enzima no pode ser acompanhada. Também, ao contrário das
experimento é diminuída. Então é como se I diminuísse inibições reversíveis, a diluição ou diálise da enzima não
[E]. dissocia o complexo EI e nem restaura a atividade
enzimática.

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Substratos suicidas – Inativadores enzimáticos
baseados no mecanismo
Substratos suicidas são substratos inibidores análogos
desenhados para que, via ação catalítica normal da
enzima, um grupo muito reativo seja gerado. Este grupo
reativo então forma uma ligação covalente com um
vizinho ao grupo funcional dentro do sítio ativo da enzima
causando a inibição irreversível. Substratos suicidas,
também chamados substratos “cavalos de Tróia”, são um
tipo de marcador de afinidade. Como análogo do
substrato, eles se ligam com especificidade e alta
afinidade ao sítio ativo da enzima; em sua forma reativa,
eles se ligam covalentemente a enzima. Esta ligação
covalente efetivamente marca um grupo funcional
particular dentro do sítio ativo, identificando o grupo
como tendo papel chave no ciclo catalítico da enzima.

Penicilina – um substrato suicida


Vários fármacos na medicina atual usam inativadores
enzimáticos baseados no mecanismo. Por exemplo, o
antibiótico penicilina exerce seus efeitos pela reação
covalente com um resíduo essencial de serina no sítio
ativo da glicoproteína peptidase, uma enzima que atua
para formar as ligações cruzadas das cadeias
peptideoglicanas durante a síntese das paredes celulares
bacterianas. Uma vez que a síntese da parede celular seja
bloqueada, as células bacterianas são mais susceptíveis a
ruptura por lise osmótica, e o crescimento bacteriano é
interrompido.

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Propriedades gerais das enzimas
Especificidade e regulatórias
regulação Enzimas tais como a enzima 1, que estão sujeitas a
retrorregulação, representam uma classe distinta das
enzimas, as enzimas regulatórias. Como uma classe, estas
Uma molécula de enzima é tipicamente ordens de
enzimas tem certas propriedades excepcionais:
magnitude maior que seu substrato. Seu sítio ativo
compraz somente uma pequena porção da estrutura total 1- Sua cinética não obedece a equação de Michaelis-
da enzima. O sítio ativo é parte da conformação da Menten. Seu gráfico v versus [S] é de curvas
molécula enzimática arranjada para criar um bolso sigmóides, em forma de S e não hipérboles
especial ou depressão em sua estrutura tridimensional retangulares. Tais curvas sugerem relação de segunda
que é complementar a estrutura do substrato. As ordem (ou maior) entre v e [S], isto é, v é
n
moléculas da enzima e do substrato “reconhecem” uma a proporcional a [S] , onde n > 1. Uma descrição
outra através de sua complementaridade estrutural. O qualitativa do mecanismo responsável pela curva
substrato se liga a enzima através de forças relativamente sigmóide é que a ligação de um S a molécula protéica
fracas – liganções de H, ligações iônicas (pontes salinas) e facilita adicionais moléculas de substratos se ligarem
interações de van der Waals entre conjuntos à mesma molécula protéica. No jargão da alosteria, a
estericamente complementares de átomos. Estudos de ligação do substrato é cooperativa.
especificidade das enzimas fazem um exame da
velocidade das reações enzimáticas obtidos com vários
análogos estruturais do substrato. Determinando-se que
grupo funcional e grupos estruturais dentro do substrato
afetam a ligação ou catálise, enzimologistas podem
mapear as propriedades do sítio ativo, analisando
questões tais como: Ele pode acomodar grupos
estericamente ocultos? As interações iônicas entre E e S
são importantes? Ligações de H são formadas? 2- A inibição de uma enzima regulatória por
retroalimentação não satisfaz nenhum padrão normal
de inibição, e o inibidor F tem muito pouca
Regulação alostérica da atividade similaridade estrutural a A, o substrato para a enzima
regulatória. F aparentemente atua em um sítio de
enzimática
ligação distinto do sítio de ligação ao substrato. O
A regulação alostérica atua para modular enzimas
termo alostérico é correto, porque F não é similar
situadas em etapas chave nas vias metabólicas.
estericamente e, mais ainda, atua em sítio diferente
Considere-se como uma ilustração a seguinte via, onde A
do sítio S. Este efeito é chamado inibição alostérica.
é o precursor para a formação de um produto final F
3- Enzimas regulatórias ou alostéricas como a enzima 1
numa sequência de cinco reações enzimaticamente
são, em alguns instantes, reguladas por ativação. Isto
catalisadas:
é, enquanto algumas moléculas efetoras tais como F
exercem efeitos negativos sobre a atividade
enzimática, outros efetores mostram influencias
estimulatórias ou positivas sobre a atividade.
Neste esquema, F simboliza um metabólito essencial, tal 4- Enzimas alostéricas tem organização oligomérica. Elas
como um aminoácido ou um nucleotídeo. Em tais são compostas por mais de uma cadeia polipeptídica
sistemas, F, o produto final essencial, inibe a enzyma 1, o (subunidade) e têm mais que um sítio de ligação ao
primeiro passo da via. Assim, quando suficiente F é substrato por molécula de enzima.
sintetizado, bloqueia sua posterior síntese. Este fenômeno 5- A hipótese levantada é que, de alguma maneira, a
é chamado inibição por feedback ou retroinibição. interação de uma enzima alostérica com efetores
altera a distribuição das possibilidades
conformacionais ou interações de subunidade

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disponíveis para a enzima. Isto é, os efeitos
regulatórios exercidos sobre a atividade enzimática
são alcançados por mudanças conformacionais que
ocorrem na proteína quando os metabólitos efetores
se ligam.

Além das enzimas, proteínas não catalíticas podem exibir


muitas destas propriedades; a hemoglobina é um exemplo
clássico. Dados estes parâmetros, considere o que acontece
quando S é adicionado a uma solução de proteína
alostérica em equilíbrio conformacional. Embora a [R 0]
Modelos para o comportamento relativa seja pequena, S se ligará somente a R0, formando
alostérico das proteínas R1. Isto depleta a concentração de R0, perturbando o
equilíbrio T0/R0. Para restaurar o equilíbrio, moléculas na
O modelo de simetria de Monod, conformação T0 se transformam em R0. Esta mudança
disponibiliza mais R0 disponível para se ligar a S, dando R1,
Wyman e Changeux e diminuindo [R0], perturbando o equilíbrio T0/R0 e assim
Em 1965, Monod, Wyman e Changeux propuseram um
por diante. Então, estes equilíbrios ligados são tais que a
modelo teórico de transições alostéricas baseado na
ligação de S no estado R0 da proteína alostérica perturba o
observação que as proteínas alostéricas são oligômeros.
equilíbrio T0/R0 com o resultado que a ligação do
Eles sugeriram que proteínas alostéricas podem existir em
substrato direciona a transição conformacional T0 → R0.
(pelo menos) dois estados conformacionais, denominados
R, relaxado, e T, tenso, e que, em cada molécula protéica,
todas as subunidades têm a mesma conformação (tanto R
como T). Isto é, a simetria molecular é conservada.
Moléculas de conformações mistas (tendo subunidades
de R e T) não são permitidas por este modelo.

Na ausência do ligante, os dois estados da proteína


alostérica estão em equilíbrio:

Note que o subscrito “0” significa “na ausência do Neste sistema simples, a cooperatividade é atingida
ligante”). A constante de equilíbrio é denominada L: porque cada subunidade tem um sítio ligante para S e
então, cada molécula protéica tem mais que um sítio
L = T0/R0. L é presumidamente grande, isto é, a ligante para S. Assim, o aumento na população dos
quantidade da proteína no estado conformacional T é confôrmeros R dá um aumento progressivo no número de
muito maior que a quantidade na conformação R. Vamos sítios disponíveis para S. A extensão da cooperatividade
supor que L = 104. depende da razão relativa T0/R0 e das afinidades relativas
de R e T por S. Se L é grande (isto é, o equilíbrio tende
As afinidades dos dois estados pelo substrato, S, são
fortemente em favor de T0) e se KT >> KR, como no
caracterizadas pelas respectivas constantes de
exemplo anterior, a cooperatividade é grande. Ligantes
dissociação, KR e KT. O modelo supõe que KT >> KR. Isto é, a
tais como S aqui que se ligam de maneira cooperativa,
afinidade de R0 por S é muito maior que a afinidade de T0
fazem com que a ligação de um equivalente aumente a
por S. Vamos escolher o extremo onde KR/KT = 0 (isto é, KT
ligação de equivalentes adicionais de S a mesma molécula
é infinitamente maior que KR). Com efeito, estamos
protéica e são denominados efetores homotrópicos
escolhendo condições onde S se liga somente a R (Se KT é
positivos (O prefixo homo indica que o ligante influencia a
infinito, T não se liga a S).
ligação de tais moléculas).

9
Efetivamente, a presença de A diminui o valor aparente
de L.

Figura 1- Modelo Monod-Wyman-Changeux. Gráficos de


efeitos alostéricos para um tetrâmero (n = 4) em termos de Y, a
função saturação, versus [S]. Y é definido como [sítios de Figura 2 - Uma proteína dimérica que pode existir em dois
ligação que estão ocupados pelo ligante]/[sítios de ligação estados R0 e T0. Esta proteína pode ligar 3 ligantes:
totais]. (a) gráfico de Y como função de [S], á vários valores de 1) Substrato (S): um efetor homotrópico positivo que se liga
L. (b) Y como função de [S], a diferentes c, odne c = K R/KT. somente a R no sítio S.
(quando c =0, KT é infinito). 2) Ativador (A): Um efetor heterotrópico positivo que se liga
somente a R no sítio F.
3) Inibidor (I): um efetor heterotrópico negativo que se liga
Efetores heterotrópicos somente a T no sítio F.
Este simples sistema também dá uma explicação para as
mais complexas respostas de ligação de substrato a Efetores negativos
efetores positivos e negativos. Efetores que influenciam a A situação contrária se aplica na presença de I, que se liga
ligação de outros ligantes além de si mesmos são somente a T. A ligação de I leva a um aumento na
chamados efetores heterotrópicos. Por exemplo, efetores população dos confôrmeros T, às expensas de R0. O
que promovem a ligação do substrato são denominados declínio na [R0] significa que este se liga menos para S ou
efetores heterotrópicos positivos ou ativadores A. Consequentemente, a presença de I aumenta a
alostéricos. Retroinibidores se encaixam nesta classe. cooperatividade (isto é, a sigmoicidade) da curva de
Considere uma proteína composta por duas subunidades, saturação pelo substrato. Como evidenciado pela
cada uma delas tem dois sítios ligantes: um para o mudança da curva para a direita. A presença de I aumenta
substrato, S, e um no qual os efetores se ligam, o sítio o valor aparente de L.
alostérico. Presuma que S se liga preferencialmente
(“somente”) ao confôrmero R, presuma agora que o Sistemas K e Sistemas V
efetor heterotrópico positivo A se liga ao sítio alostérico O modelo alostérico apresentado é chamado de sistema K
somente quando a proteína está na conformação R e que porque a concentração do substrado dá uma meia-
o efetor alostérico negativo I, se liga ao sítio alostérico velocidade máxima, definida como K0,5, muda como
somente se a proteína está na conformação T. Assim, com resposta aos efetores. Note que Vmax é constante neste
respeito a ligação ao sítio alostérico, A e I são sistema.
competitivos entre si.

Efetores positivos
Se A se liga a R0 formando a nova espécie R1(A), a
concentração relativa de R0 é dimiunída e o equilíbrio
T0/R0 é perturbado. Como conseqüência, uma transição
relativa T0 → R0 ocorre para restaurar o equilíbrio. O
efeito líquido é o aumento no número de confôrmeros R
na presença de A, significando que mais sítios de ligação
para S estão disponíveis. Por esta razão, A leva ao
Figura 3 - Efeitos de A:
decréscimo na cooperatividade da curva de saturação do A + R0 → R1(A)
substrato, como visto pela mudança da curva à esquerda. Aumenta o número de confôrmeros R mudando
para
Mais sítios de ligação de S estão disponíveis.

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Diminui a cooperatividade da curva de saturação do substrato. Mecanismos de ação enzimática
O efetor A diminui o valor aparente de L.
Efeitos de I:

Aumento no número de confôrmeros T (diminuição de R0


como R0 → T0 para restaurar o equilíbrio).
Então, I inibe a associação de S e A com R diminuindo o nível de
R0. I aumenta a cooperatividade da curva de saturação do
substrato. I aumenta o valor aparente de L.

Uma situação alostérica onde K0,5 é constante mas a


aparente Vmax muda em resposta aos efetores é chamada A barreira energética da reação não catalisada é
sistema V. Num sistema V, todos os gráficos v versus S são claramente a diferença nas energias do estado S e X ‡.
hiperbólicos ao invés de sigmóides. O efetor Similarmente, a barreira energética a ser diminuída na
heterotrópico positivo A ativa aumentando Vmax, reação catalisada pela enzima, presumindo-se que E está
enquanto I, o efetor heterotrópico negativo, a diminui. ‡
saturada com S, é a diferença energética entre ES e EX . A
Note que nem A nem I afetam K0,5. Esta situação surge se aceleração da velocidade por uma enzima significa
R e T têm a mesma afinidade pelo substrato S, mas simplesmente que a barreira energética entre ES e EX é

diferem em suas habilidades catalíticas e suas afinidades menor que a barreira energética entre S e X‡. Em termos
por A e I. A e I então podem mudar a distribuição T/R das energias livres de ativação, ΔGe‡ < ΔGu‡.
relativa. A Acetil-CoA carboxilase, a enzima que catalisa o
passo comprometido na via de biossíntese de ácidos
graxos, se comporta como um sistema V em resposta ao
seu ativador alostérico, citrato.

Sistemas K e sistemas V têm diferentes papéis


biológicos
Os sistemas K e V têm características que indicam que
trabalham melhor sob diferentes condições fisiológicas.
Enzimas de sistema K são adaptadas a condições nas quais
a concentração prevalecente do substrato é limitante da
velocidade, como quando [S] in vivo ≈ K0,5. De outro lado,
quando as condições fisiológicas são tais que [S] é
normalmente saturante para a enzima regulatória de
interesse, a enzima se comporta como sistema V para ter
uma resposta regulatória efetiva.

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