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curativos
na Atenção
Primária à
Saúde
70 p.: 1 PDF.
ISBN 978-85-7064-080-2
CDU 616-001
O48f
UNIDADE 1
Avaliação de lesões
em usuários da
Atenção Básica
Avaliação de lesões em usuários
da Atenção Básica
Prezados cursistas, nesta unidade, trataremos sobre o processo de avaliação de lesões em
usuários da atenção básica. Para tanto, conheceremos sobre o processo de cicatrização teci-
dual e sobre a avaliação de pele e mucosa.
Você já passou pela experiência de cicatrização alguma vez? Percebeu o tempo e as diferen-
tes fases que esse processo percorre?
O ponto de partida para entender como cuidar de feridas e curativos na Atenção Primária
à Saúde deve ser conhecer sobre o processo de cicatrização tecidual, não é mesmo?
Cicatrização consiste na cura de uma ferida por reparação ou regeneração dos tecidos afe-
tados evoluindo em fases distintas. Por isso, podemos afirmar que se trata de um processo
sistêmico, complexo, dinâmico e interativo que ocorre em três fases (BLANCK; BARROZO,
2009; CAMPOS et al., 2007), a saber:
Endotélio vascular e células Trombina ativa plaquetas, Produção de grande Processo de coagulação
sanguíneas circulantes são cofatores V e VIII, bem quantidade de trombina, é limitado para evitar
perturbados; e há interação como fator XI na superfí- formação de um tampão oclusão trombolítica ao
da FVIIa, derivada do plas- cie das plaquetas. estável no sítio da lesão redor das áreas íntegras
ma, com o FT. e interrupção da perda dos vasos.
sanguínea.
Também ocorre a migração dos fibroblastos para o local da lesão na qual se dividem e
produzem componentes da matriz extracelular, com a finalidade de promover a contração
da ferida, conforme você pode ver melhor na figura seguinte.
Na Figura 3, é possível ver uma lesão cujo leito apresenta predominância de tecido de gra-
nulação e que indica que a ferida se encontra na fase proliferativa da cicatrização. Também
é possível observar uma contração da lesão de forma centrípeta com redução do seu leito,
evidenciado pela borda de cor clara, sem pelos.
Que condições podem afetar um processo de cicatrização? E como devemos agir diante do
surgimento desses novos fatores?
Conhecer a influência desses fatores é importante para que sejam tomadas condutas ade-
quadas acerca das lesões apresentadas pelos usuários.
Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde
Avaliação de lesões em usuários da Atenção Básica 7
Vejamos que fatores são esses:
Agora, iremos discutir sobre os efeitos dos medicamentos sobre o processo de cicatrização
tecidual, conforme observamos no quadro a seguir:
Anticoagulantes,
• Inibe as ligações cruzadas do colágeno e acelera sua degradação.
Heparina.
Vasoconstritores,
• Hipóxia tissular devido à redução da microcirculação.
Nicotina, Cocaina, Adrenalina e Ergotamina.
Você pode estar se perguntando: quem são esses micro-organismos e como eles agem nas
feridas? Vamos conhecer os mais famosos agora.
A higienização das mãos, é um exemplo prática de precaução padrão universal que deve ser
adotada sempre antes e depois de manipular lesões e curativos dos usuários, em qualquer local
em que se realize o cuidado – domicílio, unidades de saúde, entre outros. Cuidados com a lim-
peza da lesão e a escolha de produtos e coberturas serão abordados mais adiante na Unidade 4.
Assim, sabendo que tais fatores influenciam na recuperação do usuário e oclusão de sua
lesão, entendemos que quando algumas das alterações citadas se fazem presentes, a cica-
trização pode se tornar mais demorada e é por isso que é preciso conhecer os tipos de
cicatrização. São elas (BLANCK; BARROZO, 2009; SANTOS et al., 2011; TAZIMA et al., 2008):
Após essa reflexão, para finalizar esta aula e verificar sua aprendizagem, observe a figura a
seguir em que se encontra um esquema resumido sobre o processo de cicatrização tecidual
(BRASIL, 2002):
Processo de Cicatrização
Reação imediata
Proliferação Granulação
Epitelização
Cursistas, aqui iniciamos a nossa Aula 2 da Unidade 1. Esta aula disporá sobre a avaliação de
pele e mucosas. O profissional de saúde da APS precisa atuar na avaliação e tratamento das
alterações de integridade e na saúde da pele e mucosas, preservando e favorecendo todas
as suas funções: estética, protetora, barreira, termorregulação e sensorial.
A pele é constituída por três camadas: epiderme, derme e hipoderme ou tela subcutâ-
nea. Trata-se do maior órgão sensorial humano, pois reveste toda a superfície corporal e
possui diversas funções: termorreguladora; serve como barreira protetora contra agressões
externas e ainda confere as sensações térmicas, táteis (pressão, vibração) e dolorosas; é
ainda capaz de excretar água, eletrólitos e ureia, e tem a função de metabolização por ser
o sítio de ativação da vitamina D, mediante exposição da pele aos raios UVB (GUIMARÃES
et al., 2016). As glândulas sebáceas presentes na pele secretam substâncias que agem como
lubrificante e emulsificante e formam o manto lipídico da superfície cutânea, conferindo
atividades antibacteriana e antifúngica (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
Essas múltiplas funções do revestimento cutâneo, somadas à sua extensão, conferem à pele
uma condição de importante interface com o meio externo (TEBCHERANI, 2014). Inúme-
ras alterações – como pressão, traumas mecânico, químico, físico e isquêmico e cirurgias
– podem acometer a integridade da estrutura da pele, resultando em solução de continuida-
de, denominadas como feridas (DEALEY, 2008).
A coloração do leito da ferida é um importante quesito a ser analisado. Para que você se
lembre sempre dessa informação, observe o infográfico a seguir, baseado em Irion (2012):
Pode significar três coisas: exsudato purulento (pus com textura espessa e
odor, sinalizando infecção); fibrina (produto final da cascata de coagulação
sanguínea que, junto com as plaquetas, forma trombos. Cria uma camada
endurecida de difícil remoção); crosta (tecido necrótico parcialmente solu-
bilizado com cor que varia de acinzentada até castanho-amarelada).
O odor é outra importante característica a ser avaliada. Embora as feridas saudáveis não
costumem apresentar odor, sua ausência não exclui a chance de ali existir infecção. Feridas
que abrigam grande quantidade de tecido necrótico por muito tempo apresentam um odor
pútrido associado a presença de tecido em decomposição. Um odor de frutas/doce associa-
do ao exsudato esverdeado costuma aparecer em infecções por Pseudomonas aeruginosa
(IRION, 2012).
A drenagem deve ser descrita em termos de volume e característica. Uma ferida cujo
leito encontra-se ressecado requer intervenções para aumentar sua umidade e, assim,
proporcionar a cicatrização tecidual. Dizemos que uma ferida apresenta secreção máxima
ou copiosa quando, ao removermos as coberturas, percebemos que as gazes estão
completamente molhadas pelo exsudato. Determinadas coberturas auxiliam na remoção do
excesso de exsudato e outros permitem que o meio esteja sempre úmido. Essas informações
você terá na Unidade 4. Algumas pessoas adotam o termo secreção e outras exsudato,
portanto, iremos esclarecer: por definição, transudato consiste em um líquido límpido
Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde
Avaliação de lesões em usuários da Atenção Básica 16
consistindo em água e pequenas partículas. Já o exsudato contém elementos maiores, como
células e proteínas (IRION, 2012).
Na figura do lado direito (segunda figura), o profissional mede a lesão posicionando uma
folha de acetato e, nessa, desenha o contorno da lesão. No desenho resultado, você deverá
traçar uma linha vertical e outra horizontal, tomando como referência os pontos mais exten-
sos do comprimento e da largura da ferida; com esses valores em centímetros calcula-se a
área da ferida (SAAR; LIMA, 2008).
E como podemos avaliar a extensão da lesão? Em feridas muito irregulares pode haver uma
estimativa exagerada da área verdadeira, por isso o profissional pode apenas reproduzir
esse desenho no prontuário para registrar e, assim, acompanhar a evolução do usuário. Já
existem hoje dispositivos transparentes com círculos ou elipses concêntricos, com núme-
ros impressos, indicando o raio ou diâmetro que fornecem uma noção da área da lesão.
Lembramos que dispositivos plásticos não estéreis podem ser colocados sobre a ferida para
medição, mas nunca em contato direto com ela pelo risco de infecção (IRION, 2012).
Coloração
Já que falamos sobre a pele circunvizinha, não podemos esquecer que avaliar suas bordas
é igualmente importante. Essas precisam ser analisadas quanto a sua hidratação, sinais de
lesão e aderência da margem ao leito da ferida. A falta de aderência pode ser caracterizada
pela formação de túneis ou trajetos fistulosos, bordas solapadas ou formação de bolsões.
Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde
Avaliação de lesões em usuários da Atenção Básica 18
Outro dado semiológico importante de ser investigado é a presença de dor, a qual pode
ser medida por meio de escalas. Quando a dor aumenta de intensidade de modo súbito e
acompanhada por odor e secreção, há indicativo de infecção.
E quais as condutas para as lesões nos membros inferiores? Quando as lesões aparecem nos
membros inferiores, devemos realizar algumas avaliações adicionais capazes de identificar
alterações arteriais, venosas ou linfáticas. Alguns desses exames requerem instrumentos
mais sofisticados enquanto outros podem ser realizados nos serviços de atenção primária,
os quais serão apresentados a seguir.
Um exame simples consiste em palpar as artérias dorsal do pé e tibial posterior para veri-
ficar se o pulso está presente nesses locais. Se houver disponibilidade de um estetoscópio
Doppler, esse pode ser utilizado para melhorar a sensibilidade do teste. Outra possibilidade
é a verificação do Índice Tornozelo Braquial (ITB) de cada membro a partir da verificação
da Pressão Arterial com auxílio de esfigmomanômetro e estetoscópio Doppler. Os valores
obtidos devem então ser aplicados na fórmula: ITB = (PASt / PASb), em que PASt repre-
senta a pressão arterial sistólica do tornozelo e PASb pressão arterial sistólica do braço
(KAWAMURA, 2008). Veja na imagem a seguir:
Os exames mencionados acima são importantes para avaliar alterações arteriais, mas tam-
bém faz necessário avaliar o risco ou a existência de insuficiência venosa. Ao realizar o exame
físico, o profissional deve ficar atento para a dilatação de vasos superficiais nos membros
inferiores e se esses apresentam trajetos tortuosos, pois podem indicar insuficiência venosa.
UNIDADE 2
Classificação
das lesões
Classificação das lesões
Prezado cursista, nesta unidade, abordaremos a classificação das lesões, entendendo os
diferentes aspectos a serem levados em consideração para classificá-las, além de enfatizar
as lesões por pressão.
As feridas podem ser classificadas quanto à causa, ao conteúdo microbiano, ao tipo de cica-
trização, ao grau de abertura e ao tempo de duração (SANTOS et al., 2011).
As lesões também podem ser classificadas quanto ao tipo de cicatrização (por primeira,
segunda ou terceira intenção), o que já foi discutido na aula anterior.
Quanto ao grau de abertura, como o próprio nome já indica, as feridas cujas bordas da pele
estão afastadas são consideradas abertas, e as com bordas da pele justapostas.
Como vimos anteriormente, as feridas ulcerativas podem ter diferentes etiologias e, para
entendermos melhor as características presentes em cada uma delas, você pode tomar
como base o quadro a seguir:
• Inspeção diária
• Elevação das
• Hidratação e pernas
lubrificação da
pele • Uso de meias • Controlar hiper-
com média com- tensão e diabetes • Controlar hiper- • Alívio periódico
• Monitoramento pressão
da sensibilidade • Elevar a cabeceira tensão, diabetes e de pressão
Prevenção obesidade
• Caminhadas da cama • Proteção de pro-
• Proteção na
Atividade da Vida • Exercícios para • Evitar • Reduzir fumo eminências ósseas
Diária (AVD) panturrilha traumatismos
Dor • Ausência de dor • Moderada • Aumenta com • Muito severa • Presente ou não
a elevação das
pernas
• Proeminências
• Perna ósseas
• Maléolo medial -Face pósterolá-
Localização • Superfície plan- • Calcanhar tero • 7 locais clássicos:
mais frequente tar • Terço distal da
• Dorso do pé e Sacral / Trocan-
perna -distal da perna
artelhos ters / Maléolos /
Calcâneos
• Borda circular
Assim, caro cursista, percebeu a diversidade de classificação das feridas? Por isso, é fun-
damental conhecer o aspecto de cada ferida com a finalidade de classificá-la e identificar a
melhor forma para tratá-la.
Quando caminhamos, mudamos de posição ou fazemos algum exercício físico que movi-
menta os membros inferiores, o músculo da panturrilha se contrai e comprime as veias
mais profundas, estimulando o fluxo sanguíneo em direção cefálica (DEALEY, 2008). Assim,
a chamada “bomba da panturrilha” usa a contração dos músculos da perna para bombear
sangue no sentido das extremidades para o coração, e as veias envolvidas neste mecanismo
possuem válvulas que garantem o fluxo unidirecional.
Fonte: <http://br.123rf.com/photo_14192059_desenho-para-mostrar
-a-a%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%BAsculo-da-panturrilha-no-bombeamento
-de-sangue-do-membro-inferior.html>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Na hipertensão venosa surge um baixo fluxo e baixa perfusão nos capilares e acredita-se
que isso promoveria uma agregação de eritrócitos e leucócitos nos capilares, ocasionando
uma isquemia local, ou seja, menor suprimento sanguíneo, de oxigênio e de nutrientes para
os tecidos próximos. Mediante tais alterações, são liberadas citocinas, enzimas proteolíticas
e radicais livres pelos leucócitos que acarretam danos aos vasos (ALDUNATE et al., 2010).
1
ele com necrose gordurosa, presença de fibrose na pele e tecido subcutâneo, resultando em
P
endurecimento e acúmulo de hemossiderina (IRION, 2012, p. 105).
As pessoas com úlceras venosas (UV) costumam ter antecedentes pessoais de trombose
venosa profunda, flebite e veias varicosas, o que nos mostra a importância de realizar uma
entrevista detalhada no momento da visita ou atendimento na UBS. Ao exame físico pode
ser observado, no membro afetado, pele de coloração marrom e de temperatura morna
ao toque, com veias varicosas e eczema, e ao avaliar os níveis pressóricos dos membros
superiores e inferiores, identifica-se um ITB menor que 0,9; existe também queixa de edema
que costuma piorar ao fim do dia (DEALEY, 2008).
Vejamos um exemplo:
Essas lesões surgem como resultado da inadequada perfusão tecidual nos membros infe-
riores, ocasionada por algum bloqueio no suprimento arterial para essas extremidades.
A causa mais comum para essa redução de perfusão é a arteriosclerose, na qual o acúmulo
de placas de gordura diminui a luz do vaso, com consequente isquemia para o tecido circun-
dante e, consequentemente, necrose tecidual (DEALEY, 2008).
Pessoas com úlceras arteriais costumam apresentar os seguintes sinais e sintomas ao exa-
me físico: dor intensa, principalmente ao deambular, aliviada com repouso ou quando as
pernas ficam soltas na posição sentada; pernas frias, com aparência lustrosa e sem pelos;
a coloração das pernas tende a esbranquiçar quando elevadas e a ficar azulada quando
pendentes; pulsos pediais reduzidos ou ausentes; unhas do pé grossas e opacas; ITB menor
que 0,9. Esse tipo de úlcera pode aparecer em qualquer local da perna, sendo mais frequen-
tes nos artelhos, calcâneos ou região lateral da perna, com aparência perfurante podendo
envolver comprometimento de tecidos mais profundos (DEALEY, 2008).
Vejamos um exemplo:
Esse tipo de lesão, inicialmente, não costuma ser tratada no contexto da atenção primá-
ria, tendo em vista que surge como consequência de acidentes e outras situações que
requerem cuidado agudo e, portanto, são tratadas em serviços de urgência e emergência.
Entre estas estão as causadas por acidentes com Projétil de Arma de Fogo (PAF), picadas de
animais peçonhentos, abrasões, fraturas e queimaduras.
Essas últimas são feridas traumáticas causadas por agentes térmicos, químicos, elétricos ou
radioativos (CARTAXO et al., 2014).
Existem ainda aquelas lesões intencionais, produzidas durante o ato cirúrgico, por exem-
plo, para remoção de um tecido, órgão, corpo estranho ou correção de complicações de
variadas patologias.
Vejamos um exemplo:
Fonte: <http://www.scielo.br/img/revistas/rcbc/v44n1//0100
-6991-rcbc-44-01-00081-gf4.gif>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Úlceras neuropáticas
Com isso, vemos que o mecanismo de surgimento dessas úlceras não é vascular, mas sim
mecânico (DEALEY, 2008). O conjunto de manifestações do chamado “pé diabético” será
detalhado na Unidade 3, na aula sobre Abordagem ao usuário com lesões nos membros
inferiores. Destaca-se também que as feridas classificadas como ulcerativas e ocasionadas
por pressão não serão detalhadas aqui, pois serão abordadas no conteúdo da próxima aula.
Vejamos um exemplo:
Fonte: <http://endocrinologiaelsalvador.com/wp-content/
uploads/2011/12/caso32.jpg>. Acesso em 15 dez. 2017.
Prezados, iremos dar início a mais uma aula do segundo módulo deste curso. Nesta aula,
versaremos sobre as lesões por pressão. Vamos conhecer um pouco mais desse universo
e relembrar nossa situação-problema?
A atuação da ESF envolve um cuidado que vai extrapolar os muros de uma unidade de
saúde e chega até o local onde vivem os usuários do Sistema Único de Saúde. Na situação
problema deste módulo, estamos acompanhando a história de duas pessoas que apre-
sentam diferentes lesões. Um deles, o Sr.Crispiniano, encontra-se acamado devido ao
agravamento de sua condição de saúde e, nesse ínterim, acabou por desenvolver uma lesão
ou úlcera por pressão.
E o que é ulcera por pressão? Úlcera por pressão consiste em “lesão localizada na pele e/ou
tecido subjacente, normalmente sobre uma proeminência óssea, que surge como resulta-
do da pressão ou de uma combinação entre esta e forças de torção” (NPUAP, 2014, p. 12).
Tais lesões também podem aparecer em decorrência do uso de dispositivos, como son-
das, sistema de drenagem, cateteres e equipos, por exemplo. A tolerância do tecido mole
à pressão e ao cisalhamento pode também ser afetada por microclima, nutrição, perfusão,
comorbidades e por sua condição (NPUAP, 2016). Veja, a seguir, a pressão exercida sobre a
pele e o surgimento de lesão por pressão.
Embora tal situação aumente as chances de se desenvolver lesões, é importante deixar claro
que úlcera por pressão não é sinônimo de Dermatite Associada à Incontinência (DAI), posto
que essa pode ser caracterizada pela presença de eritema e edema na superfície da pele,
por vezes, em conjunto com bolhas de exsudato seroso, erosão ou infecção cutânea secun-
dária (ALVES et al., 2016).
Caros cursistas, até aqui estamos nos reportando às Úlceras por Pressão (UPP), no entanto,
no ano de 2016, o termo “úlcera” foi substituído por “lesão” e sua classificação em estágios
também passou por algumas mudanças, elaboradas pelo National Pressure Ulcer Advisory
Panel (NPUAP). Para o NPUAP, a expressão “lesão” descreve de forma mais precisa esse
acometimento, pois se aplica tanto para a pele intacta como para a pele ulcerada. Na nova
proposta, na nomenclatura dos estágios, passam a ser empregados algarismos arábicos ao
invés dos romanos (NPUAP, 2016). A sigla ficou conhecida como LPP (Lesão por Pressão).
<http://www.segurancadopaciente.com.br/noticia/
muda-terminologia-para-ulcera-por-pressao-confira/>
<http://www.sobest.org.br/textod/35>
<http://www.npuap.org/national-pressure-ulcer-advisory-panel-
npuap-announces-a-change-in-terminology-from-pressure-ulcer-
to-pressure-injury-and-updates-the-stages-of-pressure-injury/>
Assim, considerada a definição exposta, percebemos que algumas áreas se encontram mais
susceptíveis ao desenvolvimento desse tipo de lesões. A figura a seguir destaca os pontos do
nosso corpo que sofrem mais pressão quando nos encontramos na posição dorsal, observem:
As figuras apresentadas nos dão uma ideia da profundidade e dos tecidos comprometidos
em lesões que se encontram em diferentes estágios. Elas causam dor e sofrimento nas
pessoas acometidas por esse agravo e podem aparecer como consequência de diversas
situações de saúde pela influência de alguns fatores intrínsecos, como: mobilidade reduzida
ou imobilidade devido a internações prolongadas ou lesões causadas por quedas; deficiên-
cia sensorial; doenças graves; alteração do nível de consciência; extremos de idade; história
prévia de LPP; doença vascular; desnutrição e desidratação.
Sobre esse último aspecto, é importante destacar que medicamentos interferem nesse
processo para que seu uso seja feito com maior cautela entre usuários que estão se recupe-
rando de LPP (para revisar, veja o conteúdo da Unidade 1 deste módulo).
<http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/03/
PROTOCOLO-ULCERA-POR-PRESS--O.pdf>.
<https://www.youtube.com/watch?v=4ZA37WcCNSQ>.
<http://www.npuap.org/wp-content/uploads/2016/04/Pressure-
Injury-Prevention-Points-2016.pdf>
Portanto, após assistir aos vídeos e fazer a leitura dos materiais complementares, é possível
perceber a importância da prevenção das lesões por pressão, objetivando promover a saú-
de e evitar prejuízos aos pacientes.
A seguir, apresentaremos a Escala de Braden para adultos, a qual é utilizada para identificar
o risco do paciente em desenvolver úlcera por pressão. Para tanto, segue a descrição de
algumas etapas.
Total de pontos
Fonte: <http://www.scielo.br/img/revistas/rbti/v22n2/
a12anx03.gif>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Prezados, estamos finalizando a Aula 2 e também mais uma unidade de estudos deste
curso, em que conhecemos mais acerca das lesões por pressão.
UNIDADE
Cuidados
3
preventivos e
multiprofissionais
na abordagem das
feridas na APS
Cuidados preventivos e multiprofissionais
na abordagem das feridas na APS
Caros alunos, nesta unidade, iremos conhecer acerca dos cuidados preventivos e multipro-
fissionais na abordagem das feridas na APS. Serão abordados o cuidado ao usuário com
lesões e as atribuições dos profissionais da APS, além da abordagem ao usuário com lesões
nos membros inferiores.
Vamos começar esta terceira unidade com a Aula 1 sobre o cuidado ao usuário com lesões
e as atribuições dos profissionais da APS. Sobre isso, você já se perguntou se existe um pro-
cedimento ideal de tratar as lesões?
O cuidado às pessoas com lesões tradicionalmente vem sendo desenvolvido pelos pro-
fissionais de Enfermagem, no entanto, nos últimos anos, tem se percebido que cuidados
multiprofissionais também são importantes para prevenir e tratar esse agravo, tendo em
vista que existem inúmeros aspectos a serem abordados, entre os quais podemos citar,
resumidamente: a avaliação da lesão; a prescrição e implementação do tratamento tópico
(enfermeiros); uma terapia nutricional favorável.
As recomendações para a prevenção de lesões por pressão, por exemplo, devem ser apli-
cadas a todos os indivíduos vulneráveis independente de sua idade. Todos os profissionais
de saúde envolvidos no cuidado de pessoas vulneráveis a desenvolver lesões por pressão
devem realizar seus cuidados, seja no âmbito domiciliar, ambulatorial, seja no hospitalar
(BRASIL, 2013).
• Fazer a previsão dos produtos utilizados para que seja feito o abas-
Enfermeiro
tecimento e reposição adequados à demanda da UBS
Assim, finalizamos a Aula 1 destacando o cuidado ao usuário com lesões. Podemos, inclusi-
ve, lembrar da nossa situação-problema. Na visita domiciliar agendada para a casa de Dona
Ednelza, serão possíveis duas avaliações de lesões: a da perna de Dorna Ednelza e a possível
LPP do Sr. Crispiniano. Portanto, os profissionais das equipes de saúde da família precisam
estar atentos para garantir a integralidade do cuidado.
Vamos iniciar mais uma aula desta unidade. Agora, vamos aprender mais sobre a aborda-
gem ao usuário com lesões nos membros inferiores.
Vamos relembrar sobre “pé diabético”? Usualmente, utilizamos o termo pé diabético para
designar a presença de infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos profundos associados
a anormalidades neurológicas e a vários graus de doença vascular periférica em pessoas
com Diabetes Mellitus (DM) (BRASIL, 2016).
De acordo com o Ministério da Saúde, o chamado “pé diabético” pode ser classificado con-
forme a causa base das alterações nos membros inferiores. Veja o infográfico a seguir para
mais detalhes.
As lesões plantares costumam surgir pela interação de diversos fatores que envolvem alte-
ração na biomecânica, perda ou redução da sensibilidade nos pés, insuficiência arterial,
tratamento inadequado (IRION, 2012). Assim, a neuropatia que afeta as pessoas com DM
pode ser sensitivo-motora ou autonômica. A primeira acarreta perda gradual da sensibilida-
de tátil e dolorosa, tornando os pés mais vulneráveis a traumas; a segunda envolve perda
do tônus vascular, redução da nutrição aos tecidos, anidrose – redução do suor – e assim,
ressecamento da pele com surgimento de fissuras e surgimento de porta de entrada para
infecções (CAIAFA et al., 2011).
Por isso, sempre que você visitar ou atender alguém com diabetes
é fundamental inspecionar os pés, independente da queixa, bem
como os calçados utilizados, questionando: Existem alterações nas
palmilhas? Há presença de secreção? Existem distorções no corpo
do calçado? Esses são questionamentos importantes a se fazer que
podem ser indicativos de alterações anatômicas.
Outro ponto de destaque é a artropatia ou “pé de Charcot”, uma série de alterações estru-
turais e vasculares comumente associadas ao diabetes. Caracteriza-se por osteoartropatia
múltipla progressiva com luxação articular, fraturas e deformidades. À inspeção, observa-se
a região plantar convexa e artelhos sem contato com o chão, conforme demonstrado na
figura a seguir. Essa situação aumenta o risco de ulceração na região plantar, a qual pode
evoluir para infecção, gangrena e amputação (IRION, 2012).
Veja na imagem a seguir uma comparação entre a estrutura do pé sem alterações e o “pé
de Charcot”.
Fonte: <https://www.emaze.com/@AWTWWZZC/
P%C3%89-DIAB%C3%89TICO>. Acesso em: 18 dez. 2017.
Além das alterações neuropáticas, também é importante que as pessoas com DM busquem
prevenir doenças cardiovasculares, tendo em vista que se configuram como causa de morte
em até 80% de diabéticos do tipo 2 (SCHAAN; MANDELLI, 2004).
Uma alteração vascular que acomete quase que exclusivamente os membros inferiores é a
Doença Arterial Periférica (DAP), termo usado para designar o envolvimento aterosclerótico
com redução da luz arterial e isquemia tecidual. A DAP pode ser assintomática, apresentar-
-se como claudicação intermitente, dor em repouso e dificuldade de cicatrização tecidual.
A claudicação intermitente – sintoma mais comum de DAP – é uma alteração na marcha
caracterizada por dor nas panturrilhas, coxas ou nádegas que ocorrem durante o exercício
de caminhada e aliviam com o repouso (SCHAAN; MANDELLI, 2004).
A associação entre neuropatia e ulceração dos pés aumenta o risco de gangrena e ampu-
tação de membros inferiores nesses pacientes (SCHAAN; MANDELLI, 2004). Considerando
a presença ou não de neuropatia, DAP e história de outras feridas, os usuários acometidos
por alterações nos membros inferiores podem ser classificados conforme quadro a seguir:
Lembramos que o cuidado ao usuário com tal agravo deve ir além de avaliações e cura-
tivos da lesão, mas também deve incluir controle da glicemia, hipertensão, obesidade,
dislipidemia, tabagismo, atividade física, alimentação, de modo a evitar complicações como
amputações, e promover qualidade de vida (CAIAFA et al., 2011). Por isso, é fundamental
organizar o acesso das pessoas com DM aos serviços de saúde para que possam, regular-
mente, ter avaliação global e também focalizada nas alterações das suas extremidades.
Lembramos que, de acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a identifi-
cação de indivíduos expostos a riscos e vulnerabilidades é uma atividade que faz parte do
processo de territorialização e mapeamento da área de atuação das equipes de atenção
básica (BRASIL, 2017). A equipe da ESF pode, por exemplo, manter uma planilha atualizada
com a data, dados das visitas, estado de saúde e resultado de exames dos indivíduos com
DM na comunidade, como maneira de acompanhar esses usuários e monitorar o retorno
aos serviços, facilitando a busca ativa quando ela se fizer necessária (BRASIL, 2016).
• Venoso
• Arterial
Exame Físico • Neuropática
• Mista
• Outras
• Biópsia
• Reconsiderar
Cicatrização Não cicatrizou
• Diagnóstico
• Opinião do Cirurgião
Compressão de suporte
Cursista, finalizamos esta aula, destacando a importância da prevenção das lesões nos
membros inferiores. Frisamos que, grande parte delas, são oriundas do “pé diabético” e que
o ideal é criar estratégias para a prevenção desses agravos, não é mesmo?
UNIDADE 4
Tratamento de
feridas na APS
Tratamento de Feridas na APS
Caros alunos, iremos iniciar a última unidade deste módulo. Esta unidade será composta
por duas aulas que abordarão os seguintes temas: materiais e técnicas mais indicadas para
limpeza e cobertura de feridas, e os recursos disponíveis na APS para tratar os usuários com
lesões. Vamos começar?
Prezados, ao tratarmos um usuário com lesões, é bom ter em mente qual o ambiente ideal
a ser mantido no local da ferida para que o processo cicatricial aconteça da melhor manei-
ra. Você já se perguntou qual é a melhor maneira de tratar as feridas no que se refere
a limpeza delas?
Sempre que você for trocar um curativo primário, ou seja, aquela cobertura que tem contato
direto com a lesão, é fundamental que proceda com a limpeza adequada do local para que
possa ser removido qualquer corpo estranho. Isso é, resíduo de produtos, fragmentos de
curativo anterior, exsudato da lesão ou sujidade que possa interferir na evolução natural da
reparação dos tecidos lesionados e na integridade das regiões circundantes (BRASIL, 2016).
Em áreas com tecido de granulação a limpeza deve ser feita com irrigação suave de soro
fisiológico a 0,9% de maneira a não danificar tecidos novos. Em feridas com tecidos inviá-
veis (esfacelo ou necrose seca), a limpeza deve ser feita com gaze embebida em soro para
promover a remoção de tecido desvitalizado.
Importante:
• não friccionar leito da ferida na presença de tecidos viáveis;
• umedecer curativo a ser removido, com SF a 0,9%, caso esteja aderido;
• orientar o paciente para não umedecer o curativo nem a ferida durante o banho.
Como você acabou de ver no algoritmo, a limpeza de uma lesão pode ser feita com técnica
estéril ou limpa. Na primeira, a limpeza é realizada por profissional de saúde competente
para isso – enfermeiro, técnico de enfermagem e/ou médico – utilizando material estéril
como solução fisiológica 0,9%, gaze estéril, luvas estéreis, podendo ainda usar pinças que
garantam maior segurança no procedimento. A técnica limpa é a empregada quando o
curativo é realizado no domicílio, pelo usuário e/ou familiar, utilizando material limpo, água
corrente ou soro fisiológico 0,9% e gazes.
Sobre as coberturas utilizadas para ocluir lesões, essas podem ser classificadas como cober-
turas passivas, interativas e bioativas. Como o próprio nome já indica, a cobertura passiva
é aquela que somente protege e cobre as feridas; as interativas proporcionam um micro-
ambiente ótimo para a cura; as bioativas resgatam ou estimulam a liberação de substâncias
durante o processo de cura.
Para escolher adequadamente o tipo de curativo ideal para cada usuário, é muito impor-
tante que você leia e estude atentamente o conteúdo da Unidade 1: Avaliação de lesões em
usuários da atenção básica. Mediante a realização de uma avaliação adequada do portador
da lesão, verifique a figura a seguir que sintetiza os critérios a serem considerados na esco-
lha da cobertura ideal.
Sim
Com essa figura podemos ver que é fundamental avaliar a presença, quantidade e aspecto
de exsudato, se há contaminação no local, tamanho e profundidade das lesões, bem como
as condições gerais de saúde do usuário, pois todas essas informações irão lhe ajudar na
escolha do tratamento adequado de acordo com sua finalidade. Sendo assim, o tratamento
deve considerar também os recursos disponíveis no local que você atua, bem como se o
usuário tem condições de adquirir algum deles, caso o serviço não disponha, pois, os custos
podem variar bastante e impactar no orçamento doméstico.
Curativo Indicação
Indicado para lesões pouco úmidas e de média exsudação, com tecido inviável
(necrose e esfacelo); estimula granulação e epitelização a partir do meio úmido.
Hidrogéis
Promove o ambiente úmido ideal para a cicatrização por intermédio da hidratação da
ferida. Conduz ao desbridamento autolítico ou facilita o desbridamento mecânico.
Indicada para queimaduras e lesões infectadas ou com tecido necrótico. O íon prata
Sulfadiazina causa precipitação de proteínas e age diretamente na membrana citoplasmática da
de prata célula bacteriana, exercendo ação bactericida imediata e ação bacteriostática residual
pela liberação de pequenas quantidades de prata iônica (BRASIL, 2011b).
Algumas pessoas podem apresentar lesões com áreas de tecido necrosado que não melho-
ram mesmo aplicando diferentes técnicas e produtos no local. Sabe-se que a presença de
necrose compromete a cicatrização e, para auxiliar nesse processo, os profissionais preci-
sam lançar mão da técnica do desbridamento que, de modo geral, significa a remoção de
tecido desvitalizado. Cabe ao enfermeiro e/ou ao médico escolher o melhor método, desde
que respeitada a legislação de cada profissão. Atualmente, entende-se que existem dife-
rentes formas de se desbridar uma ferida e, para deixamos claro, serão descritas a seguir o
entendimento do Conselho Federal de Enfermagem sobre cada técnica de desbridamento
(COFEn, 2015).
Lembramos que, embora o método mecânico seja o que remove o tecido necrosado mais
rapidamente, nem todos os profissionais podem realizá-lo. De acordo com a Resolução
COFEn nº501/2015, é de competência do enfermeiro executar o desbridamento autolítico,
instrumental, químico e mecânico. Quanto ao método cirúrgico, somente o médico tem
competência técnica e legal para a sua execução. É importante destacar que o excessivo
desbridamento pode resultar em uma reinstalação do processo inflamatório, bem como em
piora na ferida e complicações graves.
Assim, finalizamos essa Aula 1, que destacou a limpeza e cobertura de feridas: materiais e
técnicas mais indicados. É válido salientar que existem outras técnicas, mas, aqui, procura-
mos destacar as mais utilizadas. Na próxima aula, abordaremos os recursos disponíveis na
APS para tratar os usuários com lesões. Vamos lá?
Agora daremos início à nossa última aula deste curso, a qual versará sobre os recursos
disponíveis na APS para tratar os usuários com lesões.
Cuidar de feridas é algo comum nos serviços de atenção primária, por isso é importante que
o profissional atuante nesses locais saiba avaliar corretamente o usuário para traçar um
plano de cuidados adequado a cada caso, desenvolvendo na UBS ou no domicílio todos os
cuidados possíveis e encaminhando para serviços de outros níveis de complexidade quando
se faz necessário.
No Sistema Único de Saúde (SUS), o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de
saúde se encontra ordenado pela Atenção Primária conforme consta nos artigos 9 e 11 do
Decreto Presidencial nº 7.508/2011. Essa decisão impõe grandes desafios diante dos dife-
renciais de poder entre os serviços de atenção básica e os de média e alta complexidade.
O referido decreto criou uma Rede Nacional de Serviços de Saúde (RENASS) a qual define
como portas de entrada no SUS “os serviços de atenção primária, urgência e emergência,
atenção psicossocial e os serviços especiais de acesso aberto” (SOLLA; PAIM, 2014, p. 343).
Muitos desses usuários procuram as UBS como porta de entrada do SUS ou nelas são
acompanhados após atendimento de alta complexidade, o que confere à atenção primá-
ria maiores capacidade e responsabilidade para assistência ao portador de lesões da pele
(SANTOS et al., 2014).
Para atender a tais demandas, o Ministério da Saúde publicou, no ano de 2011, o Caderno de
Atenção Primária nº 30 “Procedimentos”, o qual aborda alguns procedimentos que podem
ser realizados nas UBS, de forma eletiva ou durante o atendimento à demanda espontânea,
elencando os insumos que devem estar presentes em todas as unidades para realizar tais
atendimentos com qualidade (BRASIL, 2011b).
Esse mesmo caderno lista o material que deve ser disponibilizado em cada UBS para rea-
lização dos mais diversos procedimentos passíveis de serem realizados nesses serviços.
Para a limpeza e troca de curativos, as UBS devem dispor de: seringas; agulhas; swab de
cultura, se necessário; soro fisiológico para limpeza da ferida; antissépticos como solução
de iodopovidina ou clorexidina (para limpeza da pele íntegra ao redor de uma ferida ou
antissepsia do local que será incisionado); gaze; atadura; esparadrapo; coberturas primá-
rias: hidrocoloide; ácido graxo essencial; alginato de cálcio; sulfadiazina de prata.
É muito importante que você, profissional atuante em unidades básicas com ou sem ESF e
em outros serviços desse nível de atenção, tenha conhecimento da existência do Caderno
de Atenção Primária nº 30, pois, ao agregar novos conhecimentos, estará instrumentalizado
para o melhor atendimento da população e realização de procedimentos, ajudando a evitar
estrangulamento dos serviços dos outros níveis de atenção e, com isso, contribuir para o
aumento da resolutividade da Atenção Primária à Saúde (APS).
E como realizar a busca ativa? A busca ativa pode ser feita pela equipe multiprofissional
durante as visitas domiciliares, ou na Unidade Básica de Saúde, quando o usuário a procura
por outros motivos, aproveitando-se a ocasião para acompanhar seu estado de saúde.
Nesse sentido, é essencial que todos possam ser avaliados e acompanhados de maneira global,
tendo em vista que a saúde é influenciada por diversos fatores individuais, como também
externos ao indivíduo, que podem configurar riscos e/ou desencadear as complicações ao
seu estado. Tudo aquilo que é identificado durante as visitas ou atendimentos na UBS deve
ser considerado no planejamento das ações para que o cuidado prestado seja capaz de
sanar as demandas específicas de cada realidade (BRASIL, 2016).
Além do cuidado realizado pela ESF, não podemos esquecer o trabalho das Equipes
Multiprofissionais de Atenção Domiciliar (EMAD) definidas, de acordo com a RDC nº11/2006
da ANVISA, como equipe técnica responsável pela atenção domiciliar, com a função de prestar
assistência clínico-terapêutica e psicossocial ao usuário em seu domicílio (ANVISA, 2006).
A Atenção Domiciliar (AD) constitui-se como uma “ modalidade de atenção à saúde integrada
às Rede de Atenção à Saúde (RAS), caracterizada por um conjunto de ações de prevenção
e tratamento de doenças, reabilitação, paliação e promoção à saúde, prestadas em
domicílio, garantindo continuidade de cuidados” (BRASIL, 2016). Trata-se de uma forma de
Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde
Tratamento de feridas na APS 63
reorganização do processo de trabalho das equipes que prestam cuidado domiciliar na
atenção básica, ambulatorial e hospitalar, com vistas à redução da demanda por atendimento
hospitalar e/ou redução do período de permanência de usuários internados, à humanização
da atenção, à desinstitucionalização e à ampliação da autonomia dos usuários.
Não podemos deixar de mencionar que a própria Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)
afirma que, é parte do processo de trabalho de suas equipes,
FINALIZANDO...
Com esse módulo, esperamos que você tenha aprendido (ou revisado) assuntos que consi-
deramos fundamentais para cuidar de pessoas acometidas pelos diversos tipos de feridas
atendidas nos serviços de APS.
É preciso lembrar que os serviços da APS estão relacionados a uma ampla rede de atenção
pela qual o usuário com feridas – foco deste módulo – deve caminhar por meio do sistema
de referência e contrarreferência para que seja garantida a integralidade do cuidado.
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