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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

Faculdade de Ciências Sociais

Curso: Ciências Sociais

Turma: MA-4

Trabalho de Métodos e Técnicas de Pesquisa II

Marco Antonio Cardoso da Silva

Relatório Parcial de Pesquisa

São Paulo

2013
Trabalho realizado com o objetivo de obtenção de nota na disciplina de Métodos e Técnicas
de Pesquisa II, do Curso de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, ministrada pela Professora Doutora Carla Cristina Garcia, no segundo semestre de
2013.
Sumário
Introdução ..................................................................................................................... 4

Capítulo 1 – A Relevância do Campo Literário ...... Erro! Indicador não definido.5

Capítulo 2 – A Internet e o Campo Editorial Virtual................................................ 9

Referências Bibliográficas .......................................................................................... 100

Bibliografia Geral ....................................................................................................... 111


Introdução
O objetivo desta pesquisa é realizar uma análise em profundidade do romance de
literatura fantástica A Batalha do Apocalipse do autor brasileiro Eduardo Spohr. Para isso,
será abordada a visão da estética de Pierre Bourdieu e suas considerações a respeito da relação
entre os gostos e a classe dos indivíduos, assim como as perspectivas de Theodor Adorno e
Walter Benjamin sobre o papel do narrador na confecção do formato do romance, tendo em
vista a sua ampla aceitação pelo público brasileiro e internacional, estando ele na lista dos
vinte livros mais vendidos do Brasil e tendo seus direitos vendidos a outros países. Unido à
analise da obra, outro objetivo é entender a relevância do campo editorial na internet, tendo
em vista que a disseminação da obra ocorreu primariamente através das mídias sociais.

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Capítulo 1 – A Relevância do Campo Literário

Podemos ver através da obra de Pierre Bourdieu que o campo literário, assim como
qualquer outro campo, é uma disputa em ter ou não sua obra publicada por uma editora
reconhecida. Esse campo é pautado pelo domínio do capital simbólico como um princípio de
reconhecimento, então nos é necessário descobrir a origem desse princípio, pois o sucesso
comercial não é suficiente para garantir a legitimidade de um autor.

Uma obra pretende mostrar seu conteúdo de forma a sugerir a realidade. Esta é uma
posição mostrada por Theodor Adorno, em seu texto “Posição do Narrador no Romance
Contemporâneo”. Para ele o formato no qual o romance se encaixa foi muito prejudicado pela
maneira como a indústria cultural e jornalística, assim como o cinema, disseminam as
informações na forma do relato. Dessa forma o romance, para poder competir com tal forma
de comunicação, teve a necessidade de focar-se naquilo que o relato oferecido pelos meios
citados acima não era capaz. Nesse ponto a atividade do narrador se tora decisiva no campo
literário, pois cabe a ele sobrepor-se aos relatos utilizando suas técnicas narrativas. O
narrador, para isso, utiliza sua capacidade de trocar as palavras pelas experiências que elas
proporcionam, como Walter Benjamin escreveu no seu texto “O Narrador. Considerações
sobre a obra de Nikola Leskov”. O uso da experiência proporcionada pelas palavras e a
produção do romance sempre tem como fim algum propósito definido, seja de transferência
de algum preceito moral de escolha do narrador, ou de algum ensinamento com caráter
prático, algum elemento definidor da existência ou mesmo de um provérbio. Não só a
experiência que as palavras proporcionam, mas a experiência do próprio narrador constitui
parte importante na confecção de uma história, pois seus leitores a tomarão para si na medida
em que se aprofundam no conto. Então podemos assumir que a narrativa, como Adorno diz, é
ter algo fora do comum, diferente e especial que chame a atenção do leitor e o magnetize.

Nesse ponto podemos nos valer de como Bourdieu trata a estética. Ele nos mostra que
a estética popular é inversa à estética kantiana, pois os pertencentes à camada popular se
preocupam mais com uma função que a estética lhes proporcionará ao invés da perspectiva de
Kant, que “empenhava-se em a distinção entre o que “agrada” e o que “dá prazer” e, de um
modo mais geral, e discernir “o desinteresse”, única garantia de qualidade propriamente
estética da contemplação, em relação ao “interesse” dos sentidos pelo qual se define “o

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agradável”, e ao “interesse da Razão” que define “o Bom”“ (Bourdieu, 2006:43)”. Dessa
forma o popular reconhece o que é belo em sua imagem e representação, e recusa a aceitação
universal do que é belo ou bom. Em suma, uma obra só encontra a legitimação da camada
popular na medida em que ela realiza sua função com maestria, e também só aceita a
importância através de sua beleza.

Assim sendo, a estética demonstrada por Bourdieu mostra-nos que o gosto é uma
afirmação prática de diferenças. Ao mesmo tempo em que a estética une aqueles que
compartilham convicções, conhecimentos e história parecidos, ela se separa de todos os
outros que se mantém fora desse padrão. O gosto também pode ser caracterizado como
afirmação de uma posição ocupada no meio social. Existe também uma intolerância à estética
alheia especialmente vista na atitude dos burgueses que arbitrariamente rejeitam as formas de
viver que não são pautadas da forma séria em com a qual os burgueses dirigem seus negócios,
sendo o gosto e a estética inclusos neste aspecto. Para a burguesia a estética popular nada
mais é que um ponto de referência negativo, que recusa e ignora seus estilos.

Um elemento interessante da estética é a própria alienação. Adorno nos mostra que


quanto mais os indivíduos e suas coletividades tornarem-se estranhos uns aos outros, em suas
relações sociais e na busca de significado por suas existências, mais benefício trará para
aquilo que um narrador pretende atingir com seus contos e romances. Isso auxilia o romance
pois ele pretende captar uma essência escolhida pelo narrador.

Um fato interessante abordado por Benjamin é que qualquer informação que ofereça
facilidade para realizar uma ligação com algo que se identifique com seu leitor, de maneira
prática, é muito melhor aceito do que relatos que tratem de tempos antigos e locais afastados,
pois parte-se do princípio que uma informação será mais facilmente aceita pelo leitor se este
for capaz de identificar algum elemento desta informação no contexto de sua própria vida,
assim como suas próprias práticas. O autor chama isso de um princípio de verificabilidade. É
natural pensar dessa forma, porque qualquer pessoa torna-se mais interessada em algum tema
com o qual possa traçar algum paralelo com suas experiências e ideologias.

Nessa pesquisa será realizada uma análise de conteúdo do autor brasileiro de literatura
fantástica Eduardo Spohr, em seu livro A Batalha do Apocalise. A análise desse autor em
específico é muito interessante devido ao contexto em que sua obra foi publicada e difundida.

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Eduardo Spohr, escritor, jornalista, professor, blogueiro e podcaster, concluiu seu livro
no ano de 2007 e partiu para uma empreitada em busca de editoras dispostas a publicá-lo. Ele
por conta própria imprimiu 30 livros em uma gráfica digital e enviou para algumas editoras,
porém recebeu diversas recusas, isso quando não era ignorado. Não muito depois isso ele
ganhou um concurso literário cujo prêmio era 100 impressões de seu livro. Neste momento,
seus amigos do Blog Jovem Nerd disponibilizaram sua loja virtual para a venda dos livros, e
como incentivo para seus leitores e ouvintes, publicaram um podcast falando a respeito do
livro no dia 28 de setembro de 2007. E de uma forma inesperada, na manhã seguinte à
publicação do podcast, os 100 exemplares foram vendidos, o que pegou os blogueiros e o
jornalista de surpresa, com seus leitores e ouvintes pedindo por mais. Nesse ritmo eles
encomendaram mais 500 livros que também foram vendidos num curtíssimo período.

Um autor desconhecido que vendeu mais de 500 livros sem incentivos financeiros
externos, sem uso de propagandas tradicionais, só utilizando a internet é algo muito incomum,
mas mesmo com essa façanha ele não foi aceito por nenhuma editora no período de um ano e
meio. Então ele, juntamente com os blogueiros do Jovem Nerd, decidiram verificar no e-mail
da loja online, e viram que nela existiam mais de oito mil e-mails com pedidos da volta do
livro para venda. Com isso sentiram-se motivados a voltar às vendas do livro, encomendando
mais 4.000 cópias e com um mês de pré-venda, 2.000 unidades do livro foram vendidas.
Sabemos que o poder de comunicação de qualquer mídia tem um limite, seja por meio
televisivo, jornais, revistas e até mesmo o próprio blog do Jovem Nerd, pois cada mídia
possui um público alvo, que é limitado pelos espectadores. Mas o que fez a obra atingir o
sucesso que foi e que é, foram as indicações, resenhas e críticas que os próprios leitores
faziam, utilizando meios como o Orkut e blogs, além do famoso boca-a-boca. Tanto que
Eduardo Spohr, no prefácio do seu livro seguinte, Filhos do Éden – Herdeiros de Atlântida,
diz que se existe um herói em A Batalha do Apocalipse não são os personagens, mas sim os
leitores que, com o entusiasmo gerado pelo livro fizeram a propaganda dele por conta própria
e, sem isso, ele nunca teria alcançado o sucesso que alcançou.

Uma surpresa que eles tiveram foi que o livro conseguiu sair de dentro do público alvo
que é o nicho nerd, conseguindo até agradar pessoas que não gostam desse tipo de literatura,
sendo vendido até para o catálogo da Avon. Após todo esse sucesso, o livro foi comprado
pelo Grupo Record, sob o selo Verus, sendo publicado em junho de 2010. O livro já foi
vendido para a Holanda, Turquia, Portugal e Alemanha. No ano de 2010 A Batalha do
Apocalipse estava em 11º colocado na lista dos mais vendidos no Brasil, e em 4º lugar nas
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vendas no gênero de ficção, uma colocação atingida por poucos brasileiros, sendo que em
geral esta lista é dominada por best-sellers estrangeiros, atingindo a marca de 600 mil vendas.
Ele também participou de diversas bienais no Brasil, e em Frankfurt na Alemanha, mesmo
que de forma extraoficial.

Bourdieu nos mostra que a apreensão a apreciação de uma obra artística são
determinadas pela situação e pelo contexto histórico e social, assim como a capacidade de seu
consumidor absorver essa manifestação com sua formação artística. A identificação que os
consumidores da arte têm nos personagens, em suas alegrias e sofrimentos, lutas e conquistas,
faz com que eles se interessem pelo destino, e tem como objetivo seu próprio entretenimento,
então são capazes de aceitar as formas com que a arte lhes é apresentada, não tendo problemas
com a absorção da essência dessa obra.

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Capítulo 2 – A Internet e Campo Editorial Virtual

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Referências Bibliográficas

BOURDIEU, Pierre. A Distinção. Crítica social do julgamento. Trad. Daniela Kern &
Guilherme J. F. Teixeira. Porto Alegre: Editora Zouk, 2006.

SPOHR, Eduardo. A Batalha do Apocalipse. Campinas: Verus Editora LTDA., Ed. 43,
2013.

ADORNO, Theodor. Posição do Narrador no Romance Contemporâneo. In: Notas de


Literatura I. São Paulo: Duas Cidades, Ed. 34, 2008.

BENJAMIN, Walter. O Narrador. Considerações sobre a obra de Nikola Leskov. In:


BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Obras Escolhidas Vol. I. Trad. Sérgio
Paulo Rouanet. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996c.

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Bibliografia Geral

RACY, Gustavo. ‘Lá e de Volta Outra Vez’: J. R. R. Tolkien. Campo Literário e


Editorial. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 2012.

COHEN, Marina. Eduardo Spohr atinge marca de 600 mil livros vendidos. Disponível
em http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/eduardo-spohr-atinge-marca-de-600-mil-livros-
vendidos-9872739 - acessado em 15/11/2013.

OTTONI, Alexandre & PAZOS, Deive. Nerdcast 379 – Literatura Fantástica


Brasileira. Disponível em http://jovemnerd.ig.com.br/nerdcast/nerdcast-379-literatura-
fantastica-brasileira/ - acessado em 16/11/2013.

OTTONI, Alexandre & PAZOS, Deive. Nerdcast 276 – Filhos do Éden e o Sporverso.
Disponível em http://jovemnerd.ig.com.br/nerdcast/nerdcast-276-filhos-do-eden-e-o-
spohrverso/ - acessado em 17/11/2013.

DRACCON, Raphael. Raphael Draccon apresenta, ou a melhor série de fantasia do


mundo enfim no Brasil... Disponível em http://www.sedentario.org/colunas/cavernas-e-
dragoes/raphael-draccon-apresenta-ou-meu-momento-tarantino-24178 – Acessado em
17/11/2013.

Lista dos Mais vendidos de 2010, Disponível em


http://www.publishnews.com.br/telas/mais-vendidos/ranking-anual.aspx?data=2010 –
acessado em 15/11/2013.

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