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Introdução
Metodologia
O que se pôde encontrar tanto nos Anais da Câmara dos Deputados, Anais do Senado
quanto nos Relatórios do Ministério da Fazenda foi um funcionamento regular e constante da
divisão de competências e tarefas no regime representativo Imperial. A influência encontrada foi
recíproca nas diversas instâncias governamentais, Poder Legislativo, Poder Executivo, Poder
Judiciário, bem como do Poder Moderador, além de uma arraigada atenção à Constituição. O jogo
político empregado tanto na sua concepção, quanto na redação e aprovação das leis mudava no
desenrolar dos debates, além de ser necessário levar em conta as especificidades históricas
como uma conjuntura que influía nos momentos decisivos da discussão dos planos econômicos.
Discussão
Para entender melhor a reorganização que o sistema financeiro sofreu na década de 1850,
no Brasil, bem como seu posterior desdobramento é útil acompanhar o desenrolar dos debates
sobre o meio circulante entre os anos de 1840 e 1853. Apesar das questões voltadas para a
melhoria do meio circulante estarem intimamente imbricadas houve uma certa preocupação em
tratar primeiro do tema da provincialização do numerário e só, posteriormente, dar forma ao
instrumento que substituiria as notas e combateria o “cancro” da falsificação. No
acompanhamento do tema na Câmara dos Deputados há quase o consenso de que o meio
circulante, formado principalmente por notas do Tesouro, não respondia adequadamente às
necessidades gerais do mercado e precisava passar por alguma transformação o mais breve
possível. O desenvolvimento da matéria no ano de 1853 foi de vital importância na discussão do
meio circulante. Nesse ano votou-se a fundação do segundo Banco do Brasil, fruto da fusão do
Banco do Brasil de Mauá e do Banco Comercial do Rio de Janeiro, constando nesta segunda
fundação a possibilidade da criação de duas filiais, uma no Rio Grande do Sul e outra na província
de São Paulo. Segundo Suzigan e Palaez a reforma consistiu no estabelecimento de um super-
banco semelhante ao Banco da Inglaterra que receberia o monopólio de emissão, implementaria
as práticas bancárias ortodoxas e tentaria absorver os demais bancos.
A análise dos discursos políticos sobre os temas da moeda e do sistema bancário foram
utilizados como ferramentas que ajudam a entender melhor os consensos temporários sobre as
questões econômicas e as posições da elite política imperial. Destarte, seguir os embates em
temas fundamentais como a política econômica permite que se compreenda melhor as tensões
internas das elites política e econômica brasileira. O estudo revelou que as inversões de rumo
adotadas pelos parlamentares brasileiros não estavam relacionadas com transformações
estruturais centradas nos partidos políticos. Esta abordagem revelou um quadro mais complexo e
dinâmico tanto no campo político, quanto no econômico, do que se costuma supor ao tratar das
definições de políticas públicas imperiais. Neste novo cenário a atuação parlamentar ganhou vigor
e relevo evidenciando interesses e matizes pessoais capazes de transformar o voto e,
consequentemente, a votação. O que se pôde encontrar foi a concentração de políticos em torno
de idéias e planos que pareciam responder bem aos problemas circunstanciais que enfrentavam.
Visto desta forma, a legislação não foi imposta por qualquer um dos Poderes existentes no
Império. Ao contrário, foi resultado de intensa negociação tanto entre as instâncias parlamentares,
quanto entre políticos de diversas colorações partidárias, depois difundidas pelos seus amigos
que formavam uma rede de apoio necessária para sua manutenção como representante da
nação. Assim, longe deste ser um período marcado por idéias econômicas invariáveis e pelo
domínio exclusivo de um partido sobre o outro, no qual as políticas públicas descreveram uma
trajetória linear, este momento foi marcado por grandes embates e alterações sobre o caminho
que a economia brasileira deveria seguir.
Referências
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