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Sim para a utopia. Sim para o Idealismo. Sim para o Anarquismo!

Há, no pensamento do senso comum, uma ideia de que o Anarquismo seja puro
Idealismo, uma Utopia, um algo, uma sociedade que não possa ser atingida devido ao
atual parâmetro social, humanístico, econômico e político. Nos dizem que o atual
modelo político-econômico é o melhor que há e que nada pode ser feito contra isso,
porém admite suas falhas, mas mesmo com essas falhas, afirmam com garras de que
com algumas reformas aqui e ali, o sistema vigente pode tomar uma via mais
humanizada, esses também defendem que o ser humano não é capaz de viver fora de
um Estado positivista, que as Leis existentes são os definidores do comportamento
humano racional, e que sem elas a sociedade entraria em ruínas dentro de meses,
senão semanas ou dias. Ainda há aqueles que mesmo concordando em diversos,
senão todos os pontos do Anarquismo, preferem dizer que “o ser humanos não está
preparado para isso, por isso o Estado é necessário” e dão como justificativa algum
“caráter” de uma suposta natureza humana. Mas, acima de tudo, não podemos
esquecer daqueles que defendem o Estado de transição, aqueles que em um passado
distante chamamos de “Camaradas”, porém não exitaram em nos eliminar das lutas,
nossos “camaradas” que tiveram nosso apoio em 1917, mas que alguns anos mais
tarde não exitaram em nos caçar e nos mandar para seus Gulags ou nos exilar.
Em ambos, a ideia de que o ser humano não tem a capacidade de viver fora do
Estado, seja em um de transição ou permanente, devido a sua suposta natureza, uma
natureza humana rude, incapaz de viver sem o Estado, sem as Leis, sem algo que os
ordene em algum fator.
Porém, eles também esquece que as leis são apenas uma questão de poder,
aqueles que ditam a constituição de um Estado são aqueles que estão no Poder, e
mesmo que seja um Estado proletário, como defendem uns, esquecem que quando
um alguém da classe proletária se torna agente do Estado, ele corrompeu seu caráter
operário e passou a se entregar para a classe político-burocrática, deixando de lado
seu caráter operário. Esquecem que as leis não são práticas para o real tratamento dos
problemas sociais, elas não tentam curar a causa das mazelas sociais, apenas tratar de
um algo que já está doente. Preferem criar leis e mais leis para tratar os problemas
causados pela desigualdade social, do que a desigualdade social. Não buscam, em
casos um pouco mais específicos, cuidar da péssima distribuição alimentícia, não
buscam o que causa a famosa “contrarrevolução”, não incentiva a autonomia dos
conselhos operários para evitar a contrarrevolução, não estudam meios de melhorar
sua agricultura para evitar a fome, apenas criam leis, ou modificam elas para cuidar
de um algo que já aconteceu, mas não tentam tratar aquilo de alguma maneira para
evitar maiores problemas no futuro. Apenas criam mais e mais leis, mas não buscam
prevenir os fatos, apenas remediar.
Para eles nós dizemos exatamente essas palavras: não, Anarquismo não é utopia,
não é idealismo, ao contrário, ele é real e possível. Alegam que nós desconsideramos
a natureza humana. Para isso nós só respondemos que sim, nós consideramos sim a
natureza humana, e nossa ideia não desconsidera ela em nenhum fator, porém nós não
acreditamos que o ser humano é um ser unicamente mal ou bom, mas sim que ele é
um ser mutável, um ser cujo a sua benevolência ou malevolência depende, não só da
sua cultura, mas também dos fatores materiais disso. Anos e anos de uma construção
social egoísta só nos poderia trazer seres cujo seu comportamento fosse baseado no
egoísmo, porém, mesmo em uma sociedade culturalmente egoísta ainda vemos o
altruísmo e é nisso que nós Anarquistas baseamos nossa definição de “natureza
humana”. Para nós o Homem não é propriamente mal, ou bom, mas que ele pode e
tem a capacidade de ser bom ou mal, dado as devidas proporções. “A existência
precede a essência” a frase de Sartre, mesmo esse tendo um desacordo com o
Anarquismo, pode ser capaz de ser a base da nossa definição da natureza humana já
que para nós só somos capazes de definir essa “natureza humana” após a inserção do
Homem na sociedade, assim ele não se torna um ser puramente bom ou mal, mas sim
adquire os conceitos, moralidade, raciocínio e senso, de acordo com a sociedade na
qual ele está inserido, e mesmo com isso, também não definimos que esse ser não
pode ter seu caráter mudado por outros agentes, conhecimentos, vivência e
aprendizado.
Defendemos sim, que o ser humano é capaz de viver livre, igualitário, sem
preconceitos, capaz de viver nos ideais da igualdade, liberdade, fraternidade e justiça.
E se quiserem nos chamar de idealistas e utopistas, então que assim seja. Mas
lembrem-se que essas mesmas palavras foram ditas aos abolicionistas, que ouviam
que “negros não são aptos para viver longe dos chicotes de seus donos”; aos
jacobinos durante a Revolução Francesa; aos que se opuseram aos Apartheid na
África; aos historiadores críticos da revista de Anales; e muitos outros exemplos, que
hoje são amplamente aclamados e parabenizados. O que os moveu foi exatamente
essa crença no “utópico”, no “idealismo”. E é justamente essa crença no utópico e no
idealismo que causou as mudanças na sociedade. Imagine se todos os abolicionistas
tivessem caído na ideia de que a abolição era algo utópico, onde nós não estaríamos
agora?
Para nós, os que nos chamam de utópicos e idealistas, são exatamente isso que
eles mesmos nos chamam. Não buscam modificar a sociedade como um todo, apenas
trazer a reforma, inclusive os que defendem o Estado de transição. São todos
reformistas que, de algum modo, buscam não modificar a política, a sociedade e a
economia, mas sim dar uma roupagem nova a ela, seja com um Estado proletário, ou
através da criação de novas leis e reformas.
Os que defendem o Estado transitório ou proletário, são reformistas por não
acabarem com a mais-valia, mudando apenas o agente sanguessuga, de um Burguês,
para um Estado burocrático, por apenas mudarem a máscara do Estado, por não
criarem profundas mudanças econômicas e políticas, mas apenas dar uma outra
forma, mas mantendo a opressão praticamente a mesma.
E os outros por não buscarem de fato a mudança radical, apenas tentar torná-lo
mais “humanizado” e com uma aparência mais dócil.
Se querem nos chamar de utópicos e idealistas, que chamem, mas lembre-se,
foram os idealistas e utópicos que transformaram radicalmente as sociedades
anteriores, mesmo com a grande força da oposição.
Nós somos os utopistas, os idealistas, nós somos os anarquistas.
Subversivamente Anônimo.

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