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INSTITUTO

EDIÇÃO Nº 03 | ANO 1 | MARÇO 2018 | MMXVIII


JOÃO CALVINO

Trabalho
Diaconal

revistadiakonia.org
E X P E D I E N T E
EDITORES Adriano Gama
Elienai B. Batista

REVISÃO Ester Conceição dos Santos


Arielle de Eça

PROJETO Thiago A. Nunes


GRÁFICO
EDITORAÇÃO Thiago A. Nunes

WEBSITE Israel F. B. Batista

FALE contato@revistadiakonia.org
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S U M Á R I O
ADRIANO EDITORIAL
GAMA 04

ELIENAI
07
A CRIAÇÃO E O MINISTÉRIO DA
BATISTA MISERICÓRDIA

JIM
17
A RESTAURAÇÃO DO
WITTEVEEN DIACONATO NA ÉPOCA DA
REFORMA

WIETSE VISITAS DIACONAIS


HUIZINGA 21

JULIUS COMO PLANEJAR AS VISITAS


VANSPRONSEN DIACONAIS ANUAIS
34
EDITORIAL
Adriano Gama

A Revista e Site Diakonia surgiu para aju- esse maravilhoso ofício para a glória de Deus
dar na capacitação dos oficiais das igrejas de e para o benefício da igreja e nossa sociedade.
Cristo. Essa edição é dedicada especialmente
ao trabalho dos diáconos. O artigo “A Criação e o Ministério da Mi-
sericórdia”, do pastor Elienai B. Batista, con-
Apesar dos diáconos serem oficiais de duz-nos às raízes do ofício diaconal que estão
Cristo, que servem a Ele servindo a Sua Igre- arraigadas no Antigo Testamento. O pastor
ja, percebemos uma grande falta de conheci- Elienai introduz o assunto dizendo:
mento sobre esse honroso ofício estabelecido
por Cristo para a igreja no Novo Testamento. Ao entrar neste assunto, eu sei que o pró-
Esta ignorância tem gerado um certo despre- prio título do artigo e a ideia de falar do traba-
zo prático ao ofício de diácono, tem criado dis- lho diaconal a partir do Antigo Testamento,
torções que o transformam num tipo de ofi- parecerá estranho para muitas pessoas. Infe-
cial subalterno a outros oficiais; ou, tem feito lizmente este tema não é muito desenvolvido.
o diaconato ser o degrau inicial da escada da E aqui no Brasil, muito menos. Não conheço
hierarquia eclesiástica – na pior das práticas nenhuma obra em português que trate especi-
todas essas situações podem acontecer jun- ficamente sobre o ofício diaconal a partir de
tas. Além disso, é muito triste perceber que uma perspectiva reformada. E mesmo em in-
até em igrejas historicamente reformadas, os glês, os livros sobre o trabalho diaconal, geral-
diáconos servem apenas como coletores de mente começam tratando do assunto a par-
ofertas, porteiros, zeladores e guardadores de tir de Cristo, ou de Atos 6. Isso se dá, porque
estacionamento do prédio da igreja. o ofício tal como o conhecemos, geralmente
tem sua origem vinculada a Atos 6. ... Assim
A capacitação de diáconos começa com a sendo, podemos dizer que as raízes do minis-
instrução bíblica sobre a origem, a natureza, a tério da misericórdia, tal como foi desenvol-
esfera e o exercício do ofício diaconal na igre- vido no Novo Testamento, se encontram no
ja. Para servir a essa capacitação, oferecemos Antigo Testamento.
quatro artigos fundamentados em rico ensino
bíblico e histórico sobre o ofício de diácono e Começando de Gênesis 1, o artigo ins-
o ministério diaconal. Além dessa fundamen- trui como o trabalho de Deus na criação se re-
tação, os artigos estão cheios de instruções laciona e aponta para o ministério de miseri-
práticas de como os diáconos podem exercer córdia confiado aos diáconos. Pois, conforme

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nos é bem destacado no artigo, “a criação é um “Vivemos em uma sociedade com as
dos primeiros fundamentos para a compreen- mesmas tendências que existiam na época
são e o exercício do ministério da misericórdia, antes da Reforma na Europa, na Idade Mé-
e que isso pode ser percebido quando pensamos dia. Enfrentamos as mesmas dificuldades
em termos da origem e do propósito da criação”. em relação à posição do Governo no cui-
Pois, “… em Gênesis 1, está o fundamento mais dado dos pobres, temos também o desafio
básico do ministério da misericórdia: o amor e adicional de lidar contra um sistema de go-
a glória de Deus revelados na criação.” Este é o verno socialista, que dificulta o trabalho da
primeiro de três artigos que serão publicados igreja nesta área.”
pela Diakonia.
Não sei se posso dizer que o terceiro
O artigo “A restauração do diaconato na artigo, “Visitas Diaconais”, escrito pelo pastor
época da Reforma”, do pastor Jim Witteveen, Wietse Huizinga, é um “artigo”. Na verdade,
apresenta como o ministério diaconal foi res- é uma conferência transformada em artigo.
taurado pela Grande Reforma. O pastor Jim co- Mas, para mim, é um verdadeiro curso de visi-
meça nos informando como a pobreza, antes da tação diaconal. O artigo está divido em 4 pon-
Reforma, passou a ser usada como meio para se tos. O Pastor Huizinga começa dando uma vi-
obter benefícios espirituais para os necessitados são geral sobre o ofício de diácono. Para isto,
e para quem os socorriam. Essa visão da pobreza ele usa a nova Forma de Ordenação de Diáco-
mudou com a Reforma e o ministério diaconal nos adotada pelas Igrejas Reformadas Livres
foi restaurado conforme os princípios revelados da Austrália, explorando também as diferen-
na Escritura. O artigo nos serve com informa- ças entre a nova Forma e uma antiga Forma
ções históricas valiosíssimas sobre como nossos de Ordenação de Diáconos escrita em 1586.
pais reformadores trabalharam duro para resta- Segundo Huizinga, a análise da nova
belecer o ministério diaconal que havia sido, por Forma:
milhares de anos e pela hierarquia papal, detur-
pado, desonrado e não utilizado para o benefício “... pode nos fazer lembrar da vocação e
da Igreja de Cristo. do voto do diácono, pode nos ajudar a obter
uma perspectiva do tema, e, ... pode trazer
O artigo do pastor Jim me fez meditar à nossa mente o fundamento bíblico para
sobre como a fé bíblica não alimenta um es- este ofício”.
pírito revolucionário que despreza o passado
e promove a ruptura com uma boa tradição. Depois de dar uma introdução geral do
Assim, o artigo não quer nos prender a uma ofício, seguem-se os pontos: “Diretrizes para
mera tradição do passado, mas nos ensina visitas especiais dos diáconos às pessoas com
como o ofício e prática diaconal foram restau- necessidade” (ponto 2), Orientações para visi-
rados por nossos antepassados reformados, tas gerais de diáconos (ponto 3), encerrando
para hoje louvarmos a glória de Deus e sermos com o ponto 4 que é “Notas para discussão”
beneficiados com o ministério dos diáconos (são perguntas e respostas sobre os princípios
de Cristo, pois, como diz o pastor Witteveen: e práticas diaconais). Não subestime o que eu

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disse sobre esse artigo: é um curso de visita- visitados no decorrer do ano. Os diáconos
ção diaconal com forte fundamentação bíbli- que planejam bem suas visitas verão o fru-
ca sobre o ofício, que nos transmite detalhes to do seu trabalho ao serem recebidos pela
práticos do antes, do durante e do depois des- congregação com entendimento e gratidão.
sas visitações. A fidelidade no planejamento estimula uma
transformação na mente de toda a igreja,
O artigo “Como planejar as visitas dia- que se tornará mais focada no trabalho dia-
conais anuais” do pastor Julius VanSpronsen, conal.”
ajuda os diáconos a perceberem a importân-
cia da visitação como elemento de um minis- Enfim, nessa edição queremos servir a
tério diaconal fiel. Além disso, auxilia os diá- igrejas, aos seus conselhos e, especialmente,
conos com dicas práticas sobre como planejar a seus diáconos com a sadia instrução bíblica
essas visitas e a se prepararem para elas. Um e histórica sobre o ofício diaconal. Assim, tra-
ponto forte do artigo é que desperta os diáco- balhamos contra a falta de conhecimento que
nos para a responsabilidade deles terem um contribui para que a igreja hoje seja ignorante
planejamento de suas visitações regulares e privada dos cuidados de Cristo dispensados
de modo que as emergências sejam apenas a nós por meio de Seus diáconos.
emergências e não o modo ordinário de ação
diaconal. Como o pastor VanSpronsen diz: A nossa oração e trabalho são para que
o ministério diaconal possa ser biblicamente
“O objetivo destas visitas é semelhan- descoberto, restaurado e exercido nas igrejas
te ao trabalho de um treinador de esportes, brasileiras. Somente assim, os ministros da
que encoraja trabalho em equipe exortan- Palavra poderão estar livres para se dedicar
do os membros a utilizarem seus dons de ao ministério da pregação e oração. Os presbí-
forma responsável para que seja promovida teros menos sobrecarregados, poderão se de-
a comunhão dos santos. Como “treinador”, dicar integralmente ao ministério da supervi-
os diáconos vão estabelecer uma agenda de são das ovelhas a eles confiadas; e, para que o
interação com todos os membros da con- Ministro Supremo da Caridade, Jesus Cristo,
gregação; e sabendo que provavelmente se- possa usar seus ministros subalternos, os di-
rão chamados para servirem como “bom- áconos, de modo que Suas igrejas desfrutem
beiros” deixarão espaço na agenda para o amor, a comunhão e a alegria do Senhor,
visitas imprevistas e situações de emergên- vendo a glória de Deus por meio do ministério
cia. O bombeiro serve quando é chamado, diaconal exercido, fiel e conscientemente, pe-
então podemos concluir que o diácono pode los diáconos que o Espírito Santo deu para a
também ser um “bombeiro”, mas sempre Igreja de Cristo.
será um “treinador”.
Pr. ADRIANO GAMA é ministro da
“Não vai se preocupar com visitas que Palavra servindo na Igreja Reformada em Co-
ainda não foram feitas, pois sabe que todos lombo - Paraná. Ele é um dos editores do site
os membros estão em sua agenda e serão e da revista Diakonia.

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A

CRIAÇÃO
E O MINISTÉRIO DA

MISERICÓRDIA
Elienai B. Batista

Introdução O problema é que muitas ideias erradas


sobre o ofício diaconal, oriundas de outras
Começo este artigo com uma triste consta- correntes teológicas, acabam por influenciar
tação, de que falando de maneira geral, o ofício a forma como muitas igrejas de confissão
diaconal não é bem compreendido e tão pouco reformada compreendem este ofício, o que
devidamente apreciado como um dom de Deus obviamente, afeta o modo como os diáconos
à Igreja de Cristo. Pelo que ouço em diferentes exercem seu ofício.
locais onde tenho falado sobre as qualificações e
o trabalho dos diáconos, me parece que os pas- Por isso, precisamos estabelecer um fir-
tores falam pouco sobre este tema, raramente me fundamento a esse respeito. Isto quer di-
os diáconos recebem treinamento, e geralmen- zer, que devemos nos voltar para a Palavra de
te, as igrejas parecem ignorar suas responsabili- Deus a fim de obtermos uma compreensão
dades diaconais na comunhão dos santos. bíblica sobre o ofício diaconal. Para isso, não
devemos ir apenas ao Novo Testamento, que
Para muitas pessoas, o diácono é vis- nos ensina sobre o ofício de forma mais dire-
to como um “faz tudo”, um porteiro, ou um ta, mas antes, devemos buscar as origens des-
tipo de auxiliar do pastor. E como em muitas te ofício no Antigo Testamento.
igrejas os ofícios são vistos como um siste-
ma hierárquico, estando os diáconos na parte Ao entrar neste assunto, eu sei que o pró-
mais baixa desse sistema, há uma tendência prio título do artigo e a ideia de falar do tra-
de desvalorização deste ofício. Em muitos ca- balho diaconal a partir do Antigo Testamento,
sos, o ofício diaconal é visto apenas como um parecerá estranho para muitas pessoas. Infe-
trampolim para outros ofícios. E na melhor lizmente, este tema não é muito desenvolvido.
das hipóteses, se confere aos diáconos um pa- E aqui no Brasil, muito menos. Não conheço
pel que não lhes cabe. nenhuma obra em português que trate espe-

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cificamente sobre o ofício diaconal a partir de uma vez que o estrangeiro, o órfão e a viúva
uma perspectiva reformada. E mesmo em In- comessem dentro de suas cidades e se far-
glês, os livros sobre o trabalho diaconal, geral- tassem. Assim, na antiga dispensação, os
mente começam tratando do assunto a partir necessitados e os que sofriam eram protegi-
de Cristo, ou de Atos 6. Isso se dá, porque o dos e providos pelo amor paternal de Deus.
ofício tal como o conhecemos, geralmente Suas ordens ensinavam o povo da Aliança
tem sua origem vinculada a Atos 6. a imitar aquele amor como filhos amados.
Referências: Deuteronômio 14.28, 29;
Uma exceção é a excelente obra do Dr. 16.11, 14; 24.19-22; 26.12, 13 e 27.19.
Cornelis Van Dam “The Deacon: Biblical Fou-
ndations for Today’s Ministry of Mercy”. Nos Fico feliz por termos em nossa forma
primeiros capítulos de sua obra, o Dr. Vam litúrgica para a ordenação de diáconos este
Dam, nos mostra que apesar de não haver o vínculo entre o trabalho diaconal em nossos
ofício de diácono no Antigo Testamento, con- dias e suas origens no Antigo Testamento. E
tudo havia pobres e necessitados entre o povo também sou grato ao Dr. Van Dam por me en-
de Deus. Ele nos diz que ao observar o trata- sinar sobre este tema. Porém, neste artigo,
mento, que no Antigo Testamento, Deus or-
diferente do que fez o Dr. Vam Dam em sua
denou que fosse dado aos pobres, nós temos
obra, na qual buscou as origens do trabalho
melhores condições de entender o desenvolvi-
diaconal no Antigo Testamento, a partir do
mento do ofício diaconal no Novo Testamento.
que ensina a lei sobre o cuidado quanto ao
pobre em Israel, eu quero retornar um pouco
Assim sendo, podemos dizer que as raí-
mais, começando a partir de Gênesis 1.
zes do ministério da misericórdia, tal como
foi desenvolvido no Novo Testamento, se en-
contram no Antigo Testamento. É exatamen- Este é o primeiro de três artigos nos
te isso, que nos lembra a Forma Litúrgica das quais tratarei sobre o trabalho diaconal a par-
Igrejas Reformadas do Brasil. Na forma para tir de três grandes temas que encontramos
a ordenação de diáconos, na parte que trata por todo Antigo Testamento, e que nos são
sobre a instituição do ofício, lemos que o mi- apresentados já a partir dos primeiros capítu-
nistério da misericórdia (ali chamado de mi- los do livro de Gênesis: a criação, a queda e
nistério da caridade), é algo que já podemos a redenção. Neste primeiro artigo, quero cha-
encontrar no Antigo Testamento. Vejamos o mar sua atenção para a relação entre a cria-
que diz a forma:1 ção e o ministério da misericórdia.

Instituição do ofício:2 Criação e cosmovisão

O ministério da caridade é confiado Em primeiro lugar, me permita apre-


aos diáconos. Já o antigo povo de Deus, Is- sentar a parte inicial da definição de cosmovi-
rael, tinha a obrigação, imposta pelo SE- são fornecida pelo filósofo canadense James
NHOR Deus, de mostrar misericórdia para Olthuis:
com os necessitados. Deus ordenou mais de

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“Cosmovisão (ou visão de vida) é uma o propósito de nossa vida, e como nossa vida
estrutura ou conjunto de crenças funda- deve ser regulada, precisamos olhar para o
mentais pelas quais vemos o mundo e nosso Deus que nos criou. Por isso, “Creio em Deus
chamado e futuro nele.” 3 Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra”,
não é só o primeiro artigo de nossa fé cristã
Os teólogos geralmente falam das e indubitável, mas também o primeiro funda-
“crenças fundamentais” da cosmovisão cris- mento de nossa cosmovisão.
tã, em termos de categorias, a saber: criação,
queda, graça e glória. E segundo eles, essas A Escritura tem muito a dizer sobre a
categorias devem ser aplicadas a todas as áre- obra da criação. E certamente podemos fazer
as da vida. O resultado disso é resumido por muitas conexões entre a obra da criação e o mi-
Philip Ryken: nistério da misericórdia. Mas não é meu objeti-
vo neste artigo explicar todas essas relações, e
“Ao fazê-lo, alcançamos a perspectiva tão pouco desenvolver um estudo sobre a obra
de Deus do por que todas as coisas foram da criação. Eu quero apenas chamar sua aten-
feitas (criação), o que deu errado com ela ção para algumas dessas conexões entre a obra
(queda), como encontramos sua recupera- da criação e o ministério da misericórdia. Espe-
ção em Jesus Cristo (graça) e o que será ro destacar que a criação é um dos primeiros
delas no final, quando tudo for feito novo fundamentos para a compreensão e o exercício
(glória).” 4 do ministério da misericórdia, e que isso pode
ser percebido quando pensamos em termos da
Portanto, os fundamentos de nossa origem e do propósito da criação.
cosmovisão (visão de vida) começam em Gê-
nesis 1.1, com o próprio Deus nos revelando A obra da criação tem sua origem no amor
que “No princípio, criou Deus os céus e a terra.” de Deus
E como ressaltou o Dr. Sproul, três pontos
fundamentais são afirmados nessa primeira Desde a eternidade as Três Pessoas da
sentença da Escritura: (1) houve um princípio; Trindade tem experimentado uma perfeita
(2) há um Deus; (3) há uma criação. 5 comunhão em amor. Sobre isso, vale a pena
ler o que escreveu Cornelius Plantinga Jr.:
Portanto, a doutrina da criação nos mos-
tra que há uma clara distinção entre o Criador “No centro do universo, o amor sacrifi-
e suas criaturas, mas, ao mesmo tempo, nos cial é a moeda dinâmica da vida trinitaria-
mostra que há uma completa dependência das na de Deus. As pessoas da divindade se exal-
criaturas em relação ao Criador. Essa doutrina tam uma às outras, têm deferência uma às
nos separa de outras religiões, do secularismo, outras, mantêm comunhão uma com as
do materialismo e do ateísmo. outras. Cada uma das três pessoas, se pode-
mos assim dizer, abre espaço para as outras
A doutrina da criação nos lembra de duas. Sei que isso soa um pouco estranho,
que para compreendermos quem somos, qual mas podemos dizer que as pessoas da trin-

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dade mostram hospitalidade divina umas Com isso concordava o puritano Ri-
para as outras. Afinal, o Evangelho de João chard Sibbes (1577 – 1635):
nos ensina que o Pai está no Filho e que o
Filho está no Pai (Jo 17.21), e que cada um “Se Deus não contasse com uma bonda-
deles ama e glorifica o outro. Os pais gre- de comunicativa e contagiante, ele nunca
gos da igreja chamavam esse intercâmbio teria criado o mundo. Pai, Filho e Espíri-
de mistério de pericorese, e agregavam a ele to Santo estavam felizes consigo mesmos, e
o Espírito Santo – o Espírito que é tanto do desfrutavam um do outro antes do mundo
Pai como do Filho. Quando os primitivos existir. Sem o fato de Deus deleitar-se em
cristãos gregos falavam da pericorese em comunicar e espalhar sua bondade, jamais
Deus, eles estavam se referindo à noção de haveria uma criação ou redenção.” 9
que cada uma das três pessoas da trindade
abriga no centro do seu ser as outras duas. Depois ele conclui:
Executando uma movimentação constan-
te de reverência e aceitação, cada uma das “A criação foi uma escolha livre corrobo-
três pessoas se envolve com as outras duas rada apenas pelo amor.” 10
e se revolve ao redor delas.” 6
Antes dos tempos eternos, Deus nos
Creio que podemos dizer que o maravi- amou, e este amor tem vínculo não só com
lhoso amor concedido e experimentado pelas nossa redenção, mas também com nossa cria-
três pessoas da trindade, transbordou para ção (Rm 8.29; 1Jo 4.10-11). Por nos amar, Deus
além dessas pessoas, que são o único e ver- nos criou. Portanto, a criação revela não só o
dadeiro Deus (João 17.24-26). A este respeito poder e a sabedoria de Deus, mas também seu
escreve Michael Reeves em sua obra “Delei- amor para conosco.
tando-se na Trindade”:
Ele expressou sua graça e bondade,
“Assim, não é que Deus passa a com- trazendo à existência outros seres além dEle
partilhar; sendo triúno, Deus é o Deus que mesmo. Deus criou o homem e a mulher, Ele
compartilha, o Deus que ama incluir. De os fez conforme a sua imagem e semelhança,
fato, é por isso que Deus prosseguirá em de tal modo que pudessem ter com Ele um re-
criar. Seu amor não é para ser guardado, lacionamento no qual pudessem desfrutar do
mas para ser distribuído.” 7 seu amor gracioso.

Deus não criou todas as coisas porque O Catecismo de Heidelberg resume


estava entediado na eternidade, nem porque muito bem este ensino, em sua resposta à
se sentia só. E tão pouco, foi a criação uma pergunta de número 6, quando nos diz que
necessidade ou um tipo de capricho. Mas po- “… Deus criou o homem bom e à Sua imagem,
demos dizer, ainda que isso não seja tudo que isso é, em verdadeira justiça e santidade, de
se possa dizer sobre a criação, que: “A criação modo que ele pudesse conhecer corretamen-
é um ato de amor imaginativo.” 8 te a Deus, o seu Criador, amá-lO de coração,

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e viver com Ele em eterna felicidade para O mos um banho no rio, quando desfrutamos de
louvar e glorificar.” uma paisagem, ou descansamos sob a sombra
de uma árvore devemos nos lembrar de que es-
Deus nos amou e nos criou para que sas dádivas da criação são como uma carta de
nós o amassemos. O amor dEle que abundan- amor de Deus para nós. Deus nos ama e por isso,
temente se derrama em favor dos outros, foi nos presenteou com as dádivas da criação para a
derramado em nossa direção. nossa alegria e prazer (1Tm 6.17).

Portanto, podemos dizer não só que A obra da criação tem como propósito a glória
Deus nos criou porque nos amou primeiro, de Deus
mas também podemos dizer que, tudo que
Ele criou revela esse Seu amor por nós. Até a Na epístola aos Romanos, depois de ter
ordem da criação aponta para o amor e a bon- ensinado sobre a miséria espiritual dos peca-
dade de Deus para conosco, como nos ensina dores e a maravilhosa salvação soberanamente
Calvino nas Institutas: providenciada por Deus, Paulo adora a Deus (Rm
11.32-36). Ele adora a Deus por sua sabedoria e
“Mas é preciso considerar diligente- conhecimento, e pela incompreensibilidade do
mente na própria ordem das coisas criadas Seu Ser e das suas obras (criação, providência,
o amor paternal de Deus para com o gêne- redenção). E então confessa: “Porque dele, e por
ro humano, visto que não criou Adão antes meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois,
que enchesse o mundo de toda abundância a glória eternamente. Amém!”
de coisas boas. Ora, se o houvesse colocado
em uma terra ainda então estéril e vazia, Todas as coisas criadas têm sua origem
se lhe houvesse dado vida antes da luz, te- em Deus. Deus criou do nada o céu e a terra
ria parecido interessar-se bem pouco por e tudo o que neles há. Tudo veio à existência
seu bem-estar. Ora, quando antes de criá- pela sua palavra poderosa. Uma implicação
-lo dispôs os movimentos do sol e dos astros disso é que tudo pertence a Ele (Sl 24.1).
para o uso humano, encheu de seres vivos
a terra, as águas, o ar, produziu fartura de Todas as coisas criadas são sustenta-
todos os frutos que fornecessem alimentos, das por Deus. Ele sustenta, governa e preser-
assumindo o cuidado de um chefe de famí- va a criação. A essa obra chamamos de Provi-
lia provido e zeloso, mostrou Deus sua mirí- dência. Uma implicação disso é que nada nos
fica bondade para conosco.” 12 acontece por acaso, mas tudo vem da mão pa-
ternal de Deus (q.v. Catecismo de Heidelberg,
Portanto, o sol, a lua, o mar, os animais, Dia do Senhor 10).
as flores, os frutos, os legumes, as hortaliças e
os cereais, enfim todas as coisas que Deus criou, Mas qual o propósito da criação? Para
são fruto de Seu amor imaginativo por nós. que fins foram criadas e são sustentadas todas
Quando estamos comendo uma fruta e experi- as coisas? A resposta é esta: para a glória de
mentamos de seu delicioso sabor, quando toma- Deus. Portanto, todas as coisas foram criadas

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por Deus, são sustentadas por Deus, pertencem comunicadas às suas criaturas. E, ao lhes
a Deus e existem para a glória de Deus. transmitir a sua plenitude, ele o faz em ra-
zão de si mesmo, pois o bem delas, que ele
Fomos criados para a glória de Deus, e busca, se encontra na união e comunhão
todas as dádivas da criação, as quais Deus nos total com ele. A excelência e a felicidade
concedeu como expressões de seu amor, tam- das criaturas não passam de emanação e
bém tem este mesmo objetivo: a glória de Deus. expressão da glória de Deus. Ao buscar a
Assim podemos entender as palavras que o Es- glória e a felicidade delas, Deus busca a si
pírito Santo nos ensina em 1Coríntios 10.31: mesmo e, ao fazê-lo, ou seja, ao buscar-se
difuso e expresso (o que para ele é motivo de
“Portanto, quer comais, quer bebais ou deleite, do mesmo modo que ele se deleita
façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a na própria beleza e plenitude), ele busca a
glória de Deus.” glória e a felicidade delas.” 13

Isso quer dizer que devemos estender o Assim sendo, podemos dizer que to-
objetivo de glorificar a Deus a cada aspecto de das as dádivas da criação, são meios de Deus
nossa vida. Em cada coisa que desfrutamos, em expressar o seu amor e revelar a sua glória.
cada serviço que realizamos, em cada dádiva Como nos diz Joe Rigney:
que compartilhamos, devemos ser capazes de
dizer, como o salmista no Salmo 115.1: “A criação é a comunicação do Deus
trino. Deus amou tanto a plenitude trinitá-
“Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao ria que criou um mundo para comunicar
teu nome dá glória, por amor da tua miseri- essa plenitude ad extra, para além de si.” 14
córdia e da tua fidelidade.”
Como devemos responder a esta comuni-
O amor e a glória de Deus cação do amor e da glória de Deus? Amando e glori-
ficando a Deus. É assim que a pergunta e resposta
Ao falarmos que Deus nos amou e por de número um, do Breve Catecismo de Westmins-
isso nos criou, e que Deus nos criou para Sua ter, descreve o propósito de nossa vida:
própria glória, não estamos falando de coisas
diferentes, ou contradizentes. Mas falamos “Qual é o fim principal do homem? O
de um mesmo objetivo. Sobre isso, escreveu fim principal do homem é glorificar a Deus
Jonathan Edwards em sua obra “O fim para o e gozá-lo para sempre.” 15
qual Deus criou o mundo”:
Isso também se evidencia na resposta
“Ao buscar a sua glória, Deus busca o à pergunta de número 6 do Catecismo de Hei-
bem de suas criaturas, pois a emanação da delberg, já mencionada acima:
sua glória (a qual ele busca e na qual ele se
deleita, assim como se deleita na sua gló- “… Deus criou o homem bom e à Sua
ria eterna) implica excelência e felicidade imagem, isso é, em verdadeira justiça e san-

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tidade, de modo que ele pudesse conhecer Implicações diaconais
corretamente a Deus, o seu Criador, amá-
-lO de coração, e viver com Ele em eterna Agora, devemos nos perguntar quais
felicidade para O louvar e glorificar.” 16 são as implicações do que acabamos de ver
para o ministério da misericórdia?
Portanto, quando pensamos sobre as Na criação, Deus nos revelou seu amor
dádivas da criação, elas não só nos comuni- transbordante e sua glória. Assim sendo, cada
cam o amor e a glória de Deus, mas também uma das dádivas da criação, as quais Ele faz
devem nos conduzir a Ele. Cada dádiva da chegar até nós, por meio de sua Providência,
criação é para que Deus seja glorificado e nós deve nos levar a nos deleitarmos no amor e
nos deleitemos nEle. na glória de Deus. Deus quer que nos alegre-
mos nEle e que o glorifiquemos por meio das
E uma vez que Deus nos criou à sua coisas que Ele nos concede para nosso aprazi-
imagem, isto quer dizer que também somos mento (1Tm 6.17, observe que o contexto trata
chamados a imitar esse amor transbordante sobre os ricos serem generosos em repartir).
do Deus trino (Jo 15.12). As dádivas que Deus
nos concede, devem ser usadas para que o A alegria do povo de Deus está em
nosso próximo também se alegre em Deus e Deus, e Deus nos concede dádivas para que
experimente Seu amor. nós nos alegremos nEle. Portanto, uma vez
que Deus quer todos os membros de sua Igre-
Isso fica implícito no mandato da ja participem dessa alegria, ninguém deve ser
criação (Gn 1.27 – 2.3). Neste mandato privado de tais dádivas. É por isso, que na for-
que podemos dividir em três partes: o as- ma litúrgica para a ordenação de diáconos, le-
pecto cultural, o aspecto social e aspecto mos o seguinte:
espiritual, Deus colocou o homem como
vice-regente da criação, como seu repre- “Hoje em dia o SENHOR nos chama a
sentante. Nesse contexto, o homem foi mostrar hospitalidade, generosidade e cari-
colocado no Éden como administrador de dade para que os fracos e necessitados pos-
muitas riquezas (Gn 2.10-15). E na econo- sam compartilhar abundantemente da
mia no Éden, uma vez que não havia peca- alegria do povo de Deus. Não deve haver
do, encontramos três coisas: abundância, ninguém na congregação de Cristo que viva
cooperação e equilíbrio. Todas as dádivas, sem consolação quando tiver o peso da do-
todas as riquezas e o trabalho do homem, ença, solidão ou pobreza.” 17
deveriam expressar o amor de Deus e re-
sultar na glória de Deus. Portanto, o ministério da misericórdia
não é um tipo de assistencialismo, que apenas
Portanto, em Gênesis 1, está o funda- provê para o corpo. Há muito mais, por trás do
mento mais básico do ministério da miseri- trabalho diaconal. Nele, Deus está restauran-
córdia: o amor e a glória de Deus revelados na do a alegria de seu povo e expressando mais
criação. uma vez o que tem revelado por meio da cria-

revistadiakonia.org MARÇO de 2018 13


ção: seu amor. A imagem que podemos ter é Isso revela a natureza espiritual do mi-
a seguinte: o amor do Deus trino transborda nistério da misericórdia. Os diáconos não são
sobre sua igreja, e por isso, o amor da igreja assistentes sociais, são ministros da miseri-
transborda sobre seus membros em neces- córdia de Deus, que por meio de seu serviço
sidade. E isso acontece de tal forma, que os expressam o amor de Deus e buscam a glória
membros em necessidade recebem o socorro, de Deus.
cientes de que este socorro é uma expressão
do amor de Deus por eles. E assim, mais uma Outro ponto a ser observado é que so-
vez eles podem deleitar-se em Deus, pois, não mos chamados a imitar o transbordante amor
ficam excluídos da alegria que Deus concede de Deus. Por assim dizer, deve haver uma “pe-
ao seu povo. ricorese” na comunhão dos santos. Isto é, so-
mos chamados a demonstrar amor uns aos
Além disso, Deus nos concede suas dá- outros, honrando uns aos outros, e oferecen-
divas para ser glorificado por meio delas (1Co do uns aos outros o nosso serviço, dons, bens
10.31). Portanto, de modo consciente devemos e hospitalidade. O amor que recebemos de
usá-las de tal maneira que Ele seja glorifica- Deus, também “não é para ser guardado, mas
do. Isso inclui gratidão e o uso correto dessas para ser distribuído.”
dádivas de acordo sua Lei, mas também inclui
que compartilhemos essas dádivas. Quando os Por isso, a forma litúrgica das Igre-
membros da igreja são mordomos fiéis, eles jas Reformadas do Brasil para a ordenação
contribuem para a manutenção do ministério de diáconos, lista entre as tarefas dos diá-
da misericórdia, de tal forma que caso alguém conos, a seguinte: “exortar os membros do
esteja em necessidade um socorro devido lhe corpo de Cristo a mostrarem caridade aos ir-
poderá ser oferecido pelos diáconos da igreja. mãos.” Os diáconos devem ser um constan-
Uma vez que os diáconos não vão em seu pró- te lembrete aos membros da igreja: Deus,
prio nome, e tão pouco em nome da igreja ou tanto na criação, quando na redenção, ex-
denominação, mas em nome de Cristo, a glória pressou seu amor por nós nos oferecendo
deste socorro fica com o Senhor. Aqueles que dádivas graciosas. Assim também, nós não
recebem o socorro das mãos dos diáconos, terão devemos amar apenas de palavras, mas de
novos motivos para glorificar a Deus. fato. Servindo uns aos outros, usando nos-
sos dons, tempo e recursos para o bem-es-
Assim sendo, Deus será glorificado, na tar de nossos irmãos.
boa administração dos membros da igreja, no
serviço dos diáconos, e pelos lábios daqueles Deus quer ser glorificado através de
que receberam as dádivas do amor de Deus nosso amor por nossos irmãos, por isso, o Es-
por meio do ministério da misericórdia. pírito Santo nos exorta em Romanos 15.7:

O resultado é este: Deus revela seu “Portanto, acolhei-vos uns aos outros,
amor e glória, Deus restaura a alegria do seu como também Cristo nos acolheu para a
povo, Deus é glorificado e ainda mais amado. glória de Deus.”

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Deus usa o trabalho dos diáconos não só Não chame a atenção para si mesmo ou para
para expressar seu amor que nos acolheu em a igreja, mas para Deus. Além disso, para que
Cristo Jesus, mas também para que nós possa- Deus seja glorificado seja cuidadoso com suas
mos acolher uns aos outros na comunhão dos palavras, com o sigilo e outros pontos que
santos. E o resultado é este: a glória de Deus. muitas vezes, fazem com que os membros da
igreja percam a confiança no trabalho dos diá-
Sugestões: conos. Se você errar nessas questões, privará
Deus da glória que Ele deve receber por meio
Concluo com algumas sugestões aos do trabalho diaconal;
diáconos:
5. Lembre-se que você é um ministro
1. Não imagine que por ser diácono, da misericórdia de Deus, não um assistente
você não precisa estudar a Palavra de Deus. social. Lembre-se que apesar de lidar com as-
Para uma melhor compreensão do trabalho pectos materiais, seu trabalho também tem
diaconal e consequentemente mais sabedoria aspectos espirituais;
para exercê-lo, você precisa conhecer o que
a Escritura diz sobre Deus e sobre a forma 6. Lembre aos membros da igreja que
como Ele se relaciona conosco. Portanto, leia eles receberam dons, tempo e recursos atra-
sua Bíblia e estude as confissões; vés dos quais Deus quer expressar seu amor
e cuidado aos necessitados na igreja (e tam-
2. Como você deve ter notado ao ler bém fora dela). Que eles então, não retenham
este artigo, é importante também para o di- o que Deus lhes confiou para o bem de seus
ácono ter uma boa compreensão da cosmo- irmãos e a glória do nome dEle;
visão cristã reformada e de suas implicações
para o trabalho diaconal. Portanto, leia sobre 7. Encoraje a hospitalidade na igreja,
a cosmovisão reformada. Para começar, eu in- seja você mesmo um exemplo. Isso porque,
dicaria os livros mencionados na bibliografia por meio dela não só abrimos a porta de nossa
deste artigo. casa, mas também de nosso coração aos nos-
sos irmãos. Pela hospitalidade os membros da
3. Exerça seu ofício de tal modo que igreja acolhem e são acolhidos em amor. O re-
aqueles que receberem o socorro diaconal, o sultado disso é a glória de Deus (Rm 15.7).
vejam como uma expressão do amor de Deus.
Ao entregar uma ajuda, ou consolar um enfer- Notas
mo em nome de Cristo, lembre à pessoa ne-
cessitada sobre o grande amor de Deus, a fim 1
Apesar da forma litúrgica das Igrejas
de que sejam consoladas nEle; Reformadas do Brasil utilizar o termo “minis-
tério da caridade”, normalmente o termo usado
4. Exerça seu ofício de tal modo que por Igrejas Reformadas em todo mundo para
aqueles que receberem o socorro diaconal, referir-se ao trabalho diaconal, é o termo “mi-
glorifiquem a Deus e nEle possam se deleitar. nistério da misericórdia”. Portanto, neste arti-

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go utilizo o termo “ministério da misericórdia” 10
Ibid. p. 57.
para referir-me ao trabalho diaconal, quer seja
aquele administrado pelos diáconos a partir do 11
Para acessar ao conteúdo do Catecis-
Novo Testamento, quer seja aquele cuidado or- mo de Heidelberg, visite: igrejasreformadas-
denando ao povo de Deus na Antiga Aliança no dobrasil.org.
que concerne aos pobres e necessitados.
12
CALVINO, João. As Institutas: Edi-
2
Para acessar as formas litúrgicas utili- ção Clássica – Volume I. São Paulo: Cultura
zadas pelas Igrejas Reformadas do Brasil, visite: Cristã, 2006. p. 159.
http://www.igrejasreformadasdobrasil.org.
13
EDWARDS, Jonathan. O fim para o
3
OLTHUIS, James H. On Worldviews. qual Deus criou o mundo. PIPER, John. A pai-
Apud SIRE, James W. Dando nome ao elefan- xão de Deus por sua glória: vivendo a visão de
te: cosmovisão como um conceito. Brasília, Jonathan Edwards. São Paulo: Cultura Cristã,
DF: Editora Monergismo, 2012, p. 55. 2008. p. 153.

4
RYKEN, Philip Graham. São Paulo: 14
RIGNEY, Joe. As coisas da terra: esti-
Cultura Cristã, 2015, p. 30. mar a Deus ao desfrutar de suas obras. . Bra-
sília, DF: Editora Monergismo, 2017, p. 85.
5
SPROUL, R. C. Somos todos teólogos:
uma introdução à teologia sistemática. São 15
Para acessar ao conteúdo do Breve
José dos Campos, SP: Fiel, 2017, p. 133-134. Catecismo de Westminster, visite: http://ipb.
org.br/uploads/breve-catecismo.pdf
6
PLANTINGA, Cornelius Jr. O crente
no mundo de Deus: uma visão cristã da fé, da 16
Ibid. nota 11.
educação e da vida. São Paulo: Cultura Cristã,
2007, p. 36. 17
Ibid. nota 2

7
REEVES, Michael. Deleitando-se na O Pr. ELIENAI B. BATISTA é ministro da
trindade: uma introdução à fé cristã. Brasília, Palavra servindo como missionário da Igreja
DF: Editora Monergismo, 2014, p. 39. Reformada em Imbiribeira (Recife – PE) na
plantação de uma igreja em Paulista (PE), e
8
PLANTINGA, Cornelius Jr. Op. cit. p. 38. em um trabalho de cooperação com o CLIRE
(Centro de Literatura Reformada). Ele tam-
9
SIBBES, Richard. Works of Richard bém é um dos editores do site e da revista
Sibbes, vol. 6. Apud REEVES, Michael. De- Diakonia.
leitando-se na trindade: uma introdução à
fé cristã. Brasília, DF: Editora Monergismo,
2014, p. 57.

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A RESTAURAÇÃO DO

DIACONATO
NA ÉPOCA DA

REFORMA
Jim Witteveen

Nos séculos antes da Reforma Protestante, A volta à Bíblia


o diaconato se tornou um ofício quase esqueci-
do na igreja romana. O cuidado dos pobres era Conforme Dr. Cornelis Van Dam, au-
responsabilidade do bispo, que (teoricamente) tor do livro The Deacon: Biblical Foundations
providenciava ajuda para os pobres por meio da for Today’s Ministry of Mercy (Reformation
sua própria renda. Os necessitados foram ajuda- Heritage Books, 2016), a Reforma levou a três
dos nos monastérios e outras instituições carita- mudanças importantes no pensamento popu-
tivas, mas especialmente por meio de caridade lar sobre a pobreza e como a Igreja deveria li-
individual. dar com esta questão:

Os doadores acreditavam que o objetivo 1. A proclamação da mensagem do


principal da caridade era ganhar a vida eterna Evangelho - que uma pessoa é justificada so-
por meio destas obras. A combinação das doa- mente pela fé e não pelas boas obras - removeu
ções com as orações dos pobres pelos doadores o raciocínio de interesse próprio que manteve
foi entendida como um aspecto importante do uma classe de mendigos para que os doadores
processo de ganhar a salvação. Neste contexto, pudessem receber orações em troca de suas
havia pouco incentivo para tentar erradicar a po- boas obras. Com certeza, o cristão deve dar
breza, porque a presença contínua dos pobres aos pobres - mas apenas por amor a Deus e ao
nas ruas significava uma oportunidade de fa- próximo, e não por interesse próprio.
zer estas boas obras e se beneficiarem das suas
orações. Por isso, na Idade Média, o número de 2. Os Reformadores rejeitaram o
mendigos cresceu. Ser mendigo foi considerado conceito do mendigo como o ideal cristão
um ideal cristão positivo, porque os mendigos positivo, bem como a aspiração monástica
realizavam um trabalho importante na vida es- da vida contemplativa caraterizada por es-
piritual da comunidade. tas “boas obras.” Os Reformadores ensina-

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ram que a vocação diária de uma pessoa é dos pelo Estado, não pela igreja.
uma tarefa tão piedosa e nobre como qual- Mas o ensinamento de Calvino sobre o
quer ofício na igreja. Toda ocupação feita diaconato influenciou as Igrejas Reformadas
em humilde obediência a Deus, é agradável tanto no continente Europeu como na Ingla-
a Ele e de grande valor. O efeito deste ensi- terra, e a base do seu entendimento do ofício
namento, este novo entendimento sobre a do diácono veio de duas passagens: Atos 6 e
futilidade de ganhar a salvação pelas boas 1 Timóteo 3.8-12. Os sete homens apontados
obras e a visão do trabalho diário como um em Atos 6 foram os primeiros diáconos, e
chamado nobre de Deus teve consequências servem como exemplo para nós. Na primeira
econômicas positivas. edição das Institutas (1536), Calvino escreveu,
“Oxalá a igreja de hoje tivesse tais diáconos.”
3. Quanto aos ofícios eclesiásticos, os
Reformadores desenvolveram uma visão bí- Quanto à escolha dos diáconos, Calvi-
blica do cargo do diácono, e trabalharam para no, em seu comentário sobre Atos 6.1-6, con-
restaurar este ofício a sua tarefa original de siderou a ordenação dos sete diáconos como
ajudar os pobres. Não mais o diácono seria “um exemplo” para a igreja atual. “A escolha
simplesmente um servo do bispo e o meio de é permitida à igreja”, ao determinar aqueles
entrada no sacerdócio. O diácono tinha seu que servem como diáconos, ele escreveu: “O
próprio ofício que ele tinha que cumprir. método apropriado é que aqueles que assumem
qualquer ofício na Igreja devem ser eleitos por
Calvino e os outros Reformadores votos comuns,” de acordo com os critérios que
prezaram o ofício do diácono. Mas, imple- os apóstolos estabeleceram. “Nada pode ser
mentar esta visão da restauração deste ofí- feito exceto pelo consentimento e a aprovação
cio provou ser difícil. Por exemplo, embora do povo.” Mas ao mesmo tempo, Calvino es-
Martinho Lutero quisesse que os diáconos creveu, os pastores precisam “controlar os im-
funcionassem conforme o modelo de Atos 6, pulsos do povo, para evitar que sejam levados
foram as autoridades civis que organizaram pelo seu entusiasmo.”
ajuda para os pobres na Alemanha. O mes-
mo aconteceu em Zurique, cidade de Ulri- Calvino entendeu o ofício do diácono
co Zwinglio. Martin Bucer, em Estrasburgo como um ofício eclesiástico, e que a ordena-
não conseguiu restaurar o ofício do diácono ção dos diáconos precisa incluir a imposição
ao seu legítimo lugar bíblico na congrega- das mãos, de acordo com a prática menciona-
ção, porque o governo assumiu o papel de da em Atos 6.6. No entanto, parece que esta
ajudar os necessitados. E por causa da situ- prática não aconteceu em Genebra durante o
ação política em Genebra, até o próprio Cal- ministério de Calvino. Apesar disso, ele tinha
vino não conseguiu instalar o sistema que alto respeito pelo ofício do diácono, como um
ele queria, com os diáconos escolhidos pela chamado santo, espiritual, com a sua própria
congregação. Ele considerou os trabalhado- integridade. A administração dos diáconos
res no hospital, por exemplo, como diáco- dos sacrifícios dados a Deus pela congrega-
nos - mas esses funcionários foram aponta- ção, Calvino disse, mostra a importância do

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seu ofício. Neste assunto, o ofício do diácono deixarem dinheiro aos pobres nos seus testa-
não é inferior ao ofício do ministro ou prega- mentos. Eles recebiam dinheiro também por
dor; o diácono não é subordinado ao Ministro meio dos ofertórios geralmente, no fim do
da Palavra. No seu comentário sobre Atos 6.2, culto; por meio da caixa de esmolas na igre-
ele escreveu: “Nós sabemos que o cuidado dos ja; e também por meio de caixas de esmolas
pobres é uma coisa santa.” colocadas em lojas e negócios da cidade. Os
mais ricos eram encorajados a doar, e quando
A função do diaconato na época da Reforma eles falhavam em doar o suficiente para pagar
o salário do pastor, ou para apoiar os pobres,
Na França, os diáconos tinham dois fun- manter os prédios, etc., eles eram chamados
dos assistenciais - um para o ministério e outro de “os ingratos” pois, negligenciaram a sua
para os pobres. O primeiro foi usado para pagar responsabilidade moral e religiosa para com
a manutenção dos prédios, viagens dos minis- irmãos cristãos e para com a Igreja.
tros, o salário dos pastores, e outros emprega-
dos. Para os pobres, os diáconos providenciavam Conforme a ordem de governo eclesi-
roupas, comida, dinheiro, e empréstimos para ástico de Genebra, “Havia sempre dois tipos de
pessoas em necessidade - os cegos, deficientes, diáconos na igreja antiga. Um tipo foi apontado
viúvas, órfãos, refugiados e desempregados. No para receber, distribuir, e manter os bens para
caso dos meninos pobres, os diáconos organiza- os pobres, não somente esmolas diárias, mas
vam estágios ou aprendizagens com sapateiros, também posses, rendas, e pensões; o outro tipo
ferreiros, impressores, etc. Quanto às meninas cuidava e lembrava os doentes e administrava o
pobres, eles buscavam empregos como serven- subsídio dos pobres, um costume que nós ainda
tes, e eventualmente deram dotes para que elas mantemos no presente.”
pudessem casar.
A prática na igreja de Genebra incluía
Os elementos chaves do diaconato na a manutenção de uma lista de doadores, or-
época da Reforma foram emprego constru- ganizada em duas colunas - uma com os no-
tivo, casamento estável e famílias seguras mes dos doadores individuais, e a outra com
- tudo necessário para manter ordem públi- os nomes dos socorridos. Existia uma ligação
ca e a paz em sociedade. Pessoas que rece- entre doador e socorrido na lista, porém, do-
biam apoio tinham que ser piedosas e bem- adores e socorridos não se comunicavam di-
-comportadas. Desta maneira, os diáconos retamente. Os pobres recebiam pão, os ricos
tinham uma forma de controle dos pobres, contribuíam com dinheiro que a igreja usava
na supervisão de seu comportamento moral para comprar aquele pão. Mas este sistema
e fé religiosa. Por exemplo, em St. Andrews, personalizado foi enfatizado. Por exemplo,
Escócia, os socorridos tinham que ter a ha- num dos registros, podemos ler, “Polinair
bilidade de realizar as orações básicas para não quer doar ao Fraysinette.” Parece ter sido
receberem ajuda. uma tentativa de estabelecer um sentido de
obrigação pessoal entre contribuidores e
Os diáconos encorajavam pessoas a beneficiários. Neste sentido, a estrutura de

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bem-estar social ofereceu a crentes individu- antes da Reforma na Europa, na Idade Mé-
ais o forte conhecimento da sua responsabi- dia. Enfrentamos as mesmas dificuldades em
lidade cristã de ajudar os pobres.
relação à posição do Governo no cuidado dos
Os princípios maiores do sistema na
época da Reforma: pobres, temos também o desafio adicional de
lidar contra um sistema de governo socialista,
1. Caridade foi pessoal, não institucio- que dificulta o trabalho da igreja nesta área.
nal. Doadores conheciam os beneficiários;
2. Os beneficiários de caridade deve-
riam trabalhar se possível; Podemos dar graças a Deus pela volta
3. Os diáconos providenciavam não aos princípios bíblicos dos Reformadores. Mas,
somente as necessidades imediatas, mas tam- enquanto nós lembramos esta bênção de Deus,
bém ajudavam as pessoas a saírem da situa-
precisamos lembrar também de nossas raízes,
ção que causou a pobreza;
4. Tudo foi feito no contexto do povo e voltarmos aos princípios que nossos antepas-
da Aliança. sados redescobriram. Temos muito a aprender
dos Reformadores sobre a base bíblica do diaco-
Um exemplo desta prática é o dos re-
nato, e sobre como nós devemos mostrar o amor
fugiados Franceses em Genebra. Em 1549,
eles foram contratados para transcrever os de Cristo aos necessitados. Que estes exemplos
sermões de Calvino, e pagos pelos diáconos sirvam para nos encorajar a seguir os passos
para fazerem este trabalho. Isso foi mais um dos Reformadores, e executar estes princípios
exemplo da maneira como os diáconos ajuda-
na Igreja do Século XXI.
vam os pobres e vulneráveis, enquanto provi-
denciavam um serviço à igreja.

Pr. JIM WITTEVEEN é ministro da


Conclusão
Palavra servindo como missionário da Igreja
Vivemos em uma sociedade com as Reformada em Aldergrove (Canadá) em coo-
mesmas tendências que existiam na época peração com as Igrejas Reformadas do Brasil.

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VISITAS
DIACONAIS
Wietse Huizinga

1. Uma visão geral da função dos diáconos prego, rupturas familiares, tristeza e solidão.
Logo, não é de se admirar que o trabalho dos
A. A nova Forma de Ordenação de Diáconos diáconos tenha recebido tanta atenção e tenha
sido enfatizado nos documentos da Igreja.
Não é com frequência que a Forma de
Ordenação de Diáconos é lida durante um cul- A necessidade de uma explanação bí-
to público. Uma ou talvez duas vezes por ano blica mais esclarecedora sobre a origem do
a congregação a ouve. Portanto, uma breve ofício e uma descrição mais detalhada da fun-
análise da Forma no início desta conferência ção do diácono constituíram as razões para a
pode beneficiar-nos de muitas maneiras. Ana- nova Forma. E ela foi bem-sucedida em am-
lisá-la pode nos fazer lembrar da vocação e do bos os propósitos.
voto do diácono, pode nos ajudar a obter uma
perspectiva do tema, e, uma vez que recente- B. A nova Forma - um Estudo2
mente foi revisada, pode trazer à nossa mente
o fundamento bíblico para este ofício1. Podemos detectar imediatamente as
diferenças entre a antiga e a nova Forma ao
A nova Forma, adotada pelo Sínodo Ge- olharmos os textos bíblicos de referência.
ral das igrejas-irmãs no Canadá em 1983, é se- Por exemplo, ao invés de ir diretamente para
melhante à que foi adotada por nossas igrejas o Novo Testamento como na antiga Forma –
irmãs da Holanda em 1975. A antiga Forma, como também na nova versão holandesa –,
datada de 1586, foi fortemente influenciada esta nova Forma remonta ao Antigo Testa-
pelos pensamentos de João de Lasco, superin- mento, às raízes do papel do diácono. O Anti-
tendente dos protestantes em Londres. Estes go Testamento transborda com a preocupação
protestantes estrangeiros eram refugiados e, divina pelos pobres, os oprimidos, as viúvas,
como tal, sofriam de falta de moradia, desem- os órfãos e os estrangeiros. Por meio de Moi-

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sés, Deus imprimiu sobre Israel a obrigação cessidades e sofrimentos extremos estavam
de mostrar misericórdia para com os necessi- relacionados à desobediência à Lei de Deus.
tados e a nova Forma lista oito passagens de
Deuteronômio, destacando a preocupação de 4. O homem não passa de um mordo-
nosso Pai Celestial. mo das suas posses materiais, e jamais deve
se prender a elas, mas deixá-las verdadeira-
Dr. C. Van Dam resume os princípios mente livres como possessão de Deus e usá-
do Antigo Testamento para o diaconato do -las para o bem-estar e a liberdade dos filhos
seguinte modo: de Deus. Toda a riqueza e posses de Israel es-
tava confiada a eles para o benefício de todos.
1. Existem duas motivações principais
para o cuidado dos pobres: 5. O SENHOR certificava-se que os
• O SENHOR que havia libertado Seu vizinhos de Israel, que não faziam parte da
povo desejava que a Sua nação, Sua possessão aliança, compartilhassem muitos dos benefí-
mais preciosa, permanecesse na alegria de cios materiais ou não materiais desta aliança.
sua libertação e livre de toda privação e opres-
são, tanto financeira quanto outra qualquer. A inclusão dos ensinamentos do Anti-
• Todos deveriam ser capazes de go Testamento sobre a obra de misericórdia é
cumprir seu ofício e chamado. A pobreza não um valioso complemento à nossa nova Forma.
poderia ser um obstáculo para isto na comu-
nidade da Aliança. Em seguida, a nova Forma cita os en-
sinamentos e exemplos do nosso Senhor Je-
2. Os pobres e necessitados são to- sus Cristo. Nada disso estava na antiga ver-
dos aqueles que, por causa de necessidades são. Nós ouvimos que Cristo veio não para
especiais, não podem compartilhar a alegria ser servido, mas para servir. Para este servi-
da Aliança e não podem cumprir seu papel e ço (diaconia), nosso grande Diácono se humi-
responsabilidade na comunidade da Aliança. lhou e se esvaziou de Sua honra e glória ce-
Por esta razão, nunca devemos restringir as lestial. Ele se tornou como um de nós, e até
necessidades dos pobres em um sentido de- nosso Servo. Este serviço assumiu a forma
masiadamente restrito (por exemplo, apenas de ensino e cura, sustento para o faminto e
financeiro). Todas as diferentes necessidades compaixão pelos aflitos.
dos “pobres e necessitados” deverão ser aten-
didas pelo povo da Aliança como um todo. A maior demonstração de amor do nos-
so Salvador se deu quando Ele entregou Sua
3. O SENHOR nunca esperou o desen- vida por aqueles a quem Ele chamava de ami-
volvimento de uma necessidade extrema an- gos (Jo 15.13-15). Os cristãos se concentram
tes de entrar em ação. A legislação detalhada neste sacrifício sacerdotal na Ceia, que é dedi-
mostra como muitas vezes e de várias formas, cada à memória da morte de nosso Salvador. A
os pobres deveriam ser constantemente lem- Ceia reúne a família de Deus ao redor de uma
brados e cuidados. O desenvolvimento de ne- mesa. Os diáconos promovem esta koinonia,

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esta partilha comum dos benefícios de Cristo. e 1 Pedro 4.9 convocam todos os cristãos
A Forma holandesa aponta Lucas 22.27, em a mostrarem hospitalidade (até mesmo
que a questão a respeito de quem era o maior com desconhecidos), generosidade e mi-
foi levantada. Jesus ensinou que, usualmente, sericórdia. Isto leva à frase crucial, “Não
aquele que estava à mesa era maior do que deve haver ninguém na congregação de Cris-
aquele que o servia. “Pois no meio de vós, eu sou to que viva sem consolação quando tiver o
como quem serve”. Infelizmente, nossa nova peso da doença, solidão ou pobreza”.
versão não incluiu esta referência. Ambas as
formas destacam o exemplo de Cristo de la- Depois disso, a Forma aponta como
var os pés dos discípulos e citam João 13.15 Cristo nomeou diáconos para desenvolver
“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu este ministério de misericórdia. Finalmente,
vos fiz, façais vós também”. Estas palavras de Atos 6 entra em cena (a antiga Forma começa-
Cristo, proferidas antes da instituição da Ceia va com ele). Algumas das raízes para o ofício
do Senhor, deixam claro como Sua morte sa- de diácono (bem como para o ofício de presbí-
crificial, sempre lembrada à mesa do Senhor, tero) podem ser encontrados aqui.
está no centro de todo trabalho diaconal.
Dito isto, seguem-se as responsabilida-
Nossa nova versão, então, prossegue des dos diáconos de forma resumida. Eles de-
para a igreja do Pentecostes como descri- vem promover o progresso da caridade na Igre-
ta no livro de Atos e nas cartas de Paulo. A ja. Isso não significa que eles precisam fazer
igreja do Pentecostes colocou em prática os tudo sozinhos, também não devem se enganar
ensinamentos e exemplos de Cristo. O livro pensando que podem obter um estado perfei-
de Atos nos mostra como um ministério ati- to de relações. Os diáconos devem mobilizar
vo de misericórdia amenizou a pobreza, a a congregação, “com vistas ao aperfeiçoamen-
necessidade e a solidão na crescente Igre- to dos santos para o desempenho do seu serviço
ja de Jerusalém. Outra vez, a antiga Forma (diaconia)” (Ef 4.12). Para isto, eles devem se fa-
não fazia referência a isso. miliarizar com as necessidades e dificuldades
existentes, bem como incentivar os membros
Em seguida, a Forma aplica as Es- da congregação a praticarem “a fé que atua pelo
crituras para a Igreja contemporânea. Em amor”. A Forma holandesa afirma especifica-
Mateus 25.31-46, Cristo ensina que Ele mente que eles devem fazer isto “door huisbe-
julgará a humanidade, no dia do juízo, de zoek” (isto é, por visitas domiciliares). Embora
acordo com o grau de misericórdia mostra- não explicitamente declarado, isso está implí-
da àqueles que estiveram com fome, mal- cito em nossa Forma. Como, então, os diáco-
vestidos, sedentos e em prisões. “Sempre nos podem se familiarizar com as necessidades
que o fizestes a um destes meus pequeninos presentes na igreja e exortar a todos os mem-
irmãos, a mim o fizestes”, Cristo explica. bros a mostrarem misericórdia?
Aqueles que negligenciam este ministério
vital da misericórdia receberão a conde- Não somente a coleta, gestão e distribui-
nação. Romanos 12.13, Hebreus 13.2, 16 ção de ofertas para os necessitados, mas tam-

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bém o alívio da preocupação, o conforto para os vemos limitar o conceito de “necessitado”
que estão angustiados, e a amizade para os so- àqueles que são financeiramente pobres.
litários estão incluídos na tarefa dos diáconos. Nesta conjuntura, pode ser bom perguntar:
Podemos agradecer pelo fato de que a nova ver- como os diáconos tomam conhecimento da-
são diz muito sobre ministrar conforto, miseri- queles que estão em necessidade? Algumas
córdia e amor para com os aflitos, angustiados, respostas são óbvias. As próprias pessoas
solitários, doentes, deficientes ou pobres. podem se aproximar dos diáconos. Os mi-
nistros ou presbíteros, enquanto visitam a
Concluindo, a Forma remete ao objeti- congregação, podem descobrir as necessi-
vo geral do papel dos diáconos, isto é, que “os dades não satisfeitas e informarem os diá-
filhos de Deus cresçam em amor um para com conos. Os membros da igreja podem alertar
o outro e para com o mundo.” Os três textos os diáconos sobre uma necessidade existen-
mencionados (Gálatas 6.10; 1 Tessalonicenses te. A boa comunicação entre os oficiais traz
3.12; 2 Pedro 1.7) sublinham este propósito e ajuda coordenada. Quando isso acontece, o
norma. “E o Senhor vos faça crescer e aumen- conselho bíblico se combina à mão de mise-
tar no amor uns para com os outros e para com ricórdia para trazer tanto conforto quanto
todos, como também nós para convosco”, Pau- esperança. As visitas gerais dos diáconos,
lo escreve aos Tessalonicenses. “Por isso, en- que serão discutidas mais adiante, também
quanto tivermos oportunidade, façamos o bem ajudarão a identificar os problemas.
a todos, mas principalmente aos da família da
fé”, Paulo diz aos cristãos da Galácia. De um modo geral, os diáconos de-
vem entrar em cena antes que a pessoa ne-
Espero que esse estudo a respeito da cessitada se aproxime deles. A maioria das
Forma tenha preparado nossa mente para a pessoas hesita em se aproximar dos diáco-
questão principal: as visitas diaconais. nos. Quando finalmente o fazem, pode ser
uma evidência de que o problema já está
2. Diretrizes para visitas especiais dos diáco- fora de controle.
nos às pessoas com necessidade
O ministério da misericórdia deve fun-
A. Descobrindo as necessidades cionar bem na congregação caso existam proble-
mas a serem descobertos. Diáconos confiáveis,
Nesta seção, daremos atenção às vi- acessíveis, amorosos e cuidadosos fazem propa-
sitas especiais que os diáconos fazem para ganda de si mesmos. Os membros da congrega-
aqueles que estão em necessidade. A frase ção sentirão isso e lerão isso nas informações
“uma pessoa necessitada” é difícil de definir. que os diáconos disponibilizam. Dessa forma, os
Alguém pode estar necessitado por várias ra- próprios diáconos geram apoio dos membros e
zões. A necessidade pode advir de doenças, ganham a confiança dos necessitados. Essa é a
gestações, desemprego, luto, separação, fa- chave para descobrir as necessidades.
lência, deficiências ou acidentes. Todas es-
sas pessoas precisam de cuidados. Não de- B. Confidencialidade

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Os diáconos devem praticar a confiden- uns aos outros. Ao tratarem sobre estas visi-
cialidade. Os apóstolos recebiam as doações tas, os diáconos devem usar o mesmo cuida-
dos membros e as distribuíam para aqueles em do que os presbíteros (os presbíteros não dão
necessidade. Os membros necessitados não sa- uma descrição completa e detalhada de suas
biam quem havia feito as doações; os doadores visitas, tampouco relatam qualquer coisa, dita
não sabiam quem havia recebido as doações. em confidência). Nas reuniões do conselho, os
Havia confidencialidade. Nas igrejas Reforma- diáconos não precisam explicar cada “caso”.
das, tal confidencialidade desempenha um pa- Deve ser dado um relatório completo apenas
pel fundamental no apoio aos membros neces- se os presbíteros e os ministros precisarem
sitados. Para muitos, estar em necessidade já estar envolvidos no caso.
é problema suficiente, e ver seu caso se tornar
público só aumentaria a vergonha e o estigma. C. Vulnerabilidade

Além disso, os diáconos pedem muitos Aqueles que estão em perigo ou estão
detalhes daqueles que deverão receber ajuda. aflitos muitas vezes se sentem vulneráveis.
Estas informações pessoais e privadas devem As tensões, os medos, as tristezas e as ansie-
ser mantidas em sigilo. Eu sugiro que nin- dades deixam esses cristãos expostos a má-
guém (nem mesmo a esposa do diácono), ex- goas. O só pensar em uma visita diaconal já é
ceto um outro diácono deveria compartilhar suficiente para deixar uma pessoa apreensiva
desta informação. A quebra de confiança que e nervosa. O diácono deve ter isso em men-
uma pessoa tem em um diácono pode provo- te quando faz visita. Uma maneira de supe-
car um sofrimento incalculável. Tenho cer- rar isso é se comportar com naturalidade e
teza de que todos nós já ouvimos pesarosas ser humilde. Enxergue os necessitados como
histórias de e sobre pessoas que não querem companheiros pecadores redimidos pela gra-
nem saber de diáconos por terem experimen- ça. Deixe claro para eles que todos nós poderí-
tado essa quebra de confiança. Os membros amos nos encontrar em situação semelhante
da igreja devem ser capazes de contar aos diá- e que fomos chamados a “carregar as cargas
conos todos os seus problemas sem sentirem uns dos outros”.
medo de serem expostos.
Em alguns casos, os diáconos precisam
Os diáconos, no entanto, não devem ser corrigir falhas, repreender hábitos pecamino-
chantageados a manter silêncio sobre pecados sos, insistir em padrões de vida piedosos e in-
não confessados e não resolvidos. Pecados de- culcar novas práticas. Isto significa conversão,
vem ser tratados, e a ajuda do ministro e dos o lançar fora a velha natureza e o revestir-se
presbíteros deve ser buscada. É preciso enten- da nova natureza em Cristo. Como pecadores,
der que, em tais casos, qualquer voto de sigilo nós não aceitamos tais advertências, mas as
está condicionado a este ponto importante. resistimos. Isto poderá ser um problema para
os diáconos. Para ajudar um membro neste
A confidencialidade também deve ser caso, os diáconos precisam de compreensão,
observada quando os diáconos se reportam compaixão e firmeza.

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D. Ouvidos atentos as facetas do caso sejam identificadas. Por
exemplo, se uma viúva explica que não tem
Ouvir bem é uma arte que poucos de o suficiente para pagar suas contas, os diá-
nós aprendemos com perfeição. Todavia, é in- conos devem fazer mais perguntas. Ela pode
dispensável. Em visitas especiais, ouça o que atuar normalmente na igreja e na vida cotidia-
é dito. Não pressuponha que tudo foi compre- na? Ela tem o suficiente para contribuir com
endido, e faça perguntas. Esteja interessado e a igreja e com os seminários? Se ela não pode,
coloque-se no lugar da pessoa. Ouça também há algo de errado. Ela pode viver decente e ra-
o que não é dito, pois, muitas vezes, isso reve- zoavelmente? Se ela nunca consegue sair ou
la tanto quanto o que é dito. tirar folga do trabalho então os diáconos pre-
cisam perguntar mais. Não seja míope, mas
Os membros são muitas vezes afligidos leve em consideração a situação geral e minis-
por problemas, solidão, angústia ou ansieda- tre de acordo com isso. Só assim, os diáconos,
des. Eles precisam de alguém para conversar, quando distribuem ofertas em dinheiro, real-
alguém que os ouça com interesse. Somente mente oferecem ajuda. Você não paga certos
ao ouvir com atenção um diácono saberá que itens de um orçamento, por exemplo, a escola
conforto bíblico específico oferecer. Talvez, ou um carro. Não, você oferece o que é neces-
aquela passagem das Escrituras que ele pre- sário para satisfazer as necessidades de um
tendia ler precise ser alterada como resulta- orçamento cristão.
do daquilo que escutou. Sua oração também
deve refletir isso. Em casos de necessidade material, os
diáconos solicitarão um orçamento (familiar),
E. Avaliando as necessidades o que é muito útil. Isso significa que todos os
fatores, e não apenas um ou outro, serão ana-
Quando os diáconos vão a um membro lisados. Os diáconos podem, então, analisar se
que necessita de cuidados pela primeira vez, os membros praticam uma boa mordomia, ou
seria sábio não ir sozinho. Dois diáconos ou- se são demasiadamente econômicos ou extra-
vem e observam mais do que um. Isso garante vagantes. Muitos membros necessitados não
que o assunto seja bem discutido e bem fun- têm esse orçamento. Eles vivem de semana a
damentado. A responsabilidade na tomada de semana, gastando dinheiro a torto e a direito.
decisões é compartilhada. É um princípio bí- Em pouco tempo, suas carteiras ficam vazias.
blico e digno de total aceitação. Exija que tais pessoas façam um orçamento.
Se necessário, ajude-as a fazê-lo.
Nesta avaliação, é necessário abordar
o assunto educada e fraternalmente e, em Em alguns casos, os membros preci-
seguida, dar espaço para que os membros sam aprender a viver nos limites de seus re-
tenham oportunidade de relacionar as suas cursos; em outros casos, eles precisam ser en-
necessidades. Ouça e, se o caso envolve fatos corajados a pedir ajuda para que possam viver
e dados que você precisará se lembrar, tome com dignidade. Sobre as práticas diaconais no
nota. Além disso, certifique-se de que todos passado, tem sido dito que eles ofereciam aos

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membros mais do que o suficiente para a sua ser coordenados com os do ministro e presbí-
morte, mas pouquíssimo para a sua vida. Isso teros e, talvez, juntos, eles façam uma visita.
não deveria acontecer mais. Como a Forma diz, é preciso oferecer confor-
to a partir da Bíblia. E a oração, em que as ne-
Ao terminar a visita, os diáconos devem cessidades específicas são trazidas diante do
resumir o que irão relatar e recomendar, e o que Trono da graça, deve concluir tais visitas.
os membros devem fazer por conta própria.
G. Visitas de retorno
F. Outras dimensões da necessidade
Dependendo da natureza da necessida-
Como aprendemos da Forma, a de, os diáconos repetirão visitas especiais. Ge-
ajuda diaconal é muito mais do que ralmente, nestas visitas, eles costumam tra-
distribuir dinheiro. Uma parte consi- zer os fundos necessários. Para outros tipos
derável da visita diaconal tem a ver de necessidade, eles retornarão conforme a
com outras necessidades. As necessi- possibilidade e a demanda. Muitas vezes, eles
dades emocionais dos idosos, das vi- mobilizarão outros para mostrarem miseri-
úvas, dos solitários e/ou solteiros, de córdia e cuidados. Coordenar a ajuda domés-
pais solteiros, ou dos def icientes não tica para mulheres grávidas ou para aqueles
devem ser negligenciadas. Uma varie- que não podem cumprir esses deveres, é ape-
dade de fatores complicadores, muitas nas um exemplo. Os diáconos estarão ainda
vezes, acompanham tais necessidades. ocupados visitando. Aquelas simples visitas
Aqueles que são cronicamente doentes diaconais em que um membro vê o cuidado
precisam de visitas e ânimo cristão. do Salvador significam muito, muito mais do
Membros def icientes, especialmente que os diáconos têm consciência. A apreensão
aqueles em instituições, exigem aten- muitas vezes nos impede de fazer visitas, mas
ção diaconal. O divórcio traz a sua uma vez que a visita foi feita, nós experimen-
quota de problemas e aprofunda os já tamos quão bom é compartilhar a misericór-
existentes. O desemprego gera dif i- dia de Deus com alguém.
culdades espirituais, bem como mate-
riais. Problemas nos negócios, como a Algumas palavras sobre a seleção de
falência, por exemplo, podem sinali- passagens bíblicas devem ser consideradas.
zar um declínio espiritual. O excesso Ao compartilhar as Escrituras, pode-se fazer
de álcool também multiplica os sofri- uso dos sermões, textos discutidos em grupos
mentos. Estes são apenas alguns dos de estudos bíblicos ou passagens lidas e estu-
problemas que os diáconos terão de dadas em casa. O conhecimento geral da Bí-
enfrentar. blia é um pré-requisito para os diáconos, bem
como para os presbíteros. Assim, eles serão
Obviamente, situações como essas de- capazes de substituir o trecho bíblico previa-
mandam muito conselho e conforto. Frequen- mente selecionado por outro que melhor aten-
temente, os esforços dos diáconos precisam da a necessidade que acabou de descobrir.

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H. Relatório Forma diz, “não somos capazes de cumprir tudo
isso de nós mesmos.” A oração é necessária.
Como mencionado acima, o relatório Juntamente com o estudo e a meditação da Bí-
deve incluir apenas os elementos essenciais. blia, os diáconos precisam se aproximar do tro-
Também é uma boa prática registrar esses no da graça para pedir ajuda aos necessitados
pontos essenciais brevemente, para que se (Hb 4.14-16), e suprimentos de compaixão para
possa voltar a eles quando necessário e tam- si mesmos. Pois, como diz Pedro, “se alguém
bém para que novos diáconos possam tomar serve (diaconia), faça-o na força que Deus supre,
conhecimento no que se refere às discussões para que, em todas as coisas, seja Deus glorifica-
e decisões passadas sobre estas mesmas pes- do, por meio de Jesus Cristo” (1 Pe 4.11).
soas. Isso de modo algum viola a confidencia-
lidade. Nem é preciso dizer que o livro deve 3. Orientações para visitas gerais de
ser armazenado de forma segura. diáconos

I. Oração A. Objetivo

Até agora pouco foi dito sobre os pró- Da mesma forma que diferenciamos as
prios diáconos. Onde eles encontrarão todos os visitas domiciliares regulares das visitas es-
recursos necessários? Não oferecemos treina- peciais feitas pelos presbíteros, podemos dis-
mento formal para os diáconos, embora a Bíblia tinguir as visitas diaconais gerais das visitas
diga que os diáconos devem ser avaliados antes especiais. No entanto, as visitas gerais, pelo
de serem indicados (1 Tm 3.10). Então, se apro- fato de não serem comuns entre nós, necessi-
vados, eles podem ser nomeados. Paulo está tam de maior esclarecimento.
aparentemente prevendo alguma forma de trei-
namento, um tipo de estágio que combine ins- Começaremos citando a Forma para
trução bíblica com experiência prática. Nossos Ordenação: “É responsabilidade dos diáconos
diáconos recebem esta instrução apenas quan- zelar pelo bom progresso do serviço de caridade
do já se tornaram oficiais! Como igrejas Refor- na Igreja. Eles devem conhecer pessoalmente as
madas, devemos considerar se cumprimos as necessidades e dificuldades que existem, exor-
Escrituras a este respeito. Deveria haver uma tar os membros do corpo de Cristo a mostrarem
reforma contínua no treinamento preparatório caridade aos irmãos.”
que oferecemos aos diáconos e exigimos deles.3
Isto, em poucas palavras, afirma o pro-
Como, então, os diáconos encontram pósito das visitas gerais (domiciliares) dos
os recursos necessários para suas tarefas? Nas diáconos.
igrejas reformadas isso vem do treinamento ge-
ral nas Escrituras em casa, nos seminários, na B. Formato e duração
catequese, nos grupos de estudo bíblico e por
meio de atividades relacionadas à igreja. Tudo A visita pode ser conduzida por um ou
isso é indispensável, mas é suficiente? Como a dois diáconos. Se feita por um diácono, a vi-

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sita será mantida um pouco menos oficial e 1. Para promover e cuidar do bom an-
mais casual, o que provavelmente será bom. damento da caridade na igreja, dê uma rápi-
Além disso, as visitas de apenas um diácono da visão geral do ministério da misericórdia
podem significar que a congregação será to- conforme ensinado pela Bíblia. Use a Forma
talmente visitada em um tempo mais curto e de Ordenação de Diáconos para orientar a dis-
sem interromper o trabalho de misericórdia cussão. Descreva brevemente como a miseri-
em andamento. Por outro lado, alguns diáco- córdia era mostrada na antiga Aliança, como
nos hesitarão em fazer tais visitas sozinhos. foi cumprida em Cristo e como a igreja do
Eles se sentem mais confiantes quando acom- Novo Testamento mostrou misericórdia.
panhados por outro diácono e isso contribui
para o caráter oficial da visita. Isso significa A leitura bíblica pode ser um bom pon-
que ambos ouvirão as informações dadas e to de partida para esse resumo rápido.
ambos podem contribuir para a visita. Tam-
bém permite uma melhor avaliação da visita Passagens sugeridas: Deuteronômio
depois. Não há exatamente uma regra a se- 15.7-11; Mateus 25.31-46; Lucas 10.30-37; Atos
guir, logo, os prós e contras devem ser anali- 4.32-37.
sados antes de decidir como tudo será feito.
2. Para promover o progresso da mise-
A visita poderia começar com uma ricórdia, descreva as necessidades existentes
breve oração e uma breve leitura bíblica. Isso na congregação. Em uma igreja em cresci-
garante o devido respeito pela visita. Caso mento, as pessoas nem sempre conhecem to-
contrário, pode se transformar em uma visita das as necessidades reais. Liste os membros
social, com pessoas indo e vindo. É bom termi- com deficiência. Aqueles que cuidam desses
nar com uma breve oração em que as necessi- membros muitas vezes consideram algum
dades encontradas possam ser relembradas. alívio bem-vindo, pois trata-se de uma tarefa
cansativa. Fale sobre membros solteiros e pais
Especialmente quando um membro ou solteiros que estão frequentemente solitários
uma família tem recebido visitas frequentes, e que precisam de conforto. Muitos idosos so-
não há motivos para que elas sejam longas. frem com alguma limitação física e emocio-
As visitas gerais não devem ter mais do que nal. Os membros que são viúvos sofrem, mais
trinta a quarenta minutos de duração, exceto do que sabemos, com a solidão. Estimule os
quando as circunstâncias exigirem mais tem- membros a mostrarem amor e hospitalidade
po, embora as visitas iniciais serão provavel- para tais pessoas, especialmente aos Domin-
mente maiores. Normalmente, o diácono deve gos. E, no tocante aos pobres, dê informações
ser capaz de visitar duas casas em uma noite. gerais, sem muitos detalhes.

C. Pontos para discussão 3. Para se familiarizar com as necessi-


dades existentes na congregação, os diáconos
Podemos propor os seguintes pontos devem perguntar se há alguma necessidade
para discussão em tais visitas: não atendida na família; é comum que as ne-

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cessidades sejam ignoradas ou esquecidas, bem como na comunidade, que se beneficiam
mas nada deve ser tomado como garantido. de nosso suporte. Os diáconos devem ter uma
Também é preciso combinar uma boa mistu- lista disponível contendo informações sobre
ra de questões profundas com fraternidade. essas coletas e organizações diaconais.
As pessoas não gostam de alguém se introme-
tendo em seus assuntos privados sendo mui- D. Relatório
to oficiais ou muito casuais. No entanto, para
obter uma imagem correta e significativa de Os diáconos devem relatar essas visi-
um membro ou família, um diácono precisa- tas em uma de suas reuniões e documentar
rá fazer algumas perguntas de sondagem de todas as informações pertinentes, de modo
uma maneira fraterna. Além disso, pergunte que futuros diáconos possam se beneficiar
também aos membros se eles sabem de algu- desse relatório.
ma necessidade na congregação que não está
sendo atendida. Muitas vezes, os membros já E. Frequência
praticam o amor de Cristo de várias maneiras.
Será instrutivo para os diáconos saber disso. Geralmente, o mandato de um diáco-
Os membros geralmente conhecem as neces- no é de três anos. Portanto, seria bom que os
sidades existentes e podem saber mais do que membros designados para um diácono fossem
os diáconos. visitados pelo menos uma vez durante esses
três anos4. Além dessas visitas gerais, os di-
4. Observe se os membros daquela áconos devem fazer outras visitas especiais.
casa possuem talentos especiais, além dos Isso significa que os diáconos não devem ten-
dons para nosso chamado comum de praticar tar se estender demais, mas serem realistas
misericórdia e generosidade, que possam dis- sobre o que pode ser feito. Fazer mais do que
por para o progresso da misericórdia na igre- uma visita a cada três anos parece desneces-
ja. Promova obras de misericórdia “uns para sário e poderia tornar as visitas sem significa-
com os outros e para com todos”. Procure ve- do e costumeiras.
rificar a variedade de dons do Espírito Santo
presentes na congregação. Incentive-os com Por outro lado, as visitas a cada três anos
as palavras do apóstolo Pedro “Servi uns aos não devem ser supérfluas; uma vez que as situ-
outros, cada um conforme o dom que recebeu, ações mudam e as pessoas precisam ser cons-
como bons despenseiros da multiforme graça de tantemente lembradas sobre a necessidade do
Deus” (1Pe 4.10). ministério da misericórdia na igreja e por ela.

5. Informe os membros sobre os pro- F. Distribuição de responsabilidades


pósitos das coletas dominicais. Muitas vezes,
há falta de conhecimento sobre este assunto. A carga de trabalho quando bem orga-
Isso também abrirá outra porta, a saber, expli- nizada e dividida ajuda muito nessas visitas.
car aos membros as várias agências ou organi- Para dividir este trabalho, os diáconos terão
zações diaconais na igreja e nas igrejas-irmãs, que designar um número proporcional de ca-

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sas para cada diácono. A divisão dos membros os mesmos membros. Seria, então, sensato
por localidade favorece isso. Em muitas con- que presbíteros e diáconos se mantivessem
gregações, há metade da quantidade de diáco- informados a fim de coordenarem seus es-
nos em relação à quantidade de presbíteros. forços da mesma forma que os ministros e os
Para cada diácono é, então, designada uma presbíteros fazem. Mas, os presbíteros não
localidade da igreja. Ele sabe quem está sob devem sentir como se os diáconos estivessem
seus cuidados pessoais. O diretório da igreja invadindo seu território, pois o fato de ambos
pode fazer uma lista dos diáconos e suas res- os ofícios oferecerem seus serviços para as
pectivas localidades. O diácono local conduz mesmas necessidades demonstra a unidade
a visita em casos de visitas feitas por dois di- entre eles. Afinal de contas, todos os ofícios
áconos. Desta forma, os membros saberão a vêm de Cristo, que reúne em Si os três ofícios.
quem recorrer por ajuda. Isso é muito melhor Nele, todos os ofícios encontram sua união.
do que ter diáconos responsáveis por toda a Além disso, presbíteros e diáconos darão ên-
congregação. Em geral, uma boa divisão da fases diferentes às suas visitas. Os diáconos,
carga de trabalho traz ordem e satisfação. mostram misericórdia e conforto, anseio por
servir, e estimulam os membros a mostrarem
4. Notas para discussão ajuda aos necessitados. E os presbíteros, su-
pervisionam o rebanho e administram todos
Uma vez que a discussão em um artigo os benefícios de Cristo. Os diáconos não de-
normalmente inclui material muito valioso, vem se envolver em questões de disciplina
nós listamos aqui um pouco deste material. eclesiástica.
A contribuição de vários diáconos na Confe-
rência Armadale foi de grande utilidade. Algu- b) Fazer visitas gerais a todos os mem-
mas perguntas e respostas foram agrupadas. bros parece algo novo. De onde vem essa ideia?

a) Os diáconos não estariam realizando Os diáconos sempre estiveram envol-


as tarefas de um presbítero ao receberem o man- vidos em incentivar a congregação a mostrar
dato de visitar e instruir, bem como de mostrar misericórdia. Os diáconos não devem pensar
misericórdia? Por exemplo, visitar membros que precisam fazer todo o trabalho. Eles são
solitários ou idosos também é tarefa dos pres- catalisadores para dirigir os membros a fa-
bíteros. Oferecer conforto bíblico aos doentes zer “o trabalho de assistência”. Para isso, eles
também é trabalho dos presbíteros. Os presbíte- precisam ter contato direto com os membros.
ros não sentiriam que seu território está sendo Além disso, os diáconos precisam se familiari-
invadido pelos diáconos? zar com as necessidades da igreja. Isto requer
visitas, além da obtenção de informações so-
Sem dúvida alguma, o trabalho dos diá- bre aqueles em necessidade a partir de outros
conos e dos presbíteros às vezes coincide. As- membros, diáconos ou presbíteros. A fim de
sim como os presbíteros e ministros frequen- fornecer informações sobre as necessidades
temente visitam os mesmos lares pelo mesmo e sobre os serviços disponíveis, os diáconos
propósito, os diáconos também podem visitar precisam ter contato com os membros. As vi-

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sitas gerais a todos os membros são excelen- É preciso insistir que a confidenciali-
tes meios para fazer tudo isso. Não acho que dade é uma via de mão dupla. É muito estra-
isso seja algo novo. Os diáconos têm feito vi- nho que um membro viole a confidencialida-
sitas de familiarização a todos os novos mem- de mantida pelos diáconos para seu próprio
bros ou aos recém-casados em algumas igre- benefício. Talvez isso resulte do nosso siste-
jas. Essas visitas são semelhantes em caráter ma de bem-estar social, no qual as pessoas se
e propósito. Também sempre visitaram todos tornam acostumadas a reclamar da ajuda que
os membros, dando informações e buscando recebem gratuitamente. Se necessário, os di-
o apoio deles para necessidades específicas. áconos podem repreender tais membros que
Em certo sentido, as visitas gerais dão a este provocam inveja, competição e desordem na
bom costume mais proeminência e sistemati- congregação.
zam essa boa prática.
e) Em quais situações os diáconos estão
c) A confidencialidade foi salientada no ar- autorizados a assumir responsabilidades dos mem-
tigo. E se os membros solicitarem detalhes sobre os bros que não podem lidar com elas? Por exemplo,
necessitados? Essa informação poderá ser dada? alguns membros são incapazes de lidar com di-
nheiro, mesmo depois de muito conselho recebido.
Isso vai depender da necessidade es- Os diáconos poderiam, nesse caso, assumir certas
pecífica. Se for ajuda financeira, não dê deta- responsabilidades específicas para que os fundos
lhes. Dê apenas informações gerais que esti- diaconais não sejam desperdiçados?
mularão outros membros a oferecerem ajuda.
A regra deveria ser: falar o mínimo possível. Se os membros são incapazes e indis-
Se houver necessidades tais como a solidão, postos a agir como mordomos dos bens de
a doença, o desemprego ou acidentes, nesse Cristo, então os diáconos devem corrigir e re-
caso é bom informar os membros da congre- provar, exortar, instruir, aconselhar e incen-
gação. Isso só vai ajudar. Em congregações tivar os membros para que mudem seus há-
menores, tal informação se espalha espontâ- bitos ímpios. Eles devem trabalhar duro para
nea e rapidamente. Em congregações maio- tal mudança ou conversão, conforme a lingua-
res leva mais tempo para informar todos os gem bíblica. Da mesma forma que Deus tem
membros; talvez o boletim possa ser útil, se a conservado nossas responsabilidades, os diá-
necessidade o justificar. conos devem continuar a responsabilizar os
membros por suas próprias obrigações. Mes-
d) E se aqueles que recebem ajuda dos di- mo que isso signifique que os membros come-
áconos informarem outros membros sobre isso terão erros, esse é um risco que os diáconos
e até mesmo contarem o quanto recebem? Às devem assumir. E, se erros forem cometidos,
vezes, alguns membros comparam valores com isto oferecerá aos diáconos uma ótima oportu-
outros membros necessitados para que possam nidade de reforçar os pontos de instrução. So-
“barganhar” com os diáconos por mais apoio. O mente em circunstâncias especiais os diáco-
que os diáconos devem fazer se a confidenciali- nos devem assumir as responsabilidades dos
dade for violada? membros. Se o fizerem, deverão transferir a

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administração do orçamento, por exemplo, h) Os diáconos devem abrir a visita com
de volta ao membro o mais rápido possível. oração e leitura bíblica ou encerrá-la assim?

f) Como os diáconos podem escolher ra- Os presbíteros têm as mesmas dúvi-


pidamente os textos que atendam às necessida- das. O melhor a ser feito é manter a flexibilida-
des específicas ouvidas durante suas visitas? de. Em alguns casos, pode ser melhor esperar
para fazer a leitura bíblica. Mas, usualmente,
Ficamos frequentemente impressio- uma breve oração e leitura da bíblica dá o tom
nados sobre os recursos que Deus nos dá. e realça o caráter da visita.
Se pressionada, nossa mente usualmen-
te consegue se lembrar de um texto apro- Notas:
priado. Mas, se isto não acontecer, por que
não admitir isso abertamente, prometendo 1 O autor se refere à forma litúrgica usada
por Igrejas Reformadas para a ordenação de diáco-
ao(s) membro(s) considerar aquele ponto
nos. Neste caso específico se refere à forma adotada
em casa e marcar uma outra visita para dis- pelas Igrejas Reformadas Livres na Austrália, que
cuti-lo? Isso não precisa ser constrangedor. haviam sido revisadas um pouco antes da publica-
Muitos de nós temos que fazer isto. Deus é ção do artigo. Este artigo foi publicado originalmen-
Onisciente. Nós não somos. te na Revista Diakonia (Canadá) em 1990.

g) Quanto tempo deve durar as visitas ge- 2 A forma litúrgica para a ordenação de di-
rais? Duas ou três visitas por noite não é muita áconos usada pelas Igrejas Reformadas do Brasil
pode ser encontrada em: http://www.igrejasrefor-
ambição?
madasdobrasil.org/culto/forma-para-ordenacao-de-
-presbiteros-e-diaconos
A primeira visita feita a uma famí-
lia levará mais tempo do que uma visita de 3 É aconselhável, principalmente na plan-
acompanhamento. Ademais, se problemas tação de uma igreja, oferecer alguma instrução aos
surgirem, a visita será mais longa e/ou será homens da igreja sobre o trabalho diaconal, antes
necessário outra visita. Uma visita bem or- da eleição e ordenação.
ganizada não precisa demorar muito. Al-
4 Os editores acreditam que no Brasil é reco-
gum trabalho de preparação deve ser fei-
mendável que seja feita uma visita diaconal por ano.
to com os membros, pois eles precisam se
acostumar com essas visitas. Os diáconos Tradução: Ester Santos.
terão de explicar estas visitas à congrega- Revisão: Arielle de Eça.
ção, talvez em uma reunião congregacional.
Algumas informações no boletim da igreja
também ajudarão. Assim sendo, as visitas O Pr. WIETSE HUIZINGA é ministro
não durarão mais do que uma hora, se os da Palavra das Igrejas Reformadas Livres na
diáconos liderarem a discussão e não per- Austrália (Emeritus).
mitirem que a visita se torne infrutífera por
causa de pequenas conversas.

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COMO PLANEJAR AS

VISITAS
DIACONAIS
ANUAIS

Julius VanSpronsen

A. O diácono como bombeiro e/ou treinador lidade dos diáconos vai além do trabalho de
reagir às emergências, pois, também devem
Todos os diáconos reformados con- “exortar os membros do corpo de Cristo a mos-
fessam que a igreja verdadeira precisa de di- trarem caridade aos irmãos”, e “promover, por
áconos “para que os pobres e todos os aflitos palavras e atos, a união e comunhão no Espírito
sejam socorridos e consolados segundo as suas Santo, que a congregação desfruta na Mesa do
necessidades” (Artigo 30, Confissão Belga).1 Senhor” (Forma para Ordenação de Diáconos).
Para cumprir esta responsabilidade, os diáco- O Regimento das Igrejas Reformadas do Brasil
nos visitam quando há uma emergência, um explica de forma ainda mais explícita. Confor-
pedido de um membro necessitado ou uma me este artigo, entre os deveres dos diáconos,
recomendação de um presbítero. Em muitos está o de “conhecer pessoalmente, através de vi-
casos, os diáconos são como bombeiros, que sitas, as necessidades e dificuldades que existem
adotam uma estratégia de reação segundo ne- na congregação e exortar os membros do corpo
cessidade. A diferença é que bombeiros não de Cristo a demonstrarem misericórdia”.
fazem uma escala de visitação anual, até por-
que não faz sentido jogar água numa casa que O dever de responder às necessida-
não está em chamas. des, pedidos e emergências é uma parte do
que significa fazer visitas regulares a todos
Mas, será que os diáconos “bombeiros” os membros na congregação. O diácono re-
são fiéis ao seu mandato e aos seus votos de formado é mais do que “um bombeiro finan-
ordenação? A resposta para diáconos que são ceiro” que joga dinheiro às emergências e,
membros das Igrejas Reformadas encontra-se por esta razão, muitas Igrejas Reformadas
tanto na Forma para Ordenação de Diáconos adotaram a prática de visitas diaconais anu-
quanto no seu Regimento (Artigo 17). Estes ais. O objetivo destas visitas é semelhante ao
dois documentos explicam que a responsabi- trabalho de um treinador de esportes, que

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encoraja trabalho em equipe exortando os mãos, da fidelidade da igreja em suas ofertas,
membros a utilizarem seus dons de forma da capacidade dos membros em lidar com di-
responsável para que seja promovida a comu- nheiro e da quantidade de viúvas, órfãos, es-
nhão dos santos. Como “treinador”, os diáco- trangeiros e necessitados na igreja em propor-
nos vão estabelecer uma agenda de interação ção aos diáconos ordenados. Embora, é claro
com todos os membros da congregação; e sa- que os diáconos devem tentar fazer o máximo
bendo que provavelmente serão chamados possível (mais é melhor do que menos), afinal
para servirem como “bombeiros” deixarão de contas, a necessidade determina a frequ-
espaço na agenda para visitas imprevistas e ência das visitas diaconais. Antes de colocar
situações de emergência. O bombeiro serve as visitas na agenda, cada diácono deve indi-
quando é chamado, então podemos concluir car quantas visitas pode fazer cada semana
que o diácono pode também ser um “bombei- (pelo menos uma). Na conversa sobre a frequ-
ro”, mas sempre será um “treinador”. ência, os diáconos não devem se esquecer de
que nem todas as famílias precisam de visi-
B. Diáconos determinam expectativas tas anuais, apesar de que não seria edificante
comuns numa reunião para os membros se o período entre essas vi-
sitas exceda dois anos.
Embora todos os diáconos reformados
concordem com o dever de fazer visitas 2. Agendamento
regulares a todos os membros na igreja, não
existem regras quanto ao planejamento das Embora os diáconos não possam agen-
visitas diaconais. Cada congregação tem a sua dar visitas emergenciais, podem sim colocar
própria cultura, e por isso, os diáconos em todos os membros numa agenda de visitação.
cada igreja devem tomar uma decisão numa Uma escala de visitação vai ajudar os diáco-
reunião sobre a necessidade, o propósito, a nos de várias maneiras. Primeiramente, uma
frequência, o agendamento, as prioridades e vez que todos os membros estão na lista, os
pautas das visitas diaconais regulares. Faz todo diáconos terão a certeza de que não esquece-
sentido colocar o assunto de visitação diaconal ram ninguém no seu trabalho.
em pauta na primeira reunião depois da mais
recente ordenação. Pressupondo que todos os Em segundo lugar, os diáconos podem,
diáconos recém-ordenados concordem sobre deliberadamente, refletir as prioridades bíbli-
a necessidade e propósito das visitas, antes cas no seu agendamento. Depois de determi-
de estabelecer uma escala de visitação será nar quantas visitas o grupo de diáconos pode
necessário conversar apenas sobre a frequência, fazer em cada semana, ou seja, depois de mar-
agendamento e a pauta das visitas. car todos os horários disponíveis e reservá-los
para o trabalho diaconal, é necessário encher
1. Frequência a agenda com os nomes das pessoas que pre-
cisam de atenção especial. Os pobres, os afli-
A frequência das visitas diaconais de- tos, e os solitários que já são conhecidos serão
pende da evidência de caridade entre os ir- priorizados conforme necessidade (por exem-

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plo, uma visita mensal). Os membros que não a pauta da visita diaconal é começar com os
precisam de assistência financeira, mas que resultados desejados. O que os diáconos pre-
são negligentes em suas ofertas e na comu- cisam saber ao terminarem a visita? Como
nhão dos santos serão colocados na agenda será feito o relatório da visita?
depois (uma visita a cada 6 meses). Os novos
membros, noivos ou recém-casados que pre- A pauta simples da visita será determi-
cisam de um período de educação sobre a ad- nada pelo relatório desejado:
ministração dos seus bens para que possam
ofertar fielmente na igreja, também devem (1) O motivo da visita: visita anual para
ser incluídos na agenda neste momento. Os promover a comunhão dos santos; visita emer-
demais membros serão agendados em um dia gencial para salvar vidas; visita de encorajamen-
livre da agenda ou, como veremos, quando fo- to para viúvas, órfãos ou estrangeiros; visita de
rem vizinhos de um membro que já está no exortação para lidar com infidelidade; visita de
cronograma de visitas. instrução para treinar novos membros; ou visita
de avaliar um pedido financeiro;
Em terceiro lugar, ao fazer uma escala
de visitação, os diáconos, por estarem bem or- (2) A leitura bíblica e instrução apro-
ganizados, poderão diminuir as despesas de priada: muitas vezes os diáconos escolhem
transporte e o tempo desperdiçado. Fazendo um tema bíblico para abordarem em todos os
uma escala de visitação, os diáconos podem lares durante o ano de visitação. A vantagem
agendar visitas conforme geografia (localiza- de escolher um tema para o ano na reunião
ção das casas), e possivelmente fazer duas de organização é que otimiza o tempo neces-
visitas, na mesma noite, a duas famílias de sário para organizarem as visitas, além de
uma mesma vizinhança. Finalmente, o agen- encorajar os membros a se prepararem antes
damento das visitas revela se as expectativas da visita, e garantir que as instruções dos diá-
são realistas para o diaconato. Quando todos conos não sejam repetitivas durante o tempo
os nomes são colocados na escala de visitação, em que servirem como oficiais. Os diáconos
os diáconos terão uma boa ideia sobre o peso podem usar, por exemplo, um assunto como
do trabalho, quantas visitas por semana serão “generosidade” junto com os textos bíblicos
necessárias, e como dividir o trabalho entre que revelam este fruto do Espírito Santo, ou
eles. É possível imaginar que alguns diáconos talvez, versículos como estes de Tiago 1.19-27,
reconhecerão que precisam investir mais do ou ainda, o primeiro ou oitavo mandamento.
seu tempo em visitas ou que a igreja necessita
buscar mais homens para o ofício. (3) Avaliação da situação da família
deve incluir anotações sobre:
3. A pauta das visitas i. Os dons que aquela família pode
compartilhar com os outros membros (Dia do
Na reunião de planejamento e agenda- Senhor 21, P & R 55);
mento, os diáconos podem decidir caráter de ii. As necessidades, tanto financeiras/
visitas. A maneira mais eficiente de planejar materiais quanto imateriais (ex. solitário). Os

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diáconos devem estar preparados para buscar tar a Cristo, demonstrando o mesmo amor,
informação sobre a realidade da situação da humildade e graça.
alma da pessoa (se ela está triste, frustrada,
rebelde, invejosa ou alegre, etc.), e sobre a Os diáconos precisam da capacidade
maneira em que devem utilizar os dons que de lidar com dinheiro, equilibrando generosi-
Deus já concedeu; dade e mordomia. Antes de fazer uma visi-
iii. A fonte dos problemas, para que ta, eles devem orar a Deus pedindo sabedoria
possam explicar como chegaram às suas re- para que possam entender e aplicar os princí-
comendações; pios bíblicos sobre o uso dos dons financeiros
da igreja. Os diáconos aprenderão como fazer
(4) Uma recomendação quanto à atitu- um orçamento, e o que deve ser priorizado na
de apropriada por parte dos diáconos onde os lista de despesas (a saber, as doações à igreja).
visitadores podem indicar qual tipo de auxílio Eles devem viver conforme o seu ensinamen-
reflete melhor o amor do Grande Diácono, Je- to, para que sejam exemplos aos membros.
sus Cristo, na situação. Os diáconos precisam pedir sabedoria e dis-
cernimento de Deus, estudar Sua Palavra e
Se os diáconos concordam de antemão pensar sobre a aplicação da mesma.
sobre o caráter do relatório, tal decisão (ou
talvez recomendação) pode servir como pauta Depois de avisar a igreja sobre a es-
da visita. Agora, vamos considerar a prepara- cala de visitação do ano, os diáconos devem
ção pessoal dos diáconos. notificar à congregação sobre as visitas que
serão feitas em cada semana do mês vigen-
C. A preparação pessoal dos diáconos te. Geralmente, é melhor decidir com ante-
cedência (no caso de visitas feitas em dupla)
Os diáconos são nomeados ao minis- quem dirigirá a visita, e quem será o ajuda-
tério de misericórdia por Cristo Jesus, por dor. Enquanto um diácono estiver fazendo as
intermédio da Sua igreja. Antes de fazer perguntas, o outro presta atenção aos rostos
uma visita, o diácono deve pensar sobre o dos outros membros da família tomando nota
seu ofício e mandato porque isto determina daquilo que escapar da discussão. Um segun-
o comportamento apropriado para a visita. do diácono na visita serve como companheiro
Qual a perspectiva e atitude de Cristo para e testemunha; evitando que haja acusações
com os membros da igreja? Cristo amou a e fofocas, como também ajudando em casos
sua igreja apesar de seus pecados e fraque- delicados, de maneira que os relatórios sejam
zas. Ninguém merece o amor de Cristo, e equilibrados e bem pensados.)
poucos “merecem” o auxílio dos diáconos.
A graça de Deus aos pecadores indignos é o Conclusão
fundamento da obra diaconal. Como os diá-
conos podem se preparar para estas visitas? O diácono bem preparado para o dia da
Por meio de conhecer bem o Evangelho, por visita sabe o nome de todos os membros da fa-
orar constantemente e ter o desejo de imi- mília e já tem uma boa ideia sobre a situação

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daquele lar. Ele terá uma pauta elaborada com Que Deus abençoe o diácono, para que
antecedência e, depois de algumas visitas ele ele possa representar Cristo à sua igreja com
já terá instruções prontas para compartilhar. toda fidelidade e amor.
Não vai se preocupar com visitas que ainda
não foram feitas, pois sabe que todos os mem- Nota:
bros estão em sua agenda e serão visitados no
decorrer do ano. Os diáconos que planejam 1 Para acessar à Confissão Belga, visite:
www.igrejasreformadasdobrasil.org/doutrina/con-
bem suas visitas verão o fruto do seu traba-
fissao-belga. [N. do E.]
lho ao serem recebidos pela congregação com
entendimento e gratidão. A fidelidade no pla-
nejamento estimula uma transformação na O Pr. JULIUS VANSPRONSEN é minis-
mente de toda a igreja, que se tornará mais tro da Palavra servindo na Igreja Reformada
focada no trabalho diaconal. Immanuel (Edmonton, Canadá).

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