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O Tripé do Carisma Misericórdia Materna

Hugo de são Victor, grande teólogo e santo padre da igreja, nos diz
existir três dias de uma Luz Invisível: os dias do temor, da verdade e do amor.
A esses dias, em nosso carisma, chamamos de obediência, verdade e
liberdade. São três degraus que temos que subir para chegarmos à união com
Deus, mediante a geração materna de nossa Mãe de Misericórdia. Existe,
portanto, um paralelo entre esses três degraus do nosso carisma com as três
vias do progresso espiritual: via purgativa, iluminativa e unitiva. Assim,
chegamos ao conhecimento das coisas invisíveis partindo das visíveis.

Retorne, então, agora a mente a si mesma e examine que utilidade


possa tirar desse conhecimento: são três etapas que uma alma que deseja ser
santa vai passando, até um ponto ápice que é a perfeição da caridade ou união
com Deus. E pense: mas de que nos servirá conhecer em Deus a elevação de
sua majestade, se com isso não recolhemos para nós utilidade alguma? O que
traremos, ao retornamos da região da luz, se não luz? Se viemos da região da
luz, é conveniente e necessário que tragamos conosco luz para dissolver as
nossas trevas. E quem poderá saber onde estivemos, se não retornarmos
iluminados? Que se torne manifesto, que lá estivemos; que se torne manifesto
o que lá contemplamos. Se lá vimos a potência, tragamos a luz do temor
divino, se lá vimos a sabedoria, tragamos a luz da verdade. Se lá vimos a
benignidade, tragamos a luz do amor. Que a potência incentive os tíbios ao
amor, que a sabedoria ilumine os cegos pelas trevas da ignorância; que a
benignidade inflame os gélidos pelo calor da caridade.

Três são os dias da luz invisível, pelos quais se distinguem o curso


interior da vida espiritual. O primeiro dia é o temor (entenda-se: obediência), o
segundo a verdade e o terceiro é a caridade (entenda-se: liberdade). O
primeiro, o sol da potência, pertence ao Pai; o segundo, sol da sabedoria,
pertence ao Filho e o terceiro, sol da benignidade, pertence ao Espirito Santo.
Os dias que temos externamente diferem dos que temos internamente: os dias
exteriores haverão de passar. Os interiores, porém, se assim o quisermos,
poderão permanecer para sempre. O temor de Deus permanece para sempre
(Sl 18) e da caridade está escrito que “nunca passará” (1 Cor 13.). Quanto à
verdade, também, não pode haver dúvida sobre sua eterna permanência, pois,
iniciando-se ainda nesta vida, alcançará em nós sua perfeição após o termino
desta vida. Entretanto, não existe verdade sem a obediência (dia do temor), e
não existe liberdade (dia do amor) sem verdade. Um dia vem depois do outro,
porque o anterior não cessa. Devemos, pois, amar mais esses dias que são
interiores, onde a luz não segue as trevas, onde os olhos interiores do coração
puro são iluminados pelos esplendores do sol eterno.

A verdade, ademais, tem três níveis. No primeiro nível não temos uma
experiencia com verdade propriamente dita. No segundo e no terceiro nível
tem-se a experiência da verdade. São três fazes que acontecem na inteligência
humana quando quer conhecer alguma coisa e enxergar a verdade. Essas
fazes são chamadas de simples apreensão, julgamento e raciocínio. Na
simples apreensão não existe a experiência da verdade, por não se ter a
capacidade, ainda, de fazer um julgamento verdadeiro ou falso. No
Julgamento, pode-se encontrar uma verdade, pois, se distingue o falso do
verdadeiro. Se aprofundarmos nos julgamentos, chegaremos ao raciocínio, que
trabalha com as verdades encontradas pelo julgamento e busca colocá-las
numa verdade só. Em outras palavras, pode-se dizer, o raciocínio encontra
uma rede entrelaçadas de verdades e procura a verdade pela qual provém
todas as demais, procura a verdade primeira, ainda que de um modo natural.

Tem-se, ainda, um quarto nível de verdade que vem pela graça quando
fazemos um ato de fé, e por sua natureza mostra-se inteiramente sobrenatural.
É uma verdade viva do qual nosso senhor falou no Evangelho: “Eu Sou a
Verdade”; e também: “se conheceres a verdade, a verdade vos libertará”. A
verdade, nesse caso, é uma pessoa e podemos contemplá-la e amá-la porque
ele é a verdade pela qual toda verdade foi criada. É o verbo de Deus, a
segunda pessoa da Santíssima Trindade, que se fez carne no ventre da Virgem
Maria, assumiu a nossa miséria humana e a transformou em misericórdia. Por
isso, podemos, agora, no hoje da nossa vida, nos unirmos ao verbo mediante a
maternidade da Virgem Mãe. Assim, pois, se Jesus é o verbo, se é a sabedoria
de Deus, se por Jesus Cristo veio a verdade, conclui-se que a verdade provém
da sabedoria divina. Portanto onde o raciocínio natural chega, a verdade
sobrenatural repousa.
O dia da Sabedoria é a Verdade

A própria sabedoria falou deste dia aos judeus, dizendo: “vosso pai
Abraão exultou por ver o meu dia, viu-o e rejubilou” (Jo 8).

A verdade de Deus é a redenção do gênero humano, a qual foi


primeiramente prometida. Ao manifestar-se posteriormente, o que mais fez se
não mostrar-se veraz? Esta verdade foi cumprida de modo conveniente pela
sabedoria, de quem provém toda verdade. Não foi enviado para cumprir a
verdade outro senão aquele em quem reside toda plenitude da verdade. Com
justa razão Abraão exulta pelo dia da verdade, pois, deseja que se cumpra a
verdade, tendo em vista este dia em espirito ao ter conhecido a vinda na carne
do Filho de Deus para redenção do gênero humano.

Essa a verdade a nós, servos da Misericórdia Materna, manifesta-se,


também, na verdade da nossa vida, arena da nossa história de salvação
pessoal. Para isso, precisamos desejar esse dia, a verdade da sabedoria.
Precisamos desejar ser iluminados por esta luz interior que vem da
maternidade da Virgem Maria, e, que vem, do poder da ressurreição. Temos
que descer no túmulo de nossas vidas com nosso senhor Jesus Cristo, morrer
com nosso Senhor Jesus Cristo e ressuscitar com nosso senhor Jesus Cristo.
E isso seria o verdadeiro conhecer-se a si mesmo. Embora, agora,
conhecemos em parte, mas, então, conheceremos como somos conhecidos (1
Cor 13). Ademais, pela verdade da graça, exultaremos no espirito com Abraão
em vista do grande dia manifesto pela benignidade de Deus, isto é, a perfeição
da caridade.

Isso significa, que assim como Cristo morreu por nós, também com Ele
morremos e no batismo somos sepultados. Quando Ele ressurgiu, também nós
ressurgimos com Ele, para uma vida nova. Dessa forma, um novo homem e
nova mulher literalmente nasceu pela graça do conhecimento dessa verdade.
Assim, portanto, se nos mantermos na obediência, sem nos desviarmos nem
para esquerda e nem para direita, chegaremos à verdade, e se conhecermos a
verdade a verdade nos libertará e seremos verdadeiramente livres.
Eis o que são os três dias: o dia temor, conhecido como obediência, que
manifesta o mal; o dia da verdade, aquela da graça, que remove o mal; o dia
da caridade, também conhecida como liberdade, que restitui o bem. Assim o
dia da verdade clarifica o dia do temor; o dia da caridade clarifica o dia do
temor e o dia da verdade; até que a caridade se torne perfeita e toda verdade
seja perfeitamente manifestada e o temor da pena se transforme no temor de
reverência.

“Muito tenho ainda para voz dizer, mas não o poderíeis suportar.
Quando vier o Espirito da verdade, vos ensinará toda verdade” (Jo 14).

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