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Resposta teológica sobre a morte de Deus em Nietzsche

A nossa intenção não será de refutar as afirmações de Nietzsche a respeito de sua


crítica ao cristianismo e nem sobre a morte de Deus, mas, sim, de trazer uma reflexão
sobre estas questões.
Primeiro temos que entender o que é teologia. Na etimologia da palavra Teologia,
temos dois termos Théos + Logia, ambos de origem grega, onde temos o seguinte
significado Théos + Logia = Deus + Ciência/razão/estudo. Ao pé da letra seria “estudo
de Deus”, no entanto, Deus não pode ser objeto de um estudo para ser colocado em um
tubo de ensaio, para ser analisado e comprovado empiricamente através de resultados
advindos de experiência. Portanto, teologia é o discurso reflexivo sobre Deus, pois,
“qualquer reflexão teológica refere-se de alguma maneira a Deus” 1.
2018.01.11 00:43:38 -03'00'

Partindo desta premissa, temos a Fé. A partir da Fé temos o ponto de onde procede
Martins de Lima

toda reflexão teológica sobre Deus, pois


“A teologia não é a própria fé; procede da fé, interpreta-a, empenha-se
em compreendê-la, especialmente através de uma reflexão sistemática.
A teologia é um conjunto que abrange o que favorece a compreensão e
Joab Martins de Lima Joab

a promoção da fé: palavra, descoberta de sentido próprio, reflexão à


base do esforço de vida...Tudo refere-se a fé, ao seu conteúdo, ao seu
significado, aos seus fundamentos, às suas conexões, à sua relação com
o homem e aos problemas que propõe. A teologia, denominada ‘ciência
da fé’, relaciona-se como tal com a ciência e com a fé, embora, como
ciência muito original por razão de seu objeto e de seus métodos” 2.
Portanto, sem fé é impossível fazer teologia.
Nietzsche, em sua crítica ao cristianismo, afirma que o cristianismo considerou
pecado tudo o que é de valor a vida e prazer na terra. Nietzsche, em nosso entendimento,
critica o cristianismo do século XIX, provavelmente impregnado do movimento pietista
surgido nos séculos XVII e XVIII, primeiramente na Alemanha. Este movimento
pretendia completar a Reforma Protestante iniciada por Lutero.
O pietismo existe em todo protestantismo, isso é fato. O pietismo em seu matiz era
voltado para a experiência interior com Deus. No entanto, foi deturpado ao voltar-se para
questões de extremismo moral e ascéticos, levando-o a ser entendido em sentido negativo
com subjetivismo individualizado e como repúdio ao mundanismo, tornando a pessoa

1
Cf. LIBÂNIO, João Batista. MURAD, Afonso. Introdução a Teologia: perfil, enfoques, tarefas. São
Paulo. Ed. Loyola. 2003. p. 63.
2
Cf. VILANOVA, Evangelista. Para compreender a teologia. São Paulo. Ed. Paulinas. 1992.
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farisaica que se comporta como fosse mais santo do que o outro. Acreditamos que pode
ser este o motivo do cristianismo sofrer tão duras críticas proferidas por Nietzsche.
Em nossa visão, o pietismo mal-entendido, conduz a pessoa a um cristianismo que
nega a vida. O cristianismo, pelo contrário, deve levar a pessoa a viver e celebrar a vida,
dentro de um equilíbrio, dentro de uma moderação. Mas, como toda religião, o
cristianismo tem elementos morais e dogmáticos que não devem ser negados.
Deixamos registrado que toda religião que diz não a vida, não pode ser religião em
seu sentido de “religare”, ou seja, de conduzir o homem a divindade. Sendo assim, o
cristianismo que diz não à vida, diz não ao próprio Deus que proclama.
Infelizmente hoje, testemunhamos um cristianismo de confissão protestante – óbvio
que não falo de forma generalizada, mas de algumas denominações evangélicas – onde o
dinheiro tornou-se o elemento principal. Para este cristianismo, concordamos com a
morte de Deus anunciada por Nietzsche. Para este cristianismo deve haver
“transvaloração” de valores, ou como a Bíblia fala, olhar para onde caiu, arrepender-se
e voltar ao primeiro amor.
Vivemos em um mundo onde o cristianismo, praticado por algumas igrejas
conhecidas como neopentecostais, é baseado em valores monetários, onde a teologia da
prosperidade impera. É este cristianismo, que considera a prosperidade acima do amor,
que mata Deus. Sim, Deus neste cristianismo está morto, pois o amor passa a não existir
mais. É cada um por si e Deus por todos. É cada um buscando o que é seu e não se
importando com o que pode fazer pelo outro.
Partindo desta reflexão poderíamos afirmar, que hoje, o louco que pergunta por
Deus, na Agaia Ciência, é o cristão que procura Deus dentro do atual cristianismo?
Poderíamos afirmar que o cristianismo protestante evangélico que vivemos hoje
reponde que ele mesmo matou a Deus ao acabar colocando o dinheiro acima do amor que
é o próprio Deus?
Deus é amor. E o cristianismo protestante evangélico atual ao matar o amor, mata
o próprio Deus.
Onde estão os valores éticos de um cristianismo – e agora refiro-me a algumas
igrejas históricas – que está impregnado de nepotismo, quando pastores de convenções
de igrejas querem continuar imperando sempre, consolidando mais o seu “poder de
mando” exercendo presidência de uma igreja ou convenção de igrejas, passando esse
poder aos seus filhos e netos?

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Que valor tem um cristianismo que se associa a política? E pior que isso está em
associar-se a políticos corruptos deixando-os ocupar lugar na tribuna, ou púlpito, de uma
igreja, tendo aval do pastor que exercendo sua posição de líder, exerce influência de
convencimento, como cabo eleitoral, para que os membros da igreja votem nesse político
corrupto que irá “representar” os cristãos, de determinada denominação, no Congresso
Nacional, quando na verdade o interesse está no recebimento de vantagens que certos
pastores recebem em troca.
Um louco entraria numa igreja dessa e perguntaria; onde está Deus? E esses
pastores lhe responderiam; Deus está morto! Nós o matamos!

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