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A Recepção Controversa de Max Weber No Brasil PDF
A Recepção Controversa de Max Weber No Brasil PDF
(1940-1980)
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 57, no 1, 2014, pp. 5 a 33.
dos, que ressaltam o quanto a apropriação de Weber pode ser útil para
o entendimento do “atraso” do país.
PRIMEIRAS NOTÍCIAS
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novo, do tradicional para o moderno, razão pela qual sua reflexão per-
manece livre de uma visão normativa, seja do passado, seja do futuro.
Para ele, importam, sim, os arranjos, os conflitos, as incompatibilida-
des entre homens e valores, a multiplicação das alternativas, a escolha
possível. A modernidade incluía diferentes credos, formas de conduta
e valores em conflito permanente (Willems, 1961:9-15). A adoção de
uma perspectiva de trabalho para a qual importam os valores que dão
sentido e significado às ações humanas (Weber, 1956:226), aliada à dis-
cordância e ao abandono de uma visão de história enquanto processo,
concorreu para que Willems fosse alvo de duras críticas, que dele recla-
mavam a objetividade, somente possível com a adoção de uma concep-
ção moderna de história cujas leis permitissem revelar o que se escon-
dia por trás das aparências da vida social. Naturalmente, nem todos
discordavam de Willems, mas as críticas que lhe fizeram na época
(Villas Bôas, 2006a:101-103) prenunciam a vertente metodológica que
se tornou predominante na sociologia e interveio na recepção do pen-
samento de Max Weber.
A ÉTICA ESQUECIDA
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O uso dos tipos ideais vinha sendo discutido pelo seu orientador,
Florestan Fernandes, um dos mais renomados sociólogos da USP, des-
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[...] o método dos tipos ideais só permite lidar com as ações e relações
humanas capazes de se integrar em regularidades ou uniformidades de
sequência definíveis através de “conceitos estáticos”, isto é, conceitos
relativos a processos sociais recorrentes, dotados de alguma persistên-
cia ou duração, e os apanha em unidades definidas de tempo e nos limi-
tes estritos destas unidades (nas quais tais ações e relações se atuali-
zam). O pressuposto lógico da abstração consiste, nas interpretações
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Mas Maria Sylvia insiste em mostrar o uso inadequado dos tipos ideais
nas análises do desenvolvimento da sociedade brasileira. Seis anos de-
pois da defesa de sua tese de doutorado e da tese de livre-docência de
Fernando Henrique Cardoso, ela apresenta O Moderno e suas Diferen-
ças (1970) ao Departamento de Ciências Sociais da USP como tese de li-
vre docência. Quer percorrer os fundamentos teóricos das ideias de
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NOTAS
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onde foi professor de Florestan Fernandes, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Antônio
Cândido de Mello e Souza, Fernando Henrique Cardoso, Otávio Ianni entre outros.
De volta à França, lecionou na École Pratique des Hautes Études, 6e Section, hoje
École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS).
9. Note-se que, décadas depois, Mauricio Tragtenberg dedicava-se à pesquisa e à refle-
xão sobre a burocracia, tendo como referência as proposições de Weber sobre o tema.
Ver Burocracia e Ideologia (1974).
10. Há outras referências a Max Weber na década de 1940 e início de 1950, a exemplo do
artigo de Otto Maria Carpeaux, “Max Weber e a Catástrofe” (1942), que, entretanto,
não cabem no escopo deste trabalho, cujo intento não é mapear todas as publicações
sobre Weber no período em foco, nem fazer uma história da sociologia, mas proble-
matizar a recepção do sociólogo alemão.
11. A discussão sobre Weber baseava-se nas leituras de La Decadencia de la Cultura Anti-
gua, publicado em “Seleción y Recuerdo” da Revista de Occidente em 1950; The Metho-
dology of the Social Sciences (Glencoe, Free Press, 1949); e Economia y Sociedad de 1944.
12. Fernando Henrique inspirou-se em Joseph Shumpeter, mas faz largo uso de sociólo-
gos norte-americanos, além de tecer críticas a autores brasileiros que tratavam do
problema do papel da burguesia industrial no país. Nesta ocasião, dirigia o Centro
de Sociologia Industrial e do Trabalho (CESIT) e estava envolvido com o sociólogo
francês Alain Touraine. O livro é uma evidência de que não havia uma pureza meto-
dológica, como, aliás, creio que dificilmente ela se encontra na sociologia brasileira,
porém, uma escolha de autores, que, como advertia Cardoso na sua tese de livre do-
cência, contribuíam para a formulação mais eficiente de um problema de pesquisa.
13. A segunda parte do trabalho retoma algumas questões da tese de doutorado para
analisar a constituição mental dos homens livres na cultura cafeeira, através da análi-
se do conto de Guimarães Rosa, “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (1946).
14. Ver considerações sobre os tipos ideais weberianos como Hypothesis-Forming Models
proposta por Stephen Kalberg (1994:92-142). Valeria, em estudo mais aprofundado,
trazer a discussão de Kalberg como parâmetro para verificar a recepção dos tipos
ideais no Brasil.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VILLAS BÔAS, Glaucia. (2006a), A Recepção da Sociologia Alemã no Brasil. Rio de Janeiro,
Topbooks.
. (2007), A Vocação das Ciências Sociais no Brasil. Rio de Janeiro, Fundação Biblioteca
Nacional.
. (2008), “Weber entre Duas Vocações”. Cult, Revista Brasileira de Cultura, Ano 11, no
124, pp. 58-61.
WAIZBORT, Leopoldo. (2012), “Apresentação ‘Max Weber hoje’”. Tempo Social, vol. 24,
no 1, pp. 9-7.
(org.). (2012), “Dossiê – Max Weber”. Tempo Social, vol. 24, no 1, pp. 9-197.
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ABSTRACT
The Controversial Reception of Max Weber in Brazil (1940-1980)
This article deals with the controversial reception of Max Weber during the
early decades of institutionalization of sociology in Brazil, arguing that the
German scholar’s ideas were grasped on the basis of Brazilian sociology’s own
issues. This perspective suggests that central propositions of Weberian
sociology such as the formulation of ideal types and the meaning of science
were received reservedly in Brazil and reworked to the extent that he was read
together with other authors. The point of departure was to revisit articles from
Sociologia journal, followed by a focus on the valorization of propositions by
Hans Freyer and Karl Mannheim as opposed to Max Weber’s positions on the
sociologist’s role, concluding with an approach to the controversy on ideal
types, led by Maria Sylvia de Carvalho Franco, which involves writings by
Florestan Fernandes and Fernando Henrique Cardoso.
Key words: reception of Max Weber; Brazilian sociology; Weberian ideal types
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RÉSUMÉ
L’Accueil Controversé de l’Oeuvre de Max Weber au Brésil (1940-1980)
Dans cet article, on examine l’accueil de l’œuvre de Max Weber pendant les
premières décennies de l´institutionnalisation de la sociologie au Brésil en
suggérant que l’adoption des idées du maître allemand a eu lieu à partir de
questions propres à la sociologie brésilienne. Cet angle a permis d’observer
que des propositions-clés de la sociologie wéberienne, comme par exemple
l´expression des types idéaux et du sens de la science, ont été reçues
parcimonieusement et réélaborées selon une lecture de Weber par rapport à
d’autres auteurs. D’abord, on reprend ici des textes de la revue Sociologia; on
poursuit par la mise en avant des propositions de Hans Freyer et Karl
Mannheim aux dépens des positions de Max Weber sur le rôle du sociologue et
on termine sur la controverse concernant les types idéaux menée par Maria
Sylvia de Carvalho Franco, se rapportant à des textes de Florestan Fernandes et
Fernando Henrique Cardoso.
RESUMEN
La Recepción Controvertida de la Obra de Max Weber en Brasil (1940-1980)
El artículo analiza cómo se recibieron las ideas de Max Weber en las primeras
décadas de la institucionalización de la sociología en Brasil, y argumenta que
la apropiación de los postulados del autor alemán se hizo a partir de las
cuestiones propias de la sociología brasileña. Este punto de vista permitió
observar que proposiciones centrales de la sociología weberiana, como, por
ejemplo, la formulación de los tipos ideales y del sentido de la ciencia, se
recibieron con mucha parsimonia y se reelaboraron a medida que los textos del
autor se fueron leyendo en contraste con otros autores. Inicialmente, se
retoman textos de la revista Sociología; en seguida se discute la valorización de
las proposiciones de Hans Freyer y Karl Mannheim en detrimento de las
posiciones de Max Weber sobre el papel del sociólogo y, finalmente, se trata la
controversia sobre los tipos ideales, liderada por Maria Sylvia de Carvalho
Franco, que involucra los escritos de Florestan Fernandes y Fernando
Henrique Cardoso.
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