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Inquérito Policial

CONCEITO: O procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela


autoridade de polícia judiciária, consistente em um conjunto de diligências realizadas
para apuração da materialidade e autoria da infração penal, a fim de fornecer
elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

Características

a) INQUISITORIALIDADE: a autoridade policial dirige como bem lhe convier as


atividades investigatórias, não há um rito pré-estabelecido. Em suma, não há
contraditório, nem ampla defesa no âmbito do inquérito policial, mesmo porque ainda
não há partes, não há acusação, apenas investigação, podendo se definir o suspeito
um sujeito investigado? (art. 14 c/c 107 e 184 do CPP). Por isso o inquérito policial é
definido pela doutrina como um procedimento e não processo.

b) OFICIOSIDADE (INCIATIVA EX OFFICIO): tomando conhecimento da prática


de crime de ação penal pública, em razão do dever que o Estado tem de exercer o jus
puniendi, fica a autoridade policial obrigada a instaurar o respectivo inquérito policial
(art. 24 do CPP).

c) INDISPONIBILIDADE: instaurado o inquérito polcial, esse não mais poderá ser


paralisado ou arquivado por iniciativa da própria autoridade policial (art. 17 do CPP),
que deverá continuar nas investigações até o fim, quando, então, deverá remetê-lo ao
poder judiciário (a reforma do CPP, prevê que o inquérito será remetido direto para o
Ministério Público, a quem é o seu destinatário), onde o representante
do Parquet fará a opinio delicti.

d) OFICIALIDADE: sendo a repressão criminal função essencial e exclusiva do


Estado, esse deverá criar órgãos para esse fim. Em síntese: os órgãos encarregados da
persecução criminal devem ser oficiais. Assim, as investigações preliminares, nos
crimes de ação pública, deverão ser feitas pela polícia judiciária (art. 144 da CF), e a
interposição da ação deverá ser feita pelo Ministério Público (art. 129, I da CF), dois
órgãos oficiais do Estado.

e) ESCRITO: todas as peças do inquérito policial serão escritas, (a mão)


datilografadas ou digitadas, sendo que, nesses últimos dois casos, a autoridade policial
deverá rubricar cada página (art. 9° CPP).

f) AUSÊNCIA DE RITO PRÓPRIO: não há um rito específico a ser seguido pelo


delegado de polícia no curso do inquérito policial, ou seja, não há obrigatoriedade de
se observar certa sequência procedimental, podendo e devendo a autoridade decidir o
que será a melhor para as investigações. Claro que o auto de prisão em flagrante, por
exemplo, deve seguir a ordem ditada na lei, sob pena de perder seu poder coercitivo.

g) DISPENSABILIDADE: outras fontes de investigações poderão servir de base para


a instauração penal, não obrigatóriamente o Inquérito Policial. Exemplos: as CPIs, os
Inquéritos Civis, os Inquéritos Policias Militares (IPM?s) etc.

h) SIGILOSO: segundo a regra do art. 20 do CPP, a autoridade policial deverá


assegurar o sigilo necessário do inquérito, isso para que possa investigar e elucidar os
fatos. Importante ver, entretanto, a Súmula Vinculante n. 24 do STF.
Incomunicabilidade (art. 21, CPP)

Tal artigo não foi recepcionado pela Constituição Federal (art. 136, § 3o , IV, CF), pois,
se nem mesmo no Estado de Defesa, que é um estado de exceção, foi proibido a
incomunicabilidade, o que dirá então num estado normalidade.

Conclusão do Inquérito Policial

O Inquérito Policial é concluído com um minucioso relatório da autoridade policial


acerca das diligências desenvolvidas na apuração da infração penal (art. 10, § 1º,
CPP). Não existe juízo de valor da autoridade policial nesse relatório, pois é o Ministério
Público que fica incumbido de formar a opinio delict.

Depois de concluído, o Inquérito Policial, segundo o CPP, deve ser encaminhado ao


juízo competente, para em seguida ser enviado ao Ministério Público. Entretanto,
alguns Estados já enviam diretamente o Inquérito Policial ao órgão ministerial, não
observando a regra do CPP.

As providências do Ministério Público são:

1 – oferecer de plano a denúncia;

2 – requerer o arquivamento do Inquérito Policial;

3 – requerer novas diligências, desde que sejam indispensáveis ao oferecimento da


denúncia (art. 16, CPP). Se o juiz indeferir o pedido de devolução dos autos à
delegacia, caberá correição parcial, porém, o órgão ministerial pode requisitar
diretamente as diligências à autoridade policial.

4 – alegação de incompetência do juízo e remeça dos autos ao juízo competente;

5 – suscitar conflito de competência ou de atribuição. O conflito de competência se dá


entre juizes, por outro lado, o de atribuição se dá entre membros do parquet.

Arquivamento

Somente a autoridade judiciária pode arquivar o Inquérito Policial, mas não de ofício,
sempre dependendo de pedido do Ministério Público. O juiz, como dito, não pode
arquivar Inquérito Policial de ofício, cabendo correção parcial se assim proceder.

Fundamentos do arquivamento:

a) atipicidade: (STF – HC 84412) em hipótese de manifesta atipicidade da conduta, é


possível a impetração de Hábeas Corpus pleiteando o trancamento da ação penal.

b) excludentes de ilicitude: deve ser observado no transcorrer do processo, pois no


momento do oferecimento da denúncia vigora o Princípio do In Dúbio Pro Societat.

c) ausência de culpabilidade: nos casos de embriaguez completa proveniente de caso


fortuito ou força maior, ou mesmo com o doping “boa noite Cinderela”. Deve-se
denunciar o doente mental, uma vez que para este existem as medidas de segurança.

d) causa extintiva da punibilidade: prescrição, p. ex.

e) ausência de elementos quanto à materialidade e a autoria do crime.

Desarquivamento do IP

Coisa Julgada

a) formal: o processo poderá ser aberto.

b) material: o processo jamais poderá ser reaberto.

Procedimento do Arquivamento

O Ministério Público, titular da ação penal, requer o arquivamento e a autoridade


judiciária autoriza.

E se o juiz não concordar?

Na Justiça Estadual:

O juiz remete os autos ao Procurador Geral de Justiça (PGJ), que pode:

a) oferecer a denúncia ele próprio;


b)requisitar mais diligências que reputa imprescindível;

c) designar outro membro do MP para oferecer a denúncia; este membro não poderá
recusar oferecer a denúncia, pois atua, neste caso, como longa manus do PGJ, razão
pela qual é obrigado a oferecer a denúncia. O PGJ não poderá designar o mesmo
membro do Ministério Público para oferecer a denúncia, para não violar a
independência profissional.

d) insistir no pedido de arquivamento, quando então estará o juiz obrigado a fazê-lo.

O artigo 28 do CPP traz à baila o Princípio da Devolução, onde o juiz devolve a


apreciação do caso ao chefe do órgão ministerial, ao qual cabe a decisão final sobre o
oferecimento ou não da denúncia. O juiz, neste caso, funciona como fiscal do Princípio
da Obrigatoriedade.

Justiça Federal:

Discordando o juiz, os autos serão remetidos à Câmara de Coordenação e Revisão,


seja ela do MPF, MPM ou do MPDFT. A manifestação da Câmara é meramente
opinativa, ou seja, quem decide ainda é o Procurador Geral de cada órgão acima
mencionado.

Justiça Eleitoral (art. 357, par. 1º, Lei 4.737/65)

Se o juiz discordar, fará remessa dos autos ao Procurador Regional Eleitoral.

Justiça Militar da União (art. 14, I, c, Lei 8.497/92)

Se o juiz-auditor deferir o pedido de arquivamento formulado pelo MPM, discordando o


juiz-auditor corregedor, este poderá representar junto ao STM. Se o STM julgar
procedente o pedido, remete os autos à Câmara de Coordenação e Revisão do MPM
para manifestação opinativa, e posteriormente ao PGJM.

Arquivamento Implícito

Ocorre quando o Inquérito Policial traz dois indiciados, e o Ministério Público só oferece
denúncia contra um, não pedindo arquivamento com relação ao segundo. A doutrina e
a jurisprudência não admitem o arquivamento implícito, pois toda e qualquer
manifestação do parquet deve ser fundamentada.

Se ocorrer uma situação como a esplanada acima, o juiz devolve os autos para o
Ministério Público pedindo providências quanto ao outro indiciado.

Recursos

Em regra, a decisão de arquivamento é irrecorrível, salvo duas exceções:

a) Crimes contra a economia popular – cabe recurso de ofício (art. 7º, Lei 1.521/51).

b) Contravenção do jogo do bico e corrida de cavalos: cabe recurso em sentido estrito.


Se o juiz arquiva o Inquérito Policial de ofício, cabe correição parcial

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