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CONSTITUIÇÃO
E LEGISLAÇÃO
Paulo Henrique Camargo Rinaldi
EDUCAÇÃO,
CONSTITUIÇÃO
E LEGISLAÇÃO
Capa
Monica Rodrigues
Revisão
Viviane de Barros
Diagramação
Isaac Tiago
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
________________________________________________________________
R441e
ISBN 978-85-7923-835-2
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
EDUCAÇÃO
CONSTITUIÇ
CONSTITUIÇÃO FEDERAL – LDB –
CURRÍ
CURRÍCULO – UNIDADE ESCOLAR
– AUTONOMIA - CONTEÚ
CONTEÚDO
MÍNIMO – SARESP – ENEM - SAEB
7
O fato que se tornou especificamente o motivo da
preocupação das escolas estava na presença, cada vez mais
evidente, dessas avaliações, das quais o Enem tornou-se
o maior símbolo.
A aflição de mantenedores, diretores, professores e
de todos os que militam na área da educação tem um
motivo. A educação brasileira, tanto a pública quanto a
privada, sempre vivera imune a avaliações e indicadores.
Alimentava-se de crenças, dentre elas, a de que certas ins-
tituições, por uma questão de mera tradição, eram boas
e que outras, nem tanto. Os indicadores de eficiência
restringiam-se a iniciativas das próprias instituições, mais
afeitos aos seus próprios departamentos de marketing,
que à realidade dos fatos. Enfim, voávamos sem instru-
mentos, baseados em rotas, cuja segurança advinha ape-
nas do fato de que seguindo os ventos de costume logra-
ríamos chegar ao nosso destino.
A Constituição de 1988, dentre os muitos direitos
que positivou, trouxe a garantia de qualidade ao proces-
so educacional (art. 206, inciso VII). Daí as avaliações a
que devem se submeter sistemas públicos e instituições
de ensino privadas.
Dois pontos tornaram-se relevantes. O primeiro
está em que essas avaliações vieram para ficar e o segundo
mostra que, cada vez mais, eles representarão os indica-
dores de qualidade do ensino.
A eficiência dos colégios, medida meramente pelo
suposto desempenho de seus alunos nos exames vestibu-
lares, deixa de ser o grande e único índice do ensino. Já
não era sem tempo. Além de se questionar a confiabili-
8
dade dos dados apresentados, há de se considerar a per-
tinência desses números para se medir todo um proces-
so educacional que, como sabemos, é afeito a valores de
diversos matizes e não pode sofrer redução a um mero e
pontual exame de acesso ao ensino superior.
Finalmente, cabe lembrar o significativo número de es-
colas que têm cerrado suas portas ou se submetido a penosos
processos de fusão. A par de questões administrativas, a per-
da de competitividade tem se mostrado como a causa maior
do fechamento de inúmeras instituições educacionais.
Duas síndromes, portanto, devem ser evitadas pelos
que labutam na área da educação, ao preço de se verem
irremediavelmente fora do mercado, sejam eles mantene-
dores, diretores pedagógicos, orientadores educacionais,
coordenadores ou professores. A da “Gabriela” e a da
“Carolina”. Na primeira, a teimosia em dizer “eu nasci
assim, eu cresci assim, eu vou ser sempre assim”. Na se-
gunda, a omissão de Carolina em que “o tempo passou
na janela e só Carolina não viu”.
9
2. Educação: um processo em
transformação
10
vimentista e de segurança nacional. Consequentemente,
nossas instituições absorveram e refletiram essa mentali-
dade. A educação não foi exceção. Vimos alastrarem-se
e efetivarem-se propostas de ensino que pouco ou nada
traziam de reflexão e postura crítica, alienando os estu-
dantes da época, cujo processo de aprendizado se resumia
em preencher lacunas ou responder testes por meio de
muitas “dicas” e pouco aprendizado.
A Assembleia Nacional Constituinte, que trouxe
a Constituição de 1988, buscou resgatar o Estado De-
mocrático de Direito entre nós. Para tanto, positivou
no caput de seu art. 1º que a República Federativa
do Brasil constitui-se em um Estado Democrático de
Direito. No que diz respeito especificamente à educa-
ção, colocou-a em relevo entre os direitos sociais (art.
6º da CF) e dedicou-lhe toda uma seção no capítulo
iii, do art. 205 ao 214.
Direitos há muito pretendidos foram finalmente
positivados, como, por exemplo, o acesso ao ensino fun-
damental obrigatório e gratuito, reconhecido como um
direito público subjetivo (art. 208, parágrafo 1º), a igual-
dade de condições para o acesso e permanência na escola
e o atendimento escolar especializado aos portadores de
deficiência (art. 206, incisos i e iii).
O que se veem são normas constitucionais relativas
à educação próprias, como já dissemos, a um Estado
Democrático de Direito, o que evidencia a importância
fundamental da educação e dos educadores no momen-
to em que o país se empenha na construção efetiva e
sólida desse Estado. A missão do educador de maneira
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geral e do professor de forma específica é, hoje, essen-
cial à construção de um país em que a igualdade e a
dignidade da pessoa tornem-se realidades efetivas e não
mera folha de papel, ainda que condições e interesses se
mostrem adversos.
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3. A norma jurídica e a legislação
educacional
A Pirâmide de Kelsen
A Hierarquia das Leis
Constituição Federal
Lei Complementar
Leis Ordinárias
Medidas Provisórias
Resoluções
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caso de violação ou omissão. Conflitos e entendimentos
diversos na realização das normas jurídicas devem ser le-
vados ao Poder Judiciário e nesta esfera discutidos para
que ele traga uma decisão, ou melhor, uma interpretação
daquilo que está posto, que, de cumprimento obrigató-
rio, resolverá a lide ou o conflito.
Dessa forma, podemos dizer que a obrigatoriedade
é a característica básica da norma jurídica. Não pode,
como já dissemos, ser objeto de debate ou procrasti-
nação, mas deve ter aplicação imediata. Enfim, se uma
determinada norma perder o caráter de obrigatoriedade
e de coercibilidade, deixará de ser jurídica, podendo,
no entanto, permanecer como norma, neste caso, mera-
mente ética ou moral.
Kelsen foi um importante jurista austríaco do co-
meço do século xx, cuja contribuição foi extremamente
significativa. Em um tempo em que os conhecimentos se
misturavam e se confundiam, soube objetivar o Direito,
delimitando-lhe o objeto de trabalho.
Para o ilustre jurista, Direito é norma, pois os que
militam no mundo jurídico recebem-nas prontas. Ao Di-
reito, pouco importam os fatores de ordem social, po-
lítica ou psicológica que influenciaram a elaboração da
lei, ou mesmo considerações de ordem moral ou ética.
Como dissemos, para Kelsen, Direito é apenas norma e
a isso deve se ater o mundo jurídico. Isso não significa
que o debate e a troca de ideias estejam proibidos ou não
tenham maior importância. Pelo contrário, permanecem
como sinal do dinamismo que deve nortear e distinguir
o homem em sua evolução social, mas que, exatamente
14
nesse sentido, o império da lei torna-se premissa essencial
do Estado Democrático de Direito.
Ainda segundo Kelsen, as leis possuem uma hierar-
quia, subordinando-se umas às outras. No ápice da pi-
râmide, estão as normas constitucionais e a elas todas as
outras devem se adequar, sendo-lhes defeso contrariá-las.
Para nos atermos à legislação educacional, a Lei de Di-
retrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), uma
lei ordinária, deve não apenas estar de acordo com o que
positiva a Constituição, como também refleti-la e espelhá-la
de tal forma que dê entendimento ao que determina a Lei
Maior, tornando possível e correta sua efetivação.
15
4. O artigo 1º da Constituição Federal:
O Brasil como Estado Democrático de
Direito
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 1: A Repú
República Federativa do
Brasil, formada pela união
indissolú
indissolúvel dos Estados e Municí
Municípios
e do Distrito Federal, constitui-
constitui-se em
um Estado Democrá
Democr ático de Direito e
tem com fundamentos:
16
Temos, como consequência, que, no que diz respei-
to à educação, devemos falar em política de governo com
reservas e de maneira bastante restrita, pois o que já existe
é uma política de estado, devidamente concebida e posi-
tivada, que deve pairar acima de governos e governantes,
como uma instituição que se projeta como garantia do
Estado Democrático de Direito em que se constitui a Re-
pública Federativa do Brasil e seus fundamentos.
17
5. A educação e a Constituição Federal
EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO
CONSTITUIÇÃO
FEDERAL
ENSINO
Preparo para o Exercício da
ARTIGO 9º LDB FUNDAMENTAL
Cidadania
ARTIGO 32 LDB
18
O que se depreende, nessa primeira leitura, é que não
temos no Brasil uma educação qualquer, sem rumos ou
papel definido. Pelo contrário, encontramos um processo
educacional positivado e com as tarefas claras e definidas.
19
6. O artigo 205 da Constituição Federal
Artigo 205
A educaç
educação, direito de todos e
dever do Estado e da famí
família, será
será
promovida e incentivada com a
colaboraç
colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercí
exercício da
cidadania e sua qualificaç
qualificação para o
trabalho.
20
6.1. Artigo 205, seis normas
ARTIGO 205
a) a educaç
educação, direito de todos;
b) dever do Estado e da famí
família;
c) será
será promovida e incentivada com a
colaboraç
colaboração da sociedade;
d) visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa;
e) seu preparo para o exercí
exercício da
cidadania;
f) e sua qualificaç
qualificação para o mundo do
trabalho.
21
b) Dever do Estado e da família: o dever do Estado
em propiciar educação a todos vem do fato de
ela estar entre os direito sociais positivados no
art. 6º da Constituição Federal (“são direitos
sociais a educação, a saúde, o trabalho” etc.).
Cabe, portanto, ao Estado garanti-la de maneira
igualitária a todos os cidadãos brasileiros.
No art. 208 delineia-se o dever do Estado em
garantir a educação. Lá estão positivadas as
garantias de obrigatoriedade e gratuidade do
ensino fundamental (inciso I), a inclusão dos
que estão fora de faixa etária e dos portadores de
deficiência (incisos I, II, IV e V).
Ressalte-se que o parágrafo 1º desse artigo considera
o acesso ao ensino obrigatório e gratuito um
direito público subjetivo, sendo passível de ser
individualmente exigido por qualquer cidadão. Mais
que isso, o parágrafo 2º prevê a responsabilidade
plena da autoridade competente caso não se observe
o oferecimento do ensino obrigatório ou sua oferta
irregular pelo Poder Público.
22
d) Visar ao pleno desenvolvimento da pessoa.
23
7. O artigo 206 da Constituição Federal
ARTIGO 206 da CF
Art. 206. O ensino será
será ministrado
com base nos seguintes princí
princípios:
VII - garantia de padrão de
qualidade;
Artigo 3º
3º da LDB
O ensino será
será ministrado com base
nos seguintes princí
princípios:
IX – garantia de padrão de
qualidade.
24
Embora essas avaliações, como já dissemos, tenham
o caráter diagnóstico e passem longe da ideia de estabe-
lecer ranking entre escolas, pessoalmente, não vejo essa
iniciativa como nociva ou prejudicial ao desenvolvimen-
to do ensino. É direito dos pais, na escolha da escola para
os filhos, ter em mãos todos os dados, características e
informações acerca do estabelecimento de ensino no qual
pretendem realizar a matrícula de seu filho. A posição
no Enem deve ser mais um dado para que se possa to-
mar a decisão de maneira mais clara e assertiva. Aliás, é
obrigação da escola mostrar aos responsáveis a proposta
pedagógica. Mais que isso, observo a divulgação desse e
de todos os outros dados relativos às escolas como um
dever juridicamente posto e exigível, compondo violação
da legislação a sua não divulgação plena.
25
8. As avaliações de grande porte
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a finalidade precípua de estabelecer prioridades para a
melhoria do ensino. Mais uma vez, evidencia-se que não
se trata de mera estatística, mas de verificação de uma
realidade para o estabelecimento obrigatório de medidas
concretas e efetivas, devendo seus responsáveis, inclusive,
responder juridicamente.
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Garantia de Padrão de Qualidade
(avaliações)
Avaliaç
Avaliações Escolares de Grande Porte
PISA, Prova Brasil, SAEB, ENCEJA (Exame
Nacional para Certificaç
Certificação de Competências
de Jovens e Adultos)
Avaliaç
Avaliações realizadas pelos Estados
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cada aluno que a ele se submete, como também das uni-
dades escolares, municípios, Estados, regiões e do Brasil
como um todo ao fim da Educação Básica.
É importante observarmos que o ensino é livre à ini-
ciativa privada (art. 7, caput da LDB).
29
opinião, um poder que dê qualquer margem a considera-
ções de ordem discricionária. O particular está obrigado a
se submeter às avaliações de qualidade estabelecidas pelo
Poder Público, como pontua o art. 7º da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional e seus incisos.
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9. O artigo 210 da Constituição Federal
ARTIGO 210
Serão fixados conteúdos
mínimos para o ensino
fundamental, de maneira a
assegurar formação básica
comum e respeito aos
valores culturais e
artísticos, nacionais e
regionais.
O art. 210 de nossa Constituição estabelece a obri-
gatoriedade de fixação de conteúdos míninos para o en-
sino fundamental. Se bem observarmos, essa exigência,
na prática, estende-se também ao ensino médio. No en-
tanto, o que se percebe, mais uma vez, é que não temos
no Brasil uma educação qualquer, onde cada um pode
fazer o que deseja segundo exclusivamente suas crenças
e propostas, mas uma educação definida e possuidora de
conteúdos comuns a todos os brasileiros na formação bá-
sica. A educação torna-se, como é seu dever, a instituição
que garante ao Estado fator de unidade e identificação
entre os brasileiros.
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Ressalte-se, então, a obrigatoriedade em se minis-
trar e exigir um conteúdo mínimo e determinado em
lei. A ideia de que devemos tratar apenas do chamado
“aprender a aprender”, habilitando o estudante à adapta-
ção às mudanças sociais que possam advir e, desta forma,
prepará-lo para atuar e sobreviver em um sociedade em
constante e vertiginosa transformação, é um raciocínio
se não inverossímil, pelo menos incompleto do ponto de
vista legal e pedagógico.
Em síntese, três são os artigos fundamentais à edu-
cação do ponto de vista estritamente pedagógico, o art.
205, determinando princípios e valores a que deve visar
e educação, o art. 206, trazendo a garantia de qualidade
como um dos princípios de nossa educação e o art. 210
que estabelece a fixação de conteúdos mínimos comuns à
educação brasileira.
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10. Princípios, normas e proposta
pedagógica
Princípios e Valores
Proposta
(Constituição)
Pedagógica
Conteúdo Mínimo
(LDB)
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Essa tarefa, em verdade, trouxe grande liberdade
às escolas. Mais que isto, permitiu e obrigou que cada
estabelecimento de ensino elaborasse, apresentasse e
realizasse, junto à comunidade em que está inserido, o
modelo e a filosofia de educação que se propõe a efe-
tivar. É a explicitação obrigatória dos princípios e va-
lores que norteiam os educandários, explicitando sua
identidade e razão de ser. Por isso, o estabelecimento
de ensino público deve desenvolver uma proposta pe-
dagógica que responda às demandas da comunidade
em que está inserido, como, aliás, positiva o inciso vi
do mesmo art. 12.
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O Estado, no entanto, em suas avaliações de qua-
lidade, não vai tratar da proposta pedagógica, pois isto
pertence a cada escola em particular e sua comunidade.
O Poder Público ocupa-se daquilo que é comum e obri-
gatório a todos os estabelecimentos de ensino do país, os
princípios e valores constantes da Constituição Federal e
o conteúdo mínimo preconizado pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional.
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11. Princípios jurídicos
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mas em um apêndice qualquer ou, até mesmo, em seu
preâmbulo, a fim de que claramente se revelassem como
recomendações e não como normas jurídicas.
O segundo, consequência direta do primeiro, está
em que os princípios nos trazem o viés ou o caminho da
leitura e interpretação das demais normas, não importan-
do a hierarquia em que se encontram. A leitura e inter-
pretação das demais normas jurídicas condicionam-se ao
que está determinado pelo ou pelos princípios. Vai aqui
a efetividade dos princípios, ou seja, por constituírem os
fundamentos do Estado, determinam como devemos ler
e aplicar as demais normas jurídicas. São, enfim, determi-
nantes da forma de ler, interpretar e aplicar uma norma
jurídica. Fazê-lo de forma independente, isolada, como
se fosse única e existisse por si só é tresler e desviar o real
sentido e valor que possui o ordenamento jurídico como
um todo e negar o Estado de Direito em vigor. É, enfim,
aplicar em desacordo com o que preceitua o direito vi-
gente. Uma regra jurídica só é válida a partir dos princí-
pios que lhe dão a devida valoração.
Ainda neste caminho, sabemos que todo texto escrito
necessariamente deve possuir uma unidade, não se admi-
tindo a enumeração de frases ou pensamentos dispersos
sem qualquer relação. Mais que qualquer outro, a Consti-
tuição de um Estado deve compor uma unidade deflagra-
da pelos princípios ou fundamentos deste mesmo Estado.
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12. Os Princípios Constitucionais da
Educação
PRINCÍPIOS E VALORES
(CONSTITUIÇÃO)
visar ao pleno desenvolvimento da pessoa
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um significado preciso e valor claro, cuja desobediência
ou omissão implica desrespeito ou violação do ordena-
mento jurídico que regula o Estado, com todas as conse-
quências que isso traz.
E é exatamente nesse sentido que a determinação de
que a educação deve visar ao pleno desenvolvimento da
pessoa não pode se perder em meio a propostas de edu-
cação que não a efetivem de maneira concreta e dentro do
que estabelece a ordenação jurídica. Dizer que o pleno de-
senvolvimento da pessoa enquadra-se em toda e qualquer
proposta de ensino, pois, de uma forma ou de outra, elas
tratam em algum aspecto do desenvolvimento do aluno
como pessoa é fugir ao que a lei e a missão do educador
determinam. Pleno desenvolvimento da pessoa não é ingre-
diente acessório que se adapte ao que quer que seja como
justificativa para a acomodação e até no extremo, para a
preguiça e a falta de competência e conhecimento.
O pleno desenvolvimento da pessoa relaciona-se di-
retamente com o princípio da dignidade humana e sig-
nifica, no caso do processo educacional, formar pessoas
com autonomia, ou seja, com capacidade individual de
construção da própria existência. Trata-se, portanto, de
dotar as pessoas do direito à sua própria personalidade,
com autonomia intelectual e moral.
Todos nós conhecemos as clássicas obras de nossa
literatura A Hora da Estrela, de Clarice Listector e Vidas
Secas, de Graciliano Ramos. São personagens dessas obras
Macabeia e Fabiano, respectivamente. Independente de
análise literária mais profunda, temos duas personagens
que se caracterizam pelo vazio existencial. Na primeira,
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uma nordestina que vai para o Rio de Janeiro e se con-
forma, entre outras coisas, em ouvir a rádio-relógio; no
segundo, um retirante que com sua família vive de fugir
da seca e se contenta em estar vivo ao fim de cada dia.
Análises literárias encontraram nas personagens de Vidas
Secas uma equiparação com os animais, tal a condição de
existência que apresentam (“É Fabiano, você é um bicho,
um bicho, Fabiano”).
Tais personagens possuem um “eu” interior mínimo,
quase inexistente. Não são capazes dos sentimentos ou da
razão, menos ainda, de possuir autonomia e decidir a pró-
pria vida. Essa condição não é, em nossa opinião, privilégio
das classes menos favorecidas economicamente. Pelo con-
trário, não há relação de causalidade entre poder aquisiti-
vo e grau de existência e autonomia. Encontramos, enfim,
muitas Macabeias e muitos Fabianos neste nosso Brasil,
muitos pertencentes às classes mais altas.
Formar pessoas com autonomia e independência inte-
lectual e moral torna-se tarefa essencial ao processo educati-
vo, também porque é vetor fundamental para a garantia do
Estado Democrático de Direito.
Hannah Arendt em sua obra Eichemann em Jerusa-
lém: um retrato sobre a banalidade do mal nos alerta para
o perigo que representa o vazio existencial das pessoas na
constituição de uma nação. Nessa obra, temos o relato do
julgamento de Otto Adolf Eichmann, visto como um
alto funcionário do sistema nazista durante a 2ª Guerra.
Eichmann era considerado responsável pelo envio de ju-
deus aos campos de concentração, pelo menos do ponto
de vista estratégico ou logístico.
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Ele foi capturado em 1960 em Buenos Aires por
forças israelenses e conduzido para julgamento na corte
Distrital de Jerusalém, acusado, dentre outros, de crimes
contra a humanidade, de guerra e contra o povo judeu.
Declarou-se inocente no sentido de cada acusação.
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res de judeus levados à morte nos campos de concentra-
ção, mostra-se um homem vazio e medíocre, que agia
motivado por um desejo de ascensão social e a partir de
um mecanismo burocrático, sem medir ou avaliar as con-
sequências ou a ideologia atrás de seus carimbos.
Como ele, há muitos. São Fabianos e Macabeias que
não vivem, mas buscam sobreviver dia após dia. Existem
aos milhares e por não ter consciência da própria existência
tornam-se incapazes de refletir não só sobre a própria vida,
como também de atuar positivamente no contexto social
em que vivem. São presas fáceis do totalitarismo e repre-
sentam uma ameaça constante ao Estado Democrático de
Direito e, consequentemente, a todos que dotados de exis-
tência própria batalham pela efetivação da igualdade.
Visar ao pleno desenvolvimento da pessoa como ta-
refa da educação é garantir a cada um sua dignidade de
perpetuar entre nós um Estado democrático e que tem
como um de seus pressupostos a igualdade.
42
12.2. O preparo para o exercício da
cidadania
43
mocrático de Direito, leva-nos a desfrutar direitos, mas,
exatamente por isso, também nos conduz a deveres e res-
ponsabilidades de ordem cívica. Temos, como cidadãos,
obrigações para com o Estado.
O segundo está em que é o exercício diuturno da
cidadania que, por fim, garante o Estado Democrático
de Direito. Cabem aos cidadãos a vigilância e a exigência
da democracia, e é tarefa da educação dar a cada um a
consciência e a capacidade de fazê-lo. Lembremo-nos de
que o Estado democrático só se efetiva e, principalmente,
só se perpetua a partir do exercício da cidadania, pois só
então os cidadãos tornam-se ativos e passam a controlar
as instituições e as posições de governo, a fim de que o
Estado Democrático de Direito não se perca por tenta-
ções e interesses emocionais e momentâneos.
Nesses dois princípios, percebemos uma unidade
de duas faces, como os dois lados de uma moeda. Um é
decorrência do outro e cada um só pode existir na depen-
dência da presença do outro. Na dignidade da pessoa, a
construção da autonomia pessoal e subjetiva; na cidada-
nia, a atuação externa, social, objetiva, como os lados de
uma mesma moeda.
44
Dignidade e Cidadania
EU OUTRO
(Dignidade)
(Cidadania)
45
perpetua o Estado Democrático de Direito. O art. 1º de
nossa Constituição, como vimos, pontua que o Brasil é
uma República Federativa que se constitui em um Estado
Democrático de Direito e que apresenta, dentre seus fun-
damentos, a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
Ora, esses são exatamente os elementos contemplados pelo
que determina a legislação, tanto constitucional quanto in-
fraconstitucional no que diz respeito ao processo educacio-
nal brasileiro: a formação de cidadãos autônomos, capazes
de decidir a própria existência e de intervir positivamente
no meio em que estão inseridos. É a educação efetivando
os princípios do Estado Democrático de direito em que se
constitui a República Federativa do Brasil.
46
12.2.1. A Inclusão
Artigo 3º
Constituem objetivos fundamentais da Repú
República
Federativa do Brasil:
47
Para tratarmos da educação, vamos usar como exem-
plo a questão da inclusão do portador de deficiência. Sua
inserção vem causando polêmica nas escolas, especialmen-
te entre os professores. A presença de um portador de de-
ficiência, não importa qual, dentro de uma sala de aula
tem causado constrangimento. Alunos e, principalmente,
professores não sabem como agir. Isso sem falar nos man-
tenedores, diretores, orientadores e coordenadores que
abandonam a questão para que os professores a resolvam
dentro das salas de aula. É um problema de que apenas
desejam se livrar. O caso merece uma reflexão maior.
Quando temos um portador de deficiência dentro
de uma sala de aula, de quem é o benefício maior? Veja-
mos um pequeno fragmento em que Luiz Aberto David
Araujo nos ensina o que é inclusão:
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ções. Enfim, a convivência faz com que vejamos como
natural a diferença, promovendo a igualdade e abrindo
oportunidade para todos. Mais, a troca promove o cresci-
mento e o aprendizado.
Esse raciocínio não vale apenas para o portador de
deficiência, mas para toda e qualquer minoria, que, por
uma razão ou outra, esteja encontrando obstáculos à ple-
na participação social, seja ela por origem, sexo, raça, cor,
idade ou qualquer outra forma de discriminação. Dois
alertas devem ser apresentados.
O primeiro está em que ações afirmativas destinadas
a romper os obstáculos dos que encontram dificuldades
sociais ao acesso à sociedade devem necessariamente estar
acompanhadas de um cronômetro e de um plano para
efetivação da igualdade. Nenhuma minoria deseja perpe-
tuar-se como tal e viver de ações afirmativas do Estado,
menos ainda tornar o fato de pertencer a uma minoria
como modo de vida. Pelo contrário, desejam a plena par-
ticipação social, a partir da efetivação da igualdade.
Ouso relatar um fato a que assisti quando viajava de
metrô em São Paulo.
49
algo próximo a um chapéu e se pôs a pedir dinheiro aos demais
passageiros. Pelo menos, ia começar, quando se deparou, logo
no banco à sua frente, com um homem também portador de
deficiência que, aliás, também tinha bengalas semelhantes às
suas. Houve um momento de silêncio constrangedor. Os dois
se olharam com vergonha, reprovação, desapontamento. Sei
dizer que aquele que esmolava quedou-se paralisado e, assim
que abriu a porta do vagão, retirou-se apressadamente. Não
houve comentários ou qualquer outra atitude por parte de
quem quer que fosse. A cena simplesmente aconteceu no coti-
diano de São Paulo, no silêncio de São Paulo.
50
Tornaram-se algo bastante preocupante ações de
jovens de classe média, oriundos de escolas intituladas
de elite, contra pessoas de outras classes sociais. Além do
emblemático caso do índio a quem foi ateado fogo em
Brasília, temos agressões a garçons quando trabalhavam
em casas noturnas, a prostitutas postadas em avenidas,
brigas e covardes agressões em portas de boates e muito
mais. Quando demandados por seus atos, além da pre-
sença protetora dos pais e do fato de que dentro de seus
ambientes escolares todos estranhem tais atitudes, uma
vez que sempre revelaram um comportamento quieto e
disciplinado, estes jovens têm dito que era apenas brinca-
deira e que não havia qualquer intenção maior. No mais
das vezes, destaca-se ainda a certeza da impunidade.
A segmentação de classes sociais dentro de escolas,
a certeza da impunidade e a não convivência com as di-
ferenças certamente estão fazendo nascer o preconceito e
a discriminação entre nós, criando, sem risco de exagero,
um Apartheid disfarçado, mas bastante real.
O SIM E O NÃO
51
Em Itaboraí, RJ, uma festa rave com a duração de 17
horas provoca a internação hospitalar de 18 garotos e duas
mortes, uma delas por típica overdose de ecstasy: hipertermia
– a pessoa literalmente ferve por dentro – desidratação agu-
da e parada cardiorrespiratória. Os pais do menino morto
não sabiam que ele fora à festa.
No Rio, a polícia desbarata uma quadrilha de oito trafi-
cantes de ecstasy. Todos, exceto um, de classe média, habitantes
da zona sul, entre 20 e 30 anos e ainda morando com os pais.
Mas, pelo visto, a vigilância destes andava relaxada, a ponto
de um deles não estranhar que o filho passasse o dia falando
em três celulares ao mesmo tempo.
Estes foram apenas alguns casos policiais graves, e só
no eixo Rio-São Paulo. Em todos, os pais manifestaram
grande surpresa pelo comportamento dos garotos. Alguma
coisa aí está errada. Esses pais dão a casa, comida e roupa
lavada a seus filhos até uma idade tardia, mas isso talvez
não seja suficiente.
Talvez fosse também o caso de eles aprenderem a dizer
“não” quando for o caso, ao contrário do “sim” amplo, geral
e irrestrito com que contemplam os filhos desde o berço – ou
desde que se tornou “incorreto” acreditar que a liberdade
só dá frutos quando exercida dentro de certos limites. Um
destes, quadradamente, o daquela velha e esquecida prova
de amor: a autoridade paterna.
52
Essa história, veiculada pela imprensa, é apenas mais
uma de muitas. Retomemos, pois, a ideia de que os princí-
pios da dignidade humana e da cidadania não se dissociam,
são duas faces da mesma moeda, não existem separados,
um não vive sem o outro. Ora, ter autonomia intelectual e
moral implica respeitar a autonomia do outro.
53
12.3.
54
xi – vinculação entre a educação escolar, o
trabalho e as práticas sociais.
55
Como consequência, tivemos a obsolescência do co-
nhecimento. Houve uma mudança no modo de produ-
ção, provocado, em parte, pelo estrondoso e rapidíssimo
desenvolvimento tecnológico. Antigos conhecimentos,
saberes e procedimentos foram colocados de lado e um
novo mundo do trabalho foi concebido. Trabalhadores de
todos os níveis sentiram seus empregos em perigo e um
risco econômico tomou conta de cada um. Enfim, a nova
economia, a globalização, a explosão tecnológica, o mun-
do instantâneo, um novo modo de produção e a necessida-
de do conhecimento e do saber entre outros elementos de
transformação fazem com que seja imperiosa a preparação
de nossos educandos para o mundo do trabalho que se lhes
abre. Ou como diz o art. 35 em seu caput e inciso II, deve
ser finalidade do ensino médio a preparação para o tra-
balho, a fim de que o estudante continue aprendendo de
modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas
condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores.
É importante observar mais uma vez que isso não
significa a ausência de conteúdos específicos. Pelo con-
trário, é por meio deles que se efetiva o preparo para o
mundo do trabalho e, no mais das vezes, é ele o ponto
de partida fundamental para o desenvolvimento de cada
educando em particular.
56
13. Um mundo em transformação
O que reproduziremos abaixo baseia-se, principal-
mente, na obra A Corrida para o Século XXI de Sevcenko,
Nicolau (Companhia das Letras, 2001, São Paulo).
Faremos uma rápida reflexão acerca da educação, de
seu papel e de sua importância, tendo em vista as mudan-
ças que o século XXI nos traz.
Não poucas vezes, ouvimos que há um novo mun-
do, uma nova economia e que é mister estarmos prepara-
dos para a grande revolução que já se faz presente. Tudo
se apresenta, no mais das vezes, de maneira ameaçadora.
A tecnologia, a rapidez das transformações, a instanta-
neidade dos acontecimentos são alguns poucos exemplos
que se apresentam como argumentos de uma nova era.
Ou se compreende e participa do novo mundo, ou se está
fadado à marginalização social e econômica.
Coube às empresas e às escolas buscar o novo e a mo-
dernidade. Na verdade, podemos afirmar sem receios, que
é dentro das escolas e das empresas que está sendo constru-
ído o novo mundo. É nelas, mais naquelas do que nestas,
que os valores de uma nova sociedade estão se formando.
Estar preparado para o século XXI é fator imprescin-
dível à sobrevivência de qualquer Estado moderno nos dias
de hoje. O ordenamento jurídico e, em especial, a legislação
educacional tornaram-se a base necessária à aquisição do
Conhecimento e do Saber e à construção de qualquer país.
Isso sem deixar em segundo plano o fundamental papel do
professor como condutor desta sociedade em transição.
57
Todos nós concordamos que o mundo passa por
grandes transformações. Globalização, instantaneidade,
novas tecnologias, nova economia e muitos outros são
termos que se tornaram assunto do cotidiano de nossas
famílias, escolas e locais de trabalho.
Os sinais dessa mudança surgiram, principalmente,
a partir da década de 1.960. Vieram, por exemplo, na
forma da revolução estudantil de 68, da guerra do Vie-
tnã, da corrida espacial, da emancipação da mulher, do
surgimento da pílula. Na verdade, começaram a se tornar
evidentes, pois desde há muito que a sociedade era alvo
de radicais transformações.
O século xx pode, a princípio, ser lido sob a óti-
ca das teorias surgidas no xix. A Dialética marxista e
o Positivismo de Compte são exemplos de um mundo
surgido a partir do cientificismo da segunda metade do
século retrasado e cujas teorias e propostas se desen-
volveram e evoluíram no desenrolar do passado. Des-
sa forma, restaria como marca do século xx o conflito,
caracterizado pela chamada Guerra Fria. Faltaria origi-
nalidade aos nossos últimos cem anos, que teriam se
restringido a ideologizar e radicalizar propostas e teorias
do xix. Trata-se de evidente engano.
Os anos 1900 engendraram e construíram em seus
fatos elementos de ruptura que levam a sociedade ao nas-
cedouro de uma nova época. Desde o seu início, com a Pri-
meira Guerra Mundial, até seu término, com a queda do
muro de Berlim, abandonamos valores e princípios como
o da família tradicional, da religião e do papel da mulher
na sociedade. Vimos nascer uma nova sexualidade, o mun-
58
do das drogas, um novo modo de produção e passamos a
conviver com a explosão tecnológica e a necessidade do
conhecimento e do saber. As consequências são muitas:
marginalização de camadas da população, países e até con-
tinentes; um homem baldo de valores e princípios; o mito
da eterna juventude; o viver só para o presente e a realiza-
ção a partir da satisfação dos sentidos. Sinais evidentes da
mudança de era em que nos encontramos.
Frente a tudo isso, observa-se, por um lado, uma
postura pessimista, que não vê perspectivas e traz, a partir
do aumento da miséria, da degradação do meio ambiente
e dos conflitos que o fundamentalismo religioso provoca,
uma visão apocalíptica.
De outro lado, temos uma visão mais otimista. É,
certamente, a primeira vez que o Homem tem consciên-
cia da mudança dos tempos. Sabemos que vivemos o fim
de uma era e a construção de novos valores, vantagem
esta jamais experimentada em nenhum outro momento
da História da humanidade. Mais: sabemos, por meio de
uma série de circunstâncias e fatores, que a nova socieda-
de está se construindo nas escolas secundárias e nas em-
presas, menos nestas e mais naquelas. Trata-se, além de
fato raro e único, a oportunidade de resgatarmos o sonho
da igualdade e da oportunidade para todos.
Educar nunca foi considerada uma tarefa fácil, mas
ela acontecia. Os filhos tornavam-se pais e as gerações
se sucediam. No entanto, a partir da década de 1970 as
mudanças se acentuaram, ou melhor, as mudanças que
aconteciam desde a década de 1950 vieram à tona. Nesse
sentido, principalmente a mudança no modo de produ-
59
ção e o fim de valores e crenças trouxeram ao chamado
homem médio uma grande insegurança. Dois fatores de-
vem ser levados em conta.
No primeiro, temos a obsolescência do conhecimento.
Como já dissemos, houve uma mudança no modo de pro-
dução, provocado, em parte, pelo estrondoso e rapidíssimo
desenvolvimento tecnológico. Conhecimentos, saberes e
procedimentos foram colocados de lado e um novo mundo
do trabalho foi concebido. Trabalhadores de todos os níveis
sentiram seus empregos em perigo e um consequente risco
econômico tomou conta de cada um. Perdeu-se, enfim, a se-
gurança e a estabilidade econômicas. Como preparar nossos
filhos para o novo mundo do conhecimento e do trabalho?
No segundo, observamos questões que até outrora
eram simples e que agora ficaram sem resposta. Como
dimensionar a família, a sexualidade, a religião, o papel
da mulher e muitos outros valores no mundo de hoje?
O que se viu e se vê é a entrega dessas duas tarefas às
escolas. As famílias, frente ao torvelinho que as assolava, pro-
curaram nas instituições de ensino, remédio às suas angús-
tias. Contavam que as escolas preparassem seus filhos para o
mundo da explosão tecnológica e que restabelecessem limites
e valores. E houve, de fato, uma mudança na paisagem. De
um lado, muitas das tradicionais aulas deram lugar a discus-
sões e aprendizados acerca da nova tecnologia e da nova eco-
nomia. A presença de modernos laboratórios de informática
e recursos tecnológicos tornou-se essenciais à apresentação de
qualquer instituição de ensino. De outro, passou-se a lecionar
e a discutir sexualidade, uso de preservativos e métodos anti-
concepcionais, drogas, seu consumo e malefícios nas mais tra-
60
dicionais escolas. Coisas inadmissíveis a professores, diretores
e pais até bem pouco tempo. Enfim, incapazes de compreen-
der e educar para o novo mundo, pais entregaram esta tarefa
às escolas. Estas, por sua vez, reagiram a essa demanda, já na
década de 1970 de diferentes maneiras. Importante ressaltar
que as próprias instituições de ensino sofriam transformações
básicas em seu modo de ser.
Fundamental destacarmos também o processo de
degradação e sucateamento por que passou a escola pú-
blica brasileira. Dever legal do Estado e tida como mode-
lo e aspiração de todos até pelo menos o início da década
de 1970, hoje ela se encontra marginalizada, sem condi-
ções de oferecer perspectivas de futuro a seus educandos.
Abandonada pela classe média a partir do chamado
“milagre econômico” que passou a ver na escola particular
um símbolo de status, a escola pública perdeu a capacida-
de de ensinar e de preparar seus alunos para o mundo e a
sociedade em que se inserem. Configura-se, assim, como
exemplo da marginalização que o século XXI pode realizar.
Em meio a tantas e tão profundas mudanças, tive-
mos significativas alterações em nossa legislação:
61
Estes e ainda os PCNs (Parâmetros Curriculares Na-
cionais) compõem a legislação básica da educação bra-
sileira. Importante observar que toda ela foi elaborada
ao fim do século xx e ao nascer do xxi, isto é, quando a
sociedade dos 1900 entrava em crise e se apagava e nascia
a nova mentalidade do XXI.
Frente a esse quadro, assim diagnosticado e assim veicu-
lado, passou-se a exigir que as instituições de ensino dessem
uma resposta rápida e eficiente a essas demandas. A educa-
ção ganhou, por efêmero espaço de tempo, as manchetes
dos jornais e o centro dos debates nos círculos de decisão.
Nesse sentido, é preciso ter em mente que o direito
e a educação não são instituições que gozem de autono-
mia ou desempenhem um papel institucional dentro do
sistema capitalista, que busque dignificar o homem ou
protegê-lo de distorções do sistema. Pelo contrário, estão
a serviço do capitalismo e a ele servem.
Por isso, as propostas de ensino buscam objetivar a
preparação e a qualificação de mão de obra para os meios
de produção de um novo mundo. Lembremo-nos de que
os trabalhadores só passaram a ser alfabetizados, quando
o trabalho nas fábricas exigiu essa qualificação para o de-
sempenho de suas atividades. Enfim, o direito à educação
nasceu da demanda dos meios de produção, não desabro-
chando como algo que buscasse a dignidade e a participa-
ção consciente do ser humano na sociedade.
62
14. A educação básica
EDUCAÇÃO BÁSICA
EDUCAÇ
EDUCAÇÃO INFANTIL
ENSINO FUNDAMENTAL
ENSINO MÉ
MÉDIO
63
toda a educação básica. A presença de aulas especiais,
exames simulados ou outros artifícios para o melhor de-
sempenho dos alunos neste exame, representam medidas
corretas e necessárias ao treinamento específico do estu-
dante. No entanto, não é possível prepará-lo apenas no
último ano do ensino médio, ou pior, no último semes-
tre, para a aquisição de conhecimentos que deveriam ter-
-lhe sido oferecidos ao longo de toda a educação básica.
64
14.1. Educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio
EDUCAÇÃO INFANTIL
Artigo 29 da Lei nº
nº 9.394/96: A
educaç
educação infantil tem como
finalidade o desenvolvimento integral
da crianç
criança até
até seis anos de idade,
em seus aspectos fí físico, psicoló
psicológico,
intelectual e social, complementando
a aç
ação da famí
família e da comunidade.
65
ENSINO FUNDAMENTAL
Artigo 32: O ensino fundamental obrigató
obrigatório, com duraç
duração
de 9 (nove) anos, gratuito na escola pú pública, iniciando-
iniciando-se
aos 6 (seis) anos de idade, terá
terá por objetivo a formaç
formação
básica do cidadão, mediante:
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios bá básicos o pleno domí
domínio da leitura, da escrita e
do cá
cálculo;
II – a compreensão do ambiente natural e social, do
sistema polí
político, da tecnologia, das artes e dos valores em
que se fundamenta a sociedade;
III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
tendo em vista a aquisiç
aquisição de conhecimentos e habilidades
e a formaç
formação de atitudes e valores;
IV – o fortalecimento dos vívínculos de famí
família, dos laç
laços de
solidariedade humana e de tolerância recírecíproca em que se
assenta a vida social.
ENSINO MÉDIO
Artigo 35: [...].
I – a consolidaç
consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos;
II – a preparaç
preparação bá
básica para o trabalho e a cidadania do
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz
de se adaptar com flexibilidade a novas condiç
condições de
ocupaç
ocupação ou aperfeiç
aperfeiçoamento posteriores;
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formaç
formação ética e o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crí crítico;
IV – a compreensão dos fundamentos cientí
científico-
fico-
tecnoló
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a
teoria com a prá
prática, no ensino de cada disciplina.
66
ENSINO MÉDIO
Artigo 36: [...].
I – destacará
destacará a educaç
educação tecnoló
tecnológica bábásica, a compreensão do significado
da ciência, das letras e das artes; o processo históhistórico de transformaç
transformação
da sociedade e da cultura; a lí língua portuguesa como instrumento de
comunicaç
comunicação, acesso ao conhecimento e exercí exercício da cidadania;
[...]
III – será
será incluí
incluída uma lílíngua estrangeira moderna, como disciplina
obrigató
obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em
cará
caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituiç
instituição.
IV – serão incluí
incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigató
obrigatórias
em todas as séséries do ensino mé médio.
§ 1º: Os conteú
conte ú dos, as metodologias e as formas de avaliaç
avaliação serão
organizados de tal forma que ao final do ensino mé médio o educando
demonstre:
I – domí
domínio dos princí
princípios cientí
científicos e tecnoló
tecnológicos que presidem a
produç
produção moderna;
II – conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.
67
que está inserida ou daqueles que buscam um diferencial
ou um caminho específico na educação dos filhos.
O art. 32 trata do ensino fundamental. É a etapa
mais longa da educação básica e, a nosso ver, a mais im-
portante na formação pessoal e na aquisição de conheci-
mentos. São 9 (nove) anos, normalmente divididos em
duas etapas, do 1º ao 5º ano e do 6º ao 9º ano.
O artigo nos traz elementos do que deve ser o processo
de aprendizagem no ensino fundamental. Veja que o inciso
I positiva o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo.
O inciso ii, por sua vez, trata da compreensão do ambiente
natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes
e dos valores em que se fundamenta a sociedade.
Não há como negar a presença de conteúdos a serem
ministrados aos alunos. No entanto, não temos e nem
poderíamos ter conteúdos delineados ao professor. A lei,
com sua força normativa, não estabelece especificamente
o que deve ser lecionado em sala de aula. Essa tarefa cabe
ao professor. Trata-se de uma competência exclusiva, que
não pode ser delegada, pois é atribuída ao professor, por
sua formação e habilitação profissional.
Existem, no entanto, objetivos e desenvolvimento
de capacidades. Estes devem obrigatoriamente ser reali-
zados. Vai aí a missão do professor e é neste sentido que
será avaliado. O conteúdo específico que utilizará para
alcançar as metas estabelecidas é, como já dissemos, da
competência exclusiva do professor.
Cabe ainda frisar a importância que a Lei de Dire-
trizes e Bases dá à efetivação dos preceitos constitucio-
nais. O inciso III traz o desenvolvimento da capacidade
68
de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhe-
cimentos e habilidades, em uma clara referência à quali-
ficação para o trabalho (art. 205 da CF) e o inciso IV, o
fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de soli-
dariedade humana e de tolerância recíproca em que se as-
senta a vida social, retomando os conceitos determinados
pelo inciso IV do art. 3º da Constituição Federal.
Para o ensino médio, temos dois artigos, o art.
35 e o art. 36 da LDB. É interessante observarmos
algumas reflexões.
O inciso I do art. 35 não postula a aquisição de no-
vos conhecimentos, mas o aprofundamento dos adquiri-
dos no ensino fundamental. Isto nos reporta à ideia da es-
sencialidade deste e do ensino médio portar-se como um
aperfeiçoamento ou aprofundamento do que foi apre-
endido. Veja que os outros incisos deste mesmo artigo
comportam-se de maneira semelhante, mas endereçados
aos princípios que regem a educação.
No inciso II, temos a ratificação do preparo para
o trabalho, ressaltando a capacidade de continuidade do
processo de aprendizagem e de adaptação a novas condi-
ções sociais. Tudo isso sob o prisma da cidadania.
O inciso III retoma a missão de dar a cada um a
autonomia intelectual e a capacidade crítica. Finalmente,
o inciso iv, ao trazer a compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos processos produtivos, destaca
a obrigatoriedade da união entre os conhecimentos teóri-
cos e a realidade prática que cerca o estudante. O que ve-
mos, portanto, no ensino médio, é basicamente a ênfase
aos princípios norteadores da educação.
69
O art. 36, por sua vez, ao traçar as diretrizes do en-
sino médio, pontua que o ensino deve destacar a com-
preensão do significado da ciência, das letras e das artes e
o processo histórico de transformação da sociedade e da
cultura e o uso da língua portuguesa como instrumento
de acesso ao conhecimento e ao exercício da cidadania.
O que se vê é uma educação que determina conteúdos
significativos, que não podem valer ou existir em função
deles mesmos, mas tendo como fim o ser humano e seu
desenvolvimento pessoal e a participação social (inciso
i). O aluno deixa de ser um expectador, alguém que pos-
sui uma atitude passiva, de mera recepção de conteúdos,
para se tornar elemento ativo no processo de aprendiza-
gem, como, aliás, pondera o inciso ii deste mesmo art.
36, “adotará metodologias de ensino e de avaliação que
estimulem a iniciativa dos estudantes”.
70
15. Adaptação
Muitas vezes, temos a ideia de que o jovem é ne-
cessariamente feliz, simplesmente pelo fato de ser jovem.
Afinal, além de se encontrar em pleno vigor físico, não
possui ainda as preocupações próprias da vida madura.
É uma consideração falsa, pois encontra eco apenas no
senso comum das pessoas e não, no mais das vezes, na
realidade dos fatos. Na verdade, o jovem, encontra-se
incomodado e não adaptado ao mundo, daí muitas das
atitudes de rebeldia e indisciplina. O que se pontua é que
o jovem tem dificuldade para a felicidade porque busca
adaptar o mundo a ele, quando deveria fazer o processo
inverso, ou seja, adaptar-se ao mundo.
Nós, professores, e nisto mais uma vez me incluo,
costumamos agir como estes jovens, pois ao invés de
adaptarmos o que fazemos em sala de aula aos ditames
do sempre renovado processo educacional, buscamos de-
sesperadamente adaptar a educação ao que nós fazemos.
Vivemos, como senhores da sala de aula, uma acomoda-
ção que cega e traz a desvalorização do trabalho docente.
Dois pontos devem ser ressaltados.
O primeiro está na valorização do trabalho que é re-
alizado pelo professor. Não há motivo para se dizer que o
trabalho desenvolvido pelos professores não seja bom, ou
não venha correspondendo às expectativas de uma educação
correta e de bom nível. O professor precisa ter em mente
que seu trabalho é bom e que, enfim, é ele que mantém
contato diário com o aluno e com os processos de aprendi-
71
zagem. Qualquer tentativa de dizer o contrário deve ser lida
com muito cuidado e precaução. No mais das vezes, repre-
senta interesses pessoais ou de grupos, que passam bastante
distantes da valorização do ensino e do magistério.
O segundo está em que o professor, a partir do tra-
balho e do método que já realiza em suas aulas, deve
adaptar-se aos princípios e procedimentos determinados
pelo novo processo educacional. Não se pode desprezar
toda a experiência e todo o valor do professor, mas é es-
sencial que nos adaptemos às transformações e mudanças
exigidas para uma educação voltada para o século xxi e
construtora de um Estado Democrático de Direito.
Mais do que isso, lembremo-nos de que vivemos um
período de transição. Ninguém duvida de que há uma so-
ciedade que se desfaz e outra que se constrói. Estamos no
fim de uma era e no começo de outra. Valores, princípios,
comportamentos se transformam em vertiginosa velocida-
de. O mundo do século xxi se constrói nas escolas e nas
empresas. Há um mundo inusitado e imprevisível à fren-
te. A importância do professor é incontestável e não deve,
nem pode ele, abrir mão de suas competências e valores.
72
16. As três áreas de atuação:
interdisciplinaridade, contextualização e
resolução de problemas
Error! Objects cannot be created from editing
field codes.
73
no ensino médio. Mas sem abandonar as questões
contextualizadas, que exigem do estudante a
aplicação prática do conhecimento, e não a
mera memorização de informações.
O novo Enem é estruturado levando em
conta os conteúdos ministrados no ensino
médio. A inovação é na forma de abordagem
desses conteúdos, com foco no conjunto de
habilidades que o aluno deve ter ao final do
ensino médio, e não na mera acumulação
de fórmulas e informações desvinculadas
da aplicação. Ou seja, uma prova que
valorize mais o raciocínio e não a chamada
“decoreba”.
74
conhecimento do aluno interdisciplinarmente. Enfim, a
aferição de conteúdos continua a ser fator determinan-
te, o que muda é a maneira ou forma como ele deve ser
abordado, a partir do desenvolvimento de habilidades,
contextualizado e valorizando o raciocínio.
75
17. Ensino médio e os cinco eixos
cognitivos
76
III. Enfrentar situações-problema (SP): selecionar, or-
ganizar, relacionar, interpretar dados e informações repre-
sentados de diferentes formas, para tomar decisões e enfren-
tar situações-problema.
77
blema e com interdisciplinaridade. É por isso que deve-
mos dar ao estudante a capacidade de, além de dominar
as diversas linguagens do conhecimento, compreender os
fenômenos, enfrentar situações-problema, construir ar-
gumentação e elaborar propostas.
Lembremo-nos de que vivemos sob a égide de uma
Constituição que estabelece ser a República Federativa do
Brasil um Estado Democrático de Direito, que apresenta
dentre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana
e o exercício da cidadania, elementos estes ratificados no
capítulo constitucional dedicado à educação e efetivados
na legislação educacional infraconstitucional. Assim, os
cinco eixos comuns a todas as áreas do conhecimento
são, neste contexto, mais que uma proposta, representam
um imperativo jurídico, cuja efetivação é, consequente-
mente, obrigatória.
78
18. Habilidades e competências
79
so educacional. A questão está em que ele, aliás, como
tudo, não pode existir por si mesmo. A educação não é
um poema Parnasiano, ou seja, não há o conteúdo pelo
conteúdo apenas. Ele não é algo estéril e desvinculado
da realidade. Pelo contrário, o processo de aprendizado
não pode acontecer longe do conteúdo. A aquisição do
conhecimento é fundamental, pois não se pode formar o
aluno a partir do vazio.
Mesmo processos de memorização não são conde-
nados pelo construtivismo. Muitas vezes, são necessários
à agilidade e rapidez de raciocínio. O que não se pode
fazer é restringir o ensino à chamada decoreba, ou seja, à
memorização sem sentido ou ao conhecimento sem sig-
nificado. É como se, no oceano, olhássemos um iceberg e
acreditássemos que ele é apenas aquilo que podemos ver.
O resultado é que ao navegarmos, nosso navio afundará,
pois desconhecemos toda a realidade que há por baixo.
O que se pretende, enfim, é a formação de um cidadão
dotado de dignidade, com autonomia e capaz de dar rumo à
sua existência, com consciência crítica da realidade e da im-
portância do próximo para a construção individual e social.
Vamos, para finalizar, listar as 21 competências enume-
radas pelo MEC. Lembremo-nos, no entanto, de que elas
podem variar conforme circunstâncias e momento social.
80
2. Em um gráfico cartesiano de variável socioeconômica
ou técnico-científica, identificar e analisar valores das variáveis,
intervalos de crescimento ou decréscimo e taxas de variação.
81
8. Analisar criticamente, de forma qualitativa ou
quantitativa, as implicações ambientais, sociais e econômi-
cas dos processos de utilização dos recursos naturais, mate-
riais ou energéticos.
82
14. Diante da diversidade de formas geométricas pla-
nas e espaciais, presentes na natureza ou imaginadas, carac-
terizá-las por meio de propriedades, relacionar seus elemen-
tos, calcular comprimentos, áreas ou volumes, e utilizar o
conhecimento geométrico para leitura, compreensão e ação
sobre a realidade.
83
pontos de vista, identificando os pressupostos de cada inter-
pretação e analisando a validade dos argumentos utilizados.
84
19. Conclusão
85
A segunda está em que podemos definir Estado
Democrático de Direito como aquele em que o poder
deve ter origem e emanar da vontade do povo, e também,
aquele em que todos, sem exceção, devem subordinar-
-se à lei. Ninguém pode estar acima dela, seja por suas
pretensões ou vontades, ou seja em função de cargos ou
importância social atribuída, para que assim o princípio
da igualdade e da isonomia verdadeiramente se efetive.
Para que este dever ser se realize é necessário que nos-
so ordenamento jurídico, em especial a Constituição, ga-
nhe efetividade, não se tornando mera folha de papel. A
tarefa é de todos no cotidiano do trabalho e na vigilância
diuturna de cada um. Tomo, no entanto, a ousada liberda-
de de ressaltar a importância da educação neste processo.
Como vimos, acima de interesses outros, sejam de
ordem política, financeira ou pessoal, três são os deveres
do educador: dar a cada um sua dignidade e autonomia,
preparar para o exercício da cidadania e qualificar para o
mundo do trabalho. Missão esta que pode ser apontada
como alicerce para a construção de qualquer Estado que
tenha por base a vontade do povo e o império da lei.
Não se torna, portanto, difícil perceber que toda a lógica
que envolve o exercício do poder em suas mais diversas
instâncias, trabalhe contra a missão do professor em sua
tarefa de educar.
Assim, por mais sólidas e verdadeiras que sejam
as barreiras levantadas ao pleno exercício da educação,
não podemos nos dar ao luxo de aceitar desculpas ao
nosso trabalho. Temos a obrigação de manter e lutar
por nossa dignidade, por mais adversas que sejam as
86
condições. E não se mantenham ilusões, quanto mais
exigirmos o que é de direito, tanto ao professor, quan-
to ao verdadeiro processo educacional, maiores serão
as dificuldades e os obstáculos.
87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
88
BAHIA, Cláudio José Amaral. Proteção Constitucional
à Homossexualidade. Leme/SP: J. H. Muzino, 2006.
89
BRBR310Br311lq.=author%22 Canotilho%22), acessa-
do em 24/06/2008)
90
FERREIRA, Renata Tereza da Silva. O Direito Educa-
cional na Constituição Federal e na LDB. 2. ed. Piras-
sununga/SP: Lawbook, 2008.
91
MARTINS, José de Souza. Exclusão Social e a Nova
Desigualdade. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2007.
92
RAMOS, Revmo. Pe. Lincoln. O Evangelho. Apresenta-
do em tradução baseada no texto original grego e anota-
do. São Paulo: Regnum Dei, 1971.
93
_______. Curso de Direito Constitucional Positivo.
10. ed. São Paulo: Malheiros, 1995.
94
O autor
95
cursinhos de São Paulo. Destacando-se o Curso Anglo
Vestibulares e o Colégio Rio Branco. Suas aulas de lite-
ratura e redação tornaram-se inesquecíveis à formação
de seus alunos. É desse período a publicação do livro
Gil Vicente, seu tempo e seu espaço, paradidático desti-
nado a estudantes de ensino médio e cursos prepara-
tórios para vestibulares, elaborado em coautoria com a
professora Maria Clara de Paula Leite.
Foi no colégio Rio Branco que conheceu o Prof. Pri-
mo Páscoli Melaré, então Diretor Geral daquela institui-
ção de ensino, que muito o influenciou por seu idealismo
e coragem no trato dos caminhos da educação. O profes-
sor Primo, ao retirar-se de suas funções, convidou o Prof.
Paulo Henrique para substituí-lo.
Formou-se em Pedagogia e passou a exercer a função
de Diretor Geral de uma das melhores e mais tradicionais
instituições de ensino do país. O Brasil da época vivia
os novos ares da Constituição de 1988 e da implantação
da LDB. Foi o início do chamado Estado Democráti-
co de Direito e, consequentemente, de uma proposta de
educação própria aos novos tempos. Coube-lhe, então,
a tarefa de desenvolver uma renovação e modernização
pedagógica e administrativa no colégio, tarefa essa que
desenvolveu com maestria, mantendo a tradição e levan-
do os ares da modernidade ao Colégio Rio Branco, que à
época possuía cerca de 5.000 alunos e 500 funcionários
em suas duas unidades.
Após, concluiu o curso de Direito e tornou-se ad-
vogado. Fez Mestrado na Instituição Toledo de Ensino
na área de Direito Constitucional. Desenvolveu a disser-
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tação A Educação como Garantia do Estado Democrático
de Direito sob a orientação do Prof. Dr. Vidal Serrano
Jr.. Tal pesquisa permitiu-lhe não apenas aprofundar seus
conhecimentos, como também perceber a educação e sua
importância social sob novos aspectos, ou seja, o processo
educacional como eminentemente inclusivo e construtor
do respeito à soberania do povo e do principio da legali-
dade, elementos fundamentais à construção democrática.
Às constantes atividades em sala de aula, somou a
prática da assessoria e do ministrar palestras a educadores
e educandos, a fim de divulgar a necessidade da educa-
ção como elemento básico de uma democracia inclusiva
e igualitária, avessa a expedientes totalitários ou demagó-
gicos, eternizadores da exploração e da miséria.
Importante ressaltar que jamais se permitiu o afasta-
mento da sala de aula. É no contato direto com os jovens
estudantes que encontra estímulo ao trabalho e esperança
no futuro. Por isso, ainda hoje se mantém como professor
de redação e diretor pedagógico no D’Incao Instituto de
Ensino em Bauru, Educação Básica e Curso Preparatório
para Vestibulares e professor na faculdade de Direito nas
Faculdades Santa Rita.
A educação tornou-se em sua vida um ideal. Não
existe outro caminho à emancipação do homem enquan-
to ser portador da dignidade e da autonomia e, conse-
quentemente, construtor da História. Este livro, em sua
simplicidade, busca aproximar e dar instrumentos para a
efetivação desse ideal a todos que verdadeiramente dedi-
cam a vida à educação e à dignificação do outro.
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