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Fernanda Aparecida Domingos Pinheiro*

Confrades do Rosário
Devoção, sociabilidade e identidade étnica em Mariana (1750-1799)

Resumo
Por apregoar as idéias de sacrifício corporal, humildade e obediência, a religião católica disseminada através
do processo colonizador português (séc. XV-XVIII) foi percebida pelos senhores brancos como poderosa força
conservadora capaz de atenuar os ânimos revoltosos dos africanos escravizados. Por outro lado, tais negros
apropriaram o catolicismo após imbuí-lo de novos significados. Logo, promoveram suas devoções e as instituíram
em irmandades leigas, onde passaram a se reunir e agir em defesa de seus interesses individuais e coletivos. A
formação e manutenção dessas confrarias podem ser interpretadas como uma resposta criativa à imposição de
uma religião oficial e, concomitantemente, ao infortúnio do cativeiro e seu estigma. Inseridas no contexto mais
geral das instituições coloniais, não visavam a libertação dos cativos e a derrocada do sistema escravista; porém,
suas moderadas ações revelam-nos uma "resistência adaptativa" ao interferir em questões pontuais que afligiam
tais indivíduos: subsistência material, conforto espiritual, autonomia e distinção social. Nesta perspectiva, a
presente comunicação tem por objetivo discutir o perfil dos confrades matriculados na Irmandade de N. S. do
Rosário da cidade de Mariana (MG), durante a segunda metade do século XVIII. Com isso, evidenciaremos a
Capela erigida por essa confraria como um espaço privilegiado no processo de "reconstrução" de identidades
étnicas e de consolidação de outras diversas relações de sociabilidade.
Palavras-chave: Irmandade, etnicidade, sociabilidade.

Abstract
By preaching the ideas of body sacrifice, humility and obedience, the catholic religion spread through the
Portuguese colonizing process (centuries XV-XVIII) was realized by the white men as powerful conservative
strength able to reduce the rebel courage of the enslaved Africans enslaved. On the other hand, these black
people seized the Catholicism after giving new meanings. Soon, they promoted their devotions and legalized
them in lay fraternities, where they started to meet and act in defence or their individual and collective interests.
The formation and maintenance of such fraternities can be interpreted as a creative answer to the imposition of
an official religion concomitantly to the misfortune of the slavery and its stigma. Inserted in the general context
of the colonial institutions, they did not aim for the freedom of slaves and for the slavery system; nevertheless,
their moderate actions reveal us an "adapting resilience" by interfering in punctual issues that tormented such
people: material subsistence, spiritual comfort, autonomy and social distinction. From this point of view, this
essay - Rosario's Fraternity: devotion, sociability and ethnic in Mariana (1750-1799) - aims at discussing the
profile of the fraternity members registered in the Our Lady Rosary Fraternity, in Mariana town (Minas Gerais
- Brazil), during the second half of the XVIII century. Therefore, we will show the chapel built this fraternity as
a privileged place in the process of "reconstruction" of ethnic identities and consolidation of many other social
relations.
Keywords: fraternity, ethnic, sociability

Mestranda do Programa dc Pós-Graduação em História pela Universidade Federal Fluminense.

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Confrades do Rosário
Devoção, sociabilidade e identidade étnica em Mariana (1750-1799)
Fernanda Aparecida Domingos Pinheiro

N o dia 06 de janeiro de 1754, João Carvalho da Silva se assentou por Irmão de N. S.


do Rosário da Cidade de Mariana - Minas Gerais.1 Tratava-se de um preto "Lada", 2 portanto, procedente da
Costa da Mina que fora traficado para as minas auríferas da América portuguesa em fins da década de 1710
e, início dos anos de 1720; ignoramos a data precisa da sua chegada e o porto ein que foi desembarcado.
Batizado na Igreja Matriz do Pilar, em Vila Rica (também em data desconhecida), logo levaram-no para
Mariana, onde sempre residiu ao lado de seu senhor, Manuel Carvalho da Silva. Nesta cidade permaneceu
mesmo após a conquista de sua alforria, em 1748.3 João Carvalho da Silva era também conhecido por João
Carniceiro, pois tinha por ocupação o corte de carnes. Com efeito, estabeleceu sua primeira residência
no Largo dos Açougues, Rua do Pissarrão, onde arrematou, primeiramente, três braças de terra em 17494
e, posteriormente, mais duas braças e meia, já em 1754.5 Neste mesmo ano, João Carniceiro foi inscrito
nos Livros da Câmara como arrematante de sete braças de terra sitas na Rua dos Monsus, cujo terreno
confrontava, ao sul, com casas de Rosa Maria Carvalho.6
Acompanhado por esta sua nova vizinha, João Carvalho da Silva foi coroado Rei da Irmandade de N.
S. do Rosário dos Pretos de Mariana, 7 e tal proximidade resultou, por fim, em casamento. No mês de maio
do presente ano de 1754, correram-se os banhos matrimoniais do Rei e Rainha do Rosário. Rosa Maria de
Carvalho era preta forra, também natural da Costa Mina e chegara em Mariana na década de 1730, após
ser desembarcada na Bahia e batizada na freguesia de N. S. da Conceição da Praia. Era solteira, porém,
encontrava-se impedida de contrair núpcias com João Carvalho da Silva. De fato, a noiva de João Carniceiro
já era comprometida com um preto cativo da Vila de Sabará, que havia conhecido em uma das viagens que
realizara pela Capitania de Minas Gerais, em assistência ao seu ex-senhor, o Alferes José Carvalho de
Andrade. O preto Alexandre Cabral, já velho, com "defeito" nos olhos, ainda escravo e, coincidentemente,
também açougueiro, isentou Rosa Maria das promessas que lhe havia feito e, como indenização, segundo
suas próprias palavras "queria que ela se lembrasse dele visto chegara melhor fortuna dando-lhe algum
vestuário pois se achava muito pobre e despido". 8 Somente após a quitação dos antigos esponsais, Rosa
Maria e João Carvalho, os noivos coroados pelos confrades do Rosário obtiveram Provisão do Vigário da
Vara e se receberem em face à Igreja.
Durante a vida conjugal, João e Rosa Maria continuaram servindo à Mesa de Direção do Rosário; como
exímios oficiais, auxiliaram na arrecadação do pecúlio necessário para a construção de uma nova e suntuosa
capela, capaz de abrigar com perfeição esta Irmandade.9 Em 1762, João Carvalho da Silva foi eleito o Juiz,10
porém, no decorrer da sua administração, no dia 8 de junho, sua esposa faleceu. Como não poderia deixar
de ser, Rosa Maria foi sepultada na Capela Nova do Rosário; seu corpo foi acompanhado à sepultura pela
Irmandade da mesma Virgem e pelas de São Bendito e Santa Efigênia (também associações de pretos),
além da Arquiconfraria de São Francisco dos Pardos, das quais era igualmente Irmã. Estando enferma, Rosa
Maria de Carvalho fez seu Testamento em Abril de 1762." Entre as demais disposições deixou esmolas para
as referidas Irmandades dos pretos "para ajuda das suas obras" e, curiosamente, reservou pequenas quantias
a serem doadas a notáveis Irmandades de brancos: a do Santíssimo Sacramento, Santana, São Pedro dos
Clérigos e Casa Santa de Jerusalém.
Ao declarar o patrimônio amealhado pelo casal, Rosa Maria enfaticamente separou os bens adquiridos
por cada um dos conjugues, antes de contraírem o matrimônio. Assim sendo, confirmou que seu marido era
proprietário de duas moradas de casas cobertas de telhas, uma térrea e outra assobradada, localizadas no
Pissarrão; também era senhor de três escravos: José Courano, Antônio Mina e Felipe Mina. A testadora, por
sua vez, mostrou-se possuidora de jóias - grandes cordões, pulseiras, anéis, pares de brincos, crucifixo
além de outros objetos de ouro como pares de botões de saia, cruz e uma imagem da Virgem da Conceição.
Era senhora de cinco escravos, a saber: Quitéria "Lada", Joana "Fam", Josefa "Lada", Ana Crioula, Maria
Mulata e Manuel Pardo (estes três últimos eram filhos da dita escrava Joana Fam). Também era proprietária
de duas moradas de casas localizadas na Rua dos Monsus, onde vivia com João Carvalho da Silva e, para

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nossa surpresa, com o seu ex-senhor.12
Passados dois anos, João Carniceiro se casou novamente com Joana Carvalho da Silva, ex-escrava
de sua primeira esposa. A dita Joana havia sido companheira de cativeiro de Rosa Maria e esta, depois
de libertar-se, obteve a sobredita preta Fam por título de comprar que dela fizera ao seu ex-senhor, o
mesmo Alferes José Carvalho de Andrade. Apresentando-se como testamenteiro e herdeiro de sua falecida
esposa, João Carvalho da Silva logo se apoderou de Joana e lhe concedeu alforria gratuita, registrada no
Livro de Notas do Tabelião, no dia 05 de fevereiro de 1764, juntamente com a liberdade da mesma forma
facultada a Felipe, irmão consangüíneo do dito outorgante que o havia arrematado em praça pública.13
Imediatamente após a emissão desta Carta de Alforria conjunta, deu-se início o processo matrimonial de
João de Joana Carvalho da Silva, do qual não resultou impedimento algum e, assim, foram considerados
aptos ao casamento então realizado.14
Em seguida, ainda no ano de 1764, depois de tomar novamente o estado de casado, João Carvalho
da Silva doou à Irmandade de N. S. do Rosário uma sua imagem para ser posta no trono do Altar-Mor da
Capela Nova. A bela representação da Virgem de nove palmos de altura (que ainda hoje pode ser venerada
em sua Capela na Cidade de Mariana) foi feita às custas do doador, em demonstração de grande devoção e
apreço pela sua confraria. 15 Joana Carvalho da Silva, também confrade do Rosário, formalmente matriculada
em 1755,16 foi eleita Juíza em 1768.17 Por certo, a sua escolha foi influenciada pelo prestígio que detinha
o marido entre os demais irmãos e oficiais do Rosário, bem como, pela possibilidade agora alcançada de
contribuir com avultada esmola exigida à ocupante de tão honroso cargo.
Em 1768 também foi comemorado o casamento de Ana Carvalho da Silva, filha natural de Joana
Carvalho da Silva, criada desde sua infância em companhia de João Carniceiro.18 Ana crioula e sua irmã
Maria mulata foram alforriadas pela ex-senhora Rosa Maria de Carvalho, cujo benefício promulgou em seu
testamento (não o estendendo a Manuel pardo, também filho de Joana, que fora vendido para a satisfação
das despesas e legados da testadora). A crioula contraiu matrimônio com Félix de Freitas Bello, preto forro
de "nação" Fam, assim como a mãe da dita Ana. Félix residia no Morro de Santana, arrabaldes da cidade de
Mariana e era confrade do Rosário, do mesmo modo que Joana e João Carvalho da Silva (mãe e padrasto
de sua esposa). Sua matrícula foi registrada aos 4 dias do mês de junho de 1754, ano em que foi nomeado
Juiz, sendo ainda escravo de Antônio de Freitas Bello.19 Também se destacou como um importante oficial
da Irmandade de N. S. do Rosário, participando da sua direção em vários anos; foi Irmão de mesa em 1757,
1758, 1760, 1761, 1762, 1763, 1764, 1765, 1766, 1767, 1783, 1784, 1785 e 1786; atuou e testemunhou
importantes acontecimentos que marcaram esta associação religiosa, como a entrega e bênção da Capela
Nova.20
Joana Carvalho da Silva faleceu anos depois, em 1773, ao primeiro dia do mês de dezembro,21 nomeando
por herdeiras suas filhas crioulas e deixando a maior parte de sua terça como esmola para seu filho Manuel,
escravo de Manuel de Oliveira Pinto, afim de ajudá-lo a comprar sua alforria.22 Através de seu "trabalho
e indústria" auxiliou o marido a aumentar o patrimônio familiar. Em seu inventário foram arrolados os
seguintes escravos: José Sabaru, Lourenço Crioulo, Francisco Mina, Joaquim Mina, Ana Mina, Domingos
Mina e Pedro Angola. Entre os bens de raiz, além das mencionadas moradas de casas localizadas nas Ruas
do Pissarrão e Monsus, destacaram-se como novas possessões uma chácara no Morro de Domingos Velho e
duas moradas de casas de pedra "por acabar", situadas no Rosário Novo. Diferentemente da primeira esposa
de João Carvalho da Silva, Joana não se preocupava em ostentar, ornamentando-se com jóias; certamente,
sua maior preocupação era garantir meios de sobrevivência para si e sua família, visto que, nos anos de
1760 e 1770 foi deflagrada a crise da mineração que atingiu todos os níveis da economia marianense. Nesta
nova conjuntura, não deixou esmola alguma às Irmandades de pretos do Rosário, São Benedito e Santa
Efigênia das quais declarou ser Irmã.
João Carniceiro viveu o resto de sua vida em sua casa na Rua dos Monsus, tendo a companhia de sua
enteada, a mulatinha Maria Carvalho da Silva, que possuía apenas onze anos na ocasião da morte de sua mãe.
João veio a falecer, com a assistência de todos os sacramentos, aos 4 de junho de 1781; foi acompanhado,
encomendado e sepultado na Capela Nova do Rosário.23 Desconhecemos maiores detalhes sobre seu destino
final e as suas últimas disposições, pois, seu testamento e inventário não foram localizados.
Apesar disso, acreditamos que as informações reunidas sobre João Carvalho da Silva, o João Carniceiro,
permitem vislumbrar as relações de sociabilidades estabelecidas entre os pretos procedentes da Costa da
Mina e reunidos em Mariana, no interior de uma Capela erigida para melhor acomodar a Irmandade de
N. S. do Rosário, a qual promoveram e dirigiram com grande zelo. A trajetória de vida então narrada
exemplifica que as irmandades e seus confrades constituem um dos mais ricos objetos para a investigação

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da inserção dos escravos e alforriados africanos na sociedade colonial. Estamos certos de que as Irmandades
- associações de caráter jurídico, com patrimonio próprio, dependente da autoridade eclesiástica apenas no
aspecto religioso - favoreceram o processo de reorganização dos africanos após sua diáspora.24
O contato diário entre os diferentes indivíduos formadores de uma nova sociedade na América
Portuguesa viabilizou trocas de representações culturais, cujos símbolos e significados foram reelaborados
durante o lento processo de recepção. Dentro desta perspectiva, o movimento de "evangelização" dos
africanos começa a ser percebido a partir das noções de re-significação e apropriação, caindo em desuso o
termo aculturação.25 Por apregoar as idéias de sacrificio corporal, humildade e obediência, a religião católica
disseminada através do processo colonizar português (séculos XV-XVIII) foi vista pelos senhores brancos
como poderosa força conservadora capaz de atenuar os ânimos revoltosos dos africanos escravizados. Por
outro lado, tais escravos de diferentes etnias também se apossaram do catolicismo e, logo promoveram suas
devoções e as instituíram em irmandades leigas, onde passaram a se reunir e agir em defesa de seus interesses
individuais e coletivos. Estas confrarias podem ser interpretadas como uma resposta criativa à imposição
de uma religião oficial e, concomitantemente, ao infortúnio de viver em cativeiro e seu estigma. Inseridas
no contexto mais geral das instituições coloniais, não visavam à libertação dos cativos e a derrocada do
sistema escravista; porém, suas moderadas ações revelam-nos uma "resistência adaptativa"26 ao interferir
em questões pontuais que afligiam tais indivíduos: subsistência material, conforto espiritual, autonomia,
sociabilidade e distinção social.
Neste sentido, refutamos uma existência dicotômica entre negro cristão passivo e aculturado versus
negro feiticeiro e agente da resistência africana. O catolicismo (assim como a língua e o vestuário) foi
um dos elementos que possibilitou os africanos se moverem com maior destreza no "Novo Mundo", para
onde foram forçosamente transmigrados. Segundo Fredrik Barth: "O cqmprometimento com determinados
padrões valorativos não será sustentado em circunstâncias que tornam a performance comparativamente
inadequada em termos desses padrões".27 Em conformidade com o referido antropólogo, acreditamos que
o assento de africanos em irmandades religiosas constituiu um meio de integração e interação dos mesmos
na sociedade escravista. No âmago das confrarias negras deu-se o reencontro dos segmentos de grupos
étnicos, sendo esta identidade por ora conservada, ou transformada, conforme o interesse dos mesmos
representantes e em decorrência das oportunidades apresentadas em situações históricas determinadas.
Ao compartilharmos desse enfoque em que as Irmandades negras constituíram uma das principais
formas de reorganização social empenhadas pelos negros, nossa análise empírica recaiu sobre o perfil dos
confrades da Irmandade de N. S. do Rosário da cidade mineira de Mariana. A presente comunicação tem
por objetivo apresentar-lhes os indivíduos que se mostraram capazes de adaptar às novas condições de
sobrevivência encontradas nesse novo local de moradia e que, desse modo, souberam usufruir de um espaço
livre da vigilância constante da Igreja Colada, das autoridades civis e dos senhores.
A Irmandade de N. S. do Rosário foi instituía ainda nos primórdios da Vila de N. S. do Carmo, futura
cidade de Mariana e sede do primeiro bispado mineiro. Sua fundação, embora não saibamos precisar a
data, antecede ao ano de 1715.28 Neste período encontrava-se estabelecida na Matriz consagrada a N. S. da
Conceição e localizada no Arraial de Cima.29 Devido ao crescimento da população e à evolução da linha de
sua ocupação, uma segunda Matriz foi erigida no Arraial de Baixo.30 Aquela primeira Igreja (atual Capela
de Santo Antônio) foi então entregue aos Irmãos do Rosário, que nela permaneceram até a edificação de
uma nova e imponente Capela no Morro dos Monsus.
A primitiva Igreja paroquial, também conhecida como a Capela do Rosário Velho, era pequena e
muito rudimentar; encontrava-se situada em terras ribeirinhas, mais precisamente, "à margem direita do
ribeirão (do Carmo), à meia encosta do morro, e junto à praia de Mata Cavalos"31 do Arraial de Cima, o
mais antigo povoado da Vila. Este núcleo tornou-se periférico e condenado a um crescente abandono depois
da instalação da diocese e conseqüente elevação da Vila do Carmo à categoria de Cidade de Mariana, em
23 de Abril de 1745. Nesta ocasião, a fim de receber um traçado mais regular, seu centro foi transferido
para o terreno de topografia mais adequada. Tal mudança foi caracterizada pelo deslocamento dos edifícios
públicos e religiosos do Arraial de Cima para o mais recente e reestruturado aglomerado, o Arraial de Baixo.32
Mata Cavalos tomou-se uma região suburbana, despovoada e isolada do novo centro em decorrência da
destruição de ruas e ponte provocada pelas constantes enchentes do ribeirão. Diante desses fatos, bem
como, das péssimas condições de conservação da Capela do Rosário Velho, além do provável aumento
do número de seus confrades, estes se mobilizaram na realização do oneroso, porém, grandioso projeto: a
edificação de uma Capela Nova dos Pretos, localizada no alto de um dos outeiros que resguardavam a nova
cidade, onde também seriam acolhidas as Irmandades de São Benedito e Santa Efigênia.33

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Sua pedra fundamental foi lançada no dia 14 de maio de 1752, estando presentes autoridades
eclesiásticas e laicas, das quais destacavam o Bispo Dom Frei Manuel da Cruz e o Ouvidor de Vila Rica,
o Doutor Silvério Teixeira. Seguida por uma multidão, a lápide sagrada foi conduzida em esplendorosa
procissão até o Morro do Monsus e aí assentada. Findo este ritual, uma Missa festiva foi celebrada pelo
Capelão José dos Santos Coelho.34 Em dezembro de 1758, após o término de sua obra de pedra, o templo
foi bento e inaugurado com a festa de seus três santos protetores.35 Contudo, o acabamento de seus adornos
- edificação da torres, fabricação dos sinos, entalhe do Altar-Mor, douramento e pintura - prolongou-se por
muitos anos até a sua conclusão em meados da década de 1820.
Sem dúvida, na década de 1750 em que ocorreu a execução da sobredita construção, deu-se também
a reestruturação organizacional da Irmandade de N. S. do Rosário dos Pretos de Mariana. Certos da
indispensabilidade de se financiar uma edificação de volumetria grandiosa, seus oficiais trataram com maior
diligência a inscrição das matrículas dos Irmãos.36 Em 1753 foram registradas 167 matrículas e em 1754
foram inscritos outros 97 Irmãos - os maiores números de toda a amostragem, que perfaz um total de 844
assentos. Até este momento, muitos confrades antigos não possuíam seu registro formal de agremiados,
sendo esta condição explicitada na feitura tardia de seus termos de entrada. Durante os referidos anos, a
mesa diretora se esforçou para acertar as irregularidades, visto que, tratava-se justamente do período de
vencimento e satisfação das primeiras parcelas do pagamento acertado com o mestre pedreiro da Capela
Nova, José Pereira dos Santos.37 De fato, tal obra por demais dispendiosa, reforçou a necessidade de efetivar
e dispor ordenadamente as matrículas dos novos e dos velhos confrades. Nesta ocasião, tais indivíduos
prometiam guardar o Compromisso que regia esta Irmandade, firmando a sua obrigação de saldar a taxa
anual empregada na promoção e manutenção da mesma.38
Constatamos que os termos de entrada não foram registrados de forma regular, podendo os confrades
freqüentar a Irmandade não estando assentados no Livro de Matrícula; por vezes, "não sendo encontrado
termo de suas entradas", tiveram tal registro feito depois de muitos anos; contudo, acreditamos que alguns
nunca tiveram seu termo de Irmão devidamente formalizado. Apesar disso, tais assentos de entrada ainda
constituem uma preciosa fonte para identificarmos os irmãos do Rosário de Mariana. A uniformidade de suas
informações nos permitiu empreender uma análise quantitativa e qualitativa, combinadas. Esta metodologia
resultou na compreensão do perfil dos pretos irmanados sob a proteção de uma devoção católica. Muitos
foram os estudos sobre as irmandades leigas instituídas por africanos e seus descendentes na América
Portuguesa, porém, poucos pesquisadores tiveram a possibilidade de complementarem suas pesquisas
com dados seriais fornecidos por tão rico corpus documental.39 As matrículas apresentavam a seguinte
fórmula: a data de ingresso; o nome do Irmão; sua cor e procedência;40 sua condição social - quando
escravo, trazia o nome do proprietário e, sendo este um forro, eventualmente, sua cor e procedência também
eram registradas; o local de residência; o valor pago como taxa de entrada e, ocasionalmente, as relações
de parentesco estabelecidas entre os confrades. Ao lado de alguns assentos, posteriormente, foram sendo
anotadas informações complementares, tais como: data de falecimento e a ocupação de cargos da mesa de
direção.

Josefa Maria de Queiroz preta forra de Nação Mina moradora na Rua Nova desta Cidade por ter pago a muitos
anos os anuais desta Irmandade e se não acha termo de sua entrada se lhe fez este pelo qual se sujeitou as Leis
do Compromisso e se obrigou a estar por tudo o que em mesa se determinar e de como assim o disse e assinou
aqui 8 de janeiro de 1753. Sinal da cruz de Josefa Maria de Queiroz. (Obs: consta ainda ter falecido em 27 de
Setembro de 1758).41

Após a coleta e montagem de um banco com os dados inscritos nas matrículas dos confrades do Rosário
de Mariana, confeccionamos tabelas que melhor expõem as características desses mesmos indivíduos.

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Tabela I

Sexo * Condição Social dos Confrades do Rosário - Mariana (1750-1799) a

Descendente de
Masculino 397 89 9 1 4 20 520
% Sexo 76,3% 17,1% 1,7% ,2% ,8% 3,8% 100,0%
% Condição Social 72,6% 38,0% 90,0% 50,0% 80,0% 43,5% 61,6%
Feminino 150 145 1 1 1 26 324
% Sexo 46,3% 44,8% ,3% ,3% ,3% 8,0% 100,0%
% Condição Social 27,4% 62,0% 10,0% 50,0% 20,0% 56,5% 38,4%
Total 547 234 10 2 5 46 844
% Sexo 64,8% 27,7% 1,2% ,2% ,6% 5,5% 100,0%
% Condição Social 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

a.

* Foram identificados como livres os indivíduos que apresentaram em suas matrículas a cor branca; títulos e
ocupações como Dona, Reverendo Padre; e os oficias brancos.
** Foram identificados como descendentes de pretos livres os indivíduos que apresentaram em suas matrículas a cor
parda e os crioulos que não tiveram sua condição social registrada.

Com a leitura sistemática da Tabela I percebemos que os escravos do sexo masculino predominaram
entre os Irmãos do Rosário - 397 dos 844 confrades matriculados eram homens cativos. Entre o contingente
feminino, a participação das libertas também chama-nos a atenção - do total de 324 Irmãs (38,4% da
amostra geral), 150 eram escravas e 145 eram forras. Contabilizando apenas a fração dos Irmãos forros,
a presença das mulheres de igual condição social mostra-se ainda mais significativa - 145 mulheres para
89 homens. Cativos e libertos de ambos os sexos perfaziam, juntos, quase a totalidade dos confrades
oficialmente inscritos; indivíduos de outras condições sociais - quartados, livres e descendentes de negros
livres - também participaram dessa confraria, no entanto, não atingiram índices significativos. Por certo,
esta ocorrência deve-se ao contexto do período da fundação da Irmandade de N. S. do Rosário, bem como,
à essência da organização dos capítulos do seu Compromisso, que assim, direcionava maiores cuidados aos
escravos e maior status aos forros (ao menos durante o século XVIII).
Tabela II
Proprietários de Escravos Confrades do Rosário - Mariana (1750-1799)
N° de Escravos Freqüência de Proprietários Porcentagem

01 251 74,1
02 50 14,7
03 15 4,4
04 08 2,3
05 05 1,5
06 01 0,3
07 03 0,9
08 01 0,3
09 01 0,3
10 00 0,0
11 02 0,6
12 00 0,0
13 01 0,3
14 00 0,0
15 01 0,3
Mais de 15 00 0,0
Total 339 100

Fonte: AEAM - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28.

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Os escravos desfrutavam da supremacia numérica em detrimento aos forros e, por isso, no intento de
aprofundarmos nossa análise, parece-nos apropriado agrupá-los à propriedade senhorial a qual pertenciam.
Em linhas gerais, os 547 cativos (reunidos ambos os sexos) configuravam-se como propriedade de 339
senhores; deste total, 251 possuíam apenas 1 escravo matriculado na Irmandade de N. S. do Rosário - o
que representa 74,1% da amostra. Mais do que simples reflexo de uma escravidão pulverizada, bastante
característica da região das Minas, o extenso período em análise, permite-nos afirmar que tais cifras retratam
a inserção nessa confraria como uma ação individual. O ingresso coletivo de escravos oriundos de um
mesmo plantel não era uma prática freqüente. Neste sentido, fazer parte de uma irmandade e participar de
suas atividades colocava uma parcela de africanos e crioulos em posição de destaque em relação aos demais
"parceiros" de cativeiro. Desfrutando do status de negro "convertido" à verdadeira fé cristã poderiam se
sobrepor à escravaria de seu senhor na conquista de privilégios.
Mesmo entre os proprietários que detinham a posse de mais de um cativo Irmão do Rosário, comumente,
tais indivíduos foram registrados no Livro de Matrículas em diferentes ocasiões. Assim ocorreu com os
escravos de Manuel Teixeira Meinedo: o primeiro a se associar, em 1757, foi o preto mina Antônio Teixeira;
em 1759 assentou-se Caetano Teixeira Meinedo, também preto mina; em seqüência, Paulo Teixeira angola,
em 1760; e, por último, João Teixeira Meinedo angola que teve seu termo de Irmão registrado em 1764.42
Eventualmente, encontramos casos como de Pedro Angola, Matias Mina, José Angola, Domingos Mina,
Antônio Mina e Joaquim Mina, todos escravos de Dom Frei Domingos da Encarnação Pontevel (4o
Bispo marianense), que em 1791, juntos e exemplarmente, filiaram-se a esta devoção cristã; com exceção
unicamente do cativo João que antecipou sua matrícula registrada em 1787.43
Certamente, a imposição senhorial não interviu na filiação de grande parte dos escravos confrades,
sendo a formalização de sua inserção nessa Irmandade, uma decisão espontânea dos tais negros (mesmo
quando contavam com o apoio e auxílio financeiro de seus proprietários). De todos os registros de matrícula
investigados, apenas um faz alusão a determinação senhorial: Luís Antônio Fernandes da Silva, escravo de
Fabião Fernandes da Silva, no dia 7 de julho de 1786, matriculou-se no Rosário de Mariana "por ordem
de seu senhor", um preto liberto e courano, igualmente Irmão e dirigente dessa confraria durante muitos
anos.44

Tabela III
N a ç õ e s e T e r r a s d e c l a r a d a s p e l o s C o n f r a d e s d o R o s á r i o - M a r i a n a (1750-1799) a

Mina 182 21,6 32,6


Angola 110 13,0 19,7
Crioulo 80 9,5 14,3
Courano 75 8,9 13,4
Fam 27 3,2 4,8
Lada 22 2,6 3,9
Cobu 11 1,3 2,0
Benguela 10 1,2 1,8
Cabo Verde 9 1,1 1,6
Saboru 8 ,9 1,4
Congo 5 ,6 ,9
Nagô 4 ,5 ,7
Tibu 4 ,5 ,7
Moçambique 2 ,2 ,4
Ganguela 2 ,2 ,4
Goimeno 2 ,2 ,4
S ã o Thomé 1 ,1 ,2
Masugano 1 ,1 ,2
Baca 1 ,1 ,2
Cabunda 1 ,1 ,2
Dagomé 1 ,1 ,2
Cravary 1 ,1 ,2
Total 559 66,2 100,0
Missing rc 275 32,6
N\ 10 1,2
Total 285 33,8
Total 844 100,0
a.

268
Os confrades do Rosário, em sua grande maioria, foram identificados segundo seus grupos de
procedência majoritários - mina (Costa da Mina/Africa Ocidental), angola (Africa Centro Ocidental). Cabe-
nos lembrar que tais grupos de procedência reproduziam uma identidade genérica relacionada a amplos
espaços territoriais e que foram atribuídos aos africanos pelos traficantes, pelo Reino Português e pela
Igreja.45 Ao lado deles encontramos grupos menores, cuja procedência é igualmente pouco discriminada,
tais como os mocambiques; e outros que, até agora, não foi possível identificar, como os goimeno, cravaiy
e fam. Além desses e ainda que representados por poucos indivíduos, alguns grupos destacaram-se daqueles
majoritários, o que reforça a importância de sua identificação, tanto no que diz respeito a sua procedência,
quanto ao modo como operam no cativeiro. Da África Ocidental destacamos os cobu, saboru, dagomé, lada,
fam, sobressaindo numericamente os couranos - 75 africanos desta etnia foram oficialmente assentados
na dita Irmandade. A referencia a essas nações e terras precisa ser melhor identificada, por ora, saboru ou
sabaru refere-se a Savalu, localidade no interior do território Mahi ao norte do reino do Daomé; dagome
refere-se a Daomé, lada a Alada, reino litorâneo ocupado pelo Daomé em 1723. Todos esses reinos e
localidades estão situados no entorno da Baia do Benin. Resta ainda uma identificação mais precisa dos
couranos, também embarcados na Baia do Benin, mas de localização ainda incerta.46
Sendo assim, concluímos que o Rosário de Mariana apresentava grande multiplicidade de grupos de
procedência. Entretanto, prevaleciam os minas sobre os demais confrades. A hegemonia destes indivíduos
provenientes da África Ocidental em relação aos nativos da África Centro-Ocidental corresponde à estrutura
demográfica dessa cidade mineira, onde a população escrava e alforriada era predominantemente composta
por pretos mina, durante os três primeiros quartéis do século XVIII. Esta composição do quadro de fiéis
caracteriza-se como singular, pois, em outras capitanias, as irmandades de mesma invocação estavam sob
o domínio dos angolas. João José Reis constatou que na Bahia "os angolas se acomodavam em muitas
irmandades - sobretudo as dedicadas a Nossa Senhora do Rosário".47 Da mesma forma, Mariza C. Soares
certificou-se de que "na cidade do Rio de Janeiro existiam devoções organizadas por africanos vindos de
Angola e do Congo, como a irmandade do Rosário; outras onde predominam o chamado Gentio de Guiné,
como a Lampadosa; e por fim as devoções dos africanos vindos da Costa da Mina, como Santo Antônio da
Mouraria (1719), Santo Elesbão e Santa Efigênia (1740)".48
Embora o Rosário de Mariana fosse uma confraria reconhecidamente constituída por africanos, nela
também foram acolhidos crioulos.49 Todavia, devemos salientar que muitos desses negros nascidos nas
colônias da Coroa portuguesa possuíam laços de parentesco com os confrades africanos, o que facultava
a formalização de suas matrículas. De fato, a entrada de crioulos era autorizada, porém, estamos certos de
que não eram eles crioulos quaisquer. Muitos dos Irmãos assim identificados teve suas relações familiares
inscritas em seus assentos de entrada, sendo este um procedimento capaz de identificá-los no interior da
dita associação. A crioula Micaela de Castro Guimarães, escrava de Manuel de Castro Guimarães, assentou-
se por Irmã de N. S. do Rosário e no seu registro consta como informação ser filha de Maria de Castro
Guimarães preta forra, natural da Costa da Mina, que serviu de Juíza desta confraria no ano de 1757.50 Na
matrícula da crioula forra, Domingas Telles, foi assinalada a observação: "casada com Inácio Queiroz".51
A mesma inscrição encontramos no termo de Irmã pertencente à crioula Maria Carneiro Lima "mulher de
Manuel da Costa Soares ",52 Também oficializou sua condição de Irmã, Luiza Pinto, crioula liberta e "filha
de Miguel Pinto "P
Desse modo, averiguamos que não havia, na prática, proibições à entrada de devotos em virtude de sua
procedência; fossem africanos de diferentes etnias ou crioulos, era aceito o ingresso de todos. Não obstante
à inexistência de restrições referentes à admissão de Irmãos, acreditamos que no interior da Capela Nova,
os diversos grupos se reconheciam e procuravam ocupar seus distintos lugares. Sendo assim, a prevalência
numérica dos pretos mina indica que os demais confrades encontravam-se subjugados à dominação exercida
pelos primeiros.
Analisadas as características que identificavam os confrades de N. S. do Rosário - sexo, condição
social, plantéis e grupos de procedência passaremos a averiguar o grau de atração exercido por essa
confraria sob a população de cor residente em Mariana e suas proximidades. Para tanto, utilizaremos as
indicações dos locais específicos de moradia dos confrades inscritas em seu Livro de Matrículas.

269
Tabela IV
Moradia dos Confrades do Rosário - Mariana (1750-1799) a

Percentual
Mariana 176 20,9 27,3
Rua Nova 23 2,4 3,1
Rua dos Quartéis 3 ,4 .5
Rua de São José 4 ,5 ,6
Travessa de São Pedro 1 ,1 ,2
"Travessa que vai da Rua Nova para o Seminário" 1 ,1 ,2
Seminário 1 ,1 ,2
"Defronte São Francisco" 1 ,1 ,2
Rua Direita 10 1,2 1,6
Ponte da Rua Direita 1 ,1 ,2
"Na praça desta Cidade" 2 ,2 ,3
"Ao pé da Sé" 2 ,2 ,3
Ponte de Santana 2 ,2 ,3
Santana 2 ,2 ,3
Rua da Olaria 7 ,8 1,1
Domingos Velho 10 1,2 1,6
Pissarrão 35 4,1 5,4
São Gonçalo 27 3,2 4,2
Mata Cavalos 53 6,3 8,2
"Praia de Mariana" 3 ,4 ,5
Rosário Velho 2 ,2 ,3
Arraial de Cima 27 3,2 4,2
Ponte do Monsus 3 ,4 ,5
Monsus 66 7,7 10,1
Rosário 13 1,5 2,0
Morro de Santana 42 5,0 6,5
Samambaia do Morro de Santana 3 ,4 ,5
Canelas 7 ,8 1,1
Passagem . 16 1,9 2,5
Morro da Passagem 6t 7,6 9,9
Itacolomim 22 2,6 3,4
Vargem 1 ,1 ,2
Chapada 8 ,9 1,2
Chapada de Domingos Velho 1 ,1 ,2
"Na corte de Manuel Gonçalves da Mota" 1 ,1 ,2
Fagundes 1 ,1 ,2
Olaria do Fagundes 1 ,1 ,2
Olaria de Santana 1 ,1 ,2
Ouro Preto 1 ,1 ,2
Taquara Queimada 1 .1 ,2
Freguesia de Camargos 1 ,1 ,2
Arraial do Bacalhau 1 ,1 ,2
[Ilegível] 2 ,2 ,3
Total 645 76,4 100,0
Mlssing | tC 199 23,6
Total 844 100,0
a.

Os homens e mulheres de diferentes condições sociais, crioulos e representantes das diversas "nações"
africanas, todos Irmãos do Rosário, residiam na sede da cidade de Mariana, subúrbios e Morros em seu
arredor. Considerável fração dos confrades não explicitou o local de suas moradias, apenas indicaram serem
residentes "nesta cidade " - M a r i a n a , impossibilitando-nos distinguir o centro e periferias. Entre as demais
moradias inscritas nos assentos de entrada, identificamos que muitas delas fixavam-se nas proximidades da
Capela do Rosário Velho - no Arraial de Cima, ou seja, nas regiões denominadas Mata Cavalos, "Praia",
São Gonçalo e Pissarrão. Outra grande parcela encontrava-se na vizinhança da Capela Nova - no Monsus
e seu morro (o morro do Rosário). Longe dessa concentração e dispersos pelas ruas do Arraial de Baixo
(centro do poder civil e eclesiástico) estavam também as residências de alguns Irmãos. Para além do
Arraial de Cima e do Arraial de Baixo, muitos dos devotos do Rosário tinham suas moradas situadas no
Morro de Santana e Morro da Passagem, distantes localidades caso fossem percorridos os caminhos que
levavam os viajantes para Mato Dentro e Vila Rica, respectivamente; atalhos reduziam o trajeto que tais
confrades deveriam fazer para chagarem até a Capela Nova, mesmo assim, o acesso era difícil dado às
condições naturais dos terrenos por onde cortavam tais percursos. Ainda mais distante se achavam também
as habitações onde viviam poucos confrades - Vargem, Itacolomim, Ouro Preto (Vila Rica), Freguesia de
Camargos (Termo de Mariana) e Arraial do Bacalhau (Termo de Mariana).
Para os fiéis residentes em longínquas paragens, a distância geografia servia de empecilho contra a
participação constante no culto divino celebrado nos povoados de maior expressão, conseqüentemente,
logo era motivada a construção de capelas nas próprias cercanias. Todavia, o afastamento da Capela Nova
do Rosário não foi obstáculo suficiente para impedir a afiliação de um número significativo de devotos
da Virgem Santíssima protetora dos pretos. Essa Irmandade apresentava um grande poder de agremiação,
capaz de incentivar o deslocamento de seus fiéis que, deixavam para trás outras capelas construídas pelos
caminhos que os levavam até aquela erigida no alto do morro do Monsus. Acreditamos que as possibilidades
de estender suas relações de sociabilidade apresentavam-se como especial atrativo para os confrades do
Rosário de Mariana.
Reunidos no espaço interno de sua capela encontramos cativos pertencentes a muitas escravarias, de
ambos os sexos e que possuíam diferentes locais de moradia, assim, como os libertos, quartados e livres.
Tais membros da Irmandade do Rosário de Mariana se ligavam uns aos outros através de muitas redes:
étnico, senhorial, familiar. Em todas as sobreditas relações estava envolvido João Carvalho da Silva, cuja
trajetória de vida narramos inicialmente neste trabalho - ele e suas duas esposas eram naturais da Costa da
Mina, como a maioria dos confrades que apresentaram em suas matrículas o registro de suas procedências;
sua segunda esposa fora sua escrava, herança deixada pela primeira mulher (ressaltamos que das quatro
escravas de sua falecida esposa, somente aquela, com quem contraiu novamente matrimônio, possuía
assento nessa confraria); e uma das filhas de sua segunda esposa se casou com um preto mina também
Irmão do Rosário e oficial de sua mesa de direção.
A preta courana Maria Ferraz de Azevedo54 oficializou sua condição de Irmã do Rosário no dia 18 de
Janeiro de 1753.55 Destacou-se por serviu à mesa de direção por 19 vezes - foi irmã de mesa em 1749, 1750,
1751, 1752, 1760, 1761, 1763, 1764, 1765, 1767, 1768 1769, 1783, 1784, 1785, 1786 e 1787; "irmã que
há de pedir com a Caixinha na Cidade" em 1755 e, também havia alcançado o cargo de Juíza em 1759.56
Esta oficial de grande notoriedade era senhora de dois escravos igualmente matriculados nessa confraria:
Francisca Ferraz de Azevedo preta courana (1753) e Simão angola (1764).57 A dita Francisca Ferraz de
Azevedo também foi eleita irmã de mesa durante cinco anos consecutivos, de 1783 a 1787.58 A grande
distância entre os anos do registro da matrícula de Francisca e o primeiro de sua eleição nos faz crer que
durante este período ela tenha conquistado a alforria, embora a sua carta não tenha sido encontrada. Essa
hipótese somente foi confirmada através do termo de Irmã de Josefa Ferraz, escrava da mesma Francisca
Ferraz de Azevedo, inscrito no Livro de Entradas em 1788.59 Além deste vínculo senhorial, devemos ainda
ressaltar que a courana Maria Ferraz de Azevedo se casou com o Capitão João Pereira de Faria, homem
preto de igual condição e natural da Costa da Mina. Seu marido se assentou por Irmão do Rosário em
1762,60 e nesta data apresentou-se como escravo de Francisco Pereira de Faria, oficial branco que serviu
de tesoureiro da referida Irmandade em 1768 e 1769.61 No momento em que contraíram matrimônio, em
1776, João Pereira de Faria já havia obtido sua alforria e Maria Ferraz possuía idade avançada, mais de
60 anos. João, porém, era jovem, havia sido traficado para o Rio de Janeiro quando ainda criança; nesta
cidade fora comprado pelo dito seu ex-senhor, que o trouxera para Mariana e só então o batizara em 1758.62
Certamente, a posição de destaque atingido por Maria Ferraz no interior da Capela Nova e entre seus
confrades teria favorecido tal contrato nupcial. Após casa-se João Pereira de Faria, recebeu a patente de
Alferes e, posteriormente, de Capitão; passou a exerceu a função de zelador da Irmandade do Rosário e
sua Capela nos anos de 1782, 1784 e 1785; foi irmão mesário em 1786, 1787 e 1807; servindo também de
sacristão e andador em 1808 até 1809,63 ano em que faleceu.64
Histórias como a de João Carvalho da Silva e de Maria Ferraz de Azevedo não constituíram exceções
entre os africanos irmanados sob a devoção e tutela da Virgem do Rosário da cidade de Mariana. Salvo as
particularidades da biografia de cada um dos confrades, verificamos que muitos deles eram casados entre si
- como Simão Telles, preto forro mina e Inês Rodrigues, igualmente preta e alforriada;65 outros possuíam
filhos e/ou escravos também matriculados - a liberta Mariana Carvalho, preta mina, era mãe de Maria
Borges crioula forra é senhora de Ana Carvalho (preta courana) e Teresa Carvalho (preta mina), todas
Irmãs do Rosário.66 Além dos laços de filiação, encontravam-se agregados nessa mesma confraria outros
parentes consangüíneos (irmãos, tios, sobrinhos) - Diogo de Souza Coelho preto forro, natural da Costa
da Mina e Irmão do Rosário, era tio de Domingos de Souza Coelho, Juiz no ano de 1769.67 Como se não
bastassem todas essas relações, os devotos ampliaram sua parentela através do compadrio - o sapateiro
Pedro Rodrigues da Costa, homem liberto e mina, era Padrinho de Félix da Costa Chaves, um courano
alforriado; ambos foram importantes dirigentes da Irmandade do Rosário.68
271
Por fim, ratificamos ter sido a Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana um dos palcos de uma
dinâmica social imposta e também concebida pelos próprios negros no contexto do sistema escravista.
Seus confrades, em maior número, os escravos e libertos naturais da Costa da Mina, demonstraram saber
articular e aproveitar as oportunidades de sociabilidade oferecidas no Novo Mundo. Embora pertencessem à
esfera mais baixa da sociedade estamental marianense, não pouparam esforços para construir e ornamentar
esplendido templo onde se abrigaram da desumanição imposta pelos senhores brancos cotidianamente.
No interior da Capela Nova do Rosário, assumiram identidade própria, nome e sobrenome, parentes
consangüíneos, espirituais e nacionais. Entre seus iguais, apossaram-se da liberdade de opinar e do poder
de tomar as decisões referentes ã manutenção desta devoção e ao bem-estar de seus Irmãos confrades. Por
assim ser, após ingressar na Irmandade de N. S. do Rosário, o "João Carniceiro" tornou-se o honrado Irmão
e Oficial João Carvalho da Silva, assim reputado ao menos pelos devotos da Virgem Santíssima.

Notas
1
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Assento de Entrada, fl. 22.
2
O termo 'lada' provavelmente se refere à Alada, importante reino do entorno da Baia do Benim que em 1723 foi invadido pelo Daomé.
3
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Processo Matrimonial: Anuário 03, Pasta 348, Registro 3472.
4
Arquivo da Câmara Municipal de Mariana - Livros da Câmara: Fundo/Série/Sub-série 1.4, Códice 135, fl. 48-49v.
5
Arquivo da Câmara Municipal de Mariana - Livros da Câmara: Fundo/Série/Sub-série 1.4, Códice 135, fl. 188-189v.
6
Arquivo da Câmara Municipal de Mariana - Livros da Câmara: Fundo/Série/Sub-série 1.4, Códice 135, fl. 226v-227v .
7
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição do ano de 1754, fl. 16v-17.
8
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Processo Matrimonial: Armário 03, Pasta 348, Registro 3472.
9
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição de 1756, fl. 18v-l9; Ata de eleição de 1758, fl. 23-23v.
10
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição de 1762, fl.26v-27.
" Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - I o Ofício, Livro de Testamentos n° 69, fl. 87-91.
12
A assistência ao Alferes José Carvalho de Andrade foi expressa da seguinte forma: "rogo a meu marido que assim como até agora teve
bondade de deixar assistir o dito meu senhor, nas casas em que vivo, que também depois do meu falecimento lhe faça a mesma mercê, deixando
assistir nas mesmas casas enquanto ele for vivo, e quiser assistir nelas, por ser esta a minha última vontade". A testadora também ordenou que seu
marido e testamenteiro entregasse a seu ex-senhor dez oitavas de ouro que lhe deixara de esmola; além dessa quantia, determinou o pagamento de
mais sete oitavas para satisfação de uma dívida. Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - 1° Ofício, Livro de Testamentos n° 69, fl. 88v.
13
Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - 10 Ofício, Livro de Notas n° 84, fl. 27v-28.
14
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Processo Matrimonial: Armário 03, Pasta 348, Registro 3471.
15
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Termo,
fi.30.
16
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 29v.
17
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição de 1768, fl. 41-41 v.
18
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Processo Matrimonial: Armário 02, Pasta 224, Registro 2234.
19
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 22v.
20
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição de 1757, fl. 20v-21; 1758, fl. 23-23v; 1760, fl. 24v-25; 1761, fl. 25v-26; 1762, fl.26v-27; 1763, fl.27-27v; 1764, fl.28-28v; 1765, fl.29v-31v;
1766, fl. 33v-34; 1767, fl. 36-37; 1783. fl. 64v-65; 1784, fl. 65v-66v; 1785, fl. 67v-68v; 1786, fl. 71-72.
21
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Óbitos, Q-16, 148.
22
Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - Io Oficio, Inventário: Caixa 80, Auto 1693.
23
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Óbitos, Q-17, fl. 45.
24
Cf. SOARES, Mariza C. Devotos da cor : identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2000; BORGES, Célia Aparecida Resende Maia. Devoção branca cie homens negro : as irmandades do Rosário em Minas
Gerais no século XVIII. Niterói, 1998. Tese (Doutorado). Departamento dc História da UFF; SOUZA, Marina de Mello e. Reis negros no Brasil
escravista : história da festa de coroação de Rei Congo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002; REIS, João José. Identidade e Diversidade Étnicas
nas Irmandades Negras no Tempo da Escravidão. TEMPO. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, 1997, p. 7-33.
23
"Pensar a cultura em permanente reelaboração não nos permite ver as relações de contato e as mudanças culturais decorrentes como
simples aculturação". Cf. ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. "Os índios Aldeados: histórias e identidades em construção". TEMPO.Rio de
Janeiro, Sete Letras, 2001, v. 6, n. 12, p. 58.
26
Cf. SAHLINS, Marshall. Ilhas da História. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
27
BARTH, Fredrik. Os Grupos Étnicos e suas Fronteiras. In: O Guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro'
ContraCapa, 2000, p.49.
28
O primeiro compromisso enviado para Portugal data de 1715; MULVEY, Patricia Ann. The black lay brotherhoods of colonial Brasil:
a history. City University of New York, Ph.D. 1976. Contudo, este como outros, possivelmente escritos durante o século XVIII, ainda não foram
localizados. Estamos certos de que um segundo Compromisso fora remetido para a Mesa de Consciência e Ordens em meados do setecentos, visto
que, encontramos a informação, no Livro de Termos desta Irmandade, que, em 16 de abril de 1769, por não terem notícias quanto à aprovação
do mesmo, os irmãos do referido ano redigiu novo Estatuto, objetivando sua licença. Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro
de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27, Termo para se fazer novos Compromissos, fl. 43v. Não obstante essa
deliberação, a confirmação final da aprovação do Compromisso ficou por conta da imperial decisão consignada somente em dezembro de 1825.
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro - Compromisso das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, Mariana, s/d.,
Códice 814.
29
Em 1704, proximamente, Dom Frei Francisco de São Jerônimo, Bispo do Rio de Janeiro, criou a paróquia do Ribeirão do Camio e
proveu como primeiro pároco, o Padre Manuel Braz Cordeiro. TRINDADE, Raimundo, Côn. Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana. Rio
de Janeiro: SPHAN, 1945.
3
" A construção da segunda Matriz do Ribeirão do Carmo (elevada, posteriormente, à Catedral da Sé) iniciou-se no governo de Antônio de
Albuquerque, entre 1710 a 1713 e, por volta de 1717, nela já estava sendo celebrado o culto divino. TRINDADE, op. eit.
31
FONSECA, Cláudia Damasceno. Mariana: Gênese e Transformação de uma Paisagem Cultural. Belo Horizonte, 1995. Dissertação
(Mestrado). Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, p. 59.
32
Mariana surgiu ao longo do leito do ribeirão do Camio. Somente em meados do século XVIII, para receber, com dignidade, o pastor
espiritual da cristandade das Minas Gerais, no seu Arraial de Baixo foi feito a idealização e realização do plano de urbanização Alpoim: "ruas
principais mais largas e longas, traçadas obliquamente em relação ao rio e cortadas por travessas de importância secundária, formando quarteirões,
de fornias regulares - mas sem a rigidez das cidades ideais renascentistas ou mesmo das plantas castelhanas." In: DAMACENO, Cláudia. O espaço
urbano de Mariana: sua formação e suas representações. In: Termo de Mariana : história e documentação. Mariana: Imprensa Universitária da
UFOP, 1998, p. 104.
33
Juntamente com a Irmandade de N. S. do Rosário nela foram instaladas as Irmandades de São Benedito e Santa Efigênia, que também se
responsabilizaram e contribuíram com a sua edificação.
34
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27, Termo
de lançamento da pedra fundamental, fl. 14.
33
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27, Termo
da bênção da Capela Nova, fl. 24v.
36
Assim explicamos o fato do Livro de Assentos de Entrada do Rosário ter seu primeiro registro lançado no exato ano de 1750. Encontramos
algumas referências à existência de um antigo livro anteriormente destinado a este mesmo fim, porém, o mencionado livro não se encontra depositado
no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana.
37
Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - I o Oficio, Livro de Notas n° 71, Escrituras referentes ao ajuste da obra de pedra da Capela
Nova do Rosário estabelecido entre os administradores da Irmandade e José Pereira dos Santos, fl. 130-131 v.
38
A mobilização por recursos financeiros, acompanhada de uma progressiva institucionalização das relações no interior da irmandade, ao
longo do tempo da construção da igreja, foi anteriormente apontada por Soares. SOARES, Devotos da Cor. op. cit. Cap. 5.
39
Clássicos dessa temática: BOSCHI, Caio César. Os Leigos e o Poder; irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais. São
Paulo: Ática, 1996; SALES, Fritz Teixeira de. Associações religiosas no ciclo do ouro. Belo Horizonte: UFMG/ Centro de Estudos Mineiros, 1963.
(Col. Estudos, 1); SCARANO, Julita. Devoção e escravidão; a irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos no Distrito Diamantino no
século XVIII. 2' ed. São Paulo: Nacional, 1978.
40
Em artigo recente, Mariza de Carvalho Soares desdobra a noção de grupo de procedência analisando as categorias "nação" e "terra" e
mostrando como ambas operam de modo combinado na construção da identidade dos escravos africanos. Cf. SOARES, Mariza de Carvalho. A
nação que se tem e a terra de onde se vem. REVISTA DO CENTRO DE ESTUDOS AFRO-ASIÁTICO, (no prelo, 2005).
41
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 02v.
42
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Matrícula de Antônio Teixeira, fl. 34; Matrícula de Caetano Teixeira Meinedo, fl. 39; Matrícula de Paulo Teixeira, fl. 41 v; Matricula de João Teixeira
Meinedo, fl. 46.
43
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Escravos matriculados em 1791, fl. 80v-81; Escravo matriculado em 1787, fl. 76.
44
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Matrícula de Luís Antônio Fernandes da Silva, fl. 71 v; Matrícula de Fabião Fernandes da Silva, fl. 01.
43
Mariza de Carvalho Soares utiliza o termo grupos de procedência para designar "conjuntos de configurações étnicas em permanente
processo de transformação" e promovidos a partir da diáspora africana e, com isso, os distingui dos grupos étnicos "no sentido de grupos originais
africanos". SOARES, Mariza de Carvalho. O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro. TOPOl. Rio de Janeiro, mar. 2002, p. 59-83.
46
SOARES (2005), op. Cit..
47
REIS, op. c/f., 1997, p. 13.
48
SOARES (2002), op. cit., p. 62.
49
Segundo Mariza de Carvalho Soares, ser crioulo era uma condição provisória pertencente apenas aos filhos dos africanos nascidos na
sociedade colonial. A geração seguinte já não era assim identificada, os filhos dos crioulos eram tratados somente como "escravos" ou "alforriados"
ou ainda "descendentes de pretos livres". SOARES (2002), op. cit., p. 74.
5
" Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
matrículas de Micaela de Castro Guimarães e Maria de Castro Guimarães, fl. 16.
51
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 49v.
52
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 35.
53
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 26.
54
Maria Ferraz de Azevedo foi escrava de uma outra courana liberta, Antônia Ferraz de Azevedo, que lhe concedeu alforria onerosa,
mediante o pagamento de 280 oitavas de ouro efetuado pela própria Maria. Sua Carta de Liberdade foi registrada em 24 de maio de 1743. Arquivo

273
da Casa Setecentista de Mariana - 1° Oficio, Livro de Notas n° 60, fl. 138-138v.
55
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade dc N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 03.
*6 Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição do ano de 1 7 4 9 , f l . 4 v - 5 ; 1750,fl. 6v-7v; 1751,fl. 8v-9v; 1752, fl. l l v - 1 2 ; 1755,11. 17v-18; 1759, fl. 24; 1760, fl. 24v-25, 1761, fl. 25v-26;
1763, fl. 27-27v; 1764, fl. 28-28v; 1765, fl. 29v-31v; 1767, fl. 36-37; 1768, fl. 41-41v; 1769, fl. 42v-43; 1783, fl. 64v-65; 1784, fl. 65v-66v; 1785,
fl. 67v-68v; 1786, fl. 71-72; 1787, fl. 73-73v.
57
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Matrícula de Francisca Ferraz de Azevedo, fl. 03; Matricula de Simão, fl. 49v.
38
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade dc N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição do ano de 1783,11. 64v-65; 1784, fl. 65v-66v; 1785, fl. 67v-68v; 1786, fl. 71-72; 1787, fl. 73-73v.
59
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 79v.
60
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28,
fl. 47v.
61
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição do ano de 1768, fl. 41-41v; 1769, fl. 42v-43.
62
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Processo Matrimonial: Armário 04, Pasta 399, Registro 3989.
63
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Termos e Atas da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-27: Ata de
eleição do ano de 1782, fl. 61v-62v; 1784, fl. 65v-66v; 1785, fl. 67v-68v; 1786, fl. 71-72; 1787, fl. 73-73v; 1807, fl. 103-104; 1808, fl. 107v-108v;
1809, fl. 1 1 1 - l l l v .
64
Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - I o Ofício, Livro de Testamentos n° 03, fl. 154-157.
65
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Matrícula de Simão Telles, fl. 28v; Matrícula de Inês Rodrigues, fl. 37v.
66
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Matrícula de Mariana Carvalho, fl. 08v; Matrícula de Maria Borges, fl. 08v; Matrícula de Ana Carvalho, fl. 24v; Matrícula de Teresa Carvalho, fl.
13v.
67
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Matrícula de Diogo de Souza Coelho, fl. 27; Matrícula de Domingos de Souza Coelho, fl. 61.
Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - I o Ofício, Livro de Notas n° 97: Carta de Alforria de Domingos courano dada por Diogo de
Souza Coelho, fl. 53-53v.
68
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Livro de Assentos de Entrada da Irmandade de N. S. do Rosário de Mariana, P-28:
Matrícula de Pedro Rodrigues da Costa, fl. 06; Matrícula de Félix da Costa Chaves, fl. 12.
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - Processo Matrimonial de Félix da Costa Chaves: Armário 02, Pasta 223, Registro
2228.

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