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Supremo Tribunal Federal

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA 5.214 PARANÁ

REGISTRADO : MINISTRO PRESIDENTE


REQTE.(S) : ESTADO DO PARANÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARANÁ
REQDO.(A/S) : JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA DA FAZENDA
PÚBLICA DE CURITIBA
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE GERACAO DE
ENERGIA LIMPA - ABRAGEL
ADV.(A/S) : JOANA GAYOSO DA SILVA MARCEL
INTDO.(A/S) : ASSOCIACAO BRASILEIRA DOS PRODUTORES
INDEPENDENTES DE ENERGIA ELETRICA
ADV.(A/S) : JOANA GAYOSO DA SILVA MARCEL
INTDO.(A/S) : INSPETOR CHEFE DO SETOR ESPECIALIZADO EM
COMUNICAÇÃO E ENERGIA ELÉTRICA DA
INSPETORIA GERAL DE FISCALIZAÇÃO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : COORDENADOR DA COORDENADORIA DE
RECURSOS HÍDRICO DA SECRETARIA DE MEIO
AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DO
PARANÁ
ADV.(A/S) : PEDRO VERTUAN BATISTA DE OLIVEIRA
INTDO.(A/S) : PROCURADO CHEFE DA PROCURADORIA DA
DÍVIDA ATIVA DO ESTADO DO PARANÁ
INTDO.(A/S) : PROCURADOR CHEFE DA PROCURADORIA DE
CONTENCIOSO FISCAL DO ESTADO DO PARANÁ

DECISÃO

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. TAXA DE


CONTROLE, ACOMPANHAMENTO E
FISCALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE
EXPLORAÇÃO E DO APROVEITAMENTO
DE RECURSOS HÍDRICOS – TCFRH E
TAXA DE CONTROLE,
MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO
DAS ATIVIDADES DE LAVRA,

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EXPLORAÇÃO E APROVEITAMENTO DE
RECURSOS MINERAIS – TCFRM,
INSTITUÍDAS PELA LEI N. 18.878/2016, DO
PARANÁ. MANDADO DE SEGURANÇA
COLETIVO. MEDIDA LIMINAR E ORDEM
DE SEGURANÇA CONCEDIDAS.
EXIGIBILIDADE SUSPENSA. ALEGADA
AMEAÇA DE GRAVE LESÃO À ORDEM E
ECONOMIA PÚBLICAS. AUSÊNCIA DE
PLAUSIBILIDADE. SUSPENSÃO DE
SEGURANÇA INDEFERIDA. AGRAVO
REGIMENTAL PREJUDICADO.

Relatório

1. Em 22.12.2017, indeferi a medida liminar requerida pelo Paraná na


presente contracautela, ajuizada com o objetivo de suspender-se a
execução da segurança concedida pelo Juízo da Quinta Vara da Fazenda
Pública de Curitiba no Mandado de Segurança coletivo n. 0000251-
52.2017.8.16.0179, impetrado por Associação Brasileira de Geração de
Energia Limpa – ABRAGEL e Associação Brasileira dos Produtores
Independentes de Energia Elétrica – APINE contra o recolhimento da
Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de
Exploração e do Aproveitamento de Recursos Hídricos – TCFRH e da
Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização das Atividades de Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerais – TCFRM, ambas
instituídas pela Lei paranaense n. 18.878/2016, pela alegada
inconstitucionalidade dos tributos mencionados, “sob fundamento de
suposta i) ausência de competência do Estado do Paraná para instituição das
exações; ii) inexistência do Poder de Polícia; iii) ilegalidade na instituição da taxa
(base de cálculo da taxa caracterizadora de imposto, falta de referibilidade e
ilegítima delegação legislativa para quantificação do tributo), e, iv) violação aos
princípios da vedação ao confisco, modicidade, proporcionalidade, razoabilidade e

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moralidade” (sic, fl. 2, e-doc. 1).

2. Na decisão, assentei a ausência dos requisitos autorizadores da


medida liminar, por não se ter comprovado o alegado risco de grave lesão
aos valores tutelados pela legislação da contracautela:
“7. A possibilidade de suspensão, pelo Presidente do Supremo
Tribunal Federal, de execução de decisões concessivas de segurança, de
liminar e de antecipação dos efeitos de tutela contra o Poder Público,
somente se admite quando presentes, simultaneamente, os seguintes
requisitos: a) as decisões a serem suspensas sejam proferidas em única
ou última instância pelos tribunais locais ou federais; b) tenham
potencialidade para causar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança
ou à economia públicas; c) a controvérsia seja de natureza
constitucional (Rcl n. 497-AgR/RS , Relator o Ministro Carlos
Velloso, Pleno, DJ 06.4.2001; SS n. 2.187-AgR , Relator o Ministro
Maurício Corrêa, DJ 21.10.2003; e SS n. 2.465 , Relator o Ministro
Nelson Jobim, DJ 20.10.2004 entre outros).
8. Na espécie, apesar do efeito substitutivo da decisão de mérito,
este Supremo Tribunal estabeleceu que ‘[a] superveniência de sentença
que confirma liminar, nos mesmo termos, não prejudica o
conhecimento de pedido de suspensão’ (Embargos de Declaração na
Suspensão de Segurança n. 4.314, Ministro Cezar Peluso, Plenário,
DJe 29.6.2011).
9. Competente este Supremo Tribunal Federal para examinar o
pedido de suspensão de segurança, considerando-se a matéria
constitucional posta na medida liminar e na sentença concessiva da
ordem mandamental, concernente à competência tributária dos entes
federativos disposta na Constituição da República.
10. Quanto ao pleito de medida liminar no requerimento de
suspensão, o § 7º do art. 4º da Lei n. 8.437, de 1992, autoriza, em
exame prévio e precário, o seu deferimento quando constatada, ‘em
juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência na
concessão da medida’.
11. Em análise preliminar, e sem prejuízo de posterior reexame
da questão, não se demonstram presentes os requisitos para a
suspensão de segurança, não se comprovando o alegado risco de grave

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lesão aos valores tutelados pela legislação da contracautela, como


enfatizado pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Paraná ao
indeferir a suspensão dos efeitos da medida liminar deferida na
impetração:
‘Razão não assiste ao requerente. A medida liminar
combatida neste incidente não suspendeu a exigibilidade de
crédito tributário já tradicionalmente arrecadado pelo fisco
paranaense e que caracterize relevante fonte de arrecadação de
receitas das quais sempre se valeu o ente público para fazer
frente às suas despesas. Ao contrário, a decisão em comento
apenas obstou a cobrança de tributos recentemente criados pelo
Estado do Paraná – Lei n. 18.876/2016, de 30 de setembro de
2016, cujos efeitos somente se iniciaram a partir de 1º de janeiro
de 2017 – e que têm sua incidência limitada especificamente ao
exercício do poder de polícia estadual sobre atividades de
pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais.
É certo, portanto, que as taxas recém instituídas pelo fisco
paranaense, sobre as quais inclusive pende relevante
controvérsia judicial a respeito de sua constitucionalidade, não
se inserem dentre aquelas imprescindíveis à sobrevivência
financeira dos cofres públicos.
Não bastasse isso, também não prospera a alegação do
Estado do Paraná relativamente ao apontado perigo de lesão à
saúde pública, notadamente pela inviabilização da fiscalização
estadual sobre o meio ambiente.
As atividades de pesquisa e exploração de recursos hídricos
e minerais não são novas no cenário econômico brasileiro, razão
pela qual já há muito existem órgãos e entidades que, em âmbito
federal, possuem a atribuição de acompanhar e fiscalizar o seu
exercício, como a ANEEL e o IBAMA.
Dessa forma, a suspensão da exigibilidade das taxas
instituídas para possibilitar o exercício do poder de polícia
estadual sobre referidas atividades, ainda que dificulte o
desempenho de tal atribuição pelo Estado do Paraná, não as
deixará à mercê dos interesses particulares, pois, como visto,
sobre elas já existe e continuará existindo efetiva fiscalização.

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Finalmente, oportuno salientar também inexistir qualquer


potencial lesivo da medida liminar deferida em primeiro grau de
jurisdição decorrente da possível irreversibilidade da
determinação nela contida’ (fl. 20, e-doc. 12; fl. 1, e-doc. 13).
12. As demais questões suscitadas na presente medida de
contracautela evidenciam a pretensão de se alterar o curso normal do
processo em trâmite nos órgãos jurisdicionais de origem, dotados de
legitimidade e competência para conhecer com profundidade os fatos e
direitos alegados. Como realçado pelo Ministro Joaquim Barbosa na
Suspensão de Liminar n. 746, “[p]ara evitar a violação dos princípios
do contraditório, da ampla defesa, da eficácia da jurisdição e da
responsabilidade do Estado por danos advindos de atos lícitos ou
ilícitos, a interpretação dos requisitos de cabimento da suspensão de
liminar deve ser rigorosa, com a demonstração imediata e inequívoca
de risco de ruptura social ou de ruína institucional’ (DJe 3.2.2014).
Apesar da jurisprudência deste Supremo Tribunal, com base nas
diretrizes normativas disciplinadoras das medidas de contracautela,
no sentido de não ser vedado ao seu Presidente exarar juízo de
delibação sobre as questões jurídicas presentes na ação principal (por
exemplo, Agravo Regimental na Suspensão de Segurança n. 846,
Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.1996), não se permite
juízo cognitivo aprofundado exauriente ou antecipado da questão
posta em juízo (Agravo Regimental na Suspensão de Segurança n.
2.932, Relatora a Ministra Ellen Gracie, Plenário, DJe 25.4.2008),
como se pretende na espécie vertente.
Teria natureza de recurso o pleito sobre o alegado desacerto da
ordem mandamental, no sentido da exigibilidade, ou não, das taxas
discutidas. Firmou-se a orientação deste Supremo Tribunal no sentido
de não ter a suspensão caráter de sucedâneo recursal. Nesse sentido,
por exemplo: Suspensão de Liminar n. 14, Ministro Maurício Corrêa,
decisão monocrática, DJ 3.10.2003; e Suspensão de Liminar n. 80,
Ministro Nelson Jobim, decisão monocrática, DJ 19.10.2005.
13. Há de se ter presente que o pedido de suspensão de
segurança não autoriza o exame aprofundado da demanda subjacente
nem forma quanto a ela juízo definitivo ou vinculante sobre os fatos e
fundamentos submetidos ao cuidado das instâncias ordinárias. Não se

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analisa na suspensão de segurança o mérito da ação mandamental,


mas apenas a existência dos aspectos relacionados à potencialidade
lesiva do ato decisório em face dos interesses públicos relevantes
assegurados em lei.
14. Anoto, ainda, que o alegado reforço à tese do Paraná pela
simples aplicação do rito previsto no art. 12 da Lei n. 9.868/1999 nas
ações diretas de inconstitucionalidade cujo objeto são leis instituidoras
de tributos similares ao questionado (ns. 4.785/MG, 4.787/AP e
5.374/PA) é confrontado pelo parecer da Procuradoria-Geral da
República juntado nos autos de uma delas (n. 5.374, da relatoria do
Ministro Roberto Barroso), no sentido da declaração de
inconstitucionalidade da taxa de controle, acompanhamento e
fiscalização das atividades de exploração e aproveitamento de recursos
hídricos (TFRH), instituída pela Lei n. 8.091/2014, do Pará:
‘CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 8.091/2014,
DO ESTADO DO PARÁ. TAXA DE CONTROLE,
ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAÇÃO DAS
ATIVIDADES DE EXPLORAÇÃO E APROVEITAMENTO
DE RECURSOS HÍDRICOS (TFRH). PODER DE POLÍCIA.
EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS. COMPETÊNCIA
MATERIAL COMUM. ATUAÇÃO PRIORITÁRIA DA
UNIÃO. POSSIBILIDADE DE COOPERAÇÃO ENTRE
ENTES DA FEDERAÇÃO. NECESSIDADE DE
DISCIPLINA ESPECÍFICA EM LEI COMPLEMENTAR.
AFRONTA AO ART. 23, PARÁGRAFO ÚNICO, DA
CONSTITUIÇÃO. DEFINIÇÃO DO VALOR DA TAXA.
ALÍQUOTA SOBRE VOLUME DE PRODUÇÃO. BASE DE
CÁLCULO DE IMPOSTO. ART. 145, II E § 2º DA CR.
OFENSA. ONEROSIDADE EXCESSIVA.
DESPROPORÇÃO COM O CUSTO DA ATIVIDADE
ESTATAL. .EFEITO DE CONFISCO (CR, ART. 150, IV).
1. Exercício de poder de polícia estadual em atividades de
exploração de recursos hídricos, autorizadas e concedidas pela
União, pressupõe edição de lei complementar nacional que
discipline normas de cooperação entre as unidades federativas,

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nos termos do art. 23, parágrafo único, da Constituição da


República.
2. Ofende o art. 145, II e § 2º, da CR lei estadual que
institua taxa cuja base de cálculo incida diretamente sobre o
metro cúbico de água utilizada. Por se tratar de tributo
vinculado, base de cálculo da taxa deve relacionar-se com o
maior ou menor trabalho que o poder público desempenhe em
face do contribuinte, não com a capacidade contributiva deste.
3. Onerosidade excessiva do valor cobrado a título de taxa
e desproporcionalidade manifesta com o custo da atividade
estatal acarretam violação ao art. 150, IV, da Constituição, que
veda tributo com efeito de confisco.
4. Perigo na demora processual decorre do relevante
impacto negativo que a tributação sobre a exploração e produção
de recursos hídricos acarreta à atividade e à economia nacional.
5. Parecer pela concessão de medida cautelar e pela
procedência do pedido.’
A indefinição sobre a higidez constitucional de taxa
similar à defendida pelo Paraná recomenda, pelo princípio da
razoabilidade, manter-se os efeitos das decisões questionadas
nesta medida de contracautela.
15. Pelo exposto, indefiro a medida liminar requerida” (DJe
31.1.2018).

3. No agravo regimental interposto em 30.1.2018, o Paraná reitera os


argumentos trazidos na inicial da contracautela e enfatiza que a “principal
controvérsia levantada pelas contrapartes, acolhida na liminar e sentença que se
pretende suspender, refere-se à competência do Estado do Paraná para editar as
referidas exações, assunto tratado no art. 23, XI, [da Constituição da
República]” (fl. 5, e-doc. 22).

Repete a alegação de risco à ordem econômica e à saúde com base


em documento da Secretaria de Fazenda estadual, no qual se afirma que
“o impacto decorrente da supressão das taxas aqui debatidas perfaz algo em torno
de R$ 8.300.000,00 (oito milhões e trezentos mil reais) ao mês, totalizando

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aproximadamente 100.000.000,00 (cem milhões de reais) ao ano, conforme a


previsão contida na Lei Orçamentária Anual – LOA de 2017, que foi aprovada
com o número 18.907/2016” (fl. 13).

Assevera que “o fato de ser um tributo novo não tem por consequência
lógica que sua retirada não causará grandes transtornos nas finanças públicas,
pois, sem o ingresso das receitas das taxas, os objetivos políticos de preservação
do meio ambiente serão direta e imediatamente afetados” (fl. 15).

Argumenta que, “se ao final do litígio o Estado do Paraná se sagrar


vencedor, durante todo o trâmite processual a atividade ficará seriamente
comprometida, uma vez que não disporá de meios para atuar nas tarefas
determinadas pela Lei. Por outro lado, se se decidir em desfavor do Estado do
Paraná, a parte adversa poderá ter os valores devidamente restituídos, ou seja,
terá restituídos os valores dispendidos” (fl. 16).

Este o teor dos pedidos:


“a) em caráter liminar inaudita altera pars, deferir a imediata
suspensão da liminar deferida e da sentença proferida na ação
mandamental nº 0000251- 52.2017.8.16.0179.
b) no mérito, a confirmação da liminar que aqui se requer,
declarando a violação às ordens pública e econômica, conforme exposto
no corpo do arrazoado” (sic, fl. 17).

4. Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa – ABRAGEL e


Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica –
APINE apresentaram contrarrazões ao agravo em 22.2.2018 (e-docs. 26 a
29).

5. A Procuradoria-Geral da República apresentou parecer pelo


indeferimento da suspensão (e-doc. 30).

Examinados os elementos havidos nos autos, DECIDO.

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6. As informações trazidas ao processo depois da decisão pela qual


indeferi a medida liminar não apresentam razões para a concessão da
contracautela requerida.

7. Como realçado, as questões suscitadas na presente medida de


contracautela evidenciam a pretensão do Paraná de desvaler-se da via
recursal regular do processo em trâmite nos órgãos jurisdicionais de
origem, dotados de legitimidade e competência para conhecer com
profundidade os fatos e direitos apontados. O juízo sobre o alegado
desacerto da ordem mandamental, no sentido da exigibilidade ou não das
taxas discutidas, converter-se-ia em juízo cognitivo aprofundado, que
esgotaria antecipadamente a questão posta a exame e decisão judiciais, o
que não se admite na contracautela. Assim, por exemplo: Agravo
Regimental na Suspensão de Segurança n. 2.932, Relatora a Ministra Ellen
Gracie, Plenário, DJe 25.4.2008; Suspensão de Liminar n. 14, Ministro
Maurício Corrêa, decisão monocrática, DJ 3.10.2003; e Suspensão de
Liminar n. 80, Ministro Nelson Jobim, decisão monocrática, DJ 19.10.2005.

8. Nesses estreitos limites de cognoscibilidade, não se tem, na tese do


Estado requerente, plausibilidade jurídica apta a viabilizar o deferimento
excepcional da medida de contracautela, como enfatizado no parecer da
Procuradoria-Geral da República:
“O juiz de direito da 5.ª vara da fazenda pública de Curitiba
concedeu a segurança com apoio em relevantes fundamentos, como faz
ver o seguinte trecho:
A medida liminar combatida neste incidente não
suspendeu a exigibilidade de crédito tributário já
tradicionalmente arrecadado pelo fisco paranaense e que
caracterize relevante fonte de arrecadação de receitas das quais
sempre se valeu o ente público para fazer frente às suas despesas.
Ao contrário, a decisão em comento apenas obstou a cobrança de
tributos recentemente criados pelo Estado do Paraná – Lei n.
18.876/2016, de 30 de setembro de 2016, cujos efeitos somente
se iniciaram a partir de 1º de janeiro de 2017 – e que têm sua

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incidência limitada especificamente ao exercício do poder de


polícia estadual sobre atividades de pesquisa e exploração de
recursos hídricos e minerais.
É certo, portanto, que as taxas recém instituídas pelo fisco
paranaense, sobre as quais inclusive pende relevante
controvérsia judicial a respeito de sua constitucionalidade, não
se inserem dentre aquelas imprescindíveis à sobrevivência
financeira dos cofres públicos.
Não bastasse isso, também não prospera a alegação do
Estado do Paraná relativamente ao apontado perigo de lesão à
saúde pública, notadamente pela inviabilização da fiscalização
estadual sobre o meio ambiente.
As atividades de pesquisa e exploração de recursos hídricos
e minerais não são novas no cenário econômico brasileiro, razão
pela qual já há muito existem órgãos e entidades que, em âmbito
federal, possuem a atribuição de acompanhar e fiscalizar o seu
exercício, como a ANEEL e o IBAMA.
Dessa forma, a suspensão da exigibilidade das taxas
instituídas para possibilitar o exercício do poder de polícia
estadual sobre referidas atividades, ainda que dificulte o
desempenho de tal atribuição pelo Estado do Paraná, não as
deixará à mercê dos interesses particulares, pois, como visto,
sobre elas já existe e continuará existindo efetiva fiscalização.
Finalmente, oportuno salientar também inexistir qualquer
potencial lesivo da medida liminar deferida em primeiro grau de
jurisdição decorrente da possível irreversibilidade da
determinação nela contida.
Vale destacar que, ao risco que embasa o requerimento,
contrapõe-se risco de dano inverso, dada a existência de relevante
controvérsia sobre a constitucionalidade de taxas similares às
instituídas pela lei paranaense: leis de outros estados da federação –
semelhantes à lei impugnada no mandado de segurança originário –
são objeto de ações do controle concentrado de constitucionalidade no
Supremo Tribunal Federal, como demonstram as ADIs 5489, 4785,
4787 e 5374.
Aliás, a Procuradoria-Geral da República, nos pareceres que

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ofereceu nas ADIs 5374 e 54891 , destacou tanto a necessidade de


edição de lei complementar federal que discipline normas de
cooperação entre as unidades federativas para o exercício de poder de
polícia estadual em atividades de geração, transmissão e distribuição
de energia elétrica, autorizadas e concedidas pela União, quanto a
impossibilidade de onerosidade excessiva do valor que se cobra a título
de taxa e a necessária vinculação da base de cálculo da taxa ao maior
ou menor trabalho que o poder público desempenhe ao contribuinte,
não à capacidade contributiva deste; opinando, assim, pela declaração
de inconstitucionalidade das leis estaduais impugnadas.
Desse modo, o exame precipitado da questão para deferir a
suspensão com base no suposto risco de grave lesão à ordem econômica
e à saúde públicas pode, perigosamente, implicar abstração à ordem
jurídico-constitucional e imputação de ônus de duvidosa legitimidade
ao contribuinte. Logo, ao menos neste momento e sem prejuízo de
ulterior reapreciação da questão, recomenda-se, com base no princípio
da razoabilidade e no dever de cautela, manter a suspensão da
exigibilidade das taxas” (fls. 3-5, e-doc. 30).

9. É de se manterem, portanto, os efeitos das decisões objeto desta


medida de contracautela, notadamente porque o risco imediato de
consolidação de danos pende em desfavor do contribuinte, pela
demorada e custosa via de restituição dos valores recolhidos pelo Estado,
na eventualidade de ter-se cobrança posteriormente anulada.

10. Pelo exposto, indefiro o presente requerimento de suspensão de


segurança (§ 4º do art. 15 da Lei n. 12.016/2009, art. 297 do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal e art. 25 da Lei n. 8.038/1990),
prejudicado o agravo regimental interposto contra a decisão de
indeferimento da medida liminar.
Publique-se.
Brasília, 23 de abril de 2018.
Ministra CÁRMEN LÚCIA
Presidente

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