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Notas de Aula da Disciplina Cálculo 3

Equações Diferenciais: Um Curso para Engenharias, Fı́sica,


Matemática e Quı́mica

André Luiz Galdino


Departamento de Matemática do Campus Catalão da
Universidade Federal de Goiás

Janeiro de 2010

Última Atualização: 16 de setembro de 2011


Equações Diferenciais: Um Curso para Engenharias, Fı́sica, Matemática e Quı́mica
André Luiz Galdino
Homepage: www.catalao.ufg.br/mat/galdino/
E-mail: andregaldino@ibest.com.br

Última Atualização: 16 de setembro de 2011

Estas notas de aula foram escritas com o intuı́to de apoiar a disciplina de Cálculo 3 oferecida pelo
Departamento de Matemática do Campus de Catalão da Universidade Federal de Goiás. Em
outras palavras, estas notas de aula servem apenas para a orientação dos estudos, ou seja, servem
apenas como apoio didático, não devendo ser a única fonte para os estudos. Este material não
substitui a presença em sala de aula nem reproduz todo o conteúdo do curso. Vale ainda ressaltar,
que os conteúdos apresentados neste texto encontram-se em qualquer livro de Introdução às
Equações Diferenciais. Além disso, as obras de referência para o material aqui apresentado estão
citadas no Plano de Curso da Disciplina Cálculo 3.

Este texto é atualizado frequentemente.


Sumário

1 Equações Diferenciais e sua Terminologia 1


1.1 Classificação das equações diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.1 Classificação por tipo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.2 Classificação por ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.3 Classificação por linearidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Exercı́cios diversos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária 5


2.1 Solução e famı́lia de soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Tipos de soluções e solução explı́cita e implı́cita . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 Curvas integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.4 Problemas de valor inicial e de valor de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4.1 Problemas de valor inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.3 Problemas de valor contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.5 Existência e unicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.5.1 EDO’s lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.5.2 EDO’s não-lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.6 Exercı́cios diversos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem 25


3.1 Solução por Integração Direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.1.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.2 Equações diferenciais lineares de primeira ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.2.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3 Equações com Variáveis Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4 Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem como modelos matemáticos 34
3.4.1 Dinâmica populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.2 Decaimento radioativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4.3 Lei de Newton do esfriamento/aquecimento . . . . . . . . . . . . . . . 37
iv SUMÁRIO

3.4.4 Mistura de duas soluções salinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39


3.4.5 Reações quı́micas: irreversı́veis mononucleares e bimolecular irreversı́vel 41
3.5 Exercı́cios diversos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4 Independência Linear entre Funções 47

5 Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem 51


5.1 EDO’s Lineares de 2a Ordem Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2 EDO’s Lineares de 2a Ordem Não-Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

6 EDO’s de 2a Ordem Homogêneas de Coeficientes Constantes 55


6.1 Encontrando a Solução Geral de ay 00 + by 0 + cy = 0 . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.1.1 Raı́zes reais e distintas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.1.2 Raı́zes reais e iguais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.1.3 Raı́zes complexas conjugadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.2 PVI - Problemas de Valor Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

7 Método de Variação dos Parâmetros 65

8 Método de Redução de Ordem 71


Capı́tulo 1

Equações Diferenciais e sua


Terminologia

De uma forma compacta, uma Equação Diferencial é uma equação que envolve derivadas (ou
diferenciais). Melhor dizendo
Definição 1.1: Chamamos por Equação Diferencial (ED) uma equação que contém derivadas
(ou diferenciais) de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma ou mais variáveis
independentes.
Exemplo 1.1: Daqui por diante, em todo o texto, as derivadas ordinárias serão escritas com
a notação de Leibniz dy/dx, d2 y/dx2 , · · · ou com a notação linha y 0 , y 00 , · · · .
dy
1. + 5y = ex .
dx
Neste caso, x é a variável independente e y é a variável dependente uma vez que y é
visto como uma função de x.
 2
d2 x dx
2. 2
+3 + 2x = 0.
dt dt
Neste caso, t é a variável independente e x é a variável dependente uma vez que x é
visto como uma função de t.
3. y 000 + 2y 00 + y 0 = cos(x).
Neste caso, x é a variável independente e y é a variável dependente uma vez que y é
visto como uma função de x.
d2 u d2 v
4. + = x2 + u + v.
dx2 dx2
Neste caso, x é a variável independente e u e v são as variáveis dependentes uma vez
que u e v são vistos funções de x.
∂ 2u ∂ 2u
5. + = 0.
∂x2 ∂y 2
Neste caso, x e y são as variáveis independentes e u é a variável dependente uma vez
que u é visto como uma função de x e y.
2 Equações Diferenciais e sua Terminologia

1.1 Classificação das equações diferenciais


Para poder discuti-las melhor, classificamos as equações diferenciais por tipo, ordem e lineari-
dade, como vemos a seguir.

1.1.1 Classificação por tipo


Existem dois tipos de equações diferenciais.

1. Equação Diferencial Ordinária (EDO): Se a equação contiver somente derivadas


ordinárias de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma única variável
independente.
Exemplo 1.2:

d2 y dy
(a) 2
− + 6y = 0 (b) (y 00 )3 + yy 0 + 3sen(y) = x2
dx dx

De maneira geral, podemos expressar uma EDO em uma variável dependente x na


forma geral
F (x, y 0 , y 00 , · · · , y (n) ) = 0

onde F é uma função de valores reais de n + 2 variáveis x, y 0 , y 00 , · · · , y (n) e onde

dn y
y (n) = ,
dxn

ou seja, a derivada de y com relação a x de ordem n.


Em uma EDO F (x, y, y 0 , y 00 , · · · , y (n) ) = 0, quando for possı́vel expressar a derivada de
ordem maior y (n) em função dos outros termos da equação, ou seja,

y (n) = f (x, y, y 0 , y 00 , · · · , y (n−1) )

dizemos que a EDO está na sua forma normal. Por exemplo,

dy
= y2 − 4
dx

2. Equação Diferencial Parcial (EDP): Se a equação envolve as derivadas parciais de


uma ou mais variáveis dependentes de duas ou mais variáveis independentes.
Exemplo 1.3:

∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂v
(a) + =0 (b) + =0 (c) =−
∂x2 ∂y 2 ∂x2 ∂y 2 ∂y ∂x
1.1 Classificação das equações diferenciais 3

1.1.2 Classificação por ordem


A ordem de uma equação diferencial (EDO ou EDP) é a ordem da maior derivada existente
na equação. Por exemplo,
 3
d2 y dy
2
+5 − 4y = ex
dx dx
é uma EDO de segunda ordem. Enquanto que

∂ 2z ∂ 2z
3xy 000 + y 00 + 3x5 y 0 = 5 e 2
+ 2 = x2 + y
∂x ∂y

são uma EDO de ordem 3 e uma EDP de segunda ordem, respectivamente.


Em particular, uma grande quantidade das EDO’s de primeira ordem pode ser escrita na
sua forma normal, dada por:

dy
y 0 = f (x, y) ou = f (x, y)
dx
Também, EDO’s de primeira ordem são ocasionalmente escritas na forma diferencial

M (x, y)dy + N (x, y)dx = 0

Por exemplo, supondo que y seja a variável dependente em

(y − x)dx + 4xdy = 0. (1.1)

Dividindo a Equação 1.1 pela diferencial dx obtemos a forma alternativa

dy
4xy 0 + y = x onde y0 = .
dx

1.1.3 Classificação por linearidade


Dizemos que uma EDO de ordem n é linear se F for linear em y 0 , y 00 , · · · , y (n) . Em outras
palavras, uma EDO de n-ésima ordem é linear quando ela puder ser escrita na forma

an (x)y (n) + an−1 (x)y (n−1) + · · · + a1 (x)y 0 + a0 (x)y − g(x) = 0

ou
dn y dn−1 y dy
an (x) n
+ an−1 (x) n−1
+ · · · + a1 (x) + a0 (x)y = g(x)
dx dx dx
Nota 1.1: É fácil observar que uma EDO linear possui as seguintes propriedades:

1. A variável dependente e todas as suas derivadas são de primeiro grau, ou seja, a potência
de cada termo envolvendo y é 1;

2. Cada coeficiente depende no máximo da variável independente x.


4 Equações Diferenciais e sua Terminologia

Nos exemplos a seguir temos, respectivamente, EDO’s lineares de primeira, segunda e


terceira ordem:
d3 y dy
1. (y − x)dx + 4xdy = 0 2. y 00 − 2y 0 + y = 0 3. 3
+ x − 5y = ex
dx dx
Uma EDO não-linear é simplesmente uma EDO que não é linear. Em outras palavras,
0
uma EDO linear não pode conter termos como, por exemplo, sen(y) e ey . Damos a seguir
exemplos de EDO’s não-lineares:
d2 y d4 y
1. (1 − y)y 0 + 2y = ex 2. 2
+ sen(y) = 0 3. 4
+ y2 = 0
dx dx
A teoria matemática e as técnicas para o tratamento de equações lineares são bastante
desenvolvidas. Por outro lado, no caso das equações diferenciais não-lineares a situação não
é tão satisfatória, não havendo técnicas gerais de solução. Por este motivo, muitas vezes,
tentamos descrever um fenômeno não-linear como sendo linear, pelo menos em primeira
aproximação. Nos casos em que a não-linearidade é inevitável, e os métodos analı́ticos são
inexistentes ou insuficientes, temos ainda as ferramentas da análise qualitativa e numérica.

1.2 Exercı́cios diversos


Classifique as equações diferencias abaixo quanto ao tipo, ordem e linearidade.
1. x2 y 00 + xy 0 + 2y = sen(x) 9. 3x2 y (4) + (y 0 )6 = 1
dy dz dx dy
2. 3x + = x5 10. + 3x + 1 = 90
dx dx dt ds
3. (1 + y 2 )y 00 + xy 0 + y = ex 11. y + y + y 00 + y 0 + y = ex
(4) 000

4. (1 − x)y 00 − 4xy 0 + 5y = cos(x) 12. y 0 + xy 2 = 0


∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂(f (x)u)2
5. + =0 13. + = f (x, t)
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 ∂t ∂x
d3 y dy  d3 x dx
14. ln(x) 3 + 5 − x = 0
6. x 3 − 2 +y =0
dx dx dt dt
7. yy 0 + 2y = 1 + x2 15. y 00 + sen(x + y) = sen(x)
8. x2 dy + (y − xy − x ex )dx = 0 16. y 000 + xy 0 + ycos2 (x) = x3
Capı́tulo 2

Solução de uma Equação Diferencial


Ordinária

De uma forma geral, a solução de uma equação diferencial é uma função que não contém
derivadas nem diferenciais e que satisfaz a equação dada, ou seja, a função que, substituı́da
na equação dada, a transforma em uma identidade.

2.1 Solução e famı́lia de soluções


Definição 2.1: Toda função φ, definida em um intervalo I que tem pelo menos n derivadas
contı́nuas em I, as quais quando substituidas em uma equação diferencial ordinária de ordem
n reduzem a equação a uma identidade, é denominada uma solução da equação diferencial
no intervalo.
Em outras palavras, uma solução de uma equação diferencial ordinária de ordem n

F (x, y, y 0 , y 00 , · · · , y (n) ) = 0

é uma função φ que tem pelo menos n derivadas e para a qual

F (x, φ(x), φ0 (x), · · · , φ(n) (x)) = 0, para todo x em I.

Nota 2.1: Alertamos que obter uma solução para uma equação diferencial é “similar” a
calcular uma integral e nós sabemos que existem integrais que não possuem primitivas, como é
o caso das integrais elı́pticas, dessa forma não é de se esperar que todas as equações diferenciais
possuam soluções.
Exemplo 2.1: Vamos verificar que a função

x4
y(x) = , x ∈ R (2.1)
16
é uma solução da EDO
4y 0 − x3 = 0. (2.2)
6 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

Solução: Derivando y na Equação 2.1 com respeito a x, obtemos

x3
y0 = .
4
Substituindo na Equação 2.2 temos

x3
4y 0 − x3 = 4. − x3 = 0
4
Portanto y(x) dada é uma solução da Equação 2.2 uma vez que é diferenciável (derivável)
em R e satisfaz a EDO dada.
Uma pergunta que surge naturalmente aqui é: Mas será que a Equação 2.1 é a única
solução da EDO? A resposta para essa pergunta é não. De fato, observe que toda expressão
da forma
x4
y(x) = + C, C ∈ R (2.3)
16
também é uma solução para a EDO dada. Quando isso acontece dizemos que a EDO possui
uma famı́lia de soluções a um parâmetro, que nesse caso é C. Na verdade, em geral, uma
EDO possui um número infinito de soluções. Também podemos ter soluções de uma EDO
que não são obtidas de uma famı́lia de soluções dessa EDO.
Exemplo 2.2: A EDO
dy
= y2 − 4 (2.4)
dx
possui a seguinte famı́lia de soluções

(1 + C e4x )
y(x) = 2 , C ∈ R. (2.5)
(1 − C e4x )

No entanto, y1 (x) = −2 é uma solução da EDO dada e não provém dessa famı́lia, uma vez
que não existe um valor para parâmetro C tal que, quando substituido na Equação 2.1,

y(x) = y1 (x) = −2.

2.1.1 Exercı́cios
1. Em cada item a seguir identifique as variáveis independentes e dependentes, e mostre
em cada caso que a função y(x) é solução da EDO dada, onde a é constante.
dy x √
(a) =√ (a 6= 0) y(x) = x2 + a2
dx x2 + a 2
1
(b) (y 00 )2 − xy 0 + y = 1 − x2 y(x) = x2
4
2. Verifique que a função g(x) = c1 cos(4x) + c2 sen(4x), onde c1 e c2 ∈ R, é uma famı́lia
de soluções da EDO
y 00 + 16y = 0.
2.2 Tipos de soluções e solução explı́cita e implı́cita 7

2.2 Tipos de soluções e solução explı́cita e implı́cita


Basicamente, existem 3 tipos de soluções:

1. Solução geral: é a solução da equação que contém tantas constantes arbitrárias


(parâmetros) quantas forem as unidades da ordem de integração (famı́lia de soluções).

2. Solução particular: é a solução deduzida da solução geral atribuindo-se valores par-


ticulares às constantes. Em outras palavras, é quando a solução vem de uma famı́lia
de soluções encontrada.

3. Solução singular: é uma solução não deduzida da solução geral (famı́lia de soluções)
e que só existe em alguns casos.

Além disso, se uma solução de uma EDO é identicamente nula no intervalo I, então ela
é chamada de solução trivial.
Exemplo 2.3: Como vimos anteriormente, a função 2.3 é uma solução geral da EDO 2.2,
enquanto que 2.2 é uma solução particular da mesma EDO. De fato, fazendo em 2.3 C = 0
obtemos 2.2. Já a EDO 2.4 possui como solução geral 2.5 e como solução singular y(x) = −2.
Nota 2.2: Itervalos de Definição: Você não pode pensar em solução de uma EDO sem,
simultaneamente, pensar em intervalo. O intervalo I, que aparece na Definição 2.1, é alterna-
tivamente conhecido por intervalo de definição, intervalo de existência, intervalo de
validade ou domı́nio da solução e pode ser um intervalo aberto (a, b), um intervalo fechado
[a, b], um intervalo infinito (a, ∞), e assim por diante. Porém, não devemos confundir o
domı́nio de uma função com o intervalo de definição de uma solução. Por exemplo, a função

1
y= é uma solução da EDO xy 0 + y = 0,
x
para x pertencente a qualquer intervalo dos números reais que não contém o zero, como por
exemplo, (0, ∞). No entanto, lembre-se de que

1
y=
x
como uma função está definida para todo x ∈ R − {0}, ou seja, para x ∈ (−∞, 0) ∪ (0, ∞).
Definição 2.2: Uma solução explı́cita de uma equação diferencial ordinária é qualquer
função y = φ(x) que verifique a equação num intervalo a < x < b. Uma solução implı́cita
é uma relação G(x, y) = 0 que verifique a equação.
Como a definição sugere, nem sempre encontraremos a solução de uma EDO em sua
forma explı́cita, y = φ(x). As soluções de algumas EDO’s, quando for possı́vel acharmos tais
soluções, em geral serão dadas na forma G(x, y) = 0, a qual define implicitamente a solução.
Por exemplo, G(t, E) = 0 onde

G(t, E) = C − t + E − sen(E)
8 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

é uma famı́lia de soluções implı́citas (a um parâmetro, C ∈ R) da EDO

dE 1
= .
dt 1 − cos(E)

Para que possamos verificar essa afirmação, basta simplesmente derivar implicitamente a
expressão G(t, E) = 0 com relação a t.
Como outro exemplo, tome G(x, y) = 0, onde

G(x, y) = x2 + y 2 − 4,

com −2 < x < 2. Se derivarmos implicitamente a expressão G(x, y) = 0 em relação a x,


vemos claramente que G(x, y) é uma solução ı́mplicita da EDO

dy x
=− .
dx y

Exemplo 2.4: Verifique se a função y indicada abaixo é uma solução explı́cita da EDO dada,
no intervalo (−∞, ∞).

dy 1
1 4
1. = xy 2 , y= 16
x
dx
2. y 00 − 2y 0 + y = 0, y = x ex

Solução:

1. Uma maneira de verificar se a função dada é uma solução é observar depois de substituir,
se ambos os lados da equação são iguais para cada x no intervalo. Sendo assim, observe
que:

dy 1 1
lado esquerdo: = (4x3 ) = x3
dx 16 4
  12
1 1 4 1 1
lado direito: xy 2 = x x = x x2 = x3
16 4 4

Portanto, a função dada é uma solução da EDO.

2. Por simples substituição da função e as suas derivadas vê-se facilmente que a função
dada é uma solução da EDO:

2 ex + x ex − 2( ex + x ex ) + x ex = 0
2.2 Tipos de soluções e solução explı́cita e implı́cita 9

Exemplo 2.5: Verifiquemos que


x + y + exy = 0 (2.6)
é solução implı́cita de  
xy dy
1 + xe + 1 + y exy = 0 (2.7)
dx

Solução: Para verificar basta derivar implicitamente a expressão x+y+ exy = 0 com respeito
a x. Vejamos
d
(x + y + exy ) = 0
dx
d(xy)
1 + y 0 + exy =0
dx
1 + y 0 + (y + xy 0 ) exy = 0
dy
(1 + x exy ) + 1 + y exy = 0
dx

2.2.1 Exercı́cios
1. Mostre que a relação dada define uma solução implı́cita da equação diferencial, sabendo
que c é constante.
(a) yy 0 = e2x , y 2 = e2x
0 y2
(b) y = , y = c ey/x
xy − x2
dy x
(c) =− , x2 + y 2 − c 2 = 0
dx y
2. Os problemas seguintes são um teste à sua intuição (a “intuição” só se obtem depois
de alguma prática e por isso é importante analizar estes problemas e as suas soluções).
Em cada caso tente adivinhar uma solução, ou seja, faça alguma tentativa e verifique
se é ou não solução. Além disso, diga se a solução que descobriu é geral ou particular.

dy dy
(a) =y (c) + y = ex
dx dx
dy 2 d2 y
(b) =y (d) =1
dx dx2
3. Mostre que as funções y1 dadas são soluções gerais das respectivas EDO’s. Além disso,
mostre que y2 também é uma solução da EDO correspondente, porém ela não é obtida
a partir da solução geral y1 , ou seja, y2 é uma solução singular.
1 c2 x2
(a) y = xy 0 + (y 0 )2 , y1 = cx + y2 = −
2 2 2
x2
(b) (y 0 )2 − xy 0 + y = 0 , y1 = cx − c2 y2 =
4
10 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

2.3 Curvas integrais


Como vimos anteriormente, resolver uma equação diferencial significa determinar as funções
que satisfazem tal equação. Dessa forma, é pela integração de uma diferencial que se dá a
solução e, geometricamente, as curvas que representam as soluções são definidas como segue:
Definição 2.3: A solução geral (famı́lia de soluções) de uma EDO muitas vezes é dada por
uma relação da forma
Φ(x, y, C) = 0
onde a variável dependente y é dado apenas implicitamente em termos da variável indepen-
dente x e da constante C ∈ R. Tal expressão é denominada integral geral da EDO. A
integral geral pode ser interpretada geometricamente como a representação de uma famı́lia
de curvas no plano-xy, dependente do parâmetro C. Estas curvas são chamadas curvas
integrais da EDO dada, e uma vez que Φ(x, y, C) = 0 é derivável (diferenciável) em seu
intervalo de definição I, as curvas integrais são contı́nuas em I.
Exemplo 2.6: Como vimos anteriormente a EDO

4y 0 − x3 = 0 (2.8)

possui como solução geral a famı́lia de funções


x4
y(x) = +C (2.9)
16
onde C ∈ R é uma constante arbitrária. Assim, as curvas integrais da equação diferencial
2.8 são obtidas fazendo o gráfico da função 2.9 para diferentes valores de C, como mostram
as Figuras 2.1 e 2.2.

y y

4 4

3 3

2 2

1 1

x x

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5

−1 −1

−2 −2

−3 −3

−4 −4

Figura 2.1: Curva integral da equação Figura 2.2: Curvas integrais da equação
diferencial 4y 0 − x3 = 0 para C = 1 diferencial 4y 0 − x3 = 0 para C ∈ (−4, 4).
2.3 Curvas integrais 11

Exemplo 2.7: Consideremos a equação diferencial


dy y
=− , x 6= 0 (2.10)
dx x
A solução geral desta equação é dada pela famı́lia de funções
C
y= (2.11)
x
onde C ∈ R é uma constante arbitrária. As curvas integrais da Equação 2.10 são obtidas
fazendo-se o gráfico da Equação 2.11 para diferentes valores de C, como mostra a Figura 2.4.

y y

4 4

3 3

2 2

1 1

x x

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5

−1 −1

−2 −2

−3 −3

−4 −4

Figura 2.3: Curvas integrais da equação Figura 2.4: Curvas integrais da equação
dy
diferencial dx = − xy para C = 1 e C = −1. dy
diferencial dx = − xy para C ∈ (−4, 4).

2.3.1 Exercı́cios
1. Verifique que uma famı́lia a um parâmetro de soluções para a EDO

y = xy 0 + (y 0 )2

é dada por y = cx + c2 , e desenhe as curvas integrais. Além disso, determine um valor


de k para que y = kx2 seja uma solução particular para a EDO dada.
x2
2. Mostre que y1 = 2x + 2 e y2 = − são ambas soluções da EDO
2
(y 0 )2
y = xy 0 + (
2
e desenhe as curvas integrais. As funções c1 y1 + c2 y2 , c1 e c2 ∈ R, também são soluções?
12 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

2.4 Problemas de valor inicial e de valor de contorno


Quando aplicamos as equações diferenciais geralmente não estamos tão interessados em encon-
trar uma famı́lia de soluções (solução geral) quanto em encontrar uma solução que satisfaça
algumas condições adicionais.

2.4.1 Problemas de valor inicial


Um problema de valor inicial (PVI) consiste em uma equação diferencial, juntamente com
condições iniciais relativas à função incógnita e suas derivadas, tudo dado para um mesmo
valor da variável independente. O objetivo destes problemas é resolver uma equação diferen-
cial sujeita à condição inicial, ou seja, se são conhecidas condições adicionais, podemos obter
soluções particulares, a partir da solução geral, para a equação diferencial dada.
Em outras palavras, estamos interessados na solução de uma equação diferencial sujeita
a determinadas condições pré-estabelecidas, ou seja, condições que estão impostas à solução
desconhecida y = y(x) e suas derivadas. Sendo assim, uma solução de um PVI é uma função
y = y(x) que satisfaz não só a equação diferencial dada, mas também todas as condições
iniciais.
De um jeito um pouco mais formal, sendo I algum intervalo contendo x0 , um PVI é dado
da seguinte maneira:

 dn y
 Resolver: = f (x, y, y 0 , y 00 , · · · , y (n−1) )
dxn


Sujeita a: y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y1 , y 00 (x0 ) = y2 , · · · , y (n−1) (x0 ) = yn−1

onde y0 , y1 , y2 , · · · , yn−1 são constantes reais especificadas previamente. Os valores de y(x) e


suas n − 1 derivadas em um único ponto x0 , a saber,

y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y1 , y 00 (x0 ) = y2 , · · · , y (n−1) (x0 ) = yn−1

são chamados de condições iniciais.


Nota 2.3: Um PVI de primeira ordem consiste em:

 dy
 Resolver: = f (x, y)
dx


Sujeita a: y(x0 ) = y0

dy
Observe que por si só a EDO de primeira ordem = f (x, y), ou y 0 = f (x, y), não
dx
determina uma função solução única. Isto porque a EDO apenas especifica o declive y 0 (x) da
função solução em cada ponto, mas não especifica o valor de y(x) para nenhum ponto. Em
geral, como vimos anteriormente, existe uma infinidade de funções que satisfazem a EDO. No
entanto, para obter uma solução particular, o valor y0 da função solução tem de ser conhecido
para algum ponto x0 , ou seja, é necessário que os dados do problema indiquem y(x0 ) = y0
para determinar a solução particular da EDO dada.
2.4 Problemas de valor inicial e de valor de contorno 13

Se considerarmos a variável independente x como o tempo, podemos pensar em x0 como o


tempo inicial e em y0 como o valor inicial da função incógnita. Sendo assim, a EDO governa
a evolução do sistema ao longo do tempo desde o seu estado inicial y0 no tempo x0 , e nós
procuramos uma função y(x) que descreve o estado do sistema em função do tempo.
Geometricamente, como vimos anteriormente, o conjunto de solução de uma EDO de
primeira ordem define um conjunto de curvas com traço no plano-xy, chamadas de curvas
integrais, e neste sentido cada uma das curvas integrais é solução de um determinado PVI.

 dy y
 =−
Exemplo 2.8: Encontre a solução do PVI: dx x


y(1) = 3

Solução: Queremos encontrar uma solução da EDO que satisfaça a condição y(1) = 3, ou
melhor, queremos encontrar uma solução tal que o ponto (1, 3) seja ponto da curva integral
dessa solução. Veremos no futuro que uma famı́lia de soluções para a EDO dada é
C
y(x) = (2.12)
x
Agora a pergunta é: será que dentre a famı́lia de soluções 2.12 existe uma solução tal que
y(1) = 3? A resposta para a pergunta, neste caso, é sim. De fato, observe que
C
y(1) = .
1
Para que y(1) = 3 temos que ter C = 3. Logo, como podemos ver na Figura 2.5, a solução
particular que satisfaz o PVI dado é
3
y(x) = .
x

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5

−1

−2

−3

−4

Figura 2.5: Curva integral solução do PVI: y


x
= − xy , y(1) = 3.
14 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

Daqui surgem naturalmente alguns questionamentos, por exemplo: Mas será que essa é a
única solução que satisfaz esse PVI ou tem outras? E se mudarmos a condição inicial, o que
acontece? Por exemplo, o PVI 
 dy y
 =−
dx x


y(0) = 0
tem solução? e se tiver é única? Não se desespere o leitor, veremos mais adiante teoremas
que nos ajudarão a responder a todas essas perguntas.
 00
 y + 4y = 0
Exemplo 2.9: Determine se as funções a seguir são soluções do PVI:

y(0) = 0, y 0 (0) = 1

1. y1 (x) = sen(2x)

2. y2 (x) = x

3. y3 (x) = 12 sen(2x)

Solução:

1. y1 (x) = sen(2x) é uma solução da EDO e satisfaz a primeira condição y(0) = 0.


No entanto, y1 (x) não satisfaz a segunda condição, pois, y10 (x) = 2cos(2x) e y10 (0) =
2cos(0) = 2 6= 1. Portanto, y1 (x) = sen(2x) não é solução do PVI apresentando.

2. y2 (x) = x safisfaz ambas as condições iniciais mas não é solução da EDO dada. Portanto,
também não é solução do PVI apresentando.

3. y3 (x) = 12 sen(2x) é solução da EDO e satifas ambas as condições iniciais, sendo, por-
tanto solução do PVI apresentado.
 00
 y + 4y = 0
Exemplo 2.10: Determine uma solução do PVI: , sabendo que a

y(0) = 0, y 0 (0) = 1
solução geral da EDO em questão é dada por

y(x) = C1 sen(2x) + C2 cos(2x).

Solução: Como y(x) = C1 sen(2x)+C2 cos(2x) é uma solução da EDO para quaisquer valores
de C1 e C2 , devemos procurar os valores de C1 e C2 que também satisfaçam as condições
iniciais. Observe que
y(0) = C1 sen(0) + C2 cos(0) = C2
Assim, para atender a primeira condição inicial, devemos fazer C2 = 0. Além disso,

y 0 (x) = 2C1 cos(2x) − 2C2 sen(2x)


2.4 Problemas de valor inicial e de valor de contorno 15

sendo assim,
y 0 (0) = 2C1 cos(0) − 2C2 sen(0) = 2C1
Logo, para satisfazer a segunda condição inicial, y 0 (0) = 1, devemos fazer 2C1 = 1, ou seja,
C1 = 21 . Substituindo esses valores de C1 e C2 na solução y(x) = C1 sen(2x) + C2 cos(2x)
obtemos
1
y(x) = sen(2x)
2
a qual é a solução do PVI apresentado.

2.4.2 Exercı́cios
1. Determine C1 e C2 de modo que as funções dadas satisfaçam as condições iniciais
apresentadas.

(a) y(x) = C1 ex + C2 e−x y(0) = 1 y 0 (0) = −1


(b) y(x) = C1 ex + C2 e2x + 3 e3x y(0) = 0 y 0 (0) = 0
(c) y(x) = C1 sen(x) + C2 cos(x) + 1 y(π) = 0 y 0 (π) = 0
(d) y(x) = C1 ex + C2 ex + x2 ex y(1) = 1 y 0 (1) = −1

2. Verifique que a função dada é solução do PVI correspondente.


 00
 y + 3y 0 + 2y = 0
(a) y(x) = e−x − e−2x
 0
y(0) = 0 y (0) = 1
 00
 y + 4y = 0
(b) y(x) = cos(2x)
 0
y(0) = 1 y (0) = 0
 0 √
t4  y =t y
3. Mostre que y(t) = 0 e y(t) = são soluções do PVI: .
16 
y(0) = 0

2.4.3 Problemas de valor contorno


Um problema de valor de contorno (PVC) é uma equação diferencial que também esta sujeita
a determinadas condições pré-estabelecidas, as chamadas condições de contorno ou condições
de fronteira. Dessa forma, uma solução para um PVC é uma função y = y(x) que satisfaz
não só a equação diferencial dada, mas também todas as condições de contorno.
Os PVC surgem em diversos ramos da fı́sica, por exemplo, problemas envolvendo a
equação da onda e a equação do calor. Entre os primeiros PVC estudados está o prob-
lema de Dirichlet de encontrar funções harmônicas (soluções da equação de Laplace). Na
verdade, existe uma vasta classe de importantes problemas de valores de contorno, como por
exemplo, os problemas de Sturm-Liouville e o problema clássico de determinar a forma que
toma um cabo flexı́vel, suspenso em dois pontos e sujeito a seu peso. Este último problema
16 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

foi proposto por Leonardo da Vinci e resolvido após anos por Leibniz e J. Bernoulli, e sua
função solução recebe o nome, dado por Leibniz, de catenária.
Como no caso dos PVI, o número de condições impostas para os PVC é igual à ordem
da equação diferencial. No entanto, uma diferença essencial entre os PVI e os problemas que
envolvem condições de contorno é que estes podem ter uma, nenhuma ou infinitas soluções.
Além disso, diferentemente das condições iniciais, as condições de contorno não envolvem
derivadas e são definidas em dois ou mais valores da variável independente. De outra forma,
sendo I algum intervalo contendo x0 , x1 , x2 , · · · , xn−1 , um PVC envolvendo uma EDO pode
ser dado da seguinte maneira:

 dn y
 Resolver: n
= f (x, y, y 0 , y 00 , · · · , y (n−1) )
dx


Sujeita a: y(x0 ) = y0 , y(x1 ) = y1 , y(x2 ) = y2 , · · · , y(xn−1 ) = yn−1

onde y0 , y1 , y2 , · · · , yn−1 são constantes reais especificadas previamente, e os valores de y(x)


nos pontos x0 , x1 , x2 , · · · , xn−1 , a saber,

y(x0 ) = y0 , y(x1 ) = y1 , y(x2 ) = y2 , · · · , y(xn−1 ) = yn−1

são as condições de contorno.


 00
 y + 4y = 0
Exemplo 2.11: Determine uma solução do PVC: , sabendo que a

y( π8 ) = 0 y( π6 ) = 1
solução geral da EDO dada é

y(x) = C1 sen(2x) + C2 cos(2x).

Solução: Observe que


π π π 1√ 1√
y( ) = C1 sen( ) + C2 cos( ) = 2 C1 + 2 C2
8 4 4 2 2
π π π 1√ 1
y( ) = C1 sen( ) + C2 cos( ) = 3 C1 + C2
6 3 3 2 2
Além disso, para atender às condições de contorno, y( π8 ) = 0 e y( π6 ) = 1, devemos ter

1√ 1√
2 C1 + 2 C2 = 0 (2.13)
2 2

1√ 1
3 C1 + C2 = 1 (2.14)
2 2
Considerando as Equações 2.13 e 2.14 como um sistema e resolvendo-as simultaneamente,
obtemos
2
C1 = −C2 = √
3 − 1
2.4 Problemas de valor inicial e de valor de contorno 17

Portanto, substituindo estes valores de C1 e C2 na solução geral y(x) = C1 sen(2x)+C2 cos(2x)


obtemos a solução do PVC que é
 
2
y(x) = √ sen(2x) − cos(2x)
3 − 1

 00
 y + 4y = 0
Exemplo 2.12: Determine uma solução do PVC: , sabendo que a

y(0) = 1 y( π2 ) = 2
solução geral da EDO dada é

y(x) = C1 sen(2x) + C2 cos(2x).

Solução: Como
y(0) = C1 sen(0) + C2 cos(0) = C2

devemos fazer C2 = 1 para satisfazer a primeira condição de contorno y(0) = 1. Como

π
y( ) = C1 sen(π) + C2 cos(π) = −C2
2
π
devemos fazer C2 = −2 para satisfazer a segunda condição de contorno y( ) = 2. Assim, para
2
satisfazer ambas as condições de contorno simultaneamente, devems ter C2 = 1 e C2 = −2,
o que é impossı́vel. Portanto, o PVC dado não admite solução.
Exemplo 2.13: Vale observar que podemos ter um Problema Misto, ou seja, um problema
com condições iniciais e de contorno. No entanto, iremos discutir como resolver um problema
misto em um outro momento. Um tı́pico problema com condições iniciais e de contorno é
dado juntamente com a Equação da Onda, que é:
 2

 ∂ u ∂ 2u

 − 2 =0 sobre M

 ∂x2 ∂t


∂u

 u(x, 0) = p(x), (x, 0) = q(x), a≤x≤b (Condições iniciais)

 ∂t




u(a, t) = r(t), u(b, t) = s(t), t≥0 (Condições de contorno)

onde M é a região representada por um retângulo infinito. Do ponto de vista fı́sico, o


problema misto pode ser interpretado como o estudo dos deslocamentos transversais de uma
corda de comprimento infinito, mas que nas extremidades x = a e x = b, o deslocamento
ocorre segundo uma função conhecida u(a, t) = r(t). Quando esta extremidade está “presa”
assumimos r(t) = 0.
18 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

2.4.4 Exercı́cios
1. Determine C1 e C2 de modo que y(x) = C1 sen(2x) + C2 cos(2x) satisfaça as condições
dadas, e determine se tais condições são iniciais ou de contorno.

(a) y(0) = 1, y 0 (0) = 2 (f) y(0) = 1, y 0 (π) = 1


(b) y(0) = 2, y 0 (0) = 1 (g) y(0) = 1, y(π) = 2
(c) y( π2 ) = 1, y 0 ( π2 ) = 2 (h) y(0) = 0, y 0 (0) = 0
(d) y(0) = 1, y 0 ( π2 ) = 1 (i) y( π4 ) = 0, y( π6 ) = 1
(e) y 0 (0) = 1, y 0 ( π2 ) = 1 (j) y(0) = 0, y 0 ( π2 ) = 1

2.5 Existência e unicidade


Muitas aplicações de equações diferenciais resulta em equações que não podem ser resolvidas
explicitamente. Em situações como estas, frequentemente recorremos à análise geométrica
ou numérica das equações diferenciais para obter informações sobre a solução sem de fato
resolvê-las. No entanto, antes de nos colocarmos a tentar analizar as soluções, precisamos
e devemos saber se a solução de fato existe. Na verdade, precisamos saber mais do que
isso, pois, a aplicação de métodos numéricos e o estudo das propriedades da solução só fazem
sentido no caso em que a solução existe e é única. Assim, é fundamental estudarmos a questão
da existência e unicidade das soluções, pois, em muitos casos, saber que a solução existe e é
única é mais importante do que realmente ter a solução.
Em outras palavras, procuramos responder os seguintes questionamentos: Uma equação
diferencial sempre tem solução? (existência); Quantas soluções tem uma equação diferencial
dada que ela tem pelo menos uma? ; Que condições adicionais devem ser especificadas para
se obter apenas uma única solução? (unicidade); Dada uma equação diferencial, podemos
determinar, de fato, uma solução? E, se for o caso, como?
Na generalidade dos problemas não estamos interessados na solução geral (ou na famı́lia
de curvas integrais) mas apenas numa solução particular que satisfaz uma condição dada. A
determinação de uma solução particular corresponde à selecionar uma função particular da
famı́lia de curvas integrais que satisfaz a condição dada. Porém, como vimos anteriormente,
existem soluções que não podem ser deduzidas a partir da solução geral e, neste caso, a solução
é uma solução singular da equação diferencial. Daı́, resulta claramente que a existência de
soluções singulares implica a violação da unicidade das soluções. Por exemplo, uma equação
diferencial não-linear pode ter uma solução “geral” e soluções singulares, veja Exemplo 2.2.
Pode parecer meio estranho, mas existem equações diferenciais que não tem solução, assim
como, um PVI pode não ter solução, ter uma única solução ou ter mais do que uma solução,
como exemplo veja o item 3 do Exercı́cio 2.4.2. Problemas sem soluções não têm obviamente
interesse. Já um PVI com várias soluções colocam o problema de se saber qual é a solução
que efetivamente traduz o comportamento do fenômeno estudado.
Nesse sentido, podemos refazer alguns dos questionamentos acima da seguinte forma:
Dado um PVI, ele possui solução? (existência); Se a solução exite, ela é única?(unicidade).
Em outras palavras, o nosso questionamento é: Sem resolver um PVI, quais são as infor-
mações que podemos obter sobre a existência e unicidade das soluções?
2.5 Existência e unicidade 19

Para responder tais perguntas, existe o chamado Teorema de Existência e Unicidade de


Solução que nos garante, se é dada uma EDO com condições “suficientemente boas”, ou seja,
um PVI bem especificado, não somente a existência de uma solução, como também a sua
unicidade. Em outras palavras, apresentaremos na sequência teoremas, sem demonstração,
que fornecem condições necessárias e suficientes para a existência e unicidade de solução
de um PVI. Vale ressaltar, que existe uma diferença muito forte entre equações diferenciais
lineares e não-lineares, por isso iremos tratar os dois casos separadamente.

2.5.1 EDO’s lineares


Começamos com as EDO’s lineares de primeira ordem:
Teorema 2.5.1 [Existência e Unicidade de Solução: EDO linear de 1a ordem]:
Considere o problema de valor inicial
 0
 y + p(x)y = q(x)

y(x0 ) = y0
Se p(x) e q(x) são funções contı́nuas em um intervalo aberto α < x0 < β, então existe uma
única solução para o PVI dado, definida no intervalo (α, β).
Este teorema nos diz que sendo p(x) e q(x) funções contı́nuas, existe exatamente uma
solução para qualquer PVI dado. Ele também nos diz que a solução será não derivável, ou
descontı́nua, somente nos pontos onde p(x) ou q(x) é descontı́nua. Porém, fique ciente de
que a solução pode ser contı́nua, mesmo quando p(x) ou q(x) não seja.
Geometricamente, o teorema também nos permite concluir que as curvas integrais de
uma equação diferencial, que satisfaz as hipóteses do teorema, não podem se interceptarem,
pois, caso contrário, tomando o ponto de interseção de duas curvas integrais como a condição
inicial terı́amos um PVI com duas soluções distintas, contradizendo a unicidade estabelecida
pelo teorema.
Se o intervalo (α, β) é o maior intervalo possı́vel para o qual as funções p(x) e q(x) são
contı́nuas, então (α, β) é chamado de intervalo de validade para a solução única garantida
pelo teorema. Assim, dado um PVI com uma EDO linear, com condições suficientemente
boas, não é necessário resolver a EDO para obter o intervalo de validade, uma vez que o
intervalo de validade depende somente de x0 , pois tal intervalo deve conter x0 , e não depende
de y0 .
Exemplo 2.14: Considere a EDO linear y 0 − y = 0. Neste exemplo as funções a1 (x) = −1
e g(x) = 0 são contı́nuas em R. Portanto, o Teorema 2.5.1 garante que existe e é única a
solução qualquer que seja a condição inicial
y(x0 ) = y0 .
Apesar do teorema só garantir a existência de solução numa vizinhança de x0 , facilmente
verificamos que a solução do PVI dado é
y(x) = y0 ex−x0 ,
e ela está definida para todo o R.
20 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

Exemplo 2.15: Determine quais são as condições que x deve satisfazer para que exista uma
única solução para o problema de valor inicial:

 (4 − x)y 0 + 2xy = ex

y(1) = 5

Solução: Primeiramente devemos escrever a EDO dada na forma


y 0 + p(x)y = q(x).
Isto significa que precisamos dividir ambos os mebros da igualdade por 4 − x. Daı́ obtemos
2x ex
y0 + y= .
4−x 4−x
Assim, neste caso,
2x ex
p(x) = e q(x) = .
4−x 4−x
Observe que p(x) e q(x) são contı́nuas para todo x 6= 4. Desde que a condição inicial dada é
especificada para x = 1, o qual é menor que 4, o Teorema 2.5.1 garante uma única solução
sobre o intervalo x < 4.
Se fosse dada uma condição inicial diferente para PVI anterior, digamos y(5) = 4, o
Teorema 2.5.1 nos permitiria concluir a existência de uma única solução sobre o intervalo
x > 4, um vez que a condição inicial está especificada para x0 = 5.
O mesmo resultado apresentado no Teorema 2.5.1 vale para um PVI que envolve uma
EDO linear de n-ésima ordem, como mostra o próximo teorema.
Teorema 2.5.2 [Existência e Unicidade de Solução: EDO linear de n-ésima ordem]:
Considere o problema de valor inicial
 (n)
 y + an−1 (x)y (n−1) + · · · + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = g(x)

y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y1 , y 00 (x0 ) = y2 , · · · , y (n−1) (x0 ) = yn−1
Então se ai (x), para i = 0, 1, 2, · · · , n − 1, e g(x) são funções contı́nuas em um intervalo
aberto α < x0 < β, existe uma única solução para o PVI dado, definida no intervalo (α, β).

2.5.2 EDO’s não-lineares


No caso linear, um PVI possui solução única a menos que as condições iniciais sejam “ruins”.
Mas, para o caso não-linear as coisas são um pouco diferentes, por exemplo, a simples e
inocente EDO não-linear  2
dy
+ x2 + 1 = 0
dx
não possui solução real. Então uma questão natural a se perguntar é se existe um teorema
análago ao Teorema 2.5.1 para EDO’s não-lineares. A resposta a esta questão é dada através
do próximo teorema.
2.5 Existência e unicidade 21

Teorema 2.5.3 [Existência e Unicidade de Solução: EDO não-linear de 1a ordem]:


Considere o problema de valor inicial
 0
 y = f (x, y)

y(x0 ) = y0
∂f
Se f e são funções contı́nuas em um retângulo α < x0 < β, γ < y0 < δ contendo o
∂y
ponto (x0 , y0 ), então existe uma única solução para o PVI dado, definida no intervalo (a, b)
safisfazendo α ≤ a < x0 < b ≤ β.
Assim como o Teorema 2.5.1, Teorema 2.5.1 nos fornece condições para as quais um PVI
não-linear possui uma única solução, mas a conclusão deste teorema não é tão boa quanto a
do Teorema 2.5.1. O Teorema 2.5.1 nos dá uma única solução sobre o maior intervalo possı́vel
para o qual as funções p(x) e q(x) são contı́nuas. Já o Teorema 2.5.3 nos diz que existe algum
intervalo, que não é um intervalo de validade, para o qual conseguimos uma única solução
para o problema.
Observe que para uma EDO não-linear, o valor de y0 pode afetar o intervalo de validade.
Assim, uma forma de contornar este problema é ter certeza de que as condições iniciais não
estão dentro e nem sobre a borda de uma “região ruim”, uma região onde f e/ou sua derivada
são descontı́nuas, e então encontrar o maior intervalo sobre a reta y = y0 contendo x0 onde
tudo funciona bem e as funções são contı́nuas.
∂f
O Teorema 2.5.3 se refere à da função de duas variáveis f (x, y). Infelizmente, a
∂y
derivada parcial é mais difı́cil de calcular do que a derivada ordinária. Mas, lembre-se de que,
neste caso, pensamos em x como um constante e derivamos. Por exemplo, se
∂f
f (x, y) = x2 − 3y 2 x então = −6yx.
∂y
 y

 y 0 = + 3x, x 6= 0
x ∂f
Exemplo 2.16: Considere o PVI: . Observe que f (x, y) e estão

 ∂y
y(x0 ) = y0
definidas e são contı́nuas para qualquer (x, y), desde que x 6= 0. Portanto, o PVI satisfaz o
Teorema 2.5.3, e consequentemente possui uma única solução.
 0
 y = y2
Exemplo 2.17: Considere o PVI: . A famı́lia de soluções da EDO em questão

y(0) = 1
1 1
é dada por y(x) = . Daı́ vem que y(0) = − . Logo, para satisfazer a condição inicial
x+C C
∂f
y(0) = 0 devemos ter C = −1. Como f (x, y) = y 2 e = 2y são contı́nuas para qualquer
∂y
(x, y), temos que a única solução do PVI, garantida pelo Teorema 2.5.3, é dada por
1
y(x) = − .
x−1
22 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

 0
 y = y 1/3 , x≥0
Exemplo 2.18: Considere o PVI: . A famı́lia de soluções da EDO em

y(0) = 0
questão é dada por
  23
2
y(x) = (x + C) .
3
Se C = 0, a condição inicial y(0) = 0 é satisfeita e
  32
2
y(x) = x
3
é uma solução do PVI dado, para x ≥ 0. Porém, podemos encontrar outras duas soluções
para x ≥ 0, a saber
  23
2
y(x) = − x e y(x) = 0.
3
Portanto, poderı́amos concluir apressadamente que o Teorema 2.5.3 não é válido. Mas
cuidado, a única solução neste caso não é garantida porque o PVI dado não satisfaz o Teorema
∂f 1
2.5.3, pois, = 2/3 não é contı́nua em 0.
∂y 3y

2.6 Exercı́cios diversos


1. Em cada caso, verifique se a função dada é uma solução da EDO correspondente, onde
a, b e c são constantes.

(a) y 0 + 2y = 0 y = C e−2x
(b) y 000 = 0 y = ax2 + bx + c
(c) y 00 + y = 0 y = a cos(x) + b sen(x)
00
(d) y − y = x y = a ex + b e−x − x
(e) y 0 = 2x y = x2 + c
2y
(f) y 0 = y = cx2
x
0
y = c e−x
2
(g) y + 2xy = 0
x
(h) y 0 = − x2 + y 2 = c
y
0
(i) y − y = e2x y = c ex + e2x
(j) (y 0 )2 − xy 0 + y = 0 y = cx − c2
(k) y 00 + y = 0 y = cos(x)
(l) y 0 = cos(x) y = sen(x) + c
0
(m) y − y = 0 y = ex
(n) x2 y 00 − 4xy 0 + 6y = 0 y = ax2 + bx3
2.6 Exercı́cios diversos 23

Z
2. Em cada caso, determinar y(x) = f (x)dx e a constante de integração C, de modo
que a função y(x) satisfaça a condição dada.

(a) f (x) = x2 y(2) = 0


π
(b) f (x) = cos2 (x) y(π) =
2
(c) f (x) = cos(2x) y(0) = 1
(d) f (x) = x e−x
2
y(0) = 0

3. Em cada caso, verificar que a função dada é solução da equação diferencial correspon-
dente e determinar as constantes a, b e c de modo que a solução particular satisfaça a
condição dada.
 0
 y +y =0
(a) y(x) = c e−x

y(0) = 3
 0
 y +y =5
(b) y(x) = c e−x + 5

y(1) = 6
 0
 y + 2xy = 0
y(x) = c e−x
2
(c)

y(0) = −2

 dy
 = 2y
x
(d) dx y(x) = cx2


y(1) = 3

 d2 y dy
 x 2− =0
(e) dx dx y(x) = ax2 + b


y(1) = −8 y 0 (1) = 4
 2
 dy

 +y =0
 dx2
(f)     y(x) = a cos(x + b)

 √

 y

=
a 0 3π
y = 3
2 2 2

 dy
 = y2 1
(g) dx y(x) =

 c−x
y(1) = 2
24 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária

4. Suponha que r1 e r2 são duas raı́zes reais e distintas da equação

ar2 + (b − a)r + c = 0.

Verifique se a função
y = d1 xr1 + d2 xr2
onde d1 e d2 são constantes arbitrárias, é uma solução da equação diferencial

ax2 y 00 + bxy 0 + cy = 0.

5. Em cada um dos problemas abaixo verifique se a função dada é uma solução da equação
diferencial correspondente.

(a) y 00 + 2y 0 − 3y = 0 y1 = e−3x y2 = ex
1
(b) x2 y 00 + 5xy 0 + 4y = 0, x>0 y1 = 2 y2 = x−2 ln(x)
x
π
(c) y 00 + y = sen(x), 0<x< y = cos(x)ln(cos(x)) + xsen(x)
2
6. Em cada um dos problemas abaixo verifique se a função dada é uma solução da equação
diferencial parcial correspondente.

(a) uxx + uyy = 0 u(x, y) = ln(x2 + y 2 )


1
(b) uxx + uyy + uzz = 0, x, y, z 6= 0 u(x, y, z) = p
x2 + y 2 + z 2
(c) utt − c2 uxx = 0 u(x, t) = f (x − ct) + g(x + ct)

∂ 2u
onde f e g são funções duas vezes diferenciáveis, c é uma constante e uxx =
∂x2
7. Em cada um dos problemas abaixo determine os valores de r para os quais a equação
diferencial dada tenha soluções da forma y = erx ou y = xr .

(a) y 0 + 2y = 0
(b) y 00 + y 0 − 6y = 0
(c) y 00 − y = 0
(d) x2 y 00 + 4xy 0 + 2y = 0
(e) x2 y 00 + 4xy 0 + 4y = 0
Capı́tulo 3

Equações Diferenciais Ordinária de


Primeira Ordem

Agora estamos prontos para resolver algumas equações diferenciais. Vamos começar pelas
equações diferenciais ordinárias de primeira ordem
dy
= f (x, y). (3.1)
dx
A habilidade de resolver uma equação diferencial, ou seja, em encontrar soluções exatas,
em geral depende da habilidade em reconhecer o tipo de equação diferencial e da aplicação
de um método especı́fico de solução. Em outras palavras, o que funciona para um tipo de
equação de primeira ordem não necessariamente se aplica a outro tipo.

3.1 Solução por Integração Direta


Existem alguns tipos de EDO de primeira ordem que podem ser resolvidas analiticamente.
Comecemos por estudar o caso mais simples dentre todas as equações diferenciais, ou seja,
quando f na Equação 3.1 é independente de y. De outra forma, quando
f (x, y) = g(x).
Neste caso, a EDO de primeira ordem 3.1 é reescrita como
dy
= g(x). (3.2)
dx
Obeserve que a Equação 3.2 pode ser reescrita como
dy = g(x)dx (3.3)
e resolvida facilmente por integração, usando o Teorema Fundamental do Cálculo Integral.
De fato, se g(x) for uma função contı́nua, integrando-se ambos os lados da Equação 3.3,
obtém-se a solução Z
y(x) = g(x)dx = G(x) + C

onde G(x) é uma primitiva (integral indefinida) de g(x) e C ∈ R é uma constante arbitrária
que será determinada pela condição inicial do problema.
26 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

Exemplo 3.1: A solução de


dy
= 1 + e2x
dx
é dada por
Z
1 2x
y= (1 + e2x )dx = x + e +C
2

3.1.1 Exercı́cios
Resolva as seguintes EDO’s de primeira ordem:
dy dy
1. = x4 17. = sen(x)sec2 (x)
dx dt
2. y 0 = sen(x) dy
18. = cossec2 (x)cotg(x)
dy dt
3. = 7x5/2 + 4 19. y 0 = x3 sen(x)
dx
4. y 0 = x3 (−2x + x−5 ) 1
20. y0 = 2
dy x+1 x
5.
dx
=
x5 dy √
21. = 3x
dy √ dx
6. = 2 2 − 3x dy 1
dx 22. =
√ dt sen2 (t)
7. y 0 = 3x 2x2 − 4
dy x dy
8. =√ 23. = cos(x) − sec(x)tg(x)
dx 1+x dx
  dy 2x
0 3x 24. = 2
9. y = sen dx x +1
2  2
dy ln(x)
10. = 3tcos (3t2 ) dy
dt 25. =
dy dx x
11. = cos2 (t) dy et
dt 26. =
dy 1 dt cos2 ( et − 2)
12. = 27. y 0 = x4 cos (x5 )
dt 1 + 9x2
√ 
dy sec2 2 dy
13. = √ 28. = e2t
dx 2 dt
dy 4
dy x 29. = 2x (x2 + 3)
14. =√ dx
dx x+1 √
30. y 0 = e−3x + x
dy
15. = arcsen(x) dy
dx 31. = 7x4 + sec2 (x)
dy dx
16. = (2x + 1)sen(x) 32. y 0 = xcos(x)
dx
3.2 Equações diferenciais lineares de primeira ordem 27

3.2 Equações diferenciais lineares de primeira ordem


Lembre-se de que uma equação diferencial é linear quando é de primeiro grau na variável
dependente e em todas as suas derivadas. Assim,
Definição 3.1: Uma equação diferencial de primeira ordem da forma

dy
a1 (x) + a0 (x)y = g(x) (3.4)
dx
é chamada de equação diferencial linear de primeira ordem. Quando g(x) = 0 ela é chamada
de equação diferencial linear de primeira ordem homogênea e, caso contrário, equação difer-
encial linear de primeira ordem não-homogênea. Além disso, se dividirmos ambos os lados
da Equação 3.4 pelo coeficiente dominante a1 (x) 6= 0, obtemos uma forma mais conveniente,
a chamada forma padrão de uma equação linear, que é:

dy
+ P (x)y = f (x)
dx
Teorema 3.2.1: Seja a EDO de primeira ordem na sua forma padrão

y 0 + P (x)y = f (x) (3.5)

onde P (x) e f (x) são funções contı́nuas em I. Então a solução geral da equação diferencial
3.5 é Z R  R
y(x) = e P (x)dx
f (x)dx + C e− P (x)dx , para todo x ∈ I. (3.6)

onde e C ∈ R é uma constante arbitrária, e que pode ser determinada se houver uma condição
inicial para problema.
Z R
R
Demonstração: Primeiramente, observe que P (x)dx e e P (x)dx f (x)dx estão bem
definidas em I, uma vez que as funções P (x) e f (x) são contı́nuas nesse intervalo. Seja φ(x)
uma solução da Equação 3.5, ou seja,

φ0 (x) + P (x)φ(x) = f (x) (3.7)


R
P (x)dx
Multiplicando ambos os lados dessa última equação por e , obtemos
R R R
φ0 (x) e P (x)dx
+ P (x)φ(x) e P (x)dx = e P (x)dx f (x)
 0
R R
P (x)dx
φ(x) e = e P (x)dx f (x)
R
Z R
φ(x) e P (x)dx
= e P (x)dx f (x)dx + C
Z R  R
φ(x) = e P (x)dx
f (x)dx + C e− P (x)dx

Com isso provamos que toda solução da equacão diferencial 3.5 tem a forma da Equação 3.6.
28 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

Reciprocamente, qualquer função que tenha a forma da Equação 3.6 é solução da equação
diferencial 3.5. Com efeito, por derivação e considerando o Teorema Fundamental do Cálculo
Integral, temos
 R R R P (x)dx 
dy(x) d e− P (x)dx e f (x)dx + C
=
dx dx
 − R P (x)dx  Z   R R P (x)dx 
d e R R d e f (x)dx + C
y 0 (x) = e P (x)dx f (x)dx + C + e− P (x)dx
dx dx
R
Z R
 R R

0
y (x) = −P (x) e P (x)dx
e P (x)dx
f (x)dx + C + e− P (x)dx
f (x) e P (x)dx
| {z }
| {z } f (x)
y(x)
y 0 (x) = −P (x)y(x) + f (x)

O teorema anterior nos diz que se a equação diferencial 3.5 tiver uma solução, ela deve
ter a forma da Equação 3.6. Não é necessário decorrar, nem mesmo colar a fórmula 3.6.
Porém, é de extrema importância que vocês lembrem-se do termo especial, chamado de fator
integrante, R
µ(x) = e P (x)dx (3.8)
pois ele fornece uma maneira mais simples de ressolver a equação diferecial 3.5. Vejamos!

Método de Resolução (IMPORTANTE!): Para resolver a equação diferencial

a1 (x)y 0 + a0 (x)y = g(x)

basta seguir na ı́ntegra o seguinte procedimento:

(1) Ponha a equação dada na forma padrão, ou seja, divida ambos os membros da
equação por a1 (x) obtendo assim

y 0 + P (x)y = f (x)

(2) Identifique P (x) na forma padrão e então encontre o fator integrante


R
P (x)dx
µ(x) = e .

(3) Multiplique a forma padrão pelo fator integrante. O lado esquerdo da equação
resultante é automaticamente a derivada do produto do fator integrante por y,
 R 0 R
P (x)dx
e y = e P (x)dx f (x).

(4) Integre ambos os lados desta última equação, e resolva a integral resultante.
(5) Isole a variável y, a qual é a solução procurada.
3.2 Equações diferenciais lineares de primeira ordem 29

Exemplo 3.2: Resolva as seguintes EDO’s lineares de primeira ordem:

(a) y 0 − 3y = 0.

Solução: Sigamos então os passos citados anteriormente:

(1) A equação já esta na forma padrão.


R
−3dx
(2) P (x) = −3 e, então, o fator integrante é: µ(x) = e = e−3x .
 0
−3x
(3) Multiplicando a forma padrão pelo fator integrante obtemos: e y = 0.

(4) Integrando ambos os membros da última equação obtemos: e−3x y = C.


(5) Por fim, isolando a variável y obtemos a solução da equação, que é: y = C e3x .

dy
(b) − 3y = 6.
dx

Solução:

(1) Como antes, a equação já esta na forma padrão.


R
−3dx
(2) P (x) = −3 e, então, o fator integrante é: µ(x) = e = e−3x .
 0
(3) Multiplicando a forma padrão pelo fator integrante obtemos: e y = 6 e−3x .
−3x

(4) Integrando ambos os membros da última equação obtemos: e−3x y = −2 e−3x + C.


(5) Agora isolamos a variável y e obtemos a solução da equação: y = −2 + C e3x

(c) xy 0 − 4y = x6 ex .

Solução:
4
(1) Dividindo a equação por x 6= 0 obtemos a forma padrão: y 0 − y = x5 ex .
x
4 R −4
(2) P (x) = − , então o fator integrante é: µ(x) = e − x dx = e−4ln(x) = eln(x ) = x−4 .
4

x
 0
−4
(3) Multiplicando a forma padrão pelo fator integrante obtemos: x y = x ex .

(4) Integrando ambos os membros da última equação obtemos: x−4 y = x ex − ex + C


(5) Agora isolamos a variável y para obter a solução da EDO: y = x5 ex − x4 ex + Cx4 .
30 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

 0
 y − sen(x)y = sen(x)
Exemplo 3.3: Resolva o problema de valor inicial: .

y(0) = 1

Solução: Como a equação diferencial dada já esta na forma padrão, vamos calcular o fator
integrante, que é dado por
R
µ(x) = e− sen(x)dx
= e−(−cos(x)) = ecos(x)
Agora, multiplicando a equação diferencial dada pelo fator integrante obtemos
 0
cos(x)
ye = sen(x) ecos(x) .

Integrando esta última equação vem que


Z
cos(x)
ye = sen(x) ecos(x) dx

Podemos resolver a integral que aparece na equação anterior usando o método de integração
por partes, para isso basta fazer u = cos(x). Daı́, temos
y ecos(x) = − ecos(x) + C
Finalmente, isolando a variável y obtemos a solução geral da EDO que é
y(x) = −1 + C e−cos(x) .
Assim, temos que
y(0) = −1 + C e−cos(0) = −1 + C e−1 .
Como y(0) = 1 tem-se que −1 + C e−1 = 1, ou seja, C = 2 e. Portanto a solução do PVI é
y(x) = −1 + 2 e1−cos(x) .

3.2.1 Exercı́cios
1. Resolva as seguintes equações diferenciais lineares de primeira ordem:
dy
1) (x2 − 9) + xy = 0 6) xy 0 + 2y = 3
dx
dr
2) y 0 + 3x2 y = x2 7) + rsec(θ) = cos(θ)
dy dθ
3) = 5y dy
dx 8) x − y = x2 sen(x)
dy dx
4) + 2y = 0 9) x2 y 0 + xy = 1
dx
dy dy
5) + y = e3x 10) +y =x
dx dx
2. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais:
  0
 dy
 (x + 1) + y = ln(x)  y + tg(x)y = cos2 x
1) dx 2)

 
y(1) = 10 y(0) = −1
3.3 Equações com Variáveis Separáveis 31

3.3 Equações com Variáveis Separáveis


A solução da equação diferencial (3.2), bem como seu método de resolução é, na verdade,
um caso particular de quando f (x, y) é o produto de uma função de x por uma função de y.
Melhor dizendo,
Definição 3.2: Uma equação com variáveis separáveis é uma EDO de primeira ordem na
dy
qual a expressão pode ser fatorada como uma função de x vezes uma função de y, ou seja,
dx
pode ser escrita na forma
dy
= g(x)h(y) (3.9)
dx
O nome separável vem do fato de que a expressão do lado direito da Equação 3.9 pode
ser “separada” em uma função de x e uma função de y.
Observe que a equação diferencial 3.9 possui soluções constantes se, e somente se, a função
h(y) se anular. De fato, se na Equação 3.9 temos h(y) = 0 vem que

dy
= 0, donde por integração direta obtemos a solução constante y(x) = C.
dx
Vamos admitir que queremos encontrar soluções não constantes, ou seja, vamos assumir
que h(y) 6= 0. Sendo h(y) 6= 0 a Equação 3.9 pode ser reescrita na forma diferencial

1
dy = g(x)dx. (3.10)
h(y)

Com este passo dizemos que separamos as variáveis, pois, todos os y estão de um lado da
equação e todos os x estão do outro lado. Agora, integrando ambos os membros da Equação
3.10 obtemos as soluções não constantes da EDO, que é:
Z Z
1
dy = g(x)dx. (3.11)
h(y)

Portanto, a Equação (3.11) fornece um Método de Resolução para resolver uma EDO de
primeira ordem com variáveis separáveis.

Nota 3.1: É fácil ver que a Equação 3.9 reduz à forma da equação diferencial 3.2 quando

h(y) = 1.

Assim como, a Equação 3.4 também reduz à forma da Equação 3.2 quando

a1 (x) = 1 e a0 (x) = 0.

Exemplo 3.4: Verifique se as seguintes EDO’s de primeira ordem são de variáveis separáveis.
dy dy
1. = y 2 x e3x+4y 2. = y + sen(x)
dx dx
32 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

Solução: A primeira equação podemos fatorar da seguinte maneira


dy
= (x e3x )(y 2 e4y )
dx
Portanto, esta equação é de variáveis separáveis. Agora a segunda não é possı́vel expressa-la
como sendo um produto de uma função de x por uma função de y, ou seja, a equação não é
de variáveis separáveis.
Exemplo 3.5: Resolva a equação diferecial (1 + x)dy − ydx = 0.

Solução: Dividindo os dois lados da igualdade por (1 + x)y tem-se


dy dx
=
y (1 + x)
de onde segue que Z Z
dy dx
=
y (1 + x)

ln|y| = ln|1 + x| + C1
elevando a e ambos os membros da última igualdade vem que

y(x) = eln|1+x|+C1 = eln|1+x| . eC1

= |1 + x| eC1 = ± eC1 (1 + x)

Chamando ± eC1 de C obtemos a solução geral que é dada por:

y(x) = C(1 + x).



 dy x
 =−
dx y
Exemplo 3.6: Resolva o problema de valor inicial: .


 y(4) = −3

Solução: Reescrendo a equação como


Z Z
ydy = −xdx, vem que, ydy = − xdx.

cuja solução é
y2 x2
= − + C1 , ou ainda, y 2 + x2 = 2C1 .
2 2
Chamando 2C1 de C 2 vemos que a solução geral para o PVI são cı́rculos concêntricos com
centro na origem, ou melhor,
y 2 + x2 = C 2 .
3.3 Equações com Variáveis Separáveis 33

Agora, quando x = 4, temos que y(4) = −3, ou seja, C 2 = (−3)2 + 42 = 25. Portanto o PVI
dado possui como solução o cı́rculo

y 2 + x2 = 25.

Nota 3.2: Observe que a solução apresentada esta na forma implı́cita. Mas, podemos a
partir desta solução implı́cita encontar uma solução explı́cita que satifaz a condição inicial
dada. Para isto, basta “isolar” y, o que nos fornece

y = ± 25 − x2 , com −5<x<5

Como o ponto (4, −3) encontra-se no quarto quadrante temos que a solução desejada é

y = − 25 − x2

3.3.1 Exercı́cios
1. Verifique se as seguintes EDO’s de primeira ordem são de variáveis separáveis.
1) (x − 1)dy − ydx = 0 14) (x2 + 1)dx + (y 2 + y)dy = 0
dy 1 + y2 15) sen(x)dx + ydy = 0
2) =  
dx (1 + x2 )xy dy dy
16) a x + 2y = xy
dy dx dx
3) + ycos(x) = 0 √
dx 4−x
4) sec2 (x)tg(y)dx + sec2 (y)tg(x)dy = 0 17) xdx − dy = 0
y
dy 18) tg(x)sec(y)dx − tg(y)sec(x)dy = 0
5) = 3x − 1 p
dx
19) (x2 − 1) 1 − y 2 dx − x2 dy = 0
6) (1 + x2 )y 3 dx + (1 − y 2 )x3 dy = 0
1 dy dy 1 + y2
7) − tg(y) =0 20) =
x dx dx 1 + x2
0
8) 4xy 2 dx + (x2 + 1)dy = 0 21) xy = 4y
9) xydx − 3(y − 2)dy = 0 22) x2 y 0 = y − xy
 2
10) xdx + y e−x dy = 0 dy y+1
2
23) yln(x) =
dy dx x
11) = e3x+2y dy
dx 24) + 2xy = 0
dy dx
12) = sen(5x) 25) y 0 + 2y = 1
dx
13) xy 0 = 4y 26) dx + e3x dy = 0
2. Resolva todas as equações com variáveis separáveis do item anterior.
3. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais.
 
 dx  dy
 2
= 4(x + 1)  ( e2y − y)cos(x) = ey sen(2x)
1) dt 2) dx

 π 

x( 4 ) = 1 y(0) = 0
34 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

3.4 Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem


como modelos matemáticos
Modelos matemáticos são utilizados em muitos campos da atividade humana, como: Matemática,
Economia, Fı́sica, Quı́mica, Biologia, Psicologia, Comunicação, Demografia, Astronomia, En-
genharia, etc.
Muitos problemas práticos necessitam usar modelos matemáticos e as vezes, as situações
são muito diferentes, mas a abordagem e a filosofia subjacentes são as mesmas.
Existe uma forma matemática unificada para tratar muitas teorias cientı́ficas e matemáti-
cas e tais técnicas podem ser descritas como uma dinâmica geral, que tem sido desenvolvida
em áreas conhecidas como Teoria de Sistemas e Teoria de Controle, como é o caso do Cálculo
Diferencial e Equações Diferenciais.
Conceitualmente, um modelo matemático ou simplesmente modelo, pode ser apresentado
como uma representação de um sistema real, o que significa que um modelo deve representar
um sistema e a forma como ocorrem as modificações no mesmo.
O ato de modelar, conhecido como modelagem, pode ser aplicado a um grande número de
problemas. Por exemplo, o estudo da análise ambiental nas proximidades de um rio, a forma
da asa de um avião, um sistema econômico, uma cultura agrı́cola, um estudo populacional,
um estudo fı́sico, e até mesmo um sistema matemático como o conjunto dos números naturais.
O objetivo mais importante de um modelo é que ele permite entender o próprio modelo
de uma forma simples ou então descrever este modelo mais completamente, de modo que o
modelo possa ser tão preciso quanto o mundo real.
Um modelo é normalmente uma simplificação do mundo real ou alguma forma conveniente
de trabalhar com este mundo, mas as caracterı́sticas essenciais do mundo real devem aparecer
no modelo, de modo que o seu comportamento seja igual ou semelhante àquele do sistema
modelado.
Um modelo pode ser real ou abstrato. Em diversos exemplos, a análise ambiental de um
rio e a forma da asa de um avião ou o aerofólio de um carro de corrida, é usual construir
modelos fı́sicos e fazer as medidas nos próprios modelos.
Em um sistema econômico ou em um estudo de uma população, devemos usar um modelo
abstrato e empregar a linguagem matemática para definir o modelo. Não é normal tratar a
população como cobaia, como acontece algumas vezes em nosso planeta.
Na sequência, trataremos sobre modelos abstratos, que podem ser descritos por equações
matemáticas, portanto usaremos o termo modelo para representar modelo matemático.
Um modelo matemático consiste de um conjunto de equações que representam de uma
forma quantitativa, as hipóteses que foram usadas na construção do modelo, as quais se
apoiam sobre o sistema real. Tais equações são resolvidas em função de alguns valores
conhecidos ou previstos pelo modelo real e podem ser testadas através da comparação com
os dados conhecidos ou previstos com as medidas realizadas no mundo real.
As equações matemáticas de um modelo não proporcionam a própria explicação cientı́fica
do modelo, mas simplesmente interpretam as hipóteses de um ponto de vista quantitativo,
dando-nos a condição de deduzir consequências e mostrar-nos onde estão os detalhes que
deverão ser aceitos ou recusados.
De maneira geral, a construção de um modelo matemático de um problema segue o
3.4 Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem como modelos matemáticos 35

seguinte:

• começa com a identificação das variáveis responsáveis pela variação do sistema. Pode-
mos a princı́pio optar por não incorporar todas essas variáveis no modelo. Nesta etapa,
estamos especificando o nı́vel do problema.

• Por fim, elaboramos um conjunto de hipóteses razoáveis ou pressuposições sobre o


problemas que estamos tentando descrever. Essas hipóteses deverão incluir quaisquer
leis empı́ricas aplicáveis ao problema.

3.4.1 Dinâmica populacional


Uma das primeiras tentativas de modelagem do crescimento populacional humano por meio
da matemática foi feita pelo economista inglês Thomas Malthus, em 1978. Basicamente, a
idéia por trás do modelo malthusiano é a hipótese de que a taxa segundo a qual a população
de um paı́s cresce em um determinado instante é proporcional à população do paı́s naquele
instante. Em outras palavras, quanto mais pessoas houver em em instante t, mais pessoas vão
existir no futuro. Em termos matemáticos, se P (t) representa a população total no instante
t, então essa hipótese é expressada por:

dP (t) dP
= kP (t) ou, simplesmente = kP
dt dt
onde k é uma constante de proporcionalidade.
Em geral, o modelo muito usado hoje em dia para modelar o crescimento/decaimento de
pequenas populações, em um curto intervalo de tempo, é dado pelo PVI:

 dx
 = kx
dt (3.12)


x(t0 ) = x0

Exemplo 3.7: Uma cultura tem inicialmente P0 bactérias. Em t = 1h, o número medido de
3
bactérias é de P0 . Se a taxa de crescimento for proporcional ao número de bactérias P (t)
2
presente no instante t, determine o tempo necessário para triplicar o número de bactérias.

Solução: Para resolver este problema, basta simplesmente, resolver o problema de valor
inicial 3.12 com:
x(t) = P (t)
t0 = 0
ou seja, P (0) = P0 , e na sequência, usar a observação empı́rica de que

3
P (1) = P0
2
para determinar a constante de proporcionalidade k.
36 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

3.4.2 Decaimento radioativo


O núcleo de um átomo consiste em combinações de prótons e nêutrons. Muitas dessas combi-
nações são instáveis, isto é, os átomos decaem ou transmutam em átomos de outra substância.
Esses núcleos são chamados de radioativos. Por exemplo, ao longo do tempo, o altamente
radioativo elemento rádio, Ra-226, transmuta-se no gás radônio radioativo, Rn-222.
Para modelar o fenômeno de decaimento radioativo, supõe-se que a velocidade (taxa)
dA
segundo a qual o núcleo de uma substância decai é proporcional à quantidade A(t) de
dt
substância remanescente no intante t, ou seja,
dA
= kA
dt
Exemplo 3.8: Em fı́sica, a meia-vida é uma medida da estabilidade de uma substância
radioativa. A meia-vida é simplesmente o tempo necessário para a metade dos átomos em
uma quantidade inicial A0 desintegrar-se ou transformar-se em átomos de um outro elemento.
Quanto maior for a meia-vida de uma substância, mais estável ela será. Vamos como exemplo
calcular a meia-vida do plutônio.
Um reator regenerador converte urânio 238 relativamente estável no isótopo plutônio
239. Depois de 15 anos determinou-se que 0, 043% da quantidade inicial A0 de plutônio
desintegrou-se. Ache a meia-vida desse isótopo, se a taxa de desintegração for proporcional
à quantidade remanescente.

Solução: Seja A(t) a quantidade de plutônio remanescente no instante t. Como é fácil


verificar, a função
A(t) = A0 ekt
é a solução do problema de valor inicial

 dA
 = kA
dt


A(0) = A0
Se 0, 043% dos átomos de A0 tiverem se desintegrado, restarão 99, 957% de substância.
Para encontrar a constante de decaimento k, usamos
A(15) = 0, 99957A0 , ou melhor, A0 e15k = 0, 99957A0
o que nos fornece
1
k= ln(0, 99957)
15
Logo,
1
A(t) = A0 e 15 ln(0,99957)t
Agora, a meia-vida corresponde ao valor do tempo t para o qual
1
A(t) = A0 .
2
3.4 Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem como modelos matemáticos 37

Exemplo 3.9: Foi encontrado um osso fossilizado que contém um milésimo de quantidade
original de C-14. Determine a idade do fóssil.

Solução: A Teoria da Datação por Carbono baseia-se no fato de que o isótopo carbono
14 é produzido na atmosfera pela ação da radiação cósmica sobre o nitrogênio. A razão da
quantidade de C-14 em relação ao carbono comum na atmosfera parece ser uma constante e,
consequentemente, a quantidade de isótopo presente em todos os organismos vivos é a mesma
na atmosfera. Assim, comparando a quantidade proporcional de C-14 presente, digamos, em
um fóssil com a razão constante encontrada na atmosfera, é possı́vel obter uma estimativa
razoável da idade do fóssil. O método baseia-se no conhecimento de que a meia-vida do
radioativo C-14 é aproximadamente 5.600 anos. Assim, o ponto de partida para solucionar o
problema em questão é o PVI 
 dA
 = kA
dt


A(0) = A0
cuja solução é dada por
A(t) = A0 ekt .
Para determinar o valor da constante de decaimento k, usamos o fato de que

A0 1
= A(5600), ou melhor, A0 = A0 e5600k
2 2
Donde obtemos
ln(2)
k=−
5600
Finalmente, de
1
A(t) = A0
1000
obtemos o tempo t procurado.

3.4.3 Lei de Newton do esfriamento/aquecimento


De acordo com a lei empı́rica de Newton do esfriamento/aquecimento, a taxa (velocidade)
segundo a qual a temperatura de um corpo varia é proporcional à diferença entre a temper-
atura do corpo e a temperatura do meio que o rodeia, denominada temperatura ambiente.
Assim, se T (t) representar a temperatura de um corpo no instante t, e Tm a temperatura do
meio que o rodeia então temos:
dT
= k(T − T m)
dt
onde k é uma constante de proporcionalidade.
Exemplo 3.10: Quando um bolo é tirado do forno, sua temperatura é 300o F . Três minutos
depois, sua temperatura é 200o F . Quanto tempo levará para o bolo resfriar até a temperatura
ambiente de 70o F ?
38 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

Solução: De acordo com a Lei do esfriamento/aquecimento de Newton temos que Tm = 70.


Portanto devemos resolver o PVC dado por

 dT

 = k(T − 70)

 dt



T (0) = 300




T (3) = 200

Observe que a equação diferencial dada no PVC acima é de variáveis separaveis, e para
determinar, se possı́vel, a constante C resultante da resolução da referida equação diferencial,
usamos a condição T (0) = 300. E para determinar, se possı́vel, o valor de k nos valemos da
condição T (3) = 200.
Exemplo 3.11: O café está a 90o C logo depois de coado e, um minuto depois, passa para
85o C, em uma cozinha a 25o C. Vamos determinar a temperatura do café em função do tempo
e o tempo que levará para o café chegar a 60o C.

Solução: De acordo com a Lei do esfriamento/aquecimento de Newton temos que Tm = 25,


e temos que resolver o PVC dado a seguir

 dT

 = k(T − 25)

 dt

(3.13)


T (0) = 90




T (1) = 85

Observando que a equação diferencial dada é de variáveis separaveis, usando o respectivo


metódo de solução, obtemos que a temperatura do café em função do tempo é dada por
60
T (t) = 25 + 65 eln( 65 )t

onde a constante C, resultante da resolução da referida equação diferencial, e o valor de k,


foram obtidos através das condições T (0) = 300 e T (1) = 85, respectivamente.
Fazendo T (t) = 60 na Equação 3.13 vem que
60
60 = 25 + 65 eln( 65 )t

Logo, o tempo necessário para que o café atinja 60o é

ln( 35 )
60 ≈ 8 min
65
t=
ln( 65 )
3.4 Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem como modelos matemáticos 39

3.4.4 Mistura de duas soluções salinas


A mistura de dois fluidos algumas vezes dá origem a uma equação diferencial de primeira
ordem para a quantidade de sal contida na mistura.
Vamos supor que um tanque contenha uma mistura de água e sal com um volume inicial
de V0 litros e Q0 gramas de sal. Suponhamos, também, que uma solução salina seja bombeada
para dentro do tanque a uma taxa de Te litros por minuto possuindo uma concentração de
Ce gramas de sal por litro. Suponha que a solução bem misturada sai a uma taxa de Ts litros
por minuto.
A taxa de variação da quantidade Qt de sal no tanque é igual à taxa com que entra sal
no tanque menos a taxa com que sai sal do tanque, ou seja,

dQ
= (taxa de entrada de sal) - (taxa de saı́da de sal)
dt
A taxa com que entra sal no tanque é igual a taxa com que entra a mistura, ou seja, Te ,
vezes a concentração de entrada, Ce .
Te Ce
E a taxa com que sai sal do tanque é igual a taxa com que sai a mistura do tanque, ou seja,
Ts , vezes a concentração de sal que sai do tanque, Cs .

Ts Cs

Dessa forma, a taxa de variação da quantidade Qt de sal no tanque pode ser dada como

dQ
= Te Ce − Ts Cs
dt
Como a solução é bem misturada a concentração de sal que sai é igual a concentração de
sal no tanque, ou seja,
Q(t)
Cs (t) =
V (t)
onde V (t) é o volume no tanque.
Como o volume no tanque, V (t), é igual ao volume inicial, V0 , somado ao volume que
entra no tanque menos o volume que sai do tanque, então

V (t) = V0 + Te t − Ts t

= V0 + (Te − Ts )t

Assim, a quantidade de sal no tanque, Q(t), é a solução do problema de valor inicial:




 dQ Q
 = Te Ce − Ts
dt V0 + (Te − Ts )t


 Q(0) = Q
0
40 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

Exemplo 3.12: Num tanque há 100 litros de salmoura contendo 30 gramas de sal em solução.
Água (sem sal) entra no tanque à razão de 6 litros por minuto e a mistura se escoa à razão de
4 litros por minuto, conservando-se a concentração uniforme por agitação. Vamos determinar
qual a concentração de sal no tanque ao fim de 50 minutos.

Solução: O problema pode ser modelado pelo seguinte problema de valor inicial

 dQ Q
 = −4
dt 100 + 2t


Q(0) = 30
A equação acima é linear e pode ser escrita como
dQ Q
+4 =0
dt 100 + 2t
Neste caso o fator integrante é dado por
R 4
dt
e 100+2t = (100 + 2t)2
Multiplicando-se a equação pelo fator integrante obtemos
d
[(100 + 2t)2 Q] = 0
dt
Integrando-se obtemos
(100 + 2t)2 Q = C
ou seja,
C
Q(t) =
(100 + 2t)2
Substituindo t = 0 e Q(0) = 30 vem que:
C = 30.1002 = 3.105
Assim,
3.105
Q(t) =
(100 + 2t)2
A concentração é o quociente da quantidade de sal pelo volume que é igual a
V (t) = 100 + 2t
Logo
3.105
c(t) =
(100 + 2t)3
Portanto, após 50 minutos
3.105 3
c(50) = 3
= gramas/litro
(100 + 2.50) 80
3.4 Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem como modelos matemáticos 41

Exemplo 3.13: Um determinado remédio é injetado na veia de um paciente de hospital. O


lı́quido, contendo 5 mg/cm3 do remédio, entra na corrente sanquı́nea do paciente a uma taxa
de 100 cm3 /h. O remédio é absorvido pelos tecidos do corpo, ou deixa a corrente sanguı́nea
de outro modo, a uma taxa proporcional à quantidade presente, com um coeficiente de
proporcionalidade igual a 0, 4/h. Supondo que o remédio é distribuı́do uniformemente na
corrente sanguı́nea, escreva uma equação diferencial para a quantidade de remédio presente
na corrente sanguı́nea em qualquer instante de tempo.

Solução: São injetados 100 cm3 por hora, e cada centı́metro cúbico contém 5 mg do remédio.
Assim, o remédio entra na corrente sanguı́nea do paciente a uma taxa de 500 mg/h. Por
outro lado, se Q(t) é a quantidade (em mg) de remédio na corrente sanguı́nea no tempo t,
então o remédio deixa a corrente sanguı́nea a uma taxa de

0, 4Q(t) mg/h

A taxa de variação da quantidade de remédio é dada pela diferença entre a quantidade


que entra e quantidade que sai da corrente sanguı́nea por unidade de tempo. Segue-se que a
equação diferencial para a quantidade de remédio presente na corrente sanguı́nea em qualquer
instante de tempo é dada por
dQ(t)
= 500 − 0, 4.Q(t)
dt

3.4.5 Reações quı́micas: irreversı́veis mononucleares e bimolecular


irreversı́vel
Iniciamos esta seção apresentando alguns conceitos de Cinética Quı́mica. Começamos definindo
o que venha a ser Cinética Quı́mica:
Definição 3.3: Cinética quı́mica é o estudo da velocidade das reações, de como a veloci-
dade varia em função das diferentes condições e quais os mecanismos de desenvolvimento
de uma reação. Aqui entendemos Velocidade de uma reação quı́mica como o aumento na
concentração molar do produto por unidade de tempo ou o decréscimo na concentração molar
do reagente na unidade de tempo. Vale ressaltar também que a Constante da velocidade, k,
é uma constante de proporcionalidade que relaciona velocidade e concentração. Tem valor
constante a uma temperatura e varia com a temperatura.
Agora definimos o que venha a ser uma reação quı́mica:
Definição 3.4: Uma reação quı́mica é a transformação de um conjunto de substâncias
(chamadas reagentes) A, B, etc. em outro conjunto de substâncias (chamadas produtos)
P , Q, etc. mediante processos que preservam os elementos quı́micos componentes; nesse
caso, tanto o consumo quanto a produção de substâncias ocorrem segundo proporções inteiras
caracterı́sticas dadas pelos chamados coeficientes da reação a, b, · · · , p, q, · · · .
Simbolicamente, representamos a reação por uma equação quı́mica

aA + bB + · · · −→ pP + qQ + · · ·
42 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

Dizemos que a equação está balanceada quando o conjunto dos coeficientes da reação é
irredutı́vel, i.e., têm a unidade como máximo divisor comum. De outra forma,

mdc(a, b, · · · , p, q, · · · ) = 1

Para ilustrar esses conceitos, citamos como exemplo a queima do alcool etı́lico: o alcool
etı́lico C2 H6 O reage com o oxigênio O2 produzindo gás carbônico CO2 e água H2 O,

C2 H6 O + 3O2 −→ 2CO2 + 3H2 O

Observamos que os (números de cada um dos) elementos quı́micos envolvidos são preser-
vados na reação quı́mica: na equação balanceada, tanto antes quanto depois da queima temos
2 átomos de carbono (denotado por C), 6 átomos de hidrogênio (denotado por H) e 7 átomos
de oxigênio (denotado por O).
Definição 3.5 [Lei de Ação das Massas]: A Lei de Ação das Massas determina a ve-
locidade instantânea de uma reação quı́mica simples em termos das concentrações dos seus
reagentes. Essa lei foi descoberta empiricamente por Guldberg e Waage em 1864. Em outras
palavras, a Lei de Ação das Massas estabelece que a velocidade de uma reação quı́mica é
proporcional às concentrações das substâncias que reagem.
Exemplo 3.14 [Reações Irreversı́veis Mononucleares]: Consideremos inicialmente a
inversão da sacarose. A reação é:

C12 H22 + O11 + H2 O −→ C6 H12 O6 + C6 H12 O6

São formadas duas moléculas, uma de glicose e outra de frutose. Como, neste caso, a concen-
tração da água pode ser suposta constante durante a reação, já que sua variação é desprezı́vel
nas condições em que o problema se realiza, chamamos A esta concentração, a a da sacarose
antes de iniciar a reação e x a da sacarose decomposta ao fim do tempo t. A velocidade
com que se verifica a inversão será dada pela derivada da quantidade decomposta em relação
ao tempo; como esta derivada deve ser proporcional às concentrações A da água e a − x da
sacarose que ainda não reagiu, temos:

dx
= k1 A(a − x)
dt
Reescrevendo a EDO acima:
dx
= k(a − x),
dt
donde k = k1 A. Contando o tempo a partir do momento em que se inicia a reação, para
t = 0, devemos ter x = 0; logo, temos o seguinte PVI:

dx
= k(a − x), com x(0) = 0
dt
A EDO é de variáveis separavéis e sua solução, utilizando a condição inicial, nos dá a
quantidade de sacarose decomposta por unidade de volume ao fim do tempo t.
3.5 Exercı́cios diversos 43

Exemplo 3.15 [Reação Bimolecular Irreversı́vel]: Consideremos a reação:

C2 H2 + O2 −→ 2CO + H2 .

Chamando a e b as concentrações iniciais de acetileno e oxigênio e x a quantidade de cada


reagente, expressa tal como as concentrações iniciais, em moléculas/ grama por unidade de
volume, a velocidade da reação é:
dx
= k(a − x)(b − x).
dt

3.5 Exercı́cios diversos


1. Resolva cada uma das seguintes equações diferenciais lineares:
2(3x+1) e−3x

1) y 0 = 3y + 2x R: y = C − 9
e3x
2) y 0 = y + 3 R: y = (C − 3 e ) e −x x

3) y 0 = 2y
x
+ x2 R: y = x2 (x + C)
(2x2 +2x+1) e−2x ) 
4) y 0 = 2y − x2 R: y = 4
+ C e2x
5) y 0 = −y + e2x R: y = e2x
3
+ C
ex
6) y 0 = −y + 2 e−x + x2 R: y = x − 2x + 2 +
2 2x
ex
+ C
ex

7) dy
dx
= ex+y R: y = −ln(− ex − C)
dy 2
8) dx
= 2xy R: y = C ex
dy ex
p
9) dx
= y
R: y = 2( ex + C)
dy x+y
10) dx
= x
R: y = xln(x) + Cx
11) y + 3y = x + e−2x
0
R: y = x
3
− 19 + e−2x + C e−3x
12) y 0 + x2 y = x2 R: y = C
x3
+1
e

3
 
0 e−3x −3sen(2x)−2cos(2x)
13) y − 3y = sen(2x) R: y = e 3x
13
+C

14) y 0 + 2y = x e−2x R: y = x2
2 e2x
+ C
e2x

15) xy 0 + 2y = 4x2 R: y = x4 +C
x2

16) dy
dx
+ cos(x)
sen(x)
y = sen(x) R: y = − sen(2x)−2x−4C
4sen(x)

17) dy
dx
= sen(5x) R: y = C − cos(5x)
5
dy x3
18) dx
= (x + 1)2 R: y = 3
+ x2 + x + C
R: y = C e−x
dy 2
19) dx
+ 2xy = 0
20) dy
dx
= y+1
x
R: y = x(C − x1 )
21) xy 0 = 4y R: y = Cx4
44 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

dy
22) (x + 1) dx =x+6 R: y = 5ln(x + 1) + x + C
dy
23) ex dx = 2x R: y = 2(−x − 1) e−x + C
dy
24) dx
= 5y R: y = C e5x
 
dy −4x e4x
25) 3 dx + 12y = 4 R: y = e 3
+C
 
dy 3x −x e4x
26) dx
+y = e R: y = e 4
+C

27) dy
dx
+ 2y = 0 R: y = C e−2x
dy 3x2 +2C
28) x dx + 2y = 3 R: y = 2x2
dy
29) dx
= y + ex R: y = (x + C) ex
 
3
30) y 0 + 3x2 y = x2 R: y = e −x3 ex
3
+C

31) x2 y 0 + xy = 1 R: y = ln(x)+C
x
 2

0 3 −x2 (x2 −1) ex
32) y + 2xy = x R: y = e 2
+C

4C e2x −2x2 −2x−11


33) y 0 = 2y + x2 + 5 R: y = 4

34) y 0 = y + x R: y = −x − 1 + C ex
C ex −x2 −3x−3
35) (1 + x)y 0 − xy = x + x2 R: y = x+1

2. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais.


 
 1
 y 0 − y = x2  y 0 − 2xy = 6x ex
2

1) x 4)

 
y(1) = 3 y(0) = 1
 2 0 
 t y + ty = 1  y 0 + 3x2 y = 6x2
2) 5)
 
y(1) = 2 y(0) = 3
 
 dy 4 
 dy
 + y = x2 , x ∈ (0, ∞) 
 sen(t) dt + cos(t) = cos(2t)
3) dx x
6)

 

y(1) = 0  π
 y( ) =
1
2 2
3. Resolva o PVI que modela o esvaziamento de um tanque circular considerando r = 0, 5,
k = 0, 0025 e

 dh k p
 = − 2 h(t)
dt πr


h(0) = 2
3.5 Exercı́cios diversos 45

4. Verifique se as seguintes EDO’s de primeira ordem são de variáveis separáveis e, caso


seja, encontre a solução.
1) (2 + y)dx − (3 − x)dy = 0 18) y 0 = (x + y + 1)2
2) xydx − (1 + x2 )dy 19)
dy
=
y
dy e−2y dx y − 2x
3
3) = 2 20) sen(2x)dx + cos(3y)dy = 0
dx x +4
4) (y − y )dx − dy = 0
2
21) xdx + y e−x dy = 0
dy y − 4x dr
5) = 22) =r
dx x−y dθ
6) ex dx − ydy = 0 dy 2x
√ √ 23) =
7) ydx − xdy = 0 dx y + x2 y
dy 2x
8) y 2 dx + (x − 1)dy0 24) =
dx 1 + 2y
9) dx + (x2 − x)dy = 0
25) x ex dx + (y 5 − 1)dy = 0
2

10) (1 − y 2 )dx + (1 − x2 )dy = 0 y


11) (1 − y 2 )dx + x3 dy = 0 26) y 0 = 2
p √ x
12) 1 − y 2 dx + 1 − x2 dy 0 x ex
27) y =
13) (1 + y 2 )dx + (1 + x2 )dy = 0 2y
14) (x + 3)ydx + (6x − x )dy = 0
2 x 2
y−y
28) y 0 =
15) x ey dx − 2(x + 1)2 ydy = 0 y+1
1
16) yln(x)dx − (x + 1)2 dy = 0 29) dx + dy = 0
x
1
30) ex dx − (1 + e−x ) = 0
2
17) xdx + = 0
y
5. Uma cultura de bactérias cresce a uma taxa proporcional à quantidade da substância.
Ao fim de 10 minutos cresceu 3%.
 
ln(3/100)
(a) Determine a constante de proporcionalidade. R: k= 10
 
10ln(2)
(b) Quanto tempo levará a cultura para duplicar? R : t = ln(3/100)

6. Certa substância radioativa decresce a uma taxa proporcional à quantidade presente.


Observa-se que após 1 hora houve uma redução de 10% da quantidade inicial da sub-
stância, determine a meia-vida da substância.
7. Devido a uma maldição rogada por uma tribo vizinha, os membros de uma aldeia são
gradualmente impelidos ao assassinato ou ao suicı́dio. A taxa de variação da popu-

lação é −2 p pessoas por mês, quando o número de pessoas é p. Quando a maldição
foi
 rogada, a população era de 1600. Quando morrerá
 toda a população da aldeia?

Sugestão: dt = −2 p, ou melhor, p− 2 dp = −2dt
dp 1

8. Um tanque com 50 galões de capacidade contém inicialmente 10 galões de água. Adiciona-


se ao tanque uma solução de salmoura com 1kg de sal por galão, à razão de 4 galões
por minuto, enquanto a mistura escoa à razão de 2 galões por minuto. Determine:
46 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem

(a) O
 tempo necessário para que ocorra o transbordamento. 
Sugestão: V (t) = V0 + (Te − Ts )t. Sendo, V (t) = 50, temos t = 20

(b) A
 quantidade de sal
 presente no tanque por ocasião do transbordamento.
R : Q(20) = 48

9. Um tanque com capacidade de 900 litros contém inicialmente 100 litros de água pura.
Entra água com 4 gramas de sal por litro numa taxa de 8 litros por minuto e a mistura
escoa numa taxa de 4 litros por minuto. Determine a quantidade de sal no tanque
quando a solução está para transbordar.

10. Certa industria lança seus dejetos quı́micos em um rio que desagua num lago. Os dejetos
causam irritação na pele quando sua concentração é superior ou igual a 20 partes por
milhão (ppm). Pressionada pelos ecologistas do Green Peace, fazem 30 dias que a
fábrica parou de lançar dejetos, cuja concentração no lago foi estimada em 120 ppm.
Hoje, verificou-se que a concentração de dejetos no lago é de 60 ppm. Supondo-se que
a taxa de variação da concentração de dejetos no lago é proporcional à concentração
presente no lago em cada instante, quanto tempo ainda levará para se poder nadar sem
o perigo de sofrer irritação na pele?

11. Em uma comunidade de 100 pessoas, inicialmente, existe 1 pessoa infectada com um
vı́rus. A velocidade de propagação do vı́rus é proporcional ao número de pessoas in-
fectadas vezes o número de pessoas não infectadas. Após 1 dia, 14 da comunidade está
contaminada. Assim, após 2 dias, quantas pessoas estarão contaminadas?

12. Sabe-se que a população de uma certa comunidade cresce a uma taxa proporcional ao
número de pessoas presentes em qualquer instante. Se a população duplicou em 5 anos,
quando ela triplicará?

13. Suponha que a população da comunidade do problema anterior seja 10000 após 3 anos.
Qual era a população inicial? Qual será a população em 10 anos?

14. O isótopo radioativo de chumbo, Ph 209, decresce a uma taxa proporcional à quantidade
presente em qualquer tempo. Sua meia vida é de 3, 3 horas. Se 1 grama de chumbo
está presente inicialmente, quanto tempo levará para 90% de chumbo desaparecer?

15. Inicialmente havia 100 miligramas de uma substância radioativa presente. Após 6
horas a massa diminui 3%. Se a taxa de decrescimento é proporcional à quantidade de
substância presente em qualquer tempo, determinar a meia vida desta substância.

16. Com relação ao problema anterior, encontre a quantidade remanescente após 24 horas.

17. Um termômetro é retirado de uma sala, em que a temperatura é 70o F, e colocado no


lado fora onde a temperatura é 10o F. Após 0, 5 minuto o termômetro marcava 50o F.
Qual será a temperatura marcada pelo termômetro no instante t = 1 minuto? Quanto
levará para marcar 15o F?
Capı́tulo 4

Independência Linear entre Funções

Antes de continuar nosso estudo das EDO’s, vejamos alguns conceitos que nos ajudará no
decorrer do nosso estudo.
Definição 4.1 [Independência Linear entre Funções]: Dizemos que duas funções f (x) e
g(x) são linearmente dependentes (LD) se existem duas constantes C1 e C2 , com pelo menos
uma delas diferente de zero, tal que

C1 f + C2 g = 0

para qualquer valor de x. Em outras palavras, f (x) e g(x) são linearmente dependentes se
f (x) = Cg(x), onde C é uma constante. Dizemos que as funções f (x) e g(x) são linearmente
independente (LI) se elas não são linearmente dependentes, ou seja, se as constantes C1 e
C2 são ambas iguais a zero.
Exemplo 4.1:

1. As funções 5 e 5x são linearmente dependentes, pois, existem constantes C1 = −5 e


C2 = 1 tais que
−5.x + 1.5x = 0
Observemos que sendo f (x) = 5 e g(x) = 5x, então f (x) = 5g(x).

2. As funções sen(x) e cos(x) são linearmente independentes para x ∈ (0, π). De fato,
supondo que
C1 sen(x) + C2 cos(x) = 0 para todo x ∈ (0, π),
π
então se x = , resulta
2
π π
C1 sen( ) + C2 cos( ) = 0, ou seja, C1 = 0.
2 2
Logo, C2 cos(x) = 0 para todo x ∈ (0, π), o que implica C2 = 0.

Devido à complexidade da definição, podemos usar um teorema, chamado Teorema do


Wronskiano, para identificar se um conjunto de funções é LI ou LD. Mas, antes vejamos a
seguinte definição.
48 Independência Linear entre Funções

Definição 4.2: Sejam f (x) e g(x) funções deriváveis em [a, b]. Definimos o Wronskiano
das funções f (x) e g(x), e denotamos por W [f, g](x), como sendo o seguinte determinante:

f (x) g(x)
W [f, g](x) = 0
f (x) g 0 (x)
Exemplo 4.2: Calcule o Wronskiano das funções sen(x) e cos(x) para x ∈ (0, π).

Solução: Sejam f (x) = sen(x) e g(x) = cos(x). Primeiramente, calculemos as derivadas de


f (x) e g(x), as quais são, respectivamente f 0 (x) = cos(x) e g 0 (x) = −sen(x). Então temos
que o Wronskiano de f e g é dado por

sen(x) cos(x)
W [f, g](x) =
cos(x) −sen(x)

= −sen2 (x) − cos2 (x) = −1

Portanto, W [sen(x), cos(x)](x) = −1.


Teorema 4.0.1 [Teorema do Wronskiano]: Sejam f (x) e g(x) funções deriváveis em
[a, b]. Se o Wronskiano de f (x) e g(x) for diferente de zero para algum x0 ∈ [a, b], então
f (x) e g(x) são linearmente independentes em [a, b]. Por outro lado, se f (x) e g(x) são
linearmente dependentes, então o Wronskiano de f (x) e g(x) é zero para todo x ∈ [a, b].
Dessa forma, pelo Teorema do Wronskiano temos:
• duas funções f (x) e g(x) são linearmente independentes se W [f, g](x) 6= 0 para algum
x0 ∈ [a, b].

• se f (x) e g(x) são linearmente dependentes, então W [f, g](x) = 0 para todo x ∈ [a, b].
Os exemplos a seguir são muito importantes, pois vemos que as funções trigonométricas
e exponenciais são soluções freqüentes de EDO’s lineares de 2a ordem.
Exemplo 4.3:

1. Mostre que as funções sen(x) e cos(x) são linearmente independentes para x ∈ (0, π)
usando o Teorema do Wronskiano.

Solução: Vimos no exemplo 4.2 que W [sen(x), cos(x)](x) = −1 6= 0. Portanto, pelo


Teorema do Wronskiano as funções sen(x) e cos(x) são linearmente independentes para
x ∈ (0, π).

2. As funções ex e e−x são linearmente independentes, pois,


x
e e−x
x −x
W [e , e ](x) = x
e −e−x

= −ex e−x − e−x ex = −2 6= 0


49

Exemplo 4.4: Verifique que condições os números reais a e b devem satisfazer para que as
funções eax e ebx sejam linearmente independentes, para todo x pertencente aos reais.

Solução: Pelo Teorema do Wronskiano, tais funções serão LI se W [eax , ebx ](x) 6= 0 para
algum x0 . ax
e ebx
W [e , e ](x) = ax
ax bx
ae bebx

= bebx eax − aeax ebx

= beax+bx − aeax+bx

= (b − a)e(a+b)x
Assim, se x = 0, então W [eax , ebx ](0) = b − a. Portanto, se a 6= b, então eax e ebx são LI.
Em particular, as funções ex e e−x são LI, como vimos no exemplo anterior. Caso contrário,
ou seja, se a = b, então eax e ebx são LD.
Como podemos perceber claramente, o Wronskiano é utilizado para determinar se um
conjunto de funções deriváveis são linearmente dependentes ou independentes, em um inter-
valo dado. Esse conceito é muito útil em diversas situações, por exemplo, como veremos na
sequência, para verificar se duas funções que são soluções de uma EDO linear de segunda
ordem são linearmente dependentes ou independentes. Porém, não se deixe iludir, um erro
muito comum é falar que duas funções f (x) e g(x) são linearmente dependentes quando
W [f, g](x) = 0. Nesta situação, as funções podem, ou não, ser dependentes. Como vimos an-
teriormente, funções linearmente dependentes, possuem o Wronskiano correspondente igual
a zero, mas o contrário nem sempre é verdadeiro, como podemos ver no próximo exemplo.
Em outras palavras, existem casos em que as funções são linearmente independentes e o
Wronskiano é nulo, em alguns pontos isolados, mas esses casos não aparecem no estudo das
soluções das equações lineares.
Exemplo 4.5: Considere as funções x3 e |x3 | (valor absoluto de x3 ), que pode ser escrita
como:  3
−x , se x < 0
|x | =
3
x3 , se x ≥ 0
Pode-se perceber que essas funções, x3 e |x3 |, são linearmente independentes para qualquer
valor real. Entretanto, seu Wronskiano vale zero:
 3
 x −x3

 3x2 −3x2 = −3x + 3x = 0, if x < 0
5 5


 
W x3 , |x3 | (x) = 3

 x 3

 x
 2 = 3x5 − 3x5 = 0, if x ≥ 0
3x 3x2
Exercı́cios 4.6: Verifique se cada conjunto de funções é ou não linearmente independentes.

1. {e2x , e−2x }
50 Independência Linear entre Funções

2. {x + 1, x − 1}

3. {x2 , x}

4. {2sen2 (x), 1 − cos2 (x)}

5. {x, e2x }

6. {2x2 , x4 }
Capı́tulo 5

Equações Diferenciais Lineares de


Segunda Ordem

Neste capı́tulo iremos estudar exclusivamente as equações diferenciais lineares de segunda


ordem. A forma mais geral de uma EDO linear de segunda ordem é dada por
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = g(x) (5.1)
onde p(x), q(x), r(x) e g(x) são funções contı́nuas.
Se g(x) 6= 0, a equação 5.1 será dita não-homogênea e se g(x) = 0 a equação será dita
homogênea.
Exemplo 5.1: As EDO’s a seguir são ditas não-homogêneas
x2 y 00 + sen(x)y 0 + ex y = u(x) e y 00 − 7y 0 + 12y = cos(x)
Exemplo 5.2: As EDO’s a seguir são ditas homogêneas
x2 y 00 + sen(x)y 0 + ex y = 0 e y 00 − 7y 0 + 12y = 0
Nosso objetivo é determinar uma solução geral da equação 5.1 e mostraremos que tal
solução é da forma
y = yh + yp
onde yh é a solução geral da equação homogênea associada à equação 5.1, ou seja,
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0
e yp é uma solução particular de 5.1, ou seja, qualquer solução da mesma.
Na sequência, com o intuito de tornar o aprendizado (e a leitura) mais fácil, iniciaremos
por estudar as EDO’s lineares de segunda ordem homogênea.

5.1 EDO’s Lineares de 2a Ordem Homogêneas


Primeiramente, vamos apresentar alguns conceitos básicos e um fato muito importante que
será usado praticamente em todo problema daqui por diante. Apesar do teorema a seguir
ser enunciado para EDO’s de 2a ordem, vale ressaltar que tal fato é verdadeiro para qualquer
EDO linear homogênea independentemente da ordem.
52 Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem

Teorema 5.1.1 [Princı́pio de Superposição]: Consideremos a EDO linear homogênea de


segunda ordem
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0 (5.2)
Se y1 e y2 são ambas soluções de 5.2 e c1 e c2 são quaisquer constantes, então a função

y(x) = c1 y1 + c2 y2 (5.3)

também é uma solução de 5.2.


Demonstração: Desde que y1 e y2 são ambas soluções de 5.2, temos que

p(x)y100 + q(x)y10 + r(x)y1 = 0

e
p(x)y200 + q(x)y20 + r(x)y2 = 0
Portanto, substituindo c1 y1 + c2 y2 em 5.2 e usando as regras básicas de derivação obtemos:
 00  0  
p(x) c1 y1 + c2 y2 + q(x) c1 y1 + c2 y2 + r(x) c1 y1 + c2 y2 =

     
00 00 0 0
p(x) c1 y1 + c2 y2 + q(x) c1 y1 + c2 y2 + r(x) c1 y1 + c2 y2 =

   
c1 p(x)y100 + q(x)y10 + r(x)y1 + c2 p(x)y200 + q(x)y20 + r(x)y2 =

c1 .0 + c2 .0 = 0
Assim, y = c1 y1 + c2 y2 é uma solução de 5.2.

A pergunta que surge naturalmente é: Como encontrar as constantes c1 e c2 ?

Uma vez que temos duas constantes, faz sentido esperar que precisamos de duas equações,
ou condições, para encontrá-las. Uma maneira de fazer isto é especificar valores da solução,
os quais são chamados de valores de contorno, em dois pontos distintos, ou seja,

y(x0 ) = y0 e y(x1 ) = y1

Uma outra forma de encontrar tais constantes é especificar valores para a solução e sua
derivada em um ponto particular, ou melhor,

y(x0 ) = y0 e y 0 (x0 ) = y1

Estas duas condições são chamadas de condições iniciais e, como veremos, uma EDO linear
de 2a ordem com duas condições iniciais possui uma única solução. O número de condições
iniciais que são requeridas para uma dada equação diferencial depende da ordem da equação
diferencial. No entanto, a princı́pio, estaremos preocupados em encontrar apenas a solução
5.1 EDO’s Lineares de 2a Ordem Homogêneas 53

geral da equação diferencial, ou seja, a “forma mais geral” que a solução pode ter sem con-
siderar as condições iniciais.

Uma outra pergunta que surge naturalmente é: Se y1 e y2 são duas soluções de p(x)y 00 +
q(x)y 0 + r(x)y = 0, podemos afirmar que toda solução de tal equação é da forma c1 y1 + c2 y2 ?

Antes de responder esta pergunta vamos apresentar a seguinte definição:


Definição 5.1 [Conjunto Fundamental de Soluções]: Se y1 e y2 são soluções linear-
mente independentes de p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0 com p(x) 6= 0, então as soluções y1 e y2
são chamadas de Conjunto Fundamental de Soluções.
De outra forma, dizemos que y1 e y2 formam um Conjunto Fundamental de Soluções, se
y1 e y2 são soluções de p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0 e W [y1 , y2 ](x) 6= 0.
A resposta da última pergunta vem através do seguinte teorema:
Teorema 5.1.2: Sejam y1 e y2 soluções linearmente independentes da EDO
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0
Se Y é uma solução da EDO, então existem constantes c1 e c2 tais que
Y = c1 y1 + c2 y2
Este último teorema é muito útil, pois, ele nós diz que se conhecemos duas soluções
particulares linearmente independentes, então conhecemos todas as soluções. Em outras
palavras, se y1 e y2 são duas soluções para uma EDO linear homogênea de 2a ordem
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0
e tais soluções são linearmente independentes, então a solução geral da EDO é dada por
y(x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x).
A demonstração do Teorema 5.1.2, a qual não apresentaremos aqui, é obtida através do
seguinte resultado, que também não demonstraremos.
Teorema 5.1.3: Suponha que y1 e y2 são duas soluções de
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0
Então, y1 e y2 são linearmente independentes se, e somente se,
W (y1 , y2 )(x0 ) 6= 0
para algum x0 .
Exemplo 5.3: Sejam y1 = ex e y2 = e−x . Verifique que estas funções são soluções da EDO
homogênea
y 00 − y = 0
e determine sua solução geral.
54 Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem

Solução: Vamos então verificar se y1 e y2 são soluções da EDO dada, ou seja, vamos verificar
se:

y100 − y1 = 0 e y200 − y2 = 0
Sendo assim temos
(ex )00 − ex = ex − ex = 0 e (e−x )00 − e−x = ex − ex = 0
ou seja, y1 e y2 são duas soluções da EDO dada. Agora, para construir a solução geral,
precisamos de um conjunto fundamental de soluções, ou seja, precisamos verficar se y1 e y2
são LI. Mas como vimos no Exemplo 4.3 tais funções são LI e, portanto, a solução geral da
EDO y 00 − y = 0 é dada por
y = c1 ex + c2 e−x

5.2 EDO’s Lineares de 2a Ordem Não-Homogêneas


Agora vamos pensar um pouco sobre como resolver uma equação diferencial de segunda ordem
não homogênea, ou seja, como resolver a EDO
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = g(x) (5.4)
com p(x) 6= 0 e g(x) 6= 0.
Iniciamos apresentando o seguinte resultado, cuja demonstração é trivial.
Lema 5.2.1: Suponha que Y1 e Y2 são duas soluções da equação 5.4. Então a função Y1 − Y2
é uma solução da equação homegênea

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0 (5.5)


associada à equação 5.4.
Então, qual é a utilidade deste lema para nós? Podemos usar este lema para obter a
forma da solução geral da equação diferencial 5.4, ou seja, podemos demonstrar o teorema
que segue com o auxilio lema anterior.
Teorema 5.2.2: Seja y1 e y2 um conjunto fundamental de soluções da equação 5.5 e yp uma
solução particular de 5.4. Então a solução geral de 5.4 é dada por
y(x) = yh (x) + yp (x)
onde
yh (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x)
Demonstração: Seja yp uma solução particular de 5.4. Sendo y a solução geral de 5.4,
temos pelo lema anterior que y − yp é uma solução de 5.5, e pelo Teorema 5.1.2 vem que
y − yp = yh
y = yh + yp
Capı́tulo 6

EDO’s de 2a Ordem Homogêneas de


Coeficientes Constantes

Como vimos na capı́tulo anterior para resolver uma EDO linear de 2a order não homogênea,
primeiro precisamos resolver a EDO linear de 2a order homogênea associada. No entanto, em
geral, não é tão fácil descobrir soluções para uma EDO linear de 2a ordem homogênea geral.
Mas é sempre possı́vel fazê-lo se os coeficientes p(x), q(x) e r(x) são funções constantes, ou
seja, se a equação diferencial possui a forma
ay 00 + by 0 + cy = 0 (6.1)
onde a, b e c são constantes e a 6= 0.
Talvez não seja difı́cil pensar em alguma solução da equação 6.1 se escrevermos a equação
“verbalmente”:
Nós estamos procurando uma função y tal que uma constante vezes sua segunda derivada
y 00 mais uma outra constante vezes y 0 mais uma terceira constante vezes y seja igual a 0.
Nós sabemos que a função exponencial y = eλx (onde λ é uma constante) possui a
propriedade que sua derivada é uma constante vezes ela mesma: y 0 = λeλx . Além disso,
y 00 = λ2 eλx .
Assim, vamos assumir que todas as soluções de 6.1 serão da forma
y = eλx
Para ver se realmente estamos corretos, basta substituir y = eλx na equação 6.1 e ver o que
acontece. Sabemos que y 0 = λeλx e y 00 = λ2 eλx . Portanto,
ay 00 + by 0 + cy = aλ2 eλx + bλeλx + ceλx
= eλx (aλ2 + bλ + c)
Dessa forma, para que y = eλx seja uma solução da equação 6.1, devemos ter que
eλx (aλ2 + bλ + c) = 0
Como a função exponencial é sempre diferente de zero, então devemos ter
aλ2 + bλ + c = 0
56 EDO’s de 2a Ordem Homogêneas de Coeficientes Constantes

Esta última equação é chamada de Equação caracterı́stica.


Tudo bem, como usar tudo isso para encontrar as soluções da equação ay 00 + by 0 + cy = 0?
Primeiro escrevemos a equação caracterı́stica associada à equação diferencial

ay 00 + by 0 + cy = 0

Note que ela é uma equação de segundo grau que é obtida da equação diferencial, substituindo

y 00 por λ2 , y 0 por λ e y por 1

ou seja, a equação caracterı́stica é dada por

aλ2 + bλ + c = 0

a qual possui duas raı́zes,


λ1 e λ2

Uma vez que temos estas duas raı́zes, temos duas soluções para a equação diferencial, a
saber
y1 = eλ1 x e y2 = eλ2 x

Observemos que quando os valores de a, b e c são reais, existem três possibilidades para
as raı́zes λ1 e λ2 : reais e distintas ou reais e iguais ou complexas conjugadas. Na sequência,
vamos estudar detalhadamente cada caso, os quais nos fornecerão um conjunto de soluções
fundamental para gerar a solução geral da equação

ay 00 + by 0 + cy = 0.

6.1 Encontrando a Solução Geral de ay 00 + by 0 + cy = 0


Iniciamos com a EDO linear de 2a ordem homogênea de coeficientes constantes,

ay 00 + by 0 + cy = 0

em seguinda encontramos a equação caracterı́stica associada

aλ2 + bλ + c = 0

Resolvendo a equação caracterı́stica (equação do segundo grau) obtemos duas raı́zes λ1 e λ2 .


Esta raı́zes nos dão duas soluções

y1 = eλ1 x e y2 = eλ2 x

Vamos então analizar os possı́veis casos:


6.1 Encontrando a Solução Geral de ay 00 + by 0 + cy = 0 57

6.1.1 Raı́zes reais e distintas


Se as duas raı́zes são reais e distintas, ou seja, λ1 6= λ2 , então as soluções

y1 = eλ1 x e y2 = eλ2 x

são linearmente independentes (Verifique!) e a solução geral é dada por

y(x) = c1 eλ1 x + c2 eλ2 x

Resumo: Se as raı́zes da equação

aλ2 + bλ + c = 0

são reais e distintas, ou seja, λ1 6= λ2 , então a solução geral de

ay 00 + by 0 + cy = 0

é dada por
y(x) = c1 eλ1 x + c2 eλ2 x

Exemplo 6.1: Encontre a solução geral da equação y 00 + 11y 0 + 24y = 0.

Solução: A equação caracterı́stica associada à equação y 00 + 11y 0 + 24y = 0 é dada por

λ2 + 11λ + 24 = 0

cujas raı́zes são λ1 = −8 e λ2 = −3. Portanto, as raı́zes são reais e distintas e, consequente-
mente, a solução geral da equação diferencial é dada por

y(x) = c1 e−8x + c2 e−3x

6.1.2 Raı́zes reais e iguais


Finalmente, vamos supor que as raı́zes λ1 e λ2 são iguais, ou seja, λ1 = λ2 = λ. Nós sabemos
que as soluções são
y1 = eλ1 x = eλx e y2 = eλ2 x = eλx
Contudo, estas soluções NÃO são LI e, portanto, não podem gerar a solução geral.
Para resolver este problema podemos considerar a primeira solução como sendo

y1 = eλx

e nos colocamos a encontrar uma segunda solução y2 . Vamos supor que

y2 = xeλx
58 EDO’s de 2a Ordem Homogêneas de Coeficientes Constantes

Afirmamos que tal função é uma solução para

ay 00 + by 0 + cy = 0

De fato,
  
ay200 + by20 + cy2 = a 2λeλx + λ2 xeλx + b eλx + λxeλx + c xeλx
 
= 2aλ + b xeλx + aλ2 + bλ + c xeλx

= 0.xeλx + 0.xeλx

= 0

O primeiro termo é 0 pois, λ = − 2a b


e, consequentemente, 2aλ + b = 0. Já o segundo
termo é 0, pois, λ é raiz da equação caracterı́stica. Portanto, uma vez que

y1 = eλx e y2 = xeλx

são soluções LI (Verifique!), a solução geral é dada por

y(x) = c1 eλx + c2 xeλx

Resumo: Se as raı́zes da equação

aλ2 + bλ + c = 0

são reais e iguais, digamos, λ1 = λ2 = λ, então a solução geral de

ay 00 + by 0 + cy = 0

é dada por
y(x) = c1 eλx + c2 xeλx .
Exemplo 6.2: Encontre a solução geral da equação y 00 − 4y 0 + 4y = 0.

Solução: A equação caracterı́stica associada à equação y 00 − 4y 0 + 4y = 0 é dada por

λ2 − 4λ + 4 = 0

cujas raı́zes são λ1 = λ2 = 2. Portanto, as raı́zes são reais e iguais e, consequentemente, a


solução geral da equação diferencial é dada por

y(x) = c1 e2x + c2 xe2x


6.1 Encontrando a Solução Geral de ay 00 + by 0 + cy = 0 59

6.1.3 Raı́zes complexas conjugadas


Agora, suponhamos que as raı́zes λ1 e λ2 sejam raı́zes complexas conjugadas, ou seja,

λ1 = α + iβ e λ2 = α − iβ

onde α e β são números reais. Logo, obtemos as soluções LI (Verifique!)

y1 = e(α+iβ)x e y2 = e(α−iβ)x

Para uma melhor apresentação da solução geral vamos nos valer da Fórmula de Euler:

eiθ = cos(θ) + isen(θ)

Precisamos ainda de uma variante da Fórmula de Euler:

e−iθ = cos(θ) − isen(θ)

Então, podemos reescrever

y1 = e(α+iβ)x e y2 = e(α−iβ)x

da seguinte forma
y1 = eαx ei(βx) e y2 = eα e−i(βx)
Agora, usando a Fórmula de Euler e sua variante obtemos

y1 = eαx (cos(βx) + isen(βx)) e y2 = eα (cos(βx) − isen(βx))

Portanto, a solução geral é dada por


y = C1 eαx (cos(βx) + isen(βx)) + C2 eα (cos(βx) − isen(βx))
 
= e (C1 + C2 )cos(βx) + i(C1 − C2 )sen(βx)
αx

 
αx
= e c1 cos(βx) + c2 sen(βx)

onde c1 = C1 + C2 e c2 = i(C1 − C2 ).

Resumo: Se as raı́zes da equação

aλ2 + bλ + c = 0

são complexas, digamos, λ1 = α + iβ e λ2 = α − iβ, então a solução geral de

ay 00 + by 0 + cy = 0

é dada por  
αx
y=e c1 cos(βx) + c2 sen(βx)
60 EDO’s de 2a Ordem Homogêneas de Coeficientes Constantes

Exemplo 6.3: Encontre a solução geral da equação diferencial y 00 − 4y 0 + 9y = 0.

Solução: A equação caracterı́stica associada à equação y 00 − 4y 0 + 9y = 0 é dada por

λ2 − 4λ + 9 = 0
√ √
cujas raı́zes são λ1 = 2 + i 5 e λ2 = 2 − i 5. Como as raı́zes são complexas a solução geral
da equação diferencial é dada por
 
2x
√ √
y=e c1 cos( 5x) + c2 sen( 5x)

6.2 PVI - Problemas de Valor Inicial


Um problema de valor inicial (PVI) consiste em uma equação diferencial, juntamente com
condições iniciais relativas à função incógnita e suas derivadas, tudo dado para um mesmo
valor da variável independente.
Uma solução de um PVI é uma função y(x) que satisfaz não só a equação diferencial
dada, mas também todas as condições iniciais.

Exemplo 6.4: Determine uma solução do problema de valor inicial y 00 + 11y 0 + 24y = 0, com
y(0) = 0 e y 0 (0) = −7.

Solução: Pelo exemplo 6.1, sabemos que a solução geral da EDO y 00 + 11y 0 + 24y = 0, é
dada por
y(x) = c1 e−8x + c2 e−3x
e sua derivada é dada por
y 0 (x) = −8c1 e−8x − 3c2 e−3x
Dessa forma temos que y(0) e y 0 (0) são dados por

y(0) = c1 e0 + c2 e0 = c1 + c2
y 0 (0) = −8c1 e0 − 3c2 e0 = −8c1 − 3c2

Agora, aplicando as condições iniciais y(0) = 0 e y 0 (0) = −7 temos o seguinte sistema

c1 + c2 = 0
−8c1 − 3c2 = −8

7 7
Resolvendo este sistema obtemos c1 = e c2 = − e, consequentemente, a solução do
5 5
PVI é dada por
7 7
y(x) = e−8x − e−3x .
5 5
6.2 PVI - Problemas de Valor Inicial 61

Exemplo 6.5: Determine uma solução do problema de valor inicial y 00 − 4y 0 + 4y = 0, com


y(0) = 12 e y 0 (0) = −3.

Solução: Pelo exemplo 6.2, sabemos que a solução geral da EDO y 00 − 4y 0 + 4y = 0, é dada
por
y(x) = c1 e2x + c2 xe2x
e sua derivada é dada por

y 0 (x) = 2c1 e2x + c2 e2x + 2c2 xe2x

Dessa forma temos que y(0) e y 0 (0) são dados por

y(0) = c1 e0 + c2 .0.e0 = c1
y 0 (0) = 2c1 e0 + c2 e0 + 2c2 .0.e0 = 2c1 + c2

Agora, aplicando as condições iniciais y(0) = 12 e y 0 (0) = −3 temos o seguinte sistema

c1 = 12
2c1 + c2 = −3

Resolvendo este sistema obtemos c1 = 12 e c2 = −27 e, consequentemente, a solução do


PVI é dada por
y(x) = 12e2x − 27xe2x
Exemplo 6.6: Determine uma solução do problema de valor inicial y 00 +4y = 0, com y(0) = 0
e y 0 (0) = 1.

Solução: Sabemos, seção 6.1, que a solução da EDO y 00 + 4y = 0 é dada por

y(x) = c1 sen(2x) + c2 cos(2x)

e consequentemente,
y 0 (x) = 2c1 cos(2x) − 2c2 sen(2x)
Como y(x) é uma solução da EDO para quaisquer valores de c1 e c2 , devemos procurar
os valores de c1 e c2 que também satisfaçam as condições inicias dadas, ou seja, y(0) = 0 e
y 0 (0) = 1. Note que
y(0) = c1 sen(0) + c2 cos(0)
Uma vez que sen(0) = 0, cos(0) = 1 e y(0) = 0 temos que c2 = 0. Além disso,

y 0 (0) = 2c1 cos(0) − 2c2 sen(0)


1
Donde concluimos, sabendo que y 0 (0) = 1, que c1 = . Substituindo os valores de c1 e c2 em
2
y(x), obetmos a solução do problema de valor inicial dado
1
y(x) = sen(2x).
2
62 EDO’s de 2a Ordem Homogêneas de Coeficientes Constantes

Exemplo 6.7: Determine uma solução do problema de valor inicial y 00 − 4y 0 + 9y = 0, com


y(0) = 0 e y 0 (0) = −8.

Solução: Sabemos, pelo exemplo 6.3, que a solução da EDO y 00 − 4y 0 + 9y = 0 é dada por
 
2x
√ √
y(x) = e c1 cos( 5x) + c2 sen( 5x)

Agora, note que neste caso, não calculamos a derivada de y(x) diretamente como nos
últimos exemplos. A razão para isto é simples. Embora a derivação não seja terrivelmente
difı́cil, ela pode ficar um pouco confusa. Assim, em primeiro lugar, vamos olhar para as
condições iniciais. Podemos ver a primeira condição nos dá o seguinte:
 
0
y(0) = e c1 cos(0) + c2 sen(0)

ou seja, como e0 = 1 e y(0) = 0 temos que c1 = 0.


Em outras palavras, o primeiro termo de y(x) irá desaparecer, ou seja,

y(x) = c2 e2x sen( 5x)

Agora, claramente, vemos que esta última expressão de y(x) é melhor de derivar do que a
original, e sua derivada é dada por
√ √ √
y 0 (x) = 2c2 e2x sen( 5x) + 5c2 e2x cos( 5x)

Por fim, aplicando a segunda condição inicial, ou seja, y 0 (0) = −8 obtemos



y 0 (0) = 2c2 e0 sen(0) + 5c2 e0 cos(0)
8
o que nos leva a c2 = − √ e, consequentemente a solução do PVI é dada por
5
8 √
y(x) = − √ e2x sen( 5x).
5

6.3 Exercı́cios
a) Encontre a solução geral das seguintes equações diferenciais.

1) y 00 + 4y = 0
2) y 00 − 2y 0 − 2y = 0
3) 2y 00 + 2y 0 + 3y = 0
4) y 00 − 2y 0 + 2y = 0
5) 4y 00 + y 0 = 0
6) y 00 − 36y = 0
6.3 Exercı́cios 63

7) y 00 + 9y = 0
8) 3y 00 + y = 0
9) y 00 + 5y 0 = 0
10) y 00 − y 0 − 6y = 0
11) y 00 + 3y 0 − 5y = 0
12) 12y 00 − 5y 0 − 2y = 0
13) 3y 00 + 2y 0 + y = 0
14) y 00 − 4y 0 + 5y = 0
15) 2y 00 − 3y 0 + 4y = 0
16) 2y 00 + 2y 0 + y = 0
17) 2y 00 − 5y 0 = 0
18) y 00 − 8y = 0
19) y 00 − 25y = 0
20) 9y 00 − 12y 0 + 4y = 0
21) 6y 00 + y 0 − y = 0
22) y 00 − y 0 − 2y = 0
23) y 00 − 7y 0 = 0
24) y 00 − 5y = 0
25) y 00 + 4y 0 + 5y = 0
26) y 00 + 4y = 0
27) y 00 − 3y 0 + 4y = 0
28) y 00 + 4y 0 + 4y = 0
29) y 00 = 0
30) y 00 − y = 0
31) y 00 − y 0 − 30y = 0
32) y 00 − 2y 0 + y = 0
33) y 00 + y = 0
34) y 00 + 2y 0 + 2y = 0
35) y 00 − 7y = 0
36) y 00 + 6y 0 + 9y = 0
37) y 00 + 2y 0 + 3y = 0
38) y 00 − 3y 0 − 5y = 0
39) y 00 + y 0 + 14 y = 0
40) 2y 00 − 5y 0 − 3y = 0
64 EDO’s de 2a Ordem Homogêneas de Coeficientes Constantes

41) −10y 00 + 25y = 0


42) y 00 − 4y 0 + 13y = 0
43) y 00 − 8y 0 + 17y = 0
44) 4y 00 − 4y 0 − 3y = 0
45) y 00 − 10y 0 + 25y = 0

b) Resolva os seguintes problemas de valor inicial.

1) y 00 − y 0 − 2y = 0, y(0) = 2, y 0 (0) = 1
2) y 00 + y = 0, y(2) = 0, y 0 (2) = 0
3) y 00 + 16y = 0, y(0) = 2, y 0 (0) = 2
4) y 00 + 6y 0 + 5y = 0, y(0) = 0, y 0 (0) = 3
5) y 00 − 8y 0 + 17y = 0, y(0) = 4, y 0 (0) = −1
6) y 00 − y = 0, y(0) = 1, y 0 (0) = 1
7) 2y 00 − 2y 0 + y = 0, y(0) = −1, y 0 (0) = 0
8) y 00 − 2y 0 + y = 0, y(0) = 5, y 0 (0) = 10
9) y 00 + y 0 + 2y = 0, y(0) = 0, y 0 (0) = 0
10) y 00 − 3y 0 + 2y = 0, y(1) = 0, y 0 (1) = 1
π π
11) y 00 + y = 0, y( ) = 0, y0( ) = 2
3 3
00 0
12) y − 4y + 9y = 0, y(0) = 0, y 0 (0) = −8
13) y 00 − 8y 0 + 17y = 0, y(0) = −4, y 0 (0) = −1
14) 4y 00 + 24y 0 + 37y = 0, y(π) = 1, y 0 (π) = 0
π π
15) y 00 + 16y = 0, y( ) = −10, y0( ) = 3
2 2
00 0 0
16) y + 3y − 10y = 0, y(0) = 4, y (0) = 2
17) 3y 00 + 2y 0 − 8y = 0, y(0) = −6, y 0 (0) = −18
18) 4y 00 − 5y 0 = 0, y(−2) = 0, y 0 (−2) = 7
9
19) 16y 00 − 40y 0 + 25y = 0, y(0) = 3, y 0 (0) = −
4
20) y 00 + 14y 0 + 49y = 0, y(−4) = −1, 0
y (−4) = 5
Capı́tulo 7

Método de Variação dos Parâmetros

A variação dos parâmetros é um método para determinar uma solução particular de qualquer
equação diferencial linear de ordem n, desde que se conheça a solução da EDO homogênea as-
sociada. Apesar do método de variação dos parâmetros ser um método mais geral e que pode
ser aplicado em uma extensa variedade de casos, ele possui duas desvantagens: a primeira
é que a solução da equação homogênea associada é absolutamente requerida para resolver o
problema. A segunda, como veremos, para completar o método devemos resolver um par de
integrais e não há garantia de que podemos resolver tais integrais. É sugerido que nos casos
de impossibilidade prática de resolver tais integrais, deve-se recorrer a outros métodos, em
particular, métodos númericos os quais não serão tratados aqui.
Sendo assim, seja
yh = c1 y1 (x) + c2 y2 (x)
a solução geral do problema homogêneo

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0

e tentemos encontrar uma solução particular da EDO não homogênea

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x) (7.1)

que possua a forma


yp = u1 (x)y1 (x) + u2 (x)y2 (x)
Se desejamos que yp seja uma solução particular de 7.1 devemos ter

yp00 + p(x)yp0 + q(x)yp = g(x)

Vamos então calcular a derivada de yp que é

yp0 = u01 y1 + u1 y10 + u02 y2 + u2 y20 = (u1 y10 + u2 y20 ) + (u01 y1 + u02 y2 )

Desde que estamos buscando determinar duas funções desconhecidas, a saber, u1 e u2 , é


de se esperar que precisamos de duas equações envolvendo tais funções. Podemos obter uma
equação impondo que as funções u1 e u2 satisfazem a seguinte condição

u01 y1 + u02 y2 = 0
66 Método de Variação dos Parâmetros

Esta condição permite simplificar de forma considerável a expressão yp0 . Deste modo temos

yp0 = u1 y10 + u2 y20

e
yp00 = u01 y10 + u1 y100 + u02 y20 + u2 y200
Substituindo yp , yp0 e yp00 em 7.1 vem que

(u01 y10 + u1 y100 + u02 y20 + u2 y200 ) + p(x)(u1 y10 + u2 y20 ) + q(x)(u1 y1 + u2 y2 ) = g(x)

Simplicando obtemos

u01 y10 + u02 y20 + u1 (y100 + p(x)y10 + q(x)y1 ) + u2 (y200 + p(x)y20 + q(x)y2 ) = g(x)

Como ambas y1 e y2 são soluções da equação homogênea associada à 7.1 temos que y100 +
p(x)y10 + q(x)y1 = 0 e y200 + p(x)y20 + q(x)y2 = 0, ou seja,

u01 y10 + u02 y20 = g(x)

Portanto, para determinar u1 e u2 devemos resolver o seguinte sistema

u01 y1 + u02 y2 = 0 (7.2)


u01 y10 + u02 y20 = g(x) (7.3)

Observe que no sistema anterior conhecemos que são as soluções y1 e y2 e, portanto,


devemos determinar que são u01 e u02 . O sistema apresentado é de simples solução. De fato,
isolando u01 em 7.2 obtemos
u0 y 2
u01 = − 2 (7.4)
y1
Agora substituindo 7.4 na equação 7.3 obtemos após algumas simplificações que

y1 g(x)
u02 = (7.5)
y1 y20 − y2 y10
Logo, substituindo 7.5 em 7.4 vem que

y2 g(x)
u01 = −
y1 y20 − y2 y10

Lembrem-se que y1 e y2 formam um conjunto fundamental de soluções e, portanto, são


LI, ou seja,
W [y1 , y2 ](x) = y1 y20 − y2 y10 6= 0
Assim, podemos reescrever u01 e u02 como

y2 g(x)
u01 = −
W [y1 , y2 ](x)
67

y1 g(x)
u02 =
W [y1 , y2 ](x)
Finalmente, integrando u01 e u02 obtermos u1 e u2 , ou seja,
Z
y2 g(x)
u1 = − dx (7.6)
W [y1 , y2 ](x)
Z
y1 g(x)
u2 = dx (7.7)
W [y1 , y2 ](x)
Obviamente, não encorajamos os leitores a decorarem as fórmulas 7.6 e 7.7, mas sim, a
compreender bem o procedimento. No entanto, o método apresentado pode se tornar um
tanto quanto longo e complicado para se aplicar a cada equação diferencial que desejamos
resolver. Dessa forma, o mais conveniente é usar as fórmulas 7.6 e 7.7. Para uma melhor
compreensão vamos resumir o supracitado como segue:

Resumo: Para resolver a equação diferencial linear não homogênea

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x)

Primeiro encontramos um conjunto y1 (x) e y2 (x) de soluções fundamentais da equação ho-


mogênea associada
y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0
ou seja, encontramos a solução
yh = c1 y1 + c2 y2
Em seguida, calculamos o Wronskiano de y1 e y2

W [y1 , y2 ](x)

Na sequência determinamos u1 e u2 usando as fórmulas 7.6 e 7.7, ou seja,


Z
y2 g(x)
u1 = − dx
W [y1 , y2 ](x)
Z
y1 g(x)
u2 = dx
W [y1 , y2 ](x)
Dessa forma, encontramos uma solução particular para a equação diferencial não ho-
mogênea dada por
y p = u1 y 1 + u2 y 2
Por fim, obtemos a solução geral da equação diferencial, que é dada por

y = yh + yp

Exemplo 7.1: Resolva a seguinte equação diferencial

y 00 − 3y 0 + 2y = ex sen(x)
68 Método de Variação dos Parâmetros

Solução: Primeiramente encontramos a solução da EDO homogênea associada

y 00 − 3y 0 + 2y = 0

cujo polinômio associado é


λ2 − 3λ + 2 = 0
A última equação possui raı́zes reais e distintas dadas por λ1 = 1 e λ2 = 2. Logo, a solução
yh é dada por
yh = c1 ex + c2 e2x
Agora o próximo passo é encontrar uma solução particular yp . Para isto calculamos o
Wronskiano
x
e e2x
x 2x
W [e , e ](x) = x = 2ex e2x − ex e2x = e3x
e 2e2x
Sendo assim temos que u1 e u2 são dados por
Z 2x x Z
e e sen(x)
u1 = − dx = − sen(x)dx = cos(x)
e3x
Z Z  
ex ex sen(x) −x e−x
u2 = dx = e sen(x)dx = − cos(x) + sen(x)
e3x 2
Logo,

yp = u1 y1 + u2 y2  
e−x
= cos(x)e − x
cos(x) + sen(x) e2x
 2 
x
= 2 cos(x) − sen(x)
e

Portanto, a solução geral é dada por y = yh + yp , ou seja,


 
ex
x 2x
y(x) = c1 e + c2 e + cos(x) − sen(x)
2
Exemplo 7.2: Resolva a equação diferencial
1 π
y 00 + y = , 0<x<
cos(x) 2

Solução: Primeiramente encontramos a solução da EDO homogênea associada

y 00 + y = 0

cujo polinômio associado é


λ2 + 1 = 0
69

A última equação possui raı́zes complexas conjugadas dadas por λ1 = i e λ2 = −i. Logo, a
solução yh é dada por
yh = c1 cos(x) + c2 sen(x)
Agora o próximo passo é encontrar uma solução particular yp . Para isto calculamos o
Wronskiano


sen(x) cos(x)
W [e , e ](x) =
x 2x = −sen2 (x) − cos2 (x) = −(sen2 (x) + cos2 (x)) = −1

cos(x) −sen(x)
Sendo assim temos que u1 e u2 são dados por
Z Z
1
u1 = − −cos(x) dx = 1dx = x
cos(x)
Z Z
1 sen(x)
u2 = −sen(x) dx = − dx = ln(cos(x))
cos(x) cos(x)
Logo,

yp = u1 y1 + u2 y2
= xsen(x) + cos(x)ln(cos(x))
Portanto, a solução geral é dada por y = yh + yp , ou seja,

y(x) = c1 cos(x) + c2 sen(x) + xsen(x) + cos(x)ln(cos(x))


Exercı́cios 7.3: a) Resolva as seguintes equações diferenciais

1. y 00 − 4y 0 + 4y = (x + 1)e2x
2. y 00 − y = 1
x
3. y 00 + y = sen(x)
4. y 00 + y = cos2 (x)
5. y 00 + y = tg(x)
6. y 00 + y = sec(x)tg(x)
7. y 00 + y = sec2 (x)
e2x
8. y 00 − 4y =
x
9x
9. y 00 − 9y = 3x
e
1
10. y 00 + 3y 0 + 2y =
1 + ex
ex
11. y 00 − 2y 0 + y =
1 + x2
e3x
12. y 00 − 3y 0 + 2y =
1 + ex
70 Método de Variação dos Parâmetros

ex
13. y 00 − 2y 0 + 2y =
cos(x)
14. y 00 + 2y 0 + y = e−x ln(x)
e−10x
15. y 00 + 10y 0 + 25y =
x2
ex
16. y 00 − 2y 0 + y =
x
00 0
17. y − y − 2y = e3x
18. y 00 + 4y = sen2 (2x)
ex
19. y 00 − 2y 0 + y = 5
x
b) Resolva as seguintes equações diferenciais sujeitas às condições iniciais y(0) = 1 e y 0 (0) = 0.

1. 4y 00 − y = xe 2
x

2. 2y 00 + y 0 − y = x + 1
3. y 00 + 2y 0 − 8y = 2e−2x − e−x
4. 2y 00 + y 0 − y = x + 1
5. y 00 − 4y 0 + 4y = (12x2 − 6x)e2x

c) Resolva os seguintes problemas de valores iniciais.

1. y 00 − y 0 − 2y = 4x2 , y(0) = 1 e y 0 (0) = 4


ex
2. y 00 − 2y 0 + y = , y(1) = 0 e y 0 (1) = 1
x
00 0
3. y + 4y + 8y = sen(x), y(0) = 1 e y 0 (0) = 0
4. y 00 − y 0 − 2y = e3x , y(0) = 1 e y 0 (0) = 2
5. y 00 − y 0 − 2y = e3x , y(0) = 2 e y 0 (0) = 1
6. y 00 − y 0 − 2y = 0, y(0) = 2 e y 0 (0) = 1
7. y 00 − y 0 − 2y = e3x , y(1) = 2 e y 0 (1) = 1
8. y 00 + y = x, y(1) = 0 e y 0 (1) = 1
9. y 00 + 4y = sen2 (2x), y(π) = 0 e y 0 (π) = 0
Capı́tulo 8

Método de Redução de Ordem

Neste capı́tulo vamos apresentar um breve estudo sobre as equações diferenciais de segunda
ordem com coeficientes não constantes homogêneas, ou seja,

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0

Em geral, encontrar soluções deste tipo de equação não é uma tarefa fácil, em outras
palavras, este trabalho pode ser uma tarefa muito mais difı́cil do que encontrar soluções
de equações diferenciais com coeficientes constantes. Entretanto, se nós conhecemos uma
solução para a equação diferencial podemos encontrar uma segunda solução para a equação
diferencial que seja linearmente independentes com a primeira. Este método é chamado de
Redução de Ordem.
Como já citamos o método de redução de ordem requer que uma solução já seja conhecida.
Sem conhecer uma solução não somos capazes de fazer a redução de ordem. Para uma melhor
compreensão do método, vamos ver um exemplo para ver como isto funciona.
Exemplo 8.1: Encontre a solução geral da equação

2x2 y 00 + xy 0 − 3y = 0 (8.1)

sabendo que uma solução da equação é

y1 (x) = x−1

Solução: Uma vez que conhecemos uma solução y1 para a equação, iremos assumir que uma
segunda solução y2 possui a forma

y2 = u(x)y1 (x)

para alguma escolha da função não constante u(x), ou seja, vamos assumir que

y2 = x−1 u(x)
72 Método de Redução de Ordem

Então devemos verificar quais condições u(x) deve satisfazer para que y2 seja uma solução
da equação. Para isto devemos calcular as derivadas de y2 e substituir na equação 8.1.

y2 = x−1 u

y20 = −x−2 u + x2 u0

y200 = 2x−3 u − 2x−2 u0 + x−1 u00

Agora substituindo na equação 8.1 temos

2x2 y 00 + xy 0 − 3y = 0
     
−3 −2 0 −1 00 −2 2 0 −1
2x 2
2x u − 2x u + x u + x −x u + x u −3 x u =0

Reescrevendo e simplificando a última equação obtemos

2tu00 + (−4 + 1)u0 + (4x−1 − x−1 − 3x−1 )u = 0

2xu00 − 3u0 = 0

Observe o leitor que após as simplificações os termos remanescentes são somente aqueles
que envolvem as derivadas de u0 . Na verdade, se o leitor fazer todas as contas e simplificações
corretamente isto sempre vai acontecer, ou seja, os termos que envolvem u vão desaparecer,
ficnado somente aqueles que envolvem as devivadas de u.
Assim, para que y2 = x−1 u seja solução da equação 8.1, a função u deve satisfazer a
seguinte condição

2xu00 − 3u0 = 0 (8.2)


Aqui é que, supostamente, aparece o problema. Para encontrar uma solução para uma
equação diferencial de segunda ordem homogênea com coeficientes não constantes devemos
resolver uma outra equação diferencial de segunda ordem homogênea com coeficientes não con-
stantes. Entretanto, isto não é um problema, pois, podemos resolver a equação 8.2 utilizando
os métodos que aprendemos até agora, em particular, os métodos para resolver equação difer-
enciais de primeira ordem, vistos no Capı́tulo 3. De fato, para resolver a equação 8.2 faremos
uma mudança de variável, que é:

u0 = v ⇒ u00 = v 0
Substituindo estas últimas na equação 8.2 obtemos

2xv 0 − 3v = 0

a qual é uma equação diferencial linear de primeira ordem. Neste ponto, vemos a justiciativa
do nome do método “redução de ordem”, pois, com uma mudança de variável, reduzimos uma
equação de segunda ordem para uma equação de primeira ordem.
73

Se o leitor necessitar de relembrar algum detalhe sobre resolução de equações de primeira


ordem, recomendamos voltar ao Capı́tulo 3. Dessa forma, não vamos entrar em detalhes de
como resolver a equação diferencial linear de primeira ordem 2xv 0 − 3v = 0, cuja solução é
dada por
3
v(x) = cx 2
Mas inda não terminamos nosssa tarefa. Agora, que encontramos a função v devemos, para
finalizar, encontrar a função u. para isto, lembrem-se da mudança de variável que fizemos,
ou seja, u0 = v. Portanto, para encontrarmos u basta integrar a função v. De outra forma,

u0 = v

u0 = cx 2
3

R 3
u= cx 2 dx
5
u = 25 x 2 + k
Assim, quase terminamos, pois, a solução u que encontramos é a solução mais geral
possı́vel que podemos ter. Mas, podemos, sem perca de generalidade, escolher as constantes
c e k de forma conveniente para que a solução y2 fique um pouco mais “limpa”. Neste caso,
faremos
5
c= k=0
2
Estas restrições nos leva a
5
u = x2
Logo,
y2 = x−1 x 2 = x 2
5 3

Portanto, a solução geral da equação 8.1 é dada por

y(x) = c1 x−1 + c2 x 2
3

Exemplo 8.2: Encontre a solução geral da equação

x2 y 00 + 2xy 0 − 2y = 0

sabendo que y1 (x) = x é uma solução.

Solução: A forma da segunda solução y2 e suas respectivas derivadas são

y2 = xu

y20 = u + xu0

y200 = 2u0 + xu00


Substituindo na equação diferencial obtemos
74 Método de Redução de Ordem

   
0 00 0
x 2
2u + xu + 2x u + xu − 2xu = 0

Agora, fazendo as devidas simplificações vem que


x3 u00 + 4x2 u0 = 0
Aplicando a mudança de variável
u0 = v ⇒ u00 = v 0
temos a equação diferencial de primeira ordem
x3 v 0 + 4x2 v = 0
cuja solução é
v(x) = cx4
Por fim, integrando v(x) obtemos a função u que é
Z
1
u(x) = cx4 dx = − ct−3 + k
3
Como fizemos no exemplo anterior damos valores convenientes para as constantes c e k, a
saber, c = −3 e k = 0, para encontrarmos
u = t−3
Logo, a segunda solução y2 é dada por
y2 = x(x−3 ) = x−2
Portanto, a solução geral da equação diferencial é
y(x) = c1 x + c2 x−2
Exercı́cios 8.3: Resolva as seguintes equações diferencias:
1. x2 y 00 − 7xy 0 + 16y = 0, y 1 = x4
2. x2 y 00 + 2xy 0 − 6y = 0, y1 = x2
3. xy 00 + y 0 = 0, y1 = ln(x)

4. 4x2 y 00 + y = 0,
1
y1 = x 2 ln(x)
5. (1 − 2x − x2 )y 00 + 2(1 + x)y 0 − 2y = 0, y1 = x + 1
6. (1 − x2 )y 00 − 2xy 0 = 0, y1 = 1
7. (1 + 2x)y 00 + 4xy 0 − 4y = 0, y1 = e−2x
8. (1 + x)y 00 + xy 0 − y = 0, y1 = x
9. x2 y 00 − 5xy 0 + 9y = 0, y1 = x3 ln(x)
10. x2 y 00 − 5xy 0 + 9y = 0, y1 = x3

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