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No dia 15 de agosto de 1769, em uma pequena aldeia em Córsega, que

é uma ilha que fica localizada entre a França e a Itália, nascia uma criança que
se chamaria Napoleão Bonaparte. Ele mal poderia imaginar o que o destino lhe
reservava. Boa parte dos moradores de Córsega eram descendentes de
italianos, inclusive, a própria família de Napoleão. Carlo Bonaparte, pai de
Napoleão, foi um juiz assessor que se envolveu intensamente com a política
defendendo a independência da Córsega, que até então pertencia a França. A
família de Napoleão, após um período conturbado, acabou afundando em
dívidas perdendo o status de nobreza. Foi um período muito difícil para a família
de Napoleão. Suas irmãs, na tentativa de se consolidar financeiramente,
acabaram em casamentos arranjados. Alguns de seus irmãos acabaram indo
para a igreja. Napoleão, graças a influência de seu pai, conseguiu ingressar em
um colégio militar, que até então era reservado somente para membros da alta
nobreza. Napoleão desde muito criança já mostrou uma personalidade muito
forte e uma dedicação diferenciada. Os professores de sua época diziam que ele
tinham um conhecimento matemático e estratégico diferenciado dos outros
alunos. Mas foi muito difícil para Napoleão se enturmar com seus colegas. Pelo
fato dele ter vindo de uma família falida e que tinha uma origem italiana,
Napoleão sofria muito bullying. Existia um preconceito muito grande com os
franceses nascidos em Córsega, que eram considerados franceses inferiores.
Para piorar ainda mais a situação, Napoleão tinha um sotaque muito forte pelo
fato de ter sido alfabetizado na língua italiana até seus nove anos de idade. Isso
sempre foi motivo de deboche e perseguição por parte de seus colegas.
O tempo passou e Napoleão conseguiu se formar como oficial do exército
em um momento em que a França vivia uma crise política alarmante. O mais
novo oficial do exército francês ainda passou por algumas dificuldades
financeiras até ter a sua primeira oportunidade na luta contra os ingleses no
Cerco de Toulon, durante os momentos finais do processo revolucionário
francês. Napoleão Bonaparte, ainda muito jovem, já se destacava pelo seu
conhecimento estratégico militar. Não demorou muito e, ao 24 anos de idade,
Napoleão Bonaparte tornou-se o mais jovem general da história da França e
conquistou uma de suas primeiras vitórias sobre um grupo de franceses que
tentavam tomar Paris para instaurar a Monarquia Bourbon. Napoleão, após o
bom desempenho em algumas batalhas, recebeu o comando de um pequeno
exército que estava fragilizado pelos intensos conflitos no território italiano. O
jovem general francês ficou responsável por tomar o norte da Itália, e conseguiu
sair vitorioso no conflito que ficou conhecido como a Batalha de Arcole. O espírito
de liderança de Napoleão Bonaparte começou a ser visto com outros olhos pelos
seus soldados. Ao contrário de outros comandantes daquela época que não
tinham muita intimidade com seus soldados, Napoleão sempre esteve ao lado
de seus soldados tanto nos momentos difíceis quanto nos momentos mais
simples. A sua persuasão e carisma era admirável. Napoleão Bonaparte então
percebeu a sua forte influência e decidiu criar o seu próprio sistema de
propaganda, um jornal, que era destinado somente a exaltar as suas campanhas
militares. Esse jornal tinha como principal objetivo somente mostrar os pontos
positivos de Napoleão. Essa estratégia publicitaria deu muito certo, pois esse
jornal, censurado por Napoleão Bonaparte, era circulado tanto na classe civil
quanto militar e política. Isso deu origem a muitas lendas e mitos envolvendo
Napoleão Bonaparte, que não demorou muito para tornar-se uma lenda
admirada pelo povo francês.
Napoleão passou a ser visto pelos revolucionários como o símbolo das
causas pelas quais lutavam. Afinal, Napoleão veio de uma família falida que
morava em uma pequena aldeia em uma ilha isolada entre a França e a Itália.
Após a Batalha de Arcole, Napoleão Bonaparte preferiu continuar suas
campanhas militares ao invés de voltar para a França, que estava vivendo um
caos revolucionário. Napoleão então decidiu partir para o Egito, com a missão
de impedir o controle inglês nos portos egípcios. O grande problema foi que essa
campanha militar foi um desastre em termos de dinheiro, materiais e de vidas
perdidas. Napoleão Bonaparte não teve sucesso na campanha militar do Egito,
porém, isso não atrapalhou sua imagem, que sempre era exaltada com glória
pelos jornais. Por outro lado, a maior herança deixada pela campanha de
Napoleão no Egito foi o surgimento da egiptologia. Napoleão Bonaparte, que era
um amante da história, levou com ele um grupo cientifico para que escavassem
vários locais do Egito realizando descobertas históricas.
Napoleão Bonaparte então decidiu retornar a França nos momentos finais
do processo revolucionário, e foi ovacionado pelo povo. No dia 9 de novembro
de 1799, com o forte apoio por parte dos militares, dos girondinos e do próprio
povo francês, Napoleão Bonaparte deu um golpe de estado conhecido com 18
de Brumário, que marcou o fim da Revolução Francesa e o início da Era
Napoleônica.
A Era Napoleônica pode ser dividida em três períodos importantes. O
primeiro é o Consulado, marcado pela estabilização interna e pela modernização
da França. O segundo é o Império, marcado pelas famosas campanhas
expansionistas napoleônicas. O terceiro é o Governo de Cem Dias, que
concretiza de vez a queda de Napoleão Bonaparte.
O Consulado durou de 1799 a 1804 e tinha três cônsules que atuavam
como chefe do poder executivo. Era Napoleão Bonaparte e mais dois. Porém,
Napoleão foi eleito o primeiro-cônsul e logo, em 1802, ele foi eleito pela elite
francesa como cônsul vitalício. Existia uma falsa ideia de governo democrático
tendo em vista que era Napoleão quem, de fato, comandava o exército, nomeava
novos membros da administração, controlava a política interna e externa, e
propunha novas leis. Era Napoleão quem de fato mandava. Os outros dois
cônsules atuavam mais como duas figuras ilustrativas do governo. O Consulado
foi marcado pelo plano econômico de Napoleão, que recuperou a economia
francesa, e pelo Código Civil Napoleônico, que reorganizou a França em
diversos setores. Uma das primeiras medidas desse plano econômico foi a
criação do Banco da França que, controlado pelo Estado, criou o padrão
monetário do franco possibilitando financiamentos à indústria francesa e à
agricultura e ainda possibilitou o controle inflacionário. No dia 21 de março de
1804, entrou em rigor o Código Civil Napoleônico, que estabeleceu vários
princípios como a liberdade individual, liberdade de trabalho, liberdade de
consciência, Estado Leigo, igualdade perante a lei e direito a propriedade
privada. O ensino francês passou por uma reforma com a criação de liceus, que
garantiam a formação de parte do funcionalismo público e de oficinas para o
exército, além de cursos superiores. Por outro lado, o código não garantia
direitos ao trabalho assalariado, proibia greves e organizações trabalhistas e
ainda reestabeleceu a escravidão nas colônias francesas. O Código Civil
Napoleônico serviu como base para diversos códigos civis nacionais posteriores.
Nesse primeiro período, Napoleão também visa estabilizar as relações
diplomáticas com diversos países e se aproxima também da igreja. O Papa Pill
aceita fazer uma concordata com Napoleão sob a condição da França devolver
a igreja as terras confiscadas durante a Revolução Francesa. Dessa forma,
Napoleão Bonaparte alcança o equilíbrio religioso dentro da França, o que é
muito importante. O líder francês passa a exigir que o papa apoie perante a todos
os outros países europeus. Essa relação entre o papa e Napoleão vai durar
pouco, mas vai ser crucial para o segundo período da Era Napoleônica, pois
agora o próximo passo de Napoleão Bonaparte é tornar-se imperador da França
e acabar de vez com seu eterno rival, a Inglaterra.
No final de 1804, Napoleão Bonaparte alterou novamente a constituição
e convocou um plebiscito censitário, sem participação do povo, para decidir algo
inédito na história da França. Napoleão Bonaparte queria se tornar imperador
sem ao menos ter a origem monárquica. Na monarquia o trono sempre é
passado dos pais para os filhos. No dia 2 de dezembro de 1804, motivados e
entusiasmados pelos grandes avanços, a elite francesa elegeu Napoleão
Bonaparte com o novo imperador da França. Agora chamado de Napoleão I, ele
foi o único homem da história que conseguiu se tornar imperador por meio de
uma eleição. Para que essa coroação fosse reconhecida oficialmente pelos
outros Estados europeus era necessária a benção do papa da época, que foi até
Paris para abençoar o novo imperador da Europa. Sem a questão da
aproximação da França e da igreja talvez essa coroação seria completamente
diferente. Agora o próximo passo do novo imperador francês era conquistar a
Inglaterra. A França via a Inglaterra como a mais forte concorrente comercial e
o único reino capaz de impedir o desenvolvimento francês. Por outro lado, o
Império de Napoleão Bonaparte era visto como uma grande ameaça ao antigo
regime absolutista do continente europeu. Todos sabiam que uma guerra era
apenas uma questão de tempo e a França tinha naquele momento o exército
mais poderoso do mundo. A Inglaterra então liderou uma Coligação Internacional
formado por diversos países europeus com o objetivo de impedir o
expansionismo francês. No dia 21 de outubro de 1805, foi travado um grande
conflito naval no Canal da Marcha que ficou conhecido como a Batalha de
Tralfagar. De um lado, o exército mais poderoso do mundo, a França. Do outro
lado, a marinha mais poderosa do mundo, a Inglaterra. Nessa batalha, os
franceses, mesmo com o apoio dos espanhóis, foram derrotados pela poderosa
marinha inglesa que estava sob o comando do lendário almirante inglês, Lorde
Nelson. Essa foi a primeira grande derrota de Napoleão Bonaparte. O imperador
francês, que sabia que não poderia vencer a Inglaterra pelo mar, buscou outra
forma de conquistar essa vitória. Napoleão, juntamente com seu poderoso
exército, começou a devastar todos os aliados dos ingleses. Napoleão derrotou
os prussianos, austríacos e devastou o Império Romano-Germânico,
constituindo em seu lugar a Confederação do Reno.
Napoleão Bonaparte agora tinha o controle de territórios italianos,
espanhóis, holandeses, belgas e muitos outros. Vários reinos eram controlados
diretamente por Napoleão ou pelos seus parentes ou por líderes aliados. Muitos
reis e rainhas temiam uma invasão francesa a acabavam fazendo tudo que
Napoleão mandava. Agora, o imperador francês tinha quase toda a Europa sob
seu domínio e ele encontrou outra forma de enfraquecer a Inglaterra. Por meio
do Decreto de Berlim, Napoleão Bonaparte impôs o Bloqueio Continental, em
1806. O principal objetivo desse bloqueio era impedir que os demais países
europeus mantivessem relações comerciais com a Inglaterra. Os países que não
aderissem ao bloqueio seriam invadidos pelas tropas francesas. Napoleão
queria monopolizar o mercado europeu enquanto a Inglaterra fosse sucumbindo
lentamente. O grande problema foi que a indústria francesa não foi capaz de
suprir o mercado europeu e muito menos ultrapassar as indústrias inglesas, que
já tinham mais de um século de avanço. Com essa crise no mercado europeu
vários movimentos nacionalistas contra a expansão francesa começaram a
surgir em vários reinos europeus. A Rússia, que era um país essencialmente
agrícola e tinha aderido ao Bloqueio Continental, foi o primeiro país a reatar as
relações comerciais com a Inglaterra.
Em julho de 1812, Napoleão Bonaparte, temendo que essa atitude dos
russos fosse motivar outros países a fazer o mesmo, decide invadir a Rússia.
Napoleão, mesmo sabendo do rigoroso inverno russo, marchou juntamente com
mais de 600 mil soldados franceses rumo ao vasto território russo. O objetivo do
imperador francês era chegar à Rússia antes do inverno, mas tudo deu errado.
A viagem era longa, desgastante e dolorosa. Milhares de soldados franceses
sucumbiram durante a viagem de ida rumo a Rússia. Os russos adotaram a
política de “Terra Arrastada” e destruíram suas próprias aldeias, plantações e
envenenaram suas fontes de água potável. Tudo que pudesse servir de algo
para os soldados franceses foi destruído. Os russos adotaram a estratégia de
guerrilha com ataques furtivos e plantando inúmeras armadilhas com bombas
incendiárias. Sem comida, sem água e sem local para dormir, o número de
mortes já ultrapassava a casa dos duzentos mil franceses. Para piorar de vez a
situação e sacramentar a derrota de Napoleão, um dos mais rigorosos invernos
russos do século XIX pegou as tropas francesas de surpresa. Napoleão
Bonaparte não teve outra escolha a não ser recuar juntamente com um pouco
mais de 70 mil soldados franceses que conseguiram sobreviver.
Essa grande derrota foi baque fora do normal para Napoleão Bonaparte,
que achava que o seu exército era o mais poderoso do mundo, que estava
acostumado somente com vitórias. Agora nenhum outro país da Europa temia
Napoleão Bonaparte. Uma nova Coligação Internacional foi formada e invadiu a
França, resultando na Batalha de Leipzig. Napoleão Bonaparte, que estava com
um exército muito fragilizado por causa da campanha mal sucedida rumo a
Rússia, foi derrotado e, em abril de 1814, foi exilado na Ilha de Elba.
O trono francês foi entregue a Luís XVIII, que não tinha apoio popular,
mas tinha o apoio das demais monarquias absolutistas europeias. Em 1815,
Napoleão Bonaparte, sabendo que teria o apoio de seu povo, fugiu da Ilha de
Elba juntamente com um pequeno contingente. Esse sem dúvida foi um dos
momentos mais marcantes da Era Napoleônica. Napoleão Bonaparte, sem
disparar um tiro, caminhou juntamente com sua tropa pelas ruas da França e é
ovacionado pelo seu povo que gritava: “o Imperador voltou”. Napoleão marchou
lentamente seguido por milhares de pessoas. O rei Luís XVIII então ordenou que
o Marechal Ney capturasse Napoleão Bonaparte vivo ou morto. Em um dos
momentos mais épicos da história da humanidade. As tropas do Marechal Ney
se viram frente a frente com as tropas de Napoleão Bonaparte. Napoleão então
ordenou que todos os seus seguidores abaixassem as armas e clamou: “Sou eu,
vosso general e jamais ordenaria que franceses matassem franceses. Se o rei
que roubou meu trono assim ordena, então, ele não é digno do trono da França”.
Napoleão Bonaparte caminhou, abriu os braços e disse: “Nunca neguei o desejo
da França. Se algum entre vós deseja descravar uma bala em meu peito, faça o
agora. Morrerei, mas se esse for o desejo da França não será em vão”. Todos
os soldados, inclusive o Marechal Ney, abaixaram as armas e caminharam com
Napoleão Bonaparte rumo ao trono da França.
No dia 20 de março de 1815, Napoleão Bonaparte tomou o trono de Paris
de volta e deu início ao que ficou conhecido como Governo de Cem Dias. Nesse
mesmo período, os países absolutistas realizaram o Congresso de Viena, que
tinha como principal objetivo manter o clero e a nobreza no poder evitando novos
movimentos inspirados na Revolução Francesa. Uma das principais medidas
desse Congresso foi a restauração e legitimidade dos reis e territórios que foram
tomados pela França. Os outros reinos foram totalmente contra o retorno de
Napoleão e então formaram a Sétima Coligação Internacional para acabar de
vez com o Império de Napoleão Bonaparte. A Inglaterra, Rússia, Prússia e
Áustria travaram uma guerra contra o fragilizado exército de Napoleão que era
formado por cerca de 70 mil homens, no território belga. Essa guerra foi curta,
mas intensa. Foram mais de 11 mil baixas francesas contra 22 mil baixas da
Coligação Internacional. O exército franceses, que um dia já teve mais de 600
mil homens e já foi o exército mais poderoso do mundo, agora estava
completamente enfraquecido e em menor número.
Napoleão Bonaparte estava combatendo em várias frentes e uma derrota
era apenas uma questão de tempo. Após seu retorno, Napoleão Bonaparte
governou a França por mais longos cem dias até ser derrotado em sua última
batalha, a Batalha de Waterloo. Acabava assim 16 anos de governo napoleônico.
Era o fim da Era Napoleônica. Napoleão Bonaparte então foi exilado na Ilha de
Santa Helena onde permaneceu até o dia de sua morte.

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