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Napoleão (Ajaccio, 15 de agosto de 1769 – Longwood, 5 de maio de 1821) foi um estadista e líder militar francês que ganhou desta-
que durante a Revolução Francesa e liderou várias campanhas militares de sucesso durante as Guerras Revolucionárias Francesas. Foi im-
perador dos franceses como Napoleão I de 1804 a 1814 e brevemente em 1815 durante os Cem Dias. Napoleão dominou os assuntos euro-
peus e globais por mais de uma década, enquanto liderava a França contra uma série de coalizões nas guerras napoleônicas. Ele venceu a
maioria desses conflitos e a grande maioria de suas batalhas, construindo um grande império que governava grande parte da Europa conti-
nental antes de seu colapso final em 1815. Ele é considerado um dos maiores comandantes da história e suas guerras e campanhas são es-
tudadas em escolas militares em todo o mundo. O legado político e cultural de Napoleão perdurou como um dos líderes mais célebres e
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controversos da história da humanidade.
Ele nasceu na Córsega de uma família italiana relativamente modesta, da nobreza menor. Ele estava servindo como oficial de arti-
lharia no exército francês quando a Revolução Francesa eclodiu em 1789. Ele rapidamente subiu nas fileiras dos militares, apro-
veitando as novas oportunidades apresentadas pela Revolução e tornando-se general aos 24 anos. O Diretório Francês acabou por
lhe dar o comando do Exército da Itália depois que ele suprimiu a revolta dos 13 Vendémiaire contra o governo dos insurgentes re-
alistas. Aos 26 anos, ele iniciou sua primeira campanha militar contra os austríacos e os monarcas italianos alinhados com
os Habsburgos, sendo que venceu praticamente todas as batalhas e conquistou a Península Italiana em um ano, enquanto estabele-
cia "repúblicas irmãs" com apoio local e se tornando um herói de guerra na França. Em 1798, ele liderou uma expedição militar ao
Egito que serviu de trampolim para o poder político. Ele orquestrou um golpe em novembro de 1799 e se tornou o primeiro côn-
sul da República.
Na primeira década do século XIX, o império francês sob comando de Napoleão se envolveu em uma série de conflitos com todas
as grandes potências europeias, as Guerras Napoleônicas. Após uma sequência de vitórias, a França garantiu uma posição domi-
nante na Europa continental, e Napoleão manteve a esfera de influência da França, através da formação de amplas alianças e a no-
meação de amigos e familiares para governar os outros países europeus como dependentes da França. As campanhas de Napoleão
são até hoje estudadas nas academias militares de quase todo o mundo. A Campanha da Rússia em 1812 marcou uma virada na
sorte de Napoleão. Seu Grande Armée foi seriamente danificado na campanha e nunca se recuperou totalmente. Em 1813, a Sexta
Coligação derrotou suas forças em Leipzig. No ano seguinte, a coligação invadiu a França, forçou Napoleão a abdicar e o exilou
na ilha de Elba. Napoleão escapou de Elba em fevereiro de 1815 e assumiu o controle da França mais uma vez. Os Aliados respon-
deram formando uma Sétima Coalizão que o derrotou na Batalha de Waterloo, em junho. Os britânicos o exilaram para a remota
ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu seis anos depois, aos 51 anos.
A influência de Napoleão no mundo moderno trouxe reformas liberais para os vários territórios que ele conquistou e controlou, co-
mo os Países Baixos, a Suíça e grandes partes da Itália e da Alemanha modernas. Ele implementou políticas liberais fundamentais
na França e em toda a Europa Ocidental. Seu Código Napoleônico influenciou os sistemas legais de mais de 70 nações em todo o
mundo. O historiador britânico Andrew Roberts declara: "As ideias que sustentam nosso mundo moderno — meritocracia, igual-
dade perante a lei, direitos de propriedade, tolerância religiosa, educação secular moderna, finanças sólidas etc. — foram defendi-
das, consolidadas, codificadas e estendidas geograficamente por Napoleão. Além disso, ele também acrescentou uma administra-
ção local racional e eficiente, o fim do banditismo rural, o incentivo à ciência e às artes, a abolição do feudalismo e a maior codifi-
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cação de leis desde a queda do Império Romano".
Juventude

O pai de Napoleão, o nobre italiano Carlo Buonaparte, era o representante da Córsega na corte de Luís XVI.
Os ancestrais de Napoleão descendiam da nobreza italiana menor de origem toscana que vieram para a Córsega da Ligúria no sé-
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culo XVI. Napoleão se vangloriou de sua herança italiana dizendo: "Eu sou da raça que funda impérios" e ele se referiu a si mes-
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mo como "mais italiano ou toscano do que corso". Seus pais, Carlo Maria di Buonaparte e Maria Letizia Ramolino, mantiveram
um lar ancestral chamado "Casa Buonaparte" em Ajaccio. Napoleão nasceu lá em 15 de agosto de 1769, seu quarto filho e terceiro
menino. Um menino e uma menina nasceram primeiro, mas morreram na infância. Ele tinha um irmão mais velho, José, e os ir-
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mãos Luciano, Elisa, Luís, Paulina, Carolina e Jerônimo. Napoleão foi batizado como católico. Embora ele tenha nascido Napo-
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leone di Buonaparte, ele mudou seu nome para Napoleon Bonaparte quando tinha 27 anos em 1796 após seu primeiro casamen-
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to.
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Napoleão nasceu no mesmo ano em que a República de Gênova, uma antiga comuna da Itália, transferiu a Córsega para a Fran-
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ça. O Estado vendeu direitos de soberania um ano antes de seu nascimento em 1768 e a ilha foi conquistada pela França durante
o ano de seu nascimento e formalmente incorporada como província em 1770, depois de 500 anos sob o domínio genovês e 14
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anos de independência. Os pais de Napoleão lutaram contra os franceses para manter a independência, mesmo quando Maria
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estava grávida dele. Seu pai era um advogado que foi nomeado representante da Córsega na corte de Luís XVI em 1777.
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A influência dominante da infância de Napoleão foi sua mãe, cuja firme disciplina conteve uma criança indisciplinada. Mais tar-
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de na vida, Napoleão declarou: "O destino futuro da criança é sempre o trabalho da mãe". A avó materna de Napoleão havia se
casado com a família suíça Fesch em seu segundo casamento e o tio de Napoleão, o cardeal Joseph Fesch, cumpriria um papel de
protetor da família Bonaparte por alguns anos. A formação nobre e moderadamente rica de Napoleão lhe proporcionou maiores
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oportunidades de estudar do que as disponíveis para um típico corso da época.

Estátua de Bonaparte aos 15 anos


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Quando ele completou 9 anos, mudou-se para o continente francês e se matriculou em uma escola religiosa em Autun em ja-
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neiro de 1779. Em maio, ele se transferiu com uma bolsa de estudos para uma academia militar em Brienne-le-Château. Na ju-
ventude, ele foi um nacionalista franco da Córsega e apoiou a independência do Estado da França. Como muitos corsos, Napoleão
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falava e lia corso (como língua materna) e italiano (como língua oficial da Córsega). Ele começou a aprender francês na
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escola por volta dos 10 anos. Embora tenha se tornado fluente em francês, ele falava com um sotaque distinto da Córsega e nun-
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ca aprendeu a escrever corretamente em francês. No entanto, ele não era um caso isolado, pois estimava-se em 1790 que menos
de 3 milhões de pessoas, da população de 28 milhões de franceses, eram capazes de falar o francês padrão, e os que podiam escre-
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vê-lo eram ainda menos.
Napoleão era rotineiramente intimidado por seus pares por seu sotaque, local de nascimento, baixa estatura, maneirismos e incapa-
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cidade de falar francês rapidamente. Bonaparte tornou-se reservado e melancólico, aplicando-se à leitura. Um examinador ob-
servou que Napoleão "sempre se destacou por sua aplicação na matemática. Ele é bastante familiarizado com história e geogra-
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fia… Esse garoto seria um excelente marinheiro". No início da idade adulta, ele pretendeu brevemente tornar-se escritor;
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ele escreveu sobre a história da Córsega e uma novela romântica.
Após a conclusão de seus estudos em Brienne, em 1784, Napoleão foi admitido na École Militaire em Paris. Ele treinou para se
tornar um oficial de artilharia e, quando a morte de seu pai reduziu sua renda, foi forçado a concluir o curso de dois anos em um
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ano. Ele foi o primeiro corso a se formar na École Militaire e foi examinado pelo famoso cientista Pierre-Simon Laplace.
Início de carreira

Napoleão Bonaparte, 23 anos, como tenente-coronel de um batalhão de voluntários republicanos da Córsega. Retrato de Henri Félix Emmanuel
Philippoteaux
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Ao se formar em setembro de 1785, Bonaparte foi oficializado como segundo tenente no regimento de artilharia. Ele ser-
viu em Valence e Auxonne até depois do início da Revolução em 1789 e tirou quase dois anos de licença na Córsega e Paris duran-
te esse período. Naquela época, ele era um nacionalista corso fervoroso e escreveu ao líder corso Pasquale Paoli em maio de 1789:
"Enquanto a nação estava morrendo, eu nasci. Trinta mil franceses foram vomitados em nossas costas, afogando o trono da liber-
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dade em ondas de sangue. Essa foi a visão odiosa que foi a primeira a me impressionar".
Ele passou os primeiros anos da Revolução na Córsega, lutando em um complexo conflito de três vias entre monarquistas, revolu-
cionários e nacionalistas da Córsega. Ele era um defensor do movimento republicano jacobino, organizando clubes na Córse-
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ga, e recebeu o comando de um batalhão de voluntários. Ele foi promovido a capitão do exército regular em julho de 1792, ape-
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sar de exceder sua licença e liderar uma revolta contra as tropas francesas.
Ele entrou em conflito com Paoli, que havia decidido se separar da França e sabotar a contribuição da Córsega à Expédition de
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Sardaigne, impedindo um ataque francês à ilha da Sardenha em La Maddalena. Bonaparte e sua família fugiram para o conti-
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nente francês em junho de 1793 por causa da separação com Paoli.
Cerco a Toulon

Bonaparte no cerco de Toulon


Em julho de 1793, Bonaparte publicou um panfleto pró-republicano intitulado Le souper de Beaucaire (Ceia em Beaucaire) que
lhe valeu o apoio de Augustin Robespierre, irmão mais novo do líder revolucionário Maximilien Robespierre. Com a ajuda de seu
colega corso Antoine Christophe Saliceti, Bonaparte foi nomeado comandante de artilharia das forças republicanas no cerco de
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Toulon.
Ele adotou um plano para capturar uma colina onde armas republicanas poderiam dominar o porto da cidade e forçar os britânicos
a evacuar. O ataque à posição levou à captura da cidade, mas durante ela Bonaparte foi ferido na coxa. Ele foi promovido a general
de brigada aos 24 anos. Chamando a atenção do Comitê de Segurança Pública, ele foi encarregado da artilharia do Exército da Itá-
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lia na França.
Napoleão passou algum tempo como inspetor de fortificações costeiras na costa do Mediterrâneo, perto de Marselha, enquanto
aguardava a confirmação do posto do Exército da Itália. Ele elaborou planos para atacar o Reino da Sardenha como parte da cam-
panha da França contra a Primeira Coalizão. Augustin Robespierre e Saliceti estavam prontos para ouvir o recém-promovido gene-
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ral de artilharia.
O exército francês executou o plano de Bonaparte na Batalha de Saorgio, em abril de 1794, e depois avançou para capturar Or-
mea nas montanhas. De Ormea, seguiram para o oeste para flanquear as posições austro-sardenha em torno de Saorge. Depois des-
sa campanha, Augustin Robespierre enviou Bonaparte em missão à República de Gênova para determinar as intenções daquele pa-
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ís em relação à França.
13 Vendémiaire
Alguns contemporâneos alegaram que Bonaparte foi posto em prisão domiciliar em Nice por sua associação com os Robespierres
após a queda na Reação Termidoriana em julho de 1794, mas o secretário de Napoleão, Bourrienne, contestou a alegação em suas
memórias. Segundo Bourrienne, o ciúme entre o Exército dos Alpes e o Exército da Itália (com quem Napoleão era destacado na
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época) era o responsável. Bonaparte enviou uma defesa apaixonada em uma carta ao comissário Saliceti, e posteriormente foi
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absolvido de qualquer irregularidade. Ele foi libertado em duas semanas e, devido às suas habilidades técnicas, foi convidado a
elaborar planos para atacar posições italianas no contexto da guerra da França com a Áustria. Ele também participou de uma expe-
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dição para recuperar a Córsega dos britânicos, mas os franceses foram repelidos pela Marinha Real Britânica.
Em 1795, Bonaparte ficou noivo de Désirée Clary, filha de François Clary. A irmã de Désirée, Julie Clary, havia se casado com o
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irmão mais velho de Bonaparte, José. Em abril de 1795, ele foi designado para o Exército do Oeste, que estava envolvido
na Guerra da Vendéia — uma guerra civil, contra-revolucionária e monarquista em Vendée, uma região no oeste da França central
no Oceano Atlântico. No comando de infantaria, foi rebaixado do posto de general de artilharia — para o qual o exército já tinha
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uma cota total — e ele alegou ter saúde precária para evitar o destacamento.

Journée du 13 Vendémiaire, fogo de artilharia em frente à Igreja de Saint-Roch, Paris, Rue Saint-Honoré
Ele foi transferido para o Bureau de Topografia do Comitê de Segurança Pública e procurou, sem sucesso, ser transferido
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para Constantinopla, a fim de oferecer seus serviços ao sultão turco. Durante esse período, ele escreveu a novela romântica Clis-
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son et Eugénie, sobre um soldado e seu amante, em um claro paralelo ao relacionamento de Bonaparte com Désirée. Em 15 de
setembro, Bonaparte foi retirado da lista de generais em serviço regular por sua recusa em servir na campanha da Vendeia. Ele en-
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frentou uma situação financeira difícil e reduziu as perspectivas de carreira.
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Em 3 de outubro, os monarquistas de Paris declararam uma rebelião contra a Convenção Nacional. Paul Barras, líder da Reação
Termidoriana, conhecia as façanhas militares de Bonaparte em Toulon e deu-lhe o comando das forças improvisadas em defesa da
Convenção no Palácio das Tulherias. Napoleão vira o massacre da Guarda Suíça do rei três anos antes e percebeu que a artilharia
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seria a chave para sua defesa.
Ele ordenou que um jovem oficial da cavalaria chamado Joaquim Murat confiscasse grandes canhões e os usou para repelir os ata-
cantes em 5 de outubro de 1795 (13 Vendémiaire An IV no calendário republicano francês) — 1400 monarquistas morreram e o
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resto fugiu. Ele havia limpado as ruas com "um cheiro de uva ", de acordo com o historiador do século XIX Thomas Carly-
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le em A Revolução Francesa: Uma História.
A derrota da insurreição monarquista extinguiu a ameaça à Convenção e rendeu bonaparte fama repentina, riqueza e patrocínio do
novo governo, o Diretório. Murat casou-se com uma das irmãs de Napoleão, tornando-se seu cunhado; ele também serviu sob o
governo de Napoleão como um de seus generais. Bonaparte foi promovido a comandante do Interior e recebeu o comando do
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exército da Itália.
Dentro de semanas, ele estava envolvido romanticamente com Jossefina de Beauharnais, a ex-amante de Barras. Os dois se casa-
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ram em 9 de março de 1796 em uma cerimônia civil.
Primeira Campanha Italiana
Bonaparte na Pont d'Arcole, do Barão Antoine-Jean Gros, ( c. 1801), Museu do Louvre, Paris
Dois dias após o casamento, Bonaparte deixou Paris para assumir o comando do Exército da Itália. Ele imediatamente entrou na
ofensiva, na esperança de derrotar as forças do Piemonte antes que seus aliados austríacos pudessem intervir. Em uma série de vi-
tórias rápidas durante a Campanha de Montenotte, ele derrubou o Piemonte da guerra em duas semanas. Os franceses então con-
centraram-se nos austríacos pelo restante da guerra, cujo destaque se tornou a prolongada luta por Mântua. Os austríacos lançaram
uma série de ofensivas contra os franceses para romper o cerco, mas Napoleão derrotou todos os esforços de socorro, marcando vi-
tórias nas batalhas de Castiglione, Bassano, Arcole e Rivoli. O triunfo decisivo da França em Rivoli, em janeiro de 1797, levou ao
colapso da posição austríaca na Itália. Em Rivoli, os austríacos perderam até 14 mil homens, enquanto os franceses perderam cerca
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de 5 mil.
A próxima fase da campanha contou com a invasão francesa no coração dos Habsburgos. As forças francesas no sul da Alemanha
foram derrotadas pelo arquiduque Charles em 1796, mas o arquiduque retirou suas forças para proteger Viena depois de aprender
sobre a forma de ataque de Napoleão. No primeiro encontro entre os dois comandantes, Napoleão afastou seu oponente e avançou
profundamente no território austríaco depois de vencer na Batalha de Tarvis, em março de 1797. Os austríacos ficaram alarmados
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com o impulso francês que chegou até Leoben, cerca de 100 km de Viena, e finalmente decidiu negociar pela paz. O Tratado de
Leoben, seguido pelo mais abrangente Tratado de Campo Formio, deu à França o controle da maior parte do norte da Itália e
dos Países Baixos, e uma cláusula secreta prometeu a República de Veneza para a Áustria. Bonaparte marchou sobre Veneza e for-
çou sua rendição, encerrando 1 100 anos de independência da cidade. Ele também autorizou os franceses a saquear tesouros como
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os Cavalos de São Marcos.
Sua aplicação de ideias militares convencionais a situações do mundo real permitiu seus triunfos militares, como o uso criativo da
artilharia como força móvel para apoiar sua infantaria. Ele afirmou mais tarde na vida: "Lutei sessenta batalhas e não aprendi nada
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que não sabia no início. Olhe para César; ele lutou contra o primeiro como o último".

Bonaparte durante a campanha italiana em 1797


Bonaparte poderia vencer batalhas ocultando o destacamento de tropas e concentrando suas forças na "articulação" da frente enfra-
quecida de um inimigo. Se ele não pudesse usar sua favorita estratégia de pinça, ele assumia a posição central e atacava duas for-
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ças cooperantes em suas dobradiças, girava para lutar uma até que fugisse, depois se virava para a outra. Nesta campanha italia-
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na, o exército de Bonaparte capturou 150 mil prisioneiros, 540 canhões e 170 bandeiras. O exército francês travou 67 ações e
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venceu 18 batalhas com a tecnologia de artilharia superior e as táticas de Bonaparte.
Durante a campanha, Bonaparte tornou-se cada vez mais influente na política francesa. Ele fundou dois jornais: um para as tropas
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em seu exército e outro para circulação na França. Os monarquistas atacaram Bonaparte por saquear a Itália e advertiram que
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ele poderia se tornar um ditador. As forças de Napoleão extraíram cerca de 45 milhões de dólares em fundos da Itália durante
sua campanha no país e outros 12 milhões de dólares em metais preciosos e joias. Suas forças também confiscaram mais de trezen-
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tas pinturas e esculturas de valor inestimável.
Bonaparte enviou o general Pierre Augereau a Paris para liderar um golpe de Estado e expurgar os monarquistas em 4 de setembro
— golpe de 18 Fructidor. Isso deixou Barras e seus aliados republicanos no controle novamente, mas dependentes de Bonaparte,
que iniciou as negociações de paz com a Áustria. Essas negociações resultaram no Tratado de Campo Formio e Bonaparte retor-
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nou a Paris em dezembro como um herói. Ele conheceu Talleyrand, o novo ministro das Relações Exteriores da França e eles
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começaram a se preparar para uma invasão da Grã-Bretanha.
Expedição egípcia
Bonaparte Antes da Esfinge (c. 1886) por Jean-Léon Gérôme, Hearst Castle
Após dois meses de planejamento, Bonaparte decidiu que o poder naval da França ainda não era forte o suficiente para enfrentar a
Marinha Real Britânica. Ele decidiu por uma expedição militar para tomar o Egito e, assim, minar o acesso da Grã-Bretanha aos
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seus interesses comerciais na Índia. Bonaparte desejava estabelecer uma presença francesa no Oriente Médio, ligando-se a Tipu,
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o sultão de Mysore que travou as longas quatro guerras Anglo-Maiçor durante a invasão britânica da Índia. Napoleão assegurou
ao Diretório que "assim que conquistasse o Egito, ele estabeleceria relações com os príncipes indianos e, juntamente com eles, ata-
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caria os ingleses em seus domínios". O Diretório concordou em garantir uma rota comercial para a Índia.
Em maio de 1798, Bonaparte foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências. Sua expedição egípcia incluiu um grupo de
167 cientistas, entre matemáticos, naturalistas, químicos e geodesistas. Suas descobertas incluíram a Pedra de Roseta e seu traba-
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lho foi publicado na Description de l'Égypte em 1809.
A caminho do Egito, Bonaparte chegou a Malta em 9 de junho de 1798, depois controlada pelo Cavaleiros Hospitalários. O grão-
mestre Ferdinand von Hompesch zu Bolheim se rendeu tentar resistir e Bonaparte capturou uma importante base naval com a per-
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da de apenas três homens.
O general Bonaparte e sua expedição escaparam às buscas pela Marinha Real e desembarcaram em Alexandria em 1º de ju-
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lho. Ele travou a Batalha de Shubra Khit contra os mamelucos, a casta militar dominante do Egito. Isso ajudou os franceses a
praticar sua tática defensiva para a Batalha das Pirâmides, travada em 21 de julho, por volta de 24 km das pirâmides. As forças do
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general Bonaparte, de 25 mil, eram aproximadas às da cavalaria egípcia dos mamelucos. Vinte e nove franceses e aproximada-
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mente dois mil egípcios foram mortos. A vitória impulsionou o moral do exército francês.

Batalha das Pirâmides em 21 de julho de 1798 por Louis-François, Baron Lejeune, 1808
Em 1º de agosto de 1798, a frota britânica sob comando de Sir Horatio Nelson capturou ou destruiu todos, exceto dois navios fran-
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ceses na Batalha do Nilo, derrotando o objetivo de Bonaparte de fortalecer a posição francesa no Mediterrâneo. Seu exército
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conseguiu um aumento temporário do poder francês no Egito, apesar de enfrentar repetidas revoltas. No início de 1799, ele
transferiu um exército para a província otomana de Damasco (Síria e Galiléia). Bonaparte liderou esses 13 mil soldados franceses
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na conquista das cidades costeiras de Arish, Gaza, Jaffa e Haifa. O ataque a Jaffa foi particularmente brutal. Bonaparte desco-
briu que muitos dos defensores eram ex-prisioneiros de guerra em liberdade condicional, por isso ordenou que a guarnição e 1 400
prisioneiros fossem executados por baioneta ou afogamento para economizar balas. Homens, mulheres e crianças foram roubados
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e assassinados por três dias.
Bonaparte começou com um exército de 13 mil homens; 1 500 desapareceram, 1 200 morreram em combate e milhares morreram
de doenças — principalmente a peste bubônica. Ele não conseguiu reduzir a fortaleza do Acre, então marchou seu exército de vol-
ta ao Egito em maio. Para acelerar o retiro, Bonaparte ordenou que os homens atingidos pela peste fossem envenenados com ópio;
o número de mortos permanece em disputa, variando de um mínimo de 30 a um máximo de 580. Ele também trouxe mil homens
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feridos. De volta ao Egito, em 25 de julho, Bonaparte derrotou uma invasão anfíbia otomana em Abukir.
Governante da França

General Bonaparte cercado por membros do Conselho dos Quinhentos durante o golpe de 18 de Brumaire, por François Bouchot
Enquanto estava no Egito, Bonaparte se manteve informado dos assuntos europeus. Ele soube que a França havia sofrido uma
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série de derrotas na Guerra da Segunda Coalizão. Em 24 de agosto de 1799, ele aproveitou a partida temporária de navios britâ-
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nicos dos portos costeiros franceses e partiu para a França continental, apesar de não ter recebido ordens explícitas de Paris. O
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exército ficou a cargo de Jean-Baptiste Kléber.
Desconhecido por Bonaparte, o Diretório havia enviado ordens para que ele voltasse para evitar possíveis invasões do solo fran-
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cês, mas más linhas de comunicação impediam a entrega dessas mensagens. Quando chegou a Paris em outubro, a situação da
França havia sido melhorada por uma série de vitórias. A República, no entanto, estava falida e o Diretório ineficaz era impopular
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com a população francesa. O Diretório discutia a "deserção" de Bonaparte, mas era fraco demais para puni-lo.
Apesar das falhas no Egito, Napoleão voltou às boas-vindas de um herói. Ele firmou uma aliança com o diretor Emmanuel Joseph
Sieyès, seu irmão Lucien, presidente do Conselho dos Quinhentos Roger Ducos, diretor Joseph Fouché e Talleyrand, e eles derru-
baram o Diretório através de um golpe de Estado em 9 de novembro de 1799 ("o 18 Brumaire" de acordo com o calendário revolu-
cionário), fechando o Conselho dos Quinhentos. Napoleão tornou-se "primeiro cônsul" por dez anos, com dois cônsules nomeados
por ele que tinham apenas vozes consultivas. Seu poder foi confirmado pela nova "Constituição do ano VIII", originalmente criada
por Sieyès para dar a Napoleão um papel menor, mas reescrita por Napoleão e aceita pelo voto popular direto (3 milhões a favor, 1
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567 contra). A constituição preservou a aparência de uma república, mas, na realidade, estabeleceu uma ditadura.
Consulado da França

Bonaparte, primeiro cônsul, de Ingres. Colocar a mão dentro do colete era frequentemente usado em retratos de governantes para indicar liderança
calma e estável.
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Napoleão estabeleceu um sistema político que o historiador Martyn Lyons chamou de "ditadura por plebiscito". Preocupado
com as forças democráticas desencadeadas pela Revolução, mas não querendo ignorá-las completamente, Napoleão recorreu a
consultas eleitorais regulares com o povo francês em seu caminho para o poder imperial. Ele redigiu a Constituição do ano VIII e
garantiu sua própria eleição como primeiro cônsul, residindo nas Tulherias. A constituição foi aprovada em um plebiscito fraudu-
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lento realizado em janeiro seguinte, com 99,94% oficialmente listado como voto "sim".
O irmão de Napoleão, Luciano, falsificou os números para mostrar que 3 milhões de pessoas haviam participado do plebiscito. O
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número real foi de 1,5 milhão. Observadores políticos na época supunham que o público votante francês elegível continha cerca
de 5 milhões de pessoas, então o regime duplicou artificialmente a taxa de participação para indicar entusiasmo popular pelo con-
sulado. Nos primeiros meses do consulado, com a guerra na Europa ainda violenta e a instabilidade interna ainda atormentando o
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país, o domínio de Napoleão no poder permaneceu muito tênue.
Na primavera de 1800, Napoleão e suas tropas cruzaram os Alpes suíços rumo a Itália, com o objetivo de surpreender os exércitos
[nota 6]
austríacos que haviam reocupado a península quando Napoleão ainda estava no Egito. Após uma difícil travessia pelos Alpes,
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o exército francês entrou nas planícies do norte da Itália praticamente sem oposição. Enquanto um exército francês se aproxima-
va do norte, os austríacos estavam ocupados com outro estacionado em Gênova, cercado por uma força substancial. A feroz resis-
tência deste exército francês, sob comando de André Masséna, deu à força do norte algum tempo para realizar suas operações com
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pouca interferência.
Depois de passar vários dias procurando um pelo outro, os dois exércitos colidiram na Batalha de Marengo em 14 de junho. O ge-
neral Melas tinha uma vantagem numérica, tendo cerca de 30 mil soldados austríacos, enquanto Napoleão comandava 24 mil tro-
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pas francesas. A batalha começou favoravelmente para os austríacos quando o ataque inicial surpreendeu os franceses e gradual-
mente os levou a recuar. Melas afirmou que havia vencido a batalha e se retirou para sua sede por volta das 15 horas, deixando
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seus subordinados encarregados de perseguir os franceses. As linhas francesas nunca quebraram durante seu retiro tático. Napo-
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leão constantemente cavalgava entre as tropas pedindo-lhes que se levantassem e lutassem.
No final da tarde, uma divisão completa sob Desaix chegou ao campo e reverteu a maré da batalha. Uma série de barreiras de arti-
lharia e cavalaria dizimaram o exército austríaco, que fugiu do rio Bormida de volta para Alexandria, deixando para trás 14 mil
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baixas. No dia seguinte, o exército austríaco concordou em abandonar o norte da Itália mais uma vez com a Convenção de Ale-
xandria, que lhes concedia passagem segura para solo amigável em troca de suas fortalezas em toda a região.
A Batalha de Marengo foi a primeira grande vitória de Napoleão como chefe de Estado.
Embora os críticos tenham culpado Napoleão por vários erros táticos anteriores à batalha, eles também elogiaram sua audácia por
escolher uma estratégia de campanha arriscada, optando por invadir a península italiana do norte quando a grande maioria das in-
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vasões francesas vieram do oeste, próximo ou ao longo do litoral. Como Chandler aponta, Napoleão passou quase um ano tiran-
do os austríacos da Itália em sua primeira campanha. Em 1800, ele levou apenas um mês para atingir o mesmo objetivo. O estrate-
gista e marechal de campo alemão Alfred von Schlieffen concluiu que "Bonaparte não aniquilou seu inimigo, mas o eliminou e o
[93]
tornou inofensivo" enquanto "[atingiu] o objetivo da campanha: a conquista do norte da Itália".
O triunfo de Napoleão em Marengo garantiu sua autoridade política e aumentou sua popularidade em casa, mas não levou a uma
paz imediata. O irmão de Bonaparte, José, liderou as complexas negociações em Lunéville e relatou que a Áustria, encorajada pelo
apoio britânico, não reconheceria o novo território que a França havia adquirido. À medida que as negociações se tornavam cada
vez mais difíceis, Bonaparte deu ordens a seu general Moreau para atacar a Áustria mais uma vez. Moreau e os franceses varreram
a Baviera e obtiveram uma vitória esmagadora em Hohenlinden em dezembro de 1800. Como resultado, os austríacos capitularam
e assinaram o Tratado de Lunéville em fevereiro de 1801. O tratado reafirmou e expandiu os ganhos franceses anteriores em Cam-
[94]
po Formio.
Paz temporária na Europa
Após uma década de guerra constante, a França e o Reino Unido assinaram o Tratado de Amiens em março de 1802, encerrando as
Guerras Revolucionárias. Amiens pediu a retirada das tropas britânicas dos territórios coloniais conquistados recentemente, bem
[88]
como garantias para reduzir os objetivos expansionistas da República Francesa. Com a Europa em paz e a economia em recupe-
[95]
ração, a popularidade de Napoleão alcançou seus níveis mais altos sob o Consulado, tanto no país como no exterior. Em um no-
vo plebiscito durante a primavera de 1802, o público francês saiu em grande número para aprovar uma constituição que tornou
permanente o Consulado, elevando essencialmente Napoleão a ditador por toda a vida.
Enquanto o plebiscito, dois anos antes, havia levado 1,5 milhão de pessoas às urnas, o novo referendo levou 3,6 milhões a votar
[96]
(72% de todos os eleitores elegíveis). Não houve votação secreta em 1802 e poucas pessoas queriam desafiar abertamente o re-
gime. A constituição obteve aprovação com mais de 99% dos votos. Seus amplos poderes foram explicitados na nova constitui-
[97]
ção: Artigo 1. O nome do povo francês e o Senado proclama Napoleão-Bonaparte primeiro cônsul por toda a vida. Depois de
[32]
1802, ele era geralmente chamado de Napoleão e não de Bonaparte.

A compra da Louisiana em 1803 dobrou o tamanho dos Estados Unidos.


A breve paz na Europa permitiu que Napoleão se concentrasse nas colônias francesas no exterior. Saint-Domingue conseguiu ad-
quirir um alto nível de autonomia política durante as Guerras Revolucionárias, com Toussaint Louverture se instalando como dita-
dor de fato em 1801. Napoleão viu sua chance de recuperar a antiga colônia rica quando assinou o Tratado de Amiens. Na década
de 1780, Saint-Domingue era a colônia mais rica da França, produzindo mais açúcar do que todas as colônias das Antilhas Britâni-
cas juntas. No entanto, durante a Revolução, a Convenção Nacional votou pela abolição da escravidão em fevereiro de
[98]
1794. Sob os termos de Amiens, Napoleão concordou em apaziguar as demandas britânicas por não abolir a escravidão em ne-
nhuma colônia onde o decreto de 1794 nunca havia sido implementado. No entanto, o decreto de 1794 só foi implementado em
Saint-Domingue, Guadalupe e Guiana e era uma carta morta no Senegal, Maurício, Reunião e Martinica, a última das quais con-
[99]
quistada pelos britânicos, que mantinham a instituição da escravidão naquela ilha do Caribe.
Em Guadalupe, a lei de 1794 aboliu a escravidão e foi violentamente aplicada por Victor Hugues contra a oposição de proprietá-
rios de escravos. No entanto, quando a escravidão foi restabelecida em 1802, houve uma revolta de escravos por Louis Del-
[100]
gres. A lei resultante de 20 de maio teve o propósito expresso de restabelecer a escravidão em Saint-Domingue, Guadalupe e
Guiana Francesa, e restaurou a escravidão por todo o Império Francês e suas colônias do Caribe por mais meio século, enquanto o
[101][102][103][104][105]
comércio transatlântico francês de escravos continuou por outros vinte anos.
Napoleão enviou uma expedição sob o comando do seu cunhado, o general Leclerc, para reafirmar o controle sobre Saint-Domin-
gue. Embora os franceses tenham conseguido capturar Toussaint Louverture, a expedição fracassou quando altas taxas de doenças
prejudicaram o exército francês, e Jean-Jacques Dessalines conquistou uma série de vitórias, primeiro contra Leclerc, e quando ele
morreu de febre amarela, depois contra Donatien-Marie Joseph de Vimeur, vice-presidente de Rochambeau, a quem Napoleão en-
viou para ajudar Leclerc com outros 20 mil homens. Em maio de 1803, Napoleão reconheceu a derrota e as últimas 8 mil tropas
francesas deixaram a ilha e os escravos proclamaram uma república independente que eles chamaram de Haiti em 1804. No pro-
cesso, Dessalines tornou-se indiscutivelmente o comandante militar de maior sucesso na luta contra a França napoleôni-
[106][107]
ca. Vendo o fracasso de seus esforços coloniais, Napoleão decidiu em 1803 vender o território da Louisiana para os Estados
Unidos, duplicando instantaneamente o tamanho dos EUA. O preço de venda na compra da Louisiana era inferior a três centavos
[1][108]
por acre, um total de 15 milhões de dólares.
[109]
A paz com a Grã-Bretanha mostrou-se desconfortável e controversa. A Grã-Bretanha não evacuou Malta como prometido e
protestou contra a anexação do Piemonte por Bonaparte e seu Ato de Mediação, que estabeleceu uma nova Confederação Suíça.
[110]
Nenhum desses territórios foi coberto por Amiens, mas eles inflamaram as tensões significativamente. A disputa culminou em
uma declaração de guerra da Grã-Bretanha em maio de 1803; Napoleão respondeu remontando o campo de invasão em Boulog-
[72]
ne.
Império Francês

A coroação de Napoleão por Jacques-Louis David (1804)


Durante o Consulado, Napoleão enfrentou vários planos de assassinato feitos por monarquista e jacobinos, incluindo os conspira-
ção des poignards (Dagger enredo) em outubro 1800 e o Lote da Rue Saint-Nicaise (também conhecido como a Máquina Infer-
[111]
nal) dois meses depois. Em janeiro de 1804, sua polícia descobriu um plano de assassinato contra ele que envolvia Moreau e
que era ostensivamente patrocinado pela família Bourbon, ex-governantes da França. A conselho de Talleyrand, Napoleão ordenou
o sequestro do duque de Enghien, violando a soberania de Baden. O duque foi rapidamente executado após um julgamento militar
[112]
secreto, mesmo que ele não estivesse envolvido na trama.
Para expandir seu poder, Napoleão usou esses planos de assassinato para justificar a criação de um sistema imperial baseado no
modelo romano. Ele acreditava que uma restauração Bourbon seria mais difícil se a sucessão de sua família estivesse entrincheira-
[113]
da na constituição. Lançando mais um referendo, Napoleão foi eleito Imperador dos franceses por uma contagem superior a
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99%. Como no Consulado Perpétuo, dois anos antes, este referendo produziu forte participação, trazendo quase 3,6 milhões de
eleitores para as votações.

Sala do trono de Napoleão em Fontainebleau


Madame de Rémusat, uma observadora atenta da ascensão de Bonaparte ao poder absoluto, explica que "os homens desgastados
pela turbulência da Revolução […] procuravam o domínio de um governante capaz" e que "as pessoas acreditavam sinceramente
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que Bonaparte, seja como cônsul ou imperador, exerceria sua autoridade e os salvaria dos perigos da anarquia".
A coroação de Napoleão, oficiada pelo Papa Pio VII, ocorreu na Notre Dame de Paris, em 2 de dezembro de 1804. Duas coroas se-
paradas foram trazidas para a cerimônia: uma coroa de louros dourada lembrando o Império Romano e uma réplica da coroa
[115]
de Carlos Magno.
Guerra da Terceira Coalizão
Napoleão e o Grande Armée recebem a rendição do general austríaco Mack após a Batalha de Ulm, em outubro de 1805. O final decisivo da cam-
panha de Ulm elevou a contagem de soldados austríacos capturados para 60 mil. Com o exército austríaco destruído, Viena cairia para os franceses
em novembro.
[116]
A Grã-Bretanha havia quebrado a Paz de Amiens declarando guerra à França em maio de 1803. Em dezembro de 1804, um
acordo anglo-sueco se tornou o primeiro passo para a criação da Terceira Coalizão. Em abril de 1805, a Grã-Bretanha também as-
[117]
sinou uma aliança com a Rússia. A Áustria havia sido derrotada pela França duas vezes na memória recente e queria vingança,
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por isso se juntou à coalizão alguns meses depois.
Antes da formação da Terceira Coalizão, Napoleão havia reunido uma força de invasão, o Armée d'Angleterre, em torno de seis
campos em Boulogne, no norte da França. Ele pretendia usar essa força de invasão para atacar a Inglaterra. Eles nunca invadiram,
[119]
mas as tropas de Napoleão receberam treinamento cuidadoso e inestimável para futuras operações militares. Os homens de
Boulogne formaram o núcleo do que Napoleão mais tarde chamou de La Grande Armée. No início, esse exército francês tinha cer-
ca de 200 mil homens organizados em sete corpos, que eram grandes unidades de campo que continham 36 a 40 canhões cada e
[120]
eram capazes de ação independente até que outros corpos pudessem resgatar.
Um único corpo adequadamente situado em uma forte posição defensiva poderia sobreviver pelo menos um dia sem apoio, dando
ao Grande Armée inúmeras opções estratégicas e táticas em todas as campanhas. No topo dessas forças, Napoleão criou uma reser-
va de cavalaria de 22 mil membros organizada em duas divisões de couraças, quatro divisões de dragões montados, uma divisão
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de dragões desmontados e uma de cavalaria leve, todas apoiadas por 24 peças de artilharia. Em 1805, o Grande Armée havia
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crescido para uma força de 350 mil homens, que estavam bem equipados, bem treinados e liderados por oficiais competentes.

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