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União Europeia é mais dura quando negocia com as

ex-colônias, diz analista sobre acordo Mercosul-UE


08:18 16.05.2023 (atualizado: 06:58 17.05.2023)
União Europeia apresenta um documento com exigências ambientais "extremamente
duras" que podem acabar em sanções, revelou o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, ao
Senado Federal. Para a analista ouvida pela Sputnik Brasil a Europa é intransigente e
impõe seus valores e regras ao negociar com suas ex-colônias.
Durante sabatina no Senado, o chanceler brasileiro Mauro Vieira fez críticas contundentes à União Europeia
(UE), revelando ceticismo quanto a um rápido avanço do acordo Mercosul-UE.
Discutido há mais de 20 anos, as negociações políticas do acordo foram encerradas em 2019. No entanto, a UE
apresentou novo documento – chamado "side letter" no jargão diplomático – com exigências ambientais que
vão muito além das normas internacionais contemporâneas.
"A UE apresentou o documento adicional, chamado em inglês de 'side letter', e esse documento é
extremamente duro e difícil, criando uma série de barreiras e possibilidades inclusive de retaliação, de
sanções, com base em uma legislação ambiental europeia extremamente rígida e complexa de
verificação. Isso pode ter prejuízos enormes", declarou o chanceler Vieira durante a sabatina, no dia
11 de maio.
Segundo o chanceler, as exigências do documento levaram o Brasil a reavaliar o acordo com os europeus.
De acordo com a professora de Relações Internacionais da Universidade Cruzeiro do Sul e doutoranda
do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) Flavia Loss de Araujo, o
documento demanda do Brasil a aplicação de normas extremamente duras, "apesar do país já possuir uma das
legislações internacionais mais avançadas do mundo e ser membro de regimes internacionais de meio
ambiente".
"Geralmente o Brasil não trabalha com sanções ambientais, mas sim incentivos para cumprimento
das legislações. Eles querem que tenhamos obrigações a mais no setor de meio ambiente e, caso
não cumpramos, soframos sanções comerciais. Isso pode ser muito prejudicial", disse Loss de Araujo
à Sputnik Brasil. "De fato, é um documento leonino."
A especialista lamenta que o trato das questões ambientais durante o governo Bolsonaro tenha levado a
UE a capitalizar no tema para fazer exigências adicionais do Brasil.
"Essa lentidão para a assinatura do tratado é um legado negativo da gestão Bolsonaro para a política externa e
comercial brasileira", considera Loss de Araujo. "Por outro lado, lógico que setores protecionistas da UE,
como o setor agricultor de países como França e Irlanda, estão se aproveitando disso."
Segundo ela, a Europa coloca exigências que o Brasil teria dificuldades em cumprir para poder aumentar
tarifas sobre produtos agrícolas mercosulinos, "negando o nosso acesso ao mercado europeu, mesmo com o
acordo em vigor".

Ética nas negociações


As novas exigências europeias também causam estranhamento por terem sido impostas após o fechamento
das negociações políticas entre as partes, em 2019. Araujo explica, no entanto, que a prática é comum.
"Juridicamente é legítimo apresentar documentos adicionais após o fim das negociações. Mas mostra
o quanto a União Europeia costuma ser intransigente ao negociar e costuma colocar os seus valores
e regras nos outros países, principalmente nos países em desenvolvimento", considerou Loss de
Araujo.
Segundo ela, os europeus também apresentaram exigências ambientais durante negociações de acordo de
livre comércio com o Canadá, "mas elas não eram tão duras".
"Quando [os europeus] negociam com países que foram ex-colônias eles são, sim, mais duros. E essas
exigências mostram isso", acredita Loss de Araujo. "Temos aqui um questionamento ético, de buscar uma
negociação entre pares, e não entre países ricos e países em desenvolvimento."

Perspectivas
Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Portugal, em abril deste ano, autoridades do governo
brasileiro declararam a intenção de assinar o acordo Mercosul-UE ainda no primeiro semestre de
2023, reportou o portal Poder 360.
O Palácio do Planalto tem a expectativa que a presidência espanhola do Conselho da União Europeia
facilite a negociação do acordo. De acordo com Loss de Araujo, existe vontade de diversos setores
econômicos europeus em selar acordos com novos fornecedores internacionais.
"Do outro lado, nossos parceiros no Mercosul também querem o acordo", declarou Loss de Araujo. "A
conjuntura regional é positiva para que o acordo saia."
Durante a sabatina no Senado, o chanceler Mauro Vieira anunciou que o Mercosul apresentará uma
contraproposta aos europeus.
"O governo está em fase de finalização de uma posição comum. Já temos conversado muito com os outros três
sócios do Mercosul", disse Vieira aos senadores. "Estamos consensuando uma posição para apresentar uma
contraproposta à União Europeia."
Porém, mesmo que o governo brasileiro consiga avançar, a possibilidade de assinatura do acordo no primeiro
semestre de 2023 é baixa. Loss de Araujo lembra que "o acordo ainda teria que passar pelos 27
parlamentos dos países da UE, cada um deles com a possibilidade de barrar o acordo como um todo".
"O caminho pela frente é longo. Não acho que no curto prazo esse acordo entrará em vigor", lamentou
a especialista.
No dia 11 de maio, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, compareceu à sessão especial
da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal. Na ocasião, o ministro fez
declarações sobre novas exigências europeias para a assinatura do acordo de livre comércio Mercosul-UE, em
negociação há mais de 20 anos.

BR-VE – Como se não bastassem os venezuelanos, o


regime de Maduro agora assassina brasileiros:
 Editor = 17 de agosto de 2022 - Inteligência, Pensamento, Venezuela

LEONARDO COUTINHO
Jornalista, autor do livro “Hugo Chávez, o espectro”,
pesquisador e comentarista sobre segurança e relações internacionais.
Escreve semanalmente, desde WashingtD.C.

Nesta semana, um helicóptero das Forças Armadas Bolivarianas da Venezuela invadiu o espaço aéreo brasileiro
para uma operação macabra. A aeronave militar sem marcações carregava pendurados em uma rede de carga os
corpos de cinco cidadãos brasileiros executados pela Guarda Nacional Bolivariana, em um garimpo no Sul do país.
Os relatos das testemunhas dão conta de que os corpos, crivados de balas de fuzil, foram descarregados em uma
clareira no lado brasileiro da fronteira com menos dignidade que a dedicada aos animais.
As vítimas eram garimpeiros que trabalhavam na exploração de ouro que, embora clandestina, é controlada por
máfias subordinadas ao regime de Nicolás Maduro, que se vale da atividade para movimentar centenas de quilos de
ouro que alimentam suas redes de crime e corrupção dentro e fora da Venezuela.
Os corpos dos brasileiros foram desovados nas franjas da terra indígena ianomami, indicando que os militares
venezuelanos não só invadem impunemente o território brasileiro, como terras indígenas brasileiras.
O silêncio global para a destruição ambiental promovida pelo regime de Maduro é constrangedor. Mais ao norte da
área onde os brasileiros foram mortos, está o “Arco Mineiro” – local digno de comparação com cenários de filmes
distópicos ao estilo Mad Max.  Encravado no meio da Amazônia (pois é a Venezuela também um pedaço da floresta),
os garimpos paraestatais da ditadura chavista são de longe a maior estrutura de devastação em atividade naquele
bioma. Desmatam, envenenam rios, contaminam o solo, matam indígenas e líderes comunitários locais. Mas
ninguém presta a atenção.
Assim como ninguém fora de Roraima deu a mínima pelo assassinato dos garimpeiros brasileiros pelo regime de
Maduro.
As vítimas não falavam inglês. Possivelmente eram até semianalfabetas. Não tinham filiação partidária ou cargos
públicos ou vínculos com organizações capazes de mover as engrenagens da opinião pública. Por muita sorte,
podemos saber os seus nomes. O Instituto Médico Legal de Boa Vista os identificou como Oswaldo José Figuera
Suárez, Raimundo Charles da Conceição Pereira, Francisco Pereira, João Barbosa da Silva e uma mulher, Dilviane
Nunes da Silva.
Esses são os nomes dos cinco brasileiros assassinados pelo regime de Nicolás Maduro, cujos corpos foram
desovados no Brasil, com a combinação de desrespeito total ao que Brasil, seus cidadãos e autoridades.
No Brasil é longa a lista de autoridades que trabalham para a normalização das relações com a ditadura de Maduro.
A lista é apartidária. O senador Chico Rodrigues, do União Brasil, é quem lidera o lobby chavista na cozinha do
presidente Jair Bolsonaro. Na extrema esquerda estão os pessolistas e assemelhados que juram que a Venezuela é
uma democracia demonizada pelo imperialismo dos Estados Unidos e, assim como Cuba, vítima de embargos cruéis
e desumanos.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu PT são os maiores aliados regionais do regime de Maduro e
inegavelmente a peça que falta para a normalização completa daquela ditadura. Não faltam registros de afeto, apoio
e inspiração nas ações iniciadas por Chávez e agravadas pelo seu sucessor.
A direita no Brasil e América Latina faz um uso indiscriminado das comparações de todos os males que surgem em
seus países com as atrocidades que são cometidas na Venezuela e que levaram a Venezuela ao colapso econômico,
social e institucional. A criminalização do Estado atingiu níveis tão profundos nas instituições venezuelanas que as
tragédias que vemos no entorno, muito embora não devam ser negligenciadas, parecem estar bem longe do que o
chavismo foi capaz de fazer.
O horror do chavismo e sua sequência, pelas mãos de Nicolás Maduro e seus aliados é tão evidente que qualquer
defesa de seu regime não pode ser explicada fora da patologia, má-fé ou cumplicidade criminosa.

O regime espanca, prende, tortura e mata opositores. Mais de cinco milhões de refugiados deixaram o país, ou para
fugir da fome e miséria, ou para não morrer nos tentáculos do regime que se vale do aparato estatal ou das milícias
que são mantidas pelo hibridismo do Estado e o crime.
Não seriam necessários mais exemplos para definir o comportamento mafioso do regime e seus membros. Mas o
assassinato de cinco brasileiros e toda a operação envolvendo aeronave sem marcações e militares venezuelanos
em uma incursão clandestina em território brasileiro servem para relembrar que além de uma ditadura, o regime de
Maduro é uma guarda-chuvas de organizações criminosas que operam em todos os níveis, desde o Palácio de
Miraflores, que é a sede do governo, até as entranhas da mata, onde se mata e pilha a natureza com mandato e
proteção estatal.

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