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Argentina avalia construção de um submarino nuclear

5 de julho de 2018

Perfil com corte do submarino TR-1700 argentino, classe “Santa Cruz”


Por Mariano De Vedia
Depois da tragédia do ARA San Juan e quase um ano depois de Armada Argentina ficar sem
submarinos operacionais, o governo argentino está considerando a possibilidade de projetar e
construir um submarino nuclear. O objetivo é colocá-lo na água no ano de 2025.
O projeto prevê o desenvolvimento de um reator nuclear compacto para impulsionar o casco
do ARA Santa Fe, submarino TR-1700, semelhante ao ARA San Juan e cuja construção foi
abandonada há 25 anos, quando estava completado por 70 por cento.
A estrutura deste submarino está desde meados dos anos 90, nos estaleiros do Complejo
Industrial y Naval Argentino (Cinar), e para o avanço do projeto devem destinar 5 milhões de
dólares nos próximos três anos.
A iniciativa se tornou público ontem na Câmara dos Representantes nas comissões plenárias
de Defesa e Tecnologia, na qual se decidiu solicitar relatórios do Poder Executivo para
explicar a viabilidade e implementação do projeto.
A possibilidade de que a Argentina possa construir um submarino nuclear, num momento em
que o Brasil desenvolve o seu próprio, surpreendeu as forças armadas, que ainda estão à
espera de resposta do governo às reivindicações pelo baixo reajuste salarial anunciado no
mesmo dia em que o projeto do reator nuclear foi analisado no Congresso.
A reunião foi liderada pelos chefes de ambas as comissões, os deputados Sandra Castro (FPV-
San Juan) e Nilda Garre (FPV-Capital). “Com a entrada de vários especialistas convidados,
deputados que compõem as comissões de Ciência e Tecnologia e de Defesa, vamos analisar a
viabilidade da Argentina contar com um submarino com propulsão nuclear, baseado em
tecnologia nacional”, previu pelo Twitter o ex-ministro da Defesa , ao anunciar a chamada.
Submarinos argentinos TR-1700 que tiveram sua construção interrompida continuam
armazenados
Pedido de relatórios
Como resultado, ambos os comités acordaram requerer que o governo de Mauricio Macri
informe se “prevê utilizar os estudos realizados e concluídos no Centro Atômico Bariloche
para o Desenvolvimento da engenharia conceitual e básico de um tipo submarino de
propulsão nuclear TR-1700”.
Entre os especialistas navais que foram consultados, estavam os almirantes aposentados José
Luis Pérez Projeto Varela, gerente de submarinos do estaleiro Tandanor e Carlos Castro
Madero. Além disso, eles apresentaram suas visões o historiador naval Ricardo Burzaco,
especializado em submarinos e editor da revista Defensa y Seguridad-Mercosur, e Horacio
Calderon ex-representante do estaleiro Domecq Garcia, que participou da construção do ARA
Santa Fe que foi desmantelado em anos 90.
Em relação ao submarino inacabado, estima-se que há partes suficiente para terminar e
podem ser importados outros componentes, além de atualizar os sistemas passivos e
sensores ativos.
O deputado Carlos Gaston Roma (Tierra del Fuego-Pro) recomendou incorporar o projeto de
orçamento para “permitir o desenvolvimento de condições de viabilidade”. Em diálogo com o
La Nacion, explicou que, basicamente, analisar a viabilidade de utilizar a estrutura do ARA
Santa Fe para transformar o projeto diesel-elétrico em propulsão nuclear. Seria, no entanto,
uma propulsão híbrida: elétrica e nuclear. “O reator pode também servir para um navio
quebra-gelo e a qualquer outro tipo de embarcação” acrescentou.
A ideia, segundo soube o La Nacion é que no desenvolvimento do projeto e construção
envolveria a empresa Invap e a Marinha, tendo em conta o modelo brasileiro.
A discussão não é menor em termos de custos. Os 5 milhões de dólares necessários para o
avanço do projeto seriam para completar o estudo de viabilidade.
Depois será a vez de grandes investimentos. “Para colocá-lo na água terá que pensar em um
investimento de US$ 500 milhões,” disse ao La Nacion uma fonte especializada.
Na comissão plenária observou-se que a Austrália assinou um acordo para comprar franceses
submarinos-não nucleares de US$ 3,1 bilhões. A este respeito, citando um artigo pelo
engenheiro Joseph Converti, pesquisador e professor do Instituto Balseiro, explicou que a
Rússia pretende desenvolver um novo submarino nuclear por US$ 500 milhões. E, entre
outros planos mais ambiciosos para a França, que desenvolve “projeto Le Triomphant, com
um orçamento estimado em US$ 3,8 bilhões” foi mencionado.
Além de esforços do Brasil, que já tomou uma decisão política para fazer avançar esta
tecnologia, os países com submarinos nucleares são a China, Rússia, EUA, Reino Unido,
França e Índia. A Argentina aspira a aderir a este seleto grupo, em meio a fortes restrições
orçamentárias que limitam as forças armadas.

ARA Santa Cruz, TR-1700


Um projeto ambicioso
 Objetivo: Um grupo de engenheiros do Centro Atômico de Bariloche trabalhou no
desenvolvimento de um reator nuclear para incorporá-lo ao ARA Santa Fe, um
submarino que permaneceu inacabado
 Custos: Estimativas iniciais indicam que colocar um submarino nuclear na água em
2025 exigiria um investimento de US$ 500 milhões. E o avanço imediato do projeto
exigiria US$ 5 milhões nos próximos três anos
 Homônimo: O ARA Santa Fe tem o mesmo nome do submarino S-21 usado na Guerra
das Malvinas e capturado pelos britânicos.
 Antecedente: O projeto do submarino à propulsão nuclear foi impulsionado na gestão
da ex-ministra da Defesa Nilda Garré. O ministro das Relações Exteriores, Jorge
Taiana, se opôs à proposta porque o projeto poderia gerar irritação no governo dos
EUA.
FONTE: La Nacion
NOTA DO EDITOR: A empresa canadense ECS, na época da entrada em serviço do TR-1700,
chegou a oferecer à Argentina a instalação de um plug no casco com um pequeno reator de
baixa potência ECS AMPS[N] (Autonomous Marine Power Source [Nuclear]), o que daria ao
submarino uma capacidade de propulsão independente da atmosfera (AIP).
Planos do submarino TR-1700 com o plug de propulsão híbrida AMPS
O sistema de propulsão híbrida AMPS(N) para submarinos
O sistema com reator de baixa potência foi oferecido para equipar submarinos diesel-elétricos do
porte do TR-1700, a classe do ARA Santa Cruz e ARA San Juan
O sistema de propulsão híbrida nuclear/diesel-elétrica denominado Naval Autonomous Marine Power
Source AMPS(N) foi desenvolvido no Canadá pelo ECS Group of Companies. Basicamente, tratava-se de um
pequeno reator nuclear capaz de manter uma carga contínua das baterias do submarino, oferecendo uma
capacidade de produção de energia independente da atmosfera.

Extremamente silencioso, o sistema canadense utilizava evaporadores de freon e turbo-alternadores, em


lugar dos geradores de vapor e turbinas de um submarino nuclear “puro” equipado com reator de água
pressurizada. O AMPS(N) utilizava combustível nuclear com baixo teor de enriquecimento (20% de U-235)
e água como refrigerante primário.

Este sistema seria instalado em um “plug” (seção de casco de pressão) com aproximadamente 7,8 metros de
comprimento, o qual seria adaptado a um moderno submarino convencional de ataque com capacidade
oceânica, acrescentando cerca de 250 toneladas ao deslocamento submerso. Segundo informes na época
que em que o sistema foi oferecido, um submarino de 1.700 toneladas novo ou convertido equipado com
uma versão do AMPS(N) capaz de produzir uma potência útil de 500 kW, poderia manter uma velocidade
de cruzeiro submerso de aproximadamente 8 nós, pela duração de uma patrulha, sustentando toda a carga
de serviços de bordo e mantendo as baterias carregadas.

Um submarino de propulsão híbrida (SSn) teria uma autonomia de imersão virtualmente ilimitada, pelo
menos em relação ao combustível do seu reator compacto. Entretanto, ao contrário de um reator de água
pressurizada, que produz energia elétrica em abundância, o sistema híbrido não seria capaz de renovar o
suprimento de oxigênio no interior do submarino, através da decomposição da água do mar por eletrólise.

Os custo de aquisição, operação e manutenção do sistema AMPS(N) seriam consideravelmente inferiores


aos de um reator de água pressurizada do tipo usado em um submarino nuclear de ataque (SSN).

Planos do submarino TR-1700 com o plug de propulsão híbrida AMPS (N) inserido no casco, entre o motor
elétrico e os motores diesel

FONTE: Revista Segurança & Defesa/COLABOROU: Alexandre Fontoura


A vantagem de qualquer propulsão AIP independente da atmosfera, seja ela nuclear, de
célula de combustível ou de circuito fechado Stirling, é reduzir a taxa de indiscrição do
submarino convencional. Com a propulsão AIP o submarino convencional (SSK) aumenta em
muito os intervalos entre cada uso do snorkel, pois possui uma fonte alternativa de energia
além das baterias.

Mantendo as baterias carregadas enquanto usa a propulsão AIP, o submarino convencional


conta com uma reserva de energia para poder acelerar em velocidade máxima com o objetivo
de atacar outros alvos ou escapar de torpedos lançados contra ele. Um submarino
convencional esgota suas baterias em praticamente uma hora se navegar em velocidade
máxima, depois disso ele precisa usar o snorkel para recarregar as baterias.

O tempo que ele permanece usando o snorkel o torna vunerável à detecção por radar,
infravermelho e visual.

Na foto abaixo, um submarino classe Walrus usando o snorkel:

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