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5anptecre 15474 PDF
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Gustavo Schmitt
Mestrando em Teologia
Faculdades EST
schmitt.gustavo@hotmail.com
Bolsista CAPES
Resumo: A tradição do Êxodo é fundamental na teologia, tanto judaica como cristã, e perpassa
os textos bíblicos. O fascinante testemunho de fé de escravos fugidos do Egito é um paradigma
que ecoa pelos milênios, uma história que guia ainda hoje muitas pessoas. O presente artigo
aborda a percepção do Êxodo dentro da tradição judaica e como tornou-se referencial de
liberdade para cristãos, grupos sociais e a influência que teve na música. Para a cristandade
latino-americana, em especial, o Êxodo é fonte de inspiração para a luta por justiça. O Egito, na
época, representava o poder absoluto e dominador. Os faraós entendiam-se como deuses e
outorgavam-se o direito de escravizar. Na atualidade não é diferente, o “Egito” tomou outras
formas e o império ainda domina. A saída do “Egito opressor” é possível e muitos grupos
mundo à fora utilizaram a teologia de libertação que brota do Êxodo. Inicialmente o texto
expõem como o Êxodo tornou-se símbolo universal de liberdade, parte-se da visão judaica e
segue-se para a universalização desta tradição. Em seguida, analisa-se como a liberdade é
experimentada pelas pessoas e como a temática está presente na cultura, com ênfase especial
na música. A conclusão consiste em uma abertura de possibilidades nas quais as temáticas do
Êxodo podem ser atualizadas e contextualizadas. A voz profética de libertação dos movimentos
dominadores ressoa por toda as Sagradas Escrituras. Quer-se lançar algumas ideias de que o
tema do Êxodo encontra-se refletido em vários lugares da sociedade, na arte e música.
Evidencia-se o Deus que se esvazia, desce e não quer a escravidão.
A partir deste entendimento de povo escolhido e libertado por Deus cf. Lv 25.42,
a busca pela liberdade tornou-se uma grande marca para o judaísmo. Na época da
segunda era do Templo, os judeus fizeram 62 levantes contra o sistema opressor que
os dominava, normalmente na região da Galileia. Os romanos conseguiram retomar o
poder na região. O ano 70 d. C. é um dos marcos importantes para o judaísmo:
“Quando Tito destruiu o segundo Templo e forçou os cativos a lutarem em torneios de
gladiadores, ele queimou um santuário simbólico, mas que já era rivalizado em
influência pelas sinagogas dos fariseus, e não atingiu a maioria dos judeus, que vivia na
Diáspora” (GOLDBERG, 1989, p. 98). Esta tragédia nacional não tirou dos judeus a
liberdade que o próprio Deus os assegurou. Perderam a guerra e o Templo foi
destruído. Ainda assim o espírito da liberdade continuou vivo e atuante.
Nos anos seguintes mais levantes, contra os romanos, ocorreram. De 115-117
houve mais uma revolta contra o imperador Trajano. Destaca-se que:
Embora na Palestina prevalecesse a tranquilidade, na Diáspora um levante
contra o imperador Trajano contou com a adesão de comunidades judaicas
incitadas por esperanças messiânicas. A revolta foi rudemente esmagada, e
entre os anos de 114-117 as populações judaicas de Alexandria, Cirene e
Chipre foram destruídas. Trajano estendera seu império até o golfo Pérsico,
mas seu sucessor, Adriano, não pode manter as conquistas, com o importante
resultado, para o judaísmo, de que a grande comunidade judaica da Babilônia,
aproximadamente meio milhão de pessoas, ficou livre da dominação romana
(GOLDBERG, 1989, p. 101).
Cf. Lv 26.13, Deus quer que o povo ande de cabeça erguida no seu processo de
libertação. O pedagogo Paulo Freire afirma que: “Somente quando os oprimidos
descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua
libertação começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua ‘convivência’ com o
regime opressor” (FREIRE, 2008, p. 59-9).
O ser humano deve descobrir-se como ser dotado de dignidade, o Êxodo é um
exemplo da libertação concreta em um acontecimento histórico, político e social. Tais
eventos apontam para a páscoa, na qual esperam o messias escatológico. Para o
judaísmo:
[a] crença na vinda do Messias, um descendente da casa de Davi, que redimirá
a humanidade, o messianismo faz parte da tradição judaica desde os dias do
profeta Isaías. A tradição judaica encara o Messias não como ser divino, mas
apenas humano; um grande chefe, reformador social, que ensejará uma era de
perfeita paz (SCHLESINGER, 1987, p. 163).
Palavras finais
As “palavras finais” não querem ser “finais” mas sim provocativas. Na América
Latina o Êxodo bíblico foi lido diversas vezes. Em cada tempo e situação emerge das
Escrituras as palavras de libertação, o Deus que afirma “EU SOU O QUE SOU” (Êx
3.14) não deixa calar a sua voz. A Criação sofre, criaturas oprimindo criaturas, irmãos
maltratando irmãos. O mundo clama por justiça, a qual procede de Deus. Que o texto
do Êxodo possa ser lido de forma libertadora em todos os tempos e lugares, lançando
alicerces para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Referenciais
BLUMENFELD, Yaacov Israel. Judaísmo: a vida, o mundo e o homem segundo a Torah. Rio de
Janeiro: Imago, 1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Ed. 47. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.
GOLDBERG, David J.; RAYNER, John D. Os judeus e o judaísmo: história e religião. Rio de
Janeiro: Xenon, 1989.
IZECKSOHN, Isaac. História dos judeus. v. 1. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1973-1976.
LAPIDE, Pinchas. O Êxodo na Tradição Judaica. In: Revista Concilium. Êxodo: paradigma
sempre atual. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1987.