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RESUMO
Actualmente não existe grande conhecimento acerca do efeito das reparações de
veículos acidentados no futuro desempenho do veículo. Há fortes indícios de que muitas
das reparações realizadas afectam significativamente a resistência mecânica e a
tenacidade de alguns componentes estruturais. Muitas das vezes, estas reparações
efectuam-se devido às companhias de seguros não permitirem a aplicação de novos
componentes, mas sim exigirem a reparação dos componentes danificados. Como tal,
frequentemente realizam-se reparações que são mais baratas do que substituir
componentes. No entanto, não existe nenhuma legislação ou controle acerca do futuro
desempenho do veículo, o qual muitas das vezes acaba por nunca mais possuir as
mesmos níveis de segurança e desempenho que exibia anteriormente.
Com este trabalho, pretende-se apresentar os primeiros resultados de um estudo
alargado a realizar no Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP, em colaboração
com uma empresa do sector automóvel, no sentido de averiguar em que medida é que a
resistência de alguns componentes estruturais de veículos acidentados é alterada devido
ás operações de reparação realizadas. Nesta primeira fase apresentam-se as propriedades
mecânicas de uma parte estrutural de um veículo acidentado, antes e após reparação.
1. INTRODUÇÃO
Actualmente não existe em Portugal nenhum tipo de legislação que controle a
qualidade e fiabilidade de reparações realizadas em veículos automóveis. Esta situação
conduziu a uma completa anarquia neste sector automóvel, com os proprietários dos
veículos a recorrerem frequentemente aos serviços de oficinas clandestinas que não
garantem os trabalhos realizados. Esta situação é extremamente grave, atendendo a que
do desempenho do veículo depende a segurança e a prevenção de acidentes. O nosso
País, na União Europeia, é frequentemente indicado como aquele que exibe as maiores
taxas de acidentes. Este assunto tem sido objecto das mais acesas discussões e
publicações nas mais variadas revistas. O Governo decidiu alterar o código da estrada,
introduziu medidas de maior controle sobre os condutores, no entanto, a causa dos
acidentes em Portugal não se deve só aos condutores, sendo a qualidade e fiabilidade
dos veículos um factor com bastante peso na taxa de acidentes. Com este trabalho
pretende-se demonstrar a influência que as reparações realizadas em partes estruturais
de veículos automóveis exercem sobre o seu futuro desempenho.
2.1. ALINHAMENTO
Quando um sinistro ocorre num local do veículo próximo das rodas, o seu
alinhamento poderá ter sido alterado, sendo então necessário verificar os seus valores.
Este processo está representado na figura 1.
Na medição por ultra sons, existe um emissor de ultra sons e receptores situados
nos pontos fundamentais do chassis. Os receptores reflectem o sinal que permite
determinar as diferentes distâncias entre pontos.
3. TRABALHO EXPERIMENTAL
Neste trabalho utilizou-se o lastro, ou piso de mala, da figura 3, retirado dum
veículo ligeiro acidentado. Desconhece-se qual o aço utilizado na sua produção, no
entanto, atendendo aos aços utilizados na indústria automóvel (Pechiney, Sollac,
Cockerill, etc.), trata-se de um aço de construção de baixo carbono de pouca liga [5].
Este lastro foi analisado antes e após a reparação. A reparação envolveu as seguintes
etapas; aquecimento da chapa para lhe conferir maior maleabilidade durante a sua
reparação, e marteladas sucessivas para conferir à chapa a sua forma inicial. Refira-se a
propósito que esta reparação foi realizada numa oficina, nas condições iguais às
utilizadas em qualquer veículo acidentado.
a) b)
a) b)
Para os ensaios extraíram-se 5 provetes para cada uma das situações do lastro,
antes (A) e após a reparação (R). Os 5 provetes do ensaio de tracção (TR) foram
cortados e maquinados para as dimensões especificadas na tabela I. Na tabela II estão
indicados os valores médios obtidos nos ensaios de tracção e de dureza, antes e após
reparação, respectivamente.
Camada zincada
a) b)
Figura 6 - Camada zincada, a) a camada zincada desapareceu da chapa na face em que
foi realizada a reparação, b) camada zincada deteriorada correspondente à outra face da
chapa.
CONCLUSÕES
Este trabalho forneceu elementos importantes para a caracterização do efeito das
reparações realizadas em veículos acidentados, tendo-se analisado, neste caso, um lastro
(piso da mala) de um automóvel ligeiro. Comparando as curvas de tracção obtidas, antes
e após a reparação, verifica-se que depois da reparação o material apresenta um
aumento de 8,80% na tensão de limite de elasticidade e que a tensão de ruptura aumenta
cerca de 16 %, ou seja, há um aumento significativa da resistência do material após a
reparação. Contudo, há uma diminuição significativa da ductilidade do material, a
capacidade da chapa em absorver energia é reduzida de 34 %, o que poderá ter
consequências graves em caso de um novo acidente.
REFERÊNCIAS
[1] A.S.M, International Conference Proceedings, “ HSLA Steels, Metallurgie &
Applications” Edited by J.M.Gray, November, 1985.
[2] Danner, M., La moderna reparación de automoviles, Editorial Mapfre S.A., Centro
de Investigação de Seguridad Vial (CESVI), 1987.
[3] Iliffe, Body Construction and Design, Ed. J. G. Giles, Automotive Technologie
Series, Volume 6, January, 1989.
[4] Mech, I., Vehicle Structures, International Conference on Publications, published
for the Institution of Mechanical Engineers by Mechanical Engineering
Publications Limited, July 18th, 1984.
[5] Pawlowski, J., Vehicle Body Engineering, Business Books Limited, Edited by
Grey Tidbury, 1989.
[6] Wurst, J. C. and Nelson, J. A., Lineal Intercept Technique for Measuring Grain
Size in Two-Phase Polycristalline Ceramics”, J. Am. Ceram. Soc., 55 [2] pp. 109
1993.