PRIMEIRAS NOÇÕES DE DIREITO PENAL
CONCEITO DE DIREITO PENAL
Ramo do direito que trabalha um conjunto de normas que vai disciplinar a
infração penal e a consequência da violação da sua norma, ou seja, a
consequência da infração penal. Traz um conjunto de princípios que vai
regular a responsabilidade penal da pessoa do momento em que ela viola a
norma do código penal até o final do processo criminal. Esse conjunto de
princípios, de normas, de regras incriminadoras e não incriminadoras
formam tudo o que o direito penal representa.
AS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
Ramo do direito público, assim como o direito processual, constitucional
porque trabalha a relação de cada um de nós com o estado. A partir do
momento que tem o autor que viola a norma nasce ali uma relação com o
estado de dever e poder.
Cultural: porque ao contrário das disciplinas que estudam o ser, o direito
penal estuda o dever ser, que é a norma imposta para regular a sua
atividade
Normativo: porque o direito penal porque ele cria a sua própria normal, ele
tem como objetivo o estudo da norma, que vão se dividir em normas
incriminadoras (trazem os crimes) e não incriminadoras (não trazem os
crimes)
Valorativo: porque ele traz sua própria escala de valores, porque quando
há uma violação de um bem jurídico protegido pelo direito penal ele não
precisa de nenhum outro ramo do direito para regular aquele bem. Ex:
violação a vida, lesão corporal, violação à honra, estupro dependendo do
bem jurídico violado traz a sua própria escala de valores de proteção desses
bens jurídicos
Finalista: dentre todos os ramos do direito, o direito penal está sempre em
último lugar porque ele é o ramo mais forte de todos porque ele trabalha
com a pior punição do nosso ordenamento jurídico em termos globais, qual
seja a pena privativa de liberdade. Quando temos uma conduta que
nenhum ramo do direito consegue regular, o direito penal é chamado para
regular aquela conduta. Mas isso só acontece depois que todos os outros
não puderem resolver, porque enquanto qualquer ramo for capaz de dar
conta do problema o direito penal não se intromete. Exemplo: carro
estacionado na vaga de deficiente, grávida ou idoso, sendo que não se
enquadra nestas situações, então toma-se uma multa, que é aplicada pelo
direito administrativo. Enquanto o direito administrativo está resolvendo
esta questão o direito penal não precisa atuar. Há muito tempo atrás dirigir
embriagado não era crime, porém com o aumento do caso, passou a ser
contravenção, depois uma punição muito leve até ser mais grave e
atualmente o código de transito faz essa punição. Tem a multa do carro e
apreensão do veículo que são sanções administrativas e também tem o
crime de embriaguez ao volante no CNT onde o direito penal atua, em caso
de ter danificado algum bem também responde na esfera civil.
Essas características finalista e seletiva demonstram que o direito penal vem
em último lugar e que ele não trabalha com todo tipo de comportamento
que seria errado. Ele escolhe dentre todos os comportamentos indesejados
quais ele vai atuar e fazer sua punição.
Sancionador: porque ele não sabe punir de uma outra forma a pessoa que
violou a norma a não ser impondo uma sanção penal. Que pro direito penal
pode ser de várias espécies.
Num primeiro momento do direito penal se apresenta num sistema
dicotômico ou dualista, ou seja, todas as infrações penais foram divididas
em dois grupos diversos.
1. Primeiro grupo: crimes ou delitos: todas as infrações legais que
vem previstas no código penal, a partir do art. 120 até o 360 em
mais todo e qualquer crime previsto em legislação extravagante
(CNT ou lei de drogas, ECA, CDC), a única exceção é a lei de
contravenções penais (decreto lei 3.688/41) – ex: acidente de
transito, usuário de drogas, violência de doméstica, embriaguez
ao volante ou competição em disputa não autorizada (racha),
crimes contra o consumidor, lesão corporal (quando uma
agressão física deixa lesão).
2. Segundo grupo: contravenções penais (infrações penais),
infrações de pequeno potencial ofensivo – ex: prática de jogo de
bicho, importunação ofensiva ao pudor (cantadas), vizinho que
tem o cachorro que late dia e noite ou música muito alta e faz
uma perturbação, chamada de perturbação da tranquilidade e
sossego alheio, vias de fato, quando acontece uma agressão
física sem deixar lesão.
Quem viola a norma, quem não obedece às regras do direito penal é o
infrator da norma, é o sujeito ativo. Diferentemente do direito civil que
quando você entra com uma ação você é o autor daquela ação ou seja,
sujeito ativo, mas não é quem violou a norma. Aqui o sujeito ativo é quem
viola a norma, o autor do crime. Dependendo do momento do processual
ele leva vários nomes. Autor, sujeito ativo (em qualquer momento),
indiciado (fase do inquérito policial na delegacia), acusado ou réu (processo
criminal na justiça), se condenado o nome muda para condenado. A vítima
é o sujeito passivo, também chamado de ofendido.
Em termos de sanções penais, que são as consequências da prática de
violação da norma. Quando alguém viola a norma do direito penal, surge
para o estado o direito de impor algum tipo de sanção através do processo
criminal. Temos dois grandes grupos de sanções diversas:
1. Penas: retribuição que o estado faz, representando o povo, do
mal causado pelo autor do crime com o mal da sanção penal.
Prevenir a prática de novos crimes. E também a ressocialização
do preso. Podem ser:
a. Privativas de liberdade
b. Restritivas de direitos (tentativa de descarceirização):
prestação de serviço a comunidade, restrição à saída
no final de semana, impedido de ir a jogo de futebol,
impedido de frequentar determinados lugares
c. Multas – pena pecuniária que pode vir acumulada
com as outras penas.
2. Medidas de segurança: tem o objetivo diferente das penas, só
incide em razão de uma violação quando se comprova no curso
do processo criminal que a pessoa tinha qualquer tipo de
problema mental ou no momento da prática da violação ou
quando afetou a pessoa durante a pena (durante o
encarceramento). O objetivo é tratamento, aqui não tem prazo
para ser libertado, pois é um tratamento para o doente mental
que cometeu a prática, normalmente eles ficam anos, pois
dificilmente o médico dará alta. Porque algumas pessoas fazem
os crimes mais bárbaros sabendo o que estão fazendo e depois
querem comprovar que tem problema mental? Porque se fica
comprovado que ele tinha um problema mental que o tirou o
completo discernimento no momento da prática criminal, o juiz
não poderia impor uma pena, teria que impor uma medida de
segurança, que é tratamento, sendo possível convencer
facilmente o médico de que já estaria bem novamente, em vez
de cumprir uma pena de 30 anos, em 2 anos já poderia fazer um
exame para avaliar se está bem novamente, sendo avaliada
anualmente e podendo ser liberta muito antes do que o previsto
na pena.
O direito penal é:
1. Objetivo: é a lei, a norma que está posta na legislação penal – CP
ou lei extravagante)
2. Subjetivo – sinônimo de ius punien: direito de punir do Estado.
Quando o sujeito ativo viola a norma, imediatamente nasce para
o Estado o direito de perseguir criminalmente, ou seja, direito de
punir o infrator da norma, faz isso através do mais variados
órgãos que representam a coletividade, começa usando a polícia
civil ou federal (depende do crime) depois ministério público e
judiciário, com o objetivo de impor a sanção penal.
3. Intransferível ou indisponível: a maioria dos crimes não
depende da vontade da vítima de acusar o sujeito ativo, o Estado
vai agir de ofício, exemplo: tráfico de drogas, homicídio. Alguns
crimes dependem da vontade da vítima: ação penal pública
 condicionada de representação. Existem crimes que só se
processam se o ofendido desejar, são crimes onde a ação penal
é privada, como por exemplo crimes contra a honra, crimes de
dano entre particulares. O direito de punir jamais sai das mãos
do Estado, por isso ele é dito como intransferível ou indisponível.
A lei deve ser escrita, para se evitar que aquela prática costumeira venha
incidir no direito penal e cause uma revogação da lei. O costume não tem o
poder no direito penal de criar um crime novo nem de abolir uma lei.
O costume pode ser:

Direito penal comum: são as regras que vem no CP do art. 1 ao 120, são as a) Contra a lei: nenhum ramo admite.
regras e princípios gerais que trazem a estrutura da responsabilidade penal. b) Segundo a lei
c) Praeter legis
Direito penal especia: são normas incriminadoras, que no CP começam no
art. 121, que é o homicídio. A lei deve ser estrita, ou seja, deve ser interpretada mais próximo possível
da letra da lei. Só admite analogia em bona parte. Analogia dois ou mais
A finalidade do direito penal é proteger os bens jurídicos mais importantes casos semelhantes, um tem previsão na lei e os outros não tem, só se pode
a cada um de nós, com o objetivo de trazer a paz da coletividade, ex. vida, utilizar a analogia se for para beneficiar o réu. A lei precisa ser taxativa para
honra, patrimônio. evitar ambiguidades. A lei precisa ser necessária, quando a lesão for
relevante ao bem atingido.
Como funciona o direito penal no estado democrático de direito? No estado
democrático direito o direito penal tem o que se chama de função Princípio da última Ratio / intervenção mínima: é um dos princípios mais
garantista, o direito penal só pode fazer uma punição de uma conduta importantes do direito penal, última racio quer dizer que o direito penal
quando há uma previsão expressa daquela conduta, sendo necessário que está em último lugar, ele só intervém quando for necessário. Tem como
a conduta se encaixe perfeitamente no que foi previsto na legislação. Ele características:
tem a função de garantir a liberdade do cidadão, só se pode prender, punir
como medida de exceção. A maioria das pessoas que respondem a algum a) Subsidiariedade;
processo criminal responde em liberdade. Para se prender antes da b) Fragmentariedade: princípio da insignificância, dá origem ao
sentença somente em casos de prisão em flagrante delito ou em prisão crime de bagatela, desde que praticados sem violência e não
preventiva devidamente expressa na lei. pode ser cometido reiteradamente.

PRINCÍPIOS LIMITADORES DA ATIVIDADE DO ESTADO

Vão frear o direito de punir do Estado. Quando o indivíduo viola a norma o

estado tem o direito de punir, porém isso não ocorre de qualquer maneira,
o estado tem modo de fazer e prazo, porque se não o crime prescreve. Esses
princípios trazem as primeiras noções das ações do direito penal na
sociedade.

Princípio da legalidade: tem foco diferente dependendo do ramo do direito.

Diz a legalidade que “Ninguém é obrigado a fazer nada em virtude de lei”.
Em direito civil tudo que não tá proibido fazer é permitido fazer, em sentido
amplo. Em direito penal, no art. 1º e no art. 5º XXXIX CF/88, “não há crime
sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. É
um princípio autônomo.

* Rubrica do artigo é o que vem em negrito, vem anunciar

o tema que vai ser trabalhado ali.

A primeira discussão sobre legalidade no direito penal vem no sentido de: o

princípio da legalidade é um princípio autônomo e o direito penal tem como
outros princípios autônomos dissociados da legalidade (anterioridade e
reserva legal) ou a anterioridade e reserva legal são sinônimos de legalidade
ou todos são princípios diferentes?

A doutrina majoritária entende que a legalidade é gênero que tem dois

subprincípios:

1. Anterioridade: A lei penal deve sempre anterior à data da prática

da infração legal.
2. Reserva legal: O direito penal tem que vir previsto através de
uma legislação própria.

Eles são aplicados tanto às infrações penais quanto as sanções penais.

O primeiro aspecto da legalidade diz que “não há crime sem lei” no sentido
de que o direito penal só pode ser dito, só pode ser veiculado, só pode ser
trazido a sociedade para ser aplicado como regra do direito penal se ele for
feito por lei ordinária ou lei complementar.

Por que a lei deve ser anterior ao delito? Porque é impossível a lei penal
retroagir para prejudicar qualquer pessoa. A lei no direito penal volta no
tempo, excepcional quando for para beneficiar o infrator (sujeito ativo). O
CP é todo voltado para beneficiar o réu, in dubio pro réu. Significa dizer que
uma pessoa foi condenada com uma pena com limite de 4 a 10 anos e ele
pegou 8 anos de pena, se vier uma lei dizendo que não é mais crime ele
deve ser posto em liberdade ou que alterar a pena para 1 a 4 anos o cálculo
da pena é refeito. Há um tempo atrás assédio legal não era crime. Agora
que virou crime, não se pode punir quem cometeu esse ato antes da
entrada em vigor da lei.