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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


Bacharelado em Direito
Constitucional III
Prof.ª Me. Ruth Barros Pettersen da Costa

HISTÓRIA DO PODER LEGISLATIVO

GILVAN DE BARROS PINANGÉ NETO


C01

GOIÂNIA
2018
GILVAN DE BARROS PINANGÉ NETO
C01

HISTÓRIA DO PODER LEGISLATIVO

Trabalho desenvolvido no 6º período do curso


de Bacharelado em Direito da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, na disciplina
Constitucional III, destinado à avaliação parcial
N1.
Orientador (a): Prof.ª Me. Ruth Barros
Pettersen da Costa

GOIÂNIA
2018
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História do Poder Legislativo

Parlamento, do francês “parler”, isto é, “falar” ou “discursar”, é a assembleia composta


por parlamentares, representantes políticos dos cidadãos em um regime constitucional. Suas
principais funções são: legislativa, representativa e fiscalizadora. Sua origem remonta ao
berço da civilização, onde os homens reuniam-se a fim de deliberar sobre as regras e leis que
garantiriam sua sobrevivência e interesses. Anteriormente à criação do Estado, por volta de
1400 a.C., os hebreus buscavam o Conselho dos Anciãos durante o êxodo conduzido por
Moisés. Dessa mesma prática comum às nações antigas em se consultar os mais experientes,
como em Grécia e Roma, surgiu a ideia de Senado.
Em 1215, na Inglaterra, surge o Parlamento contemporâneo, onde foi imposta ao Rei
João-Sem-Terra a Magna Carta pela nobreza feudal inglesa que buscava evitar a centralização
política. Embrião do futuro Parlamento e considerada a primeira Constituição Moderna, a Carta
exigia a formação de um Grande Conselho, formado por diferentes setores da sociedade inglesa
para votação sobre os impostos propostos pelo Rei.
Contudo, devido ao regime absolutista dominante na Europa durante os séculos XVI-
XVII, é a partir do século XVIII que a democracia contemporânea é consolidada através dos
movimentos iluministas. Foi pioneira a Revolução Gloriosa Inglesa, século XVII, a qual
instituiu a primeira Monarquia Constitucional Parlamentarista, base da filosofia liberal
iluminista consolidada na França do século XVIII, culminando na Revolução Francesa de
1789. Merece destaque o filósofo iluminista Montesquieu, com sua obra “O Espírito das Leis”,
onde criticava a concentração do poder absolutista e postulava pela separação dos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário.
Outorgada pelo Imperador D. Pedro I, com caráter autoritário e centralizador, a
Constituição de 1824 ignorava a proposta de Montesquieu, isto é, a interdependência entre os
três poderes. Antes instituiu no Brasil o quarto poder que facultava ao Imperador intervir e
controlar os outros poderes, Poder Moderador. Foi estabelecida por essa constituição a
Assembleia Geral, a qual dividia-se em Câmara dos Deputados (eletiva e temporária, com
mandato de quatro anos) e Câmara dos Senadores (mandatos vitalícios).
Durante a fase regencial, após a renúncia de D. Pedro I foi promulgado o Ato Adicional
de 1834, alterando a Magna Carta e criando as Assembleias Legislativas Provinciais, tornando
então possível às províncias a elaboração de suas leis, bem como a admissão e demissão de
funcionários públicos.
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A fim de preservar a unidade territorial, estando o país dividido entre os Partidos Liberal
e Conservador, ocorre o golpe da maioridade e precocemente D. Pedro II torna-se Imperador
do Brasil. Em 1847 é estabelecido no Brasil o regime Parlamentarista. Contudo, ao contrário
do parlamentarismo clássico da Inglaterra (Legislativo exerce supremacia sobre o Executivo),
no Brasil ocorre o regime conhecido como “parlamentarismo às avessas”, pois era o
Imperador quem escolhia o primeiro-ministro. Este convocava eleições para compor o
Parlamento, as quais eram fraudadas, já que o voto era aberto.
Com forte inspiração no modelo presidencialista norte-americano, a Constituição de
1891 retirou do Legislativo a prerrogativa de demitir o ministério e definiu a legislatura em três
anos, transformando o Brasil em uma República Federativa Presidencialista. Em nível Federal,
Estadual e Municipal os membros do Executivo e Legislativo seriam eleitos pelo voto universal
masculino, direto e não secreto (exceções: menores de 21 anos, analfabetos, mulheres,
mendigos e militares sem patente). Constituído pelo Senado (três Senadores por Estado,
mandato de nove anos) e pela Câmara dos Deputados (Deputados proporcionais ao número de
habitantes de cada Estado, mandato de três anos), o Congresso Nacional possuía caráter
bicameral.
A política coronelista do “voto de cabresto” (aberto, não secreto e fraudulento) atingiu
seu ápice com a “República Café-com-Leite”, onde revezavam a presidência os Estados de
São Paulo (economia cafeeira) e Minas Gerais (economia pecuarista). A República Oligárquica
caracterizava-se pelo imobilismo político e domínio concentrado por famílias poderosas. Ainda
que encontrasse oposição de outras oligarquias (classe média, proletariado, movimento
tenentista etc.), foi a Revolução de 1930 que exterminou a República café-com-leite, iniciando
a “Era Vargas”.
Utilizando-se da heterogeneidade no país e de divergências ideológicas entre os próprios
grupos responsáveis pela revolução, Vargas promoveu rígida centralização política, nomeando
interventores de confiança nos Estados, governando através de decretos-lei e dissolvendo o
Congresso Nacional, absorvendo funções legislativas.
Promulgada com a Assembleia Nacional Constituinte ocorrida no mesmo ano, a
Constituição de 1934 inovou no campo social e ampliou direitos. Foram instituídos direitos
trabalhistas e foi criada a justiça do trabalho. Foi instituído o voto feminino e secreto (maiores
de dezoito anos) e as legislaturas aumentaram para quatro anos de duração. O Legislativo seria
exercido pela Câmara dos Deputados, com colaboração do Senado Federal, o qual também teria
função regulatória da República.
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Com a instabilidade político-econômica típica do período entre as duas guerras mundiais


e agravada pela queda da bolsa de Nova York em 1929, os Estados distanciavam-se do
liberalismo econômico e político, adotando modelos intervencionistas e as vezes inclusive
totalitários, de caráter nazifascista. Este cenário sombrio da política internacional permite a
Vargas articular o golpe que instituiu o Estado Novo (1937-45) no Brasil.
Neste período é outorgada a Constituição de 1937, centralizando os poderes no
Executivo, o qual poderia impor recesso Legislativo a qualquer momento. Após o término da
Segunda Guerra Mundial e a vitória das potências democráticas sobre os regimes nazifascistas,
teve início a Guerra Fria (bipolarização ideológica entre os blocos capitalista e socialista, EUA
e URSS), decretando o fim do Estado Novo no Brasil.
A independência entre os Três Poderes é reestabelecida no Brasil com a promulgação
da Constituição de 1946, após o fim do Estado Novo. A Carta reestabeleceu o Congresso
Nacional bicameral, com todas as suas atribuições e prerrogativas, além das Assembleias
Legislativas Estaduais e Câmaras Municipais.
No período de 1945-1964 era característica no Brasil a Democracia populista, com a
polarização da política entre os partidos PSD (Partido Social Democrático) e a UDN (União
Democrática Nacional), formados por políticos de base rural que dominavam o Congresso
Nacional. O papel do Parlamento brasileiro durante esse período foi adotar uma postura
conservadora, se opondo às políticas trabalhistas e nacionalistas de Vargas, as quais não
agradavam às elites nacionais e nem ao governo norte-americano, devido a semelhança entre
as ideologias esquerdista e socialista.
Essa época de radicalismo político de direita e esquerda agravava a crise política no
Brasil, o nacionalismo de João Goulart desagradava os EUA e a questão Agrária era tema
central do debate político nacional, tanto dentro quanto fora do Congresso, alcançando setores
militares, estudantis, empresariais, sindicalistas, religiosos etc. A radicalização política e
ideológica da década de 60 foi pretexto para o golpe de 64 que instauraria a ditadura militar no
Brasil.
A Emenda Constitucional de 1964 estendeu o mandato do marechal Castelo Branco até
1967. Em 1965 foi decretado o A.I. (Ato Institucional) nº 02, o qual fortaleceria o Executivo,
concedendo ao Presidente a prerrogativa de decretar recesso do Congresso Nacional, das
Assembleias e das Câmaras. Não obstante, este mesmo Ato estabelecia definitivamente eleições
indiretas para Presidente, extinguindo todos os partidos políticos, exceto os partidos ARENA
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(Aliança Renovadora Nacional), representando os militares e MDB (Movimento Democrático


Brasileiro), representando a oposição civil.
Após o fim do “milagre econômico brasileiro”, financiado por capital norte-americano
que buscava barrar as influencias socialistas no Brasil e na América Latina durante a Guerra
Fria, teve início o processo de redemocratização brasileira, fruto da mobilização da sociedade
civil organizada e de políticos progressistas que gritavam pelas ruas “Diretas Já”. O governo
Geisel foi obrigado a iniciar o processo de abertura política, consolidado no governo de
Figueiredo e culminando nas eleições indiretas de Tancredo Neves e José Sarney.
Com a morte de Tancredo, Sarney assume o governo, convocando uma Assembleia
Nacional Constituinte em 1986. Em 1988 seria promulgada a Carta conhecida como
“Constituição Cidadã”, reestabelecendo a democracia liberal através da eleição direta para o
Executivo e Legislativo, o fim da censura e a previsão de um plebiscito após cinco anos onde a
sociedade decidiria pela forma de governo (presidencialismo ou parlamentarismo).
Com o fim do governo Sarney foram realizadas as primeiras eleições diretas para
presidente no Brasil, sendo a disputa entre Collor e Lula. Apoiado por setores conservadores e
assumindo um discurso neoliberalista, Collor foi vitorioso. Contudo, o governo de Collor não
prosperaria diante do desgaste político causado pelo plano Collor (medidas econômicas que
desagradaram a população, como o confisco da poupança), pela recessão, inflação e
desemprego, além de escândalos de corrupção envolvendo o Presidente e sua família. Em 1992
a população saia às ruas enlutada pedindo o impeachment do Presidente.
A fim de preservar o Estado Democrático de Direito e submeter o Executivo às
limitações da lei, a partir do governo Itamar Franco o Parlamento brasileiro buscou reforçar sua
função reguladora, aliado ao próprio Executivo e Judiciário, resgatando sua credibilidade, ainda
que frente às denúncias envolvendo a Câmara dos Deputados, como o caso do “mensalão”.
Os principais mecanismos de controle político do Poder Legislativo na democracia
contemporânea, constantes da Constituição de 1988, são:
a) Sustação de atos normativos do Poder Executivo: Em seu art. 49, V, a
Constituição permite ao Congresso Nacional, através de decreto legislativo,
sustar atos normativos do Executivo que exorbitem seu poder regulamentar ou
os limites de delegação legislativa.
b) Convocação de ministros e pedido de informações: Os Ministros de Estado
ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da
República podem ser convocados para prestarem informações sobre assuntos
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determinados, sendo a ausência injustificada penalizada com crime de


responsabilidade.
c) Tribunal de Contas da União: Prescrevem os art. 70 e 71 da Carta de 1988 que
a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da
União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,
legitimidade, economicidade será exercida pelo Congresso Nacional com
auxílio do TCU.
d) Comissões parlamentares de inquérito: Sua previsão legal consta no §3º, art.
58 da CF/88. Contribuem para a efetivação da função reguladora do Executivo
pelo Legislativo. As CPI são dotadas de poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, sendo criadas mediante requerimento de um terço dos
membros das Casas congressuais, a fim de realizarem apuração de fato
determinado e com prazo certo. Ainda que se destinem a apurar fatos
relacionados com a administração pública (ex. investigação de crimes de
improbidade), deparando-se com crimes a CPI poderá dar ciência ao Ministério
Público que tomará as medidas cabíveis.
e) Orçamento e conversão em lei de medida provisória: A repetição anual da
discussão do orçamento é um importante momento da função de controle
político do Executivo pelo Legislativo. O Congresso Nacional também exerce
controle político sobre decretos presidenciais de urgência ao converter em lei
uma medida provisória. Caso contrário, deverá editar um decreto legislativo que
normatizará a lacuna deixada pela medida provisória.
f) Impeachment:

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