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PROCESSO Nº “...”
Astolfo, já qualificado nos autos do processo em epigrafe, vem por meio do seu
advogado constituído através da Procuração em anexo, apresentar à Vossa Excelência, com
fulcro nos arts. 403, §3º c/c 404 do Código de Processo Penal (CPP), ALEGAÇÕES FINAIS
EM FORMA DE MEMORIAIS, pelas seguintes razões fáticas e jurídicas:
I - DOS FATOS
Narram os autos que Astolfo, idoso e réu primário, estava em sua casa, residência
humilde na comunidade “Favela da Zebra” em Goiânia-Go, quando foi surpreendido pela visita
do chefe de tráfico vulgarmente conhecido como “Russo”.
Armado, Russo exigiu que Astolfo realizasse o transporte de 50g de cocaína para outro
traficante em um posto de gasolina, sob pena de ser expulso da residência e da comunidade em
razão da negativa.
Coagido, Astolfo acatou a ordem. Contudo, já dentro do automóvel e em direção ao
posto, foi abordado por policiais militares, sendo a droga encontrada e apreendida.
O acusado foi denunciado pela prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei nº
11.343/06. Ainda que preso em flagrante, recebeu a concessão de liberdade provisória.
Durante a audiência de instrução e julgamento os fatos narrados na denúncia foram
confirmados pelos policiais militares, ressalvando que o transporte ocorreu por exigência de
Russo.
Durante o interrogatório, Astolfo reafirmou os fatos narrados, enfatizando novamente
que o transporte da droga só ocorreu por coação do chefe do tráfico, sob pena de ser expulso
do único lugar onde morou a vida inteira, correndo o risco de ter que viver na rua, pois não
possuía familiares e/ou fora do local.
Após juntada de folha de antecedentes criminais do réu e laudo de exame pericial, os
autos foram remetidos ao Ministério Público (MP), que pugnou pela condenação do acusado
nos termos exatos da denúncia.
II - DO DIREITO
1) Nulidade processual
Subsidiariamente, caso V. Exa. não acate a tese anterior, no mérito pugna-se pela
Absolvição do réu, baseada na excludente de culpabilidade por coação moral irresistível.
A fim de absolver, deve existir certeza de juízo acerca da excludente de ilicitude, porém
a dúvida absolve o réu. Entretanto, prescreve o art. 22, caput, do Código Penal (CP), bem como
a doutrina majoritária, que a coação moral, quando irresistível, torna a vontade viciada.
No caso concreto, ainda que o acusado tenha tentado praticar fato típico e ilícito, atuou
justificado pela coação irresistível, isto é, tinha sua vontade viciada ao tempo do crime. Não
obstante, foi violentamente ameaçado de despejo de sua única moradia pelo traficante, agente
coator munido de arma de fogo.
Observa-se que os fatos são preceituados como excludente de culpabilidade, coação
moral irresistível e a inexigibilidade de conduta diversa, conforme narrativa do art. 397 do CPP.
Ainda que o acusado tenha incidido em conduta prescrita em lei como crime, dadas as
circunstâncias narradas não teve alternativa de proceder de forma diversa, mesmo imputável e
plenamente consciente da ilicitude do fato.
Temos o seguinte entendimento jurisprudencial sobre o tema
1
(HC 240.837/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 03/10/2013, DJe 11/10/2013).
2
MASSON, Cleber Rogério. Direito penal esquematizado – parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
A coação moral irresistível afasta a culpabilidade do coagido (autor de um fato típico
e ilícito). Não há, contudo, impunidade: pelo crime responde somente o coator. Trata-
se de manifestação da autoria mediata, pois o coator valeu-se de uma pessoa sem
culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa) para realizar uma infração penal.
(MASSON, 2008, p. 538).
III - DO PEDIDO
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Advogado “...”
OAB “...”