Você está na página 1de 4

USO DE MECANISMOS DE DEFESA NO PERÍODO DE LATÊNCIA

III Mostra de Pesquisa


da Pós-Graduação
PUCRS

Adriana Silveira Gobbi***, Laura Blaya Luz**, Mariana Aguilar Baldo* e Mônica Medeiros Kother
Macedo****
*** Mestranda em Psicologia Clínica, **Auxiliar de Pesquisa, *Bolsista de Iniciação Científica BPA/PUCRS,
****Professora Orientadora

Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Faculdade de Psicologia, PUCRS,

RESUMO
Introdução
O presente estudo integra as pesquisas do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em
Psicologia Clínica. O objetivo da pesquisa é identificar mecanismos de defesa adaptativos e patológicos
em crianças entre seis e onze anos de idade com base nas respostas obtidas no Teste Contos de Fadas
(TCF). Mais especificadamente, identificar nas respostas ao TCF a presença de mecanismos de defesa, tais
como: anulação, negação, projeção, formação reativa, repressão, cisão, racionalização, identificação
projetiva, regressão, deslocamento, compensação, agressão voltada contra a própria pessoa, identificação
com o agressor, introjeção e acting out. Na compreensão psicanalítica a infância é um tempo fundamental
do ciclo vital, pois nela estrutura-se o psiquismo e se constituem os recursos defensivos para enfrentar
demandas da vida (Freud, 1905/1976). A Psicanálise evidencia, inclusive, a relevância da infância nos
tempos posteriores da vida, como adolescência e adultez. A latência, segundo Freud (1905/1976), é um
período do ciclo vital que antecede o enfrentamento com a puberdade e as demandas psíquicas da
adolescência. Os recursos defensivos do ego, conforme Freud (1936/2006), estabelecer-se-ão, de forma
mais complexa, durante a vigência da latência, possibilitando instrumentos de enfrentamento com as
conflitivas próprias do desenvolvimento. A temática dos mecanismos defensivos é essencial no estudo das
estruturações psíquicas de saúde e de psicopatologia, como bem aponta Urribarri (1999). Identificando e
analisando manifestações dos mecanismos de defesa adaptativos e patológicos, na fase da latência, será
possível conhecer e definir intervenções adequadas na clínica psicológica infantil que tenham o objetivos
de prevenção e também de intervenção frente a constatação da existência de configurações
psicopatológicas.
Metodologia

III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008


Trata-se de um estudo quantitativo de tipo transversal, tendo, em um primeiro momento, um
enfoque descritivo e, posteriormente, uma comparação entre variáveis. Participaram deste estudo 72
crianças (localizadas por conveniência) dos sexos femininos e masculinos, com idades entre 6 e 11 anos,
matriculados em escolas públicas e privadas da cidade de Porto Alegre. Os critérios para inclusão dos
sujeitos na amostra foram: concordância dos pais para o filho (a) participar do estudo e ausência de
comprometimento intelectual. A fim de obter dados que caracterizem os participantes do estudo foi
utilizada uma ficha de dados sociodemográficos. Para excluir casos com suspeita de comprometimento
intelectual foi administrado, de forma individual, o Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven -
Escala Especial. Para investigar os mecanismos de defesa utilizou-se o Teste dos Contos de Fadas (TCF),
instrumento projetivo temático. A presente pesquisa encontra-se em fase de levantamento e processamento
de dados e está vinculada ao grupo de pesquisa “Fundamentos e Intervenções em Psicanálise” da
Faculdade de Psicologia. Todo o material verbalizado pelas crianças está sendo avaliado por três juízes
(J1, J2 e J3), os quais estão realizando avaliações independentes com base no sistema de categorização de
respostas que permitirá definir os tipos de mecanismos de defesa. A partir das avaliações dos juizes
(psicólogas clínicas especialistas), será utilizada a estatística Kappa, para avaliar o grau de concordância
entre os mesmos para a categoria mecanismo de defesa. Posteriormente, para a comparação entre grupos e
associações das variáveis conforme escola, sexo e idade, será utilizado estatística referencial (Teste-t e/ou
Kruskal-Wallis Test). Será considerado o nível de significação de 5% para a declaração de existência de
significância estatística. Esta pesquisa é parte de um projeto maior intitulado “Adaptação Brasileira do
Teste dos Contos de Fadas”, coordenado pelas professoras Dra. Blanca Susana Guevara Werlang e Dra.
Mônica Medeiros Kother Macedo.
Situação Atual do Estudo
No momento, todo o esforço está centrado na análise das verbalizações das crianças ao TCF e na
alimentação do banco de dados. Para a categorização da variável em estudo, mecanismos de defesa, está
sendo utilizado o sistema proposto pela autora do TCF, como consta abaixo no Tabela 1.
Tabela 1 – Definição da variável mecanismo de defesa, conforme Coulacoglou (2004)
MECANISMO DESCRIÇÃO DA VARIÁVEL
DE DEFESA
Anulação Na anulação, o indivíduo nega de alguma forma física ou verbal, pensamentos,
sentimentos ou ações inaceitáveis. No TCF, a anulação é empregada como uma
defesa contra desejos narcisistas, baixa auto-estima e medo de agressão.
Negação O mecanismo da negação se refere à necessidade de negar partes ameaçadoras ou
desagradáveis da realidade externa e interna.
Projeção Na projeção, os sentimentos, impulsos ou pensamentos que não podem ser tolerados
são atribuídos a outro objeto. No TCF, para detectar a projeção, deve-se
primeiramente identificar o personagem com o qual a criança se identifica.

III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008


Formação Na formação reativa, sentimentos e impulsos inaceitáveis são substituídos por seus
Reativa extremos opostos. Os escores altos nas variáveis Desejo de Ajudar e Ansiedade
(preocupação com os outros) podem indicar a presença deste mecanismo de defesa.
Repressão A repressão consiste de um esquecimento “proposital” ou falha em reconhecer
desejos perturbadores ou proibidos, pensamentos ou experiências. Em relação ao
TCF, pode-se suspeitar de repressão quando a criança responde com “Eu não sei” ou
“Eu não me lembro”.
Cisão Na cisão, o indivíduo não é capaz de integrar aspectos positivos e negativos de si-
mesmo e dos outros.
Racionalização Na racionalização, o indivíduo oferece explicações socialmente aceitáveis e
aparentemente lógicas para atos ou decisões que produzam ansiedade.
Identificação Na identificação projetiva, o sujeito tem um afeto ou impulso que considera
Projetiva inaceitável e os projeta sobre outra pessoa como se esta pessoa fosse
realmente aquela que originou aquele afeto ou impulso.
Regressão Na regressão, o indivíduo busca prazer ou assume um comportamento que
caracteriza estágios de desenvolvimento mais prematuros. No TCF, a regressão pode
aparecer diante de uma expressão explícita de agressão ou pensamentos sexuais e é
mais comumente encontrada nas respostas aos cartões do Gigante.
Deslocamento Este mecanismo de defesa é empregado quando o indivíduo redireciona um
sentimento ou reação acerca de um objeto para outro, geralmente, menos ameaçador.
O deslocamento aprece com maior freqüência na resposta à pergunta “O que cada
um pensa/sente?”.
Compensação O mecanismo da compensação se refere à tentativa inconsciente do indivíduo em
buscar substitutos para perdas reais ou imaginárias ou inadequações.
Agressão A agressão contra o self envolve a substituição, o deslocamento, de um desejo
voltada para a agressivo de um objeto para o self (direto). Isso inclui a agressão do superego
própria pessoa voltando-se contra o self de forma a evitar a dor psicológica.
Identificação A identificação com o agressor é um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo
com o agressor adota o comportamento do agressor e/ou as suas características de forma a lidar com
o medo e a ansiedade.
Introjeção É o mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo parece internalizar a representação
do objeto (o outro) para diminuir a ansiedade por separação. Um precursor do
mecanismo da introjeção é a fantasia da incorporação, enquanto ambos são
precursores da identificação.
Acting out O acting out é um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo age impulsivamente
de modo a evitar a tensão que resultaria do retardamento de uma gratificação.

Palavras-chaves: mecanismos de defesa, latência, estruturação psíquica.

Referências:
Coulacoglou, C. (2004). The Fairy Tale Test. (Manuscrito disponibilizado pela autora em Março de
2006).
Freud, A. (1936/2006). O ego e os mecanismos de defesa. Porto Alegre: Artes Médicas.

III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008


Freud, S. (1905/1976). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trad.),
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7, pp.118-
217). Rio de Janeiro: Imago.
Urribarri, R. (1999). Descorriendo el velo sobre el trabajo de latencia. Revista Latino-
Americana de Psicanalisis. 3 (1).

III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008

Você também pode gostar