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O autor ressalta sua tentativa de repensar as faculdades empregadas no fazer etnográfico:

olhar, ouvir e escrever, para enxergar os problemas de atividades consideradas aproblemáticas por
conta de sua naturalização; enquanto no ouvir ocorre a percepção, no escrever exercita-se o
pensamento e produz-se o discurso. (p. 18)

O olhar
É necessário observar o redor quando se insere num campo (literal) de pesquisa; fazer uso
deste instrumento regrado disciplinarmente, partindo de construções já feitas em sua mente pelo
arcabouço teórico de que dispunha; olhar aspectos, refletir com a bagagem e apreender o possível
das relações histórico-culturais a partir daí. Porém, nem tudo se dá pelo material e sua mera
observação. (p. 19-20)

O ouvir
Ao mesmo passo em que somos guiados por um refinado olhar pela trajetória disciplinar,
somos levados a ignorar o que consideramos resíduos supérfluos justamente por esta bagagem; isso
se opera tanto no olhar quanto no ouvir. (p. 22) Há questões onde o simples observar não basta e é
necessário ouvir, para assim compreender qual é o sentido do discurso e das atitudes. (p. 22) Soma-
se às dificuldades já apresentadas, o conflito num prisma mais complexo que o meramente
idiomático: o conflito do idioma de dois mundos; o choque das culturas entre entrevistador e
entrevistado. (p. 23)

p. 23

p. 24
Escrever
O processo de elaboração do constatado in field se dá próximo aos pares no ambiente
acadêmico; processo que por mais que submetido aos dados sofre uma refração pelo ambiente qual
é constituído. Há uma nova distorção na formulação do que seletivamente se havia observado. A
crítica pós-moderna embebida em hermeneutismo se calca em brigar e refletir sistematicamente
com o texto etnográfico.
O trabalho etnográfico deve talvez ser visto como a transposição do campo em texto (ideia
problemática), mas ao controle do leitor. Três tipo de monografias (trabalho final do texto): Uma
ortodoxa que aborda aspectos religiosamente (religião, parentescos, política etc), uma que aborda
toda uma sociedade a partir de um tema, e a pós-moderna, que consistem num desprezo pelo
controle dos dados etnográficos. Parece-me haver um problema hermenêutico na colocação dos
pós-modernos que acabam, no intuito de ressaltar a constituição do discurso no seio ocidental,
tornando-se impositores e intimistas. (p. 30)

Conclusão
Assim como são importantes o olhar e ouvir para a construção do conhecimento (mesmo
que sob lentes), o escrever é parte intrinsecamente importante, já que é indissociável do pensar.
Processos estes completamente embricados e indissociáveis, sendo na lente antropológica marcados
pelas ideias-valor como observação participante e relativização. (p. 32-3)
São o ouvir e ver que, sendo parte da observação participante, constitui grande parte do
trabalho antropológico que será depois escrito e memorado, sendo esta, a memória, parte crucial da
compreensão com base na vivência. (p. 34)

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