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DUSDIT A suA ruloeçÃ0, arÉ nos Nossos DrAS
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J. M. S. DÀURIOI{ÀC

Traduzirl:te do Fraree.ez

r foMo r
Com licença da Àuctoridade Ecclesiastica

I,ISBO.A.

rgot ., fftiltIl utfiüIÉfrtÊ,,

NI ELIOTECA

â /ar- üq
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I
PREFACIO
I

l listor irr tlrr (l»nplrrrlria de Jesus é tão

irrlclr':l;;rrrlr', tiio vlt'iacla e tão edifi-
('iIll{') (1il(' (i l)ilt'll llrntct-tttr que tenha

:tas, os .l csttitirs sri,r ittvrtsot't':;,,,:;.l ttsttilrts slt<t t-lnta

potencia occtrltit ttos l'lstrrrlos otrtlt' s:io lolct'ltcltts.
Mas estcs tcrril,cis .l cst tit rts siio cot tlttcit l, rs I NÍo.
t,,
L
Procuram ao menos cottltcccl o:;i 'l'rttttlrltrt ttÍo.
I
Basta que se saiba quc cllcs tccttr sitLr [rrttti.|rs
por todos os governos. Teenr sirlo cxprrlsos, tl vcr-
dtrde, como malfeitores, por toclos «rs l'lstirtLrs (l:r-
tholicos, rnas informâm-se dos motivos? I't'octrt'iurr
saber sc os ministros que arrancarall-! aos Sobc-
ranos estes decretos de expulsão eram christÍos
em seus principios, e em seus actôs? E corn tuclo
seria bom saber porque se prefere uma opinião a
,d cryi;1;il
outra: seria bonr que cada um se esclarecesse para
pader julgar por si mesmo: o que seria melhor

que acceitar por confiança uma opinião sem saber
sobre que factos está fundada.
Dizem mais qué a Historia da Companhia de
Jesus por Crétineau Joly p.1e contem menos cle
seis volumes; e que sendo impossivel emprehen-
der a leitura de uma obra tão extensa deve ser
deixada aos eruditos. Ilsta objecção tantas vezes
repetida nos suggeriu o pcnsamento de escrever
uma historia abrcvirc'la cl'esta Ordem illustre,, tão
desconhecida dc urrs, tão admirada de oritros, e
que contou scrxpfc arnigos c ir-rimigos, raras ve_
zes indilI'erentcs. N(rs tcmos procuraclo alargar-nos
sufficientcmel'ltc pal'a csclarcccr o ieitor, e nos res-
tringir assiis para não o atcrrar; porque bem sa-
bemos que ninguem tem mcnos tcmpo de ler clo
que aguelle cujas occupacões todas se reduzem a
relacões de sociedade. Estes dois voh_rmes, não
sendo nimiamente extensos, ousamos esperar que
serão lidos por qualquer pessoa, por mais multi-
plicados quc sejam os seris ncgocios.
A ordem que seguirnos é a chronologica dos
ftrctos sob o governo de cada Geral e, quanto é
possivel, sob o Pontificado de cada Papa, pura que
o leitor possa facilmente ycr o todo dos aconteci-
mentos qlte se teem passado, ou dos trabalhos
supportados pela Companhia de Jesus, nas cliver-
sas partes do mundo, e sob a direcção de cada
um de seus Gelaes.
Tendo Crétineau Joly tratado com o talento que
o distingue esta materia com profundidade) e com
\\
clocumentos .u;o orr,rr.,íicidadc é incolttl'()vcl'§.tt
,l nós náo podiamos deixar de funclar csta Ilist«rriu
sobre as suas investigações.
Sendo táo difficil fallar: clos vivos, nío clitt:ros
dos trabalhos da Companhia desde a eleiçáo cltr
R. Padre Beckx, actualmente Geral, mais do quc
uma exposição summaria.
Já nos teem dito que os Jesuitas se assenho-
rearam de nós; aqui affirmamos pois que escre-
vemos com plena independencia. Com toda a ver-
dade podemos asseverar que.os Jesuitas nunca nos
pediram nada,, nem. directa, nem indirectamente?
nem mesmo por insinuaçáo: os Jesuitas não teem
necessidade de nós, pois que teem a f)eus por si.
Dois eram os fins qüe n'esta obra nos propunha-
mos,
E porque o náo cliremos ? A nossa intenção era
náo sómente esclarecer oÍi que temem leituras pro-
longadas, senão tambem satisfazer o sentimento
do nosso reconhecimento para com alguns dos
Sanctos da Companl-ria de Jesus, a cuia protecção
somos devedores de gracas muito especiaes. Por
outra parte parecia-nos muito natural que, depois
cle ter publicado a Historia do Sancto F'undador
I da Ordem de Jesus, fizessemos que fosse seguida
pela da sua obra desde a sua instituição até nos'
sos dias. 'Iodavia náo podiamos laborar no ter-
reno dos Jesuitas sem thes pedir para isso pcr-
missão, o que lulgámos ser de estricta convc'
niencia. O Superior ao qual nos dirigimos, dc bom
!ld
 ç;rryr-

grado nos deixou em liberdade, talvez porque a

sua caridade rêceiou humilhar-nos com Llma re-
cusa. Eram-nos necessários alguns documentos e
nós os havemos pedido aos Jesuitas, qtie nol-os I{ISItrOB,T.A-
prestaram da maneira m.ais obsequiosa e glaciosa; #,t
e tambem isto não foi assenhorearem-se de nós: :l
pelo contrario fomos nós que nos assenhoreámos
de sua bencvola caridade.
COMPÀi\,T{IA DH JHSUS
Ousamos dcpôr estas paginas aos pés dos San-
ctos da Comparrhia, pedindo-lhes que as abencoem
e façam descer sobre nós mesmos todas as ben- 0rigem e fund"açâ,0 da Companhia
çãos do Céo. L. 23..à-4f54I

I 2r de Marco de l5zz se apeava á porta do Mosteiro de

fl Benedictinos de Monserrate, no principado de Crataiu-
nha, e pedia aos bons Religiosos a hospitalidade que elles
de ordinario concediam aos peregrinos piedosos. Peia ri-
queza do seu trafar e nobreza de suas maneiras, era facil
reconhecer um dos primeiros gentishomens da côrte de
Carlos V; pela sua varonil gentileza e pelo seu olhar cheio
de fogo e altivo se adivinhava o guerreiro. Conduziram-no
a un:a cella perguntando-lhe o seu nomel porém elle se oc-
cultou com o de Peregrino desconhecido.
Durante os tres dias que se seguiram á surr chegada a
Monserrate fez uina confrssão geral, e no dia z4 pela tarde
saíu furtiramente do Mosteiro, chamou um dos mendigos
que estavam em redór do adro da egreia, tomou-o á parte,
offereceu-lhe os magnificos vestidos que trazia em troca de
seus andrajos, cobriu-se com a libré da miseria, clistribuiu
pelos pobres todo o dinheiro que lhe restava na bolsa, e tor-
nou a subir á sua cella. Alli se revestiu com uma conrprida

_ i1'
tunica de tela pardar debaixo tla qual desapprirccianr os far-
rapos do mendigo, passou uma grossa cortla ú ro«la tlo corpo,
por cima cingiu a sua fulgente espada, poz ri cintit o sc'u rico
punhal, tomou em uma mão um bordão de peregrino, e na
outrâ um grande chapéo pardo, a que os hesparthoes clta-
rnam sombrero, e foi á egreia, a orar deante do altar da
Sanctissima Virgem.
Esre ?eregrino desconhecido era com effeito um dos Íi-
dalgos da côrte, e iá um guerreiro illustre; porque não tinha
ainda mais que trinta e um annos, e iá se tinha distinguido
brilhantemente em muitos combates, e particulârmente nil
tomada de Najera, e na defensa da cidadella de Pamplona.
N'esta tinha feito prodigios de valor, quando um peloiro
the quebrou a pernâ dircita, ao mesmo temPo que um es-
till-raço de pedra o íeriil ntr esquerda. Era segunda feira de
Pentecostes, zo de Maio tle I5zr.
Andre de Iioix, que conrtrtitndava o col'po dos assaitantes,
tendo visto o iovcu ollicial hcsplrnhol caír como heroe, o
tratou como tal: nÍo qtriz acccitrtr a sua gloriosa espada,
fêl-o curar oomo lr utt-t collegit nlt proÍisssío tlas armas, dei-
xou-lhe a libertlade, e o ícz tl'i:lllsl)ortitr enr liteira ao cas-
tello de seus paes, em [,oyola, pouco ilistante de Pam-
plona.
Tendo-se desarraniado o apparel[-ro Íbi prcciso quebrirr a
perna de novo e renovar a operação, accidentc que se re-
petiu, e d'elle resultou uma deslocação, que o Bcntil cor-
tezão não pôde supportar, e assim ordenou que lhe ser-
râssern a parte do osso Que assentava sobre o outro, sof-
frendo esta cruel operaçáo sem dar o menor signal de
dôr.
Como a cura tinha de prolongar-ser para distrahir-se du-
rante esta involuntaria reclusáo, Ignacio de l-oyola pedir"l
romances de cavallarias I porém seus irmãos os tinham pro-
vavelmente levado para os catllpos I e assim não se podendo
achar nem um só no castello de Loyolar levaram ao nobre
ferido a 'Oida de Jesus Christo e as dos Sanctos.
It
l)ouco gosto achava elle n'estas leituras; comtudo as
leu, e lendo, admira, torna a ler, reflecte, lê outra vez, e a
graca insinuando-se n'esta alma tão grande, tão forte, tão
generosa, a subjuga e transforma. Ignacio offerece a Deus o
sacrificio de todas asflsuas esperanças de gloria mundana,
de todos os successos da côrte, a que estavâ habituado; de
todos os lacos do. coração, que o prendiam e encantar'âm.
D'estes os mais fortes eram os de sua familia, e o de uma
affeição toda romanesca parâ com uma princeza cuia libré
Írazia, e cuia belleza elle sustentava, com a espada em pu-
nho, segundo o uso d'aquelle teritpo, e á qual rendia home-
nagem de todas as suas accóes de valor.
Tudo isto foi sacriÍicado e calcado aos pés: Ignacio era
um homem novo. Tinha lido nos lilros de cavallarias, que
os antigos homens de valor, antes de receberem a espada e a
espora, que os armava cavalleiros, passavâm uma noite toda
cobertos com a sua pesada armadural e era isto o que se
chamava Vela d'armas: Ignacio, a seu exemplo, quer pas-
sar a noiÍe em oracão, coberto com a sua arrnadura, aos
pés de Jesus e de NIaria, dos quaes, tle ora em deante, quer
ser o esforcado e leal cavalleiro. Tal e o motivo que o leva
ao altar de Nossa Senhc,ra de Nldnserrate, vestido com o
mais pobre habito de peregrino. Alli tern a *a'Oigilia de
armds: alli ora; alli se consagra, de corpo e alma, ao ser-
viço da Divina Majestade; alli lura não ter já outro mesrre
e senhor senão Jesus, outra mestra e senhora senão a Vir-
genr Maria, servil-os e defendel-os para com todos e contra
todos até ao ultimo dia da sua vida. No dia 25, muito cedo,
dependurou a sua espada e o seu punhal na parede da ca-
pellal ouviu missa e commungou com ahundantes lagrimas,
e depois de uma breve accão de gracas partiu para não ser
conhecido por algum dos numerosos peregrinos attrahiclos
pela festa,
D'ora em deante Ignacio de Loyola não terá outra habi-
tação senão a dos pobres, nem se alimentará senão com o
pão da esmola, nern viverá senão de privações, de renuncia,
 rlJ
de abnegacão, tle mortiÍicLrçÍo c rlc lrunrillruçóix
tie totlo o corrr e(licacia na sanctificacão do proximo, sobre
genero. tutlo n,este
seculo de discussões religiosas em que tudo era
Parte a pén vai a Manresa, cicladc l.izinlru n:ateria de
tlc Monserrate, controversia. por outra prrt" qua.i" recrutar os
pede-um asylo entre os pobres <Io hospital. soldados
ti r.r" seu servo que deviam compôr a Companhia tle Jesus entre
e enfermeiro. Bem depressa sua vida penitcnte lhe concilia os homens
rnais sabios e mais lettrados, cujo merecimento
o respeito da cidade, sua humilclade se
atemoriza e o lhz pro- sob este
âspecto elle não poderia avaliar, se primeiro não
curar um refugio contra â veneracão publica. adquirisse
tente de uma montanha pouco distante àcha Na ver- o que queria achar n,elles.
uma gruta ; Chegado pois a Barcütona Ignacio de Loyola
introduz-se n'ella atravez àos espinhos qu. na eclade de
.r.orra.,, , .n_ trinta e tres annos comeca com os meninos
tradal e alli, visto de Deus sór re ent.eg" a a aprender a
tocla a sorte de grammatica, em dois annos transpõe o espâço
austeridades. passa as noites em orrção, que o se-
e Deus se com- para- dos estudos philosophicos, é vai
munica á sua alma com tal profusão á. trr.r, á úniversidacle de
que o joven Alcalá, onde as numerosas conversóes de estudantes
guerreiro-, ignorante, como o eram que
então todos'os gran<ies faz.em as suas praticas, e os abun,lantes fructos
fidalgos côrte, ariquiriu cre repente ..i"n.r, *ris produzirlos
.dâ subli- pelos Exercicios Espirituaes lhe grangeiam iniligos:
me,-e fallou dos grancres e ineffaveis " ac_
mysterios da Fé de tar cusam-no de semear doutrinas hereticás, prohibem-lhe
modo, que arrebatava os mais sabios tra-
túeologos- balhar em converter peccaclores . ,terpá.tr. a Fé
n'esta grulta Llue o valoroso cavalleirJde antes cle
..Foi
-rvlâna escreveu, dictatlo pelo Oco, o
Jesus e de ter. estudado theologia por espaco de quatro annos. -feve
livro dos E*ercicios pois-de deixar Alcalá, e náo sendo mais ieliz
Espirihn-es, do qual S. Francisco tle Sales ern Salamanca
ü1." qu" ,.* pârtiu para Paris.
convertido mais peccadorcs, clo que encerra
cle lettras. Foi
n'esta grut:r clue o derlo clc l)eus tracou
no ftrndo cla sua
alma^o plano da preclilecra Compnnhiri, II
n qu,,l iir. ordenou
;;ioria ja Itivina Majestatle.
que formasse para o serviço c
Esta Compânhia devia rer 1 .fssin. por Oapitão (ieneral
e seculo XVI entre todas era a Universida«je de paris a
por Motlelo, e sua (_lruz por llancleira: a sua cli'isa ffomals
s-er esta: Ad Mtjorun Dei Gloriarrr.. para
clevia ll celebre. N'esta Universidade ensinavam os prolesso_
maior gloria de res mais sabios I a ella concorriam mancebos tle
Deus. todàs as par-
tes da Europa, e os sequazes ilas doutrinas de
No mez de Janeiro cie r5z3 Ignacio embarcou Luthero alli
em Barce- abundavam ta.mbem, Igna.cio de l-oyola sabia
lona, e a quatro de Setembro Ãago., Jarurul.*, tudo isto, e
com in- irnpellido por inspiracão <livina, era nlesta Univcrsiclacle
tenção de alli trabalhar na conversão"dos infieis, que
e formar elle queria continuar e acabar os seus esturjos.
a Companhia cle .lesus;porém não era esta
a vontade divina. Chegou alli r-ro dia z «le Fevereiro de r5zg,
nã-orencio podido obrer aucrorir"ção e desde o
lgln.tg, pa.a ficar na primeiro dia reconheceu que finalmente estaua no logar
Palestinar foi obrigado a voltar á Europa.
or:de devia recrutar os discipulos que Deus
.Deus tinha accendido em destinava a fbr_
seu um zelo ardente marem o nucleo da Corrpanhia <ie Jesusl mas
parâ "oruçáo
c_om a salvacão das almas porém prinreiro clo
I via que, destituido que tudo devia estudar para os attrahir.
das sciencias humanas, lhe seria
iuasi impossir,ál trabalhar Depois de ter reassun:irlo o estucio das
hurranidaclcs no
 t4
collegio de Montaigu, cursou as clâsses de philosophia no
de Sanc@ Barbara, onde não tardou em distinguir um moço
estuclantg, saboiano, cuja mansidão e piedade o encantavam.
E,ra este Pedro Fabro, filho de um agricpltor tle Villareto,
perto de Genebra, dotado de qualidades táo amaveis e at-
tractivâs, que sem embargo de seu modesto nascimento era
o amigo mais intimo e mais querido de Francisco Xavier,
fidaigo navarro, amante das bellas lettras, o qual, deseiando
ser aggregado á celebre Universidade de Paris, professava
a philosophia no collegio de Bear-rvais.
Um e outro tinham t'eito iunctos o seu curso de philoso-
phial Pedro o repetiâ entío e Francisco o professava com
grandes applausosl poróm não se tinham separado, pois
que um e outro habitavan-r no mesmo quarto e continuavam
a amar-se como clois irnrãos.
Vendo ao gentil nuvarro lgnacio reconheceu que Deus o
tinha escolhido pârâ ser uma tlts prinreiras e mais brilhan-
tes glorias da Companhiir dc Jcstrs; porém F-rancisco Xavier
estava longe da pcr[ciçÍo Í cltrrrl deviar-rr chegar estes esco-
lhidos do Senhor. Ar:rbicioso tlc scicncilt c tle gloria, cheio
de si mesrto, altivo prczittlrlr tlo scu nascimelltor de sua
gentileza, de sua graça, tlos attritctivos rltr sctt espirito e
sobretuc{o de suít vitsta c bella intclligcncilt, rtrtitdo, proctl-
rado, applaudiclo, recebiclo com honra na côrte de lirancisco I
amava estes successos. (r) Ignacio de l-oyola não ignorava
nenhum d'estes sacrificios da vaidade e sabia por experien-
cia quanto custa ao homem do mundo calcar aos pés tudo
o que o amor proprio procura e aprecia mais I todavia não
se desalentou, bem certo que uma alma como a de Xavier
não podia comprehender a perfeição evangelica e ficar
atrâz. À1[as era necessario chegar a ]h'a fazer comprehender,
e n'ísso estâva a <tifficuldade, para vencer a qual Ignacio
trabalhou por tres annos, orando, iejuando, flagellando o
(r) I-. Ranke, Ílísí,oire dc la Papaulé,
t)
§cu (í)rlt(, Jrnlu obtcr tlo altn o ltrio de luz que deviu esclu-
,'(iccr rl grrtrrtle irlrnu tlc lirancisco Xavier,
listl lr"rz hrilhou e nrfim ; o elegante gentilhomem, o altivo
rlesccndente dos reis de Navaira já não era mais que um
pobre voluntario: Ignacio contava dois bravos pâra a sua
sancta milicia, mas isto não bastava, a Providencia o sabia,
e era chegada a sua hora.
Ignacio tinha deixado em Hrjspanha uma reputacão de
sanctidade que lhe attrâhiu outros discipulos: Diogo de Lay-
nes, de Almazan, e AfÍbnso Salmeirão, de Toledo, nunca o ti-
nham visto, e corriam a Paris só com o fim de seguir a sua di-
recção espiritual: ainda que muito moços, um e outro eram
professores clistinctos da Universidade de Alcalá. Si.mão
Rodrigues d'Azevedo, Portuguez, e Nicolau Affonso por so-
brenome Bobaclilla, nome da aldeia onde tinha nascjdo,
tambem adheriram a Ignacio para o mesmo fim. O qual
depois de ter provado a vocacão de cada um d'elles, jul-
gando-os assás fortes, ll-res propoz que se consagrassem com
votos solemnes ao servico e á gloria da Divina NIafestacle,
o que todos acceitaram com alegria, sendo Pedro Fabro
Sacerdote, e não tendo ainda Ignacio terminado seus estu -
dos theologicos.
No dia r5 de Agosto de 1534 reune seus discipulos na
capella subterranea dos Sanctos Martyres em Montmartre,
Pedro Fabro celebra o Sancto Sacrificio da Missa ; e antes
da Communhão Ignacio e seus companheiros, aos quaes
elle vem offerecer a Deus, fazem voto de viver d'ora em
deante em castidade e pobreza, e de passar á Terra-sancta
para alli trabalhar na conversão clos inÍieis, logo que o seu
curso de Theologia tivesse terminado.
Ao nresmo tempo se obrigam a que no caso em que não
podessem dentro de um ânno efÍ'ectuar a viagem á Pales-
tina, iriam a Roma pôr-se á disposição do Summo Ponti-
Íice, e prometter-lhe obediencia para o serviço de Deus, e
da sua Egreja
A Companhia de Jesus que, havia doze adnos, estava enr
 I6 *17__
de nascer do zerrrhlo rlo nrcsmo anno de r535 chegou a Veneza, e come-
serme na alma de Ignacio de Loyola' acubava
;" Jesus e sàb as vistas maternaes da çorr rlo novo o estudo da theologia.
il;;;-a;;;çã; valente milicia Os rliscipulos que elle tinha deii*ado em paris tinham feito
á;ti; dos Ceos. os iovens alistados n'esta
pobreza voluntaria; novirs e preciosas conquistas para a Companhia. Claudio
e moÍrer na
;i;il feiro voto de viver voto era mister .laio, da diocese de Genebra, João Codüre, de Embrun no
norém nossuiam bens, e Para cumprir este
Delphinado, e Pascasio Broet, de Belhencourt na pica«iia,
d'elles'e ànonci"em le6ralmente a todas
as
5;;;t;;*;e todos rres sabios theologos da UniversiLiade de paris, tle_
;;J.i;;;*o ptatu Fabro em uma recente viagem á
que pois de terem feito os Exercicios espirituaes sob a direccão
lslu"r"-.i"t cump,ido esta condição1 faltava--porém
"
anroUa* os demais a cumprissem,
pelo menos Xaviert l-ay- de Pedro Fabro, tinharn pedido para se associarem á oÉra
disposto
da rJe Ig,nacio de Lor.ola.
I s"f*.lrão. Tambem Ignacià não tinha
"", anres de ,leixar íIespanha, e obrigado a ir alli Tendo rebentaclo a guerra entre Francisco I e Carlos V,
sua forruna e acl-rando-se as fronteiras crespas de tropas, a pequena
de arraniar ao
para arraniar seus negocios, tt tntutttElou
'*..rno ,.ápo o. dos seus t'e' a*igot' Partiu pois no fim companl-ria teve de adeantar a sua partida para a ltalia, e
mesmo tempo que seus p9, a caminho a pé com um pau na mão e uln alforge
de Março dã anno seguinte r535' ao l"
ás costas a r5 de Novembro <ie 1536, e chegou a Veneza
;;*i; J.uiu. "t'r'bot t* Paris o seu cur§o de theolo-se I de Janeiro de 1537. (r)
a

;i;;':;;;" a carninho a z5 <le Janeiro de 1537 Para

Pelo fim da Quaresma Ignacio os enr.iou a Roma a se
reuniremcomelleemVeneza,paraondeelletambemda prostrârem aos pés do Sumrno pontifice e petlir_lhe aucto-
sua parte iria. rizacão para irem evangelizar a palestina, e ã permissão
Ignacio de Loyola
Fiel ao §eu voto tle pobreza o illustre 'receberem as Ordens Saôras de qualquer Bisio a
de
com a sua tunica titulo de
tornou ír apparecer em lliscaia vestido volunrarios. Apresenrarlos ao papa, paulo III, por
com uma corda de nós cla mesma côr' e sem lo!:"..
narda atada aposen- I), Pedro Ortiz, Enviado extraor<Iinario de Carlos V, os áis_
;;;;; J. totl" as instancias de seus irmãos seviveu tres cipulos de Ignacio obtiveram o que clesejavam, e voltaram
hospital de Azpeitia' Aqui
;;;Jàir o, pob,"t no
virtudes que não tinha a Veneza, oncle a z4 de Junho foram orclenados Sacerdotes
mezes no exercicio "àntinuo das pelo Bispo de Arbe.
conversão: curâva os
a"*ra. de praticar depois da sua meninos' convertra os Os Turcos ameacâvam a ltalia; a Sancta Si, Carlos V,
instruia o povo e os
ã;;;r;t pobà'r, aos lleiigiosos a Republica de Veneza formam unra Liga para os repellir;
e

p"..1ã".1.t, ar"u o' E"t"icios espirituaes auste' o Nlediterraneo está coalhado de navios inirnigos, nenhum
com toda â sorte de
e ao C1eror macerava seu corpo vaso italiano póde tentar a pâssagem para o Oriente. Igna_
uma gran<le parte da noite em oração' e
ridades, passava cl9 e os seus se entregam a todo o seu zelo apostolico nas
fazia numerosos milagres' e pelos po- cidades de Placencia, Treviso, Bassano, Verona; e por toda
;;;;t.;" ter distiibuitlo por seus parentes a parte recolhem fructos maravilhosos por to<.la a pârte
rleixou pârâ sempre a terrâ
bres todos os bens que possuia' familias' cu)o
I os
n"ttJ, c fcri visitar as tres
que o tinho oi'tn
amigos' e dcixar-
:;;.;r;1;;"to devia ol'tt' p"" os seus
e pâra'o futuro' Cum- _
(r)Segundo lrm mànnscripto do padre Laynes elles chcgaram a 6; porirn
thes a sua íortuna Parâ o presente
Laynes escreveu triúta annos ntüis târde, e póde ter-se eígauacto: llibude_
para Italia' e a 3r rtre De- neira, a quem todos os historiarlores teem seguido, assigna
priclos estes deveres, e*bt'"ott-se
o" diu g.
HISTORIÂ DÀ C. DE T.
Z

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itIlti t ,, 1fl;[ü"

rt ljll.tffiT*{:;8\
rrl:..:h*F-

rtl r!l
se reformamt a fé vi't(lí) ÍtoÍ trr.ç,s n suA cruz, e mostranclo.lh,a
peccadores se convertemt os costumes como insi-
desperta.
p,rrirr rlo rrrrhrrllros c pcrsegLriçõe., oo4n.rrnà
tempo Deus
ânno tinhu passado' a
Entretanto a guerra continuâvât o l,rrtlr.e rtprcscntir íl seu divino Filho Iglacio
e seus <iiscipu_
do los, c c:ollocrrnrlo-os debaixo de sua ã.,.,ifot*t"
J;;;; A,nprnrti" estava por consequencia'desligada o se pôr -ef mão, lhe
I; ae ir a Palesti.a I restava-lhe cumq-rir. tle rliz rnostnrnclo-lhc Ignacio : quero que
";;; Pedro !-abro' e -«Eu e seja teu f

ã-ài.poriçao do Summo Pontifice' Ignacio' scrvo»: e o Divino Salvador, olhando

docemente para aquelle
Diogo Laynes partem sós para Roma;. os.outros sete são (lr.lc scu Pae ihe apresenta,
I he diz : nEu quero que
Italia com
de rne sirvas,r. pronunciando estas palavras tu
disseminados nas mals celebres UniVersidacles tão ionfo.t"do.n.
suieitos â Companhia' e so- .cstencle a sua vista cheia
;;;;; recrutar n'ellas Para
separar
de nÀo. prrn os áiscipulos <te
Antes de se Ignacio, e accrescenta i «[u v6s ,a.ai
t,.a ira" combaler os vicios e a heresia' «Aos que
p.opiCio em Roma,,.
ã;ar.t .* Vicencia Ignacio lhes fallou dizendo:que somos ,r)annaoos
sáe tla Egreja com o rosto ratliante
-rqnu:,o em doces irgrimas, e os olhos.
nos perguntarem o que somos, responcleremos- e diz ao p. Fabro e dlaynes:
bandeira de nEu ignoro o que nos espera em,Roma,
."faia.í da Sancta Egreia, alistados debaixo da e talvez alli se-
a Contpatrhn cle Jeslts»' remos perseguidos; mas,o que posso
Jestrs Christo, e formamos assegurâr_vos é que ,

Jesus Christo, Nosso Senhor, nos

,pois animo". Conrou.l[.res ,..á ;;;;i.i;, Tenhamos
_o
,i.ao p-pfr.,ii" qre tinha tido,
III da qual toda a Historia <J.a Comparf.i"
rãài..a mais que:
o desenvolvimento e realização e no rn".*ã'al"
de que modo viajantes chegaram a Roma, puio. I os tres
n Sâncto Funtlaclor ia a lloma ignoranclo Ànr--J. iovemb.o .le
ordem, que elle vinha.offerecer á r53.7. g) Em tempo que a heresia
U ...i"'^."riritla a nova podia rJuvidar' que a todos os lados o esni"ito de revolta
de Lu;he;;soprava de
ügr.i"-'0. Christo. Iille sabia, nem aon*-r"rua,ori«larle
arclente e esforça-
i,l?;;" execução cla qual trirbalhava tão feito tantos sa-
esp,iritual, ou tempo.al, o papa
devia acolher com.alacri-
dade homens que vinham offàrecer_lhe
e á qr-ral havia
ã"-"rt., havia quinze annos,
re- u ,u" ,.l.n.ir, o,
pràcectia d'elle; estava certo que a tinha ,seus talentos, o seu ze.lo, a
sua immensa J.ii.oçao pr."
".iÂ.út,'"e" apresental-a.lo8o
..ilJ" â" Céà; poróm não podia humildade' Ignacio'
como susrenraculo do seu poder e defesa
da Egreja. Éaulo III co_
sua. Dorque a isso se opp'niu a sua
nheceu a utilidacle de raes.homen.,
'tinh^ c.,.'do de orar pelo bom exito da sua em- fãgÍ ;, empregou:
,o ".oiffio"àa Sapiencia
.confiou a cadeira de Escholasti.u .

;;; ;r" c1a sua partida de a Diogo Laynes, e a da Sagraclu

nresa. cheio d'estes pensamentás depois a...ipiorJu iJa.o Frbro,
de parar na aldeia tie-l'a.Storta antes ,e deu o cuidado .ie reformar
Vi..ti.ir' teve deseio distava senão
o. .oirur*J áa cidade .te .

Cidade t"i"', da qual iá não I?o1a peJa- prégação a Ignacio ,t.

d" .rrt.n. na d'esta aldeia 'mais espinhoso e L.y;i;.-É.r]*"r" o ponro
aleuns milhares de passos"Entrá na egreia mais iirn..rr.ro. ^'^:^,:,-^" ..
a Nosso senhor que o então at coração ;;:,# T ;Xl:";.ffJH
;;";'i";;.. e o P' Fàbro,
e
e
importatlte
supplica
missão de que o tem encârre- gando-se á mais arerradora I...ffi,T::::
dirija ná difiÊcil immoralidadel
D*--'
sado.
Durante a sua oraça('r é deslumbrado por uma luz bri- {t) Esta data está provada
ttr"nt., que lhe faz v-er bem <lepressa a Jesus Christo le- n"."i,,1 q,,i :.';."i.":1" tl:,:il,X.ii[^.:t:.,llXi.l.. o"
",";' i *;,1",0.,
 20 2f _
tutl,l e nas pra.. |irllriil, e v(r' 0sto lnstituto erecto em Ordeu,r religiosa: fi-
Ignacio comecâ a prégar nas egreias' l.ot rrirlrrrcrrtc trxlr0rt.il"os a pedir a Deus por espaco de tres dias
,ombam do seu mau it:rliano' ricm tla sua
"r.-.ublicasl pá,e* ut* depressa a multirlão cluc se api- lli lrrzos rrcc,-l,Jsarias em conjuntura tão imfiortante para o
;;Ji;il;; nrs(:(fÚ10 Irrstituto. Ignacio escreveu o seu plano, seus disci-
;i,J;;;l ãttlt tt'blusnda pela sanctidade tla sur vitlrt' prrlos o al)l)rovrlram, procedeu-se á eleicáo do Superior, e
;;;;";r** .la, pãlun"t Prostra-se arrependidir a'
"'s chanra a torlos os votos elegeram a Ignacio, excepto o d'elle. O Papa
r"Ir pe.: ià não e battante para o ardor na
Pofullt'
gloria de I)eus nls' estlrvll ilusente de Roma, e erâ necessario esperar a. sua
.i o.^r.,r, tliscipulos, que trabalham
volra para adeantar mais o ne§ocio da Companhia. Espe-
;;d;;.liar'a.. áe'Italia, os quaes chegam no íin.r de
rando os novos Apostolos exercem o seu sagrado ministe-
Março de
- -Vo.,r, r538.
rio na capital do mundo christão, e Deus derrama ás rnãos
ou conquls-
regióes acabavam de ser descobertas'
na Asia. pelos Portu- cheias suas bençãos sobre os seus trabalhos. ígnacio préga
,ra* ,t" America pelos Hespanhoes'
de evangelizar cm hespanhol na egreja de Nossa Senhora de Monserrate;
e Ignacio de Loyola àrdia no deselo
"".r"..
lstes povÁ, cuia selvageria inspirava terror; porem
âo todos os mais prégam em italiano; o P. Fabro e Xavier em
que :S. Lourenço in Damaso, Jaio em S. Luiz dos Francezes,
;;;;J-;..ri. que'ia luáar na Europa contra a heresia
queria despertar nas almas a' Laynes em S. Salvador in Lauro,Salmeirão em Sancta Luzia,
a inva.lia .là toctas as Partes : Rodrigues em Sancto Ãnjo in?escheria e Bobadilla ern S.
ia,"t..i"ü"i..er os principios que fazem.respeitat I Attcto-'
ásOrclens monastl- 'Celso. Laynes, alem da sua cadeira na Sapiencia, das suas
,idodr; queritr emfim trâzer a reforma sacerdotal' Para prégacóes, e das conÍissóes que d'ellas resultavam, estava
;; reui"e' no Clero o espirito
"'í.re, se consa€{rasse ás Missóes encarregado pelo Cardeal Savelli das parochias de Roma, e
este fim queria que a sua C)rdem .de reformar os seus abusos,
de,ta1 moclo su-
ügi;qrrl alen.r clos mares' que e§tivesseató hs extremida- Emquanto estes dez Apostolos tratlalhavam com taÍrto
vàz corresse
iãiiã-á's.t.t- Só, que h sua a sciencia necesstlria para 'ardor na gloria de Deus na cidade sancÍa, Fr. Âgostinho de
des rlo mun<lo, que ar-lcluirisse
Piemonte, da Ordem dos Eremitas de Sancto Agostinho,
.o*bu...osl.,erei.scomvantâgem,queseentfeÍ]aSSeár.
frlluras' 'prégava da sua parte com grandes applausos dos ouvintesl
da moci'latle pâra frefitrar us,gcrac'ics
"i"a".e" do Instituto trabâlhâssc sem ces- porém o fructo d'estas prégações estava longe de corres-
;;Àrn' que cada rnembro ponder á adn-riracão que elias excitavam: era um talento es-
para trabalhar mais eÍficaz'
sar nâ sua propria sanctiÍicação teril. Comparam, examinam, admiram-se, e chegam â reco-
menÍe
--- na sànctificação do proximo' 'nhecer na seccura d'esta brilhante eloquencia urn resa,t»io
como o unl-
ó plr.ro tlo sancto Fundarlor eradetãoovasto
dar a conhecer a de heresia, que dispóe os espiritos parâ uma religiáo mais
,aa-ao'; a era cbega<lo o momento a todos'' "especr-rlativa que pratica: Fr. Agostinho não póde deixar
suas partes: reune-os
seus discipulos em toilas as zelr:, e á ,de ser um sequaz occulto de Luthero. Avisam d'isto a [gna-
horizonte patente a.seu
mostra-lhes o immenso .cio de Loyolal e Laynes e Salmerão vão ouvir o celebre
ttt-",,1e tai Anls^to^;
glo.i* qu. Deus e a sua Egreia.o"."tT prégador, e reconhecem o veneno escondido debaixo 'de sua
a necessitlarle de se ligarem entre sl
la<lo: faz-Ihes sentrlr pelas distan- linguagem seductora. Ignacio adverte o moÍlge he,retico corn
.ã'f^ços. que náo possam ser enfraquecidos
cla sua.escolha: ex- toda a circumspeccão da caridadel Fr. Agostinho se,e,nco-
.;;; ;J;; tt"ai""tl' a um superior com- ,lerisa, teme a inquisição, e para escapar ao castigo denun-
deseio cle submettei ao Papa o plano da
;;;.-;h;; o
 22
cin no pulpito a Ignacio, e o seLls Silccr(lotcs como culpa.
tlos das heresias de que o accusiurr l cllc: tliz qLre elles pro-
curam alterar.a pureza da fdnas alntas, c rluc tl'isso tem as.
provas mars evidentes e mais certas.
O povo acredita cegamente o que ousírnt dizcr do alto da
cadeirâ da verdade, e estes dez Sacerdotes, que ain«lar na
vesperâ eram os objectos da sua mais proÍunda vencraçãor"
não são,agora, mais que miseraveis de que cada um se aparta
com horror.
A pequena Companhia de Jesus não se aterra: seu di-
vino chefe mostrando a cÍ:uz a Ignacio de Loyola, lhe mos-
trou â sua assistencia omnipotente, e Deus é fiel em suas
promessas: .Vós fazeis bem conservando-vos tranquillos,
tliz Ignacio a seus Irmãos; mas nós temos necessidade da
nossâ reputâção para ex.ercer com fructo o Apostolado;
nós não podemos, nem devemos ficar debaixo do peso de
uma calumnia que tornaria nosso ministerio impossivel ou
infructuosol é necessario que justica nos seia feita para,
n-raior gloria de Deus Nosso Senhor,,
Quatro Hespanl'roes, inimigos d<-, Sancto Fundatlor e pâgos.
por Fr. Agostinho, afllrmam que Ignacio loi queimado em
. efiigie em Alcalá, em Paris e em Vencza, por crime de sor-
tilegio e heresia : um d'elles, Miguel Nin,arro, diz que n'es-
las tres occasióes fôra elle testenrunha, c cstilvil em estado
de fornecer as provas do que assevera.
Ignario de I.oyola vai procr.rlar o Governaclor de Romar.
Bento Conversini, Bispo de Ilertinoro, e lhe pede que o con-
.frontern com os seus accusadores. É verdacle que elle tinl-ra.
sido denunciado nas tres cidades designadas; porém a sua
innocencia tinha sido altâmente reconhecida e âltâmente'
proclarnada: e por um concurso de circumstancias, todas,
providenciaes, Dom João de Figueiroa, Vigario geral de Al-
calá, Mattheus Ori, Inquisidor mór em Paris, e Gaspar de'
Doctis, Assessor do Nuncio en:r Veneza, que tinham sido os.
iuizes de lgnacio, achavam-se €ntão em Roma para alli tra-
.ctardosoegocios da sua jurisdicção; e cada um se apressorlr
23
ru rhr testerrrrrrrlro em favor do sancto apostolo. Ao mesmo
Íelnpo de totlos os logares de Itaiia onde os discipulos teem
lcito ouvir us suas eloquentes prégacóes chegam os mais
cnergicos protcstos conra âs calumnias espalhadas sobre a
sua doutrina I os principes, os fidalgos, o povo attestam a
sanctidade de sua vida, seus inimigos confundidos se reti-
ram confessando-se culpados de mentira, e Fr. Agostinho
se declara manifestamente lutherano em Genebra, e seus
cumplices são iulgados e condemnados.
A Providencia quiz fazer brilhar ainda mais rodo o mere-
cimento dos novos Apostolos, com os quaes enriquecia a
Egrela.
No fim d'este mesmo anno de r538 o inverno se fez sen-
tir em Roma com extraordinario rigor, e a esta calamida<le
accresceu a forne, Os pobres se arrastavâm nas ruas para
alli esperar â morte sem ter animo, nem forca,para implo-
rar a compaixão dos que passam. Ignacio e os seus não co-
miam outro pão senão o da esmola;porém á vista de tão
pungente miseria esquecem-se que não possuem nâda, ou
antes sabem que os thesouros da Providencia estão sempre
abertos para aquelles cuja confianca a elles recorrem com
fé. Os caritativos Padres se apoderam dos mortos e dos mo-
ribundos, dos mortos para os enterrar e encommendar á
misericordia divinal dos moribundos pâra os levar á sua
casa, e dar-lhes os cuidatios que podem restituil"os á vida;
e d'esta arte recolhem successivamente em sua modesta e
sancta habitacão até ao numero de mais de quatro mil. Os
fidalgos ricos da cidade, cheios de a<lmiração á vista de tal
caridade, seguiam os Padres, os acompanhavâm a sua casa,
os admiravam em seus ternos cuidados, que tão prodiga-
mente davam á alma e âo corpo de tantas victimas, e ne-
nhum se retirava sem lhes deixar a sua bolsa, ou uma ioia
de valorr. muitas vezes uma parte de suas roupas, e todos
enviavam esmolas.
O povo já não sabia passar sem estes padres, dos quaes
the tinham ditg tanto mal, e recebia tanto bem, e cheios de
 24
reconhecimento os seguia pelas ruas, lhes pedia a bcnção,
beijava seus habitos, e lhes teria beijado os pés, se a humil-
dade cl'estes apostolos se não tivesse opposto a isso.
O Summo Pontifice estando cie volta, Ignacio aprovcitou
o. enseio para the fazer chegar ás mãos por meio do (.ltr-
deal Contarini, o plano do seu Instituto, que o Cardcal tlzl
a ler a Paulo III, o qual impressionado com o sello divino
da obra, exclama: nO dedo de Deus está aqui l" Uma com-
missão de tres Cardeaes é encarregada cle o eraminar; nras
o Cartieal Guidiccioni, que j. o seu presi,Jente, não âpprova
que se institua uma novâ Ordem religiosa, e nem mesmo
pensâ em lancar uma vista de olhos ao plano da Compa-
nhia de Jesus.
Entretanto muitos.Rispos, chcios de admiracão para com
os talentos e as virtucles apostr>licirs dos dez missionarios,
recorriam ás suas luzes e appellavam para o seu ze1o. A ro-
gos do Cardeal cle Sancto-Ârrjo, c com consentimento de
Ignacio, o Papir lhe concctlc os l)urlres I-aynes e Pedro Fa-
bro para o acomplrnhtlen) nil sua lcgacão cle Parma com o
Íim de repellir com milior e llicacia a lreresirr que ameacava
invadir esta cidade. I-aynes e liitbro sc frtzenr ouvir nas
egreias de Parma: a piedade se despcrtâ, os honrcns mais
notaveis fazem os Exercicios espirituaes e rclrlrnr:tnt a sua
vidal as mulheres mais clistinctas se entrcÍjam arrs excrci-
cios da penitencia e ás obras de caridade I o Clero não
quer ficar aÍÍazre se reforma tambem: Parma já se não co-
nhecia.
Bobadilla, enviado pelo Papa á ilha de Ischia, clilacerada
pelas dissensóes de seus habitantes, preenche esta missão
de pacificaçáo com tal successo, que os insulares já náo
querem separar-se d'elle. Jaio é chamado a Brescia para
combater os sequazes da heresia de Luthero. Pascasio Broet
é encarregado de ir reforn'lar um mosteiro na cidade de
Sena: Rodrigues e Xavier, a rogos de D. João III, partem
para Portugal, onde cleviam embarcar para as Indias.
De todos os pontos onde estes zelosos Missionarios tra-
25
balhavam na obra de Deus, se elevava um concerto de lou-
vores, que enchia a Italia e d'ahi se clerramava por toda a
Europ'a. O Cardeal Guidiccioni se abala, e a si mesmo per-
gunta: Que homens serão estes dez Padres cada um dos
"quaes vale um exercito para a Egreja? Vem-lhe ao pensa'
mento lancar uma vista cle olhos ao seu projecto de cons-
,tituicão, admirâ-o, e como Paulo III, reconhece n'elle o dedo
.de Deus : declara âo Summo PontiÊce que conservando a
'sua opinião sobre as Ordens religiosas não póde deixar de
fazer uma excepcão a favor da Companhia de Jesus, e ac-
crescentâ: «Para deter a torrente da nova heresia e reme-
diar os males sem numero que affligem a Egre)a, parece-me
indispensavel esta Companhia,.
Estava vencida a dilficulclade; por Llmâ Br:lla datada de
z7 de Setembro de r5.1o Paulo III erigiu r:r Corrpanhia de
Jesus em Ordem religiosa, e em seu favor fazia a maior
.excepção que já mais se fez: auctorizava-a e proclamava-a
antes de conhecer todas as constituicóes que a deviam re-
ger: pârâ elle era umâ obra descida do céo, sobre a qual
'se releria áquelle a quem o céo tinha encarregado de a exe-
,cutar.. Estas constituiÇóes não estavam ainda escriptls;
porém a obe.liencia á qrral a Companhia se ohrigava para
,com a Sancta-Sé era um penhor sufÊciente para o momento
€m que ella lh'as submettesse.
A Companhia de Jesus segundo os termos da Bulla devia
limitar a admissão de seus membros âo numero cle sessenta;
porém esta restriccão bem depressa será levantada; porque
â nova milicia, que vem collocar-se debaixo do estandarte
de Jesus, é clestinada não sómente a combater os seus ini-
migos, mas ainda a alorrgar cada dia mais os limites tlo seu
imperio; deve pois recrutar-se e crescer âtó lbrmâr um
exercito formidavel ao inferno.
Mas a todo o exercito é preciso um General em chefe, e
a Companhia devia ter o seu; era necessario pois proceder
á eleição. Poucos mernbros estão presentes em Roma: Xa-
vier e Rodrigues estão em Portugal; porém ântes de par-
 26
tir tinham deixado ao p. Laynes o seu voto escripto e sel- nha tido Iogar em Quinta Feira Sancta 14 de Abril cle r54r,
lado, para que fosse aberto no dia tão deseiado: o p. Fabro
e Ignacio acceitou o cargo na tercâ feira de Paschoa rg do
tinha deixado Parma por ordem do papa para ir sustentar
mesmo mez, tendo perto de cincoenta annos de edade. Na
e defender a doutrina da Egreja na conferencia tirla pelos
sexta feira seguinte,22, a pequena Companhia visitou as sete
Catholicos e Protestantes na Dieta de Worms: a ill-ra d,Is-
egrejas píivilegiadas, e terminou pela de S. Par:Jo Extra mu-
chia tinha obtido do Summo ponriÍicice que o p. Bobadilla
ros, onde o Geral offereceu o Sancto Sacrificio no altar da
lhe não fosse tiradol e por outro lado, tendol3obaililla pe«iido
Sanctissima Virgem, em presencâ dos Padres prostrâclos de
licenca para vir Íomar parte na eleição, os dias se tioham joelhos em roda do altar. O povo era numeroso, e entre os
passado em negociações, e assim não pôde enviar
'voto assás a tempo: o p. Fatrro tinha o seu assistentes se viam muitos homens, cuja sciencia e talento
ei-rviatlo o seu ao p. eram conhecidos e citados, jovens pertencentes ás mais
"I-aynes datado de Worrns. distinctas familias de Italia, I-Iespanha e portugal; Sacer-
Ignacio de Loyola, Diogo Laynes, Clauclio Jaio, pas-
dotes celebres por suâ eloquencia, e venerados por suas
casio Broet, João Codure e Affonso Salmerão, os unícos
virtudesl os quaes todos tinham feito os Exercicios espi-
presentes em Roma, passaram tres dias em oracões, jejuns
rituaes sob a direccão dos Padres, todos tinham reconhe-
e mortificacões, para conhecer a vontarle de Deus sobre a
cjdo que Deus os chamava a servil-o na Co.mpanhia; todos
escollra que deviam fazerle âo quarto dia cada um depoz
suspiravam pelo momento cla sua admissão na nova Ordem.
, o seu voto escripto com os dos ausentes, oa quna, todoa, Antes da Communhão o Padre Geral se volta para o povo,
rnenos o de Ignacio, continham o nome tio sancto Funda-
tendo em uma mão o Corpo adoravel de Jesus Christo, e
dor.
na outra a formula dos votos, que elle pronuncia com uma
A humildade de Ignacio não pôde resolver.se a acceitar voz forte e firme, ouvida de todos: communga, volta-se de
o grâu de dignidade e auctoriclacleclue elle sabia ser neces- novo tendo a pâtena, e n'ella cinco hostiasl cada um dos
sario ao Geral para o bom governo da Compantria: recusa
Padres presentes pronuncia, por sua vez, a mesma formula
não reconhecendo em si nenhuma clas qualitlacles, nem clas
e recebem depois a Sagrada Communhão da mão do seu
virtudes requeridas para este cargo, e páde seguncla eleição
Superior.
que produz o mesmo resultado. Ignacio se desfaz em lagri_
A Companhia <le Jesus estava fundada (r).
mas, e supplica de novo a seus irmãos que não lhe ponham
A casa habitada por ella então, â qual se chamava Torre
tão pesado cârgo; então Laynes se levanta, e em tom de &íelangç1o, estava situada na praca Morgana, perto de
auctoridade .lhe diz: oAcceitae, paclre meu, ou a nossa Santa-Catharina tlel Funario,
Companhia vai dissolver.se; porque eu cieclaro em nome
de torlos, que r-rós estamos resolviàos a nào reconhecer ou_
tro Superior senão aquelle que o proprio Deus tem esco_
lhido.
Ignacio teve de submetter-se e acceitarl e comtudo não,
se determinou a isso senão depois de um retiro de tres dias
no mosteiro dos Franciscanos de S. pedro in Ã[ontorio, e (r) Temos delineado rapidamente a sua origem e fundaçáo, cuios porme-
nores, táo interessantes por si mesmos, referimos en nossa Historra de Sau-
por ordem formal do seu confessor. A segunda eleição ti- cto Ignacio de'Loyola: seria inutil repetil-os aqui.

Generalato de Saneto Ignaeio
de Loyola
L6.á.L_I556
A torre Melangolo estava contigua a edificios assás vas-
tos, nos quaes tinha siclo preparado um Noviciado, e no
mesmo dia em que a Companhia tinha sido constituida re-
gularmente, tinha recebiclo doze novicos simultaneamente,
preparados, havia muito tempo, pelo zelo dos padres, dos
quaes era o primeiro l)oru Antonio <le Araoz, sohrinho do
Sancto Funrlador, c alcnr d'cstes muitos outros deviam ainda
esperâr o ber-reíicio dn sua ntlurissão.
O Geral, como tclros vistí), :rfenfls contava em Roma
cinco Professos, o que cr:r nrrrito fouco nara as necessida-
des da casa, e ellc scntirr a ncccssidade de chamar ao me-
nos urr dos âLlsentes, cluantlo rrnr rlil i rcpentinamente cha-
mado ao Vaticano, ondc o SLrnrrlro l)ontilico tcm necessi-
daile de lhe fallar scm dcnrorl: a ostc clramlnrento acode
Ign acio.
O Papa acaba de suber por nroio cle lloberto, Arcebispo
de Armagh, as crueis particullridadcs da perseguicão que o
rei de Inglaterra, Ilcnriqr:e VIII, faz soffrer á carholica Ir-
landa, onde as victimas se contam aos milhares. Recebe pois
a Ignacio com âs lagrimas nos olhos e com umâ voz lacri-
mosa lhe diz: É urgente enviar a estes christãos, que não
hesitam em sacrificar tudo á sua fé, e que vão á morte com
umâ coragem heroica, como os christãos dos tempos primi-
til,os I é urgente enviar-lhes consolacóes e alental-os em
nome do primeiro Pastor da Christandade: é necessario en-
viar-lhes dois Legados, munidos de todos os poderes que as
29
circumstancias exigem, dois Apostolos cujo zeio seja egual
á sua.p ciencia, e cuia abnegação e intrepi<lez sejam capazes
de vencer as difEculdades que se offerecerem, e os perigos
que teem de affrontar: estes Apostolos o Summo PoL-rtifice
está certo de os achar na Companhia de Jesus, é à ella que
os pede.
Ignacio de I-oyola, commovido com estas deploraveis no-
ticias, se esquece das necessiclades cio seu Noviciado e tla
§ua casâ) ou antes elle mesmo se multiplicará, se fôr pre-
ciso, para bastar para tudo, e promette ao Papa os Padres
Codure e Broet; porém, emquanto se preparâm no Vati-
car"lo âs instrucçóes e poderes concedidos aos Legados,
morre o P. Codure, e Salmeirão e designacio para o substi-
tui r.
0 titulo e dignidade de l-egados apostolicos não muda-
rão em nada os habitos da humildade e pobreza dos dois
,{postolos : partem a pé com um pau na mão, sem outra
boisa mais do que os thesouros da caridade publica, e sem
outras provisóes mais que o seu Breviario e a sua confianca
ern f)eus. Era uma coisa nova em Rom4 tal «lesapego nos
Enviados da Sancta Se, que vão á côrte do um Soberano,
porque os dois Jesuitas tinhanr uma missão que cumprir jun-
cto de Jayme V, Rei de Escocia, antes cle aportar em Irlanda
para consolar e confortar os Christãos.
Francisco Zapata, Notario apostolico, que aspira â entrar
na Companhia, faz observar ao Padre Geral que será pre-
ciso fazer uma viagem tanto mais perigosa, quanto as cir-
cumstâncias são mais criticas, e que é mais prudente pagar
aos capitães o que elles exigirem para evitar as suas sus-
peiÍas: offerece-se p0ra tomar á suâ conta as despezas todas
da viagem e solicita o favor cle acompanhar os Padres, e
ter pârte em seus trabalhos e perigos, o que lhe foi conce-
cliclo, e é assin-r que elie começará o seu Noviciado.
Ignacio de Loyola não se preoccupa de modo algurn com
as instruccóes confidenciaes que os dois Legados recebe-
ram da Sancta Sé; o que sómente the importa é que seus
 JO
Ileligiosos náo percam nada do espirito da Companhia, e ,Iriliri rtr,iiil rlr lrcrrs (:í)ntrâ o temerario que ousar
que ao mesmo tempo saibam mostrar-se dignos da alta rnis-
são que thes é confiada. Para os ajudar a alcancar este du-
plicado fim lhes dá por escripto conselhos de uma tRl sa-
bedoria e habilidade, que não podem ser assás adn'rirados.
Os dois Legados, acompanhados de Francisco Zapâta, se
mettem a caminho a dez de Setembro de r54r, a pé e em
todas as condiçóes da pobreza evangelica; velando porém
a Providencia sobre elles, poderam chegar sem accidente
á Escocia, onde os esperava Jayme V, que os recebeu com
todas as honras devidas á sua dignidade, thes prometteu
que ficaria fiel á fé de seus paes, e lhes procurou os meios
de passar á lrlanda.
Privados de seus pâstores, não tendo já sacerdotes para
lhes distribuir o pão cla divina palavra, para ll.res adminis-
trar os Sacramentos, para os ajudar a supportâr a vida e
receber â morte) os Irlanclezes gerniam na mais dura escra-
vidão, mas apesar cl'estit privacão de todo o soccorro espi-
ritual conservâvâm a sua ló, Os l'|nviarlos clo Summo Pon-
tiÊce o sabiam, e esperavam ser rccebitlos com alegria por
este povo tão tlesamparaclol poróm não foi assim: ao prin-
cipio cada um via n'elles emissarios dislarçatlos de seus ty-
rânnos. Não os querendo receber, os l)aclres não rchavam
asylo em nenhuma parte; e se viam sem nenhum recurso
n'este paiz desconhecido, onde a hospitaliclade e a caridade
eram punidas com pentr de morte, se não elanr exercidas
em favor dos hereges. O zelo dos Patlrcs não se clesalenta e
a sua paciencia, a sua mansidãor a sua humildade, a sua co-
ragem no meio de tantas fadigas e privaçóes acabam por
convencer os câtholicos, e ganhar a sua confiança. Os Je-
suitas passam (rinta e quatro clias a confessal-os, a conso-
lal-os, a instruil-os, a fortifical-os.
Henrique VIII é avisado da sua presençâ em lrlanda, a
sua cabeça é posta a preço, coniuram'nos que se retirem,
se não querem que a perseguiçáo contra este infeliz Paiz
redobre, porque o tyranno decretou a pena de morte e a
lJr
clar asylo
,r,rc l írli.rllr)\ rrlrostolicos. Os padres se resignaml mas le-
\|rrrt ,,rn,iir,,r) rr i,onsollcão de ter percorrido a ilha toda, e
rlr, tr.r rr'r.llir osr:lrtrccido muitas alnras, de as ter animado
e
;t1rr.111,11111111 (:t)) ltol]le do pae
commum dos fieis, de ter
r'rrrlirrr r'rrr1P'irl. a sua nrissão. As suas instruccões
contêm
,1r,, r,llrrs (l(:vcrlt voltar á Italia, se a sua d"roorá ern
Irlanda
,1 1,,,r''r ,rs (lhristãos causa cle novas des6;racas I arrancam-se
lrír!§ l cstls alrnas atribuladas, as quaes tocJavia deseiam a
:iurt l):lrti(1il, e lhes promettem suas oracões e amparo.
No cxccsso da sua dedicação e da sua caridade os dois
.lcsuiÍrs tlueriam tentâr o impossivel: queriam ir a Lon-
rlrt:s, rrpresentar-se deante do monarcha àportrtr, que
aca-
lrrvrr tle tlecretar a sua morte, e appellar d,ella para a
sua
r'orrsciencia com toda a forca da verclade, e com toda
a elo_
(lucncia da car-idade. Expunham-se â serem
immediata-
nrcntc-executados; porém a sua tida é de Deus, e elles
se_
rilo lclizes de lh'a offerecerem em sacriÍjcio por tal causa.
l';u'tem com esta resolução, tocam em Escàcia e se vêm
obri{aclos a renunciar ao heroico projecto que teem formado:
os liscossezes estão levantados em peso a favor das novas
hcresias: os Padres não podem penetrar em nenhuma parte
c são obrigados a demandar a Franca: desembarcam em
l)ieppe e váo a Paris, onde deilam Francisco Zapata, que
:rlli terminou os seus estudos. Francisco I estava em guerra
nberta com Carlos V. euando os dois Jesuitas apparecem
crn I-eão, a gente se abala com a presenca d,estes homens
cujos vestidos gastados indicam miseria, e cr,rja linguagern
rrostra um espirito dos rnais cultivados, Um d'elles é hes_
panhol; isto e mais do que é preciso parâ os terem pores-
pióes de Carlos V. Levam-nos á prisão;porém ellesappel_
lam para os Cardeaes de Tournon, e Gá,idi, que residiam
nir cidacle, e que reconhecendo-os logo, fazem que lhes ren_
tlam as honras devidas â dignida<ie deque estãorevestidos:
procuram-lhes cavallos e guias, pâra que possam atravessar
a l'ronreira e viajar depois com ..guirnçr, e os obrigam a
 .) -)

suÍficiente para chegarem a íq 1..\tux lrulrlicas, os loucos regoziios d'estes tres dias fo-
acceitar uma sommâ <le dinheiro ,rlr hrl)stituiclos n'aquelle anno por exercicios de peniten-
obrigados a se renclerem a seus dese-
ã.*rl são
o.-p"dres r ril (' rlc pietlrttlc.
io.' t) l)olie, como temos dito, tinha.feito con: o Padre l-ay-
1I rr{"i vivls, mas inuteis instancias para obter o favor de o
,rlloscntnr em seu palacio; muitos Senhores não tinham
sabia-se que no firlr' si.[r nrais l'elizes, e d'este numero era André Lipomani.
r heresia cercava a Italia, e em Roma l',stc ultimo todavia chegou a ganhar o coração e a con-
ãl.il;'à;',i*1.n' áté penetra'lo em muitas cidades'
A Íinnça tlo Padre, renovou suas solicitacóes, e Laynes, im-
de Faenza se tinham <lei-
;t,*;;;;açóes.tle Foligno e Pauio III quer enviar-lhes' grcllitlo pela Providencia, não soube resistirmaisldeixou o
xado seduzir quasl lntelram"ente' lrospittl e passou as ultimas semanas da sua demora em
JesuitaspararectlPerarasalmastiraclasáE'greja:Ignacio
e Salmeirãou Veneza, no palacio de Lipomani, que deseiando mostrar-
Broet
n" làrril .ao póiie offerecer-lhe senão lhc o seu reconhecimento dá á Companhia o seu priorado
comtudo a rrercsia ó obri-
:::;ü; ;;1,;;;.t; 'llispôr' e
rle l'adua para alli fundar um collegio.
tte i\4o'lena solicita urrr Jesuita para
ãrA, " frgit. O Lrispo
das heresias Ás ovelhas desgarradas tinham entrado de novo no redil;
e o flagello
a sua dioceser âcode-llre Saimeirão' <t zelo e a sciencia do Padre [.aynes tinham restituido á
é renovada' Broet é cha-
e repellitlo, e a diocese de l\{odena l,)gre ja tudo o que. a heresia lhe tinha tirado em Veneza I a
ontle opéra os mesmos prodigios-
mado a Ntontepulcione, nrissão do Apostolo estava acabada, elle corre a Padua e
Carpi a Reggio para alii
e d'alii e mandado ptto tot'ttui laz i Egreja serviços egualmente relevantes, e dispõe o Col-
reforrnar um mosteiro' lcgio de que André l-ipomani é fundador. D'alli passa a
a admiraçáo de Veneza-
l)urante este tempo Laynes fazia do-Doge Peclro Ilrescia, onde encontra um monie apostata, cuia eloguen-
H;;;;;; ", hospital opt"o' 'J" seinstancias
tlposent"t-: cia tem já feito nurnerosas victimas, A reputação de Lay-
que
Lando, que o tinha rogado i:eHrc)as
l,':':t^',:: r)es, as victorias que tem alcancado da'heresia em Veneza
il;;;: *a.,hã em cr.la urnir rlus divcrsas
ie Por
c em Padua, a admiração que n'estas cidades excitou, nada
o livangelho
seu turno; e cle tar'1e "*ptitnu' ::9:1,1t,,:-
escltava Llirl d'isto é ignorado em Brescia. O apostata não parece aba-
f clo Sllvaclor' A suit cloqLrencia
lar-se; antes quando sabe da agitação causada na cidade
"n"'t" "gtti'ttão grlnde, (lLlÜ o povo I)xssavx anoite á porta'
€nthusiâSnlo
tl" manhí' e até os Iu- pela chegada do sabio Jesuita, annuncia publicamente que
da egreit ondc clevia i;;"'t tt oouit «:lle está prompto a confundil-o: Que eu possa sómente,
na Salvador; porque era
,f'ra.rno, se apinlruvtim ii tarde
c1o
âs suas doutrinas corn diz, fazer-lhe algumas obiecções sobre o Purgatorio, e eu
alli que elle atacavir c clcsmascarava tal talento' que elles' o reduzo ao silencio I Elle será bem depressa lutherano !
com um
uma log,ica ,eo poa"'ott) e l,aynes ouve o.desafio e o acceita: a lica está aberta, e
O Paclre Laynes estava senhor
eram obrigatlot o uti*i'oi-o' para lá vão em tropel os espectadores: os dois campeóes
prova o facto seguinte' r\pproximava-se a
de Veneza, como cslío nâ liça.
exhorta oi Venezianot em nome
d'1
Quaresma, o missionario tlivertimentos do Carna- O Padre Laynes, collocado em frente do seu adversario,
âos seus
dôr da Egreia " '""onti" o escuta sem o interromper, com os olhos baixos, o rosto
sacrificios' mâs o povo de
val. Era peclirJires o'*'iot dos scrcno, o ar modesto e firme. O apostata, altivo com este
a um cleseio clo seu Apostolo:
Veneza não pociia "t"'^'-tt HISTORIA DÂ C. DE J.
 r4 J:)

com tal força e en-

silencio, desenvolve os seus argurnentos
o seu triumpho' Os ou- III
thusiasmo, que Parecem prognosticar
do Jesuita os tem
,irr,.. .r,áo uniio,o', e a impassibiliclacie
em desenvol- ,, ;,l,rrro rlo Srrncto Ftrndador a Companhia de
viva inquietação' O monge se afadiga Jesus derir
tr1
""-ãri. selrs argumentos, e não se explica a paciencia e'o ll r, r , ollcgios, tlue rivessem os mesmos privilegios
ver os que a§
estão suspen-
*u,i.*o do Pa,tre Laynes; todos os espiritos rrr\,(.r'si(lilLles; mas como a creacão d,estes collegios ievia
..,,r íi ucto clo seu desenvolvimento,
o apostâta pára, iá não tem nada que dizert entretanto os Novicos
sos. Finalmente
o Pa-
;;.;; ^" Jesuita que lhe responda, se e que póde' levanta'
,lr.virrrr.r ser enviaclos ás diversas Universiclatles
pn.o a"guí-
ã.ã iuyn.t, dotado tle uma memoria pro<iigiosa' se
fo-
,' r('!n scus estlldos e tomarem todos os seus gráos.
.un.t.'."d" obiecção pela mesma ordem com que theuma l,lsra necessidade, toda providencial, deviaiontribuir
para
victoriosamente () ilugrnento cla Companhia.
I
.o,, f"it". a ,.'.aiot" táo clara e tão
depois da outra, que o seu adversario conÍessa a sua der- Os primeiros Padres tinham deixado em paris lembran-
l a' e torna se o amigo t'ls indeleveis: seus talentos tinham sirlo applaudiclos, suas
I
rota, torna a entrâr no gremio da Egref
dedicado do vencedor' \irtLldes tinham sido adnriradas, suas par.om amacias,
"'a,S"r.r"
mais e
Sé, que não tinha podido ficar indifferente
a corn elles conseryavam piedosas e iloces relacóes. tgnncio
,"t do tudo o que a Egrefa poclia esperar rinha enviado a esta cidade muitos dos sers Novicos, àan,lo_
.oa.a.ao.,
"r,a.
da nascente Ordem, tinha já tirada a restricção
imposta lhes por superior o de edade e o mais perflito, Diogo
limitava a se-ssenta o numero de Eguia, seu amigo. A.maior
nela Bulla de erecçáo, que sua vicia edificante, a mansidão de
'áãr *rt n.rigiosos' D'ola em deante a Companhia de Je- suas maneiras, a união fraterna que reinava entre elles re-
suieitos que ella cordavam os primeiros padres e os fizeram amar e procu_
.r. f"ai" adÀittir ern seu seio todos os providencia que
irrtná.r" dignos de lhe serem associados' rar" D'esta benevolencia se aproveítaram elles para exhor_
pois que de todos os lados o Papa tar os seus novos amigos a fazer os Exercicios espirituaes,
l.I "ria. iídispensovel, da Companhia fun- e bem depressa contavâm esplendidos recrutas para
era rogado Pârâ que enuiasse Sacerdotes a Corn-
sustentirr a lucta contra panhia entre os homens nrais sabios e mais distinctos.
áuan iot tgnaciá de l-oyola, Pâra
lutheranos, que se derramavam por toda Em r545 Guilherme l)uprat, Bispo de Clermont, uil cle
a

"tl.Jai.rí..es Egrefa' .seus mais fervorosos

Errop" e levavam a ruina ao campo da admiradores, lhes oflêreceu o seu pa-
Noviços au-
i prouia"ncia tinha provido: o numero dos lacio em Paris para n'elle estabelecerem um collegio
I porém
g*ãn,"u, todos.os dias, Ignacio de Loyola velava os seus oppondo-se a Universidade e o parlamento a
esta funtla_
as mais rudes cão, o Bispo de Clermont chanrou os Jesuitas para
progressos esprrltuaesr e lhes íazia soffrer a suâ
virtudel nem os punha nos es- diocese, e fundou á sua custa um dos seus coilegios
l,.oí", nr." fàrtiÊcar a sua estas pro-
em
de os ter feito sanctos: mas l-iillom, que fol o prir»eiro erecto em Franca.
ioao. ."nao depois e alli-
;;;; t.- longe àe os desalentar, pareciam attrahil-os A maior parte das Universitlades se davam por arfi,ersa_
ciai-os ainda mais.
rias da Companlria de Jesus como corpo docente; porque
.os Jesuitas gozavam de tão
grande repútação cle saber e tle
eloquencia, que os mais sabios profe..or". não viam
n,el-
.les senão competidores. Em paiis o parian:ento jr-rnctava
 36

sua opposição á da Universidade, porque o espirito de in-

dependencia d'estas duas corporaçóes não pádia acolher.
uma Ordem que professava altanrente a mais completa sub-
missão á Sancta Se I e por isso era necessario tel-a desviada.
a todo o cus.to,.
0 Sancto Fundudor, vcn<Io que níro era chegada a hora
da Frovidenciâ, se contentÍlvâ com o bem que seus Novicos
faziam em Faris, e alli os deixava em numero sufficiente
t,
para poderem atrrir um collegio.no palacio de Clermontr.
quando as circumstancias o permittissem,
i
Em [trespanha os Jesuitas não encontaram ôs mesmos.
I
obstaculos. D. Antonio de Araoz fôra o primeiro que rinha
feito os seus vôtos na Cornpanhia depois dos dez Padres ila.
I
fundação. Obrigado a fazer uma viagem á sua patria, é pre-
cedido em Barcelona poluma carta de lgnacio de Loyolar.
que o annuncia a D. Isabel áe Rosell, e esta novâ rtàrra-"
rnando.se logo na cidade, onde Ignacio tinha deixado tan-
tas e tão locantes recordaçóes, ricos e pobres todos que-
rem ir ao enconlro do querido sobrinho do Apostolo de.
Barcelona. Apenas Araoz appareceu, viu-se logo cercador.
apertado, festejado e acolhiclo, pelos gritos e Iagrimas d'esta
rnultidão cheia de jubilo e reconhecida. Logo no dia se-
guinte é obrigado a subir ao pulpito pâra satisfazer a avidez
dos Barcelonenses, e como desejam sobre tudo ouvil-o fal-
lar de Dom Ignacio de Loyola, é do Sancto Fundador e dos"
fructos já produzidos pela Companhia de Jesus que elle.
falla a seus ouvintes. Toda a cidade quer ouvil.o cônrar es-
tas ma,ravilhas I pedem-lhe que torne a fallar, e cada dia ap-
pârece em um novo pulpito, porém a avidez do povo não.
§e sãtisfâz; as egrejas são demasiadâmente pequenas para
conter a mtrltidão que corre cle toda a parte: o Padre
Araoz é obrigado a fallar ao ar livre, sobre um tablado le-
vantado no rn.eio da praça grande, a qual se cobfe de ou-
vintes, as janellas de cada casa estão cheias, os telhados es-
tão sobrecrrregatios. 0 enthusiasmo do povo excita a elo-
quencia do Padre, os espiritos se.exâltam, querem uma
 37

.casa cla Ordem na cidade de Barcelona, todas as bolsas

veem offerecer-se, a casa é fundada e não espera já senão
'os Padres rão desejados.
' -\raoz continúra a sua viagem atravez de Castella: em
Rurgos e em Valhadolid instam com elle, .parâ que se faça
.ouvir como em lJarcelona, e obtem o *".*t successo: cada
uma d'estas cidades ajuncta logo o material necessario para
uma casa da Companhia. Nas provincias vascongadas é
,,obrigada a ceder ao povo, que o faz fallar em pleno
campo,
.e que trepa ás arvores para o escutar.
O vice-rei de Catalunha, D. Francisco de Boria, Duque
,{\*
" d}..
-%. ,de Gandia, oulre o Padre Araoz, e «lesef a fallar com elle
àm
pârticular: o Padre lhe lô a Bulla de paulo III,queencerrâ
o fim e o plano da Companhia, e o vice-rei exclama que estâ
'Oidem lhe parece cle origem celeste, e promette empregar
todo o seu poder em a propagar em Hespanha.
D. João III, rei de Portugal, tinha pedido ao papa, descle
.os prirneiros dias do anno de r54o, Sacerdotes
<iaCornpa-
nhia de Ignacio de I-oyola, para evangelizar as colonias
portuguezas das Indias Orientaes. Seu embaixador em Rorna,
D. Pedro de Mascarenhas, devia solicitar seis d'estes mis-
"sionarios, cuia reputacão era já europêa: I{ós não somos
;ainda senão dez, lhe tinha respondido o Sancto Fundador, se
vos concedenros seis, que restará para todo o mundo? O
'futuro da Companhia estavâ n'esta respostâ,
Temos visto que sórrente dois mernbros tle pequena
^
Companhia tinham silo concedidos ao rei de portugal :
'verdade é que um d'elles era lrrancisco Xavier.
W1.2 "1t Por toda a parte e sentpre os cliscipúlos de Ignacio exer-
-J"r'. m,.', ciam o apostolado, ao qual haviam consalrado a sua
ffi d4tffi l -.. t
hÀ''(*ii.#iÀ, vida. Rodrigues, partido por mâr para passar a [_isboa,
ffi.nn;fll ',,, mfl
.ainda que doente de umas quartãs, prega, cànfessa, converte
f:Ál'Orl()l\r ffil
.os peccadores, cuida dos doentes, consola os moribundos e
,durante a viagem faz-se amar da tripulação. Francisco Xa-
rr,' trr\!1 , r' wier, partido por terra com o embaixador e sua nurnerosa
"comitiva, se faz querido rle todos, e falla tão trern ás alnnaq

3B
que é obrigado a parar no caminho para confessâr a gente
da comitiva, a quem tern convertido, e ouvir nas l-rospecla-
rias os que occupam um logarmais alto juncto de I). l)edro
rl,e Mascarenhas.
. Em Lisboa os dois Padres pedem esmola pelas ruas, alo-
jam-se no hospital de Todos os Sanctos, prégam e confcs-
§am com tanro successo, que não são bastantes para os cle-
seios da rnuitidão. O rei faz instancias para os ter de nro-
rada ern seu palacio; porérn elles não querem outro apo-
senio senão o dos pobres.
. Corn a sua saocta vida e unccão de suas palavras obtecnr
prodigios de conversáo e refornra: o rei quer conserval-os;
elles Íicarão em Portugal, onde íarão íascer vocacões, Iun-
tlar-lhes-hão casas e collegios; mais tarde Missionarios Ibr-
rnados por elles serão enviados ás Inilias.
Porém a vontatle divina era outra. Ignacio consente em
d-eixar o Padre Rodrigues em Portugat; mas o Padre Frân-
cisco Xavicr deve partir parâ as Indias; o Summo Pontifice,
a rogos do llei, lhc dri o titulo e podercs de Nuncio aposto-
liccr, c'm todo o Oriente, Jrara ontlc se crnllarca com grande
pesar da Côrte e tla cidade, a 7,le Abril tlo anno clc r54r,
gue era o dia anniversario do seu nuscinrcnto, c complctava
então trintâ e cinco annos de edade.
Os dois Jesuitas tinham já formaclo disc'ipulos. l;rirr-tcisco
Xavi.er levava dois parâ âs Indias, Simão llodrigr.rcs corlscr-
vava os orltros; e no ânno seguinte o Rei lhes deu cnr l-is-
b.oa a casa de Sancto Antão, Abbade, augmentanclo o seu
numêro tão rapidamente, que alguns mezes depois funda-
vam o celebre Collegio de Coimbra, que devia ser urn vi-
veiro de t\Iissionarios para as Indias, e dois annos mais
tarde contava já sessenta Padres ou Noviços. O bem ope-
rado pelo seu zelo a péla sua sanctidâde pessoal era tão
geral e prodigioso, que o Rei dizia muitas vezes: Eu que-
reria que houvesse uma casa da Companiria em cada cidade
do meu reino.
\
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lir
IV
ir
Jrnos visto que o Padre Fabro deixou Roma no mez clc
fl
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I Ootubro tle r54o por ordem do Papa, para acompanhar
o Enviatlo de Carlos V, D. Pedro Ortizrá Dieta de Worms,
á qual er.a enviado com o titulo de theologo da Sancta Sé,
para tomar parte na conflerencia proposta pelos Lutheranos'
.Estas conferencitrs tinham sido provocadas com estrondo
pelos herejes como um um desafio lancado á Egreia romana;
porém uns <Iesertavam bcm clepressa, outros recusando ou
eludindo toda a discussão seria e seguida, náo procuravam
m,ais do que cançar â paciencia dos doutores catholicos'
O Patlre Fabro, vendo a sua rná fé e reconhecen<lo que
os progressos da heresia na Allemanha são devidos á igno-
rancia do pgvo, e á mais perigosa ainda do Clero entregue
ás suas paixóes, se applica â exercer outro ministerio. Na
cidade de Wortls havia um só sacerdote digno de estima,
que era o deão do cabiclo, que tinha o titulo e os poderes
de Vigario gerai, o quai desalentado pela apostasiâ do povo
e,escandalos do Clero, estava a ponto de desamparar a ci-
dade e deixar o logar aos inimigos.
O Padre F'abro o consola, lhe offerece o seu zelo e con-
curso, reanima a sua coragem, entrega-se á obra e lhe re-
conduz todas as ovelhas tresmal\adas.
De Worms vai a Spira, onde recolhe fructos abundantes.
Po.rem e chamado a Ratisbona para assistir ao Synodo
que em presença do Imperador deviam ter os Catholicos e
os Lutheranos. Durattte a iornada o Jesuita se occupa do
bem espiritual dos oÍiciaes imperiaes, que viaiam com elle,
porque todos os instantes da sua vida devem ser emPrega-
dos na n-raior gloria de Deus.
A Dieta de Ratisbona loi em tudo similhante á de
Worms: a má fé dos Protestantes impediu todo o resultado
serio, e o Padre Fabro teve.de entregar'se a um ministerio
mais ,liuctuoso: catechizou, prégou, deu os Exercicios cs-
 40
pirituaes aos Bisposr aos Principes, aos doutores, aos em-
baixadores e a todos os membros da Dieta. Toclos movidos
<la uncçáo de suas palavras e arrastados por sua eloquencia
se apinhoavam em redór do seu pulpitol e todos lhe con-
fiaram a direcção das suas consciencias, até mesmo o Prin-
cipe Cailos de Saboia, filho de seu soberano.
De Ratisbona passou a Nurembergl) e começava a recolher
alli fructos consoladores, quando recebeu ordem de se pas-
sar a Hespanhal e porque Ignacio de l-oyola náo podia
deixar ao deiamparo os camPos de Allemanha, que o Padre
Fabro ia deixar, em seu logar lhes envia Claudio Jaio e Ni-
colau Bobadilla.
O Padre Fabro tinha feito em Ratisbona um bem immenso
á porção escolhida da nobreza e do alto Clero; porém não
tinha tido- tempo de atacar os gráos inferiores, o que foi
obra do Padre Jaio. Poróm, logo que quiz reduzir os Sa-
cerdotes ao espirito e virtudes do Sacerdocio, houve um
levantamento geral contra elle I e os hereges, lancando mão
da occasião, gritam: Morram os Jesuitas! Querem lançal-o
no Danubio, e d'isto o avisam.
Que me importa, responde o Padre Jaio, ir ao céo pela
agua, ou pela terra! Ii continuou a trabalhar conr maissuc-
cesso do que se podia esperar.
Por outro lado o Padre Bobadilla era levado ás conferen'
cias de Vienna por Fernando I, Rei dos Romanos, onde
prégava todos os dias em italiano ou em latim, e disputava
com os mais sabios hereges em presença do Rei: acomfa-
nha depois o Nuncio do Papa á Dieta de Nuremberg; cle-
pois por ordem de Fernando pârte com o seu embaixador,
o Bispo de Nassau, para a de Spira, e d'ahi para a de
Worms. Depois d'estas ultimas assembléas os Bispos se dis'
putavam o sabio Jesuita, cada um queria leval'o á sua dio-
cese parâ o fazer luctâr com os Lutheranos; porem Boba-
dilla, cedendo ás instancias do Rei dos Romanos, volta a
Vienna e emprehende a reforma do Clero d'esta cidade.
Deus derrama taes bençãos sobre este glorioso apostolado,
4r
que Fernandor encantado clos seus successos, o nomeia seu
theologo pâra a no\'â Dieta de r543, onde o Jesuita con-
funde a heresia e confirma a fé nos coraçóes catholicost
reanima a piedade nas almas, e vai á Dieta de Ratisbona,
onde encontra o Padie Jaio. O Nuncio do Papa, vendo che-
gar o theoloSo do Rei Fernando, Pensa que póde dispen-
sar-se de conservar o seur e envia Jaio a Ingolstad, invadido
pela heresia, e potlco depois se abriu um synodo em Sal-
zbourg. O Arcebispo, irmão do Duque de Baviera, deseia
ter alli a Jaio por seu theologo: o Jesuita lá vai: todos os
Bispos presentes admiram a sciencia Prpfunda do humilde
Religioso, todos os tlias o consultavam antes das sessóes1
e pedindo-lhe que redigisse para elles um resumo da sua
opinião sobre cada um dos Pontos postos em discussão
pelo Imperador, foi o seu pârecer adoptado por todos os
Prelados.
O estado de Allemanha erâ grave. Por maiores que fos-
sem a actividade e eloquencia dos Padres Bobadilla e Jaio,
não pocliam bastar para tudo : muitos Bispos e muitos Prin-
cipes pediam de novo o Padre Fabro, que o ernbaixador do
Ímperador tinha levado a Hespanhal e o Papa chama-o'
Pedro Fabro no pouco temPo que tinha podido dar a
cada uma das cidades, onde D. Pedro Ortiz o tinha feito de-
morar-se, tinha-se consagrado sobre tudo á instrucção dos
pobres e dos meninos. Tendo sido apresentado ás Prince-
zas D. tr{aria e D. Joanna, filhas de Carlos V., tinha apro-
veitado «l'esta occasião para lhes dar avisos espirituaes,
que deviam produzir grandes fructos I mas foi n'este tempo
que a ordem do Summo Pontifice o tornou a chamar a
Állemanha, na qual missão o quizeram acompanhar dois
sacerdotes da capella real, que depois entraram na Com-
panhia, e se chamavam D. João de Aragáo e Alvares Af-
fonso. A humildade e a pobreza do sancto Jesuita lhes pa-
reciam uma gloria e um thesouro preferiveis a todas as
grandezas e a todas as riquezas da côrte.
No mez de Outubro o Padre F-abro estava em Spira"
 42
A sua chegada lançou o terror no Clero, que sendo es-
candaloso e ignorante, como era por toda a parte o (llero
allemãor'se persuadia que o Jesuita iria trabalhar em es-
clarecel-o e reformal-o, no que se não enganava. Porcm
o Padre Fabro, que era a mésma mansidáo, paciencia e ca-
ridatle, insinuou-se nos coraçóes mais rebeldes, ganhou a
conÍianca e a amizade rle cada um, persuadiu a todos que
fizêssem os Exercicios espirituaes, e reformou toda a cidade.
0 Arcebispo de Moguncia, Alberto de Brandebourgr o
cham.a para o pé de si; o Padre se ârranca aos pastores e
ás ovelhas que tem convertido para Deus, e vai a Moguncia,
onde eram innumeraveis as apostasias. N'esta cidade ainda
outra vez a sua mausidão e o seu zelo fazem maravilhosas
conversóes: os apostatas tornam a entrar no gremio da
Egreja, o Clero volta a seus deveres, e sacrifica á peniteú-
cia e ao estuclo o tempo que tlava a seus prazeres: Mogun-
cia retomou uma nova vida, e o Arcebispo não tem expres-
sóes bastantes para mostrar o seu reconhecimento ao
Jesui ta.
O Arcebispo de Colonia, Hermano de Wciden, seduzido
pelas doutrinas faceis de Luthero, vacillava visivelmente:
os catholicos da díocese estão aterradosr por(ltle a aposta-
sia do pastor póde ari'astar a do rebanl-ro : rogam ao Paclre
Fabio que acuda a soccorrer uma diocese tão anreacada; o
Jesuita vai a Colonia, mas já era muito tarde para deter o
Arcebispo r-ro declive que o levava ao abysmo, ao quai se
tinlra deixado arrastar. Porém, graças á palavra e ao zelo
do Padre Fabro, o rebanho não seguiu o exemplo clo pas-
tor e ficou fiel á fe da Egreia romanâ,
O Principe F'ilippe, Íilho de Carlos V, ia desposar-se com
a Princeza D. Nlaria, filha do Rei de Portugal. D. Joáo III
pede ao Surnmo Pontifice e a Ignacio de I-oyola um ou
dois Jesuitas para acompanhar a Princeza a Castella, e de-
seia o Padre Fabro, preferindo-o a qualquer outro: o Papa
manda dar ordem a Fabro pâra que vh a Lisboa: o humilde
Religioso deixa tudo á voz de Ignacio e á do Papa I o Nun-
4'3
cio quer retel-o em Colonia, onde a sua presença tent )Í
feito tanto bem; porém Fabro responde-lhe que tem ícito
voto de obediencia, e parte. Passando a Lovaina é salteatlo
de uma febre perniciosa; os Noviços-da Companl'ria tluc
estudam na Universidade d'esta cidade the dão todos os
seu.s cuidados, e emquanto a febre o devora, persuade a
um d'elles, Francisco Strada, que dê os exercicios espiri-
tuaes publicamente, com o fim de reanimar a piedade e
confirmar a té dos catholicos de Lovaina. O conselho é se-
guido: Francisco Strada leva ao doente uma multidão de
homens, â quem estes Exercicios teem transformado, e ape-
sar clas dores que padece thes dá os seus avisos espirituaes:
f)eus abençôa a sua palavra e vinte e um jovens das familias
mais distinctas entra[r na Companhia.
Foi a Providencia quem impediu a viagem do Padre Fa-
bro a Portugal, o qual teve de voltar a Colonia, onde o espe'-
rava uma grande dôr, porque o Arcebispo aincla se não ti-
nha claramente desmascarado, mas favorecia os hereges, e os
auctorizàvâ secretamente a préear suas funestas doutrinas.
O Padre Fabro em chegando acha alli tres dos mais famo-
sos sectarios, 13ucero, Pistorio e Melanchton: ataca-os com
tanto vigor e destreza, que depois de unra das luctas mais
energicas de uma parte e de outra, a victoria fica aô Jesuita,
e os sectarios fogem vergonhosamente. Para consolidar a
sua obra e ter campeóes sempre .prestes a tomar a defensa
da verdade em uma cidade tão exposta aos ataques e ãs-
saltos dos inimigos, Pedlo Fabro estabelece alli um colle-
gio da Companl-ria, do qual Leonardo I(esser foi nomeado
reitor, e d'elle fazia pârte o sabio Canisio, e assim podia
deixar Colonia em toda a segurança: o Rei de Portugal o
pedia de novo, e elle partiu a rz de Julho de r544. Os Lu-
tberanos, iulgando o campo livre, tornam a apparecer de'
pois da suâ partida mais ardentes do que nunca; Canisio síe
a câmpo e lhes responde com tanta forca como Fabro: oAr-
cebispo passa ás fileiras inimigas, mas os .lesuitas se mostranr
rnais .zelosos. na !ucta. Os hereges vendo-se vencidos gri-
 45
44
suas virtudes: a pousada da sua preferencia é em toda a
t"-: Á, armas! e recordando-se de umantiSodecreto'que
rnagistra- parte a dos pobres, o hospital I em nenhuma parte acceitanr
as Ordens Religiosas novâst arrancam aos
"*afoiu contra os Jesuitas, gue expulsos cla sua outro hospicio. Estes Religiosos, cuia celebridade é euro-
dos um de expulsíro pêa, aos quaes'os Principes e as cabeças coroadas se dis-
se iefugiarp parte entre os Cârtuxos' outros em
habitação putam, âos quaes a nobreza e o povo admiram e amam Í
oui.rr-p"*.., e túos Íicanr na cidade, pedindo esmola e sof- porfia, estes Reiigiosos não querem perder nada do espirito
as al-
frendo ioda a sorte de privaçóes, mas não abandonam que os faz táo grandes: querem conservar a humildade, que
mas. Exercitam o sagraclo ministerio com tanta
dedicação
magistra- faz a sua gloria, a pobreza, que faz a sua riqueza. Muitas
e nobre confrança como antes, de modo que os cidades lhes pedem que estabeleçam Collegios, cuias despe-
sua paciencia e da sua coragemt se con-
dos, movidos da zas todas tomam á sua conta, e é no meio d'estes trium-
demnam a si mesmos, retirâm o seu decreto de
expulsão e
phos que o Padre Fabro recebe ordem para ir á abertura
restituem o collegio aos Jesuitas' do Concilio de Trento: o Summo Pontifice, que enviava
Este acontecimento tinha patenteado a má fé dos here- áquelle Concilio Laynes e Salmeirão como theologos da
Canisio
ges; o arcecliago Gropper e o Clero se assustaram'
Colonia levar Saocta Sé, deseiava functar a estes o Padre Fabro com o
íoi .ogaao pr* i. err nonre do eleitorado de
rnesmo titulo; porém I''abro estava doente: eile não tinha
* paí-". dos Cathnlicos aos pes clo Imperado-r e do Bispo
Ma- senão quarenta e um annos, mas tantos e tão rudes traba-
de Liege, Jorge cle Austrirt, tio cle Carlos V e.filho de lhos lhe tinham esgotado as forças: seus amigos querem
ximiliaáo I' À st,a nrissíio tovc plcno resultaclo: Hermano retel-o1 viajar n'este estado, ihe dizem, é uma impruden-
de Weiden foi tlespoittio pclo Imperador do seu titulo
de
e Adol- cia, é correr á morte. Não é necessario viver, responde o
Arcebispo-Ilileitor, e c*ct:n-tr''lt'ngntlo pclo Papa' Jesuita, mas é necessario obedecer.
de
pfr" a" .S.l-rnurnbo.,.g foi collocatlo enl seu logar na Sé Elle parte, préga no caminho, sem embargo da febre que
Colonia.
alli o consome, embarca em Barcelona no principio de Julho,
Entretanto o Padre Fabro chegou a Lisboa, e achou
eloquencia nttrahia as mul- chega a Roma no fim do mesmo me4 e morre nos braços
o Padre Antonio de Araoz, cuja de seu pae Sancto Ignacio no primeiro de Agosto de r546.
pirra pas'
tidóes dos bairros mais distantes, e o deixou logo Elle tinha obedecido, morria feliz, e deixava seus irmãos
residia a côrte' O rei, querenrlo nomear
sar a Evora, onde
vivamente afflictos de perderem tão cedo o primogenito.da
tinha desejado vel-o
o Padre Fabro Patriarcha de Ethiopia, sua grande familia, o qual em tão poucos annos tinha feito
e conversar longamente com elle: apreciava o espirito da
conÍiar tão relevantes serviços á Egreia, e temiam não o ver nunca
Companhia de Jesrs a tal ponto, qu9^ter]a querido substituido. Elle o será, lhes diz Ignacio, cuio nobre rosto
nas
n .eu, -e-bros toCas as missóes difficeis e delicadas' estava banhado de lagrimas, um nobre personâgem entrar.i
podesse ser promovida' l)eseiou que
lur". n gloria de Deus
et de- na Companhia, contribuirá muito Para o seu augmentor e
á Pr,t..iutro se fires.à ouvir na côrte e na cidâdet fará a edificação da nossa Sociedade com as suas eminen-
J. ter sâtisfeito o monarcha e visitado o Coilegio de
p.it tes virtu«les. Deus acabava de lhe revelar a vocação «io Du
'Coimbra, onde cada dia intelligencias escolhidas solicita-
e Araoz que de Gandia. Emquanto seus discipulos coniundiam os
vam a suâ entrada no novo Instituto, o Padre Fabro hereges, traziarn á Egreja as almas extraviadas, reltrrmavam
prégando sen-lpre'
deixam Portugal, atravessam a Hespanha, o Clero e as Ordens Monasticas, convertiân'l os peccado-
confessando e deixando o exemplo de
convertendo semPre,
 46
res, evângelizavam as nações infieis e fundavnm Pol' toda a
prr,a ar.^. da Companhia, o Sancto Funtlador-escrr:via ts
bonstituiçóes da sua Ordem, e creavâ na Cidatle cterntr
obras immortaes'
Fundava umâ câsa para os Judeus que, querendo abraçar
o Christianismo, eram privados da sua fortuna, e Íicavanr
sem meios para viver, a qual casa depois da sua funclação
não cessou cle produzir fructos atlmiraveis' Funilal'a o mos-
teiro cle Sanctá Martha para servir de relugio ás peccado-
ras que não eram chamadas á vida'religiosa, e o de Sancta
Catharina para rccolher as donzellas cuja virtude estavâ em
perigo por causa da sr-ta pobreza: fundava dois orphanotro-
phios, um parâ os râPazes) outro pâra as râparlgâs'
' N^á" d'isto o impeclia ile observar elle mesmo as dispo-
de alu-
siçóes dos Novicos, tle lhes clar avisos particulàres e
,lâ. se,rs mestres a Íbrnral-os nas virtudes que fornram os
Sanctos. Ao mcsmo tonlpo'dirigiir toclos os ne6locios de to-
<las as casas da Oompirr-rhiilr tinha correspondencias
com os
Principes e Sobcritnos tl;r I'lttl'op:t, c cra rluitas vezes con-
sultaclo pclos llispos, os (l:trLlortcs, e ató pclo Summo Pon-
tifice: parecia nrultiplicur-sc c blstrtvir para tuclo'
Francisco Xavicr rcnovitvil nâs Indiirs rts maravilhas cla
prégação <1os prirneiros Apostolos tle Jesus Christo: cada
,-,m ,le seus pirssos era uma conquista sobre o itlferno,
os
mais brilhanies procligios confirmavam sua poderosa pala-
vra; os Inrlios o sobrenomeavam o I)etls da nattrre1a, e io
tle dez annos viram-no levar o Evangelho Por uma
"rpáço
artanrão de tres mil leguas, converter uma infinidade
de
e de
almas, encher o nrunclo com a fama de seus milagres
."o rn"gtllnao Apostolado, merecer emÍim os gloriosos titu-
lo. qoe"* gran,là voz da Egreia lhe decretou mais tarde' de
de Protector do Oriente'
$postolo ãas Indias e do Japão, e
i..o. narrado o admiravel Apostolado do illustre Xavier'
e não devemos repetir o que dissemos' Aqui digamos só'
mente que elle tinha estabelecido solidamente a Cornpa-
Goa
nhia de i..r, .,", Indias, que os Noviço§ do Collegio de
_ü
em nada cediam aos de Romar,ê suê na morte do grunole
Xavier em r55z a Companhia de Jesus tinha já a glorir cle
contar martyres em suas fileiras.
Em r55o os Badegas vinham atacar os Christãos da cosÍa
da Pescaria, no Travancorl o padre Antonio Criminal qr-
dena a seus neophytos que se refugiem nos navios portu_
guezes, dirige a sua fugida e d o ultimo a retirar"sel por
maisque seu rebanho inste com elle para que se ponha em
salvo, recusa dar um passo para salvar a sua vida antes de
ter assegurado a de todos os seus Íjlhos em Jesus Christo.
Porém os Badegas os perseguiram até á praia, e o Missio_
nario, vendo toda a"esperança perdida para elles, volta_se
para os Rarbaros, e thes apresenta o peito pedindo perdão
parâ os Christãos; os pagãos se arremessam ao Sancto
Jesuita, uns o atravessam com suas Iancas, outros com
suas frechas, e julgando-o morto, querem despoial-o de suas
vestiduras: o Padre Criminal vive aincla, a)uda seus algo_
zes â tirar-lhe os pobres habitos que o cobrem, e vôa ao
céo.
No mesmo anno o padre Nuno Ribeiro foi envenenatlo
por selvagens em Amboino; e no anno seguinte foi Mçl-
chior Goncalves o que por seu turno recebeu a corôa re-
servada aos Martyres. Este Sancto Religioso, envenenado
por um pagão, tendo coovertido cm pouco tempo e bapti-
zado mais de quatrocentos pagãos em Bacaim, feito cons-
truiruma egreia em honra da Sanctissima Virgem, fundaclo
um collegio para os menirros christãos, convertido a maior
parte da ilha de Salsete, podia acceitar â morte com con-
fianca, pois que levava suas mãos tão cheias deante de Deus.
Póde dizer-se que a obra da Sancta Infancia tem a sua ori-
gem em Melchior Goncalves. Este Sancto Missionario tinha
percebido que os Indios do Tana vencliam seus proprios
filhos aos Mulsumanos, que faziam d'elles seus escravos.
Movido de compaixão estende a nrão aos Christáos, recehc
a_ esmola de cada um, vai comprar em leilão
as pequerr:rs
victimas da cubiça de seus paes, e os dá a .Iesus Christo:
 48 49
quista haviá feito, e até então tinha cuidado muirr.»
d'est'ârte tinha saivado uma multidão de alm6s, e Deus o 1.r«.rrrco
de o civiiizar por meio do Christianismo: seu linr uui(o
tinha recompensado com a gloria do martyrio' erâ empregar os in<ligenas em enriquecer os thesouros dc
Em r55z o Irmão Luiz Mendes, catechista na costa da Portugal. O Fadre Nunes the mostrâ o pocler. <ia caridlrls
Pescaria, foi assaltado pelos Badegas durante a oração, apostolica sobre estes naturaes selvagens, e os pro<iigios
traspassailo ás lançadas e depois de o ter-assimdilacerado' que elia opdra. D. Pedro admira o Jesuita em seus traba-
id"lu,r.s lhe cortaram a cabeça' N'esta invasão foi lhos, commove-se com tanto zelo e abnegacão, aprecia o
"r,".
;;;;.; ;*tyrisado peios mesmos selvagens o Padre val-
-Companhia seu merecimento, admira as suas recompensas nâ outra
i"rl a" *"a. que a de Jesus corütava lá seis' vida e tambern elle quer sacrificar tudo n'este mundo, e
*r'.,yt", nas Indias, e sentia dobrar assim a sua força e
não rabalhar jri senão na gloria de Deus e na salvação rJas
ooder. almas á custa da sua vida, e parâ este flm entra ,u io*p"-
'-É*qurn,o S. Francisco Xavier levava o E'vangeiho e a nhia cle Jesus.
Cruz tle Jesus Christo ao imperio do Japáo'
o Brasil se A exemplo de S. Flancisco Xavier, cujo n-rethoclo erâ co_
;ã zelo de seus irmãos' Em 1549 Manuel Nobrega' nhecido pela sua correspondencia, tinham os padres posto
";
iJá-erpil."eta, Antonio Peres, Leonardo l§unes' Sanct- em canticos as principaes verdades clo Christianismo, e fa_
Iaso. e Rodrigues se embarcavam em uma
frota portu*
ziam que os meninos as cantassem nas ruas e nas florestas.
iiá .to uma cidade sobre o'golfo da
;;";. ediíicar Bem depressa âs repetirâm os paes pelo prazer de cantar,
ã;t;; "";i;quat cirlnde tlevia ser christát e antes de a po- e aprenderam sem dificuldade o que não teriam podido
ror. lro necessa.io prcparar-lhe e civilizar-lhe habitantes' reter de outro rnodo. Muitas d'estas povoacões eram an_
osJesuitasseoflerecemparucstirobratãodiÊÊcil'táope. é thropophagas I os Nlissionarios procuram oppôr-se a esta
rlgo.u, tão digna do seu zelo: a ciilade de S'
Salvador
horrivel crueldade; mâs os selvagens, irritaclàs só com tal
a
a"!.".r* consiruida, os Pirclres aprenclem rapidamente proposta, ameacaram os seus Apostolos de os tractar como
lingua do Brasil, e começam a prc6âr' a inimigos, e de .lhes íazerem soffrer a sorte dos vencidos,
duvidavam de-
Os Brasileiros, povo cruel e liarharo' não assegurando.lhes que seriarn bem depressa devorados. Mas
de seus inimigos, e se entregavam ás
votar os cadaveràs os Jesuitas sem de modo algum se aterrarem, continuâm a
fazendo-se
mais exravagantes superstiçóes' Os Jesuitas' sua missão de carirlade, chegam a triumphar cle todos os
penetram,nas florestas'
amar, os civílizam e regeneram: ob_staculos, e submettem tocloá estes povos ao jugo do Evan-
abiecto embrutecimentot
o.ri" ..,.. selvagens viveà no mais gelho.
com lal c.a-
Íalla-lhes com ial brandura, que os encantam' Em r553 Sancto lgnacio formo.u clo Brasil uma provincia
ae u1 paclencla'
ridade, que os ren<lem, e depois 1nn1,oe da Companhia, tia qual o padre Nobrega foi nometido pro_
o Padre Nobrega creou
à;i";ig;t e de indizivel abnegacáo,
duas na
vincial : muitas escoias tinham siclo fundadas para a instru_
as outras
tres Residencias, uma em S' Salvadort povos
ccão e educacão cias creancas,.duas casas rel.igiosas existianl
das terras havia
,lri"i"rç" d'esta cida<le' No interior as procurava e'
j/r na capitania de S. Vicente, as Missóes prorpe.uur*
a descobrir, almas a salvar: o Padre Nunes se estendiam corn rapidez espântosa. "
salvava.
familias de
D. Pedro Corrêa, de um'a das mais antigas
Brasil' cuia con-
Portugal, havia muito tempo que vivia no IIiSTOI{IÁ I]A, C. DE J,
 5o
5r
rlo l)irpl, e o clo Cardeal O.tho-n,
Bispo de Augsburgo, e são
V loclos rrcs.da Companhia de Je.usr.
O rny.r.".i" tinha ces-
sado, porém mais crescra o espanto,
sus não tinha ainda mais de
A Companhia de Je-
cathedral de Trento offerecia a 13-de dezembro de 1545 cinco annos ãe existencia,
1 não contava ainda senão um numero
flum dos mais grandiosos espectaculos. Viam-se alli re_ _;;" pequeno de
professos, e era a ella que o
unidos seis Cardeaes, dos quaes tres eram Legados, que Su*.o É."i0." pedia os
seusLegados para as misiões-mais
mais tarde subiram á Sé de S. pedro, onze Arcebispos, ses_
era a ella que pedia os theologos
i*t";;;;, e perigosas;
senta e nove Bispos, seis Embaixadores, dois Doutores em
direito canonico e em clireito civil, cloze Doutores em theo- palavra em seu nome a um "n."r."guão, de levar a
Cãncilio para de-
l(
logia, doze Theologos da Ordem dos Dominicanos, quatorze a disciptina e ".uí_r.ni"o
<la Eg."i;,-;r;i,"'"1*o
f1nler 1.fé.
tentar os direitos da Sé nr.u ..u-
dos Frades Menores, onze dos Frades Conventuaes, seis da ApostJica.
Ordem de S. Francisco, nove dos Carmeiitas e cinco dos Apesar de todas as virtudes dos jovens padres,
nrer que tal honra excitasse trisies era de te-
Sãivitas. emulacóes: o padre
Laynes não tinha mais que ,.ior"
E,sta grande assembléa abria o celebre Conciiio de Trento, quurJ";;;"r, padre o
convocado, havia muito tempo, pelo chele da Egreja para .Salmeirão não contava senão trinta"
decidir muitos pontos controvertidos pelos herege., Íi"", nham,sido.escolhidos pelo papq "'uor, " "*tro. elles ti_
a fé dos Catholicos vacillantes. Durante o mez de maio " de que já mais houve. C) padre Jaio ".;ai;-;rais o solemne
"" ..p."r.r,unu
Othon Trirschc.z, Bispo de Augsburgo' Cardeat
r546 vieram junctar-se a esta reunião de personagens tão
eminentes pela sua sciencia ou pela sua dignida<le, t... .r_ §ancto Ignacio assustado com
taãtas honras,
cerdotes, cuja pobreza exterior contrastavâ singularmente mais^3ue rudo- o que podia arterar;;;;;;;;;; e temendo
nos filhos cla companhia, tinha humirdade
com o luxo e esplendor que os cercava. O seu habito era o dado insrruccões
dos sacer«lotes seculares ; mâs pelo doce recolhimento de O"9.1:t, que iam..romar parre"d;i;;";.
:^o-: 1... no Concilio, e os seus
lervorosos se applicaram a ,.gri. .rn
suas physionornias, pela humilde gravidade <le seu porte e
tos estas .Íilhos
instruccóes.
ioa":;.';;;_
pelo socego e nroclcstia do seu olhar se reconhecia o reli- "

gioso. D. l)iogo Iiurtado de Mendonça, embaixa«lor de Car_ P, d. ; ;.. ;; ;1,".':iif

;i." ; '
:T, fl x:: il:",,:: ; ::
1t
ill
los V., apertava-lhes a mão affectuosâmente: os Cartleaes visirar os ",
ensinar ri,
l:.^.1],r"rl .presos, o carecismo aos me_
pareciam em relaçóes habituaes com elles, e muitos Bispos nrnos, mendigar o pão para os pob...:l
p.egu. confessar,
os rractavam como amigos. Quando appareceram pela pri- nada prejudicasse os t.nb"lÁà. " i'l
:TJ][: ieluerirros peto
meira vez, alguns estrangeiros presentes perguntaram uns
aos outros, quem seriam estes jovens sacerdotes aos quaes os
Consulrados todos os dias pelos
Car<Ieaes, pelos })relados, ii
maiores personagens recebiam com tanÍâ benevolància, e pelos Doutores, deviam
que não temiam âpresentar-se n'esta augusta assembléa ver os câsos *,i, aim.Ji'J:';:T:::,:::Tj:J j.ili;:::ll li
A Assemblãa rinha encarresr,t. i
,;lil..1,::[
cobertos corn uma sotaina tão pobre e tão safadal porém ";:;:" ^..-'_'
o ml,sterio tinha sido promptamente esclareciclo; porque ;ilffi
p ro disi o sa, de r az er;
i'. J,.I:T jJ:
qru elle ,lesde os primeiros.di.,
cada um, vendo-os, tinha sussurrado: «São os dois thÀologos :-o"] causou
cilrgo
a.r".p"nir,.u
tão grande admiracáo, qu. ".,. esre
foi A".iJi.'ro que "n-

Ir

,1
1r
ll
 5z
notavel rrabalho fosse continuado, conservado e inserido
nas actas do Concilio palavra por palavra, tai qual saisse da
'"â:'*:,'-rffi;lgo, oo papa tinham de procurar as acras
dos Concilios, as bullas pontificias e as opiniões dos dou-
roures e dos Padres da Egreia, que deviam apoiar a refu-
tação das doutrinas hereticas. Emquanto estavam occupa-
dos com este immenso trabalho, o Padre Salmei.rão pronun-
ciou um discurso em latin:, que excitou um verdadeiro'
€nthusiasmo, de.tal morio, que os Bispos declararam por
unanimidade que tal discurso devia ser publicado, como
effectivamente foi, e ainrla existe.
A cada um dos ora,lores não era concedida senão uma
hora; porém depois que o Padre Laines foi ouvido muitas.
vezes, com uma eioquencia egual á sua sciencia, e com uma
'logica que esmâB,ava os seus adversarios em incomparavel
superioridade, foi decidido que se faria uma excepção em seu,
favor, e que elle poderia fallar tres horas seguidas para abre-
viar as discussões.
Infelizmente umâ doença contâgiosa vem cair sobre a ci-
dade de 'frento e seus ârrêdofes, e o Concilio é transferido.
a l r de mâio para llolonhal porém esta murlança desagrada
a Carlos V,, e muitos Bispos hespanhoes e allemães voltam
ás suas dioceses. üstando suspenso e diflbrido o Synodo ge-
ral, os llispos e Doutores presentes em Bolonha náo puderam
occupâr-se senão dos trabalhos preparatorios parq a futura
sessão.
Por espaço de tres mezes se tractaram as questões do-
gmaticas sobre a Penitencia, materia sobre a qual o Padre
I.aines soube derrarnar tânta luz, que os Cardeaes legaclo§
lhe ordenaraor que declarasse por escripto a.sua opinião
sobre cada Sacramento, e elle o fez com tanto talento,
que todo o Synodo o applaudiu, e a suâ opiniã'o serviu de
base á maior parte dos decretos do Concilio.
Estes triumphos repetidos em nada alteravam a humil-
dade rlos discipulos de Sancto Ignaciol porque fóra d'estas
fJ
'reuniões viam-nos sempre pobres, sernpre simples,
instruindo
.os meninos e os ignorantes, consolando e servindo a todos e
pedindo para os que não tinham pão. Os Legados tinham-n'os
"obrigado a acceitar a titulo de esmola..uma sotaina nova,
mais conveniente .ao logar que etles occupavam eatre os
rDoutores do Concilio: os Padres submetteram-se e vestiam
,esta sotaina para ir ás assembléas, mas apressavâm-se a des-
pil-a logo que voltavam a câsa, e tornavam a tomar os seus
'vestidos vplhos, o seu adorno predilecto, para nacla perde-
rem do seu espirito de pobreza.
A ro de setembro do mesmo anno de r547ro Duque de
rParma, [,uiz Farnesio, foi assassinado ao grito de Viva a
Liberdadel Todos correram ás armasl os insurgentes ti-
'nham-se apoderado do Castello do Duque, a guerra civil
.ameacava toda a Italia e tornando-se impossivel continuar
.os tratialhos clo Concilio, foi nêcessario suspendel.os e es-
,perâr que a paz voltasse parâ se abrir uma nova sessão.
Emquanto o Fadre Claudio 'Jaio explicava no Concilio
,cle Trento a doutrina de S. Paulo sobre a graça, a diocese
.de Trieste vagou por morte do seu Bispo. O Rei dos Ro-
:manos, Fernando I, pede logo um padre da Cornpanhia cie
-Jesus para preencher esta Sé importante, e designa .Iaio
,pafa o oppôr aos hereges, que ameàcarn esta pa{.te do seu
rEstado. Elle sabe os prodigios de conversão que Jaio tem
.operado em Ratisbona, Ingolstadt e Nurembergl sabe'que
,os Lutheranos temem a sciencia d'este .A,postolo tanto,
-quanto temem o seu zelo, e que o consideram como utrr
dos seus mais (erriveis adversarios. .Iaio é, pois, aquelle a
.quem elle quer collocar em Trieste como urn ba,luarte par.a
.a fi
dos.seus subditos.
Fernan<lo escreve ao Jesuita e lhe offerece o bispado, pe-
dindo-lhe que o accêite parabem da Religião; porér,n o pa-
.dre Jaio, aterrado com a honra que está para desfechan so-
'bre elle, responde logo ao Rei dos Romanos que não ,póde
.acôeitar úm peso que, se o tomasse, a sua fr.a-
.queza; e ao mesmo tempo escreve a seu ".*"gr.ia
querido pae sa:n-

__i+ _
cto Ignacio, e ihe supplica que empregue todos os nreios
que estão em seu poder para desviar o golpe que o âmeaca.
Fernando não vê na recuso do humilde Jesuita senão um
novo motivo para mais o tlescjarl c cscrevc ao Papa ilecla-
rando-lhe as rnzõcs pelas c1r-racs qur:r ilar o I)adre.lirio ti.
diocese cle Trieste, e peclindo lhe cluc rjrdene a cstc lleli-
gioso consintâ elr ser clevado ao episcopado. () l)a1ta con-
descende conr o Rei; porém Sancto Igr-racio, que nada teme
tanto para a sua Companhia como as honras e as dignicia-
des ecclesiasticas, escreve a Margarida cle Austria, cujir con-
sciencia dirigia, e a conjura que obtenha <Io Summo ponti-
fice ao menos alguma demora: " Que Sua Sancticla<1e, âccres-
centa elle, antes de tomar a ultirna decisão, me conceda
Íempo para escrever ao Rei Fernando, e recebela resposta
de sr"ra À{ajesttrde: entretantô eu farei oracão, e pedirei
muitas oracóes, e Deus Nosso Senhor aÍastará de nós, como
esp€ro, este flagello das dignidades, que seria a destruicão
da nossa pequena Companhiar.
'fencio a Princeza obtido a demora precisa, Sancto lgna-
cio escreve ao ftei rios llomanos, c llre laz ver tão bem o
perig,o ao qull o Iipiscopado exporiâ â sua Compat-rhia,
cuio Íirn tliÍlcr r: dc todils ils outras Orrlcns, rlue Fcrnando
se vô obri6;atlo ir cctlcr tlcirntc tla lrr.rntildaclc clo Sancto Fun-
dador, r: csclcvc a l)uulo III quc, vencitlo tl'csta humilclade,
renuncil ri sul prctcncão. Sancto lenacio não descansou-
Outros l)rincipes podiam ter semelhantes desej<-rs, e se o
Papa os sat.isÍizesse, a Companhia viria a perder os seus.
n:ais valorosos soldados. Se a porta se abrisse assim ás.
amLrições, em que se tornaria o espirito de hurnildade e
de pobreza, que deve fazer a principal forca d'este corpo
escolhido? Ignacio corre ao Vaticano, advoga a sua causa..
e obtem do Papa a formal promessâ de nuncr obri6lar urn
Íill-ro da Companhia dê Jesus a acceirar dignidades. Quando
o Sancto Fundador saía, exclamou Paulo III: nÉ a primeira.
vez que unr Soberano viu apresentarem-lhe um tal reque-
rimento I Ignacio fez canrar um Te l)eunt por este resultado-
---l' l
55 I
I
VI
Í1ÀRLos V, tlepois de ter por muito tempo por.rpado os l-uthe-
Lt ,rno., que muito temia irritar, percebeu por fim que as
suas doutrinas não atacavam sómente a auctoridacle da
Egreja, mas tendiam tambem a minar surdamente as bases
do pocler temporâl. Ameaçou-os entÍo que recorreria ás
armâs pârâ pôr termo á sutr agitltcão e reduzil-os ao
silencio; os sectarios, porém, pedcnr-lhc qr.re lhes conceda
outrâ conferenciâ, nâ qual pretcndctl obt igitr os Catholicos
a reconhecer que a verclnclc estÍ (lo Iatlo rlc l.trthcro. I']n-
tão, accrescentavanr, tloixitt'Ío otl lltz l I')glc)a llotnitnrt, e
reinará a concortliit, O Irtrpcrarlor croncc(lc csta cotlÍ'ercn-
rencia, assigna-lhe it ci(la(.lc tlc liittisrbona; c impírc a condi-
cão cle que torlits as suits tlccisõres scrão subrnetticlas h ap-
provacão do Concilir: cle 'l'rento: chama depois o Paclre
I3obadillr, e o encarregâ de defender a trgreia e a Sancta
Só n'esta lucta contra os Protestantes, Bobaclilla corre, fallâ
no meio cle uma assembiéa de Principes, de Bispos e cle
Doutores, e confunde todos os erÍos sustentados por seus
adversarios, os quaes, náo querendo confessar a sua derrota,
se esforçam por contemporizar e dividir os Catholicos. Car-
los V, a quem esta tacticâ de má Íé offende cm sua di-
gnidade soberana, declara guerra ao Duque de Saxe e ao
Landgravede Hessa; o Papa juncta suas íorças ás .1o Impc-
rador sob o mando do Duque Farnesio, e o Cardeal Alexan-
dre Farnesio é nomeado Legado juncto dos dois exercitos.
A z3 de abril de 1547 o exercito passa o Elba. Na pri-
rneira fileira do corpo commandado pelo Principe Octavio
Farnesio distingue-se um sacerdote com um âr grâve e mo-
desto, com um gesto doce e sereno, com um olhar vivo e
cheio de fogo, o qual falla aos soldados, excita o seu ardor
e lhes promette a victoria. Um tiro alcança um d'elles, o
sacerdote corre, apodera-se do ferido leva-o á ambuJancia
 56 / 57
e. volta..ao fogo: alguns moribundos estão
estendi<Ios no sões do Concilio de Trento. O Imperador, sempre inclinado
chão, elle os consolil e lhes abre o céo1 alguns
Í.eridos es_ a agradar aos Lutheranos, cuio espirito independente e in-
peram. seus cuiclados, eile vai de uns a outios
para a toclos clinado á revolta elle temia, tinha por sua auctoridade pri-
fazer bem. Chegarn irs planicies de Muhlberg,
trava_se o vada tolerado por meio d'uma fbrmula, chamada o Interim,
combate, o qlral c dos mais rnortifêros, e o sacãrdote
lá está o matrimonio dos Sacerdotes e a communhão debaixo das
no câmpo cla batalha; o soldado que ouve a sua 1:oz
marcha tluas especies. O Padre Bobadilla, ao Õhegar, sabendo que
rnais corajosanrente á morte; aquelle que vê
o signal da sua os Protestantes ainda acham poucas as concessóes feitas ás
mão não terre jÍ o inimigol todos sabàm que
serão conso_ suas doutrinas por este lnterint, logo thes responde com
i19o. ahoncoirtlos. se caem debaixo do fàgo dos
.
:
allemães.
hereges urn escripto no qual refuta estas concessóes sem nenhum
respeito para com o auctor coroado <Ji Interim, atacando
i)e rcrpcntc o silccrrlote cáe, está ferido na cabeça e esta formula ainda mesmo em presença de Carlos V, que
o
sanglle corr.c corn abrrr-rclancia mas este sacerdote
I era não permittia discussão sobre nenhum de seus actos. O Im-
um clisciprrlo rlc llinrrcir> <1e I_oyola, este sacerdote era
um perador irrita-se e ordena a llobadilla que sáia da côrte no
heroe: o l)urlrc Nic:oliru llobajiila caiu, e levantou-se
ba_ mesmo instante, e que passe a fronteira clo seu imperio o
nhatlo enr scrr prollr.io srnquc. &tuitos soldatlos são
feridos n-rais depressa possivel. llobrrclilla corre (r llonrir e irprescn-
comri ellc, (lrto iliio sc í)(.cUI)ir seDão com estes
bravos:i ta-se na cirsa prolcssa... O l)irtlrc (icr.irl rccrrsu-llie a cn-
pelisâ írs Íi:r.irl:rs rlc uns o ()lrve lt confissão
dos outros, dá trárdâ: a Sirtrctn Sc ul)pr'()vit o .lcsr-ritlr c Slncto Iqnucio pcr-
a ltcntiio l);u.r;l cl(.nri,lrr,lc;irlrrellcs que estão a expirar.
'l'inlr;r r:llr: pr.t:rlit,to lr sistc ent o ccnslrrilr: "Sc quilnlo iro lrrirtcipirl tcvc nrzÍo,
vielor.rrr ,,,, cxà.cito catholicà, e o tliz o Suncto, quanlo ii Ítirrlir crrou, Irorquc rr;io tlcvcntos
aconfccinlcllto jrrstiíir.orr:r srilr
Pr.ctlicçiÍo, porque a z4 cle nunca, nerr nicsmo para defeniler.rr lió c os intcresses <la
rrbril tlc r5-1.7 o l)rrqrrc rlc Srrxc Íi>i li,ito 1.,,.iriànei.o pelas Eereja, faltar ao r.espeito que se deve i'r majestade e á ancto-
tropas irnferiles.
riclade realr.
iJobadilla não tor-r.rou tcmpo plril curirr a srrl ícridr.
De_ A clessraca do muito ardente Jesuita foi um triumpl-ro para
pois da victoria pregou em l)assirtr, cujos hrrbitinttcs .os hereges e uma boa fortuna para os inimigos da
erâm Compa-
pela rnaior parte Lutheranos. pecle que se renrlanr
a l)eus nhia c1e Jesus. Nunca houve novidade que se espalhasse com
solenrnes acções de gracas pelo triumpho clo exercito
ca_ maior rapidez, nuncâ houve occasião que Íbsse mais explo-
tholico e o obtem.
rada pela malignidade. A nova Ordem fazia tanto rr,rido no
- Partindo d'aqui percorre a Alienranha, confunrlinclo os
I

mundo, que não podia deixar de ter invejosos; por outrâ

hereges e trazendo á Egreja unra multidão de almas
extra_ parte, como temos visto, seu divino Chefe lhe tinha mos-
viadas- ou arrastaclas, fortillcando os catholicos
na Íé e pro_ trado a Cruz desde o seu nascimento: não deviam pois fal-
duzindo por toda a parte fructos abundantes para
glorià de tar-lhe perseguições: nem os cliscipulos deviam ser melhor
Deus.
tractados do que o Mestre. Todavia não nos esquecamos da
Càega a Vienna, á côrte do Imperaclor, á qual era
cha_ promessa divina: Eu t,os serei propicio.
mado no momento em que Carlos V fazia publicar
uma Muitas cidades de Hespanha possuiam casas de Jesuitas:
forrnula de fé,^que elle tiriha imaginado, . .o- , /qual
qr:e- Salamanca não tinha querido ficqr atraz, Iambem pedira uma
Íla que se conformassem) emquanto se esperavam as deci_ para a qual desde os primeiros mezes de r54Bforamenvia-
 58
dos os Padres Sevillano, Sanches, Capella e Miguel de Tor-
res, Porém os espiritos tinham siclo tão desencaminhados,
que os Religiosos tt sua chegada foram achar a câsâ, que
lhes era destinada, em con:pleta nudez: tinham uma ca-
peila, cujo ornato todo eram as quatro parerles. Um dos Pa-
dres desenhou ern um papel uma imagem cllr Sanctissima
Virgem, pegou este papel na parede por cin-ra clo lrltar, e
todos quatro offereciam o Sancto SacriÍicio deante d'este
pobre quaclro esperando que a Providencia lhes désse a con-
solacão cle achar coisa melhor em honra da Majestade di-
vina.
Este facto pócle dar a medida das privacóes que os Pa-
dres tiveram de soffrer em suas mesmâs pessoas. Estas pri-
vacões eram durasl pois que muitas vezes careciam até do
necessario, e todavia a suâ mansidão e benevolencia habi-
tual nem por isso se tinham alterado e muito menos ainda
o scu zelo e asua dedicaçío aobem espiritual do proximo.
Os cuidatlos rlos hospitiles e tlas prisóes, a instrucçáo clos
pobrcs c tlos mcnir:os lchitvarl-n'os tão promptos, tão ze-
losos, tíio caritltivos, couro sc tivessem sido providos ge-
ncr(rsilnlcl)(c tlc lrrrl:rs lrs coisirs.
-l
itntirs vir trr(lcs tlr:vilrm cnrrciliar-lhcs o r.cspe ito e a aÊ
í'eição dc to(lils ns ciusscs rlc I)css()âs. Ileur rlcprcssa sc vi-
ran: cercitd<>s c Procurilclos; c cl'isto sc vitliam Iara uni-
rcm mais estreitlmente cont l)er-rs os coraçóes que se lhes
entreSavâ nr.
As coisas estavam n'estes termos, quando um dia se soube
com um espanto que parecia assombro, que os Jesuitas eram
os precursores do Antichristo. Esta verdade era provada
por um pequeno escripto publicado por um sábio domini-
câno, o dr. l\lelchior Cano, prégador celebre. A coisa era
tão verdadeira, que este mesmo doutor acabava de fazer
ouvir no pulpito estas palavras recolhidas, e repetidas pelo
povo: nNleus lrmãos, o dia do Juizo final está proximo;o
Anti-Christo vai apparecerr..e iá estamos ventlo os seus pre-
cursores. Os signaes pelos quaes devemos reconhecel-o, os
59
veio eu todos nos Sacerdotes da Companhia de Jesusl e
sou eu Melchior Cano o designado pela Sagrada Escriptura
para desmascarar estes hypocritasr.
Para a credulidade popular em Hespânhâ era uma reve-
lação, e das mais assustadoras, Se toclos os Jesuitâs não
erâm queimârlos vivos, a Hespanha estava perclida §em re-
medio, e entregue aos espiritos infernires. Ninguem pensava
em responder a Melchior Cano, que fls suas accusaçóes
absurdas contra a Companhia de Jcsus cram as mesmas
com que todas as Ordens Religiosas tinl-ran-r sitlo honradas
em sua origem, e a dp S. Donringos trln(o como as ou-
tras. Em seu proprio mosteiro ningttcul l)ilrticil)ou clos seus
sentimentos contra os Jesuitas, ntits tringrtcttl pr)tlc obter
d'elle que cessasse de os atitcitr pr.rlrlicltrrlcntc.
O Superior (]erirl clos Ír'atlcs l)rclgtrt.lorcs intcrvcio logo
em fâvor dos .lcstritas, conr trrtto cncyclica tlirigida a todos
os Religiosos clr sua Ordcnr em todo o mundo' Esta carta
édatada tle ro dc rlezembro de r548. Mas o P. Canoestava
cego e não se rendeu nem á voz do seu Geral, nem á da
Sancta Se. trm t55z foi nomeado Bispo das ilhas Canarias,
e tal nomeacão foi attribuida aos Jesuitasl mas náo está
provado que fosse devida á sua influencia.
As calumnias de Melchior Cano tinham feito o maiores-
trondo em Hespanha, O povo é em toda a parte o mesmo:
o que adoravâ nâ vespera, queima'o facilmente no dia se-
guinte. A desgraça do Padre Robadilla e a colera de Car'
los V contra elle, e por consequencia contra a Compârrhia,
tinhan-r provocado esta explosão, cujos resultados deviam
ser de breve duração, mas chegariam a estender-se a uma
grande parte de Hespanha.
Ernquanto a Companhia de Jesus era d'est'arte alvo da
perseguição dos seus inimigos, tirou-lhe a Frovidencia o
mais poderoso protector, o Papa Paulo III, ao qual o Con-
clave deu por successor o Cardeal Del Monte, que tomou o
nome de Julio IIL
 6o
VII
de.Bor;'a, neto tle Affonso Il, rei tle Napoles, e
It'RANCrsco
parente proximo de todos os Soberanos da Europa, chegou
a Roma no fim de setembro <Ie r55o, e desceu it Casa pro_
fessa dos Jesuitas, acompanhado dos Carclaes e
dos Princi_
pes romanos, que tinham ido ao seu encontro, e seguirlo
dos seus gentis homens e gente do seu servico, em
numero
de cincoenta. Havia dois annos que o Duque je Ganc.lia
se
tinha ligado com a Companhia de Jesus, com votos feitos
secretamente: mas por conselho de Sancto lgnacio
tinha fi_
cado no mundo parâ assegurar o futuro,los seus oito filhosl
por meio do matrimonio dos dois mais velhos e por todas
as disposiçóes necessarias á partilha dos seus bens.
Ohcgado para elle o momento preciso d,e fazer os
seus
vo(os solcmnes e de se tleclarar membro da Companhia
de
.lcsrrs, cscrcvcr.r I (lrrlos V a r5 cle.laneiro ile r557,
e Ihe
pctlirr u ltrctorizirção rle rlcixur os seus cargos, a càrte, as
horrrirs c o nrtrntlo, c collsuÍ.lrar-sc nt Oompanhia de
Jesus
ruo scrviço tle I)cLrs c tla ligrc)a. O Inrpcr.atlor lhe
respon-
dcrr logo I «1.111 píql rlrrcro clisprrti,.-,,,ra a,, grantle Senhor
(lr.to tcnilcs escollritlo,. l)«rrc!ntr I,.rancisco
de llorja níío ti-
nha espcrado crn Ílonra a resposta imperial. O papa Ju-
lio lll, c1r-re conhecia as suas intencóes, quiz offerecer-lhe o
chapéo de Cardeal, e rinha feito insinuar_lhe a proposta:
mas o Duqr:e <le Gandia, cuja humildade não anrbicionava
outra honra senão a de ser membro da Companhia de Je_
sus, pedira e obtivera a permissão de sair de Roma a
tocla
â pressa, e fugira para a sua patria para se subtrahir ás in-
stancias tla côrte lonrificia.
A entradâ do vice-rei da Catalunha em uma Ordem táo
desacreditada em muitas cidades de Hespanha durante
os
annos precedentes, fez um estrondo immenso; porque a
sancta vida de Francisco de Borja era conhecida, e a esco-
6r
tha que acabava de fazer da Companhia de Jesus vinha
dar aos seus detractores o mais nobre e estrondoso des_
mentido. Comecou logo a fundar coliegios, ou casas da sua
Orderr em todas as grandes cidades, e onde apparecesse,
os jovens das familias mais illustres acudiam a elle pe_
dindo com instancia que osadmittisse; porque o sancro ti_
nha um dom particular para attrâhir os jovens íitlalgos e
fcrmal-os nas mais solidas virtudes: D. Sancho rle Castella,
D. Pedro de Navarra: D. Bartl.rolon-reu de Bustamante eram
do numero dos seus discipulos. O celebre João d,Avila,
amigo de Ignacio de Loyola e do l)uque tle Gandia, jul_
gando-se indigno de entrar nas íileiras cla Cor.r-rpanhia pre-
dilecta, que elle não cessava de adrnirar., lhc recrntava can-
didativos entre os homens de sciencia e pictlaclc, clue cliri-
gia. f)'este numero foram D. Diogo cle Gusnriir.r, c l). (ilspar
Levarte, um dos rloutores mais sabios du epoclra. No rnesrro
tempo D, Antonio de Cordova, reitor da l.Jrtive rsitiadc de
Salamanca, para o qual Carlos V acabava tlc pcrlir.ao papa
o cardinalado, recusava esta honra e corria u abrigar-se
das g,randezas e riquezas da tena sob a huntiltlc roupeta de !
Jesuita. Ainda não tinha terminado o anno clc r 55:1, c jii o Ins-
I
tituto de Sancto Ignacio estava tão Íloresccntc cm llespanha
como em Fortugal, onde nenhum obstacr-rlo tir-rha detido o
seu prodigioso desenvolvimento) e ondc as vocacões eram
tão numerosas que só o Collegio de Coin-rbra enviava mis-
sionarios a todas as colonias da Asia, da Alrica e da Ame_
rica. O Cardeal D. Henrique, Arcebispo ci,Evora, irmão ilo
Rei, consultava a Luiz de Granada sobre o seu clesejo de
ter uma casa de Jesuitas na sua cidade archiepiscopal. «Vossa
Álteza, lhe responde o illustre dominicano, não póde fazer
coisa melhor, porque é uma Ordem Apostolica, que cons-
pira com todas as suas forças para <iespertar a Fé e salvar
as alntas».
' Entretanto, tendo o Papa Julio III ordenado que as deli-
beracões do Concilio Ecumenico começassem cle novo, e
celebrando-se a prin-reira reunião em Trento no primeiro cle
 6z
maio de r55r1 para alli foram no mez de Jullro scquinte os
Jesuitas Laines e Salmeirão sempre como theologos da San-
cta Sé. Julio III tendo-os ouvido na prime ira sessíio, nn clual
elle assistiu e tomou parte sendo então Cardeal Del Montc,
entendeu que escolhera bons theologos o seu preclecessor.
O titulo de oradores do Summo Pontifice dava-lhes o cli-
reito de fallar antes de qualquer outro; por isso o l). I_ai-
nes, logo no sell primeiro discurso, disse a esta augusta
Assembléa : «Pois que os dogimas da fé não podem ser de-
finidos senão pela Escriptura e Sanctos Padres, declaro
que não citarei em.apoio da minha opinião nenhum texto
de Padre ou Doutor da Egrefa, cuja obra toda eu nfo te-
nha lido, e da qual eu não haja extrahido todas as passâ-
gens que provem até á evidencia que tal é realmente o sen-
tido do auctor». Esta declaração causou um espanto geral;
e cada um se perguntava como podia um só homern bastar
para estes formidaveis traball-ros da intelligencia, e exercer
ao mesmo tempo its l'uncçócs do ministerio sacerdotal e as
obras de nrisericorrlia com lrm zelo táo constante. N'esta
sessão, assim con:o rrt primeilu, foi tal a admiracão que o
sabio .lesuita excitou, rlue chcgon Ír ser cnthusiasmo.
O l)adrc arlocceu por cxcesso de trabalho, e logo decidiu
o Concilio que as sessõcs geraes estivessem interrompiclas
todo o tempo que durasse a doença de Laines, nem Íbs-
sem retomadas, senão quando elle pudesse vir trazer e
derlamar a luz nas discussóes. Era a mais esplendida ho-
menagem que os Prelados e Doutores do Concilio podiam
renrler á sciencia e á eloquencia do humilde Jesuita. Pelo
mesmo tempo o Bispo de Modena Foscarani, Dominicano,
escrevia :
"Os Padres Laines e Salmeirão teem fallado so-
bre a Sagrada Eucharistia contra os Lutheranos com tão
grande esplendor, que em verdade dou gracas a Deus por
poder viver aincla algum tempo com estes doutos e san-
ctos Padresr.
No mez de abril de l55z os hereges tomaram âs armas
contra o seu Soberano; e depois de se terem apoderado de
63
Ausburgo, ameacâram Inspruck e Trento; e por esta causa
não podendo o Concilio continuar os trabaihos, no meio
d'estes perigos, foi necessario suspendel-os, e differil-os in_
definidamente.
,Carlos V não podia já duvidar das
intencóes occuitas dos
Protestantes, porque via muito cl"ramente que era o pro_
prio principio de auctoridade que elles queriam destruir.
Tinham.primeiramente aÍacarlo a auctoriclade da Egreia;
mas vendo-se vencidos no terreno das discussóes pelos
athle-
tas da Companhia de Jesus, desmascararam-se a ,,r.u.r* o
proprio Imperador em sua cidade de Inspruch. As ultimas
providencias tomadas pelo Duque de Baviera para salvar
seus Estados d'aquellas perniciosas iloutrinas,
tiÁham talvez
sido alguma parte para que os herege. to*nrr"r., as
armas.
O Duque Guilherme de Baviera iinha confiailo duas ca_
deiras de Theoiogia da universidade de Ingolstadt aos Je-
suitas, considerados pelos Lutheranos .ornã o. mais formi_
daveis dos seus adversariosl as quaes cadeiras foram occu_
padas por Salmeirão e Canisio com tal superioridade
de
talento, que não era contestada, nem peios seus inimigos,
nem pelos seus rivaes, e cada dia tiravam á heresia uma
porcão de terreno que ella tinha ganhado: a sanctidâdeda
vida augment{va esres resultados e attrâhia a elles todos
os co_rações. No anno seguinte cle r55o Canisio rinha sido
obrigado a acceitar o cârgo de Reitor da Universidade; mas
elle queria viver na pobreza e humildadel e por isso todos
os benesses da reitoria foram empregados em toas otrras.
Os
partidarios dos l-utheranos tinharn introdr.rziclo o \reoeno
<ie suas doutrinas em todas as partes do ensino o patlre
I
Canisio descobriu-o e extirpou-o; operoll retbrnras intlis_
pensaveis, fez melhoranrcutos irnport;rntes c tanto bem,
qr-le
nos registros da Llniversidade dc In6;oistatlt aintla se vê um
testemunho da veneracão e reconhecimento que o
,ioven
Reitor soube merecer, pois nas paginas qLle tcem o seu nome
é chamado o irtcomparavel padre Canisir.,. Como este pa_
dre livrou Ingolstadt do flagello tla heresia, muitos Bis_
 64
pos allemães o solicitavam para que ievasse ás suas dio-
ceses o soccorro da sua sciencia e do seu zelo. O Duque
Guilherrne tinha morrido, succedeu-lhe seu Íilho, Alberto,
ao qual Canisio declarou o desejo dos Prelados que o cl'ra-
mâvam: mas o Duque recusâ satisFazel-os, Fernando, llei dos
Romanos e cunhado do Duque de Baviera, escreve a San-
cto Ignacio de [,oyola, e the pede que the concetla o sabio
Canisio para a cid.ade de Vienna, ameaçada de ser invadida
pela heresia. O Sancto Funclaclor responde-lhe que elle
consente em lh'o conceder, mas que isto não pócle ser por
muito tempo, e dá orclem ao celebre Jesuita para que se
passe á capital da Austria. Porem isto não era bastante
para o Rei dos Romanos, que bemvia que a heresiu, batida.
e repetrlida pelo Padre Canisio, não tardaria em se apresen-
tar de novo, quando elle voltasse costâs, Importava pois
oppôr-ihe um corpo de voluntarios sempre prestes a mar-
char contra ella, e a defender vigorosamente a fé da Egreja
Romana. i'ara isto era necessario que Vienna possuisse um
Collegio da Companhia de Jesus e Fernando pede conr ins-
tancia a Sancto Ignacio alguns Padres para levar a cabo
esta obru e obtem dez. O Pacire Jaio é encarregado da or-
ganizaÇão do Collegio; porém a 6 de Agosto de r55z Í'oi
recebcr it reconlpensa cle seu laborioso apostolado e de to-
das as virtudcs c['unr pcrÍ'eit<.r rcligioso, licando en-r Vienna
ir sult obra inconrplcta, pilra scr c<-rntitrtlaelt por Cani-
sio.
As necessidades d'estit ligreia eram immensas, porque
havia mais rle vinte ânnos qlle ninguem se apresentava ás
Sagradas Orclens I o Clero extinguia-se) e jil não era substi-
tuido, os Catliolicos viviam sem instruccão, sem pratica de
Reiigião e quasi sem culto. Canisio préga nrs egreias, en-
sina em a Universidade, esclarece, conYerte, e, fara assegu-
rar o futuÍo) anima e fortiÍlca os muitos iovens que tern
ganhado, e d'elles escolhe cincoenta, que reune em um edi-
Íicio vizinho do Collegio afim de estuilarem e se fcrmarem
para o serviço de Deus. A sua vocação, desenvolvtnclo-se
bf
n'esta atmospirera de sciencia, de piedacle e rle virtu,Je, p:o-
mette pâra a Religião o futuro mais consolador. Este Sc_
minario tinha sido fundado pelo plano de Sâncto Ignacio
para o Collegio Romano, cuia fundacão, progressos e n:tâ_
gniÊcos resultaclos temos referido ern outi" parte.
Sancto I<nacio, sempre preoccupado corr âssegurâr o fu_
turo dâ Religião por meio da educacão da mociàade, e vi-
yamente afilicto pelos perigos que ameacâvam
a lé roma;i;r
em Allemanha, onde faltava o Clero, e onde os Jesuitas não
bastavam para tanto trabalho, tinha concebiclo o projecro
de um Coliegio destinado a receber roclos os jovãns alie-
mães convertidos á vercladeira fé. Este Collegio devia ser
um viveiro de Sacerdotes para renovar o Clero allemãa,
conservar a fé catholica, ou restabelecel-a nos diversos Es-
rados infectados pela lreresie.
Não tinha Ignacio ncru tlinhciro nent etlilicio para conla-
car o Collegio 1;ornrrnico; nras a Proviclencia, que lhe tiera
esta inspirlcão, tambeor lhe deu os meios de a exccutar. A
3r de a5;osto de r55z o Papa Julio tII publicou a Bulla de ene-
ccão d'este importante estabelecimento e auctorizou o Rei-
tor a conferir o gráo de doutor a todôs os alumnos que se
tornâssem clignos d'elle. No mez de Outubro ..guir.rt" o
Collegio estava aberto e recebeu dezoito alumnos, e alguns
dias depois contavâ trinta. A colera dos hereges rompell
vioienta ao saberem esta novidade. oNão bastava pois a lgna_
cio a sua Companhia? exclamou l(emnitz, um cios se,ls
chefes; não lhe basta Íàzer que sejamos atâcâdos por es_
trangeiros, quer armar tarnbem cclntra nós os nossos coÍt_
patriotas ?,
VIII
Carcleal João.de Bellav, Bispo <te paris, que tinha gozacio
11
U do rnalor credito na côrte de Francisco tr, depois da
morte
d'este
_Principe, poz tocio o seu empenho em íazer valer a
amizade real com que havia sictro honrado, e errpregou
todos
HISTORI,T DÂ C. DE J.
 (rtr
os meios de que dispunha para ganhar a benevolencia e as
graças de Henrique II. Porem bem depressa percebeu que
o Cardeai de l-orena possuia a confianca e affeição do Rei,
de modo que só ficava o logar secunclario ao Bispo de Pa-
ris no vaiimento do seu Soberano. João cle Bellay não pôde
acceitar este papel; e não esperando prevalecer nunca ao
Cardeal de Lorena, apartolr-se de Paris e de França, e se
refugiou em Roma, oncle obteve do Summo Pontifice licenca
para renunciar o irispado cle Paris em favor de um de seus
parentes, Eustachio cle I3ellay, presidente clo parlamento-
Eustachio, Í'eito liispo, não tinha infelizmente deixado o
seu resentimento contra o Cardeal de Lorena, ao qual
olhava como a unr inirrrigo, só porque o Rei o amava e to-
mava seus conselhos, or.l ilntes porque no reinado antece-
dente o lSispo do l)iu'is cra orluipotente na'côrte, e no
reinado actual nío cril rttitis do que o Bispo da primeira
diocese de lirança. () itrtrlricioso t.tunca está satisfeito,epor
outrâ pârtc l'lrrstachio tinhrr Ícito sctt o aggravo de seu pre-
decessor, e crl llomem cal)ilz (lo () stlstentar'
O Cardeal amava e aprcciava os .losttitas, e deseiava vel-os
estabelecidos ern Paris para n'esta citlirtle l''ôrnrarem a moci-
dade nas r.irtudes christás e oppôrem um ollstacnlo aos pro-
gressos de heresia, que se ia insinuando na IJniversidade-
O Rei partilhava a opiniáo e os planos do Carclcal, e tinha
dado letras patentes que auctorizavam o estabelecimento
da Companhia de Jesus na sua boa cidade de Parisl mas o
Parlamento recusava-se a registral-as, e tinha-se conten-
tado com fazer a.o Rei as suas representaçóes. Henrique lI
não desistia: porém o Parlamento renovavâ as suas repre-
seritaçóes appellando do Rei para a Faculdade de
'fheo-
logia e para o Bispo de Paris. Este Prelado, achando occa-
sião de declarar guerra ao Rei, ao CarCeal de l-orena e a
toda a côrte, não a deixou passar; o Rei e o Cardeal que-
riam os Jesuitas, Eustachio de Bellay náo os queria, e col-
locou-se do lado do Parlamento e da Universiclade. O Rei
nem por isso deixou de insistir para obrigar ernÍim o Par-
o7
lamento a cecierl mas então desencadeou_se contra a Com_
panhia a mais violenta tempestadel que jamais houve: os
theologos da Universidade cleclararam-na perigosa para â
*
ir Fé e para a auctoridade real, assim.orno pà." Iodas as Or-
dens Religiosas.
l Os prégadores e os parochos denunciavam-na no pulpito
como culpada de muitas heresias e mesra da mais plri-
gosa moral: espalhavam-se contra ella um chuveiro de fir-
lhetos e libellos, que se introduziam por debaixo das portas
das casas, semeavam-se pelas ruas e se lancavam até nâs
egrejas.
Os Protestantes batiam as palmas: porque tendo em seu
campo os theologos c1a Universidade, os parochos e o Bispo
de Paris, triumphavam dos inimigos. A §ancta Sé não fal-
tou em proteger os Jesuitas, e apoial-os na côrte rle Franca;
porém Eustachio cle Rellay por uma questão de amor
proprio não teme pôr-se em opposição com o Summo pon_
tifice, e prolribc aos .lcsuitas todas as funccóes sacerdotaes
em toda a sua dioccse. Os .lesuitas poaaorn então o Sena,
e vão pedir hospitalidade ao Abbade clc S. Germano dos
fladosr que náo dependia senão da Sancra Sé, e cuja juris-
cliccão se estendia a todo o arrabalde de S. Germano. ()
Abbade acolhe-os com muito amor, e os auctoriza â conti_
nuarem o bem que não tinham cessado d,e fazer desde a
sua chegada a Paris.
O-Cardeal cie I orena, enviado a Roma pelo Rei, acabava
-
ile
chegar acompanhado dos quatro ,louio.es da Sortrona
mais aíamados: René Bento, Claudio Despence, Jeronymo
de Sanchiêres, depois Cardeal, e Crispim Brinchanteau,
to_
dos quatro signatarios do decreto. À Companhia cle Jesus
parecia uma rival tanto mais formidavel, quanto os seus
membros eram mais celebres pela sua scierrcla e pelos seus
tai cntos.
Sr:.,o Ignacio vai procurar
o Cardeal de Lorena, explica-
,.
lhe
claramente o plano e o fim do seu instituto, e lhe pede
uma conlerencia entre os theologos que o acompanham e
 lli

69
6B
ainda replica'
acceitatla e faz-se l-aynes não satisfeito com estas razões'
ouatro theologos iesuitasl a confercncia ó
observações e procura fazer ver a. necessidade
compannia de f"r-rrárus
:tr;;;;;"; c'rrdeal' os thcologos <la
de cônservar em sua Provincia professores
sablos e prega-
o Padre olave'
;:tJ.';;ili-avnes, Olave,I'olanco e Frtrsio'
por entrâr na liça por dores capazes de luctar victoriosamente contra os lnlmlgos

;r"*";;;;á' oá so't'ona' iubilava da Egreia.

Padre
umatalcausaeporcon-rbatertaesinimigo-s'comtanta
tirtnbem estudado Sancto Ig,nacio, tlepois tle ter repetido.ao lt1::
ceÍÍezada victoria I os
outros tre§ tinhâm \l
lá tlacla, censura a sua insistencia e termtna
O triumpho dos Jesuitas foi " e*olicacào
.I
em'Paris' n'este ponto' e mandae-me di-
""; I;';;irJ."r, "R.fltcti
e tomado seus gráos I
ven- di-
:"*;;;;,;t uniut"ito'io" obriga.rlos a se confessarem 1r
1
;;;,;;:;;r.'...i' i.' faltado; se vos iulgais culpádo'
cidos, tleclaram que o 'l"tieto
ài f"ito t1T'::ln"tt*tn" disposto a soffrer por vossa
e assignada por taes ,l' ,.i]-. qr. penitencia estais
;;;;;;; esta cleclaração' escripta I fal ta,.
" e deui' um dia produzir discipulos de San-
adversarios, t'o d" gt*nà" 'ulo' O Padre Laynes era um dos primeiros
cto Tsnacio. um amigo do seu coração, um dos mais valo-
seus fructos'
Deoois da suspensão do
Concilio de Trento o P' Laynes CoÃpanhia, umA luz da Egreja, mas neÍil
.à.or"",nf.,". da
rle Padua' onde se entregâva ser'l nruitÓ
a" cidade
m'iniste- r.. is§o deixava de ser mui humilde' A carta domesmo
'";;L";""à;rr"gio ao 'exercicio do sagrarlo Florencat e elle. nos
com o seu zelo oitiinari'o encarregado os Bis- I-.ào C.trt foi achal-o em
fructo
rio e aos trabalhos de que o tinharn elle' e o
foi nomeaJo Provincial vai dizer o cffeito que ella produziu sotlre :
nos Dara a prt-»xima tt"il-qu^nao
resPosta
que tl'ella soube tirar. Eis aqui a sua
'árlãri, para substituir o P' llrouet
"'L;ilJ;";" l''umil'lc como sabio' não pôde logo resr- Meu Padre
amado I
e escreve! ao-s11;nuito
unar se a acceitirr o tn'go â sua es-
$^u.."u?,..', tuppticonào-the
que Íizesse..recair
Quando a carta de V' Rev'" me foi'entregue' puz-rne logo
mais ri.igno do que elle, oração com
colha sobre ,tg.,,o O" ,lir.-irr"àor sei ainda obedecer as- . o-r", a Deus, e depois de ter feito a minha
eis a resolução
accrescentanclo: nllq 'into
qu" níro mui,tas lagrimas, o que raro me acontece'
:;;' ffi :*:1,;t"T:::il:,[T J.TIT #::';
;;;1 : ;;;';;;; . q,r. áind" hoie tomo com as lagrirnas nos
V' Rev'", em culas rnãos me ponho
the ordenou e$l vlrtuc outro re' olhos. Eu deselo que
era imposto' o Jesuita f á não tirrha
;";n;;;;"; e tomou o governo da eaban.lonointeiramente,rle§eio,digo,epeçopelasentra-
curso senão subme"tt-t"; cedeu nhasdeNossoSenhorJesusChristo,queparacastigâríneus
paixóes m.al regradas' que
l)rovincia'
''õ;;.".1;" pois queixar-se a seu n :^-.r^
Superior detrhe serem tt- ;;;;";.., e para domar minhas
para a Casa de Romat sãoasuaorigem,metiredo[overno'da.prégação.e.do
ra.los os suieitos "'ni' ai"inttos
Lrreviario I
cl'elles do que os até nã"o me deixar outio livro senáo o
uue Ihe parecia t"' -tno'
nccessiúade ".iuao, faça ir a Roma pedindo-e.sm.ola' e que alli rne oc-
Provincia' o sancto Fundaclor
lhe respon- ;;;;. ofÊtio' mais bairos da casa ou' se não
l-.,,.àt"JJr;;a t:T"": cLrpe até á morte
"o'
e o centro da Companhi" "
tto^a passar o resto dos
de: qA Casa de que sâem quâsl to- ,"í-p..pti. para elles, que me mandegrammaticâ me
seu fóco, e é da ciúe
dot Fontifices
munrlo; é *"rr. aià. a ensinar o' tlt*tntot de nunca senão sem
como a
dos os nossos Pad'e-'-pat" 'e.ditpettul::^luloluzes'' gr".art respeito algum, nem nle olhar
brilhar as maiores
pois em Roma que Jevem
 7o
escoria do mundo. É o que eu escollio desde já para minha
penitencia,.
Assim escrevia e assirr ." lulg"u, que tinha sido
a admiração de todos no Concilio "qu.n.
de Trenro, aquelle a
quem o Sacro Collegio pedia ao Summo Pontifice l'ho désse
por ad)unto, vestindo-o com a purpura cardinalicia para
que podesse esclarecer-se sempre com as suas luzes. Tal
era a virtude dos discipulos de Sancto Ignacio, raes os
exemplos que deixâvam a seus successores. O Sancto fun-
dador nãb quiz confirmar para seu queri,Jo íilho a penitencia
{ue elle se impunhl ; Laynes tinha nascido homem de es-
tudos, tirar-lhc cste elemento Íeria sido prefudicar ao
Ínesmo tempo o bem da Egreja, a honra da Companhia e
a precio§r viçla clo humilde e sabio Jesuita. Ignacib pelo,
contrario llre ordcnou quc compuzesse uma suülma de theo-
logia, e para ltre lucilitar este trabaJho o alliviou dos deve-
res do seu cargo, e lhe cleu por adiuntos dois visitadores
dos collegios, o l)adre Viole e MLrrrinho Olave.
A z3 de Maio de r555 o (iardcal Carallrr, Geral dos Thea-
tinos, foi elevado ao throno de S, Pedro e tomou o nome
de Paulo IV. Tinham.no visto sempr.c pouco favoravel á
Companhia de Jesus e suppoz-se, que lhe sària hostil. Sancto
Ignacio não deixou de o temerl mas bem depressa se desen-
Bpnou. O Geral dos The*tinos teriâ talvez visto com algum
sentirnento de emulacáo os prodigiosos successos de uma
Ordem tão nova e já tão celebre em todo o mundo; mâs o
trapa Paulo IV não via, e parecia nunca ter vislo, senão os
immensos serviços prestados á Egreja pelos soldados d'esta
Companhia escolhida. 0 seu primeiro pensamenro foi asse-
gurárr-se do auxilio cio sabio Laynes em seus conselhos e
mostrou deseio de o crear Car<leal.'
Laynes é adverrido d'isso, perturba-se, e se queixa a San-
cto Ignacio da honra com'que está ameaÇado. O Sancto
fundador socega- o : " O Papa é muito j usto, lhe diz, e náo íará
violencia á humildade da nossa pequera Cornpanhiar. Po-
,i
.il
'!,
7t
rém Paulo IV, ainda que fossç de edade cle oitenta annos,
nem por isso era menos firme em suas vontades e, parecendo'
lhe coisa estranha que um Jesuita recuse urna honra que
tantos outros ambicionam, propóe-se triumphar de uma
resistencia que seus predecessores não poderam vencer.
Julga que para chegar ao seu fim bastará familiarizar Lay-
nes com a§ Srandezâs da côrte pontificia, e toma um pre-
texto para o attrahir 4,, ella. ordenândo-lhe que habite um
quarto no Vaticano e,que tÍabalhe em reformar a Dataritr'
Tinham-se int.oduziio tristes abusos e graves desordens
n'esta importânte administração; o Padre l-aynes desco-
b-re-os, faz conhecer os seus perigos, e indica todas as refor-
tle'
mas e melhorâmerltos que iulga necesiarios. Porém bem
pressa percebe que o Papa e os Cardeaes teem outros pla-
nos sobre elle; que o proiecto de o fazer entrar no Sacro
Collegio não está de modo nenhum abancionado, e que o
Papa vai indirectamcnte ao seu lim. Pnulo lV tinha r.rma
vontade inflexivel, e podia ser perip4oso resistir-llre, Laynes
não o ignoral mas mais do quc tudosabe clue é nrernbro cla
Companhia de Jesus. 'fenclo pois calculado turlo e tu(io pe-
sado deante de Deus, foge do Vaticano e vai refugiar-se itrn'
cto do seu Padre Geral, na Casa professa. Paulo IV, com-
prehendenrJo todo o alcance d'esta fugida, rende por esta
vez sua vontade deante da humildade de um simples reli-
gioso.
rx
ItÁ ouarta feira de Paschoa do anno de 1555 a cidade de
ll Sâr*goçr, capital de Aragão, offerecia um espectaculo
que contrâstâ\ra singularmente com as festas e cantos de
alegria dos dias precedentes. Uma procissão coníposta de
numeroso Clero e de Religiosos Agostinhos, precedida de
uma Cruz coberta de negro e seguida de uma nrultidão exas-
perada, percorria as ruas cantando o Psalmo CVIII, que o
povo repetia versiculo por versiculo com â expressão do fu-
lr
1
.+l
 _il
ror, De vez em quando arrancavo uma sortc rle rr-rgiclos, e
deixava apenâs distinguir o grito: ÀIisericordia
! l\Íisericor-
diâ! Outros vociferavam:Maldicãol Ntaldicão! () Clero e
os Religiosos continuavam este cânto lugubre de reprova-
ção.
Que se tinha então passado n'esta cidade onde ainda na
vespera a alegria radiava em todas a.s frontes christãs, en_
chia todas as almas e fazia retumbar as abobaclas sagradas,
com o som triumphal d,e Álleluia?
[,rm Vigario geral acabava de fazer publicar que a cidade
esta\,â profernirrla e infectada só pelo facto da pÍesenca
r
dos Jesuitas. Os hirbitantes de Saragoca sabiam o bem
;'á
feito pelos lleligiosos da Companhia de Jesus em Hespa-
niia. 'finharn visto na sua cidade os maravilhosos effeitos
Cas prégações rlo l)adre lirnncisco Strada, e solicitado uma
casa da Orclem, oll'crcL:cnclo fazer as «iespezas do estabele_
cirnento. O Arcchispo l). liernirndo de Aragão pârtilhâva o
desejo rie scrrs clioccsunosl nrils cristia então uma lei que
prohibia Ievlrntar trru:r t:trllcllir ou Ul.r1 convento muito perto
t1e unra cglcia purochiirl, orr rlc rrrrl comnrunidade reli-
giosa. Esta restriccío Iirrhasitlo jrrlurr,la ncccssaria para evitar
as queixas sobre precedencia e qlrcsta)cs tlc er-nulacão. Ora
Saragoca possuia tão grancle nLrmcro tlc egrcias c conven-
to:. que todas as propriedacles propostas parit os .lesuitas
achavam-se dentro dos limites prol-ribiclos, e isto rctardilva
o seu estabelecimento na cidade e redobrata o deseio de os
firnfim em r555 tendo as circumstancias pernrittido com-
f,rar urna habitação convenienre fóra dos limites da lei, o
.A.rcebispo tinha chamaclo os Padres da Companhia cle Je_
sus com grande alegria dos Saragocanos, e designára a
quarta feira de Paschoa para a inauguracão cia sua capella.
Toclos applaudiam a feliz idéa do prelado, que escolhia
Í)a.râ estâ ceremonia um dos dias em q,ue a Egreia celebra
as festas do mais belio triumpho cia lteligião. Mas eis que
ria yespera) Dom Marco Lopes, Vigario geral, prohibe ao pa-
dre Barrna, superior o" Jl*uurar a capeila sem novâ
ordem: oOs Agostinhos, accrescentâ, Íizeram quei:{â contra
vossa vizinhança) porque ficais muito perto d'elles,. nEu não
posso submetterme a tal ordem, responde o Superior, pois
que não é fundada em nenhurn motivo razoavel; nós esta-
mos effr regrâ e auctol'izados pelo Senhor Arcebispo, o qual
arranjou tudo pessoalmente e me ordenou que tomâsse
posse; e por outra parte eis aqui os meus privilegios". oOp-
ponho-me iormalmente á inauguração, replica o Vigario;
não potleis estabelecer.vos aqui, ide fazer casa mais longe».
nConsultemos primeiro os mais sabios canonistas, diz o
Padrer. Com effeito alguns canonistas consultados no
rnesmo dia decidem que os Agostinhos não teem direito
<le se queixar dos Jesuitas,.
nÀ'Iantenho a minha opposição exclama D. l\{arco I-o-
POs».
nós nÍo nos porlenros conformar com ellir,, respnncle o
"Fl,
Padre.
O (iuarLlião clos llranciscnuos, quc prote64ia os Âgosti-
nhos e apoiava suas rcclanracóes, :rpresentíl-se no cliir se-
guinte ao Padre Btrrma, e pondera-lhe a prohibição do Viga-
rio geral, nras vendo-o resoluto a pâssar a deante diz.lhe:
«Pois benr, recorremos á excomrnunhãor.
«E nos appellamos para a Sancta Sé, ciiz com dignidacle o
Superior dos Jesuitas. E sem temer a excomunhão cle que
está ameâcado procede á ceremonia. Uma multidão immensa
se apinlrava rra capella e ao retlor da casa, senr saber das
difficulciades imprevistamente levantadas desde a vespera.
Emquanto o Padre lJarma cantava a missa, D. X{arco Lopes
fazia publicar e affixar em toda a cidade a prohibicão de eo-
trar na capella clos Jesuitas sob pena de excnmmunhão : os
Padres eram declarados malditos e o anathema estava lan-
cado contra elles.
N'aquelles seculos de fé, em que a patravra de um digni-
târio ecclesiastico era omnipotente sobre as multidóes e os
Christãos de ordinario não hesitavam em preferir a morre
 _!! _
á excommunl'rão, foi como um raio para o povo) quando
soube, saindo da capella dos Jesuitas, a desgraca de que es-
tavam âmeâcados os que fossem tão temerarios que ousas-
sem entrar n'ella. E quando de tarde âppâreceu a procissão
que vimos, julgou-se obrigado a dar crediro á justica do
ânâthema fulminado contra os Padres.
Junctou pois sua voz com a dos Sacerdotes e Religiosos,
cuia irritação châma\.â a rnaldicão sobre os que lhes traziam
todas as bençãos do Ceo, e já não viu nos Padres senão cul-
pados dignos das fogueiras da Inquisição. Porém os espiri-
tos esclarecidos genriam, e náo duvidavam que tutlo se con-
verteriâ pârri os .lesuitas em triumpho.
O Vigario, olÍêntlitlo em sua dignidade, não parou no que
já tinha fcito. () l)atlrc llarma tinha desconhecido sua au-
ctoridadel a ilnrcacrr rlo (lrrardião dos Franciscanos tinhâ
siclo intrtil, er':r pleciso pois a totlo o custo aihar r-rm meio
para ollligul-o ir rctir rtr--sc. l)istribLrem-se pelas ruas irr a-
gcns (lLlo rcl)r'cselrtirviurr os .lcsrritirs prccipitados no inferno.
por unrir lcgiiio ilc lrolrcrrJos dcrnonios, e sem cessar se
reJ)clc to l)()vo (luc lt c'irlarlc cstri rleclarlrlir profânada, por-
que â prescnçir dos .lcstritlrs lhc trorrxc l hcrcsia; e se affirma
que Saragoça Í.r:tla estr'r excomn)Ltngl(la e o estarii cmrlLlanlo
os .lcsr-ritirs não forem expulsos. Venclem-se estas extrava-
gancias, aÍl'ixunl-se e se repetern por todir a pârte e sem ces-
sar. O povo exasperado, corre á casa dos Padres, atira fe-
dras ás janellas, quebrra os vidros, e repete gritos de morte,
emquanto uma procissão similhante á prirneira {az a giro
da casa maldita cantando palavras cie reprovação. Como
estâs scenas ridiculas e tristes se:lenovâm por espaco de
quinze dias, julgou o Padre Barma que devia acaha,r conr
ellas retirando-se1 porém ellas tinham feito demasiado es-
trondo, e o seu echo chegou á. côrte.
O Arce'oispo, D. Fernando de Aragão, o Nuncio, a Prin-
cer,a D. Joanna, Regente do Reino na ausencia de Carlos V,
mandam examinar a causa. O ffibunal ecclesiastico clecide
que houve erro t1a parte dos Agostinhos, do Guarclião dos
75
Franciscanos e do Vigario geral. D. Marco Lopes ó obli-
gado a levantar a censura, e os Jesuitas são convidados
a tornar a entrar em sua habitação. Com isto a heresia dos
Padres é esquecidao'ninguem se lembra iá senão do seu
zelo, da sua áe<licação, da sua caridade, da sua sancta vida:
são chamados de novo com laglrimâs de pesar quanto ao
passado, de alegria quanto ao presente) de esperança quânto
ào futr,ro. O Clero, a Nobreza e a lllagislratura vão-lhes
ao encontro á porta da cidade, e os acomPânham ate á sua
casa, oncle o Vice-Rei os esperava para thes offerecer as cha-
ves d'ella, e o proprio D. Marco l.opes era do numero d'a-
quelles que rencliarn estas honras publicas aos Religiosos'
Desde este momento começaram o§ Fadres o seu apos-
tolado, que Deus al-:ençoou abundautemente: suâs virtucles
lhes attrahiam discipulos, as ciclades vizinhas pediam tam-
bem Apostolos cltr Companhia de Jesus, tanto qtre foi ne-
cessario corresponcler a este ardor e creâr novas Resiclen-
cias, Collegios e Noviciados. Este desejo era em Hespa-
panha unra especie de contagio sancto.
x
losÉ de Anchieta tinha apenas vinte annos. e acabava 'le
fl "ntru. na Companhia de Jesus no Brasil. Con-reçou elle
o seu noviciado indo por ordem do Paclre Nobrega propôr
condições de paz a uma Povoação inimiga chamada dos
Tapuyas I porém estes seivagens, que não queriam pazr res-
pondem ao ioven novico clesignandolhe o dia em que o ha-
viam <le comer elr uma de suas horrendas solemnidades'
Mas José tle Anchieta encara com elles, sem no rosto dtrr
indicio, nern ainda minirno de medo. Um sorriso de bon-
dade se desliza c1e seus labios, e cliz-lhes com mansidão, mas
corn voz firme: nEu não tenho nadâ que temer senão de
Deus só, e não é chegada aiuda para mim a hora da morte»'
Jose de Anchieta fica entre os Tapuyasr dos quaes outro

i6
teria fugiclo, e os barbaros não podem comprehencler tal
socego e coragem ante as.suâs ameâcas de morte, O heroe
falla-lhes do Evangelho que lhes leva, e da Cruz de Jesus
Christo, que salvou o mundo, e que os salvará a elles tam-
bem. Com isto faz-se escutar, amar e aclmirar e vence os
Tapuyas e filz tl'elles christãos.
Os Carifós ouviam contar os prodigios dos missionarios
e não podian-r crer em tantas virtudes; comtuclo, por nrais
seivagens que fbssem, diziam entre si que a Religião dos
Padres devia scr a melhor, pois que nada lhe resistia I e que-
riam fazer-sc cl-rlistãos. Já tinham peclido Padresl porém
não os venclo chcgar resolveram-se a ir ter corn elles, e em
numero de tluzcntos partem a solicitar o Baptismo. Alguns
Ilespanhoes, quc vivirrnt no rneio d'estespovos á vontade de
suas paixóes, cnc;u'rcgínn.se cle os conduzir a urna Resiclen-
cia christí; utas ,to clrDinlro encontraln uma horda de sel-
vagens, qLle cítcIl] sol.rc clle s r.r'llrtanrlo uma parte, e reser-
vanclo a outril piu'il scr.rs :rIror.nintveis fêstins.
Os .lesuitas são rtlvcrtirlos tl'cstcs acontecimentos, e os
Padres Sousa c Corrôir pilrtcr)) irnrnotlirrtrrnrente para o meio
el'esta hortla inin-riga, c olltccur l lilre rrllrrlc dos prisioneiros,
que levam comsigo prr:r o lo;itrr dlr srra Iir:sirlencia. No nu-
mero c1'estes prisionciros rchrrvrr sc unr lrcsprrnhol, cLrjos
projectos e vis irr,:linrrc-'iics vilirrnr 1l s()Íller com il conver-
são dos Carijós. l,)stc rrJrostatrr para se vinqar dos missio-
narios, qtre lhc tirrhuur s;alvlrrlo a vidn, e para os obr-igtrr a
se âpartâreN rlc utn povo nluito docil âo seu ensino, re-
correu á czrlunrnia: "Os Pndresr enganam vos e abusam de
vr:ssa creclulidatJo, <iizia-lhes ellel o seu Íim não é salvar vossas
almas, como elles pregam, mas subjugar-r'os, dominar.vos e
redr-rzir'vos á condicão de escravos». Os Carif ós cheÉJâm a
julgar se realmente logrados pelos Padres, e exasperaclos
e enfurecidos lancam-se aos seus apostolos e os fazem mar-
t).res.
A Europa não tarda em saber os sllccessos e a recom-
pensa dos Missionarios que mândou ao Brâsil; e os Jesui-
t,
1l
l
77
tas. cujo zelo se inflamma com a narração tl'estas gran-
des coisas, soiicitâm á porfia a felicidade de ir substituir
n'este arriscaclo e glorioso apostolado aqLlelles de seus ir-
nrãos que acabarn de subÍr ao céo.
Da sua parte Câlvinor.sabendo pelâ voz publica das ma-
râvilhas operaclas pelo ministerio abençoarlo dos missiona-
rios do Brasil, tracta logo de empregar todos os meios para
propâgar suas doutrinas em todos os logirres onde penetrar
a Con:panhia de Jesus. O apostata NicoluLr l)urand Villega-
5;non, cavalleiro de ÀIalta, faz-lhe uma pr()l)ostâ cle partir
para o Brasil conr urna peqüena colonia de lrcrcges; Cal-
vino acceita, e se apressa a expedil-os, e pclo lirn tle no-
vembro de r555 tocavam nas costas das posscssiros portu-
guezas no Novo-Mundo.
N'este tempo f á dois protestlntcs sr: tirrlrirnr .lnl.ccil)ado
ao desejo cle Calvino e ii viagcm cle Villegagnon: mâs nenl
um só adcpto pr"rderam ganhar entre aquelles barbaros. Era
o caso que os dois falsos apostolos não concordavam nas
suas crenças, e como as suas discussões se repetiam todos
os dias, o Protestantismo não dava um passo. Villegagnon
emprehende concorclar os seus dois predecessores, porérn
reconhece clue as opinióes de um differem tanto das suas
proprias como das do outro, e que assim nunca se ententie-
rão. Ora a desunião entre os tres homens, que pretendiam
dar-se por che&s da nor.a religião, não era um principio
de progresso.
Emquanto estes debatiam entre si sobre as diversas
interpretacões dos Livros Sagrados, os Jesuitas, sempre uni-
dos, iam clireitos a seu Íim com uma união que triplicava
suas forcas. EdiÍicavarn casas para novas residencias, ievan-
tavam egrejas, augmentâvam o numero de seus hospitaes,
de suas escolas e de suas casas religiosas. As suas chris-
tandai"les augmentavam todos os diasl e os milagres do Pa-
dre ,{nchieta, confirmando frequentemente a doutrina ensi-
nada pelos Itradres, deixavam aos Calvinisttrs poucâs es-
perincas de sr.ras pri6açóes.
 :", lt.

,R

O Cavalleiro de Villegagnon admirâva estes Jesuitas, cu-'

I
jas obras grancles se tinha encârregadÔ de destruir, e co-
!
meçava a exarninar-se a si mesmo e â pergxntâr, Por-
que.serios motivos tinha elle deixado, renegado e perse-
erido oma Religião que produzia taes homens' Entáo sua
i ., ãonsciencia se revoltava contra elle mesmo) e a gritos o
)

! chamava ao arrependimento e á penitencia âté que um dia,

t
{
hão poden<1o o apostatâ'resistir por mais ternpo âos I'emor-
.o. qr. sentia, foi iançar-se aos pés de um Jesui'ta e voltou
á fé da Egreia'
A Companhia de Jesus nãb se estendia sómente na Eu-
ropa, na Asia e na America, mas penetrava tambem na
Africa, para alli, assim como em toda a pârte, contar heroes
ou martyres,
Descle o anno cle r546 Claudio, imperador da Abvssinia,
que se clianravn Preste João, tinha pedido sácerclotes ca-
tholicos ao rei tle Portugal. O Christianismo dos antigos
Abexins tinha-se perdiclo em uma mistura dos erros de Eu-
tyches e de l)iscoio, e além d'isso a populaçáo contava um
,rrr*aro rnr,rito granrJe de pagãos judeus, e musulmanos'
Comtudo o Soberano tinha permanecido catholico de sen-
timçntos, e fiei á recommendação de seu pae,.o imperador
David, recusava-se a reconhecer o bispo scismatico, en-
viaclo aos Christãos pelo Patriarcha de Alexandria' O rei
de Portugal.tinha pedido a lgr-racio de Loyola que enviasse
,o Irnpe.ãdo. Ciaudio um Patriarcha e- sacerdotes da Com-
panhia, e o Sancto Fundador, não vendo sen-áo perigos,
hu-
Lltn"çã., e pobreza na dignidade de Patriarclla t1T.'n1
.- p"i, infiei condescentlera' ao desejo de D' Júo III e á
ordem clo Summo Pontifice, e com effeilo o Pa<lre Nunes
Barreto, con'l o titulo de Patriarcha, André de Oviedo., e Mel-
I

\ chior Carneiro) cpm o de Bispos Coaclf utores, partiram de

Rorna, em março de I555,
ao
Entretanto oi christãos scismaticos tinham persuadido
não seriam *enão os precursofes
Impelarlor que os Jesuitas
.le'rr*a invasão europêa: que a Abyssinia ia tornar-se um
 79_
paiz conguistado, e que o seu Soberano não seria mais qtre
um tributario dos conquistadores do Norte. O imperador
acreditou-os e, quando o Padre Gonçalo Rodrigues se apre-
sentou) o monarcha recebeu-o, pôl-o em frente de alguns
sabios scismaticos, escutou-o, mas despediu-o logo com
uma simples carta para o rei de Portugal. Clauclio já não
oueria aquelles sacerclotes catholicos que tinha sollicitado
tão vivamente e feito vir tle táo longe. O Padre Rodrigues
voltou para Gôa, onde o tornaremos a achar.

XI

tr Companhia fazia rapidos progressos na Allemanha com

fl grande desesperaçío clos l-utheranos. Depois dos desas-
tres da guerra viera a peste assolar a cidade de Vienna, e
dar aos Jesuitrs um trdnriravcl exercicio de zelo e de abne-
gação clesconl-recicltr no trrlrperio gertranico. A sua doce ca-
riclade e a sua incomparavel de.licação foram tão uteis
ri Egreja, como âs suas animosas luctirs contrâ os herejes.
Os ministros Lutherarios trâctavam de si e, longe de des-
afiar ôs apostolos da Companhia de Jesus para este campo
da dôr e do perigo, pelo contrario tinham fugido e aban-
donaclo suas victimas aos cuidados de seus salvadores.
lili'!$" A Al.lemanha conhecia agora o valor dos cliscipulos de
Sancto Iqnacio, e conhecendo bern sua sciencia, sua eloquen-
cia e suas virtudes doces e heroicas, queria coilegios, que-
ria casas da sua Ordem, e as solicitava de todas âs pertes.
O Padre Canisio, a rogos clos llispos, pãssava de urna dio-
cese a outrâ prég;ando, confessando, Íazendo L',em por to.la
a pârte e âugmentando cacla dia o esplendor cla sua repu-
tação. Morre o Ilispo de Vienna, e o Rei dos Ron:anos sup"
plica a Sancto lgrracio que lhe conceda Car-risio para esta
sd táo importânte; poiéir Ignacio, intlexivel sobre este pon to,
recusA. O rei não insiste; mas coll- o a diocese necessita
alqr.lm tempo da sábia direcêao e raros tzilentos de Cani-
B, Pedro Canisio, §. J.

-ll
sio e Fernando insta com Sancto Ignar':io tluc lh'o conceda
ao menos como administrador: o Sancto li'untlador consente
n'isso, e ordena ao Padre Canisio, que acceite o cargo) mas
que nunca toque em seus pingues rendimentos. Canisio,
que conhecia todas as chagas da diocese que ia adn'rinistrar
e sabia os meios de que podia dispôr para lhes applicar o
remedio, começou a trabalhar e fez prodigios.
Entretanto o Vaivade da Transylvania pedia Jesuitas
para os seus Estâdosr e â mesma petição enviararn ao San-
cto Fundador o Arcebispn de Gran parâ â Hungria, o
Bispo de Bresiau pâra â Silesia e os Polacos parâ a sua
nação, Desde o começo do anno de r556 a Allemanha for-
mava unrâ Provincia da Companhia que tinha por Provin-
cial o Padre Canisio.
A Corsega, recaída em uma sorte de barbaria pelo ex'
cesso de ignorancia e clepravação cle seus habitantes, era
um motivo tle contiuuas inquietaçóes para a republica de
Genova, cufo iugo ella soíliia irnpacienlemente. A Repu-
blica, não vendo iti outro meio cle recluzir este povo intra-
ctavel senão enviando-lhe Jcsuitas, pede a Sancto Ignacio
que designe para esta rude missíro cis Padres Silvestre Lan-
dini e Nlanuel de Monte-Maior' Elles alli vão com o titulo
de visitadores apostolicos e percorrcm as llorestas e as al-
<leias, internam-se nâs montanhas, penetram em todos os
logares on«le esperam encontrar algum peccador para con-
verter, algum ignorante para instt'uir, e á forca de mansidão,
paciencia e caridade chegam a reformar inteiramente estes
nâtllraes meio selvag,ens. A Corsega restituida a Deus, á
Egreja e á civitização era a obra de dois pobres Sacerdotes
da Companhia de Jesus, pois nada resistiu á sua doce in-
fluencia.
Emquanto estes dois apostolos domavam tão suavemente
o mais inclomito povo) o Padre Francisco de Boria com
uma só palavra clobrava a vontade de um Principe que ti-
nha a reputaçáo de não ceder_ nunca.
Carios V tinha clado a seu filho, Philippe II, o reino de
8r
Nupolcs c o tlucado de Miláo, e o novo monarcha tinha sido
solemnemente reconl'recido a z5 de Julho de r 554, e estuva
para esposar Maria de Inglaterra. Ora Philippe por occasiiio
da sua exaltacáo ao throno e do seu casamento pensou em
impetrar a purpurâ cardinalicia para seu parente, o Duque
de Gandia, que era o hunrilde lradre Francisco. Bem lh'a
queria dar o Papa, mas Francisco de Borja ousa recusar a
Philippe II o que tinha recusado a Carlos V: inflexivel em
sua vontade, o Rei de Napoles ordena e o Jesuita responde
simplesmente: oEu não sou mais que um peccador, mas não
posso n'isto obedecer a V. Nlajestade». E Fhiiippe fica ven-
cido, assim como Carlos V, pela hurnildade do sancto reli-
gioso.
Ainda esta vez o Sancto Fur:darlor via a sua Companhia
preservada do que elle chamar,a um _flatc!1,t. i\ saude de
Sancto Ignacio ia declinanrjo seDsiveJntellte, nras irnres de
morrer tinha visÍo as tres coisas que ciesejavir ver: seu Insti-
ruto approvado pela Sancta Sé, o livro clos Lixercicios espiri-
tuaes approvâdo pela mesma auctoridâde, e as Constituicóes
conhecidas e approvadas por toda â parte on tlc se achasse
um filho da Companhia. Deus tinha-llre arú conceclido mais
do que desejava, porque via a su:r Ortierrl cspalhacla em todo
o mundo, ccntancio apenâs clezeseis annos) e jri rnais de mil
menrbros, cem casâs, ou collegios, divi<lida em doze Pro-
vincias comprehendendo o Brasil: via o seu caro Collegio ro-
rnano em tal prosperidacle, que no fiLl <1o anno de r555 os
cem primeiros alumnos, a maior parte alistados na Compa-
nhia, se derranravam pelo mundo para trabaihar na gloria
de Deus, e outros duzentos vinharn substituii-os I{o anno
seguinte Paulo IV concedeu a este Coliegiü todos os privi-
legios de que gozav<tm as Universidades. O Sancto Funcla-
dor tinha querido que n'elle se seguisse o metho,:1o de en-
sino usado na de Paris, e para isto tinha sempre escolhido
professores saidos tl'esta escola. O Collegio germanico pros-
perava do mesmo modo, e erâ a esoerânca da Âllemanha.
Os Cardeaes e os Bispos, muito satisleitos com a or5;ani-
HISTOIIIÂ DÀ C. DE J.
 lrr
(loncilio cle Trento
zação d'este Seminario, tlcciclirnnr tro
;; ;"" plano serviria de modelo parrt o estabelecimento
dos Seminarios diocesanos'
--ignuri,
de Loyola sentia aProximar-se o seu tim' mas Generalato do Padre Diogo Laynes
sem-
aor,."."rn,l" todo o vigor clo seu espirito occu[)ilvâ-se segundo Geral
Religiosos nenhunr se per-
pre com o governo, e entre seus
suadia que a sua morte estivesse proxima' A 3o de Julho de 7.tr)ír6-lõ(3í)
dôr com Padre
,liO ,ina, elle trabaihava no seu leito de o
pA"oao, seu secretario: mâs no dia seguinte' ás cinco horas I
Sanctis-
ãu *unta, deu o ultimo suspiro pronunôiando.o
simo Nome cle Jesus, na edade de sessenta e clnco ânnos' nÁRLos V acabava de ahdicar e tle retirar-se ao mosteiro
[.] a" S. Justo, na Extremadura, deixantlo o throno impe-
rial a seu irmão, D. Fernan<lo, e ode Hespanha a Philippe,
seu filho, já Rei de Napoles e Duque de Milão.
Philippe estavâ em guerra aber.ta com o Papa, paulo I\r,
no momento em que o Sancto Fundador da.Conrpanhia de
Jesus ia receber no céo a recompensa de sua heroica vida.
E,ste estado de hostilidades não ameacava assim mesÍuo ne-
nhum obstaculo serio á eleição de seu successor, e por isso
a Conp;regacão dos Professos foi convocada para o mez de
Abril de r557. Porem depressa se soube que o Rei de Hes-
panha prohibia aos Jesuitas hespanhoes irem a Roma para
a eleicão, e que nem ao menos lhes permittia passarem a
fronteira do reino. Não se podendo demorar indefinidamente
a Assemblea geral, os Padres reunidos em Roma pensa-
ram em ir celebrar a eleicão em Flespanha para evirarem
a prolongacáo da vacatura. Porem o papa e «r Sacro Colle_
gio declarararn-se logo contra este projecto, porque os adver-
sarios da Companhia persuadiram a paulo IV que ella que_
ria transportar a Casa matriz para Flespanha, e d,est'arte
subtrahir-se á auctoridade da Sancta Sé. O papa prohibiu
aos Jesuitas que saissem <ie Roma, e ordenou que lhe sub-
rnettessem as suas Constituicões. Até então estas Constitui-
çóes observadas em toda a Ordem não tinham força de lei.
Sancto Ignacio dispuzera que ellas loSsem postas em pril-
tica primeiramente, com o Êm de lhes fazer mais tartle as
 i:i5
8+
nhos cie aÍIectuosa e alta estima cltre ellc rcccltia tlit prtrlc
modificaçtres que se )ulgassem necessarias, e
determinava
âs subrnet-
dos Soberanos, que tanto o veneravÍlmr lhes parcciatlt «rtttt lts
qra ." pela seguntla Congregacão pâra
".pa.r.se Esta segunda tantas homenagens feitas a tocla a Ordem.
ter a Lrm noYo exame, que seria definitivo'
Geral: mas Por outra parte a inveia era excitada por succcssos tlc
Congregacão era â que tievia eleger o segundo .outro genero. Só no anno de 1558 trinta e quatro dotr-
r,:- pOí" ,errnir-.e em Roma senão ilepois da conclusão cie tores da Universidade de Alcalá, e entre estes os rnais cele-
um tiatado de paz entre a Sancta Sé e o Rei de Hespanha' bres, tinham renunciaclo á gloria e ás riquezas da terra para
rtriu se a Igde Junho <le r55B' A z de Julho foi eleito abraçarem a humildade e a pobreza na dita Companhia
"por plurati,lad"e rle votos o Parlre l-aynes, que era Vigario cie Jesus. Pouco depois a Rainha de Portugal e seu cunhado,
b"roi d"tdu a Ínorte de Sancto Ignacio' o Carcleal D. Henrique, pediam ao Fadre Laynes que per-
tle ter con-
No fundo <1o seu retiro se lamentava Carlos V mittisse que o Padre l-uiz Gonçalves da Camara viesse
licença para abraç.ar a vida re-
cedido ao Duque de Gandia para a côite dirigir a educacão do ioven Rei D. Sebastião'
que the fazia agora falta juncto de si'
iigiorn, parecenclo-lhe Por sua parte o Padre Gonçalves da Camara recusava-se,
vezes exprimià o seu tleseio de chamal-o e tractal-o'
"'-,rit". a deixar a por conhecer bastante o caracter e as inciinaçóes do Prin-
intimamente coix â esperânça cle o persuadir cipe e as difficuldades de sua posição na côrte; porém o
t1e .Iesus, e a reli;âr-se tambem ao mosteiro cie
Conrpanhia Fadre Geral, Francisco de Borja e todos os Provinciaes de-
elle que o fosse vi-
S. Justo. Escrevcu-lhe pois e instou com cidiram que a Companhia não podia sem nota de ingrati-
Boria, tendo cedido a este desejo''
I .i u.; po" fim lirancisco ile
os teste- <lão recusar este serviço ao filho ile D. João III e ao sobri-
Dassou tres tlils !uncto do monarcha, e recebeu-lhe
tal amor á' nho <le Carlos V. Em vista d'isto o Padre Camara teve que
';;;il. .le i,rti'r',,, irll'cicão, ffias mostrou-lhe
não insistiu no sa- obedecer.
Companhia de .!csus, clue o Irnpcrador
Para os inveiosos são successos alheios aggrâvos que el-
crificio que d'ellc tinha rlcsciado'
les «lifficilmente perdoam. Importava fazer expiar á Com-
na côrte tle l)orttrgal era Francisco amado
e'
Tambàrn panhia de Jesus a celebridade que a sciencia e as virtudes
venerado, e conlo o ltci l)' 'loão III acabava de morrer''
apostolicas de seus filhos lhe tirlham merecido'
Carlos V'peiliu ao antigo I)uquc tle G'ldi']
qtte losse con-
É verdade que não havia nada de que accusal-a: mas re-
]lorja Íbi com el-
solar a llninha D. Catharirra' lirancisco de
correram á calumnia, e para obrar com maior efficacia li-
cle Carlos V'.e cle caminho'
feito visitar esta l)rincczit, irn-ríi
garâm-se com os hereges' Alguns sectarios tinharn chegado
cla Companhia, cada vez mais florescentes'
visitou as câsas ã introduzir-se em Hespanha e a espalhar n'ella seus livros,
em Portugal. com umâ doutrina que tinhâ já seduzido rnuitos espiritos
De Foriugual i repentinamente chamatlo a
Flespanha I
seu testâ- independentesl porém os Jesuitas estavam álerta e apre-
V, que estava a morrer' declarou-<l
porque Carlãs sentavam-se logo na brecha, decididos a repellir o inimigo'
'*"*al.o e queria vel-o, dizer'trhe o ultimo. adeus e receber
corre' aluda o Como iá tinha acontecido, espalhou-se o rumor em Seviiha
d'elie consoiação e bençáo' O Sancto-Jesuita e em Valhadolid que os livros hereticos foram introduzidos
puut'gt* d'esÍa vida para a eternidade'
Imperador oâ sua pelos proprios Jesuitas, e que estes não affectavam tanto
a sua oração funebre'
- p."rança de toda a*côrte recita zeio pela Fé Romana senão com o fim de desviarem de si
"-"'* tle Jesus não viam já no an-
ôt i"i*lg"s da C.onrPnnhia o§ testemu- toda a suspeita de heresia. Por mais absurda que fosse esta
ile Ganrlia senáo o Jesuital e todos
tigo Duque
 8Z
86
tregará a regencia á Infante, que costumava consultar it
imputação não deixou ella de correr assim conro em outras Iloa
F-ra"ncisco de Boria e seguir todos os seus conselhos'
occasióes, e não dulidaram assignalar lt lirancisco cle Boria
mina era esta Parâ exPlorar.
como chefe d'esta propaganda. Se elle não fôrl aintla quei-
I)enunciaram o Padre F rancisco a Philippe II de ter abu-
mado vito, diziam, era unicamente por considcracÍo para
com os principes seus paÍentes, e n'isto tinl-ra a lnquisição satlo da confiança da Infante em pró dos inimigos de Hes-
panha, com os quaes entretinha relações secretas por meio
aommet;do uma flagrante injustiça; por quc cra nruito fzr-
cil provar a sua heterodoxia' àa Companhia' O Padre Francisco despreza esta nova
Francisco de Boria antes de entrâr na Companhia de Je-
calumnia, nem tracta de a dissipar: mas âpresta-se a
sus escrevera cluas obras de piedade, as quaes' havia doze
pârtir para Roma por ordern que para isso recebeu do
3u**á Pontifice e do Paclre Laynes' Porém o principe de
annos, tinham sirlo lidas até então com ediÍicirção e pro-
veito, e iámais a Inquisição tilrha achaclo n'ellas coisa cligna
Eboly e o duque de Feria, seus amigos, o deteem no mo-
partirla: nQue i<les fazer, meu Rev' Padre? the
sua
tle censura. Mas eis que de rePente se descobrem n'cllas -ento.1"
<iiz o princip.. O R"i espera de vós uma iustificação e vós
erros monstruosos! A que é isto devido? Como é que estes
deixaes a Hespanha sem o assegurar da vossa fidelidade!"
livros náo foram conclemnados até agor'ri' Um espirito forte
oO Rei sabe muito bem que eu não estou culpado, responde
penetroLl o mysterio: ..Ii, <1iz elle, Porque os Jesuitas se apo-
o Padre, para que irei-cle eu ir iustificar-me de um crime
à.rr.o* do tribunal da Inquisição, e o dirigem secreta-
mente; e e por isso clue o Arcebispo de Sevilhat Inquisidor
i*aginn.ià ?, nb Rei sabe com effeito que isto não é mais
qu*'r..n, iriÍâme calumnia, replica'o principe; mas elle quer
mór, acrba tlc clccrctlrr que a cloutrina dl Companhia de Je-
q,r. prr" exempio mostreis que vos quereis iustiíicar'' "Vai
sus é a tla Egreia Catholica, c que tudo quanto se cliz con-
tra este Institrrto Ú nlcrit calttnlnia''
àn ü.* n'isto o bem do vosso histttuto, accrescenta o du-
que tle Feria, que não po<ierá não se resentir.do descon-
A turba aclmitte esta supposicão c por toda a parte se re-
pete que os Jestritas sío itrqtlisitlorcs' Os 'lesr:itas deixarn
tlntamento que o Rei se iulga obrigado a simular''
oQuanto á Companhia, e para o bem da sua tranquillidade,
iallarr'e as obras de S lirancisco dc Ilor)a sÍo clcnr'rnciadas
diz ã sancto Jesuita, não ha nada que eu não faça e vou já
ao Sancto Officio e contlcrnnadlts'
escrever ao Reir. E com effeito escreveur mâsr com a pressa
Com razão se atln:ira o pictloso auctor de '1ue a Inquisi-
a sua condernnacáo, po- de obectrecer ao Papa e ao Padre Geral, parte sem esperar
ção tenha demoraclo tilntos annos o consentimento clo Soberano, a quem simplesmente annun-
rem mostram'lhe os livros, irpontitm lhe uns os erros que
ciava a sua partida immediata. Filippe mostrou-se irritado
elles realmente conteem, por -ilmâ razáo muito sin-rples:
com este procedimento, e não faltou quem lh'o representasse
aquellas duas obras tiniram si<1o nlaliciosamente alteraclas e
faisificadas; e o Sanct,: O{ficio pronunciou o seu iuizo sôbre
,r*à fugicla e persua<lisse ao Rei que os Jesuitas esta-
"o*o
vâm entregue. á F.*nçu em prejuizo de Hespanha' D' Filippe
os exemplares que lhe apresentaram'
acreditou*e íez vivas exprobraçóes á Companhia' Ora suc-
Os inimigos da Companhia nem com isto desanimam'
ce<leu que ao mesmo tempo a !'rança exprobrava aos Jesui-
Está reconhecido que os Jcsuitas nem são inquisidnres nem
hereges, rnas é preciso fazetr os passar por conspiradores de
tu. u ,uo excessiva afÍêiçáo á Llespanha enl preiuizo clo
reino christianissimo.
primeila ordem.
Philippe II durante a sua demora nos Paizes-Bairos, en- A r9 de Agosto de r559 passou á outra vida Paulo IV' O
 88
conclave reune-se, as intrigâs das diversas potencias ata-
cam-no e dividem-no : o mundo catholico espera com an-
ciedade, e se aterra com uma prolongacão, que parece in-
terminavel. O Cardeai Othon Truschez, Bispo de Ausgburg,
deseja consultar o Geral dos Jesuitas, e charna-o á sua pre-
senca. Ao verem o sabio e piedoso Laynes, os Cardeaes que
o admiraram no Concilio de Trento olham uns para os
outros e mutuamente se aclivinham : todos teem o mesmo
pensamento, todos desel'am fazer cair a escolha do Conclave
sobre o humilcle religioso. O Conclave applaude este pen-
samento e vai clar-lhe execr-rcáo I porém de repente lem-
bram-se que um uso) que não póde ser derogado sem gra-
ves difÊculdades, quer que o Papa seja escolhido entre os
membros clo Sacro Collegio. Então todos os vcrtos que se
tinham inclinaclo para o Geral da Companhiâ de Jesus se
reunem no Cardeâl Meclici, que toma o nome de Pio IV.
II
Íls tres primeiros annos do governo de I-aynes estavâm
U p."rr., a expirar e, como Paulo IV tinha exprimiclo o de-
seio de que o generalato não t'osse alim do triennio, o Ge-
rai julgou dever declarar a l)io IV e á Companhia que es-
tava resolvido a rcsignar o seu cargo. l)'esta arte fazia acto
de submissão á Sancta Só, e ao nlesmo tempo provocava
uma solucão definitiva sotrre a duração do generalato.
Pio IV não acceitou esta demissão, e os Assistentes das
Provincias tambem a recusaraml porém Laynes, querendo
que a coisa Íicasse muito claramente resolvidâ para o fu-
turo, ordenou a todos os Professos da Ordem, em virtude
da sancta obediencia, que dessem a sua opinião por escripto,
e accrescentou que elle encarregava uma commissão de to-
mar conhecfmento d'estas opinióes, e de as recolher I pois
que guanto a si não queria saber outra coisa senão o resul-
tado.
89
Todos sem excepção pediram que o generalato fosse
perpetuo) e o Paclre Bobadilla, que estava em Ragusa, enviou
â sua resposta ao proprio [,aynes, a qual por sua singulari-
dade rnerece seI citada: «Quanto ao gener.rlato, o meu pa-
recer é que, coníorme o que as Constituicóes ordenam, deve
ser perpetuo e vitaiicio: que elle seia de tal sorte estavel
em \rossas mãos, que o conserveis ainda cem annos e que,
se depois. da vossa morte âcontecer resuscitardes, ainda o
meu parecer é gue vol-o restituam, e que o conserveis até
ao dia do Juizo, e vos supplico pelo amor de Jesus Christo
que conserveis o vosso cargo com paz'e alegria. Estes sen-
timentos) que terrho gravados profundamente em n"reu cora-
ção, os escrevo n'esta carta, e assigno de proprio punho esta
declaração ad perpetrtam rei mernoriam'r.
D'este modo o Summo Pontifice tinha declarado que o
cargo devia ser vitalicio, e a Companhia o declarava tam-
bem por unanimidade I Laynes teve que continuar no sett
posto.
Pio IV amava ternâmente a Companhia de Jesus, a qual
elle considerava como uma grande gloria para a Egreia, e se
comprazia de mostrar-lhe enl toLla'a oL-casiáo sua alta pro-
tecçáo e affecto paternal.
Como as casas e collegios clos Jesuitas, se multiplicavam
sem cessãr por solicitação dos Soberanos e dos Prelados,
surgiam frequentemente difficuldades da parte clas outras
Ordens, por causâ da distancia que devia mediar entre cada
fundaçáo religiosa, a quai distancia devia ser de cento e qua-
renta varas. Ora Pio IV fez unra excepção a favor da Com-
panhia de Jesus, dando-lhe por uma Bulla de I3 de Al'rril de
r56r faculdade para se estabelecer e alargar sem receio de
se renovarem as perseguiçóes que tinha soffrido em Sara-
goç4.
Laynes supplicou tambem ao Papa que isentasse a Conr-
panhia da dependencia das Universidades, e Pio IV, por uma
Bulla de r9 de Agosto de r56r, concedeu faculdade perpetua
ao Geral da Companhia de Jesus para conferir por si ou

--
-:)t'
por selrs delegados aos lteligiosos da Sua Ordem e aos
ulu*rro. dos sÃs collegios, os gráos 'Je bacharel, licenciado,
mestre em artes, e doutor, ficando todavia os estudantes ricos
obrigados a pagar ás Universidades a propina estnbelecicla
pârâ estes diversos gráos. Esta llulla, cuin necessitlade era
incontestavel, devia irritar as Universidadesr augmentâr e
perpetuar os seus sentimentos l'Iostis á Companhia de Jesus'
Entretanto os Jesuitas ganl-ravam terreno em França; os'
Calvinistas, tendo-se afoitaclo com â morte de Flenriqr-re 1I,
chegaram a Penetrar em todos os grandes corpos do Estatlo,
enr todas as classes da Sociedatle e ate nas Orclens monâs-
ticas: por toda a parte contavan-r arleptos e por toda a .uitu. .e úi.rn á,-,"i., como attesta a historia, os Calvinis-
nârte tinllam feito ,ieplorri'eis estragos.
' Á vista d'esta contristadora apostasia vieram muitos Bis-
pos a entender qtle o unico nreio de suspender os progres-
ios da helesia, era chrttnar os Jesuitas em soccorro de suas
dioceses.
I
Roberto de Pellcvil, l)ispo de Pamiers, escreve ao Padre
Ir Laynes, expóc-lhe o estado ,:las provincias do meio dia da
Fránça, e lhe supplica clue ll're er-rvie ali4uns de seus religio-
I
sosl pede-1he sobre tutlo o l)irJrc liclnrundo Auger, persua-
diclo que este obtelii rcsultitdos rtlrlis promptos que outros
pela razão de suas qualitlltlcs itttritctivlts. Os Calvinistas sa'
Lendo que os Jesuitas estío ir cheg;lr', it:sultam publicarr:cnte
o Prelaào que os charnott, c l{obcrto cle l)allcvé rerira-se de
Pamiers para se strlltrahir Ílos seus atuques; dc sorte que os
Padres apresentanclo-se nn citliltle no mez de outubro de
1553
acham-se sem asylo, sem recursos e sem protecção' Elles
eram tres, Pelletier, lidmundo Auger e João Roger: os quaes
apesar d'aquelle tlesamparo) apesâr dos sectarios que os in-
.ol,u- e lúes chamam papistas, só respondem que smpre fi-
zeram da de<licação á Sé Apostolica a sua gloria, e decla-
ram-se prolnptos a sustentar e defender os direitos d'esta,
qu* nào vieram senão para isso. A curiosidacle está exci-
"tada: elles pregam, a sua convicção communica-se ás almas,
os catholicàs iepellem as obieccões dos hereges, e a fé re-
9r
nasce viva e íorte na ciclade de Pamiers O l3ispo
qucr tcl'
elle,se Íuncla' con-
alli um Collegio da Companhia e, apenas
correm os estudantes em grande numero' O condado
cle
noi, e a.poi, restituicio á Egreia pelo zelo iníatigavel d'cs-
tes apostolos, que não conhecem repouso'
D'alli são chàmados a Tolosa, aônde o Pacire Pelletier
vai só prégar fazendo tão numerosas conquis-
"" â quaresma)
,"a ,oI-,r" he.".io, que os predicadores abandonam o oPa-
logar, O Cardeal Tournon chamava ao mesmo tempo
die Etlmunlto ao Delphinado, d'onde 46 s5116prlo da sua
paiavra fugiu logo a heresia' Por tocia a parte onde os Je-
tas tornavam â entrar no gremio da Egrela, os seus livros
eram queimados) e seus preáicaclores via.m-se obrigados
a fu-
discipulos de Sancto Ignacio eram ainda pouco
gir. Poiém os
ãr*".ou"a em França, e não podiam estar em tocla a parte
ao mesmo tempo. Em Paris, como os protestaÍItes se sen-
tiam apoiaclos pelo principe de Condé, por muitos mem-
bros do parlarnento e peios paítidârios que contavam nâ
Universitlade, tinham'se tornado exigentes, e conleÇâ\iam
a qlrerer tratar com a côrte de potencia a potencia' Já que-
.iÀ t., plena liber<lade de propaganda e cie culto, pediam
templos e sabia-se quer se fosse preciso, não duvidariam
toffiar as armâs pâra levarem por lorca o que lhes era re-
cusado. [.Jma vez que os Principes se serviam d'elles como
de instrun.rento pàlitico (Francisco I tinha-os empregado
contra Carlos V, e este ultimo servira-se d'elles cootra os
Papas), irão podiam os hereies duvidar da sua força'
A.côrte procurava compôr-se com elles, mas estava longe
r1e querer satisfazer-lhes todas as exigencias Elles tinhanr
tido conferencias em Allemanha, e pediam-nas tamhem em
França, por ser este o nreio de lazer que seu§ oradores fos-
.a* o,rril'lou peios maiores personagens) e pelos mais sa-
bios cloutores câtholicos, esperanclo tl'esta sorte ganhar al-
guns rl'elles. Esta concessão, obtiveram-na e a conÍbrcncilt
Í-bi in«ticada em Poissy para o dia 3r cle Julho tle r56r'
 1)?
O Papa clue via com perril cslirs nssr:urlrlúas sernpre in-
fructuosas, c desejava que se esperasse,r ils tlccisõcs supre-
mas do Concilio de Trento, orclcnou uo gcl'ill da Compa-
nhia de Jesus que fosse áquella conÍ'ercncia, c sc houvesse
de modo que ella, terminasse o mais deprcssa possivel. lls-
perava elle tambem que a presenca clo gleral erlr l)aris podia
apressar o negocio da aclmissão da Companhia n'aquella
diocese. Laynes deu o cargo de Vigario geral a !'rancisco
de Boria, que havia pouco, chegára â Roma e possuia a
conÍiança da Côrte romana, e do Cardeal Borromeu, sobri-
nho do Papa, e depois acompanl-rado do Padre Polanco par-
tiu com o Cardeal Hippolito d'Este, que tambem ia á Con-
íerencia de Poissy.
III
tr luta continuava entre a côrte e os Jesuitas de uma parte,
ll e a Universirlade, o llispo de Paris, e o parlamento da
outrâ sem nenhum resultadol porquanto a côrte renovava
as suâs ordens ao parlamento para a confirmação das let-
tras patentes que o rci tirrha concerlido aos Jesr.ritas) e o
parlamento repetia suas representaçóes em contrario, de
modo que o negocio estava scnrpre pcndente, e não atlian-
tava nem um só passo.
Depois da morte de Ilenriclue II, o Paclre Poncio Cogor-
dan tinha instaclo conr (lrtl'rarir.ra de Médicis para que op-
puzesse um diqr-re ás torrentes cla heresia obriganclo o par-
lamento a receber os .lesuitas. A Ilainha conhecia todos os
perigos das circumstancia's do Estado, e tinha prornettido a
sua auctoridade e proteccão, porque via a indifferença de
uma parte do Clero em frente dos progressos crescentes do
Calvinismo.
A rz de Fevereiro de 156o expediu-se nova ordem ao
parlamento para que registasse as lettrâs patentes de Hen-
rique II que dormiam no archivo, havia oito annosl porém
o parlamento ainda esta yez re§iste. A z5 de Abril do anno
93
seguinte o rei Francis;o Ii expede-lhe novas lettras paten-
tes com ordem de as registar sem embargo dos protestos
d'este tribunal e do Bispo de Paris: mâs o parlarrento res-
ponde sirnplesrnente que cornirrunicará estas lettras e os
estatutos do collegio Cos Jesuitas ao Bispo de Paris, e por
sua parte Eustaquio de Bellay submette-os ás quatro facul-
dades da Universidade, o que era de an:bas as partes mos-
trar uma vontade decidida de não ceder nem á mesma au-
toridade real. Com eflêito as quatro Íàculciades resolvem
que os Jesuitas são inadrnissiveis, porque esta Ordem goza
d'uns privilegios exorbitantes cie prégar, não tem nenhu-
mas praticas particulares que a distingam cios leiglos e dos
homens ordinarios, nem é approvada por Concilio algurn
universal ou provincial.
Estes motivos, como se vê, não eram mais que uma ca-
viilação: mas assinr mesmo os Jesuitas, paÍa remoyerem tocla
a difÊculdade, dirigem ao Rei um requerimento, no qual rle-
claram não qr,rerer usar rJos seus priviiegios senão no que
elles teem de conforme com as leis do reino e com as da
trgreja em Franca, e se obrigam a renunciar a todos os
mais. Com isto já Eustaquio de Beliay não tinha nacia que
obiectar, e estavâ prompto a ceder, quqndo lhe vem ao pen-
samento exigir clos Padres uma nova condição: os .lesuitas
renunciarão a ter o nome de Jesuitas, e a dar á sua Socie-
rlade o nome c1e Jesus. Tambem não poderão .ser conside-
rados como Ordem Religiosa na diocese de paris, mas cle-
verão sómente dizer.se membros c1e uma scciedade ou dé
uma companhia. O parlamento adoptou todas estas reser-
vas, e não cedia á vontade do Rei senão conr estas condi-
çóes.
Entretanto falleceu Francisco IIl como Carlos IX era me-
nor, a Rainha mãe tomou a regenciâ. O padre Cogordan
reduplicou as sLlas instancias na presenca da regente e clo
seu consell"ro. O novo rei deu então ordem ao parlamento
para admittir os Jesuitas ou fazer conhecer os motrvos da
sua recusa dentro do praso de quirrze dias. O parlan.rento

_,9r+
não poilia já agora recuar, e o seu primeiro presidente,
Cil
Le úaitre,'íazãndo cornparecer perânte o tribunal o Paclre
Poncio Cogordan, dirigiu-lhe esta pergunta:
Dizei-nos, homens novos, com que meios haveis cle viver
a cari-
n'estes tempos calamitosos eln que se tem esfriado
dade de muitos?
De muitos, sim, responde o Padre Co5;ordan: cle todos'
náo. O Senhor não recusará nunca o necessario aos
pobres
po-
que o servem com piedade e rectidáo; quer elies seiam
bres por sua eleiçáor quer por necessidade'
Bnião o presidánte io, li, o decreto da Sorbona, parat-rilo
a cada phráse para perguntar ao Padre o que tem
elle a res-
ponder: mas Poncio Cogordan fallou. táo eloquentemente'
-" dos
p"tar-rtaou com tanta ànergia os planos- e projectos
.uluir'ri.tr. em toclo este negocio e o vinculo que existe en-
tre elles e a universiLlitcle para cada qual chegar ao seu Iim,
que mttitos mcmbros tlo tritrunal acabaram por confessar
qu" o .ie.."t,-, ó Í'util e crroneo. O negocio é por fim remet-
ticlo aos EstaLlos gcracs ou ao futuro Concilio nâcional'
Por este ta*1.o n nobrezir dc Auvergne solicitava a fun-
dação dos Jesuiias em totlas as cidadesclaprovincian'estes
termos: nSe o rei não clller que toda a provincia de Au-
a Com-
vergne se faça heretica, ó r-rrgcnte uclnrittir em Franca
panhia de Jesus,.
Entretanto o Concilio nacional abriu-se no clia asignalado
no real mosteiro rlos l)ominicanos cle Poissy, e loi presi-
cliclo pelo Cardeal tle Tournon, assistinclo a Rainha regentet
o R.i e toda a côrtc. Tomaram parte os Carcleaes cle Ar-
magnac, cle Bcurbot-t, de I-orena, de Chatillon, e de G'-risa'
qrí"nr" Arcebispos ou Bispos e um grande numero <1e
,iorto..r. O Calvinismo delegou a este illustre congresso
os seus mais íamosos ministros apoiados pelo rei de Na-
varra e principe de Conclê, ambos em pessoa'
Po,rcos <iias depois da sua entrada no Synodo a z5 de Se-
tembro, I-aynes prolundamente afflicto por causa das blas-
phemias, que Pedro Nlartyr acabava de scltirr na assembiéa,
r )J
ern presença da Rainha e de um Rei menor, pronunciou urn
discurso fulminante, sobre o perigo de taes conferencias.
Dirigia-se o orador singularmente á Rainha, que as havia
concedido a rogo dos here;'es, e ponderava-lhe a inconve-
niencia d'este genero de ciiscussão no momento, em que o
Concilio de Trento, convocado pelo Sumnro pontifice, ia
clecidir com auctoridade suprema todas estas questóes,
I-aynes fez córar o aposrara, c1'ramanrlo-lhe Frei Martyr, e
de monstrou a necessidade de não admittir.a estas reunióes
senão sómente os theologos: «e com isto, accrescentou o
intrepido Padre, até se poupaya a Vossa Majestade, e a es-
tes muito respeitaveis Senhores o enÍàdo d'estas discussóes
longas e complicadas». Ora isto era dizer clararnente a Ca-
tharina de À,lódicis, que a sua presencâ, e a do Rei eram
bem escusadas alli. Nunca a Rainha tinha ouvido quem
ihe fallasse com tanta forca e iiberdade apostolica. A sua
aÍtitude e physionomia davam testemunho de suas impres-
sóes, e as lagrirnas correram-lhe pelas faces, bem a seu pe-
sar, talvez; mâs o Padre Laynes não se abalou com isso, e
quando no dia seguinte o Principe de Conclé, que muito o
âmâva, lhe disse: .Mer,r Padre, sabeis que a Rainha está des-
contente de'vós e que chorou?»-«Conheco, ha muito tempo,
Catharina de Medicis, respon<leu-lhe Laynes, sorrindol é
uma grande comica, mas não temais, que a mim não me en-
ganará r.
A Rainha, o Rei e os fidalgos da côrte não tornaram a
apparecer nas confereniias, e estas encerraram-se com uma
formula dg fé sobre a Sagrada Iiucharistia, que os prores-
tantes deviam assignar como os catholicos, pois se trnham
obrigado a isso; rnas, quando chegou a occasião, todos se
recusaram, e o Syr-rodo foi dissolvido a r4 cle outubro.
Alguns dias antes, a 3o de setembro, Calvino inlormarlo
cle tudo o que se passâya na conÍ'erencia de poissy, escrevia
rt-um tle seus correligionarios: "T'rabalhai por livrar o pliz
d'estes zelosos velhacos, que com seus discursos exhortarn os
povos â se colligareú contra nos. dcnegrindo o nosso pr.()- i
t
 1Í;
cedimento e alcunhando cle delirios ils llossas crenças' Taes
monstros clevem ser aniqrrilados, como etr Íiz aqui tirando
a vida ao hespanhol Miguel Servet"
lI sabido que Miguel Servet lbi queinraclo vivo por or-
tlem de Callino. Tai era fzi desdc então â tolerancia
tl'aquelles que estão sempre â âccusar os Catholicos tle in-
rolerancia: mas não sabia Calvino que, por un'l 'lcstritir que
elle queimasse) apresentavam-se logo dez, a continuar o seLl
apostolado e a peiiir tão g,ioriosa morte'
O Padre Laynes prolongou a sua estada em Paris na in-
tenção de combater n'esta cidade o Calvinismo com as suâs
prégações e com a inlluencla que tinha aciquirido nâ côrte'
Oslerejes pediam terrplos e o conselho real hesitava en'r
lh'os concetleri então I-aynes «iirigiu á Rainha umâ merlo-
ria sobre esta matcria, ponderando-lhe tão bem os perigos
d'esta concessão para a l:igreia e paÍâ a segurança do Es-
tado, que ella se rerrclcu lis suas razões, e não concedeu fa-
culdade parâ se erigircnr tcnrplos protestantes'
A esta recusa succecleu ir cot-tspiracão de Amboise' Os he-
rejes, conhecenclo a suâ Íbrçir1 não c"uvidaram desr:nasca-
rar-se. e tomaram as armas collll'n tl auctoridade real, ani-
mados ccm o bom exito r'la inslrrrcicão na Aiiemanha' Ii
não se enganâram em lilancirr lorquc parlt lhes fazer lar-
gr, ,, nrriru,houve a fraqr'rczil tic cctlcr ii 51111 xrrogiltlcial
não tarclou o arrepcntlirtrctlto' corlro tinha previsto
forém
à principe de Con<le. Receoso ilos males itrcalculaveis, que
e.iu diui.ão «Jos espiritos prcl)flrava h !'rança, consultava
Condé ao Padre l-ayr-res sobt'c os meios que se deviam to-
mar para os preueni.; rras o Pacire insistia que o unico efficaz
àrr,ru..* de novo os I-lerejes no seio cia Egreja, e que
"r"
para isto era necessario que seus chefes e doutot'es fossem
re-
ao Concilio Ecumenico, que elles mesmos tanto tinham
depois de concedido' Se elles
clamaclo, e recusavam agora
fossem ao Concilio com boa fé, sairiam d'elle convencidos
di-
de seus g1v65. «Eu só para ver esta união tãro desejada,
ao principe, sacrificaria mil'vidas' se
zia o Padre Laynes
97
tântas tivesse. Entretanto reabria-se o Concilio de Trento,
a I de Janeiro de r562, e os prelados presentes reclamarram
a Sciencia, a logica e a eloquencia do Pa,lre l-a1'nes.
0 PapA ordenou então âo Jesuita que sem tiemora cedesse
ao desejo do Concilio, e os legados da Sancta Sé, para lhe
accelerarem a ;'ornada, mandam preparar-ll're mudas de ca-
vallos. l-aynes chegou â Trento no mez de Àgosto de r562,
e logo que se apresentou nâ augusta asser»lrlc.a, os carcleaes
legados designam-lhe o logar, ântes cl()s gcracs rlas or.deirs
religiosas. O hr-rmilde Jesuita inclina-sc nrodcstirLrcntc, c
toma o ultimo loearl os Prelaclos insistcur; nris I -aynes
percebe o desagrado cle tal clistir-rcçãr>, rus íilcir.irs rios gc-
raes e supplica aos legados cluc o rlcixcnr rro sr:rr logirr; u()on-
juro a Vossas !lminencias quc nÍo irrsistuur, e riuc r.csl'e ircur
a antiguiciade das or:trirs Ortlcrrs, supplicir l,ir_\.ncs,. ,,Sc rr<is
cedessemos /r hun'rilrlatic clc Vossu lteverencia, re[)]icanr os
legados, ella podcria iazer lei na jerarchia para o iuturo, e
nós não pociemos acceittrl.a; mas parâ conciliar tudo resoi-
vemos que Vossa Reverencia tonre logar na bancada dos
Bispos".
Uma tal homenagem feira ri scier-rcia, talento e virtude do
geral da Companhia por pârte dos legados da Sancta Sé, e
com assentimento de todo o Episcopado, devia suscitar
contra a Companhia outras emulacóes; porque o hornenr
é sernpre homem, e qualquer que seja aliás o seu mereci-
mento, se a humildade não está na base e na corôa cle to-
das as suas virtudesr rnal poderá resistir á miseria dos ciu-
mes, sobretudo quando elies se cobrem com a honra da
corporaçáo.
Com effeito as Ordens monasticas reciamaranr, como an-
tigas, sendo a Companhia de Jesus tão üoya na.Egreja;e o
Concilio viu-se obrigado a tractar d'esta quesrão de prece-
dencia,
Publicou portanto um diploma, no qual expunha es!e ne-
gocio, attribuindo a origem d,estas contestacóes 1is instau-
cias dos Carcleaes iegados, e íallaya da Companhia de Je-
HISTORIÀ DÀ C. DE J,
7
 98 99
com grandis- quente e nunca a sua logica tinha parecido mais vigorosa.
sus n'estes termos: «Esta Companhia que iá
os trabalhos uma mul- No fim do seu discurso ouviu-se um murmurio de admira-
.i*o fa* das aimas abre para scus
obra cão: Venceu todas as dilliculdades, diziarn uns : dissipou
f)eus a
,iJao a. reinos christáos e pagãos, protegendo
todas as duvidas, sem deixar logar a replicas, diziam outros.
que eiia tem comecado ' ' ' '
As felicitaçóes assaltaram-o de todas as partes, e o seu
S. Carlos Borromeu escrevia aos Oartleaes reunidos
em
nJulgo superfluo expôr as razóes que, movem o triumpho foi com.plerol porém a Providencia preparava-lhe
Trento:
que ella outro, que devia tambem reflectir-se sobre toda a Compa-
Summo Pontifice a amar a Companhia, e a deseiar
provincias catholicas' Visto que nhia. O legado presidenre do Concilio, o Cardeal Hercules
áh, .ntrrd, em todas as
Pon- Gonzaga, vendo-se perigosamente enfermo, ped'e a assisten-
faz guerra aos 'Iesuitas, deseja o Sun-rmo
em França se
iaça cia do Padre Laynes, e as suâs éxhortacóes e consolacóes
.iÀ." qrá o Concilio, quando trâctar <los Regulares' que o aiudem a bem morrerl e effectivamente o padre foi
*."çaà honrosa cla Companhia para â recontmendar»'
para se confortal-o ás portas da eternidade: mas esta preferencia
No Concilio os oradores fallavam do seu logar'
exterlor) tao ne- <lada ao Jesuita sobre todos os principes da Egreja reuni-
evitar o movimento e conservâr o socego
reunióes: porém quando o geral da nidos em Trento erâ um testemunho de tão alta estima
cessario n'estas graves
de jes.,s teve cle fallar na discussão sobre a para toda a Companhia, que os inimigos e os emulos dos
Con-rpanhia
mandaram Jesuitas se julgaram offendidos, e ainda mais se obstinaram
À[issa, os Cartleaes legaclos, a rogos clos Bispos'
para que nenhum perdesse nem em arruinar o credito d'estes religiosos, parâ conforn:e a
pôr um pulpito para ellc,
Foi outra nrortiÊcaçáo para recommendacão do apostata Sarpi, arruinarem a propria
i,-" .ó pntni., cl'o seu cliscurso'
e Lay- Roma,
a humilciade do Jesuita, mrs os legados ordenavam
O Concilio, alem de ter dado luz sobre todas as questóes
nes teve cle obedecer.
e com- que the foram submettidas, tambem se tinhrr occuparlo das
Era elle rle compleição clebil, seu rosto macilento
priào inai.ur" ,oÁl.inltnto; slru tcstir Írt1n:1:
c larga' seu causas do mal que affiigia a Egreia. Reconhecendo que es-
seus r'rlhos vivos c brilhirntes annun- tâs causas eram principalmente a ignorancia e a immorali-
irariz muito aquilino,
a tloçura do dade de uma pârte do Clero e das Ordens monasticas, ti-
ciavam o homóm de estudo c rrltrr ir-rtclligcncia;
o soccÍjo c a modestia nha decidido que o melhor rernedio para este grande mal
seu olhar, a hondade cio sctt sorrir,
cotlliarrca, c Ílrziam an-rar n'elle o era preparar geracóes christás, por meio de um bom sys-
do seu porte inspiravam
o religioso' tema de educação. A maioria dos bispos pedia que os se-
homem e
prepa.rado para elle' todos minarios e os collegios da Companhia de Jesus se multipli-
Quan<lo subiü a este pulpito cassern por toda a parte, e o conde de Luna, allemão e em-
n'estc Jcsuita, cu)a apparencia era tão
o. àlho. se fitaram
e cu)a larma era europêa' Laynes não se baixador de Philippe II, consultado pelos prelados sobre os
oobre e humilcle,
vinha procurar no melo meios mais proprios para melhorar a Allemanha e a llespa-
nbulout a unica gloria que elle
personaS;ens mais illustres nha, respondeu: «l\{eios, não conheco senão dois: Formar
d'esta assemblóa. compoita clos
sabios, era a gloria de Deus' e o unlco bons prégadores e propagar a Companhia de Jesus». A
e dos homens n-rais
Fallou por es- mesma resposta deram outros embaixadores.
itir-pfr" qr-re an.rbicionava era o da Egreia'a.assembléapen- O Concilio de Trento encerrou as suas sessóes a 4 de
pnço à. duàs horas e meia, e teve.sempre
mostrado mais elo- l)ezembro de r563.
àerrtu de seus labios: nunca se tinha

IV
fRANcrsco de Beaurnont, barão dos Adrets, aclrantlo
[,loot.ina de Calvino mais commoda que a da Iigreia,
stra ruoral mais conforrne coú) seus gostos e paixóes que
do Evangelho, tinha-se feito calvinista, e percorria o Del'
phinado á frente de alguns milhares de camponezes fana-
tizados pelos ministros de Calvino, lançando fogo ás egre-'
jas, perseguindo os catholicos, matando-os sem piedade,.
saqueando as cidades, assolando os camposr e levando tudo
a ferro e fogo. Era o terror e o flagello das provincias do'
sul.
Urn dia pára o sanguinario barão no meio das espanto-
sas ruinas que fàzial reune os seus soldaclos, faz-1hes uma
falla e ordena-lhcs que se precipitem sobre Valence, pro-
rnettendo-lhes Llrr'ra recoÍtrlpensa digna da sua ferocidade:
um Jesuita. .4. este nome cle Jesuita, aquelia soldadesca
embriagacla de furor, solta rugidos cle alegria, e marcha so-
bre Valence.
Lamothe-Gondrin, logar-tcnente Lla provincia, avisado
d'esta rnarcha, acode a toda a Pres§a para delender a ci-
dade; mas inutilmente. Valence ó invaclida, o logar-tenente
rende-se prisioneiro, com prome§§a da vicla e i perÍida-
rnente degollado. li'alta agora achar o Jesuita promettido á
quadrilha cleshurnana. t-á antla elle no campo de carnificina,
inclina<io sobre os feridos e moribundos, a consolal-os no
extremo transe : ó o born Padre Edrnundo Auger, cuio nome
é conhecido e venerado em todo o Delphinado. Os solda-
«1os iam |á atirar-se a elle e rnatal-o sem piedade, quando
os ministros calvinistas gritararn de longe: oParae; um Je-
suita não merece morte tão honrosa: só a forca é digna
rl'eller. Os protestantes applaudern a lembranca, e fazem re-
iumbar as ruas da cidade coÍn os gritos. nA forca o Jesuita!
o Jesuita á forca!, Os soldados apoderam-se da victima,
Iançam-ihe a corda ao pescoço, e levam-na ao logar usado
IoI
para sr.lpplicio dos criminosos. O bom Padre llclmundo, crttn«r
lhe chamavam os catholicos, em nada se mostrava alterrttlo,
antes com passo firme, ar humilde e digno caminhava part
tr .a morte conservando em seu rosto uma serenidacle ange'
e lica. Chegado ao logar da execução, sobe logo ao cadafalso,
a. estende um olhar doce e moclesto pela multidão sacrilega
que the deseja a morte, levanta depois para o céo os olhos
com uma inefÍàvel expressão de alegria e depois fitanclo-os
de novo na multidão falla'lhe com o accento de. um en-
viado do céo; rende o seu ultirno testenrunho á verda-
cle, compadece-se das almas que abandonaram a verda-
deira Egreja, manifesta uma sarcta alegria por aquella morte
de que se iulgava indigno e felicita-se de soffrer aquelle sup-
plicio ignominioso por uma causa sancta á qual consagrou
toda a sua vida. Seu ar inspirado, a uncção da voz, a subli-
midade cla linguagem, inquietou os ministros de Calvino,
e tanto mais que a multidáo começa a commover-se e a
desercão póde ser consideravel' Pelo contrario que trium-
pho não seria para a reforma, se em logar de íazer morre[
o Jesuita, chegasselq aÍazel'o apostâtar! trsta idéa parece
luminosa, e Pedro Viret, um dos seus predicantes, vai a
toila a pressa ter com o barão dos Adrets, e pede-llae que
mande suspender a execucão do Jesuita. O terrivel hugue-
note franze as sobrancelhasr sem responder palavra. Viret
insiste, dizendo que só pede tempo para discutir com o
condemnado alguns pontos de doutrina e confundil-o pu-
blicarnente. E com effeito, Pedro Viret volta ao logar da
execução, faz descer o bom Padre da forca, e enche-o de ca-
ricias e de ameaças, de lisonjas e de discursos, sern nada
poupar para o vencerl porém o Padre Edmundo fica inven-
civel. Concedemo-vos a vida até ámanhã' diz um dos apos-
tatas, e talvez tomeis melhor conselho. E com isto encer-
ram o angelico Padre Edmundo em uma das enxovias re-
servadas parâ os mais perigosos malfeitores. No dia se-
guinte correm freneticamente á prisão... mas acham-oa
vazia. Deus tinha recusado ao seu joven apostolo a corôa
 to-2
dos martyres, facilitando aos catholicos de Valence os
meios de penetrâr de noite na prisão e tirar d'ella o seu muito
amado Padre.
Alguns dias depois o padre Edmundo estava em Auver_
gne, prégava publicamente em Clermontr pâssâva depois a
e de lá a Issoire para despertar a fé nos coracóes ca_
fio.1r
tholicos, e preserval-os do contagio da heresia. D,alli foi
chamado pelo mârechal de Vieilleville, e cabido da cathe-
dral de.I_ eão, para esta cidade, onde o culto catholico pa_
recia abolido para sempre pela cruel tyramnia dos prote.tan-
tes.
O Padre Edmundo chegando a Leão Í\o Ínez de Julho de
r563 encontrou-se com o padre possevino, que tambem
fôra chamado em soccorro dos catholicos. Ambos os pa_
dres foram ameacados de morte, mâs nem um nem outro
a temeram, antes vieranr allrontar.se com ella para defen_
derem a fé da Egreja.
Prégaram pois na cidacle com procligioso lructo e todas
as ovelhas extraviaclas voltaranr ao aprisco, totlos os espi-
ritos rimidos cobram alento, ccssarâlr toclas as hesitaçõàs,
resolveram-se to<.las as duvidas, a cidade mudou inteira-
mente, o culto catholico foi restabclccitlo, e os nomes t.los
dois apostolos eram repetidos com vcneração c br:nçrÍos.
Mas eis que de repente a peste que assolava l lilrnça, ls_
salta esta cidade com grande violencia, e alvorotir os seus
habitantes. Fugiram todos os que tinham algr-rns meios c Íi-
caram só os doentes e os pobres.
0 Padre Possevino acabava cle partir para Avinhão e íi-
cava Edmr.rndo Auger sósinho a luctar com este terr.ivel Íla_
gello. Levado da sua caridade vai de porta em porta curando
os doentes, consolando.os, fortiÍicando.os, distribuinclo-
lhes esmolas e fazendo bem a todos, assistido n'este peri-
goso apostolado unicamente pelo sacerdote que lhe clava
hospedirgem, Andrc Am1 ot.
Ditãcilmente acreditariamos que dois homens potJessem
bastar para este trabalho heroico, se a historiâ cle Leão, es_
I O^)
cripta pelo senhor Rubys, não referisse as partictrlirli(lir(les
da sua admiravel dedicação durante o tempo qttc lavrtrtr <>
contagio. Os historia<iores affirtnam que o numerÔ dos nlor-
tos chegou a sessenta mil, e que foi tal o terror, que nerll it
palavrâ do táo amado Jesuita po,lia já reanimar os espl1i165.
Auger appellou então pâra o céo, fazendo a Nossa Senhora
{o Puy em Vellay um voto solemne em nome da ciclatle de
Ipeão, e quiz a bondade divina que a peste cessasse logo as
fuas assolaçóes.
a Puy o voto da cidade, e depôl'a aos
i O Padre foi levar
lpés da Miie de Deus. Os L.on"r., quizeram tamberr mos-
/i.u. o..o agradecimento ao dedicado religioso.'lendo elle
lvoltado do Puy a Leão, foram procural-o os vereadores
da
i cidade, e apresentando'lhe uuras châves em uma salva de
prata) o presidenter tomando a palavra, lhe clisse: «&Ieu
itu,Ir., ot I-eonezes, penetrados de gratidáo pelo bem espi-
ritual que lhes tendes feito, e por vossa heroica detlicação
durante a peste, da qual nos livrastes, rogam a Vossa Re-
verencia que acceite o Collegio ila Trindade: o Senhor Ar-
cebispo une-sê a nós para d'elle fazer doacão á Companhia
ile Jesus, á qual pertencerá e cu)a direcção terá d'ora ávânte"'
.Eu o acceito em nome da Con-rpanhia, t'esponcie o Pa-
dre Edmundo, qtle dias antes lôra nomeado provincial da
Guyenne, acceito-o de bom grado e com reconhecimento,
mâs com a condição de que tambem os Calvinistas pode-
rão enviar seus Íilhos a este Collegio, que e propriedad'e
publica, e que se ll-res assegure no acto da doacão este di-
reito como o tinham no tempo passado e sem retribuição
tla sua parter. Os protestantes teriam prescindiclo hem d'esta
clausula em sell favor; pois que n'ella náo viam senão um
ârgumento formidavel contra sir porque etn suâs aulas a
instrucção estavâ longe de ser gratuita.
O llagello que deixarâ de assolar â cidade de Leão tinhLr
atravessado a de Paris, e levado um dos primeiros conlPit-
nheiros de Sancto Ignacio de l-oyola, Paschasio llrootr (ltrc
esmerando-se em cuidar dos empestados, tinha encontril(l()
 1o4
a morte n'este exercicio de caridade. Em toda parte onde
apparecia o medorÍho flagello da epidemia, todos fugiam
acceleradamente, porém os Jesuitas acudiam com um zelô,
um esquecimento de si mesmos e uma effusão de terna cir-
riciade, que só um grande amor de Deus podia inspirar.
Por toda â parte onde o povo recebia os doces e consolà-
dores effeitos da sua presenca dLlrante o contagio, perdianl
os herejes todas as suas conquistas, e logo que o flagello s{
afastava, o povo não tinha mais que uma voz para sollicitarl
a Íundação de urna casa cla Ordem á qual devia táo bons\
serviços, e ao pâsso que as universidades faziam causa com- \
mure com a heresia'para repellir a Companhia de Jesus, os \
bispos, os magistrados, a nobreza e o povo a chamavam \
com todo o empenho. Muitos dos seus collegios em França, \
na Belqica, nas provincias rhenanas e em outras partes não i
l
tiveram outra r:rigem senão a dedicacão heroica clos Padres /
em todo o tempo da peste que percorreu entáo grande;
I parte da Europa, e fez innumeraveis victimas em todas as
ft
classes da sociedade.
I V
I l
i o seu sangue por elles, senão tambem porque talvez só pe-
i quem por ignoranciar.
Ev l)olonia o celebrê Padre Cunisio acabava cle alcançar 6
L mais brilhunte victorin sohre a heresia em presença do
1 llei Segisrnundo, e de sun côrte na ciieta convocada om
Petriskarvl a qunl assembléa, assim como as precetlentes,
i
tinha sido peclida pelos protestantes, mas sómente serqira
para patentear a sua má fó, e fazer triumphar de novó as
dourinas cla Egreja. Depois do encerramento da dieta Pe-
dro Canisio passou rl Augsburgo para alli continuar;a lll-
ctâ contra os inimigos da fé. Um d'elles, Estevam Agricola,
discipulo e amigo de Melanchton, deseiou ver e pratitar em
pârticular aquelie humilde religioso, que soberanos'e prin-
cipes pediam á porfia, que bispos e cardeaes consulta-
yam, e que a côrte pontificia honrava com a sua confianÇa.
ro5
O Padre Canisio recebeu-o com aQuella doce caridade e hu-
mildade simples e digna com que a todos encantavar e o
hereje acabou por abrir"lhe a sua alma, comrnunicar'-lheas
suas duviclas e recolher suas'clecisóes; mas sem o perceber
foi.se affeiçoando de tal sorte á sua direcção, que pouco de-
pois se conÍ'essava drscipulo e amigo d'este Jesuita, do qual
iinha sido adversario fogosor Esta conversão levou a affiic-
ção ao campo dos Lutheranos, os quaes iuraram que ha-
viam de vingar-se de Canisio c da Companhia de Jesus, por
lhes fâzerem uma táo preciosa conquista. A este respeito
escrevia o Pàdre Canisio ao Padre L,aynes: «Bemdicto seia
o Senhor que quer illusrar os seus servos por meio do odio
que lhes votâm os hereies em Polonia, Bohcmia e Allema-
nha. Com as calumuias ntroze§ que ospalham contra mim
pretendem elles tirar-nre uma reputaçío que err de nenhum
modo deseio defender, e 0 mesmâ honra fitzem a todos os
outros PadreÍir e talvez não tarclará que passem clas amea'
praza
çâs aos golpes e ás nrais crueis consequencias: mâs
ao céo que quânto mais elles procuram desacreditar-nos,
tântb mâior caridade lhes mostremos. São nossos inimigos,
ma§ não deixam de ser nossos irmãos;e por isso devemos
amal-os, não sóntente por amor de Jesus Christo, que deu
No clia seguinte áquelle em que o Padre Canisio escreveu
estas regrâs, a 'dieta de Augsbourg abriu as suas sessões,
ás quaes elle assistiu como theologaI do imperador. De lá,
a rogos do Cardeal Osio, legado da Sancta Sé, foi acompa-
nhal-o a Vienna, e alli o encarregaram de agenciar a recon-
ciliação do Imperio com a Côrte româna.
Dopois d'esta pacificação foi ver o duque de Baviera, que
muito lhe pediu esta entievista e o queria demorar na sua
côrte, mas o padre voltou a Augsbourg, com bem pouca
<lemora, porque, a pedido do. governador da Suabia, foi le-
var áquella proÍincia o soccôrro da sua poderosa palavra.
Cariisio percorreu a Suabia em todos os §entidos: prégando
 .y
rob
nas cidades e nas aldeias, visitando os mais pobres logares
e reanimando a fé em todos os coraçóes.
Na sua volta a Augsbourg o Bispo Othon Truschez en-
tregou á Companhia de Jesus, nas mãos do padre, a direc-
ção da Universidade de Dilinga, consignando na acta da
doação estas palavras : «O que particuiarmente me moveu
a esta boa obra foi a estreita uniáo c[ue, ha muito tempo,
me liga com o padre Pedro Canisio, doutor táo celebre por
suaeminente piedade, rara doutrina e fructo incrivel que tem
colhido na minha ciclade, e diocese de Augsbourg, iá na con-
versão dos herejes, já na conserr.ação cia fé entre os catho-
iicos e em fim em toda a sorte de boas obras, a que se tem
applicaclo continuamente com um trâbalho infatigavel e con-r
um successo que não se póde assás admirarr.
Emquanto a Compânhia cle .Jesus rebatia com tanta van-
I
tagem os esforços tla hcresirr em toda a Europâ, muitos de
I seus membros se clerlicavanr secretamente e com perigo de
virla a soccorrcr os catholicos tlc Irlanda. Alguns penetra-
1'am nâ propria Inglaterra, ora c()mo bofarinheiros, orâ com
oulros disfârces, e sempre com a ccrteza cie serem entre-
gu€s âos algozes de Izabel, se fosscn"r reconhecidos por âpos-
I tolos de Jesus Christo.
) Os herejes, como temos dito, tinham juratlo vingar-se
não sómente de Pedro Canisio, mas de toda a Cornpanhia I
)
porque em toda â parte oncle elles se apresentavanr acha-
vam sempre um Jesuita prestes a combater seus erros, â
ârrancar-lhes suas presas e a servir tle baluarte aos catho-
licos hesitantes. Os protestantes contândo com as uttiver-
l sidades, e com os membros ílangrenados do clero, não es-
peravam iá senão uma occasião'qualquer para tentarem ou-
i
trâ vez a destruição da Companhia de Jesus; e essa occa-
ti sião não tardou em apresentar-se.
O cardeal Carlos Borromeu, sobrinho do Papa, tinha-se
posto detraixo da direccão dos Jesuitas e feito os exercicios.
espirituaes, com tanto proveito que desde entáo corria a
passos de gigante no caminho cla perfeição. Não era neces-
t07
sario mais áqueiles a quem o inferno tinha escolhiclo para
seus instrumentos. Faz-se correr o boato que os Jesuitas
queriam attrahir o cardeal á Companhia com o fim de se
apoderarem não somente de sua pessoa, senão tambem de
süas riquezas. Pareceu necessario advertir o Papa d'esta
sorte de armadilha, e achou-se um bispo assás ingenuo
para dar credito a esta imputação, e tão pouco prudente
que consentisse em a repetir ao Summo Pontifice, como
coisa averiguada e segura.
Pio IV que âmava ternamente o cardeal Borron:eu, e de-
sejava tel.o perto de si e conserval-o no sacro-collegio, aba-
iou-se com tal noticia e levou o seu <iesgosto ate fallar da
ingratidão de uma Ordem á qual tantos favores tinha li'be-
ralizado. Era aoncie o inferno queria chegar. Ir:rdisposto as-
sim o Papa contra â Conrpanhia, tudo se podirr temer e
bastava sâber explorar este descontentameuto.
Então se repetiram todas as velhas calumnias espalhadas
contra o instituto clesde o principio, e tântas vezes refuta-
das; mas vinham accrescentadas âgora com outras e tão
infames, que espanta como achararn echo no interior do
Vaticano.
Emquanto d'est'arte o demonio peconhentava os espi-
ritos, estava doente o padre Laynes; porém, apenas cobrou
algum folego, foi ter com o Surnmo Fontifice e ihe demons-
trou o absurdo de tâes calumnias. O Papa temia a inÍluen-
cia do Padre Ribeira sobre o car<ieal Borromeu; mas o
Padre Ribeira recebeu ordem de pârtir para as Indias, e
com alegria partiu para esta missão, tão fecunda em mar-
tyrios. Quanto ao extremo Í'ervor do cardeal, a verdade era
que logo desde o primeiro dia tinham os Jesuitas procurado
moderal-o? sobretudo no que dizia respeito ás austeridades
corporaes, e nenhum tinha procurado nunca attrahil-o á
Companhia de Jesus. .Demaisr accrescentou Laynes, não e
de admirar que nós tenhamos por inimigos os inimigos da
Sancta Egreja, porque elles a.'atacam sem cessar, e nósnão
nos cançamos de a defender; elies procuram derribar a

roE
auctoridade da Sancta-Sé, e nós empregamos todo o nosso
zelo em a sllstentâr; elles esforcanl-se por alterar e enfra-
quecer a fé nas almas, e nós trallaiharnos de dia e de noite
em a .eanin-,u., e conservar em toda ir sua pureza' Que admira
pois que os hereies se liguem com os profess-ores de Roma
pnru ,o. perclerem e <lcstrrtircn'r rr ()ompanhia?' Pio IV con-
vencido lacilnrente pola lingtrrrgenr simples e digna do padre
geral, tornotl c,,, ,i ,io dcscolltclltilnlclllo que manifestára de
ter l,restr,lu ottvi,.los :titrtllt tlttc f)or tllll srj instante a taes ca-
lunrnias, c etr reparaçío clignotr-so visitnr toclas as casas da
Companhia em ltoma e conÍiar'll-rc o seulitrario clue acabava
de funclar. E aincla fez mais, pois encarregou o cardeal Sa-
lelli de citarao seu tribunal o bispo que propagára âs accu-
sâçóes odiosas inventacias contra a Companhia' O prelado
tentou justificâr-se âpresentando testen-runhas; mâs estas
não eram mais que uns iovens clespedidos da Conrpanhia ou
dos seus collegios, que não puiieram adduzir prova nenhunra
de seus aleivà e acabaram com umâ retractação formal'
Corria profusâmente tlerramado em Italia, Bohemia e em
todos os esta,los allemães um escripto calumnioso inspirado
pelo ortio á Companhia de Jesus: Inas o auctor d'este in-
iame libello loi conclemnaclo a uma longa prisão, e o Summo
Pontifice escreveu ao imperador Maximiliano a z9
temtrro cle r564 um Breve no qual se queixa amargamente
cie que este libelio cli{famatorio circulasse no
imperio da Alle-
Italia, e informa o Soberano das providencias
-..tl-r, a em
que se tomaram para conhecer a verdade e confundir
innocencia não podia ser mais
Iumniadores. O triumpho da
completo.
VI
Xavier
rtes Indias e no Japão continuavam os sucessores de
apostolo'
fl ^ .o,-rqui.ta espiritual comecada pelo sancto campo
dia alargava o seu
O christianismo Prosperâva, e cacla
já bem regado com sangue de martyres' À ilha de
r,r9
era toda christã ; e ao norte de Goa os povos clo interior ti-
nhanr solicitado n-rissionarios e pedido o baptismo: em Tana
haviam os neopl"rytos construitlo uma ciilade tocia de chris-
táos, e ern Cuman e<liÍisaram um collegio'
'lambem os na-
tr.re, ,ln ilha cle Ciorano pediam missionarios con: vivas
instancias, mâs os padres não podiam nruitiplicar-set e tat-
davam em corresponiler aos «lesejos ardentes d'estes chris-
tãos. Um dia o porto cle Goa achou'se entulhado com uma
multiclío de baicas ir-rdianas, carregadas de homens, mulhe-
res e creanças, que em altos gritos pediam <lsbons padres:
erâ a povoâção de Ciorano, que chegava em tropel para
ouvir prégar o Evangelho e pedir o baptismo'
Os i:aJegás renovavarn as suas irrupcóes nqs costas da
Pescaria, e conti.ruavr- a clespoiar os Paravás, e n'uma d'es-
tâs correrias encontranclo-se corlr o Padre Nlesquittr apocle-
ram-se d'elle e âtravessam-l1o com as Ianças, matando á
sua vista uma pârte dos clrristtios' (iraçtrs a Deus, todos
aquelles generosos neophytos acceitaram a morte com re-
signação,- perlindo a ultima trenção ao seu pae em Jesus
Christo.
A iiha Moro tinha sido Íon.rada pelo rei tle Gilolo, que
<te
natla queria <la religião christã, e os Moroteses, faltando-
thes o seu missionario, vierarn a faltar na fé: rnas o Padre João
de Se-
da Beira pârtiu para Amboino a chamar os portufJuezes em
soccorro dos christãos do Moro. Os portuguezes correm á
emprezâ, tomam a ilha e prendem o rei de Giiolo, e iam
os ca-
casligar os Mot'oteses pela cob'ardia com que se entrega-
vam áquelie principe iníiel; porérn o Paclre João da Beira
declarou-se logo seu protector e pae, e obteveJhes o per-
r1ão, firzendo nascer o arrependimento em sua alrnas' O Pa-
dre Affonso de Castro evângelizára as l'Iolucas por espaço
de nove aÍInos com grandes fructos para a gloria de Deus,
e chegava a converter o rei de Bachiano com todos os seus
subclitosl porém os Sarracenos, furiosos com os progressos
da religião christã na suâ vizinhilnca, levaram o missiona-
rio, reduziran-no ao mais duro captiveiro e por íim matu-
Ceiláo

ram-no ern fins de.laneiro de 1558 em lres, perto de Ter-
nate, por ordern do seu sultão Babú.
Nas ilhas Celébes, onde os missionarios tinham sido vi-
vamente desejados, já o Padre Nlagrlhães baptizara o
rei e mil e quinhentos de seu subditos' Tambem o rei da
ilha <le Siáo ao norte das Celébes quiz tomar conhecimento
cla religião que inspirava taes apostolos) e converteu-se com
o ,.u pouo. Nas ilhas de Sonda os Jesuitas tinham achailo
,lo meirrro rnodo coraçóes fervorosos para se submetterem
ao iugo do Evangelho: o rei de Banca déra o exemplo e os
povol seg.liratr'no: nas Calamianas, perto das Philipinast
à itn, A" l)ivaran pediu padres da Companhia de Jesus, e
a oito rie Agosto cle r56o, mil e duzento§ e sete infieis so'
licitaçam â Srilça clo haPtismo'
Muitos nrlssionarios tinham ido ao Japão coadjuvar os
-l'ol'res e .loão Fernanrles' Os soberanos
padres Cosme tlc
à'ar," ,^rro irrpcrio traziam entre si uma guerrâ encarni-
cada, e o. bo,rzirs irritailos com os successos tlos
missiona-
â entreter a discor-
,io, cle lrovocar Sllerra,
dia,
"aarru.onr-nos
e preparar os espiritos pitra a rr:ina <1o imperio' Assim
imprrniram aos Jesuitas os crimes tlc c1r-re elles sós eram cul-
puàor, tâctica aleivosa c1r'tc o dcnronio inspirava aos he'
rejes na Europa e â[íorâ pâssavl aos Íiclltios. tlo Jrrpão'
A cidade de At-nangrrchi tirllra siclo tomircla cluirs vezes e
entregue ás chammas: a de liucheo ostavt inundtrda de
*ung.á, o reino cle liiran'-lo achava-se clilaceraclo pelas fac-
prestes a rebentar em Fucata'
çõe!, e a insurreiçíro estava
onde os bonzos, repelliclos por toda a parte com perdas, fo-
ex-
ram mais felizes enr suas o<liosas calumnias, chegando a
l
de lhe asseverarem
i citar o povo contra os Jesuitaso á força
I que toáas aquellas calamidacles eram causadas pelos bon-
á casa dos
zos christãos' A multitláo correu então á egre)a e
missionarios, e lhes lançou fogo no mez de Abril de r559;
Gago assim como os Ir-
mas os padres Villela e Baithasar
ertuvam felizmente ao abrigo d'este furor popular'
^ãos
Havia muito tempo que os habitantes do monte Iesan ti-
III
nham pedido padres christãos, e os padres Villela e Baltha-
sar Gago tinham parrido parâ estâ missão. Alli, rapada a
barba e os cabellos, vestiram-se com o trajo de bonzos, e
tomaiam pâssagem n'um navio que fazia á vela para Sacai.
No mar alto fbi o navio salteado por uma calmaria pôdre,
e os marinheiros tendo facilmente descoberto que levavam
missionarios a bordo e persuadindo-se que a.pr,esenca d'el_
les irritava os deuses do Japão, lallavam de nada rnenos que
de lancar ao mar os sacerdotes christãos, causa d,esta triste
deionga. Começaram por insr:trtar, espancar e maltractar de
todos os modos aquelles veneraveis apostolos, e acabariam
por tirar-lhes a vida, se Deus não acudisse, fazenclo cessar
a calmaria e levando o navio ao porto ileseiaclo.
Os padres dirigiram-se logo para o monte Iesan, onde
apenâs espalharam a semente evangelica, viram-n,a iogo
fructificar abundanternente; e brevemente a foram levar a
outra parte e tomaram a derrota de Macau,
O Padre Villela apresentou-se ao Cubo-Sama, e lhe pe-
diu a permissão de annunciar publicamente a grandes e pe-
\uenos o Nome de Jesus, unicà Senhor Supreto do Céo e
da.terral obtêm o que deseja, e á maneira do sanctoapos-
tolo do Oriente com o seu crucifixo na mão percorre as
ruas da cidade prégando um só Deus. A multidão segue-o,
escuta-o com respeito e docilidade. Os bonzos irritam-se e
insultam o missionario; mas urn grande fidalgo da çôrte,
valido clo imperador, tomâ os Jesuitas debaixo da sua pro_
teccão, e concilia-lhes a estima do soberano, o qual, pelo
des.ejo de tornar a ver o paclre Villela, o mandou vir a pa_
lacio.
O padre Villela era simples, modesto, de uma mansidão
ex-trema, e de um espirito muito amavel, e com estas qua-
lidades cleixou o imperador tão encantâdo da sua conver_
sacão, que logo mandou por um decreto a todos os seus sub-
ditos, que respeitassem os bonzos christãos, que de tão
longe correram a trazer-lhes a verdade.
Com este apoio, entregaram-se os padres ao seu zelo,
 r r2 lll
dos padre e irmão que o acompanhavam, parâ um deserto no
prcgando com o exemplo e con'r a palavra' tractando qual não podiam con:municar com ninguem fóra dos linri-
e con-
pobres e doente§ com esmolas e hospital, servindo-os tes assignalados, nem receber cârtas, nem escrevel-as; era
que' por d-esconhecida dos
loúnao-o., com umâ dedicaçíro mais que desterro, era um sequestro.
e cle sympathia Muitos bon-
J;;;"., os enchia <1e espanto
taes vir- Entretanto os padres de Gôa, não recebendo novas algu-
,o'. qrrír"rr- conhecer uma Religião que produzia mas de seus irmãos d'Abysinia, e sabendo que o Suitão
povo irnitou os bonzos'
rudes, e abraçaram-a com íervor I o Adamar perseguia os christãos, enviaranr um Jesuita á pro-
padre Villela fundar em lVleaco
p"r.. tempo pôde o
cura d'elles, mas este tbi preso pelos Sarracenos e vendido
"-uã
,]-" .'or^ da Companhia de Jesus' Foi depois evangelizar a
k-lram prodigiosos' por escrâ\'o.
cidade de Sacai, oncle os seus sllccessos D'este modo, sem ter pÇSi<lo entrar na sua sé, morria err
de r56z um numero consideravel de
e deixou desde o anno
Gôa a zz de Dezembro de r56r o Padre Nunes Bârreto, que
christãos'Corren<loest'lresmoanno,converteu-seorei havia seis annos fôra norneado patriarcha de Ethiopia. An-
do pa-
Sumitanda, pelas pr"égaçóes e ministerio
i" ó.r.,,r.r,
de tal sorte admirava a Religião dré d'Ovieclo era o designado para lhe succe<ler no cârgo
J."ior.... Este principe
e poderes, mas foi bem difficil chegar aonde elle estava
qra n anui,ar'n " '"" officiaes no meio dos cam- para lhe levar esta noticia. Que podia elle a favor clo des_
"tri.ra, lado o ir-
pos, aonde a guerra o tinha arrastado' Por outro gracado rebanho? Era o seu primeiro pastor e pael pela sua
com
tao Lui, de Almeida converteu o rei de Arima a
os salvacão daria todo o seu sangue : mas era-lhe rmpossivel
maior parte cie seus estados' Em summa, lamentavam-se ultrapassar os limites que seus algozes lhe marcavam e
vasto campo e
missionarios de r-rão poderem acudir a tão guardzrvam com a mais rigorosa vigilancia. Entretanto ia
cada um dos parlres sollicitava o prolincial' Para que en-
os fructos cle tão rica messe' occupando o seu zelo, fazendo-se amar dos negros, traba_
,i"*." opar.rios, a recolher
Brasil' A San- lhando pela salvacão de suas almas,
missóes do
Assim prospcravam lun'ibcm as
bisprltlo, o llumcro dosrnissiontlrios Quando o Summo PontiÍice soube do martyrio a que es_
cta Se tiÀa creaclo um
tava condemnado o Padre Oviedo, julgou que seus talentos
augmentarlo cor-rsidcrilvclmcn(e' c toclos
estavân-I
tinha e zelo seriam mal;a utilmente empregados em outra pârte
cheios de esPeranÇa, (luilnto ao futut'o
do christianisrno
e lhe ordenou que logo se passasse á Cl-rina ou ao Jàpão.
n'estâs regióes bellas c ricls'
lJem ten' Náo sabia Pio lV em qlre exrrema miseria viviam os des-
Não davã a Africa resultadr-rs tão consoladores' terrados do deserto africano I ignorava as privacões que
na Ethiopial mas o in-rpe-
tára Anclré d'Ovie<to penetrar alli soíIiiarn, nem podia imaginar que estes heroes da fé
radorClaudiorreceosocleil'ritarosseussubditos'pro- cârecessem de pão e de roupa. Para responcler ao Summo
a dar secreta-
llibiu-o de prégar, e o missionario limitava-se do seu Pontifice viu,se obrigado o patriarcha Andre d,Oviedo a
as consoiacóes
rnente aos iatholicos os soccorros e ârrancar do breviario o pouco de papel branco que em al_
*irri.r.rio. Pouco clepois Claudio íoi morto em uma bata-
principe cruel e ini- gumas foliras d'elle pôde encontrar, e n,estes pedacinhos
ihr, ,.,-, irmão e successor Adamar'
" presença do Jesuita' de folhas tracou com iapis as regras seguintes: «Sanctissimo
;ü. ã". câtholicos,. informado <1a
a cabeca com o Padre, eu não vejo nenhum meio de fugirl os mahometa-
rnindo.,-o vir e por si mesmo ihe fenderia
a suspender o nos cercam-nos de todas as partes, e ainda ultimamente
;;";rr"g", ,. não interviesse a imperatliz unctamente com o mataram ur,r dos nossos, André Galdames; mas quaesquer
g,olpe. O àa.potu mandou:o desterrar f
IIISTORIÂ DA C. DE J.
 LÍ4
que sejam as tribulaÇóes que nos cercam, eu Por minha
parte tenho grandes deseios de ficar n'este solo ingrato
por Jesus Christo''
- padecer*e talvez morrer
parlr
os Jesuitas, ou os fazia vi-
E,mquanto a Ethiopia matava
ver ern uma agonia peior que a morte, chamavam-os a
Cafraria, e thes fazia entrever uma messe preciosa' O rei
<le Tonge, por nome Gamba, vendo que seu filho depois
de uma longa ausencia voltava muito outro do que tinha
partido, não tartlou em conhecer que tal mudança devia-se
ã fe qr. elle abraçára' Foi pois em pessoa a Moçambique, e
vendo alli homens atlmiraveis pela sua sciencia e virtudet
sabenclo que por toda a parte oncle estes homens faziam co-
nhecer e prâcticâr a sr.ra Religião, os povos se tornavam
mansos e faceis de governar, e os soberanos mais amigos
de seus povos, quiz conhecer esta Religião, admirou-a, e
sem demora pecliu o baptismo e se fez christão' Gamba,
maravilhado da narrlçÍo de seu filho, envia um embaixa-
dor a Gôa para pedir .lesuitasl e obtem os paclres Gonçalo
da Silveira, Andró Iicrnlntlcs, c Costa, os quaes chegaram
ao seu <Iestino no mez dc Mtlrço do anno de r56o, e foram
recebidos pelo rei com (otlas as tlcmonstracóes de respeito
e alegria, Começaram logo os rrrissionarios a prégar com
tal successo, que o paclrc ()oncillo cla Silveira, para e§ten-
der mais ao longe suas crlntluistlts, tlcixott entre os Mosa-
rangos o padre Fernantles c o patlrc Oosta' e partiu com
um irmão para Monomotllpa. Chefiado cm Dezembro de
r56o, apr:esenta-se ao rei, nrostra-lhe uma imagem da San-
ctissima Virgem, e lhe fuz presente d'ellal e vinte e cinco dias
depois o rei, a rainha e trezentos dos principaes persona-
gens da terra pedem o baptismo. O padre Silveira reco-
nh.." ,o íervor dos principes e dos Elrandes em se submet-
terem á lei cio E,vangelho um effeito da bondade e poder
de Maria e thes concede a grâça tão ardentemente solici-
tada,
Irritado Satanaz com esta derrota, moveu os mouros a
procurarem o rei, e persuadiram-no que está debaixo do
r 15
influxo d'um magico, e que se pediu o baptismo, não foi
por um acto da sua propria vontade, rnas por effeito do
sortilegio empreeado pelo missionario. 0 rei perturba_se
com a idea da influencia do padre Silveira sobie elle e so-
'bre todos os christãos, e não podendo comprehendel-a,
en_
t-l.gr-.-" á desconfiança, e permitte aos musulmanos que
disponham á sua vontade do feiticeiro europeu. O sanito
Jesuita é advertido a ternpo de que os inÊeis viráo assal-
tal-o no meio da noite; mas elle, longe de fugir á morte-
reveste-se corn a sua alva, accende duas velasl colloca nJ
meio o crucifixo, ajoelha, e prepara-se para appârecer eleante
de Deus, esperando pelos seus inimigos. pela meia noite,
não vendo vir os algozes, sae da sua habitaçáo, para lhei
ir ao encontro, mas não os vendo em nenhuma parte, volta
a sua casa e comeca â passar pelo somno quando de re-
pente é despertado pelos fanaticos musulmanàs, que á voz
.do seu chefe Macruma, se lancam a elle. Os desgraçados
passando uma corda ao pescoço do sancto estranguliram_no,
.atam depois uma pedra á corda do supplicio e lançam
o
corpo do martyr no rio Mosengessem. Era r6 de Maiço de
rJ6r. O rnesmo genero de morte soffreram depois do mis-
-sionario cincoenta neophytos.
Não tardou o fraco rei em arrepender-se de sua culpa, e
.querendo vingar a morte do padre Gonçalo
da Silveira,
mandou mâtar todos os Sarracenos de seus Estados.
O Padre Costc seguiu de perto o mârtyr <tre Monomo_
tapa, porque uma febre perniciosa o roubou aos seus neo_
phytos, dos quaes era muito amado, e o padre Fernandes,
tendo resistido á mesma doença, ficou só para esta chris_
tandade, que infelizmente veio a fenecer, porque o rei de_
pressa se deixou ârrastar de suas paixóes, os grandes se_
guiram-lhe o exemplo, e o povo, jutgando_se J,.rt" ,o.t"
f
{i
auctorizado a sacudir o jugo, que o continha no clever, não
ricu mais attencão ét voz do padre Fernandes. O missiona-
il
rirr, nÍn rlr.rcrenclo ser testemunha das clesordens, que
iri ní<r
porlia irnpcrlir, voltou para as Intlias.
Ç
 I16
I'{'este tempo o sutrtão de Angola recebeu, com prazer}
quâtro padres da Companhiâ, que tinha pedido, e lhe eranr
áp"esentados pelo ernbaixador de Portugal, Paulo Dias rle
Novaes. O principe desejou logo que Francisco de Gouveia,
superior da Missão, se encarregasse da educaçáo do seu fi-
trho, o que o padre acceitou para bem do christianismo.
Assirn começa1'a esta rnissão a prodr-rzir bons fructos'
quando algurnas novas conquistas dos Portuguezes nas cos-
tas vizinhas lançaram a desconfianca no espirito do soberano"
Os musulmanos aproveitararn-se logo d'esta disposição para
the persuadir que os missionarios não eram verdadeiramente
senão uns agentes secretos do rei de Portueal, e que den-
tro de pouco tempo o reino de Angola não seria mais que
uma colonia portugueza. Não foi necessario mais para ac-
cender a pcrseguição contÍa os Jesuitas. O embaixador'
Faulo Dias aconscllrou-lhes que fu6;issem e levassem â outra
pârte o seu zclo e clctlicação. uNem todos os povos africa-
nos, obsclvrit'a o crrbaixador, são tão suspeitosos como ort
Angolas, c iii qrrc vt.rsso nlinisterio n'estas terras está d'ora'
em deanto con(lcnltlll(lo it ttnla longa esterilidade, ide reco-
lher mais fructo cur orr(ros l'lstatlos dâ costa»'
.,Mas, senhor, resp<lntlc o pittlrc (iouvcilr, sc o soldado não'
raciocina sobre a oltctlicrlcia s«'r conr o íinr tle merecer a
estima de seus chclcs, c<ltn tllitior t'azl-to nós christãos, sa-
cerdotres e rcligiosos tlcvct.t-tos tlar cxetlrplo de obedioncia
a Deus c a nossos supcriorcs. l'{ossos supcriorcs assigna-
râm-nos este posto c tr'cllc Íicrtrcmos com perigo da nossa
vida, em quanto não tivcrnros recebido ordem de o dei-
Xa!')r.
E os heroicos missionarios deixam'se ficar no meio d'es-
tes povos barbaros, recebendo d'elles os mais indignos tra-
ctos-, soffrendo toda a sorte de privaçóes, supportando
to-
dos os generos de pa«lecimentos, com toda a paciencia e"
rnansitlão.
No Egypto os .Iesuitas não eram rnais felizes' O patriar-
chu de íl"randria, querendo teotâr a reunião dos Cophtas
rt7
com a Egreia romanar tinha pedído ao Summo Pontiíicc
em r56o que enviasse missionarios, cuia sciencia podesse
reduzir os espiritos desencaminhados. O Papa dirigira-se ao
padre Laynes, o qual lhe apresentou Christovam Rodrigues,
e João Baptista Eliano. Deu'lhes Pio IV o titulo e os Po-
deres de legados apostolicos, e no mez de Novembro de
r56r chegaram a Memphis, residencia do Patriarcha. Entra-
ram logo os legaclos em conferencia com os mais sábios
dos Cophtas, mas estes, presentindo sua derrota inevitavel,
amotinam o povo conrâ os enviados da Sancta Sé; e fazem
que elles sejam perseguidos nas ruas, insultados, ameâça-
dos não só pelos scismaticos, rnas tambem pelos iudeus
que com gosto ajudam o furor popular. Os dois Jesuitas,
tiveram apenas tempo de resgatar á pressa alguns christãos
que alli acharam captivos, e embarcararn corn elles para vol-
tar a Roma.
Quanto á China não podia a Companhia de .lesus esque-
cer os ultimos desejos e as ultimas oraçóes do seu illus-
tre Xavier por aquelle imperio, e fiada na protecçáo do
grande apostolo do Oriente, propoz-se, a todo o custo, fa-
zer abrir aquellas portas ao Evangelho.
trm r556 o Padre Melchior Nunes penetrou ern Cantão,
e comecou a explicar aos mandarins a Religião de Jesus
Christo, e preparar o caminho para urÍia missão proxima.
Em r563 o Rei de Portugal executando o pensamento de
S. Francisco Xavier enviou ao Imperador da China uma
embaixada carregada de ricos presentes. Faziam parte d'ella
tres padres Jesuitas : mas não lhes foi permittido ficar de-
pois da partida do embaixador, e muito menos ainda en-
l_ sinar uma Religião nova. Não era chegada ainda a hora da
Providencia; mas virá um pouco mais tarde, e os padres
esperam-na com todo o seu zelo. Entretanto a saude do
I:'aclrc l-aynes, geral da Companhia, havia-se extenuado
corn o cxcessivo trabalho, e como só a sua intelligencia
conserv:rvâ torla a lucidez e vigor, via o bom padre com se-
renidadc l irproximaçÍo da morte.
 iit

Desde os prirneiros dias do mez deJanpiio$e_. 1565 uoi,',: i,

gmeotou a fraqueza de um mo{o sensivel, e a'r3 do rhQsmor.,;'..

mez expirou suavemente lançando um dsce-olhar parq q li
Padre Francisco de Bbrja, como qüem reconhecia nlelle,par' '
seu succes'§or. O Padre Laynes não tinha maií que cin'','..
coeÍltâ e tr@s annos e deixava a Companhia em estado flô:..'rr'
rentissimo e com um futuro muito risonho. Com vinte e
quatro ,anrlo$ de existencia, já ella contava cgnto e trinta
câsas e r.nais de.,tres mil e quinhentos membros. .'
 Generalato de S, Franeiseo d.e Borja
tereeiro geral
lf)66 -lí>VP
1;
--,j I
{ llo mesmo dia que se seguiu á morte de Laynes os pro'
:f N f"trot presentes em Roma nomearam vigarir geral, du-
x' rante a vacatura, ao Padre Francisco de Boria e convocaram
!t
para o dia zl de Junho cle r565 a corrgregaçáo para se ele-
ger o íuturo geral da Cor»panhia. IfÍI-ectivamente no dia z
de Julho, Íestu da Visitação, foi eleito e proclan'rado ter-
ceiro geral da Companhia de Jesus S. lirancisco de Boria'
Tinha o novo eleito cincoenta e cinco anuos de edade:
mas, pelas austeridades e trabalho) parecia iá um velho, sem
força senão na intelligencia e no coração. Quando the le-
ram o decreto que o proclamava g,eral <la Orclem, alterou-
se-lhe o semblante, os olhos arrâsaram-se-lhe de lagrimas,
Íicou mu<io e sen:l voz, como assombrado. Algumas horas
depois, quando os padres se dispunham para irem annun-
ciar ao Summo Pontifice a escolha da congregação, liran-
cisco de Borl'a, levantando para o céo os oliros, exclamou:
«A cruz sempre eu a tenho deseiado, mas cruz tão pesada
como esta) nunca eu. esperei levar,. Quando Pio IV soube
d'esta eleiçãto disse aos padres que ihe levaram a nova:
nVossa congregação não podia fazer nada mais util ao bem
da Egreja, nem mais vantaioso ao vosso Instituto, nem
mais agradavel á Sé Apostolica: em todas as occasióes que
se apresentarem de favorecer-Yos, eu vo§ mostrarei quanto
estimo â digna escolha que Íizestesr.
Estas palavras alentaram o humilde geral a acceitar a
sua pesada cruz, nem tardou a sentir que Deus the dava
 l2(t Í21
forçns para a levar. Tambem o cardeal d,Augsburgo
não ,dinalato era precisamente o que tornava os Jesuitas tão for_
poude conrer a sua alegria quando soube da etãiçao
âo ea- midaveis: era â austeridade de seus costumes) â sanctidade
dre Francisco de Borja, e mandou cantar o Te Deunt
em de sua vida, o esplendor do seu talento, o seu zelo da re-
todas as egrejas da sua diocese para clar gracas a
Deus por forma do clero e da conservacão da Fé: mas o preiuizo cega
tão assignalada mercê. Os sobãranos unío*'_r" a esta ale-
gria da Egreja, pelo que o cardeal Osio man<iou dizer e a paixão'não cliscorre. Os proprios amigos d" Companhia
ao de Jesus assustaram-se com'estâ eleicão, recordando-se da
govo.geral: «Eu dou graças a Deus por ter provido as ne-
perseguicão suscitada contra ella pelo Dominicano Melchior
cessidades não sómente cla vossa sancta Companhia, ,Cano: uns e outros esperavâm anciosos
mas o seu triumpl.ro ou
tambem as da Egreja universal com a escolha de um
homem a sua derrota. Pio V não ignorava a disposiçío clos espiri_
collocado tão alto pela inteireza de sua vida, por sua
gra_ tos, ê sabia que se tinha espalhado o boirto rle que elle ia
vidade e. prudencia, cuja solicitucle proverá as necessidades
,destruir e aniquilar um Instituto rlue, corrl'orme cliziam os
de todas as_.Egrejas, velando para que não careçam ile
mi- apaixonados, era favorecido pelos l)apas com preiuizo das
nistros cla divina palavra distinctos entre todos não
*ano, "demais Ordens,
pela sanctidade de sua vicla que pela profun<lidade
de sua Ora no mesmo dia da ceremoniir cla sua exaltação o novo
sciencia. Como a minha diocese pnr..et., uma necessidade
Papa, indo á Basilica de S. João cle l,atrão cercado de todo
mais urgente que todas as ,lemais, é para mim um
mais instante enviar a V. Reverencia minhas felicitacóes
dever o esplenclor e tle toda a pompa que acompanha esta so-
e lemniclade, e levado no seu throno no meio dos cardeaes,
felicitar-me a mim mesmo; pela confiancu qra ,."tr" qua
pelos cuidados de V. Reverencia ,r.rn ,. out.", Eg.eirs, manda parar defronte da Casa prolessa dos Jesuitas. Era
nem a minha careceráo de operaiios fieis para trabalharna violar o ceremonial, e quebrar com um uso qlle tinha força
vinha do Senhor,. de lei, e dar um golpe de estado desconhecido na historia
,da Sancta Sé: mas o certo e que a majestosa procissáo
A 9 de l)ezembro de 1565 pio IV cleu o ultimo suspiro sus_
nos braços de S. Carlos Borromeu, seu sobrinho, assistido pende a sua marcha solemne, e a multidáo que eoche as
ruas e as pra.ças do seu itinerario, pergunta espantada qual
por S. Philippe Neryl e a 7 de Janeiro do anno seguinte
será a causa d'este acontçcimento ioaudito nos fastos ila ci_
succedeu-lhe o Cardeal Ghislieri, Dominicano, com o nome
dacle eterna. .. A praca do Gesúestavacheiarieespectado_
de Pio V.
Os adversarios da Companhia de Jesus regosijaram_se
resl o Papa signiÊca a sua vontade de fallar aD.Francisco
com esta eleição, que lhes pareceu um triumpÉo seu, e um
de Bor;'a; o geral da Companhia âpresenta-se deante do
presagio certo da destruicão <la Ordem que iniessantemente
throno portatil; o Papa abraca-o com bontlarle, falla-lhe em
perséguiam. Elles tinham manobrado com bastanre habili_ lo, 1Jl, dos serviços prestatlos á Egreja no mundo todo pe-
los Jilhos de Sancto lgnacio, tleclara-se sempre prompto a
dade para excitar uma especie de rivalidade entre os Domi_
ajudal-os em suas sanctas empresas, e conta ao* á .,r*
nicanos e os Jesuitas: e como julgavam tel-o conseguido,
perseverânçâ1 e tendo dito isto ordena que a procissão
esperavam agora que a elevação de um filho de S. Domin-
continue.
gos ao Summo Pontificado seria uma sentenca de morte
Os amigos e os inimigos da Companhia ficaram sabendo
para os filhos de Sancto Ignacio. Não se lemhravam elles
a que ater-se, porque o câracter de pio V, sua vontade sem_
que o que tinha levado o sancto religioso Ghislieri ao car_
pre inclinada ao bem e sua isenção de respeitos humanos
 Í22
eram assâz conhecidos. Elle tinha visto os Jesuitas no exer'
cicio de seus ministerios, e queria fazer d'elles seus ins-
trumentos para bem do catholicismo, e a fim de corlar
com as insinuaçóes ou queixas dos adversariosr guiz decla-
rar-se publicamente seu amigo e protector' F não tardou
em lhei tlar um testemuuho publico de sua alta confiançat
pedindo ao geral um prégaclor da Companhia, cpia scien-
i23
se apartou de Roma, não achou outra recompensa para of-
ferecer aos esforçados apostoios senão dizer a Francisco de
Borja, seu amigo: oSe apraz á divina Providencia provar
outrâ vez os Estados da Egreia com taes calamidades, vossa
heroica Companhia será a primeira que chamarei ao thea-
tro do perigolfaço.vos estâ promessa)r,
Pio V era não sómente um grande Papa, mas alem d'isso
'

um grande Sancto, que a Egreja collocou nos altares, e por

cia e sancti,lade pudessem recordar ao Papa e aos cardeae§
isso a promessa que elle acabava de lazer á Companhia de
os deveres impostos e as virtudes exigidas por suas emi-
Jesu§, era digna d'elle, assim como o era d'aquella Congre-
nentes dignidades. S. Francisco de Boria desigpou o Padre
gação.
Salmeiráã, e depois o Padre Toleto: que deixaram ambos
Sempre desvelado nas refonnas precisas ao clero, o papa
muito contentes o Papa e os cardeaesr e receberam teste-
munhos de sua satisfação' Outro Jesuita pediu Pio V para
nomeou ,quatro bispos de virtude eminente por visitadores
apostolicos das dioceses, situudas nos Esrados da Egreja,
prégador dos officiaes do palacio pontiÊcio'
' Clrrendo o anno de r566, uma doença contagiosa, de e lhes deu por adjunctos alguns padres Jesuitas, para os aju-
darem n'este negocio importirnte: e os sanctos religiosos
natureza «lesconhecida até entãor assolou a cidade de Roma,
desempenharam estn missfio com tal successo, que os bis-
atacanrlo os doentes com uma subita debilidade e matan-
pos de Italia rogaram ao Sunrmo PontiÍice que lhes en-
do-os quasi no mesmo instante' Como de ordinario acou-
viasse a todos visitadores Rpostolicos rscolhidos na Com-
t"c" ,rr. epirlemias mortaes, o terror paralysou a energia': panhia de Jesus.
cada um se encerrava em sua câsa, os doentes ficavam
a O Papa tractou logo de os sotisfâzer, e por sua ordem
abandonados, os pobres iá não tinham pão, e chanrando
fome que padeciam',-iam morrer no designou o geral alguns padres, e elles houveram-se tão
doença com a mesmâ
bem n'esta obra rão delicada e tío diflicí1, que os prelados
rneio das ruas e á porta dos ricos, que já se lhes não abriam'
se felicitavam de os ter chamado, e escreverâm a Roma que
Logo que appareceu esta aterradora calamidade, os Jesui-
elles íaziam prodigios e se fâziam amar e abençoar como
tâs correram eno soccorro do povo' Acostumados a expôr-se.
zelo enviados do Céo.
à todos os riscos, e a consumir a sua vida em obras de
alma' As tropâs de rerra e mar não.tinham cepellíes el1'ectivos, e
e caridarle, <ledicavam-se aos pobres com toda a sua
apenas alguns.sacerdotes seculares ou regulares se âpresen-
O padre geral assim como o ultimo irmão todos foram
de-
para lhe arrancar suas victimas' Correm ás tavam voluntâriamente a offerecer o seu ministerio ao exer-
.unu. o í1-agello,
necessa- cito em caso de guerra, mas não havia organização, que as-
ca§as a pedir aos ricos e aos grandes os §occorros
doe.ntes e os segurasse em todo o tempo aos militares o§ soccorros es-
rios aos pobres e pequenos; todos cuidavam dos
e abençoavam os rnoribundos: pir.ituaes: o Papa enca-rregou os Jesuitas de prover esta ne-
consolavam ou exhortavam,
cessidade.
nnrtrnante n'estas occasióes o que sempre tinhâm
"."*
sido em toda a parte nas tribulaçóes d'este genero:
verda' , Emfim a confiança que Piq V tinha na prudencia, nos ta-
caridade' lentos e no zelo dr.ls filhos de Sancto Ignacio manifestava"se
t!
l,
deiros
- heroes da
ó Éupu encantado com tal dedicação, logo que o flageilo em todas, as occasiões,

lq
í
t,
 t24
NÍo clesarmavam com isso os inimigos da Companhia, e
trabalhavam sempre na sombra esperando tempos mais fe-
lizes, nem por sua parte se desanimava a Companhia de
Jesus, confiada na promessa divina Íêita a seu Sancto Fun-
dador na egreja da Storta, onde lhe foi mostrado que ver.ia
sempre a cruz deante de si, mas que o seu Chefe soberano
lhe seria favoravel. Sabia pois que teria serrpre rnirrigos e
persegr-ridores, mas tâmbem sabia que triumpharia sempre,
e que muitas vezes até saberia obrigar seus inrmigos a
amal-a ate defentlel-a, e algumas vezes a passarem para as
suas fileiras.
II
ns mouros do reino de Granada tinham-se revoltado con-
[J tra Philippe II, rei<ie Hespanha e, como verdadeiros ma-
hometanos de coração, e só catholicos á forca, não cessa-
vam de conspirar contra o soberano de uma nação que seus
paes tinham vencido, e da qLraI queriam exterminar a cruz.
Os Jesuitas estabelecidos em .Alvezim 4".6. 1§*§g ti-
nharn-se applicado á conversão d'este povo, e começâvam a
recolher alguns fructo s dos seus trabalhos, quand o u m a nova
insurreição os obrigou a abandonar a sua residencia e re-
fugiar-se no centro da cidade de Granatla, onde continua-
ram o seu apostolaclo em favor dos musulmanos. A sua in-
fluencia não tardou em procluzir seus fructos; obtiveram
numerosas conversóes, e muitos neophytos d'estas raças
arâbes, cuja vida estava em seus thesouros, foram depôr
aos pés dos padres as riqr,rezas mal adquiridas, para que fi-
zessem a devida restituição.
,N'este estado se achavam as coisas, quando em r569 o
governo clescontente corn a disposiçáo dos espiritos, e re-
ceando um levantamento, entendeu que o preveniria to-
mando providencias severas.
Ordenou por decreto a todos os mouros que destruissem
seus banhos, que renunciassem á lingua arabe, e obrigas-
r2)
sem âs mulheres a usâr o traio hespanhol. Náo foi necessario
mais para fazer arrebentar a explosão que se temia. Os mou-
ros reunem-se nas montanhas, e precipitam-se armados so-
bre a cidade de Granada, que tomam de iL-nproviso aos gri-
tos de viva a liberdade ! viva Nlahometl Os Jesuitas em cas-
tigo do seu apostolado entre elles foram as suas primeiras
victimas. A sua habitação foi invadida; a cruz qr:e a enci-
mava íoi calcada aos pés, e tudo passaria a ferro e fogo, se
os hespanhoes não corressem a delender os seus queridos
padres. Os mouros, valorosarnente repellidos, abandonam
Granada, derramam-se pelas cidades circumvizinhas, proía-
nam as egreias, saqueianr os mosteiros, immolam ao seu fu-
ror os sacerdotes e os religiosos, e por Íim entricheiram-se
nas garÉaântas proÍundas das montanhas de Aipuxara.
Philippe II, temendo urna invasão dos mouros de Africa,
que ameaçavam vir em soccorro dos de Flespaoha, enviou
contra elles D" João de Austria, emquânto o almirante de
Castella, D. Luiz de Requesens, commandava a frota encar-
regada.de vigiar as costas. Os Jesuitas alli estavam tambem,
tendo repartido entre si o serviço espiritual dos dois exer-
citos. O padre Christovam Roclrigues, sabendo na esquadra
do litoral que o hospital cle Malaga encerra mais de sete-
centos soldados doentes ou fericlos, acode logo con-r alguns
padres, que alli se estabelecem para os servir, cuidar d'el-
les. consolal-os, ou âjudâl-os a morrer como cl'rristãos. As
galeras encerravam um grande numero de forcados, cujos
annos de castigo tinharn expirado, mas que, por unra crimi-
nosa negligencia da administração, não tinham sido resti-
tuidos á liberdade. Visitando as galés o padre Christovam
âpenas soube d'esta desordem, não pôde gozar um rrlomen-
.tI
to cle repouso sem que primeiro fizesse cessar esla grande
Ít
it
infustiça, É preciso dinheiro para aplanar certas difficulda-
des no despacl-ro: os Jesuitas vão estender sua caritativa e
{
ü
sancta mão a favor dos galeotes, e recolhendo umâ sommâ
It suÍliciente, os desgraçados são postos em liberdade, e os
I
ri* abençorm, chrmando-lhes seus pâes e saivadores.
l
,b
 r26
Vcncidos emfim os rnouros pelos exercitos reaes, foram
baniclos do reino de Granada, e disseminados pelas provin-
cias que a auctoridade soberana lhes tinha assiglnalado:
mas amaldiçoados pelos hespanhoes viviam insulados como
parias, e gemiam na mais proÍunda miseria, quando a epi-
demia que tinha atravessado a Europa, veio pairar sobre a
Hespanha, atacando prirneiro os musulmanos. O'povo, per-
suaclinclo-se que os sequazes de Mafoma foram os que ât-
trahiram o formidavel flagello, abandona-os e recusa socor-
rel-os : mas felizmente não lhes faltou a dedicacão dos Je-
suitas. Á primeira noticia deste abandono o, i"d.e, .rr-
pendem as aulas, e dão-se a visitar os moiros, a tractal-os e
consolal-os, como se elles não tivessem sido os seus inimi-
gos e perseguiclores. Inspirados'pela mesma caridade, ao
mesmo tempo em Salamanca, em Alcalá, em Guadalaxara,
por toda a parte, tinham os outros Jesuitas espontanea-
mente estabelecido ambulancias em suas casâs, e percor-
riam as ruas levanr{o aos hombros os empestados, animan-
do-os coLn cloces palavnts, deitanclo-os suâvemente nas
camas lá preparadas. e velanclo rlia e noite para que nada
ihes faltasse. Os hespanl'rocs venrlo tanta caridade não pu-
deram resistir a este magr-riÍico cxcmplo, e se oflàreceram
aos padres para os ajudar n'csta obra dc tanto pcrigo.
Muitos Jesuitas succumbirrn ; nrrs corriurr Iogo outros a
substituil-os e assim nuncu [rllirvlr assistcncia aos leridos.
Em Toledo o llagello lcz estr';r1;os 1ão esperntosos, que fal.
tava espaÇo para recolher toclo:; os atacados, os quâes por
isso jaziam chegados uns aos outros, e era necessario ar:
confessor pegar seu rosto com o do moribuntlo para ihe
ouvir a confissão. Um clia, zq de Abril de t57t, notou-se
que o padre João Martir-rs, depois de ter confessaclo assiur
muitos d'estes agonizantes, não se levantava pâra passar a
outro : chegam-se a elle, fallam-lhe e não responde I que-
rem levantal-o, mas estava morto ! O martyr do segredo da
confissão já fôra receber o premio do seu zelo e abnega-
cão heroica.
127
Em Cadiz succumbiam as victimas quasi iogo que eram
feridas pela epidemia I governador, bispo, magistrados,
clero e nobreza, tudo tinha abandonado a cidade e os po-
bres que não podiam fugir. O reitor do collegio, Pedro
Bernardo, trâctou de acudir a tantâ miseria e, corn o auxi-
lio de pessoas generosas, e-stabeleceu um Iazareto, organi-
zou a administracão de soccorros e moveu o doutor Sebas-
tião Dias, sabio medico de Sevilha, a vir assistir aos em-
pestâcios. D. Rodrigo Ftanco, sacerdote da cidade, e o pa-
dre Diogo Sotomaior encarregail-se dos cuidados espiri-
tuâes, o Irmão Lopes dos cuidados corporaes, e bem cedo
os dois Jesuitas expiraram ao iado d'aciuelles que foram
soccorrer.
Os espiritos superficiaes acham inexplicavel a influencia
dos Jesuitas; mas, se quizessem ter o trabalho de estudar
a sua historia, explicariam-na facilmente, achando a cada
pagina as duas palavras do enigma: Sacri-
-Abnegaçãoe
.f cio.
Estes grandes exemplos, excitando a admiracão geral,
produziam nlrmerosâs vocacões, e assim desde que a espan-
tosa epidemia se afastou de Hespanha, um ioven de uma
das mais illustres familias cle Madrid, D. Francisco d,Es-
pafra, que havia muito tempo solicitava o favor de ser
admittido na Companhia, foi rbcebido no novicia<to d'Al-
calá. Em vão empregára a mãe de Francisco as caricias e
âs ameaças, as lagrimas e os rogos para o apartar d,este ca-
minho, até que vendo-o finalnrente no termo dos seus <Ie-
sejos, e não esperando fá nada das suas diligencias pessoaes,
ler.a uma querela em fórma ao presidente do conselho real,
que era o cardeal Spinosa, accusando os Jesuitas de terem
attrahido seu filho á Companhia sem se terem assegurado
tla sua vocação, e desfazendo-se em lagrimas na presenca
clo cardeal : Não é meu fill-ro que elles querem, exclama, é
a sua fortuna ; restituam-me o meu Francisco pot. espâço
cle qLlatro dias sómente, e eu me encarrego de provar a sua
vocu cão.
 r28
O conselho real não vendo nenhum inconveniente en]
dar esta satisfação a uma mãe, expede aos padres d'Alcalá
ordem para enviarem o joven noviço á sua familia por es-
paço de quatro dias sómente, a qual,ordem se encontra no,
caminho com D. Francisco, que voltava a Madrid, por or-
dem dos mesmos Jesuitas .que, advertidos das accusacóes
de sua mãe, fizeram-no partir immediatamente, deixando-lhe
toda a liberdade de fallar e proceder segundo os dictames
da sua consciencia. Chegada a ordem do conselho a Alcalá,
o suffraganeo do arcebispo de Toledo, governador da
diocese e parente do novtço, se apresenta em casa dos pa-
dres, com um 'destacamento de topa, faz cercâr a, casa,
penetra no interior com umâ parte dos soldados, e reclama
ern nome da mãe o noviço, D. F rancisco d'Espaia : oSenhorr
responde o padre reitor, já o enviámos a Madrid para pro-
vâr que não tinhamos nenhuma intenção tle o conservar
por força, como se tem dito, e para que elle responda com
toda a iiberclade ás perguntas que lhe quizeram fazer assim
a nosso respeito, como a respeito d'elle: tbi fallar ao car-
deal Spinosa,. nlsso é um subterfugio criminoso, exclama
o prelado; mas nós saberemos bem obrigar-vos a restituir
a liberdade a joven,. E sem outra fórma de processo
esse
1ança interdicto no collegio, O ruido cl'esta resolução tão
violenta percorre a cidade, os habitantes e os estudântes da
universidade pegam em armas, as cabeças esquentam-se,
correm ao collegio, e se offerecem aos Jesuitas para os de-
fender e sustentar; e não custa pouco aos bons padres a
acalmar a irritação puhlica, e impedir um levantameÍito ge-
ral em seu favor.
Por sua parte a mãe do noviço estava de volta em Alcalá,
apoiada já por uma especie de partido. O padre provincial
apparece no meio d'esta populacão exasperada, e ihe an-
ntrncia que vai íazer voltar de Madrid o joven Espafia, para
ser entregue a sua mãe, que tudo tornará logo a entrar na or-
dem, e que cada úm poderá convencer-se facilmente da ver-
dade. Com effeito Francisco chega poucos dias depois a casa
r 2ç)
de sua mãe, que faz todos os esforços para o impedir de
tornar a entrar na Companhial porém Francisco Êca inaba-
Iavel em sua resolucão. olde muito embora, exclarna por
fim a mãe irritada: mas nuncâ me chegareís a persuadir que
os padrés não procuraram attrahir-vos pârâ se apropriarem
de vossas grandes riquezas: se quereis que eu creia na sin-
ceridade de vossa vocação, cumpre que tne cleixeis a livre
disposição de vossa iegitimar. nSenhoror respondc Ii'rirn-
cisco, vossa fortuna é consideravel, e a minhu é-vos inutil;
eu já não sou nenhuma creança e a eclacle auctoriza-me a
usar do que me perrence: permitti pois que eu disponha de
meus bens como me aprouver».
Os Jesuitas é que não approvaram esta Íirnreza do noviço :
e, comó importava desfazer toda â suspeita de interesse,
obrigaram o candiclato a renunciar tudo em favor da sua fa-
milia. Este procedimento simples, mais efficaz que todos os
raciocinios, levou o socego ao espirito da mãe afflicta, e seu
filho pôde ficar em paz na Companhia de Jesus.
ilI
peste depois de assolar a Hespanha, passou a Portugal, e
I
Íl logo que alpareceu, Lisboa ficou quasi de todo desertal
os operarios e os indigentes paralysados pelo terror, sem
pão para dar aos filhos, e sem animo para os ver soffrer,
lancavam-nos de casa á mercê da Prôvidencia. Estes meni-
nos morreriam nâs angustias da fome, ou nas ancias da
doença, se os Jesuitas os não tivessem pronrptâmente reco-
lhido e salvado. Percorriam elles a cidade de dia e de noite
cuidando dos doentes, administrando os Sacramentos aos
moribundos, transportando os meninos em seus braços até
ao asylo que se lhes preparou, e prodigalizando-lhes cuida-
dos maternaes.
I-isboa parecia destituida de todo o soccorro hunrano: os
magi,s11s66s tinham fugido deixando o governo da capital
HI§TORIA DÀ C. DE J.
 lJo
:r inh:rbcis subalternos, de modo que a desordem estâva no
scu cume, e erâ um segundo flagello' Os religiosos vêem o
mal e applicam o remedio como se fossem os encarregados
por omcio d'esta cidade consternada, restabelecem a or-
ãern, Ievanto,rt os animos, fazem renascer a conÊanca e le-
vam a torla a parte a consoiação e a paz. Sete professos,
quatro coadjutores e tres escholasticos morrem no exerci-
cio"da sua sr.rblime caridad.e.
Depois que o tlagello clesappareceu, tiveram os paes dos
meninos desamparados nâs ruas a felicidade de os tornar
a achar nas mãos dos salvadores do povo. e não entendiam
como a desesperacão os tivesse cegado até se sepârarem de
seus filhinhos.
Como um grande numeto cl'estes rneninos ficavam or-
phãos, os Jesuitas conservaram-lhes o asylo de caridade, e
ãbriu"rr* c1a generosidade dos ricos subsidios voluntarios
para assegurâr a sua existencia.
Os pobies náo poderam esquecer-se do muito que de-
t;
,
viam à heroica dedicação dos Jesuitas, e os cortesãos não
pôderam conservar a lembrança da divida contrahida pela
iapital pâra com os padres da Companhia de Jesus'
b p"á." I.uiz Gonçalves da Camara, como temos visto, ti-
nha ao principio recusado a honra de educar o ioven Rei
D. Sebastião, e não a tinha acceitado senão por obecliencia,
por se iulgar â Companhia summamente clevedora á memoria
de D. Jnão III, e não quercr contristar com uma recusa o co-
ração da rainha D- Catharina, viuva d'este prir-rcipe' Accei-
tou, pois, o encârgo, mas o P. Luiz Gonçalves, como edu-
cado-nos clegraus clo throno, bem sabia antecipadâmente
que tudo o que .lesagraclasse aos palacianos seria imputado
i inflorencia do aio do rei, e por consequencia a toda a
Cornpanhia.
Logo que entrou na côrte, applicou-se com todo o em-
penhà a moderar a violencia de seu real discipuio, cuia na-
irrrera pa.ecia inclomavel.
1'{áo tardou o padre em ganhar o affecto de Dom Sehas-
] JI
tião, com farta inveia dos palacianos : mâs ao aíÍecto uãr>
corresponclia egual docilidade, porque o rei ouvia mais os
conselhos de D. Martim da Catnara' irmão do padre, que
succedêra a D. Pedro cl'r\lcaçova no cargo de ministro de
estado. Esta muclança de ministro f,oi geralmente mal ac-
ceita, e os cortezãos attribuiram-na á influencia do padre
Luiz, accusando por isso a Companhia de Jesus de querer
reinar em Portugal debaixo do nome de D. Sebastião. Ac-
cusação absurda aos olhos de todos, menos aos d'aquelles
homens cegos pela paixão. Outra accusação levantada a
proposito do casamento d'el-rei. Um partido propunha para
regia noiva uma filha do impeiador Maximiliano, outro
preferia Margaricta de França e o soberano não se inclinava
para nenhumâ. Da côrte Ílzeram-se instancias ao Papa que
por meio do preceptor decidisse o rei a desposar a ptinceza
.de França, tanto mais que o Pontifice approvâvtr esta es-
colha. Com effeito o padre Camara alguma insinuaçáo fez
n'este Sentido : mas o principe ficou inflexivel, como ficava
ás instancias dos palacianos. Comtuclo começou-se logo a
dizer que era a Companhia que se oppunha ao casamento
do rei ! O padre geral, indignado com semelhante leviandade,
mandou retirar da côrte os tres jesuitas que n'ella residiam,
e sairiam logo todos como saiu o confessor da rainha, se
.o rei g o cardeal infante não se tivessem opposto e impe-
trado do geral a revogacão de sua ordem.
Sabido é que por aquelle tempo o porte do clero tanto
secular como regular, não era ern muitos o que devia ser
no reino fidelissimo: e por conseguinte a purêza de costu-
ii
mes (los pirclres tla Companhia, realçada pelo talento e ins-
trucçío, devirr concilirr-lhes uma grande estimar e ttttnbcm,
por uma tristc c()nsc(lttoncit, umlt grantle invcilr por parte
cl'aquelles rlrtc prctcrrtlirlm sem os imitar no mcrccitrcnto,
egualal-os n;t ittÍlttctrci:t. Otttr<l gr;rtttlc cstittrtllo tla invci a es-
tzrva nii preícrcncilr tlttc os prirrcilros cittholicos clavam aos
Jesuitas, cour escolhcl-os l'!ilrit scus corllcssores residentes
.na côrte.
 IJ2
IJJ

Iim lirança o duque d'Aniou confessava que sc vuliir

diz respeito, os meus serviços não vos faltarão em pilrte
nruiras vezei dos dictarnes do padre Edmundo Augcr, nem
alguma.
cuidava achal-os em outra parte mais seguros. O conceito
A universiCacle não podia ficar impassivel a uma tal der-
o,r" do. ,adre5 do Cornpanhia fazia o condestavel de Mont- rota, e jurou vingar-se. O padre Perpiniano professava em
aor.r.rar'âpparece claro no caso seguinte. Certo dia apre- Paris com resultados dignos da sua sciencia e eloquencia,
*"rr,""n- se-lbe dois deputados da universidade de Paris :: e as slras conferencias sobre a necessidade de conservar a
elles, virnos requerer-vos em nome das qua-
Sanhor, dizern fé catholica em toda a sua pureza attrahiam tantos protes-
que expulseis todos os Jesuitas de Paris e da
tro facultladeg tantes, e convertiam tão grande numero d'elles, que a uni-
Franca. oue as extermineis, porque esses homens são a
,
versidade se âssustou, e procurou aproveitar uma occa-
.,".,. á, ,nr..grsidade. Náo se póde já usar severidade com sião favoravel a seus pro;'ectos.
elles não digam logo que fugirão para
ãs estu,larrtes, Que Para esse fim reuniram-se e concertârâm-se os universi-
as aulas dos Jesuttas' , tarios e os calvinistas para irem assistir ao curso do padre
coÍrro dlusae§ vós fazer semelhante pedido a monse- Perpiniano ; mas o mesmo foi comecar elle a fazer ouvir a
-E
nhor? exclamou
o duque de Damville, filho do condestaveli
Com voz muito grave.
sua eloquente palavra, e romperem de muitos pontos ao
Olhae. disse gst€
mesmo tempo umâ algazarra de gritos e assotrios, que lhe
nseria oaig honroso para vós imitar os Jesuitas em vez abalaram a voz, e excitaram a indignação geral. O jesuita
;e accusal-os, . E ia iá de spedir os deputadosr quando o duque
conserva-se irnperturbavel, pára, corre com os olhos o au-
lembrou que se chamassem os padres para.
de Damville the ditorio e os amotinadores, como se lhes dissesse com o
os fazer aon(erenciar €m sua presença com os doutores maior socego: «Quando tiverem acabado, eu continuarei».
il*;., e Grlland' o conclcstavel assentiu, e os iesuitas fo-
Mas o autlitorio nío teve tanta paciencia. Todos os catho-
ram ctranrados imnrcdiatanlcntcr e postos em presença de
licos se levanttrram em peso, expulsaram os universitarios
.au, uau.r.urios. Â tliscussÍo lbi ass:is viva; a univer- e os protestantes e com isso tuclo tornou a entraf*na or-
sida.te apoiaVâ-se
no§ pt'otcstílntcs, os icstritas rla fó da
dem, e o prolessor continuou o seu discurso.
Énr"ia lionr,rnl, como o crro cstava clc um lado, e tr
c Porém ainda a Providencia reservâva aos padres outro
,íaáa. do o(rtror os padres dcviam ficar senhores clo genero de victoria. Um dia do anno de 1567 durante o es-
e foi o 9ue aconteceu. O velho condestavel, voltan- tio um grande lidalgo correu ao collegio de Clermont, e
"r-r,o.lnteo lTn.ot Jesuitas: nMeus reverendos padresr
áo..i como homem habituado penetrou no interior da casa, e se
ignoro quanto o Yosso Instituto tem tido
ffra, air.r, eu flão aprcscntou no qLràrto do padre provincial de França., Oli-
Franca sobretudo depois que n'ella se des-
;;; ;;fl"r;, eflr mas vós deveis supportar estâs perse-
vicr Mitnareu, conr o rosto pallido, o olhar sombrio, a voz
à"r*ou o scisma: trenrulu, e tc)(los os signaes d'uma agitaçío profunda. Era
*riia.r tanto ma.is Senerosamel)te) quanto ellas vos são' Peclro l(ostl<1, pilrclrtc tle S. IistanislÍru, que mais tarcle foi
.o,rr todos os homens honrados, e bem sabeis que
;;;;;rr na Egreja
Rispo tle (lrrlrn. «Mou revcrenrlo parlre, diz elli: ao provin-
iãão. uor.ff.s que teern operado coisas grandes cial, preprrrl-sc Llrnn explosíÍo infcrnal! l! chegado o mo-
enconlratlo como vós muitos obstacuiosl se
ia-Oa.r',.a, mento (lc vcrmos ir rnnis cspantosa catlstrophe! «Que que-
,J, .on,inrorJes a servir a Egreia e a patria com o mesmo reis tlizcr? pcrguntou o paclrc Oliver com o seusocego ha-
a".irrr"rarta, gáo tereis nada que temer: e pelo que me bitual. n'I'ratu-se de nada menos, meu padre, do que de
 r35
r:t4
outra formidavel conspi-
de Setembro, conseguiu mallograr
inccndiar ao mesmo tempo todos os bairros de Paris para na praça traidores que
;..,ã;';;;p;;*,tnJ"t' Tinham ellescidade haviam de incen-
no meio da confusão geral urna parte dos coniurados se
lhes abririão as portas; entrados
na
e mata-
âpoderar da pessoa do Rei, que n'este momentô está em ãi"i .,-..0"""1-à, dtttt"i' as egreias e os conventos
úa"rl=, corno sabeis nEstaes bern certo d'este proiecto dia' rião todos aquelles opp"'"ssem a seu furor sacrilego'
q'"
bolico?, Não é possivel ter maior certeza. meu rever:ndo 'u o' presidente u: o padre
;;; ;;;;."r;or de Leno "l:i*,";
huguenotes
padre; foi um ialvinista, meu velho amigo, quem me avi- Binli,"a" Àuger foi advertil-o tlo proiecto dos
sou pâra se8urançâ da minha pessoa, e virn a toda a pressa ;;;;;;;"; il',. certo das informaçóes qüe tinha'
"ut"' é aterrar os
âvisar-vos, porque a vossa casa não serii poupada, e e iá na i"ã"r" *"i"s de flclefensa , diz o governad.or'
closhereges" ' ve-
proxirna noite. ;;;;;t;; *lvez irecipitar a cheg'ada
De nada me a«lmiro, respondeu o padre Olivier, pois ha <lias depois'
;;;;;" consultarei os magistrãdos'. Alsuls,
parecia esquecida'
alguns dias que ÍloÍâ\'a nos espiritos uma especie de agita- o padre Auger, como a tu' àtlu""tntia urÍ{c;
çáo febril, que é sempre o annuncio de uma commoção lhe diz' o terll[)o
,oi,u o casa ,lo governador: Senhor'
proxima e violenta : n:as tenhamos confiança na Providen- de Lanoue npãtl"'utt-'" ir't tlc Mircon' c Acixrt
o Senhor lit]1
lloltc
cia, e aproveitemos a noticia que eila nos deparou. Vamos l'clio : csla lllcslllit
o* bo* presitlio c nratclta solllc r:trtt
pois sem demora fallar aos principaes rnagistrados' dado um iignal l citlirtlc lhc sor:i oliuc
O segre<lo dos calvinistas tinha sido tão bem guardado, » u I'lsta nlesmllllolte'
«lasta noitct tltctl rcvcrclltlo 1'atlrc?
que nenhurra entre as atrctoridades da cidacle tinha a menor como' nem pot- quem tui
senhor. [']r-r rriio posso clizer'vos
suspeita do proiecto infernal. Na rnesnra hora é expedido a avisaclo; rnas o facto c muito certo'
Meaux um correio; Carlos IX voita a Paris, e ciregada a fazer senão defen-
Então, meu paclre, qo" podt*o' nós
noite todas as câsâs apparecem illuminadas; os conjurados, n'orrer' quando cheg;.ar esse mo-
der-nos valorosamerrte ãré prevenlr
vendo-se descobertos, conservam-se em paz; rnas a policia ,".ri"L Senhor, replica o iesuita' é necessario
descobre nas suas casas depositos de armas, macl-rinas in- esselnomento,evitaraeffusáodesangue,aprofanaçáodas
cendiariaso e a lista <1os principaes conspiraclores' Cathit- es{â mesma
aát";"t, e toclos os ct'imes, que se vão perpetrar
rina de Médicis e seu filho iuram que se hão-clc vingar qut meio ha-de
noite. À[as repito, areu 'án"'untto pndtt' â em-
desta infernal conspiração, na qual figurava o principe de ..."po.t Conheceis vós algum? Eu estou prompto
Condé, e o almirante Coli6ny. O rei estava salvo çom Paris pregal-o'
e seus habitantes) e prometleu lembrar se do serviço que o ' bem, senhor I o signal' ' ' '
paclre Manareu acabava de fazer á sua pessoa e á rtonar- ' Pois
N'este momento ,ri.r"á dizer ao governador dos guar-
que tottros
reunidos na sala
chia. or-raü|o"iro. da cidade estavam
Ernquanto a Frovidencia se servia do provincial de França cidade? pergunta o
das. Que.'me querem os reloioeiros da
para f.ust.ar em Paris os projectos critrinosos dos calvi- estava para vos declarar' diz
;;;;À;;"; erp,ntatlo' Euque os mandei reunir aqui por
nistas, servia-se do provincial de Guienne enl outro ponto então o padre Edmundo,
de um modo tamtrem ínesperado: erâ este provinciai, como que só po.l.* preservar esta ciilade da sua desgraça'
terros dito, o padre .A,uger, o querido apostolo do meio dia "ii.,
ô.igr*l entà os calvinistas de Leão e oNizier' senhor de l-anoue
da França. Vinha de -l-olosa, onde tinha electrizado as
é o bater da meia noite no relogio de S' Ora veio-me
abnas com a sua eloquencia, e chegando a Leão pelo meaclo il
:!:
 r 3(l

t'i-:1::.Lt
á idea, salvo melhor parecer'
de
" 1"11t
.faz-er que ninguem se en-
;;;". os relogios cóm tal confusão
ô' 'ao;o"iros acham effectivam.ente muito
Hjr;;r.r' execu-
i".ill i.".o.ança do padrel o governador mand'a-a
,.1},^"";;';;;.ia",, dos relo-
to"ronàiaoí to'n o desacerto
inimigo: Lanoue achando"se
gios, não abrem as po'ãt "o eValençat
sobre Vienna
trahido, retira-se com seus soldatlos' do hu-
e Leão estava salva pel' ft"itttncia e inspir.açãoesmera-
Leão os catholicos
Lfra"1.iigi"ro. Em Paris à em
vam'se em reconheci'ntnto
*o' 1'radres' aos quaes chama'
dtttttot'. que de c,*,t-:
vam os seus salvadore§, e o "i autorizada a accettar
ficava
ü;;; u êo,np"n}'i" de Jesus íeitos I todos os bispos
.l.: todos os legados qo" t-f'" fot'"m
suas dioceses'; todos viam
,,i l.l , chamavam os iesuitas ntt* "t uo
Ir: l''.
IiHo*"ii,J-ã. q'e lhes tinham.L'- 1"""' " os '
"aià de os perseguir em todos
opposição que nao t""out
|út
temPos e logares'
IV

dos jesu'itas eram clirigidos

Fm Allemanha os trabalhos canisio'
L:";',"ni;';:r" r'"íiii'a"ae pelo celebre padre
" toda:rlarte produzia'm
superior a'.rt' p'oui'iJ;;;'; i"t o:,::-I"^ln:t on heresra'
tod"t
fructos abundantes, 'f tt"t 'r" e
os lados sJ pettiam ao provincial resiclencias
De to<los queriam fundar e
ott ot principes
collegios, qot ""ianUã'
dotar á sua custa' toti-tl-l3l
,i:. ""ü;;àioniu tint'n iá seus collegios-e.suut
povo cognomlnava
,.,'";"iu; o p".1.. àanisio, a quem o
.til
o Aoostolc da Allemanha' a-'sua
" t'#;o";;'ãnl"-qutt que apparecesse canisio'
eloquente, a suasclen-
a*]l.rr..".ctitlade, ^ .on'prl"u* modo irresis-
cia profunda "mtiçtJà*"Jt'"tfitito''l:^::qr:..ó sua presença
. tivel a favor do .",, in.ii,o,o. Parecia "
espalhadas pelos here-
il.t.
triumphava a" t"a"'"t'""io"'oitt
de Jesus'
,1r
',1
,;'
f.. .ontu a ComPanhia

'l
 _ l3;
O nadre Canisio era o amigo e conselheiro ''lc totlos os
táo grande vencrrtçiio'
eri".'i;"; allemães, e inspirava'lhes
fuue o-Papa nomeou-o
teu legaclo iunro de.lles' com missÍtr
de os resolver a acceltâr abertamente as decisóes clo Oon-
terminou estâ lmportantc
cilio de Trento ; e'apenâs elle
Pontifice ordem de ir sustentar os direi-
ãir.a", deu the o legado'
como seu
iár a"' Sancta Sé na ciieta de Augsburg de trabalho
Estava entáo o bom padre tão consumiclo
q* pu.".i, náo ter iá senão um sopro <le vida ; e comtudo e tomou
p".tiu, acompanhado dos padres Natal e [-erlesma'
rendeu eminentes serviços á
à ..r'logar na dieta, onde seus discur-
em
Ég;;i^, ni.i* p.t, sua vigorosa eloquencia
sobre os
sos contra os sectarlosr como pela sua influencia
;;";;;. eleitores, cuias clecisóes rlirigiu com admiravel
habilidade.
Em Augsburg sepârâram-se os tres padres' para lrem '
"o.
ini*igo. da fé em diversas partes dn Allema-
"ornt,.,..
;;;. À sua voz ,lepiessa voltararr ao seio <ia Egreja muitos
magnates com todos os seus vassallos' e
os hereies não
.rch,t.n- melhor expediente na sua derrota do que accusar
o. i"tri,"t de conspiração contr.a. o. imperador' 9,^"]"1:1:
o esPlÍlto que
não tinha o merecimento da noviclade i mâs
,".n ..,opr" animaclo os inimigos e adversarios da Ccmpa-
nem desalento:
nhia de Jesus nunca soube o que erâ vergonha
o imperatlor percebeu logo o fim de tal im-
nras I'elizrnente
tlt cío.
ptt-(lh"*nn.lo
' ao collegio rle Dillinga, Pedro Canisio soube
,,n-, ioven polaco se tinha apresentado
a1li' havia muito
qr.
entrar na Cornpanhia' O pro-
iou.o ,",'t-rpor com deseio de menino, que apenas tem
vinci,rl vô este oven,
f
ou antes este
elezascis fica impressionado de sua angelica man-
",-,,ror, " linguagem'
sidíro, tlc scu celeste olhar, e da modestia da.sua
Estc an-ravcl menino, <i'uma familia nobre e illustre' soffrêra
<le seu irmão mais velho' que se
a mais trr-ava perseguição
vida e á sua vocaqáo religiosa' por
oppunha á s.,a
S. Estanisiau Kostka, S. J, "irtuo.a
predestinado tinha vindo a pé pedir um
cujo amor o ioven
 r :i iri
-'Jtt-
tla-
g,ios <1e iesuitas' Tal
fai todo o resultado d'esta ultima
não [resitando.etn cntprcltcrr- moia<laheresia,.noooqueellatinhaesperarlo.oppri-
asylo no collegio de Di11inga, apostoio. da Allemanha i1t
ser recebido na Conrpit- mi<lo de rabaihos' u
cier as mais penosas ''"gãnt até '*ti"u"t exone-
nhia. .irt^pedid'o ao geral da Comnl,nh]n :,:" " poder
mals cer- "r,., que elle.temia não
ae pJouir"iul'
ô p".t.. Canisio, descobrindo n'elle os signaes '.r#;-<las funcçóes
rasse mas cgora
,oa di,rr-r',n verdadeira vocacáo'
enviou-o'a Roma com cartâ táo petÍ-"itu*enie quarrto desejava: l

de Borla' O Pontifice dc reftrtar uma

«le recomrnendação para o padre S' Francisco sendo encarreqa(io leio Sttmmo I

porém o hereies calumniavam-e escatne- !

,ri"-" . t"rcto recànhecei'--tt e amarâm-se; obra recente em qüe os

a **"t:.,1i.ftlicidade; e o'paclre t"';tl: nãc podenclo
anio foi adeante do sancto para ciam a ver'ladeira Ugttit'
de San-
no noi'iciado occuprcóes' tornou a pe-
porque aos Jez mezes.çle sua entrada ;;.;;;'n;;;antas e iãu 'liut.'ot no cargo o padre Maggio'
tot o modelo rnais completo'Estanislau dir e obteve que the succetlesse
cto Anilre, no qual itr'inltaltte tinhar» já
Kostka voou pâra o céo no tlia tla festa da Assumpçáo da cuios talento"' mrnsidáu c I\aiilvra ri. l";'rci r' I't-rgo qtte
Senhora
- em r563' i"il" .* Ál'emanli, 6r:rntlt's sctviç.s c'i iVllrggio errcar-
Canisio Pregâva ao§' tic pl'ovirlcirrl' f
No anno segr.rinte, emquaflto o padre coileÇou â exel'cer o cal l;() do
hereils proclamaram de impro-
regatlo pelo Papa tlt' t';"t nrissho tlr:lica'lissin'ra iur-rcto
camponezes ã'E'1"o'lgtn, os (''stil\ il nruito sentido dir este-
aquelie ao qual. os catholicos se rei de Polonitr' Ilstc princillc
;;' ;;; o iuu.ttt ieiuita,
'o.ipu"ao emÍim explorar estq es"
;;";r;;; chamar da Át.temaltha' 1caba rilidatle da rlirtlilt; c os lutherlllos llli-írittzeram que alguns
olhos i'7' Ú*o intelligencia privilegiada' di' tado dc coistrs, cnr p'outi'o
da Reíolrna'
de abrir os
' ficar muito' para que re-
podia ;t;ig"t .0"" instassem com Segisr-nundo
ziam elles, como â ot Étar.o Canisio.-não
tar'laria que o
.tn
se encontrasse.rlifficuldaties na
por isso náo u rainha,
i.ãn" "*. tre'as tlo llaPismo; puLliasse 13'q""' l1:e att''torizari'" ut,
niraàn', deciarar'se abcrlanrente
'-'O
pela Ketorma' córtc Jc lloma' a r"ir;.iJo reforrua'la o re1
derramou-se rapidarnentt' "' O patlre Nlaggio foi encarreSaJo tle dissuaclir
Uo.ro cl'esta calumnia 1t vorcio' e reatr-
e lm- the repr:gnava:
<1'este projecto, qu" it*tti'*ente
não
ecciesiasticas, receando-as numerosâs
"ra,o.ido.1"a sÍ ru.'tiu'" ott.tt., mente o p^'f'* tnt*tott "ttt
ttg"ti" tào delicado' " t":1i;
pã.,ã"r., aPostâ:iâs que '1'esta falsictade que o rer
'rrnr. rrn.,^rá* tte tlissipal-a' O cartlcal de Au6sbu.g
avtsou
;i;-; ..; tanta destreza, prudcncia t. itl:l-'i:"' rla repu-
como dq ouvir fallar mais
ã"risío, e elle senr periler um mom'ento' imme- cleclarou ,bt'totot"t"
"áá'qttt"t
^'p'"Jr"
\Murtzburg tinha particlo " colo*ni"'
para alli partiu
cliação tta rainha I e querer
iiutt' morrer no-seio da trgreia
"
as suas ruas' convida todos
diatamente e a per corre todas romanâ'Noanaou*guin..rlei5TroreiSegismundomor- outro resul-
á cathedral I e logo cer- reu leg;ando n t'* uiuiiotr"tu nc,t iesuitas'.Éraaccnseliraram
os habitantes a irem sem clemora
descanso algum' ainda todo t'p"'ot'om quando
cado pela muitidãro, t"'*'io*ut taclo que os hereles 'll* seu'
sóbe ao pulp.ito, e confunde' o-ãiuot.lo ao rei tle Polonia' para
o fazerenr
coberto com o pó aolr*inrro, que
seus calut:-rniadores com
tanta forca e vivacidade de fé'
iatisfazer a multidão' que
para
é obrigado a fallar tres vezes
se vai renovando Para o
escutar'
estavam vencidos n'este terreno' e os catholi-
Os hereles da Egref a
cos paÍa darern uma p;;;;'
sua fe na
f"u-:ttnu
novos colle-
romanâ' prova authe;tica e duravel' fundaram
 r41

r40 somos,vistos) seremos

nou-se proverbial em Hespanhaise
estiver comnosco' poderá flmânsar es-
-otl,"ar'" se o padre não' sempre nos aiudarh a
v tes idoiatras e salvar'nos, e se o ptr-
il* ã1r..r". ncapitáo, eu estou prompto'^exclama
todos flamengos' des-
dre Martines,,r e os nove marinheiràs'
noheqnenhoes.SenholestlaFlori<laclepoisdoSeudesco- Ao pôrem,o,pó em terra
um cem a umâ chalupa com o Jesuita'
de Leão em t5tz'pesavâm com de Pedro Menendes' e o
U"'s.i-*i" po, Pontt florirlenses força de ;;;;;; á. ,"nto levou o navio
i:g;'';;;;'rob'" umâo'perpetlla revoltar'los vencirlos
á. e ahi ficam osmarinhei-
-crueldades'
contra fez tlesapparecer em u* i"'tt"tt;
d'onde resultava sobre uma costat sem verem
,"t " ã'prate abandonados
os vencedores. Philippe Ii,
q"erendo P9r.te1m, ",t11'-:"h::, nem sequer.saberem.onde.estáo'
de seus mais habeis' e m.rs
vâ' vestigio humano,
iiiiirã.t, u." ortlem"a um quatro noites' esperando i
Vagueiam por alli quatro tlias e
D Pec1ro Menendes' que fosse submetter
e
i..iã. .lpi,a"s, fome )á os aperta rt-
h'ravo Menen.làs respo'de'
o lhe: oA ,.*p?a-.* uáo; o. viveres faltam' e a nas terras' remontâm
I

dia. entranham-se
;#À.;;'';i,;,i4"' honra: b:1::^:-: ;;;;ã;;.. À" quinto na indo na írente o
t

"ltl
me
confiança de vossa majestade "-*"" um rio e penetr'âm rlha de Tacatucura'
uTo lança rr,sagrada Infà-
minhavi<laestãoaoserviçodorei;mas,Senhor,oprlmelro
o-Christianismo' naclre, o qual levrva nu ponta tt I
submissãc e de paciÊcaçáo é os insulares vêem os
;:;'il i;;,:i;; iomesmo
;i;;,;;" Porém
esforços seráo^ váos' Peço "''un'{o'
sem o qr:al to«ir:s os meui instante cercam-nos' prendem- I
da con'rpanhia de estrangeiros, e no
;; ;r;; majestade 'çt'ntpotqut
Jesus quc a.
"orrrponhtrn'
'ntttáotes
e
este o unico meio de
conservar
é
o Christianismo
nos e os nrergull-ram
'ã 'guu
se lhes gelar o tungut' O"pna'e
do-rio' retendo-os n'ella até
M"tiinet esquece-se de si ,l I

;;;H; aquclles iJolrtrnsi oaracxhortarosseuscompanheirosclemartyrio;masos

sob.e os
o poder cle suas palavras
nascolonias.Conrosl..-i'".errrespondopelo.successoda
sem elles nirda po- :;i;;;;;.;*ç"ti"na'*
*i"fr"-*ir.a", por rnais difficil que sela:
.1" *.,* majestarle,. nPois marinheiros, a at"i'--t'o logo ao
céo' matanrlo-o ás cachei-
oS outros
derei na Floritla pn., o ..,uiço radas. Dois flamengos morrem
juncto d'eiles;
Francisco de Borla que a embarcarna chalupa' e re-
O.-, * át' o rei; vou petiir a D'razáo; só elles potlem re- conseguem escâpar-se, tornam
vos <iê alguns padres: ui'
t""d*' que a Providencia thes
como os lloritlen- fugiam-se n'uma cost; hospitaleila'
hespanhoes
duzir á obediencia assim os deparou.
ao getal da C.ompanhia pedindo- que pela tem'
ses». O monarcha "tt*u"o
Bcria lhe concedeu os pa' Entretanto o navlo de D' Peclro Menendes'
il;-;.a";;iosl e Franciscoeàe o irmáo coaJ)utor Frarrcisco nestadefôralevacloatéCuba,tinhapodidoaportarl.eliz-.-
villareal'
dres Nlartines Joao Rág.., os padies Roger e
"o' qu""' u'à'd'' Ootub'o de r5.ii6 estavam á ';;;;;r;"Iáu-no'l'r"' O primeiro f"i
de Viltareal; ,.fur"rr-'r. logo no <lesembarque' :"iiq:
e outro lam
Iiàr a Carolini, e o segunrlo àittanciae um
I
vistaclaFlorida;mascomoáfaltadepilotosd'aquellaterra Tequesta'
I
procurar um logar de
a costa e no caminho que
t fosse necessario reconhecer ;;;,;"d" * .,u' dt dislancia
em
o capitão propuzesse a alguns de seus ma- terras infreis ern
I
I desembarque, e ire- percorriam, para tomarem posse d'aqueilas
* Lxplorassem a costa: «Nós
I rinheiros que lossem ' ttt'u' que o reverendo nome de Jesus Christo'
mos de bom graclo, responcletn'
comtanto em breve taes lructos'
t, O zelo dos dois apostolos produziu
missionarios) e re-
;';" lÉ :: :," ::
padre Martlnesí Per*" i:J' il^".',.";;
: J:: : iH;, H :: T.'a : quã <le pedir um reforço
f.".irur"nr
de

a ferocidade dos naturaes tor'

mais edoso dot *ut'íhti'os'

\,

I
ir
t;
{:
I

i:
 r43
I

):t-'' que o rei de Hespanha, compadecido das vexações clue sof'-

I ceberatn o padre Segura con-r o titulo cle provincirrl' Itcrrtlr- friam da parte dos colonos europeus! va1 envlar em seu soc-
aspiran{es 1t corôt clt>s ttlitrty- co.ro i.*áo. do grande Apostolo das Indias, d'aquelle
rr.n.U. com algons i'máos
lr I... É o.". náo tar'lou em os satisfrzer'fl"-ti,1lYt corrr tttl Francisco Xavier, cu)o nome é arnado e abençoado em to-
<1os os paizes idoiatras e na propria America,
pela famade
tl Os hespanhoes tinham tractado :t vingança' e por batem as palmas'
I que tudo pocliam temer da sua ,"u, *ilrg."r. A esta nova os peruânos
expostos' com ef- os thesouros que tinham
,;;"er.;;'"i patlres át'u'* r57o' temendS ot f'1tn'"hii]
"roaauaa, a ella mais choram dà alegria, e desenterram
I

I
feito pelos fins do anno de escondido á a-id.ez <los }respani-roes' para dal'os agora aos
multos
I' J""ti,...ão Jot indigenas'.rinham fcito-matar irmãos do illustre Xavier' Com muito gosto edificarão pa*
A*nt'' fazer soffrer aos
lacios, levantarão egreias, dispenderão suas riquezas, e sua
;.1q"*";'i;io o i'*ao io pelos colonos' arrastou o pa-
",rm dt para
r,ledicação po. ,ron. d'aquelles pacires que veem saival-os'"
missionarios a pena merecida
e mâtou-o cofii seus com- No Íim de Mu.ço c1e r568 os missionarios da Companhia
dre Segura pâra uma e.mbuscada'
ounheiros que n'âquelic temPo
se der.licavam a levar soc- de Jesqs desemtrarcavarn felizmente em Callao, perto cle
pela fome' Porétn o martv- Lima, contantlo corn o mârtyrio que se lhes promettêra á
:;;;t';;. i;àig""u' dizinradospara accelerar os progressos
;a;';; ,.rigiotot só serviu partida; porém o notnc tio.grantle Xavier aplanava-lhes o
Evangelho rt't"ot regióes
*"».pàiíq,t
clo
regaJas corn o seu sangue' caminho,-e soh t protecciro d'este nome venerado viram-se
ot 1-"tponl-'ot't coÀqoistat"'n o Perir e des'co- cercados cle honras, de respeito e cle amor' Os irabitantes de
começaram a affluir *qt-]:: l..in-ra lancant logo os fundamentos de uma egreia e de um
briran-r âs suas rlquezas) i,tttitA escorta
longinquas todos os aventureiros cla metropole' collegio, ilue .e.ão construiclos com a maior magnificen-
Hespanha tinha vindo pro- cia; o paclre Diogo Bracamonte será reitor do collegio, e o
de to,las as grandes cidades de -Portillo,
e estes homens, depravados' padre cuia eloquencia subiuga as rnultidóes, em-
curar fortrrna ,-,o ''to'u'tolonia'
á maior miseria' não te- dos hespanhoes, o padre LúzLo-
^,,o ."
dJ .rixóes prehenderá a conversão
tluL [ -''-" --' tinham 'etl"itlo
'
miam, Para sâtlslszer â suâ
cubiça' despoiar os peruanos'
e
pes evangelizará os pobres, e outro será encarregado de
fazeloi soffrer os mais crueis tormentos' i.r.trui. os ,.renin,:s. Ao mesmo tempo os padres erigem
dominicrnos' umâ conqregaçáo ou confraria para os iovens da nobreza,
Os reis de Ilespanha tinham enviado os palzes
e Írarrciscanos Para evangelizaren e Deus úeÀçôa tão abundantemente os esforços do seu
"gJ.t,rh;.
conLlttistat.los; mxs os lerucnos) I hespanhol
quem.o.nome zelo, que Lima se torna a mais exemplar das cidades' Um
setinhalÕrna(loo.troso,repelliamtireligiãoquclhcstrlt. anno bastou para se operar tão aclmiravel mudança !
ziam os missionariosl "'neà
n'pit'uam senão a sacudir o O arcebispo cle Lima, D. Jeronymo de Loyasa, domini-
c recuPerar a seltagem intle- cano, tinha-se assustado momentaneamente ao ver entrar
iu6o dos crnquisttJores) .srta
^^-.r.-,-ia Jontinuodas. Philippe lI cntendentlo a Oonrpanhia cle .lesus no PerÍr; Porque estando o ministe-
lrurr\rLrrvrÉ1 ".,-."uottoi
' " dos
as cruelda'les e desorJens
l;;;'; ;;iJ" "tln at.'"p'imir á submissão^e civilização' era rio parochial conÊaclo por toda â parte aos religiosos de
S. ljr:nringos, temia um conflicto, sempre lamentavel entre
colonos, e trazer ot "'jigt"'
a Francisco cle Boria pe- drrts Ortlcns religiosasl e por outro lado sabia quanto na
enviar iesuitat no e"tJ'"t'creveu g-til
utg'nt p'''itãl ãn Conlpnnt'ia' o^ pad're 1:: I-iuroprr se tinha Íeito para excitar a emulação entre )esui-
dinco-trhe Portillo' slrperlor tas c rlorrrirticlrr'ros; porém as suas apprehensóes cedo de-
uin'* oiro' e- nomeia o pnclre Jeronymo a noticia cle
à'"*t" ,*1u". Úm tlia corre entre os Peruanos
 r45
l1+ -
pela humii- uma vida angelica, e de novo en:barca levando setenta ic-
conÍinnçrr rlcserrgana<lo suitas de reforço para a sua querida missão. A frota era
ram logar á mais inteira d-cferencin para com os
sutt moclesta commandada pelo almirante Vasconcelios. Ignacio de Aze-
dade <los it'uitt" fot seu
por scu'espirito- de abnegaçío' vedo tôrna logâr com quarenta missionarios a bordo da nau
parochos tto*inilJno" pela bençáo do céo'
zelo ardente trt'ã-'i-
gi"tio cle l)errs' e Sanct(Iago, e reparte os outros sob a direcção cios padres
o§ seus trabalhos apostoli-
que fecundova orlnrirrwelmsntc Dias e Francisco «ie Castro entre a nau almirante e a
co§. Iilancisco galera, que levava os orphãos recoihidos pelos iesuitas cla
ltrtstuvrtm : cnr r 56rl S' peste de Lisboa. A poucas singraduras uma violenta tern-
Oito missionrrrios iti uíto rrcr»lhido§ pelos pe-
quc lorunr
de lloriu tnuiou *ni* tlozc' pu'l)t't os ouviruur Íirllar
pestade separâ a nau Sanct'Iago das outras naus, que se
to* tui'o'-nllior uicgria' chegaram a perder de vista, e quanclo aquella tocava em
ruanos o'
logo :1 chesaoi'i'r'i".,g*
;;Jil;t'
i1.ouu a llnÊua
nrissionarios
Palma, logo cinco navios corsarios, que andavan'r cruzando
da viagem para aprendcr sob o commando de Jacques Soria, pirata de Dieppe, lhe
se tinham op'o"iiuUã o seu âposto-
, com o fim a" noàar"a sem
demora-exercer foram no alcance. Jocques Soria era calvinista ferrenho, sua
fructos foram taes que
' lado nos t"*pãt";;;t florestas'-os
companhia maior nu-
reputação de crueldade era apregoatla em todos os mares,
os bi'p";;;ii;;* oo gtt"r da'
e seus trezentos soldados eram o terror dos marinheircls.
todos
merodet"tt'o:l"t::';'ã"tãuitpodeQuito'Lopesdeso- A nau Sanct'lago contando apenas quarenia homens de
ri".
;j:::::1 do seu seminario e tripulação, estova perdida irrçmediavelmente, porém o ca-
, "n""go.J;ãâ;'"* em suas dioceses'
todos queriam ter collegios pitão e os seus homens resolveram defender-se ate á morte,
', e fallanclo com o padre Azevedo: nl,{eu Fadre, lhe diz o ca-
pitão, vós sois muitos, e neú todos os vossos iovens teert
VI ordens i os que não estão ordenados benr podei-n tornar
e ape- parte no combate desesperu,lo que vâmos sustentâr. I{ós
r missáo do Brasil tinha
íeito admiraveis progressos somos catholicos, e os herejes mais quererão a nossa vida
[ ;,.' HIá ã', l'
.' r"' ç::":l; -,
fl i'.:Ti.3: f :l ;::
".: ff:: do que os despojos que poderão achar». oEstou persuadido
combâterem a doce tnr d'isso, lhe respondeu o padre, mas bem vedes que nossos
'sanctuario, e chamados a
jovens, educados no socego do
;lJi ;;;.;; ; " :, n :" * l1*il ::: ; :3:['.T i L^ l?. l"T; um ministerio d.e paz, são inhabeis parâ a Suerra, e vos se-
á Eu'
,JIl; l, ::*J:T:';nI*il;.;'*'":1:?,,"u
entre padres riam totalmente inuteis ; melhor serviç«r vos faráo elles
ropa,e excitou t"n.'"ü uta"nte :t,i1r1unt orando por vós todos, e cuidando dos feridos,.
;;:;s; ",..,, l: i' ::X'-H'J ::: :il, n: 1:111,t Ê[;: A 15 de Julho de r57o, .Iacques Soria, chegado ao al-
s p r o s re o s do cance da nau Sanct'Iago, intima-lhe que se renda á clis-
il : i:l XT'J';;;' Éo n t
s s
". do
: #;'.'J Brasil'
i ti
"'
ercitantlo na cidade san-
crição; porérn a nau responde-lhe com uma descarga cle
Christianismo no' tt"nJ'Jo o:t::: artilhâria, e trava-se o combate. Então Ignacio de Avevedo
cta o mesmo tn't'"in'Ão qt'" ttn'Pottogill::tp"tt de pé sobre a ponte, arvorando uma imagem da Sanctis-
sima Virgem, excita o'ardor dos soLlados catholicosr que
a t-isboa' p'::i
obtidodoPapa,edopadregeraltodas.asgraçasquevlera
solicitar para o Nt"t ü;";;;volta i]c"17
estancla com
aquella
combatem pela fé: Jacqr-res Soria duas vezes tenta abordar,
Ínezes em Val de Rosal' sanciificando rrrsroRlA DÀ c. DE J. Io
 \l

r,l(r r47

rl;i ottlr:ttt rlt':tlror- hibido, mas elies o lancam fóra e calcam aos pés: promct-
e duas vezes e rePellido, mas iinilllllollto
e lança cincootllil l;ol'lttrlos li tem os hereies que ihes pouparão a vida, se renegarem a
dagenl a toclos os seus vasos
gritando com uma voz trenlctttl:l : "Alrs ir:- Íé, mas elles respondem com utn olhar que exprime o mtis
.rrí oorrr*.laza
",rJ, energico protesto de Êdelidade á fé romana. Por espaço de
ffii;j i;.;t".!Natla cle qr:artel pâra cstcs pcrr.sI
I rlur crtbtr uma hora inteira alli no sangue das victimas que os prece-
váo ao Brasil derrar:rar â seme;te do papismo .<Ieram ao céo, e perto de seus sânctos despoios são insul-
d'e1Ies,.
- e o capitão danau Sanct'lago é unr tados, ultrajados, escarnecidos na sua piedade, na sua n'to-
ô-.o*bnt* é horrivel .destia, na sua angelica vocação, até que emfim a doce
jesuitas recebiam eur
clos primeiros entre. os mortos' Os
âos que tam caitrdo debaixo dos golpes rlos he- paciencia das victimas e a sua invencivel fortaleza cancou
seus braços
;;;. " ih., ,1""á,, a ultima benção; muitos d'aquelles re- às algozes. Aos religiosos que têm corôa moem-lhes pri-
esq.u::i:T-se de suas meiro a cabeca no logar onde a mão do bispo os assignalou
iüi;;". ;';;r;- tamhem fcri'los, mas
aos solda- para o servico do altar: outros âtam-n'os pelos pés,a dois e
qlle vertiam para assistirem
dores e r3o sangue
o seu Terminaclo dois como animaes, e empurrando-os atc í borda cla nau
dos que tão generosamente derramaYam
seus irmãos' porque dão-lhes uma punl-ralada ou um golpe cle espada, acom-
ã-ao*t o,a, ã p..i." Azevedo reune os
panhaclo com palavras ultraiantes, e sem se certiíicârem se
morte ia soar para elles' Á voz de Soria' os cal-
a hora cla
Bcnto- tle Castrt: é o ainda viviam, os lancão ao mar' l)ois, apesar de doentes
vinistzrs se arremessam aos iesuitas:
um acto de fé1'IgntrciodeAze- e moribundos, são insultudos e feridos, çorno os demais, e
p;i;;i.. que câe recitando
lançilclos ris ontlas. [Jm houve que nem á força de tantas
'u".lo ."..t" um golpe de sabre que lhe fende tr cabeça e
seus irmãos' O no- crueldades podia morrer; e a este puzeram na boca de um
faz esguichar o sitngue sobre todos os
: nos anios e os homens são tes- canhão, e disparado o tiror voaram os seus membros pelo
i* *ã.,y, expira, iizendo ar até irern cair no oceâno.
que eu morro pela defesa rla Sancta
temunhas cie Pg::f
algozes contlnuam í)s calvinistas, tendo por coisa graciosa fazer-se servir
ôatholica, Apostolica, Romana; mas os
por um jesuita, pouparam a vida ao irmáo João Sanches,
aferiro,cac]avercomumaespecie<lephrenesisatanico. prin- cozinheiro dos padres, e lhe ordenaram que continuasse
;;;;it do pastor vão matar tntin' o' suas ovelhas' Ao onze para elles no seu olficio: João Sanches teve de resignar-se
;di; ;. .Àb0," o padre Azevedo guardando comsigo
aos a este genero cle supplicio, e veio a sair da Companhia. Al-
,aiigioro., manrlhra aos mais novos que se recolhessem
vinte e oito no- tos juizos de Deusl Manifestaram-se elles, mas por via de
baixos tlo navio. llstavam, pois, no porão
feridos tinham ido jun- misericordia, a favor d'outro mancebo. Trinta e nove mâr-
;:;; " outros ilois gravemente tyres da Companhia de Jesus acabavam de sutrir ao Céo
procural-os' e arrâstarn-nos
aur-.á * elles; os hereies vão
juntos, e faltava um só, o sobredito João Sanches, para
cadaveres de seus
para o canvez no sangue e no meio clos
a sua rnarsidáo' nem a completar esta gloriosa phalange de heroes: mas eis que
irmáos. Nem a sua mocida<1e, nem
discipulos de Cah'ino; pelo con- um joven, que no navio sempt'e buscava os religiosos,
sua moclestia desarma os
de iniurias grosseiras e cle-atrozes zom- levado d'uma sancta inveia, apresentâ-se aos hereies e ex-
tr"rior aurr"g"m-nos
era uma clama: nAinda aqui estou eu; matae-me, que tambem sou
f rtir.. B pJ"qo. o dia d'este memoravel martyrio
os angelicos padecentes a vio- da Companhia de Jesus,. nTu, lhe diz Jacques Soria, não
,u*t^ f"i.n, qu.."rn obrigar
mettendo'lhes na bocca o alimento pro- trazes o habito d'estes papistas, tu não mereces a morte»'
lar a lei da Égreja
:J|1 1á .#-"ik4'-

r49
)4à
- larPl.comotitulodevice.almiranÍe,masdevemosaccrcscen-
sc ittcliltrt sobrc o a horrivcl
I,{o mesmo iostante o fervoroso iovcn ;;;;;;; ;;iI,.*' a"npprovou epublicâmente libcr-
aa urn dos Ínârtyres que iazem aintla,solrtt: o cou-
.rr:,ar;;; tr.rntuao cot"tio, mandou pôr em
"*po da nâu Sanct'lago'
,"ri aa.polu-o da sua.rouPeta ensânguentil(lil) Ícveste-sc
ãrãã ; i.*a" Sànches e os câtholicos errad-o no Oceano
oEis-me rtltti rrgotrr : de ter
corn ella e diz ao terrivel corsario " O almirante Vasconcellos, depois
câir nas mãos d'outros
;;;;";" a viagem adrnirei as virtudes dosiesuitas' "'lgi rrs' t"i ..n.ç" Oe dezaseis 'ot"t'áasfoicostas do Brasil' quando
á sua Companhia: pedi ao.padre Âzc- ;;;t;;..'Estava elle á vista
."rrri-** chaÃado e cllc francezas e um
,"ã" q"u me recebesse no nuÍnero dos postulantes ."ri a" Setembro de t57t quatro gâleras
agora â vossa pro- esquadra inimiga é com-
oavio inglez cruzâm a sua froia'
A
fir'o frrornetteu ; peçO-vos que cumprâes cuia crueldade só erâ
út""' instantes o seu heroismo *nnaraí pelo pirata Capdeville'
*a.*r. Com e$eito, ""' S' Joãot Calvinista não menos ârdentet e
heroe' chamado de Soria'
recebeu a recompensa' Este ioven ""L"ira" nela o ,t*i'nnte portugueT conta na sua frota
capitão da nau Sanct'Iago' (r) .ile,J; i.,"
-- ronrhtto do da rainha Joanna d'Al- vão 'ever,o Evangelho
"ro
Jacques Soria estava ao serviço muitos iesuitas e que estes i"'uitns
das tribus mais rcmotrrs clo lllasil' deter-
"".^'tãfi'.g"ts ao seu dcsembarquc n'estt1 terrat e tirar a
mina ofpôr'se
Martyres do Brasil' O Bea'- este exem-
(r) Darnos aqui os nomes e terras dos Quarenta com
," l;'";;;;"-i;"".Jo,
da cidade do Por-
glorioso capitáo' era natural ,iJ, " à*.t sânctos religiosos' esperantlo a'ban<lonar
"t" aiphabetica os seus ditosos companheiros: B' e fazer-lhes
;.'"=";;;.';"';;, oti"* irmáos'
;i;-";f,n* o zclo de sÀs comecadâ' ordena' pois' o ata-
de Elvasl d' Afibnso de llaena' coadiutortemporal'dedo â emnresa tÍo telrzmente
Toledo; ts. Alvaro &'lendes' de Elvas;
"i.;I""».Wá", B' Àndré GonÇalves' de Vianna valorosâmente' vascor-
Correia, do PoÍto; B' Ànraro Vaz' coâdjutor
tempo' ;;;';. ;,,;;trguezes defendem-ie
u. tarda a câir rnorto
"i"àt"i"i B. Antonio Fernandes' de Lisboa' ainda^que outros
"ntonio o faze m cellos birte-se como um leão, mas náo
;;; ;t tiros redobrarlos das galeras franc-ezas' A
;;';;';";;t equipa-
deMontemór.o.Novo;B.AntÔniosoares,deTrancoso;B.BentodeCastro,
gern aterra-se com tal perda; os
temporâl' soldado§
;;;;;;ü r; birpado de Mirardella; I)' Ilraz Ribcirc' coadlutorde Andradc' {'ortuguezest
;; B;;]. Doning" b'ernandes' de Borbal B' Padre Diogo ilri,o fou.os para luctar com tantos inimigos' são venci-
que tambem tinha o appellido de Mi-
ãã í-i?"ie*c.roaui u' oiogo Pires' Íicam á mercê de seus algozes'
ã"*, á."ú;rrt B. Esteváo Zurara' bisáainho; B' Fernáo Sanohes' câstcll)a- ao.-.
--ó, o, iesuitas e Francisco de Castro sáo logo mortos;
-^.R[iranciscoAtvares,coadiutortemporal'deCovilhãil}.llt'attciscode pnir". Dias
Perez Godoi' Pcr(r11c dc san'tâ por espaço de
iiilffi.' ;;l.,itt à' !"rt n' Franci'io coadlt't.r tcrnpo- os demais são atormentados sem piedade
í;:;;;r, dc Torriios, tm Salamancal B' Gaspar Alrarcs' ll' (;regorio Escri' vinte e quatro horasl e por fim seus perse.guidores'
cança-
xtn'iq'"t, iumbt' ào Porto; sem
Íal, do Porto; B. Gonçalo
'B' Joáo F"'n'nd"t' de Braga; outro-l.r-'loáo FeÍnân- .dos de sua evangelica paciencia, os degollam a todos'
;;;;, ;" ;;;;rho; urn' padres'
pouparem nem a um 'à' D'ttt'ut'"
Joáo de S' Nlarti- de setenta e
;;;;;;-Li;"'r, B. Joáo &layorga, pintor' de Ar.agáo; l)'
temporal' de Xarez' á trarbaria dos
,i.i J" rr"".., em Totedo; g loão à" Safra' coadiutor de Evorai B' ,-rouiço. e irmáos coa.diutores, não-escapou
B' [-uiz corrêa, de Evora; ts' Luiz Rodrigrrcs' sanches' ain'la este só
e
;';;04";t
Manuel -A.lvares, coadiutor temporal' de Exlremoz; l]' Manuei Fernandes' ;;;;;;;r;r.. senão o ínieliz irmão aindâ gritam contra a in-
;;t;i";." da Beira; B. Manuet
pacheco, de ceura; ll. llercos ca!deira'. ioro ",.rrr,.o. E os protestantes
li' P-edro Nunes' de tolerancia dos catholicos
;; vix; ;, Feira; B. Nicolau Diniz' de Ilragança; de Braga; B' Simáo
I
Xavier
ilri.ir"; À. p.aro d" Fontoura, to'álotot tempor"l' Nas Indias orientaes continuava a obra do illusue
B' Simáo Lopes' de Ourem; B' porque
dâ Coslâ, co\adiutor lemporal' dá Po'to; com progressivos resultados, assim como-noJapão:
se âccrescentar âos mar'
loao, qo" tàmbem cl'am'vam S' Joáo' e que Por
Sanchcz' §e clrâmâ Joáo adaucto' de
do irmáo
Enre l)ouro .o ,nr-rguà clos martyres não cessava de fecundar a se-
;;;; Ji"g;;
€ Minho.
#.-_".*

r5t
I
bosque' alimenta'sc dc
mente evangelica, derranrada pelos tlrissionttrios rto nreio lado. Retira-se pois ao fundo de um
dos olhos tlc l)srrs'
de mil perigos. aleumas hervrs silvestres, e só deante
humana' orat perdoa e csÍ)cril
Nas Molucas os pagãos iunctavam seus csfor'çtis corll ()s p,:iu"ao <le totia a consoiacío
Europa íôra procurar
dos mahometanos parâ deter os progressos do cltristirtnis- ã p^i*, gloriosa do martyrio que da
mo, e tudo lhes servia de pretexto para cair de ir-tlproviso " tão longes terras. foi bem depressa sâtisfeita; porque
a
sobre as christandades vizinhas, derribando egreias, ab:t- à"^ .",i"," ambiqão foi
tendo cruzes e matando os habitantes que não tinharn titlo dà dia e de.floite no. borqoes pelos idolatras,
"..áo
finalmentedescobertoeenvenenacloporellesnodiaTde
tempo de se armarem para a deíensa: os christãos podiam dias inteiros em seu
salvar a vida apostatando, mas todos preleriâm rnorrer' ],""""r-a" r57o, depois cie estar oitoprivaçóes' exposto á
Quando porém tinham tempo de se preparârem para
re- ..i"lir"" retiror'soffrendo todas asa todas intemperies da
dn. íe"a' mais crueis e
pellir ou sustentar o ataque, marchava o missionario na ";;;;;" os esfor-
;;;;;.."., estaçáo' No JapÍro, apesnr de todos
iua frente levando a cruz levantada, mostrando-lh'a para rapitlos p]:il
f", q"."f"rir* ou l'o"'o* para impctlir. alargava mals "::
os
consolação e esperança, exhortava-os a morrer como vâ- cllc os
lentes defensores da cruz de Jesus Christo, que os infieis sos áo christianismo, todos os dias
cntlc christ'ios cra alli tão viva' que
vinham abater e calcar aos pés. Em r568 na ilha de Oubi o seus dominios. Â Íó os
á morte nos Iistados
irmão Vicente Dias, coberto de'feridas e todo ensanguen- resistia 1ts attteilcits, tros sr-rpplicios e
pagáos e clon-rinados pelos bon-
tado, deixou-se íicar heroicamente no campo da batalha, do. pnu.o,, sol,r.:ranos.lli'-r<1a
onde tinha a cruz arvorada para excitar o valor tlos solda- zos.l)ctistlerrttrilavaÍaoabuntjantest',ençáossohreostra-
parte dos
que a maior
dos, esquecen«lo-se de si mesmo até que a victoria se de- t,"it"ro. opor,olicos dos missionarios,
a Religiáo,'1.o,grande bonzo
clarasse pelos christãos. O padre Mascarenhas, superior da ;;;^;;pã.. tinham abraca'lo divina introdu-
X""il., como eiles aincia chamrvam á lei
missão <las l\{olucas, dava seus cuidados aos feritios e os
soccorros <1o seu ministerio, tlepois de ter pedido ardente- zida peto APostolo do Orienre'
collaborador n'esta missão
Sao aorrrpunheiro, amigo e -l-orres
mente a Deus a victoria que acabava de coroar este san- de vivia ainda e traba-
guinolento dia lrü;q;;, à p"4.. Cosme
de Francisco Xa-
Tinha este padre arrancado á idolatriar ou ao islamisrno, thai,a n'este campo regalo com os suores
envelhecido pelas
o reino de Siokon, na ill-ra de Mindanáo, o tle NIanaclo nas ,ia.; *n. a.o t ,,ito e"loso e duas vezes
Xequi na ilha
Resiciia elle em
ilhas Celebes, e a ilha de Sanglier, vizinha das Philippi- i;ái;J" seu apostolaeio' um succes-
nas, e estas espirituaes conquistas tinham-no tornado for- ãiÁãuturo e cle iti peilia a S' F rancisco de Borja
do 'Iapão'
nridavel aos inimigos <1o nome clrristão, os quaes tinham iu- sor, que preenchesse o seu cargo cle provincial
muito ternpo no mar; as viagens
rado a-sua morte. Benr o sabia o heroico iesuita, e o mar- Porenr as cârias gastavam
que tinha
tyrio era o obfecto dos seus deseios; mas .luem havia de antao de lo'nga duraçáo, e o padre Torres'
"**
pedido permissáo áe voltar á Europa, quando seu successor
sustentar a fé de seus neophytos, se elle se dcixasse apa- 'aiuarra .lr"go,1o, enfraquecia caJa dia mais'.Em r568 'r pa-
nhar de seus algozes? Pastor do rebanho que lhe fôra con-
fiado não póde abanrlonal-o ao furor dos lobos, nras deve clreValleclesembarcanoJapão,ontieérecebitloçomtrans-
iam áquellas
eiperar no retiro o rnomento rmarcado pela Providencia, e portes de alegria, como. totlts os iesuitas que
terras, porque para todo o japonez christão um iesuita era
continuar em segredo os trabalhos do seu Penoso aPosto-
 5r,
I
o mais terno dos paes. Apenas chegado f0rl4tlrltit pelo pa-
tlre provincial, e levado á sua presença a Xequi, pr()stril-se
o padre Valle aos pés d'aquelle nobre veterano dos nrissio-
narios do Japão e the diz: oPatlre nreu, vós fostes o amigo
do nosso illustre e venerado Padre Francisco Xavier; v<!s
tivestes a felicidade de o acornpanhar em suas perigosrrs
viagens, de partilhar os trabalhos e os perigos de seu glo-
rioso apc,stolado, de gr:zar de suas saÍIctas practicas, de re-
ceber d'elle eíficazes alentos, de vos aproveitardes de seus
admi'iaveis exemplos; permitti-me que vos beiie os pésr d
invocae todas as bençãos de Deus para os trabaihos que vou
emprehender parâ sua gloriar,
O padre Torres abençôa-o, levanta-o e aperta-o ao peito,
dizendo-lhe que o retinha em Xequi para uma conleren-
cia clue ia. convocar. Com effeito o pa<lre Torres reuniu
todos os padres disseminados em toda a extensão do impe-
rio; e depois de ter regulatlo os negocios de todas aschris-
tandades assignou a ctrda um sua missáo, e ficou esperando
ern paz a chegadil do novo provincial. Emfim, correndo o
anno de t57o, o padre Francisco Cabral desembarcou ern
Xequi com o titulo de prcvincial do Japáo, trazendo a seu
predecessor a licença de voltar á Europa: mas outros eram
os designios do céo.
O padre Torres tinha passado vitlte e um annos no .la-
pão, tir-rha baptizado corn suírs proprias mãos mais de trinta
mil idolatras, e mandado edificar cincoenta egreias: e Deus
não quiz que elle <leixasse seus despojos mortaes em outro
solo, senão n'acluelle onrle tinha recolhido uma táo ricir
messe; por isso, estando de verga de alto o navic que devia
leval-o á Europa, urn enfraquecin:ento mais sensivel indi-
cou ao velho missionario que a unica viagem que tinhâ de
fazer era a d'esta vida para a eternidade. Com esta nova
entrou o padre Torres rl'Llnr trânsporte de alegria que náo
'cessou senão com a vida aos z de Outubro de r57o.
I
lfJ
VII
ls ic1éas de independencia derramadas pelos hereies enrc'
íl tinhso, a Eluerrâ civil no seio clos Estados da Europa e a
divisão entre os principes cathclicos. Os'turcos t-inham terr-
tado aproveitar-se d'estas perturbaçóe§ lançando-se nas cos-
tas euiopôas, porérn vigorosamente repeliidos pelos caval-
ieiros de Malta, viram-se obrigados a recolher-se em suas
terras, e pareciam ter renunciado ao seu proiecto de inva'
.são, quando repentinamente transpirou que Selim II inten-
tavâ âtacar os Fstarlos da Egreja e a trlepublica deVeneza'
Fio V, longe de se aterrar com o perigo que ameaçava os
Estados câtholicos, achou n'este mesmo perigo um meio de
restabelecer a união entre os soberâuos, chamanclo-os a de-
fender a ligrefa e a Cruz de Jesus Christo, bem certo de
,que todos ellcs seriam fervorosos em acceitar uma tal honra,
t" unir por uma ta1 causa. Para negociar esta allianca
"tão"rnimportante, escoiheu o PontiÍice dois membros do sa-
cro collegio, cujos talentos .liplomaticos bem conhecia Um
era o seu sobrinho o carcleal Alexanrlrinor o outro o cardeal
Commenclono) que gozaYa da maior reputacáo de satredoria
e habilicla,le. Os dois legaclos são effectivamente enviados,
r: primeiro aos reis de França, Hespanha e Portugal: o se-
.gundo ao rei de Pol:nia e aos soberanos de Allemanha. O
.c:rrdeal Cornmentlono represefltou ao Summr: Pontifice to-
ti
das as ctriilculdades cle urna tal missáo, e pediu que ihe desse
ri
por adiunto o padre Toleto, sabio jesuita, cuias luzes e con'
selhos lhe serião necessarios, e por vontade do Papa entrega-
il lhe S. Francisco de Bnrja o padre Toleto. Por sua parte o car-
,l
deal Alexandrino pretende nada menos do que ao proprio
$
ü
lirancisco cle Borja, como estirnado ou parente proximo que
era de todos os soberanos, por cuios respeitos podia só com
â sua presença aplanar todas as difficuldades e dispôr favo-
$
t ravelmente o rei de Hespaoha e o de Portugal. Approvava
t.
,rr,
PÍo V os cleseios de seu sobrinho, mas bem sabia quão dif-
 r5!.
Íicil seria tal missão ao ântigo clr.rqr-rc tlc (inrrtlirr. Srrl
estâva quasi extinctâ; seus padecirrcntos criln) c()lltinu()s c
os trabalhos do govelno traziam-no toclo occupltlo. 'l orlu-
via depois de ter ponderado este negocio deantc tlc l)ctrs,
o Papa manda chamar Francisco de Borja, e lhe declar-ir o
desejo do cardeai Âlexandrino.
O sancto religioso estava realmente extenuado rle forças,
mas o Summo PontiÍlce tinha fallado e allegado o bem da
Egreja, pelo que Francisco de Borja, sempre esqueciclo de
si mesmo, não hesitou ern arrostar as fadigas de táo longa
viagem, e as difficuldacles de tão delicacla missáo. A 3o de
Junho de r57r partiu elle com o cardeal Alexandrino, o
quâl era acompanhado em sua embaixada por um esplen-
dido corteio de prelados e fidalgos, ao mesmo lempo que
o padre Toleto se ilirigia com o cardeal Commendono
frara as varias côrtes do Norte.
Felizmente a Allerranha estâva prepararia pelos jesuitas
para receber corn o respeito devido o legado apostolico,
mas a hercsia contâvâ ainda alguns protectores secretos en-
tre os principcsleleitores, e de todos se valeu para peâr as ne-
gociaç<íes tlo carcleal. Até então todas âs manobras dos se-
ctarios contra â Con'rpanhia de Jesus sómente tinham ser-
rido para o triumpho e maior desenvolvirnento d'aquella Or-
dem. Em todos os Estacios allenráes se rnultiplicavam os
collegios e ils casas de jesuitas, e os protestantes, lamen-
tando a inr-rtilidaele de toclos os seus esforços par,r urruinar
este Instituto na opiniáo dos povos e dos soberanos, deter-
minou dar um golpe mortal e decisivo n'esta corporação
predilecta, que elle olhava como o seu mais terrivel adver-
sario. Os principes eleitores iarr reunir-se para trâctar da
atrliança proposta pelo Papa, e o prirneiro empenho dos se-
ctarios havia de ser impedir esta allianç4, e obticlo este
ponto, facil seria durante a sessão fazer que a dieta pro-
nunciasse a expulsão dos jesuitas de todos os circulos al-
lemães: Assim calcuiavam os protestantes, mas os princi-
pes seus amigos viram desde as prirneiras reuniões mal1o-
_,55
vi<la gratlo o seu intento. Quando um d'elles proPoz ir cxpttlsiirr
dos jesuitas, Maximiliano de Austria lançou'll-re ttrl olltrtl'
fulminante exclamândo indignado: «O meu dever Ú it' l';r
ter os turcos, e não perseguir os iesuitas,.
Ern Bohemia, nâ assembléa dos magnatesr o mesmo rls-
sumpto, a liga dos principes catholicos, fez surgir a mesn)ir
proposta contra os jesuitasl mas o burgrave Joáo cle Lablr.o-
r,vitz, depois de a ter repellido energicamente) accrescentou
estas notaveis palavras, que a historia conservou. «Ahl se
a Companhia de Jesus tivesse siclo instituida dois seculos
mais cedo, e tivesse penetrado em â nossã Bohemia, não
saberiamos hoie o que é heresia,.
Portanto os lutheranos não conseguircm senão fazer mais
estimada uma Ordem que elles queriarn aniquilar, e n'es-
tas circumstancias muito se podia esperar de uma nego'
ciação que a Cornpanhia de Jesus.coadiuvava, e nâ quâl o
paclre Toleto se occupâva officialmente. Com effeito esta
missão teve toclo o successo que se podia deseiar : todos
os principes catholicos entraram na liga proposta pelo
Surnmo PontiÍice para defensa da Egreia e da Cruz de .Ie-
sus Christo contra os infieis e â meia. lua cle Mahomet.
Da sua parte Francisco de Boria clesernbarcava em Bar-
celona com o cardeal Alexandrino e sua comitiva a 3o de
Agosto de r57r. Pondo o pé no solo da sua patria viu-se
o antigo cluque acolhido por seu {ilho primogenito, duque
de Gandia, D. Carlos de Roria, que fôrâ enviado solemne-
mente para o receber em nome do seu soberano, com LImâ
carta em que o rei de I{espanha exprimia ao sancto reli-
gioso tocla a sua sãtisfação pela missáo com que o Summo
I)ontiÍice o honrava, e accrescentâva: nSinto uma granrle
illegria, rluitndo penso que dentro de pouco nos abrzrçirre-
n:os; tlois vclhos amigos cle infancia são sempre felizes
quando sc tonrlln il encontrar». O rei com effeito recebeu'o
como titl, c Iiriutcisco de Boria para bem da Egrela procu-
rou aprovcilitr sc tla bcnevolencia e confiança de seu real
parentc. I)cpois tlc olttcr clo soberano que entrasse na liga
 I 5(j
,los principes catholicos, fallou-lhc clos obstrtcrtlt)s postos
pclo vice-rei de Napoles e cle Sicilia ilo zclo tlo srlttcto ar-
cebispo de Milão, o cardeai Carlos Borromeu Âtc cntío
tinha o rei de Hespanha fecl-rarlo os olhos sobre este procc-
dimento do seu vice-rei; tnas representando-lhe o paclre os
graves inconvenientes que carregam sobre os povos nas
dilfrculdades que se levantam entre os seus soberanos e a
côrte de Roma, Philippe lhe prometteu fazer cessar este
abuso do poder. De Hespanha Partiu a legação para Por-
tugalronde a missão do geral daCompanhia cle Jesus era mais
difficil de cumprir jr-rncto do joven rei D. Sebastiáorporque
os animos estâvam divididos ao redor d'e1le e em seu con-
selho a respeito dos jesuitas. Começaram os mal affectos a
clizer que os padres alimentavam a paixáo d'el-rei parâ ar-
mâs e guerras, e agora vinha o geral da Ordem propôr-lhe
qlre entrasse n'uma guerra europeial que os iesuitas des-
,inu^* o soberano cl'uma allianca com â Casa de Austria,
e o seu geral vinha persuadir-1he que se desposasse com
uma princeza franceza. Com serfalsa a accusação, nas
mãos clos adversarios era uma arma terrivel contra a
Companhia de Jesus em Portugal; porém os intentos hu-
manos não entrâvam em nada na vida de S. Francisco de
Boria, nem na de S, Pio V'
Á primeira palavra relativa á cruzada catholicâ contra os
turcosrD. Sebastião exclamou que elle ia partir h frcnte do
seu exercito, e quando o sancto geral lhe declarou o clese)o
que linha o Summo Pontifice de que sua alteza se li-
gasse com a casa de França, o ioven principe (tinha deza-
t
I sete annosl, esquecen<lo-se da sua viva e constante opposi-
I
cão a esta allianca, the prometteu que se desposaria com
Margarida, irmã cle Carlos IX.
Emquanto o cardeal legado, e Francisco de Boria tracta-
uu- importantes negocios na côrte de Portugal, Phi-
lippe"it..
II ordenava a D. João de Austria que reunisse em
Messina as esquadras alliadas, e que as fizesse avançar ao
encontro dos turcos'
r57
O almirante Barbarigo, veneziano, o marquez de Stlncta
Cruz e Marco Antonio Colonna commandavam ctrda qual
uma esquadra, e D. João de Austria tinha o commando em
chefe da armada. 0 padre À(artinho Becingucci, jesuita,
estava na capitanea do almirante Barbarigol o padre Joáo
de Montoya na do trlmirante Sancta Cruz, o paclre Christo-
vam Rodrigues na galera real de D. João de Austria, e mui-
tos outros jesuitas estavam repartidos pelos diversos na-
vios, e os padres Capuchinhos serviam ua armada porlti-
Íicia.
O encontro teve logar no dia 7 de Outubro cle r57r no
gollo de Lepanto, e immediatamente se travou o combate,
o qual Íbi decisivo : o almirante Barbarigo foi ferido mor-
talmente perto do padre Becingucci, que o recebeu em seus
braços; mas os turcos perderam trinta mil homens e cento
e vinte galeras n'este memoravel dia, cuio brilhante süccesso
níro póde ser trttribuido senão á proteição da Rainha do Céo
ir Íavor do exercito cati-rolico.
A zo de Janeiro de t57z o legado Alexandrino e Fran-
cisco de Borfa chegaram a Blois, onde se achava a côrte de
lirança; porérn a sua dobrada missão não pôde ter resul-
tado satisfactorio I porque o temor de irritar os protestan-
tes, e as exigencias da guerra civil que elles sustentavam,
não permittiram ao rei entrar na liga dos principes catho-
licos, e Margarida de França estava Promettida a Henrique
cle Bearn como penhor de paz entre os partidos que divi-
diam o reino.
I)ispr-rnha-se o legaclo a voltar para Italia, quando recebeu
ordeu-r rle correr a ltoma, porque Pio V estavâ a morrer.
Já elie tinha recebido â recoúpensa de suas altas virtudes,
quando o scu arnigo Francisco de Boria tornou a entrar na
cidade eternir, tlcpois de uma viagem que tinha acabado de
exgotar suas Ii»'crts. l'ixpirou o'sancto Papa, succecleu-lhe
o car<leal Buortcotnpagno com o nome de Gregorio XIII,
e, a poucas senlanas)se$Ltiu a Pio V na eternidade Francisco
tsorja, porque chcgado a ltoura a z8 de Setembro de r57z
 I r58

o sancto geral dos iesuitas expirou noprimeiro de Outubrot

I

no nreio ãu..u, queridos irmãos, exprimindo, o-ultimo

de-
itt
seio pela paz da Égreia, c a ultima oracáo pela Companhia Generalato do Pad"re Everartlo IVIer-
cle Jesus.
l euriano-Quarto geral da ComPa-
1l
nhia
I 1ír?/',3-7.íí8O
l
í A guerra civil nunca terminava etn Franca. Vencidos em
um ponto os calvir\istas passâvâm logo para outro, refor-
t, mavâm o'seu exercito, e caiatn de novo e sempre de im-
proviso sobreascidacles, as aldeias e ashabitaçóesfeudaes.
{
Abatiam as cruzes, roubavam, profanavam e queimavam as
í
egrejas, saqueavam e clestruiam castellos e mosteiros, ator-
mentavam e matavam os habitantes fieis á fé de seus paes.
i
E a isto chama'r,am elles estabelecer a'Íleforma!
1l
'l
SiH» Este estado afllictivo exigia clos catholicos uma descon-
lj rl fiança sempre álerta, e da parte do clero uma prudencia
t extrema, porque os hugonotes tinham espióes por toda a
'{ I parte até no interior das familias e dos mosteiros.
Um dia no mez de Fevereiro de 1573 caminham tres sa-
1

i
!
cerdotesr'acompanhados de um leigo inteiramente vestido
,l 'â
I
,{ de preto, a pe e de companhia pelas montanha§ de Quercn
t ,i
sem nem sequer suspeitarem os perigos que corriam, por-
I
t
I que tinham iá atravessado sem obstaculo uma grande ex-
tensão de terreno. Estavam elles perto do castello de Cardail-
lac, e seguiam a extrema de um souto de castanheiros,
quando de repente resoou o grito: Morram os papistas,
como um longo rugiilo, puxado por muitas vozes ao mesmo
tempo, e os piedosos viajantes se viram no mesmo ins-
tante cercados por soldaclos hugonotes, que estavam de
emboscacla na Boresta, O chefe da tropa, dirigindo-se aos
tres sacerdotes, lhes pergunta em tom de ameaça quem
são, ci'onde veem e para qnde vão. Persuadidos da inuti-
Iidade da resposta e que nacla.podem dizer a seus inimigos
 r6:
t(irr
ouarto geral da Companhia de Jesus abriu-se a rz cle Abril
-,fi d" ,S71, e no tlia seguinte o padre Everardo J\trercuriirno,
que e*es, náo'-1b 1T:, :
; ;:l ll*,'J,lillli]i:'''l #lT':l; belga, de edarle de sessenta e oito annosr fôi proclamado
lencio. Náo resPondels t. r'ct'l:t'lr:' 'l:r
(),trr1'1-
com maioria devinte e sete votos; o qualiunctava a um es-
JJ;lir; ;,t pu'l"t?oot intt' Aoncle idcs i'A'' l{orrr:r'
Nós srtm,s'
li)lles
pirito cheio de vigor rara prudencia e mansidão inaltera-
nhia de'Jesus, diz unr il IloÍbr rnrt' cxcla-
vão a Roma conspirar "ánt'* "Ot'
contr:r vel. trsta mudança de geral reanimava tanto mais as esPe-
llos
faliandrr com estcs ; ll):rs ranças dos herejes, porque coincidia com a do,cabeça da
*"" af',tf" dos hugonotes l1ovo pirril
"
vamos envial'os a outra
parte'-E voltan^1o-^::^:lc
prtril
Egreja. Entendiam elles que o mailogro de suas habeis rna-
âs suâs victimas accrescJr-rta : Nós vamos expe'ciir-vos ,rãb.r. para arruinarem os iesuitas na opinião de Pio V,
(lu tor-
mais curta' e ficaes'livres era devido á consideração do Papa com o antigo duque de
o outro munclo; é viagem ser' diz outro' que
oardes a ser detidos oo
caminho' A não Gandia; mas como agora o geral da Companhia não era
quenl pagasse benr'
se façam resgatrr i se houvesse de procedencia real, espelavam os pro(e§tantes achar Gre-
elles o cheÍ'e'
ol ul"t'. U' tttt:i:*::tu gorio XIII mais accessivel á calurnnia. lf de facto puzeram
nós poderiamos dcixal
sotução' pois emquanto^não poclermos logo *ãos á obra aproveitanclo as molas que 1'á estavam
oue seria a melhor
ã,.i". ,.o,lo.,'p"".onos imporra que haia tres dispostas, e s<! precisitvittr tlc mol'imento' Apenas a nova da
H; ã;
i.-
* ":'; eleição <1o pa,lrc Mcrcttriano chegou a Allemanha, logo das
i : : ::
"1,',,, oravlm ": i n: ã il
espel .T",1'l?; J'"" :tTl: principacs cirlldes cl'este vasto imperio se levantou urn
tretanto
assás ciemora<la e decidiu-se grito formidavel contra o ensino dos jesuitas nos collegios.
seus algozcs À tltlif'""çào loi
pelo resgate' As populaçóes âssustam-se, os principes espantam-se, a
-^ Prls uma §ommâ e -bastante alta' conÍiança vacilla, e o imperador consente que ihe arran-
ProPuzeram ilos --:''ioneiros
a nossa vida em' ta<> alto preco, quem um decreto pelo qual fica prohibido á Companhia
Nós níto poclenros avaliar

*:lilsil }*: g:::;:Tlx I rlJ Ll ; #J *x x x : Conferir os gráos acaclemicos, expiicar os mesmos livros
que se explicam na universidade, e fazer as classes nas mes-
cato' mas horas que as suas. A pobre universidade collocava-se
pral-a io 1"
E o rclbrmador aco
]i'][;ff:'Ii::' palavras com tirc';s
e
c]e
sempre do la<lo da heresia, quando se tractava de fazer mal
tt"u os prisioueiros' pistrva-os aos iesuitas ! O padre Maggio, provincial de Allemanha, es-
bacarnarle, lançava p-oi ot padres Gil
uri., a... lesoitas :tnT tava em Roma, e sabendo d'esta empresâ temerâriâ contra
feria-os cruelmente. e Joáo
Gonçalves, provincial ;;;';;;il;' Martinho'G,lierres a Companhia, parte no mesrrlo instante, corre a Vienna,
eÍa unr ilmão coadiutor'
falla ao imperador e aos ministros, e Maximiliano,reconhe-
Soares, e o que ou uto*p'"ilava
ãt'i""a" nenhum a-attenção |: cendo que fôra enganado, abroga o decreto. Os protestan-
o oual não excitando E'ra ^":
o unrco
:.ffi #"';;;i;; puà'" G"nçulues'pôde fugir' tes jurâm vingar este revez em Inspruck; mas tambem alli
impcditr os a verdacle não tarda em triumphar da mentira. Por mais
"rionla a causa -que rlo gerrl'
mcio tlc fazcr satrer i ê"-1n"tti"
üe 'irern
u prra a e'leicáo activo que fosse o zelo dos adversarios da Companhia de
lres pa,lres gl'aYemente feridos'
os treu ficaram Jesus, não pocliam elles fá fazer acceitar em Roma como
Afinai, ain<la que to'1o§
I
e João Soa-
só morreu Ntottinno àoÃ**t; Gil Gonçalves coisa seria calumnias cuia trama tinha sido tão facilmente
iesuitas u!]-iii" conhecida. Gregorio XIII até houve por bear lançar mão
1

Í ;;.'i;* resgatados pelosdos professos para a eleição

do
I
t, À congregaçao gtàt HÍSTORIA DÀ C, DE J. II

t
'í,
,l

il
(
í
 r()2 r63

unl tcstemunho es- isso mesmo que os achavam inoffensivos, tolerayam-n,os

d'esta conir-rncturâ pirrit tlltr itos icstlitils
iu .r" contitnçrt, ctlvirttttlo rtrl pittlt'c (lanisio.um sem difficuldaá. I *". não era assim a. respeiro dãs jesui-
"far,fia.
ã.aua p"lo qual o investia cotn rl titttlo
tlc lcq;trlo'c cllvlilvil
() tas, e só o nome d'elles os aterrâr,a : attrahir, pois, os pa-
c srrlzllurg: .dres a este solo inimigo era expôr-lhes a vidp.
."aaa.iir"*ante ás côrtes <1e ALrstrirr, llirvrcr.:r
l

dizia o Pontifice, pol'(ltlo sÜi (ltrilllto il vosslr Catharina via todos estes obstaculos; mas como tambem
"Escoihi-vos, r:irctttltstan- isabia que, para salvar almasro Êlho de S.trgnacio sabe cor-
r"U;a"ti, e ilabilidaçle podem ser trtcis tt'cstrts
I

d'esta missão o cardeal Moloni lrctlirr qrte o rer qualquer risco e ârrostâr a propria morte, sempre
I
I "iã"-ô"p"it afinal se decidiu a escrever ao Summo pontifice fa-
nadreCanisiooacompanlrasseádieta<iellillislrtlrtit,cpor
bispo de Brescia lhe rogou dcpr:is tltrc
Íbsse zendo-lire conhecer o estado da Suecia, e pedindo-lhe
il;';;;.-; um jesuita para esclarecer o rei e determinal-o a voltar ao I

com elle á de Nuremberg'

e âs honrâs lam seio da Egreja. O geral designou o padre Estanislau War-
Assim fugiam os jesuitas das honras'
sevicz, cuia influencia era tão grande na Folonia, que alli
nrocural-os : os seus tntmigos empregâvam todos os
tucit»s

ãr."*ut, e a Pro"videncia os collocava sempre clc tinha determinado a eleição clo duque de Anjú para a co-
:;;;;t rôa dos Jagellóes.
*odo qu" fossem vistos e admirados'
com a côrte O padre Warsevicz pârtiu na qualidade de enviado da
A Suecia não tinha rompido manifestamente
o reino e até no throno do' princeza Anna de Polonia, irmã de Catharina, e com este
de Roma, e ainda que em iotlo
lutheranismo, restava comtuclo um
nucleo ca- tituio pôde chegar a 16 de Julho de t574, atéácôrte. Arai-
;i;r;t; o nha destinou-lhe secretamente um quarto do palacio, até
apostatado'
tholicol porém os tutttáott' que não tinham que dispozesse o rei para o receber. "Ioão III consentiu ern-
careciamdascierrciaedozelonecessariopâraluctareffi-
e a fó ia-se fim e teve com o padre conferencias de muitas horas por
sectarios'
câzmente contrâ o proselytismo dos
vez mais nas almas' espâço de cinco dias; mas receando perder a corôa que
eufraquecendo cada
-" a Egreia Ro' já sentia vacillar-lhe sobre a cabeca, não pôde resolver-se a
ô=i.l Joío III dese)ava sim a união comconcessoes lm- sacrificar o erro que em seu peito condemnava á verclade
parte da Sancta Sé
*Àr, .no, queria da Romana é a unica que reconhecia, preferindo o seu throno á sua alma e
nossiveis : sabia o' ttiu que a Egreia
á salvação de seui subditos. Todavia o rei punha as suas
5;;;;;i" ;a verdade, e que fóra de sua auctort9l:^::- condicões I Se o Papa, dizia, conceder á Suecia a com-
póde achar senáo o erro; mas o prlnclpe
I
não se
I ",.à*u ;;; ir,,i,, n-'" disputava o throno e.João III não munhão debaixo das duas especies, a celebração da Missa
É"il; todos tinham en'r lingua vulgar, e o matrimonio dos padres, ainda eu po-
queria indispôr seus p*'iitlu'iot, os Quaes
t

tlcrei propôr aos reformados a rer-rnião com a Iilgreja Ilo-

abraçado t lleÍbrma' catho- manâ) porqLlc os sut:cos nunca scrão clth«rlicos scnrio
A rainha Catharina de Polonia' profundamente fa- cste nrcço. -l'ircs t:ontliçõcs crilr.!l inrrlrlissivcis: o
llor
d" deseiava
ll;a e vivumente a{nicta pela cegr:eira l:Ío'.de que a sua Irirtlrc
na Suecia, persuadida Warsevicz tlcspcrlirr-sc tlc .loío lll, 1r;111i11 rro rlirr r4 tlo
i
,". os iesuitas
seguinte nrez clc "i\qoslo c rro tliir ll rlu Sctcrrrlrr,() c:icrevel.r
I "n,.^,eioqulncia e a efÊcacia da sua virtude fariam vol-
."ienciu,
I
de seus irmáos; porem isto era diffrcil' de I)antzicl< uo patlrc ge rrrl l tlrrr.llrc contil (lil sua mis-
l tar o rei á religiáo
"catholicosr'além
ó, .r...dotas de serem Pollcos' eratn de são.
por Nos primeiros clias de Mlio rlc r576 orrtro jesuita cle fa-
I
{ ;J;;";;t.ia egual á sua indifferença' e os herejes'

I
,1,

,l
í

]I
í
í,

ri
;l
 r64
milia o padre l-ourenço Nicolai' enviado por-
norwegla,
Gregorio XIiI, apresentou /r ririnha da Suecia I a rainha'
se
pedío a João III que o recchessc e lhe clésse licenç:r para
iesidir em §tocholmo. llcccheu"o cl-rei e mostrou-se cn-
da nransicliio, tlu 6ritçrt e da conversação do ie-
"urrtrtlo
,rrira, *rt; nruittl ctrllltlrttl:ittlo c«rnr n sutl petição rcflcctiu
largo tenrpo, c dcpois lhc tlissc: nl'lu rtiio prlsso cxpôr-vos'
,o'iauurrtr,n'r"t.tto populitr tlttc cxcitlria sti o sirlplcs nome
de icsuitt: não lia scnão um nrcio tlr: vos Íitzct itccritar'
Como sois norl\'etlo, ide ter conl atlucllcs tloutores que
conhecestes antigamentetdizei-lhes quc tcrldo estLldilclo
na§'
universidades de Lovaina, Douai e Colonia, voltitis ri vossa
patria corn intenção de proÍ'essar na de Stockolnro' prra
isso pedi-lhes vos alcancem dos ministros da corôa crrtas
de recommen<iação para mim; vós me apresentareis essas
cartas, e eu ,então vos auctorizarei a professar a theoiogia
Íra nossa universidade. O patlre Nicolai teve de acceitar'
este afuste, para poder trabalhar secretamente em fortifi-
IIa-
car a'fé dos catholicos e em reanimar a sua piedade'
que os bispos lutheranos instavanr com o rei
via tres annos
que mantlasse lTlatar §eu irmão Erico com veneno, para se
pô. ,a.-o ás divisóes politicas-q-ue perturbavam o reino'
Àté lhe representâvam o fratricidio como um dever cle
consciencia para bem de seus subditos' João por fim cedeu
ás suas criminosas solicitações e a z5 de Feverciro
de t577
Erico foi envenena«lo, e seu irmão entrou com este crime
I
na posse tranquilla «lo throno, que lhe tinha sido longa-
i rnente disputado.
í Por sua parte a Sancta Sé procurava determinal-o a pro-
fessar manifestamente o catholici§mo, porque do regresso
\
do soberano dependia o dos subditos, e para esse effeito
Í
I
decidiu enviar urn ao rei com o titulo de nuncio
iesuita
apostolico"
Por proposta do cardeal Ptolomeu de Como foi esco-
thido pará esta importante missão o padre Possevino'
cujas instrucçóes continham que devia trabalhar em fazer
r65
'triumphar a Fé no Norte e impedir o rei de §uecia de pôr
a sua frota á disposição do principe de Orahge, chefe do
exercito protestante de Hollanda' O humilde iesuita partiu
.de Roma a r5 de Setembro de r577, acompanhado dospa-
dres Fournier, francez, e Guilherme Good, irlandez' pas-
sou antes por Praga, e con[erenciou largamente corn a irn-
peratriz da Allemanha, viuva de Marimiliano II, a qual o
nomeou seu embaixador extrâordinario !uncto de Joáo III
para lhe facilitar a entrada na Suecia e na côrte. Como o
Papa lhe tinha ordenado que se despoiasse por algum
tempo de todo o indicio exterior de religioso e sacerdote,
,o padre Possevino resignou-se a revestir-se corn o esplen-
diáo trajo dos embaixadores de g,randes potencias, e foi
recebiclo na côrte de Suecia com todo o apparato e cere-
monial usado em semelhantes apresentaçóes offi;iaes. En-
tre os ficlalgos que cercavâm o throno quem poderia sus-
peitar, que ãste magnifico embaixador tinha feito humilde-
rnente â pé a maior e a mais penosa parte cla sua viagem,
e não cingira a espada sobre este rico vestido, senáo no
momento de tocar o territorio no qual lhe náo seriam to-
leradas as insignias da sancta pobreza !
Depois d'esta primeira recepção a titulo de embaixador
da imperatriz, pôde o padre Possevino fallar ao rei ern
particular e âpresentar-lhe o Breve pontificio que o inves-
tia no titulo e poderes de nuncio apostolico. A curia ro-
rnana ainc{a não tinha respondido ácerca das concessóes
que Joáo III lhe pedira por meio do seu embaix:rdor,e por
isso o nuncio do Papa era tractado corn urna certa reserva:
mas o padre Possevino soube ganhar a conÊança e affei-
ção do rei, e tão efficazmente o illustrou e convenceu, que
João se decidiu a abraçar a Religiáo catholica, mas dese-
java fazel-o em segredo até que chegasse a resposta da
Sancta Sé. O Legado que via e avaliava o estado das coi-
sas, e sabia que o rei não podia realmente declarar-se ca-
tholico sem comprometter não sómente sua auctoridade,
que podia ser derribada por uma insurreiçáo, neas tambem
 r66
a sua esperânça de unir a Suecia com a Egreja Romanar,
condescendeu corn o soberano.
A 16 de Nlaio de r578 erguia-se um aitar nos aposenros.
reaes: o rei, a rainha, o governador de Stocholmo, Nicolau
Brask e .loão Heinrichssohn, secretario do rei, estavam pre-
sentes n'esta capelia improvisada: o padre Possevino apre-
sentou-se em habitos sacerdoÍaes para celebrar a sancta
illissa; o rei, sem lhe dar tempo de se aproximar do altar,
sae-lhe ao encontro e lança-se-lhe nos bracos, dizendo:
oMeu paclre, eu vos â5raco a vós e a trgreja Ron'rana para.
semirre». Joáo lIi fallava vivarnente commovido, seu rosto
estavâ banhado en-r lagrimas de alegria; fez a sua abjuração
com rima voz firme, e encheu de consolacão o coração da
piedosa rainha e o do apostoiico padre que recetria suas
promessâs em nome da Egreja.
0 padre Possevino tinha esperança de convencer o clero
lutherano, assirn como tinha convencido o rei i mas antes
de cmprehender esta missão precisavâ de voltar a Romare
com cÍleito a zo de Maio, quatro dias depois da abjuração
do rei, cnrbarcou cscoltado até á outra margem do es-
tlcito por tlLurs li'r1;utas reílcs, e levando con-rsigo sete io-
vens quc niio tlrclilrur j;i scpar:rr-sc rl'clle scniio pllrír cntrâr
no noviciirtlo tlir ()orrrlrrrnlria dc .lesrrs, l,)stirs prcriosas con-
qr.ristas lrotliturr sct llirril o lirlttro, t'ortr <t itrrxilir, rlo cúor tle
granr.lc trtilitlrrrlc Irrltr lr glolil tlr: l)cus rrir pltria clc cacla
unl ; I)or (luc cinc<l tl'cnlrc clle s pcrtctrcitnt ii Succia, um
era l'Llsso c () sctlulo litlrtrarrio.
Passantlc, por Dantzicli o parlrc l)ossevino enviou dois de
seus irrníios, Estarrislau Warsevicz e AndÍe Wissor.vshi, a
Stockolmo para ajudirrcrn o padre Nicolai em seu arduo e
perigoso apostolado. Ii mais fez aincla o piedoso diplomata
e hunrilcle jesuita por aquelle desgracado pâiz que o inferno
procurâvâ reter nas trévas do erro. Conhecendo os temo-
res de João III e a exaltacão dos lutheranos, e sabentlo que
uma insurreição repentina podia derribar o throno, se a
conversão do soberano fosse divulgada prematuramente)
t67
pensou em procurar-1he aliianças catholicasr pelas quacs o
principe ficasse solidamente apoiado no caso de revoltrt'
N'este intuito, em todos os estados que atrave§sa! tracta
Possevino cle dispôr os principes e seus ministros a favor
de João lII. Todos effectivamente entrâm na allianca que
o padre thes propóe, e o imperador Rodolpho II até lhe
promette clar sua irmã em casâmento a Segismundo, filho
do rei da Suecia e catholico fervoroso. Emfim chega a
Roma o zeloso padre, e vae dar conta c1a sua missão a Gre-
gorio XIII. Mas novos trabalhos surgiram logo,e o humilde
jesuita não rleve gozar outro repouso senár: o da eterni-
dacle. Por um Breve do primeiro de Dezembro de r578 o
padre Possevino foi coníirmilclo em seu titulo de nuncio
âpostolico na Russiit, nn N{,rravia, na Lithuania, na Hungria
e em torlos os Estados do Norte com poderes illimitados I
e ao mesmo telnpo um iubileu universal era annunciado ao
mundo parr impetrar as bençãos divinas sobre a sua im-
portante n'rissão.
Possevino tornâ â pôr-se a caminho, acompanh:lrlo do pa-
dre Luiz Odescalchi: pára em Baviera para conferenciar so-
bre qrirncies interesses <1o catl:olicisrno com o principe A1'
Lrerto; em Praga tracta coLr: o irnpera<lorre segue para Ol-
mütz, onde funda a grande missão dr: Norte. Parte depois
para Wilna, oncle é esperado por Estevam Bathori, rei de
Polonia, mas pára em tr:das as ciclddes que estão na sua pas'
sagem) e por toLla a parte faz ouvir a palavra c1e l)eus cot-l-l
um fervor e uncção que dcspertain a fé, excitarn a pieciade
e reanimam o zelo dos câtholicos. Sua palavra tinha uma
tal eÍücacia sobre os espiritos e sobre os coraçóes, qr-re onde
elle encontrasse ruinas accuLlulaclas peia heresiar logo as
restâuravâ para a maior gloria de Deus.
As egrejas, os mosteiros, os collegios comc que se reno-
vâvam e á voz clo eloquente religioso recuperavaÍn o seu
culto, os seus adoradores' e os seus religiosos cle tal moclo
que cada um dos seus passqs e catla uma das suas palavras,
dtrrante estavioÉiemrerarn outras tantas conquistils contra os

r68
Egreja. Depois de ter fallado ao rei de Polonia
inimigos <la
embarcou Possevino em Dantzick para voltar á Suecia'
Entretanto os lutheranos, inlormados já das negociaçóes
encetadas pelo seu soberano com a Sancta Sé, e vendo a
protecção que este principe concedia aos iesuitas, cuia pre-
Stochholmo iá se não podia occultar, tinham-se li-
i"nçu
"- os calvinistas e protestantes de Allemanha
gado com
I
para deter os progressos do catholicismo na Suecia; e, afas-
iando os jesuitas, subtrahir inteiramente o reino á Egreia.
Apoiados por Carlos de Sudermania, irmão do rei, em-
pregavam os hereies todos os meios para aterrar a João III,
e mudar suas disposiçóes. E ao mesmo tempo os predicado-
res, abusando da credulidade do povo, procuravam exaltal-o
contra o gue chqmâvam papismo, que the representâvam
como o dragão infernal ptettes a devoral-o. A agitação ia
crescendo cada dia mais e tornava'se ameaçadora, quando
chega Íinalmerlte â resposta da Sancta Sé sobre as conces-
sóes pedidas pelo rei. Era como a tinha previsto o padre
Possevino: a Egreia não podia dividir-se a sÍ mesma; deve
ser necessariamcnte una. A vista «l'esta recusa o rei deu-se
por desobrigaclo. A Sancta Sé informada pelo padre War-
teviz da murlançir feita no e spirito do rei, escreveu por meio
do carrleal de (]omo ao paclrc Possevincl instando com elle
que fosse á Sueciu, porqtlc, dizia o cartleal ; "Qrrando nós
tivermos feito tuclo o quc tlo nós dcpendc, se depois Deus
não perrnittir que este reiuo resuscite para a fó, ficaremos
'nós escusados deante de sua ctivina Muiestade e continua-
remos a viver sern elle, assim como temos vivi<lo, ha mais
de quarenta annos».
Desta vez.iá o legado apostolico não tinha mÔtivo para
dissimular o seu carâcter de religioso debaixo do velludo
bordado de embaixador; desembarcou portanto maniíesta-
mente em Stochholmo com o habito da sua Ordem, e foi
recebido no porto pelos dignitarios enviados ao seu encon-
ro. O padre Possevino foi a Upsal onde o rei então se
chava, e chegou a to de Agosto de r57g acompanhado por
e*T-i":lria.: ti,.:
rbg
um espiendido corteio. João III recebeu'o com derrionstr4'
ás quaes o iesuita,correspondeures-
çóes .le terna affeiçio,
p.itorurn.nt., e ainda que tinha o coração profuhdamente
Lugu",lo, ,-t.o, o*" só palavra de exprobraçáo soltou de
l"bior. Entregou-lhe as cartas de todos os soberanos
""oI
câtholicos, cujas alhanças the tinha alcançado, recordou'lhe
dia da sua
as graçâs abundantes que Deus lhe tinha feito no
aUjíração, e o traosporte com que) lançando'se em seus
;;;ç".; tinha exclamàdo: «Meu Padre, eu vos abraço a vós
,urr.r* Egreia Romana para sempre'' O rei ouviu e não
"achou
" nada que responder n'aquelle momento; depois po-
rém confessoú toda a verdade: que temia ver-se derribado
do throno,temia seu irmão Carlos que th'o cubiçava e que,
sendo preciso, seria apoiado por todos os protestantes dos
Estadoi vizinhos. Em sr:mma Joáo III não tinha animo para
,se cleclarar cathoiico e o legado não podendo resolvel-o a
isso, aproveitou a occasiáo para reanimar a -lé nas almas
catholicas, e deixou profun,las lembranças da sua estada
n'aquelle solo da heresia.
II
I urz de Requesens, governador dos Paizes Baixos, tinha
[- morrido, á cor.ia o boato de que Philippe II, de Hespa-
nha, lhe dava por successor o ioven vencedor de Lepantot
D. ioáo d'Austria. Um dia nos primeiros mezes do anno de
r576 uma agitação subita se manifesta na cidade de Antuer-
pia: todos correm a procurar informacóes, porque a nova
que se espalha é táo estranha, que custava r-ealmente a acre-
áitar. Formam-se grupos nas ruas, o trabalho suspende'se,
os negocios p.rrou.t são esquecidos' Quem suspeitaria
nunca que os jesuitas fossem capazes de semelhante trai-
chegando' Será
ção? Diziam uns para os outros os que iam
verdade ?
É a p,r., verdade, respondiam alguns' O collegio é um
verdadeiro arsenal! Teem alli armas e munições Para um

_!7"
cxercito inteiro, e escondem em sua cnsa todos os triliLlo-
res que se apresentâm com o seu sâncto e senht. Ouvil-os.
prégar, vel-os tão bons, tão mansos, tão caritativos, pilre-
cem uns sânctos I mas afinal não são mais que ur-rs lrypo-
critas. Está descoberta a conspiração e o povo vai ao col-
legio tirar todas as armas, municóes, viveres, tudo. Com eÍ-
feito, o povo sempre credulo, caía n'este momento sobie a
casa dos pallres; quebra os vidros, quer arrombar as por-
tas, vai largar-lhe fogo, quando F-rederico Perrenot, gover-
nador da cidade, o margra\re Gossvin e Othon, conde de-
Herbenstein, se apresentâm e fazem cessâr o turnulto sel-
vagem d'esta multidão enganada. No mesmo dia e na mesnra
hora repetiam-se estas mesmas scenas em Liege. Os pro-
testantes sabiam que D. João cl'Austria era todo dedicado
á Companhia tlc Jesus, e por isso quizcram aproveitar-se
do interregno para calumniar os fesuitas, excitar a co-
lera do povo, e destruir assim tocio o benr já I'eito pelo zelo
d'estes varóes apostolicos. D. João de Austria, chegando.
parâ tomâr posse clo governo, toma conhecimento da ca-
i:ala protestante contra a Companhia de Jesus, propóe-se
castigar rigorosamente os perturbadores, e impôr á íorça
o respeito devido a esta Ordem religiosa. Porém o padre
provincial da Belgica,Baudouin del'r\nge, pelo contrario Ihe
aconselha que use de clemencia, que socegue os espiritos
por meio da brandura, em iogar de os irritar corn u sovc-
ridade,e o principe cede á voz do padre, que assinr sc vin-
gavâ a modo de christáo.
D. João nãro pôde sustentar largo tempo estc systenra de
conciliaÇÍio, porqüe a heresia se declarou n hrevc cspaço de
todos os laclos em estado de insurrciçío; o llrincipe de
Orange aproximava-se com o seu excrcito plrra ajudar os
protestantes na revolta, os campos crrrn taladosr as egre-
jas profanacias, as casas roubadas pclos buntlos dos hereies,
e erâ necessario reprimir força cortt lirrç4, Assim se fez, e a
3r de Dezembro de r577 D. .loiÍo cl'Âtrstria alcançou a victo-
ria de Gembloux, Os Estados sul)u)cttctn-se na apparencia,
I
I'
17r
e a zr de Abril de r578 publicam em Antuerpia a paciÍíca-
cão de Gand, exigindo de todos os cidadãos um jurametrto
quê os jesuitas recusam prestar: porque este iuramento
li'res parecia um laço armado coutra o governador geral, a
quem deseiavam ficar fieis. Os here)es ameaçam-n'os,lison-
sua resis-
llia- n'os, tenlam todos os meios para vencer aexpulsam-
iencia, e achando-os inabalaveis, a r8 de Maio
n'os da ciciaderembarcam-n'os no Escalda, até [Ialines, po-
rém D. Joáo fal-os voltar para Lova.ina I mas folam expul-
sos de Bruges e Tournâi com â mesma violencia,por e'*ta-
rem estas cidades sob o ciominio clos protestantes' I'lm
Douai o sena<1o lhes orclenava que se retirassem) quando
o reitor da universidade obteve a revogação d'esta ordern'
Esperan<lo tempos melhores, Lovaina dava asylo a tocl:s
o, pàtlr". repelliclos pelas cidades dos herejes, e os reli-
giosos niio tardaram em pagar-lhe a hospitalidade. Lovaina
assim como todas as grandes cidades dos Paizes Baixos,
teve sllâ guerra civil e depois d'ella a pestcr como acontece
ile orrlinario depois de grandes effusóes de sarrgue I e logo
os jesuitas correrâm em soccorro dos erlrpestaclos com
aquella dedicaqão, abnegação e caridade l-reroica que sem-
pre tem distinguido a Companhia de Jesus. Os padres
Usmer Boysson, João de Harlem. Antonio Salazar e Eliseu
Heivod encontraram â morte n'este sublime âpostoiado; e
apoz elles, como se o zelo se inf'lammasse com o perigo, cor-
reram para os apesta<los os padres Nicolau Mtnutier, Bau-
douin FIangart, Jayme d'Ast, Arnoltle [:lesio, André Boccaci
Reinier, reitor do collegio, e o irmão l.:uiz, e todos elles
caem victimas do l1ageilo, uns em I-ovaina e f)ouai, outros
em'Liége e Bruxellas. Os protestantes longe de se exporem
a esta morte gloriosa, aliastaram-se prudentemente dos
doentes : os ricos fugiram e os seus ministros irnitavam-
ntos.
No primeiro de Outubro do mesmo anno, exPirou Perto
de Namur, D. João de Austria tendo de idade trinta e tres
annos, e succedeu-lhe no governo dos Paizes Baixos Ale-
 r7?,
xandre Farnesio, duque de Parnra, quc não crir nrenos
favoravel á Companhia de Jesus : por isso antes tl'urn lnno
tornaram os jesuitas a entrar em todos os collegios, c ca-
sas que os hereies os tinham obrigado a deixar.
O chanceller da universidade de Lovaina, Miguel llay,
gue segundo o costume d'aquella epocha tinha alatinado
o seu nome, e se fazia chamar Baius, publicou uma obra
da qual muitas proposicões foram condemnadas náo só-
mente em Roma, senão tambem na Sorbôna. O auctor tinha
dado mostras de submetter-se I todavia as doutrinas que
ensinava em nada differiarh das que tinham merecido a cen-
sura da Egreia.O padre RobertoBellarmino é enviado a Lo-
vaina para refutar os erros de Baio, porém o jesuita paranáo
irritar o seu adversario atacando-o abertamente, contentâ-se
com ensinar a verdade opposta aos seus erros. Baio tinha
por si um partido consideravell mas ninguem deixou de com -
prehender a clelicada refutacão feita por Bellarmino, e até o
chanceller, rednzido ao silencio por um adversario que o não
atâcâva) nío pôde deixar de suspender seus ensinos peri-
gosos, o que erâ jÍ um triumpho para a verdade. Sendo
porém chanrirtlo a Ronra o padre Bellarmino, de novo co-
meçou llaio os sclrs crrrsos tlc tloutrinns erroneas, cercaclo
e applaudido pclos protrrstar)tos. A côrtc dc Ilorla i rdver-
tida dos pcrigos quc Íulleíl('illir rr liú por mcio do cnsino do
chancellcr, e o parllc 'l'olcÍo «i crrvirrtlo pelo I)rpa e pelo
rei de Hespanlru, solrcrrno rlos l)lizcs I3:rixos, rruniclo com
plenos pocleres rtú lilr':r cortar clo corpo cla Egreia aquelle
i
l
membro meio 6;angrenado. -I-olcto porém prefereemprehen-
I
der a sua cura, e applicou-se a ella com tanto zelo e doce
\
carida<ie, que o culpatlo movido pela graca, que se serviu
t,
I da palavra eloquente clo iesuita, confessou-se vencido em
todos os ppntos, e a z4 de Marco de r58o, em presença de
todas as faculdades reunidas sob a presidencia do padre
Toleto,o chanceller retrâctou-se e condemnou todas as pro-
posiçóes censuradas.
Todos os professores e estudantes, que tinhâm adoptado
ry3_
os erros de Baio, assignarâm depois d'eile esta retractaçãot
que o vencedor foi logo depôr aos pés de Gregorio XIII.
O humilde religioso âlcancára uma victoria que os seus
inimigos não perdoarão nunca á sua orclem' Pouco depois
o duque de Parma Alexandre Farnesio escrevia a Philippe II:
osenhor, Vossa Majestade deseiava que eu mandasse
construir umâ fortaleza em Maistrichtr mas eu pensei que
um collegio de jesuitas seriâ uma fortaleza mais propria
para defender os habitantes contra os inimigos do altar e do
throno: e é o que eu edifiquei,.
Em França, apesar dos parlamentos e <la universiclade,
que a perseguiam sem.pre com a sua poderosa opposição,
a Companhia tirava ao inferno uma victoria, cuja perda o
protestantismo nunca ha-de esquecet. Em t577 â peste re-
comeÇava nas provincias meridionaes, triste consequencia
das guerras civis, e os jesuitas, depois de terem perdido doze
dos seus no exercicio da sua mais bella dedicação, erarn
mais ardentes ainda em soccorrer os empestados' Em To-
losa um celebre apostata, ferido pelo flagello, ia apparecer
deante de Deus: era João <ie Monteluc, outr'ora dominicano,
bispo de Valenca, e agora hu8onote, o qual tir-rha siclo de'
zaseis vezes embaixador do seu soberano. João de Monteluc
deixava-se morrer sem pensar em se reconciliar com Deus
e com a Egre;'a, o que para a heresia era um triumpilo, e
pârâ â sua pobre alma uma des8raça eterna.
Os jesuitas puzeram-se a orar pela alma do apostata,
que fôrâ seu inimigo, e o padre Grandiean apresentou-se e
penetrou ate ao leito do moribundo, Inclina-se sobre elle,
dá-lhe o nome de irmáo, faz lhe ouvir palavras doces e
suaves, que pârecem descer do Céo ao coração do pobre ago-
nizante, e lhe fazem vir as lagrimas aos olhos. O padre aper-
ta-lhe a máo, abraça-o, repete-lhe palavras de amor e
perdão, e o apostatâ reconhece-se culpado, e muito culpado,
e implora a misericordia infinita com lagrimas de arrepen-
dimento e de esperanca. O.jesuita recebe a sua abiuraÇão,
restitue-o á Egreja, exhorta-o e consola-o até ao ultimo ins-
 | 7,1 ry5

till"ltcr e nÍo o deixa senão depois de o ver n)orrcr como

verdadeiro penitente.
iII
Tantas e tão admiraveis virtudes conquistavanr a vcne-
I sÂBEr,, rainha de Inglaterra, tinha notado entre os seus cor-
racão geral, e excitavam o reconhecimento e o clcscjo dc
I tezãos o joven Thomás Pound, cuja graça e beileza a tra-
L

ver dilatar-se por toda â pârte a Companhia d.e .lcsus.

Apesar da opposição dos parlanrentos, que a repelliam por
ziam encantacla, e mostrava-lhe uma benevolencia com que
causa do seu espirito de submissão a toda a auc-toridade le-
elle muito se ufanava. Um dia pelos fins do anno de r57i
gitima, apesar da opposição da universidade, que a rechas-
no meio de um baile dado pela rainha, Thomás Pound dá
um passo em falso, e cáe na presenca de sua soberana. Uma
sava por causa da sua sciencia e da pureza de suas doutri-
palavra de amarga zombaria saída dos labios de Isabel foi
nas, era chanrada por todas as cidades de Franca, e Lo-
rena lhe offerecia estabelecimentos. Em Hespanha Prospe-
ferir o 1'oven cortezão em scu amor proprio e o fez reco-
nhecer no mesmo instante a crueldade d'aquel1a mulher,
rava em paz, assim como em Portugal, sem enlbargo das
cujo sorriso tinha tantos attractivos. Começa então â repas-
intrigas da côrte. Na Lombardia, para onde os l'ravia cha-
sar em seu espirito todos os martyres que ella havia sacri-
mado o cardeal Carios Borrolreu, os jesuitas prestavam
ficado entre os seus subditos Íieis á Religião Romana, e o
enormes serviços, pelo que o sancto arcebispo quiz ter em
joven valido vê a luz da verdade: Thomás entrou protes-
sua diocese collegios, um noviciado e uma casa professa:
tante no baile c1a rainha, e saiu catholico.
tinha por confessor um fesuita, o padre Adorno, e em suas
Destle acluelle dia tomava a deíensa das victimas da rai-
visitas pastoraes sempre se fazia acompanhar do padre
nha pcrante o conJe de Southamptoni seu fârente proximo,
Leonti. Em summa o sancto amava os jesuitas como seus
padres espirituaes, e deu-lhes antes de rnorrer uma prova
e levava soccorros e consolaçóes aos presos catholicos.
IJem sabia elle que, quanto mais se applicava a cumprir este
sensivel d'esta sua affeição. Queria elle celebrar a sua ultima
dever, tanto mais suspeito se tornava aos espióes de Isabel:
missa na cidade cle Arona, onde tinha nascido. Seu sobrinho,
mas abjurada a Reforma e professada a lteligiáo catholica,
o conde René Borromeu que habitava Arona e possuia o
estava prompto a soffrer as consequencias da sua Íé. E as
palacio cle familia, lhe supplicou que viesse snnctilicar com
consequencias não se fizerarn esperar; pois que brevemente
a sua presenca aquella habitação, que lôra scu hcrco. uNão,
meu quericlo llcnó, Ihe respotrrlc o sâ11cto) eu tenho muita
foi aprisionatlo na celebre torre cle Londres. Alli recordava
elle ern sua mernoria tudo o que tirha visto e ouvido da
i necessitlutie cle soccorr<ls e spil'itt"tltcs, c rrão posso deixar de
I
ir onde estou cclto tlc os itchirr cm etbundancia». tr foi á triste sorte dos catholicos nos tres reinos e o zelo e abnega-
I

ll casa dos icsuitas, c na cgrcia d'elles offereceu o sancto sa-
\r crificio da Missa pclu ultirrrr vcz, assim como â sua primeira
I'
l, Missa fôra celebracln em lloma, na egreja dos mesmos pa-
dres. Voltou depois a Milão e lá expirou no r.o de Novem-
bro de r-58.4 nos braços do padre Adorno, seu confessor.
ção com que muitos jesuitas se tinham dedicado com risco
de vida a levar áquellas generosas victimas o soccorro clo
seu ministerio, Lembrava como o ultimo, o padre Hay, per-
seguido largo tempo pelos agentes da rainha, se vira alÍ'rm
obriga<io a fugir para não comprometter os que o tinham
vindo animar e abençoar. Sabia emfinr que, por decreto de
Isabel, todo o jesuita que penetrasse no solo britannicose-
ria rio do crime de lesa-majestade, e julgado como tal com
 | r77
7(t
o extrcmo rigor. 'l'otlas csl;ts lclttlrt'lltrçls, aliís tÍo reccn'
tes, fallavarn elotltrcnte ttlctttr::i ltltttrt tlo joven Prcso; a Sraca
fallava-lhe uma linguagcnr aitttlrt tltnis pcrsttasiva, c as clis-
traccóes exteriores não potlcntl<» llclll l)or ttnt instltntc fazer
calar esta voz dôce e pode[osil, cllo il cscutllvit c()l]) to(lo o
seu coracão.
O nosso joven heroe era algumas vczcs visitltlr) pol- utn
lllcsrllo
âmigo, fervoroso catholico, que tambem tirrlr:t «l
nome, pois se chamava Thon-rás Slervens. A cstc, pois, pc-
diu que em seu nome escrevesse ao geral cla Conlprtrlhiit cle
Jesus, supplicando-lhe que o recebesse no scu InstitLtto,
posto que nem podesse'{azer o seu noviciado, nem tivessc
ãutra recommendação que a de ser prisioneiro pela Iié ro-
p6s6; oDizei-lhe tamber:-r) accrescentâYa o candidato, qtte
âmo a Companl-ria de Jesus sem a conhecerl pois que só lhe
conheço a reputação; mas que apesar d'isso sinto um deseio
tão ardente cle lhe pertencer, que the peço encarecidamente
que me receba».
O padre Mercuriano provou a vocacão de Thomás tround
co- ,r*, resistencia de perto de tres annos, porém vendo-o
sempre paciente, sempre fiel e fervoroso com o desejo de
nà seu Instituto, escreveu'lhe no I'o de Dezembro de
"rtrã.
1578 para lhe annunciar a sua admissão, e terminava a carta
ao* àrtu, palavras significativas: nPreparae-vos para pade-
cer e, se fôr preciso, morrer na cruz»'
Isabel queria fazer do joven Thomás Pound um ioguete
de seus cáprichos reaes, mas nunca tinha pensado em fazer
d'elle um àpostolo da Egreia catholicâ: ora ella veio a sa'
ber que o preso estava sendo o apostolo da prisão e o con-
.ol^áo. e sustentaculo de seus companireiros' Ordenou pois
que the fizessem um segundo interrogatorio, e o tratassero
sem misericortlia, se eile persistisse na fé dos papistas' Suas
ordens são executadas; mas Tl-romás sente-se tão cheio de
força. deante de seus iuizes, e defende a verdadeira fé corn
um tal valor, que os iuizes Íicam ir-rdignados, e resolvem fe-
ril-o no aa, ponato de cavalheiro com uma pena humi-
lhante. Carregado de grithóes é arrastado pela§ ruas de I-on-
dres, como um malfeitor, e mostrado ao povo como um obie-
cto de curiosidade e irrisão; mas a fortaleza de Thomás não
desfallece. Saúda a multidáo que o insulta na suâ pâssagem,
e a limpidez do seu olhar attesta o socego da sua alma.
Conduzido clepois á prisão de Newgate, e entregue aos ai-
gozes? e submettido por elles áquella especie de tortura que
os protestantes chamavam a esmola da vitn,a. Thomás pro-
testou alli a sua ailhesão á Egreja de Roma, no seio da qual
queria viver e morrer, e houve-se no tormento com tal pa-
ciencia, que cleixou cansados os algozes.
Isabel ordenou então clue se empreÍjassem as caricias, se
eile resistisse hs torturas, para de qualquer moclo vencer o
corlezáo desprezaclo; n-ras elle, corrr as gracas clo.seu novo
estado e as orirçócs clos Íieis e da Companhia que abracára,
triurnpha das promessas, assim como triumphára dos sup-
plicios. li cncerratlo então n'uma enxovia, mas dá gracas a
l)eus por cste captiveiro intoleravel, ora por seus algozes e
suspira pelo ceo. A altiva Isabel, irritada de tanta constan-
cia, ordena terceiro interrogatorio sem nada obter, e passa-o
dc prisão em prisáo, até que o mettem outrâ vez na torre
de I-ondres.
A perseguição tinha feito emigÍar um grande numero de
catholicos e, parâ conservar na fé os que ficavam, tinha-se
funrlado na cidade de Douai um collegio para inglezes, os
quaes d'a1li voltavam á Ingiaterra, para exercerem o apos-
tolado. Muito perigosa era aquella missão, porque a rainha
tinha multiplicado seus espióes e guardas, e as costas de
Inglaterra estavam crespas de algozes para tirarem a vida
aos catholicos que se aproximassem do solo inglezl mas
sempre lá penetravam alguns de tempos a tempos, e o col-
legio de Douai foi assignalado aos herejes de Flandres com
grandes recompensas promettidas a quem concorresse para
a sua destruicão. Effectivamente aquelle viveiro de missio-
narios loi destruido, roubado, e aniquilado pelos hereies:
mas logo o cardeal de Lorena, arcebispo de Reims, offere-
HISTORIÀ DÀ C. DE J. 12

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ceu bospitalidade aos inglezes que tinlram sitlo expulsos de
Douai á Gregorio XIII fundouJhes um collegi<l ct'tr Iioma,
porque o .rorna.o dos fugitivos era bastante para Íbrneccr
àlu-no. â estes dois estabelecimentos' A z3 cle Abril tle
1573 os cincoentâ alumnos do de Roma, muitos ih corn or-
derrs .n..rs, se obrigavam a abraçar o estado ecclesiastico'
e dedicar-se *..ui.o de Deus e da Egrefa em sua patria'
"o
Gregorio XIII tinha conÍiaclo a direcção d'esles iovens le-
,itr! á Co.np"nhia de Jesus, que d'esta arte luctava n'estes
dois coilegios contra o anglicanismo, assim- como no colle-
gio germànico contra o protestantismo allemão, e punha
ã- itrti." o grande pensamento de Sancto Iginacio, de acu-
dir à Egreia iormanclo-lhe um clero sabio e zeloso' Com o
*.r*o"fi* funclava ella e dirigia collegios ou seminarios
como aquelles, em Sevilha, Valhadolid, Madrid, e Saint- Omer
para ingiezes; em Lisboa, Sevilha,sanct-Iago de Compostella'
bulrrrun.n, Poitiers, e Roma para irlandezes ; em Madrid'
Douai e Roma para escocezes: ao todo quatorze seminarios
<lestinaclos a formar apostolos para osTres-Reinos-tJnidos'
Os iesuitas não occultavam a seus alumnos nenhum dos
supplicios reserva<los na Inglaterra pata'os socerdotes ca-
thàlicos, que ousavâm pene;al-a: nntes fallavam-lhes miu-
damente t1o cavallete, das agLrlhas enterratlas cntre as
unhas, do azeite Íervente, tla fogucira, da Í'orr-re, cla sôile'
de toáos os .Íaeneros tle mrtrtyrios, que a rainha orclenava
para clestn.rir o catholicismo em seus l'lstados:.mas os fu-
d'es-
t.raos ,portolos, longe tle se aterrarem conl a pintr-rra
tes horriveis tormetltos' pediam com todos os seus desefos
a felicidacle tle os paclecei pela conservação da
verdadeira
Fé em sua desgraçarla paria. A rainha Isabel bem o sabia'
porque os se;s espiões se introduziam por toda a parte;
iinnà-o, em Reims, tinha'os em Roma, tinha-os em todos
os logares onde os catholicos inglezes se houvessern refu-
giadol e até no interior de suas familia-s;. ". p:lut relaçóes
á'".t", espióes não sómente eram rnais vigiadas as costas
britanicas, mas até, para evitar todo o engano, os retratos
tl
r79
dos alumnos dos dois collegios, de seus professores e de
todos os jesuitas inglezes estavam pregados nos muros das
cidades maritimas e das principaes cidades dos tres reinos.
A rq de Junho de r58o um official de marinha, de um
ar nobre e desembaraçado, com o tom resoluto do homern
que conhece a sua importancia, se apresenta deante do go-
vernador de Douvres, saúda-o como cavalheiro que tracta
de egual para egual e lhe <liz: Eu p,arto immediatamente
para Londres, e designei a um negociante que desembar-
cará dentro de tres ou quatro dias, logar de reuniáo para
tractarmos de um negocio que é muito grave e interessa ao
Estado. PeçoJhe que dê ordens para que elle não soffra
aqui demoras, e lhe lacilitem os meios de ir logo a Lon-
dres, assim como um clos meus homens que o acompanha,
e me responclerá por elle.
O seu nome, senhor? pergunta o governadorpegando na
penna.
Edrnundo Patricio.
Está bem, responde o goverlrador; fica ao meu cui-
.lado.
Quatro dias depois o negociante desembarcava em Dou-
v,"es, e na praia era acolhido pelos enviados do governa-
,Jor, que lhe intimavarn a ordem de se <iirigir immediata-
nrente á capital. .
Chcga o negociante a Londres, e pondo pé ern terra ó
recebido como arnigo por muitos jovens que o abraçam, e
lhe apertam a mão, sem eile saber porquê.
Meu caro Erlmundo, muito bem vindol Ha quatro dias
que vos esperavamos. E que tal a viagem ? Excellente para
o vosso comrrrercio, nâo é assim ?
Até aqui bem, meus amigos: tudo vai o melhor possi-
vel.-Gilberto teimou em vos hospedar, mas vamos jantar
- Assim iarn elles fallanclo e sómente quando es-
1á todos.
tâvam certos de que ninguem os ouvia é que Giiberto por
íirn disse a Ednrundo Patricio: Ora agora, meu falso ne-
gociante e reverendo padre, louvado Deus, estaes salvo !
 lBo
Vamos agora vêr o padre Parsons.-Opadre lloberto Par-
sons não era outro senão o official de marinha que tinha
quasi <lado ordern ao governador de Douvres que frrcili-
tasse a passagem do padre Edmundo Campiano, que era
o que chegava agora com o irmão Emerson. É verclade que
os seus retratos estavam pregados nos porÍos de mar e nas
ruas de Londres, mas ninguem os procurava debaixo rla
farda de um official de marinha, ou sob o traio de nego-
ciantes. Roberto Parsons chegando a Londres soube que a
rnissão tinha sido denunciarla, e subrnettida ás orcleis mais
severas, e que todo o iesuita preso ao desembarcar devia
ser }evado ao cadafalso sem mais fórma de processo.
Esta missão de Inglaterra, creada em t57g por ordem
da Sancta Sé, a instancias de Guilherme Allen, sacerdote
inglez e depois cardeal, compunha-se dos paclres Farsons,
Campiano, Rodolpho Sherwin, Lucas Kirby e Eduardo
Risthon, acompanhados do irmão Emerson: quatro sacer-
dotes inglezes, e dois jovens ainda leigos. Para penetrarem
na Inglaterra tinham-se repartido em grupos, afim de che-
garem por diversos portos, sem attrahirem a attençâo dos.
oíficiaes da rainha.
Já vimos com que felicidade o padre Parsons chegou até
Londres, e o modo engeniroso com que preparou n'esta
cidade a entrada do padre Oan-rpion, quc nÍÍo conhecia
nenhurn dos iovelrs tluc vieram ilo scu cncontlo, mas que
logo suspeitou que cra sccna ensaiada pelo padre Par-
sons. Ambos os padres se applicaram logo á obra, e
a primeira visita clo padre Parsons foi á torre de Lon-
dres para consolar e ÍbrtiÍicar Thomás Pound, que se tinh$
feito seu irmáo. Adivinhe.se a alegria e o transporte do
ioven confessor dalié vendo juncto de si um filhod'aquella
Companhia de Jesus á qual se tinha dado ainda antes de a
conhecer. A conversação foi muito curta parâ estes dois
coraçóes iá tão intimamente unidos, mas os instantes para
os presos eram contados, e toda a prudencia era necessaria.
Depois de ter visitado e fortalecido na fé muitas familiaso
IBI
Roberto Parsons vai aos logares circumvizinhos, visita os
pobres, exhorta, instrue, confessar.administra os Sacramen-
tos e volta a Londres, onde deixou o Padre Campion, o
qual, por instancias de muitos cavalheiros, prégou com a
sua irresistivel eloquencia em uma reunião de amigos e
deixou-os arrebatados. Estes jovens passaram palavra, e ou-
tros catholicos iam concorrendo em reuniões já tão numero-
sas, que o jesuita foi suspeitado e vigiado de perto. O pa-
dre Parsons, para o livrar do perigo, mandou-o sair logo de
Londres, que mutlasse de logar e de traio cada dia, nem
parâsse em quanto se lhe não tivesse perclido a pista.
Isabel, avisada pela sua policia da presenca dos iesuitas,
para excitar o zelo dos sectarios contra elles, manda publi-
car que a Companhia de Jesus enviou emissarios á Ingla-
terra com o pretexto de Religião, mâs na realidade para
formar uma conspiração com os fidalgos descontentes, e
que para esse effeito iá r,eem munidos corn poderes de to-
dos os soberanos catholicos e autorizados pelo Papa.
O padre Parsons, antes de mandar dispersar os seus pa-
dres, confere com elles sobre o maior trem do seu rebanho,
e thes communica as instruccóes do padre geral, prohibindo
expressa e absolutamente toda e qualquer ingerencia nos
negocios do Estado. Depois apartaram-se e tão bem se es-
conderam que, procurados em todas as direccões, não se
achavam em nenhuma parte, e quando se julgou que elles
tinham embarcado para o continente, estavam outra vez em
Londres.
Emquanto eram assim perseguidos, outro iesuita, o pa-
dre Donall, irlandez, desembarcava em Lirnerick, sua patria,
enviado pelo padre geral em reforco aos missionarios, que
eram muito poucos para os tres reinosl porém no momento
em que elle punha o pé na praia foi reconhecido, e levado
á prisão. Vós podeis recuperar a vossa liberdader lhe diz o
official encarregado de o interrogar, se renunciaes ao pa-
pismo; mas se persistis em professar esta religião, contâe
com a morte.
 r82
o nunca eu
, Co m a graça de Deus, responde 1i;3ionari1' .

.ur"i orr,.ã fá'senão a da dgreia catholica' "l".tt"]t:l'nos§a

:::
ãrn..-ltt.t adverti que terieis o mais bello futurol
;;; vos encheria dá honras e riquezas' se a reconheces-
emfim
por
rseis arbitra suprema «las consciencias I porque
subditos a reli-
a soberaoa tem o dlrelto de impôr a seus
giáo que ella mesma Professa'-
''-ó iraru Donall recusa com indignação similhante alvitre
ligam'lhe
ãrt"." profi.são de fé muito energica' E'ntão
"asmãosatrásdascostas'elevam.n'o.aC.orkronde.écon-
obstinação impia em conJessar
o
demnado á morte po' são os
'u'o Taes
lr'ii'rti"it"r, op,,o' dn prohibição oda Rainha'escuta com de-
termos da sehtençat cuia leitura iesuita ent!:ega nas
*"rt"rio.t de aiegria, e com as mesmas se patibulo' Porém o
mãos do algoz para ãependu'ado. no.
'e' clo sangue dos mar-
irrf"nno nãJ ig.,o,a a poderosa virtude
d'este 6lho de Sancto Ignaciot cuia
tyres! e quer vingar-se
'í;;'";ü;i"." pãat tirarJhe muitas victimas' Inspira
por-
requinte de crueldade que
i.ri, i"t .lgo,es tle Isabel um ainda vivia;
;;; penàa hesita trn t"'""'' O martyr
as entranhas'
o corPor arrancam-lhe o coração e
abrem-trhe
- lançam-n'as ao lbgo Por festal
e
tla nova il'este martyrio' digno
õ';;;;" Pu,,on'i"i"ndo Everard<l Mercurianot
do reinado de Nero,escreve ao padre razer aqui'
rem1l
;ais,eiisiosos'.uos
;;t;;;-tt,. 11T::'"
vezes náo nos resta da noite
âccrescenta o padre, que muitas
clescanco Bem sabia' Par'
senão duas horas para um breve
glorioso.martyr Donall' longe
sons que a sancta mortre do
da cãmpanhia, seria um estimulo
de aterfar seus irmãos
p"r" o ,ar, ,alo.
Iv

À flIff",':":":Ti' ".,:r,'il:;ffi:"üll3;.::'i &lTi:

guenotes; mas no u""o ttg"inte de t57z 9 Padre Toledo
 [" r83

l desembarcou nas suas costasr com doze missionarios, que

elle disseminou }ogo em todas as direcçóes indicadas pelo
padre Anchieta. Este sancto missionario esperava anciosa-
I
J
mente este reforço, e cada dia orava íervorosamente para
que tivessem uma viagem mais feliz, do que a do anno pre-
cedente, que tinha privado seus queridos selvagens de tau-
tos padres e apostolos.
Pár si só o padre Anchieta tinha feito maravilhas nas po-
voaçóes táo támidas do sertão, oncle se tinha entranhado
esforçaciamente, depois de evangelizar âs costas, e con-
vertido a Deus a maior parte dos europeus, desencaminha-
dos pela cubiça e pelas paixóes, Com os pés descalços, o
,oro.io ao pescoço, o cruciíixo ii cinta, o brevitrrio debaixo
do braco e o altar tis costas, caminhava Anchieta sem guia
confiaio na l)rovidencia, Qr-rando avistava tlm selvagem,
corria para elle com o cruciÍixo na máo: se se achava se-
parado rl'ellc por um rio, lançava-se á agua, atravessava-o
à nar,io, e com todas as suâs forças chamava o pobre pagão,
para o levar a Deus. Se se via separado por asperas rochas,
.-.,,it'jr§{'&t iilvas, abrolhos ou cactos espinhosos, lazia o seu caminho
através d'estes obstaculos, deixando n'elles pedaços de sua
carne e de seu habito, e chegava a seu termo com os pés en-
sanguentadost mas com o coração a palpitar de alegria' Se á
sua chegada o seivagem fugia, o born padre seguia-o fa-
zendo-lhe ouvir as mais doces e ternas palavras. E quando
chegava ao meio de uma tribu, extendia os braços a estes
idoiatras, abraçava-os, fallava-lhes do Deus que bs tinha
amado até morrer por ellesl e §e o Povo ainda lhe resistiarpu-
nha-se de ioelhos, e supplicava-ihe com as laEirimas nos
olhos, que o escutassem. Os pagãos, commovidos com es-
tes rloces termos, se rendiam de ordinario, e se faziam chris-
táos, e d'esta arte convertia o zeloso missionario povoaçóes
inteiras. Deus, agradado de seu zelo e rudes fadigas pela
sua gloria, deu-lhe o poder de {azet milagres tão liberal-
mente, que parecia semeal-os a cada passada que dava'
O paclre Anchieta mereceu bem o sobrenome que the de'
V. P. Joseph Ànchieta §oc, Iesu.

rt]4
ranr de Apostolo do Brasil, e o bem que alli operava era
um milagre continuo, que facilitava muito os trabalhos da
Companhia n'estas regióes.
A Missão do Japão era das mais florescentes, ainda que
lhe Íiltassem operarios. Para a soccorrer ordenciu o geral
cla Companhia em r573 ao padre GoncaloAlvares, que par-
tisse de Macao para aquellas ilhas com mais tres religio-
sos. O padre Alvares estava n'aquella occasião atacado de uma
doença mortal, mas como pouco lhe importava morrer em
terra ou no mar, com tanto que morresse praticando a obe-
diencia, respondeu a Everardo Mercuriano n'estes ter-
mos : Todos concordam aqui em pintar-me esta viagem ao
Japão como muito perigosa para â minha saude, .r.isto se-
rem meus padecimentos e fraqueza tâes, que mal me
posso ter em pé para dizer a sancta missa : mas a minha
força está na obediencia, e vou partir disposto para tudo o
que aprouvér a Deus ordenar de mim. Eu tiro a minha con-
solacão sobre tudo d'estas palavrâs que v. paternidade me
escre\reu: nSe acontecer morrerdes n'esta empresa, dareis
por bem empregada a vida,. Estas regras escreveu-as o pa-
dre no momento eú que se embarcava; e Deus contentou-se
com a sua boa vontade, porque naufragou á vista do Japão,
e pereceu assim com os tres pacires que o acompânhavam.
Esta grande perda aÍIligiu os missionarios clo.lapão: rtâs esti-
mulou-lhes a coragem; porque não podendo esperar mais
tempo o tão suspirtrdo reforco, quasi se multiplicavam e
achavam em toda â pârte ao mesmo tempo.
O Rei de Omura, Bartholomeu Sumitanda, tinha dado
batalha a um exercito de bonzos, que queria exterminar I
e depois de os ter vencido chamou os iesuitas para trâcta-
rem de os converter, e por outra parte os neophytos suppli-
cayam aos padres que não arriscassem a vida n'esta tenta-
tiva inutil I mas fiados em Deus correram logo tres padres
a Cori, cidade occupada pelos bonzos, e conseguiram con,
vertel-os.
Civandono, rei de Bungo, queria fazer boozo a seu filho
/
(
/
IB5
segundo, de edade de quatorze annos; porém oiol'en prin-
I cipe lhe declarou que queria ser christão, e então o rei
rnandou chamar o padre Cabral para o instruir e baptizar,
como com effeito baptizou com o nome de Sebastião' To-
1
I
dos os grândes da côrte, que assistiam ás catecheses do
principe, pediram tambem o baptismor e o rei de Arima,
movido d'estes exemplos) imitou'os, e foi baptizado nos pri-
meiros mezes do anno de r575. No mesmo tempo selevan-
tâva em Meaco, capital do imperio, o primeiro templo
.grândioso do Japão, que ate entáo não tinha tido senão ca-
pellas assás pobres e muito pequenas. Todos os christãos
(uizeram concorret' pâra as despezas e ornato d'esta
egreja, e pediram que fbsse cledicada /r Assumpção de
Nossa Senhorà em ntenlolia da chegada do grande Apos-
tolo S. Francisco Xavier li terra do Japão.
Finalmente em t577 vieram tres iesuitas trabalhar n'este
campo tle tanta fecundidade, e o padre Cabral se aProvei-
tou d'estn occasião para funclar um collegio e umnoviciado,
que vieram a ser dois viveiros de sanctos e de martyres. A
riqueza do irmão Luiz de Almeida veiu em seu auxilio para
estas duâs fundacóes. Luiz de Almeida não era sacerdote,
mâs um rico negociante maritimo, que conheceu o illustre
e sancto apostolo doOrienterviu-o morrer em Sancháo, e
levando seu bemdicto corpo a bordo do seu navio desde
Sanchão até Malaca, tinha sido testemunha dos innumera-
veis prodigios operados pelo giorioso Xavier não só du-
rânte os ultimos mezes da sua maragilhosa vi.la, senão tam-
bem depoi-s de sua heroica morte, úovido d'estes exemplos
il e memorias, Luiz d'Almeida deixou o mundo pâra se dar
i1 unicamente a l)eus no serviço da Companhia de Jesus. Como
simples catechista e prégaclor, seguia elle os missionarios
r e lhes obedecia em tudo, conservando todavia a sua fortuna
i mais alguns annos parâ ir acudindo ás necessidades das
il missóes. Taes eram as circumstancias de Luiz de Almeidat
a quem os Japões chamavampadre assim como a todos os
j esuitas.

I86
A z8 de Agosto de 1578 Civandono, rei de Bungo, ren-
deu-se por fim ao grito secreto da sua consciencia e ás
exhortaçóes do Padre João, jesuita japonez, e recebia o
baptisn:o com o nome que escolheu de Francisco Xavier
em honra do Sancto que elle tinha amado tanto. Seu filho
primogenito, Joscimond, foi baptizado com o pae, e este,
entregando-lhe logo as redeas do governo, retirou-se da
côrte, e pensou em mandar eclificar no reino de Fiunga uma
cidade que não fosse habitada senão por christãos. A rai-
nha, mulher de Joscimond, era ainda idolatra, mas pouco
tardou em pedir o baptismol e como esta grâÇâ não a conce-
diam os padres sênão tlepois de longas provas, necessarias
por causa do caracter japonez naturalmente inconstante,
o rei se queixou ao padre Froes das demoras que punha
em satisfazer o impaciente deseio de sua mulher: Vêde,
principe, lhe respondeu então o jesuita, quanto a nossa lei
differe da dos bonzos. Á petição de um rei tal como vós,
que bonzo recusaria iniciar a rainha nos mysterios da
sua seita? Porénr os christãos seguem outro methodo;,e
como se tractir da eternidade, não querem precipitaçóes.
A rainha não estri ainda assás exercitada nâs praticas da
nossa sirnctil lci, c r-riÍo C pernrittido admittir a ellas os gran-
des, senão quand<-r elles servent dc nrodelo a todos por meio
de uma vida excrrr;rlurr,
Na epocha cnt que vanros dc r579, contavarn-se no Japáo
vinte e nove jesuitas c mais de cern mil christãos.
O grão Mogol, AkÍàr, tambem mostrou desejos de conhe-
cer a doutrina que o grande Xavier tinha trazido ao Oriente,
e que seus irmãos n'elle propagavam com tanto successo;
e para este efleito tinha mandado pedir ao vice-rei da In-
dia ministros d'esta religião. O padre Everardo Mercuriano
designou para esta missão os pacires Rodolpiro Aquaviva,
sobrinho do padre Claudio, Antonio Monserrate e Francisco
Henriq ues.
Os tres missionarios, chegados ao seu destino enr r579,
foram acolhidos com honra e alegria pelo imperador e pe-
il
I
il
lr
I ll7 I
los grandcs tla sua côrte, mas não poderam fazer-lhes ac- I
ceital' uma religiãro que condemna todos os vicios e exige
o sacriÍicio de todas âs paixões desorcienadas. Como o
momento cla graca não tinha ainda chegado pâra este povo
entregue á cef;ueira do seu orgulho, o padre Rodolpho
Aquaviva, depois de ter prégado em vão por algum tempo,
pecliu licença para voltar a Goa. Akfar deixou partir com
pesar aquelles missionarios de quem estimava a companhia e
âpreciava as.virtudes e doutrinâr sem ter animo para ihes
seguir os conselhos : mas ao menos deu a liberdade a qua'
tro christãos, e deixou-os ir na companhia dos padres.
A r8 de Março de r58o João Francisco Bonhomi, bispo
de Vercelli e nuncio apostolico na Suissa, informava a
Sancta Sé do estado em que tinha achado este desgraçado
paiz quasi totalmente entregue ao erro pelas pregaçóes do
conego apostata Alderico Zuinglio.
Para remediar o malr accrescentava o nuncio, para destruir
os principios irreligiosos e restituir á fé e aos costumes a
sua antiga pureza, não ha mais que um meio que é â erec-
cão de um collegio de jesuitas em Friburgo. O Papa assim
o entendeu tambem e pediu ao geral da Corirpanhia de Je-
sus que enviasse a Friburp;o dois padres da provincia de
Ailemanha. Com isto viu-se Pedro Canisio obrigado a dei-
xar o seu laborioso retiro para ir fundar este collegio e res-
tituir á Egreja as almas que a heresia lhe roubou.
Foi n'este collegio que o illustre Canisio passou os ulti-
mos annos da vida evangelizando os campos, ensinando os
meninos, subindo, com muito trabalho, ás montanhas, des-
cendo com mais difÊculdade ainda a todos os valles, con-
sunrindo sua sancta velhice n'esÍe humilde apostolado,, e
cleixlnrlo por toda a parte uma lembrança indelevel de
suâs doccs virtudes e eminente piedade.
No t.u dc Agosto do mesmo anno de I58o o padre Eve-
rarclo Mcrcrrriano rendeu sua alma a Deus, deixando a Com-
panhil rlc .lcsrrs cm grande prosperidadercorn mais de cinco
mil rcli6iosos, cctlto e dez casas e vinte e uma provincias.
 :t-

r88
No dia z de Agosto o padre Oliverio Manareu, vigario ge-
ral clurante a vagatura) convocou a congregação para o dia
7 de Fevereiro de t58r.
Generalato d.o P, Claudio Àquaviva
1681-1615
No numero dos profes§os reunidos em Roma Para a con-.
gregação geral tornamos a achar os dois ultimos com-
panheiros de Sancto Ignacio de Loyola: Affonso Salmeron
e Nicolau Bobadilla, chamados para a nomeação do seu
quarto successor, Era uma velhice feliz e suave a d'estes
dois veteranos da Ordem, que elles viram nascer, crescer,
desenvolver-se rapidarnente, e viam agora brilhar com tal
esplendor, que cada dia se lhes afigurava um novo cumpri-
mento d'aquella promessa divina: Eu vos serei propicio.
A r9 de Fevereiro de r58r foi eleito quinto geral da Com-
panhia de .Iesus o padre Claudio Aquaviva. Era filho do
principe João Antonio Aquaviva d'Atri e de Isabel Spinelli,
e suieito intin'ramente penetrado do espirito do sancto fun-
dador. Com esta escolha parecia que a Providencia annun-
ciava as novas lutas que a Ordem tinha de sustentar.
O padre Possevino deixando na Suecia muitos jesuitas, e
levando comsigo a veneração dos catholicos, a estima dos
proprios lutheranos e a. affeição do rei, tinha ido dar conta
da sua missão ao Summo Pontifice, e ia ser encarregado
de outra cujas peripecias interessantes muito sentimos não
poder referir integralmente.
O czar da Russia, Ivan IV, tinha-se apoderado da Livo-
nia e ameacava a propria Polonia. O rei Estevam, presen-.
tindo-ll-re projectos de conquista, saiu-lhe ao enconro com
um grande exercito, e obrigou-o a recuar para além de
suas fronteiras. Ivan, ternendo que o rei levasse mais longe
as suas armas vicioriosas, quiz-se valer, apesar de scisma-
tico, do medianeiro mais poderoso, e recorreu ao Papa,
persuadido que um principe tão affeiçoado á Egreia Ro.
 I!)o
mana, como era Estevam, não resistiria á intervencão do
Summo Pontifice. Com este firrr enviou a Roma Thomás
Severigenes, e Gregorio XIII, esperando que a Egre)a tiraria
algumas vantagens d'esta medíacãorconsentiu em se inter.
pôr entre âs potenciâs belligerantes, e encarregou o pa-
dre Antonio Possevino d'esta difficil negociação, dando-lhe
por instruccóes que tractasse da paz com os dois sobera-
nos, e obtivesse do czar em recompensa da sua interven-
ção a passagem livre pelos seus Estados para os nuncios
e missionarios que demandassem a India; a Tartaria e a
China; e o livre exercicio do culto para os sacerdotes e
mercadores catholicos na Moscovia.
O lesuita partiu com o enviado do czar; a rg de Junho
de r58r estava no quartel general de Wilna e apre sentava
a Estevam II o breve pontificio que o acreditava iuncto clos
dois soberanos para negociar a paz. Esta confianca subita no
Cabeça do Catholicismo, dil Estevam, é uma astucia do
r-r-roscovita; porém eu saberei bem frustrar os calculos am-
biciosos tl'este trarbaro scismatico: Ivan queria despojar-
nos ir'rtciraurcntc, e âgora que se vô derrotado, repellido, e
obrigarlo rr elltrar de novo nâs sllas charnecas, teme que
avanccmos c lho pusscrlos as fronteiras, e e isso exacta-
mente o qLle cu votr Íirzcr. l)rirrcipe, respontleu o legaclo,
qualquer quc scja a justicr tlc vossa causâ, cstou certo que
não hesitarcis cnr tlcprlr âs llrlnus, se, com o sacriÍicio das
victorias c corrcluistas clue ellas vos promettem, poderdes
assegurilr ri Ligreja cle Jesus Christo outras victorias e con-
quistas infinitamente mais preciosas. Meu reverendo padre,
replicor,r o rei, o moscovita está-vos enganando : para elle
todos os meios de chegar aos seus flns são bot-ts : e para
isso deixa elle entrever ao Summo Pontifice umas espe-
ranÇas que, estou certo, não se hão-de cumprir.
Principe, replicou o padre Possevino, Iwan desejava tão
ardentemente a paz, que não regateará riruito o seu preço.
Se eu em vosso nome lh'a propuzesse mediante certas con-
diçóes favoraveis á propagação dâ Fó, espero que elle ac-
_lel_
aeitará, e assignará estâs condições. E depois a Polonia
não será fiel ao tiactado de paz senão em.quanto a Russia
for fiel aos seus compromissos.
Com a graça de Deus, disse então o generoso Estevâm,
espero conformar-me sempre com os intentos e interesses
da Egreia Catholica. Fallae pois muito emborâ com o bâr-
baro moscovita, e eu vos prometto que não porei obstaculo
nenhum ao tractado cle paz que escreverdes a favor do ca-
tholicismo. Então o padre Possevino auxiijado pelo seu
amigo o general João Zamoslii, chanceller do reino, obteve
do rei que o campo fosse levado para Disna. Alli se reuni-
râm os embaixadores do czar: mas propuzeram condicóes
taes, que foram recusadas peremptoriarrjente pelo vence-
dor. Então o legado escoltado de cossacos passou o Borys-
thenes e foi a Staritza onde hvan IV o estava esperando.
Á entrada rla ciclade foi recebido pela multi<táo de corte-
sãos que o soberano tinha énviado ao seu encontro, e a
8 de Agosto foi recebido em audiencia solemne.
O czar, sentado em seu throno, estava revestido comum
vestido de tela de oiro semeado de perolas e diamantes I
tinha a fronte cingida com uma preciosa corôa em fórma cle
tiara, e na mão esquerda um sceptro similhante a um baculo
episcopai; o throno estava cercado pelos maioree iidalgos
da côrte; o oiro e a pedraria scintillavam de todas as par-
tes I e foi no meio d'este brilhante apparato que o lega<lo
e os tres iesuitas seus companheiros se apresentarâm com
o habito de sua Ordem, e avancaram para juucto do throno
imperial com tanto decoro como humildacle. Quando se
inclinaram profundamente, disse um senador em voz alta:
1\Iuito illr-rstre Imperador, Antonio Possevino e aquelles que
o aconrprnham) tocam na terra com a sua fronte para mos-
trar o sou itcâtâmento.
O rlrrrr.:io rlo I)lpa não pôde acceitar o logar dado ao
Sumnro l)r:ntiÍicc n'acluelle ceremonial. O senaclortinha feito
aconrprrrrlrirr rr su:r lbrmulâ com todos os titulos que os
czares sc lt(r'ibrriirur; o legaclo clo Papa não quiz ficar atraz,
 192
e por isso depois de tão longa enumeração responcleu:
Nosso Sanctissimo Padre e Senhor o,Papa Gçegorio XIII,
Pastor da Egreia Universal, Vigario de Jesus Christo na
terra, Successor de S. Pedro, Senhor temporal de muitas
terras, e Servo dos Servos de Deus, saúda Vossa Alteza Se-
renissima com todo o affecto, e-lhe deseia toda a sorte de
bençãos.
Ao norne do Papa o czar levantou-se, e quando o iegado
acabou tambem esta serie de titulos, convidou-o para o
banquete preparado em honra da embaixadal e á mesa,
partr honrar o enviado do Summo Pontifice, e dispôl-o em
ieu favor, lhe disse em voz assás alta pâra que o ouvissem
torlos os cortesãos: Antopio Posselino, comei e bebei,
porque tendes andaclo muito caminho vindo de Roma aqui
enviàao pelo Sancto Paclre e Summo Pontifice Gregorio
XIII, que foi estabelecido por Deus Pastor da Egreia Cliristá
e Romana. Nós temos para com el1e uma veneraçáo pro-
Íunda e o reconhecetnos por Vigario de Jesus Christo: e
em attcnçrío a elle vos temos todo o respeito'
As f'estas olliciae s durarant cinco dias, e só depois come-
çaram as rrcgociaçócs, ora com o soberano, ora
ccm os
seus minístros. lrr'ttn tinhrr diÍliculclitde em outor{lar as con-
cessões pediclas pel<> ['lrpa, c il tlr:r.n<lranclo o trcgocio a ver
se cÍrnçavu o rci tle l)olonia, c cvititva d'esta arte n conclu-
são d'um tractitdo que elle nío tinha vontâde cle acceitar'
rO nuncio pelo contrario, instavâ pela conclusão, e assint
se passou un-t Ínez quando um dia chegla rroticia que
Plescow estava cercada; que os polacos invadiam a Russia,
e que o rei Estevão ia impôr ao czat umas condiçóes muito
*ris drr..., se não se aviesse logo com o enviado do Papa'
Por outra parte João III, rei de Suecia, acabava de tomar
á Russia a cidacle de Nerva e algumas outras praças no li-
toral do mar Baltico. Estas duas novas chegadas ao mesmo
tempo, alteraram o cza\ o qual entrou a pedir ao legaclo
que o salvasse dos dois inimigos que tão vivamente o âper-
tavam ; que partisse immediatamente a suspender a marcha
I!13
de Estevam II, e que elle czar promettia que, apenâs o pâ-
dre voltasse do acampamento polaco, assignaria o tra-
ctado.
II
I 7 ae Outubro estava Antonio Possevino no campo em
A frente de Pleslio'rv; porém as coisas tinham andado muito
depressa, o ataque da Suecia pelo mar Baltico complicava
as negociâçóes, e se o rei João continuava a sua marcha,
de que serviria para.bem cla Egreia que o rei da Polonia
suspendesse a sua? A vista cla duplicada invasão, concor-
dou-se que o padre interviesse tambem por este lado es-
crevendo a João III.
No meio d'estes negocios diplomaticos tão complicados e
tão di{Iiceis de tractar entre um czar schismatico, o rei
sueco lutherano e o rei polaco catholicor ainda o padre
Possevino achava tempo parâ visitar os feridos e os doen-
tes do campo de Wilna com o padre Martinho Laterna) e
de lhes dar os soccorros e consolaçóes de seu sancto minis-
terio.
As conferencias do congresso dos embaixadores abri-
ram-se em Chiverona-Horca, perto de Porchow, sendo a
Russia representada pelo duque Demetri, Pçdro Jeletski e
Romano Olpherio; a Polonia por Sabaraski, palatino de
Breslaw e o duque Alberto Radzivill; a Suecia por Chris-
rovam Warsevicz, irmão do jesuita d'este nome. A primeira
conferencia foi precedida de uma missa, á qual assistiram
todos os embaixadores, e depois d'ella se reuniram' 0 le-
gado pacificador, e como tal presidente do congresso, to-
mou conhecimento dos poderes de cada plenipotenciario,
e encetaram-se as negociaçóes. As discussões eram vivasre
muitas vezes amargas; mâs o jesuita legado, sempre sereno,
sempre digno e ministro de paz, dominava os animos, ado-
cava os espiritos e exercia sobre todos uma influencia que
os captivava. A Polonia queria que a Russia renunciasse a
HISTOT{IÂ DA C. DE J. IJ
 rg4
-
tocla a pretensão sobre a Livonia, e exigia part si a ciclade
<te Velüi, sob pena de recomeçar as hostilitlades' Á vista
de taes condiçóes Possevino confere com os enviados rus-
sos e estes lhe reveiam que as suas instrucçóes secretas se
extendem até á cessão da Livonia, mas isto sómente na ul-
tima extremidadel que mais longe do que isso não podem
elles ir, e se verão obrigados a relerir ao czar' Vendo pois
o padre que o congresso iá ia demorado, e temendo novas
deiongas, procura trâzer os plenipotenciarios a concessóes
,nrtrà.. O tractado estava redigido e promPto para as assi-
gnaturas; mas, meu reverendo padre, dizia o duque Deme-
tri, a entrega de Veliki não a posso assignar, porque Passir
os meus poderes. Qual é o vosso parecer?-Vosso au-
gusto ariro tem necessidade de paz, responde o padre Pos-
sevino, e deseia a a todo o custo: vós bem o sabeis, mas
receais a sua cólera. Pois ben-r, tomarei eu sobre mim o pe-
rigo que vós correis: escrevei a hvan IV que íui eu quem
vos determinou â passar além, e que na minha volta a Mos-
cou estou prompto a lhe offerecer a minha cabeça, se elle
lulgal que me acliantei demais.
Assignou entÍo o russo e concordou-ge quer Para pro-
têger ain<ja mais ir sua rcsponsabilidade, a praça de Veliki
fosse entregue, como penhor de conciliação das duas poten-
cias, ao padre l)osscvino ou lt um dos scus companheiros,
aos quaes ditvam as hot:ras tle comitiva do nuncio: porém
urnâ questão de amor proprio veio á ultima hora ievantar
outro embaraço. Os soberanos da Europa não reconheciam
o da Russia senão como grão-duque de Moscovia, e os em-
baixadores polacos exigiam que a redaccão do tractado não
désse a Iwan IV o titulo de czar, equivalente ao de impe-
rador. Mas por sua parte os plenipotenciarios russoà tinham
ordem de, nas difÊculdades que este titulo levantasser recor-
rerem á mediação do legado para que o introduzisse no tra-
n'esta conformidade íoram clandestinamente ter com
ctado, e
o padre Possevino na noite de 3r de Dezembro Pârâ o I'o
de Janeiro de 1582, e tiveram uma larga conÍerencia com
_,91_
clle sobre esta materia. O duque Demetri ârgumentâva
que, assim como o seu soberano dera de bom grado ao Papa
o titulo de Pastor Universal da trgreia Christã' assim tam-
bem cumpria ao iegado do Pontifice ernpregar a sua in-
fluencia para que se concedesse ao principe Iu,'an o titulo de
czar.
Mas opadre fez-lhe notar a differença, dizendo'lhe :
oVosso amo deu ao Summo Pontifice o titulo com que
todos os principes caÍholicos o honram, mas ate hoie não
conheço nenhum qr"re tenha dado ao gráo'duque o titulo de
czar., Esta resposta terminou a discussão, e o tractado foi
assignado a r5 de Janeiro e confirmado com a (ocante ce-
remània do osculo da Cruz, segundo o uso do Norte' Para
esÍe acto reuniram-se os embaixadores na capella onde o
padre Possevino dizia missa, depositaram sobre o altar as
àctas .lo congresso, e todos os plenipotenciarios, come-
cando pelos moscovitas, vieram um depcis do outro
beijar a Cruz, que o legado lhes apresentava, e iurar em
suas ntãos que acceitavam as condições clo tractado' Os em-
baixailores accrescentarâm depois no fundo da acta: "Nós
assignimos â paz com alegria e a ratificámos com o osculo
ria õruz n" p.Àr.rçu do reverendo padre Antonio Possevino,
legaiio do SS. Pontifice Ronrano Gregorio XIII»' Acabado
tuào, Esteva- II disse ao legado: uMeu reverendo padre, é
a vós, mais ainda que ás suas armas' que a Polonia deve a
Livonia; quero pois que esta provincia fique debaixo da
quarcla protectora da Companhia de Jesus, e que envieis pa-
á.es bnit*t tes para lá fundarem muitos collegios; a heresia
está dorninando na Livonia, mas os jesuitas a extirparão"'
Antonio Possevino promette ao rei occupar-se do seu de-
'
sejo, e parte parâ Moscow a pôr termo á sua missão' Fez a
jornada acompanhado pelos embaixadores russos e loi sau-
<lado em todo o caminho com o titulo de Pacificador do Norte,
de modo que â sua marcha até Moscow foi um triumpho'
O czar recebeu-o com muita satisfacãor e não podenclo re-
tirar a palavra que lhe tinha dado; lhe disse, ainda que com
 .-,96- _r97
pesar: «Eu vos conc€do tudo o que vós solicitaes em nome' riosretiraram-sealtaepublicamenteconvencidosdeerro'
ilo Summo Fontifice: a passagem por meus Iistados para o§' ignorancia e má fé.
as reaes
seus nuncios e missionarios, e o livre exercicio do culto para Para consolidar a sua obra e conformar-se com
à" Er,.u"* II, deu-se Possevino a fundar colle-
os sacerdotes e mercadores catholicos: mas não quero ln*nç?".
que
rneus subditos po§sârÍr ser recebidos nas capellas ou' giàr i.'..t^ provincia e a estabelecer um seminario ern

egreias que vós àonstruirdes. O acto d'esta concessão vai Klausenbourg.

dieta
sãr re.ligi.lo, e lá que fostes vós que o alcançastes, sereis Em r5B3 assistiu como legado do Papa á grande
promoveu importantes decisóes em favor
vós, Ântonio Fossevino, que o entregareis-ao P.apa"' de Varsovia, onde
da Polonia
Na aucliencia de clespedida, recebeu o legado muitos e da Fe catholica. Entretanto o poderio crescente
gloria de .causava sérias inquietaçóes na Allemanha e tudo fazia te-
magnificos Presentes : mâs como tinha vinrlo para e Estevam: mas
entre Rodolpho
Deí. e por obertiencia a seu superior e ao Summo Ponti- mer um choque foimidavel
uma guerra
fice, e náo para honras.e presentes, e as honras recebera-as felizmente ambos os soberanos, para evitar
em se suieitarem á me-
unicamente eÍn respelto da Sancta Sét que elle repre- qu" pu...iu inevitavel, convieram
Accei-
de representado pelo padre Possevino'
sentava : recebetl os Presentes pelo mesmo sentimento diação clo Papa,
ence-
dignicla«ie I mas logo que saiu do I(remiin deu-os aos po- tou o Pontifrie a arbiragem, as negociaçóes estâvam
caminhavam com satisfacçáo de arnbas as
bãs, com urn desinteresse que os russos não souberam ex- ,rào., as coisas
" clamor universal
po.,a., quando de repente se levanta um
plicar. ao
Chegou a Roma, e o Papa ficou tão satisfeito.com os re- tod*, as fileiras dos hereies e em todos os Pontos
"-
;;r;; tempo. Em Allemanha os sectarios acharn ignomi-
sultatlãs obtirlos pela habilidade do humiide religiosot que porum
logo o rlestinou po." ootto missão' O rei de Poionia aca' nioso que os atlemães acceitem andleõ.es impostas
fauem esPanto
bJva ,te expôr h Sancta Só o triste estado da Livonia e cla ho-e- de humil<le nascimento' Em Polonia
I'ransylvanir, que estlrvam abaladas pela invasão de aria- a. qr" a proverbial sagaciclade polaca se suieite ao arbitrio
mais complicados' e
nos, airabaptistirs e calvirristas; e nlostrava o desejo de op- ã
"à ;".rio que deslinda os negocios
pôr a totios estes sectarios a sallcdoria e eloquencia do pa- ,erolvá o. .u.à, mais difficeis tã* tt-u rapidez sem egual'
se fazem surdos a estes rumo-
àre Possevino, aflirmanclo <;ue só com a tlirccção d'este Verdade é que os soberanos
porém os hereies
padre poderia sair com victoria cle todas as difficuldadest .À .ri" o.ig"* muito bem conheceml
de
que estâs diversas seitas lhe suscitavam' ,,ao p..aon,ri á Companhia a influencia e celebridade
e levaram a agitação
Gregorio XllI or<ienou pois a Possevino que cedesse ao ,rrn ,i. ."u, mais distinctos membfos,
desejo*de E,stevam II, e o obediente jesuita, depois de ter a tal ponto que o padre Aquaviva, 1s1.ustafo. iá de antes
o
,"..bi,lo a licer:ca e a bençáo do seu padre geral, tornou .orn á ."pr,nção europêa do seu subdito,- foi procurar
padre Possevino' A
a pôr-se a caminho e foi a pé de Roma até á côrte de Po' 'Papa e o'coniurou que' Ihe restituisse o
tronia, de 1á á Transylvania, designando logar de reunião Companhia, diz o geral ao Pontifice, foi fundada unica*
-tle
"
aos pr'incipaes predicádores de todas as heresias na cidade ,n..rr. prro', gloria Deus, e não para servir aos intuitos
n'esta
de liermanstacli, para conferencias publicas que elles accei- politrcás dos Ioberanos' Empregando nossos padres
do
taran'r. A victoria rio religioso não foi duvidosa para
ne' *orte ,le negociacóesr'expomol-ás a tomar,um resaibo
presente§ a e§tâ controversia, ê o§ s€ctâ' rnunrlo incompativel com os votos da religiáo, e metternol'os
nhum d.os saLrios
 I99
igfl
todos os .sacerdotes papistas
junctos; Roberto Parsons e
n'um caminho perigoso, cuias consequencias poderão vir a Edmundo Campion teem feito, ha um anno' mais de dez
ser tleploraveis para o Instituto e para a Egreia' Não é por ãii-.à,t"ri."s na Inglaterra; (r) sei'o de.fonte
segura'
Possevino que eu temo os applausos «1o mundo' que bem Todas as vossas pesqui'ut tA descobriramvespera dis'
Alexandre
lhe conheço a virtude I mas sempre é um perigo para a Com' gr;;, iri amigo d'eiles, e o calix.com que na
panhia e úossa Srnctidade deve livrar.nos d'elle' Gregorio vê sua graça que estou
;;;;;'Àít." .rr., tu'o de Briant' Jápodeis
iIII cornprehendeu que o geral tinha razáo, e por maior UI--lnfor-odo.--Estareis, mas
entregal-os? Pro-
que fosse o seu pesarr consentiu em revocar o padre Pos- e honras' e eu lhe prometto que
.rr",io-*. o lord fortuna não co-
sevinol ou aotes em o exonerar da sua legação' O humilde f..-i-a" não digo iá Roberto Parsons' que
d'aquelle peso, retomou logo suas ".f'ror, Campion' que
iesuita, venclo- se alliviado ;;;;, ; me poderia escapar, mas Edmundo
peregrinaçóes apostolicas, e se entregou todo a seu sancto porque éo auctor das Del
;;;;;;. e e L -*i* i*po'tunt", relaçóes com os pa-
Lir,üt".io, evaÀgelizanclo os habitantes dos campos, de- Rorõrs. (3)-'fen.les entáo conservado
tendo'se nas ciclades para n'ellas despertar a Fé e comba- ;;.X; ]-*ritrr, -vrota'-Pois bem; se vos náo concede-
ter a heresia, e fundando collegios e seminarios em todos basta' --
I.rn'n".t* iu.-uo,'-hão dinheiro e parece-me,que
de estar mu-
os grandes centros por onde passava. Tinham-lhe dado o V*." g.rç" bem vê que terei necessidade
sotrrenome rJ,e Apostolo do Norte, e bem o merccia' auctoridâdes deveráo
nido contra os catholicost e que as

I]I doutoÍ Àllen: lOs

(rl EíIectivamerte poucas semanas depois escrevia o
anno'
a.lii il;.;';;';;";t na Inslaterrr mais alnras no esPaço de um
Ern um «los prirneiros dias de Maio de r58r um homem ;;^i.I; ,;;i"," pod-ido fazel-o ttí out" partc drrrante toda â sua vida ; ava-
mais do que no aono
de quarenta ânnos pouco mais ou menos, de aspecto inso- ;;-J.-;;; ;; acham alli agora dez mil catholicos
lente, olhar vesgo e sotriso sardonico, se apresentavâ em' oassa do.
o'üt á tortura
Lon,i.es tliantc dc lord Walsingham. l)cvia de ser pessoa iá li"*rror" Briant tinha vinte e oito annos' Submetteram-o
metteramJhe agulhas en-
fzeram-lhe soffter os toÍmentos da sede e da fome'
conhecida e espern<la, pois totnava maneiras de homem im- tre as unhas' para o obrigarem a descobrir o escondrijo dos jesuitas; mas
e tráo ê
portante e muito Ileccssario ii prosperidade do rcino: embora a câda torÍrrento respondia o t'luio'ot'rt'oticd:'Eunáovoi'odirei:
com elles sob o mesmo tecto' Fa'
lorrl' Walsingham o olhasse com desdem e o deixasse em porque o ignore, pois qu" ot 'i " t'oUit"i
que quizerdes' mâs Duncâ de minha bocca
pé. Bem ! disse o lord, despachae-vos' Jorge Elliot Que ha zei-me -.ofirer lodos o§ tormentos
sabereis coisa alguma"
de novo ?- Grande novidader rnylord ! Saiba vossa graça que tinha sido impresso sectctamente nocastellodeJoáo
TÊ;";;ilo cidade U:-l^*:tt no começo
estou no caso de fazer um d'aquelles serviços que não ha S',inl., erpalhado depois com p'oiutão na
"
dc Àbril de r58r. Combatiam-se n'elle
os crros do anglicanismo-com tâuta
dinheiro que o pag,ue. Diga'me vossa graca que será gene- táo cheio de encantos' que a sua
ac-
- ecic»cia e brandura e com um cstylo
,o.o .o*igo e conte com â minha dedicação' - Fallae' ."r-çr,, Àip;;aigiosa e prnduziu ntt*t'otut conversôes' os ministros pro'
- Vossa girço t.- mandado fazer pesquizas inuteis e ainda
lc$lür)tcs,niio o'podendo "f't"', t'*ttu*'o
de crime de,Estado' dizelrdoque
á rainha' e que os iesuitas'
o ouro dia, z3 de Abril, se penetrou de noite á viva força .;,,; ;;';;t;;i,'ã" "onut"ott'tii'""
initoign"
uma conspiraçáo'
ptto Httpanha' ãrganizavam
em todas as casas suspeitas de papismo, para se desenco- irppcllidos pclo Pspa
" '"i-at escripto devia ser
varem sacerdotes, esPecialmente iesuitas' Pois saiba, mylord, coltr& s virJa dc Isabel " "onàoi'n''qo" oauctor-d'este
lesalnaiestade'
perscguido c iulgado como reu do crime de
que ha dois sobretutlo que fazem mais mal só elles do que
 2e)/o
âpoiar-me se fôr necessario, para lançar mão á presa
onde eu a achar.-Dar-vos-hão as faculdades necessarias;
mas a confianca que nos inspiraes não é muita: tomae bem
sentido no uso que fizercles d'este poder.-Como fiança
entrego a vossa graca n'este mesmo instante um sacerdote
catholico, João Payne. Está a estas horas muito descançado
em casa de seus paes,-Payr-re? É aquelle que sempre
vos.tem feito bem ? Basta; ide-vos d'aqui e esperae pelas
cartas de commissão.
Estas ultimas palavras rlisse-as lorcl Walsingham a Jorge
Elliot com uma profunda repugnancia. Jorge acabava de
entregar o seu bemfeitor como penhor de sua infame pro-
messa. Com effeito, alguns dias depois João Payne subiu ao
cadafaiso, e de iá ao céo, e o apostata delator recebeu pa-
tente de commissáo do real serviço, pela qual Isabel orde-
nava aos proprios governadores clas provincias que'obede-
cessem ás ordens que lhe transmittisse o traidor Elliot.
Entretanto Roberto Parsons tinha ordenado a Edmundo
Campion que se subtrahisse áquellas pesquizas incessantes
retirantlo-se para o condado de Norfolk, onde náo era co-
nhecido senão cle nome. Obedeceu o padre e tendo de pas-
sar perto do castello de Lvford, habitado pela familia Ya-
tes, alli pÍrrou com licença cir: seu superior, para levar
áquella familia, cluc tanto o desejava, as consolaçóes de seu
ministerio. Pregou, consolou, confessou, Í'ez bem a todos
os que se cpresentavilm, e prepârava-se 1á para partir; porém
cedendo ás vivas instancias dos catholicos das vizinhanças,
concede-lhes a manl'rã do dia seguinte domingo r5 de Ju-
lho de r58r para os attender e consolar. Com effeito logo
de manhã concorreram os catholicos para assistir ao sancto
sacrificio: mas o creado do castello, encarregado de lhes
dar entrada, notou entre elles um sujeito que em outros
tempos tinha conhecido em Londresr e nunca mais tornára
a ver. Depois das primeiras palavras de recordacóes e cum-
primentos, o recem-vindo, sem mais demora, diz ao seu an-
tigo conhecido:,Como vi muitas pessoas dirigirem-se para
20r
o castello, entendi que talvez vossos amos tivessem a rarÍr
em câsa. É domingo, missa
Íêliciclarie de ter um sacerdote
de obrigação para quem póde ouvil'a, e aqui estouaPedir-
vos o favor de me admittir.na capella'
Com muito gosto, respondeu o serl'o fiel: nossos amos
permittem a entrada a todos os catholicos da terra; por-
qoe náo serão os catholicos que os hajam de denunciar ás
âuctoridades.-Obriga<to: mas qual é o sacerdote que tendes
a fortuna de ter aqui ? pergunta o forasteiro.-Não lhe sei o
nome; nem é padre conhecido cá na terra'
O recem-chàgado collocou-se ao fundo da capella iuncto
da porta, assistiu á missa com umâ sorte de agitação febril,
e reconheceu o celebrante. Este depois da missa fez un:a
tocante exhortacão aos assistentes, e acabada elia, o apos-
tata e traidor Jorge Elliot, que este era o tal sujeito, corre
á cidade mais proxima, a pedir tropa, volta com ella a Ly-
lbrd e póe cerco ao castello. O padre Campion, apenas avista
os soldaclos, quer sair-lhes âo encontro.
É a mim que procuram, exclama e1le, e não permitta
Deus que outros commigo ou por mim tenham de morrer:
mas deteve-o a senhora do castello, observando-lhe que a
rnesma perseguição tinha dado esPerteza âos catholicos:
'que se deixasse esconder, pois assim cumpria aos proprios
donos da casa e que, se o descobrissem, então se entrega-
riam todos ao capricho dos inimigos da fé. O padre Cam-
pion obedeceu e deixou.se conduzir ao esconderiio. Ape-
.nas este se fechou, para o esconder a elle e a outros dois
sacerdotes, igualmente proscriptos, entra o apostata no
.castello escoltado pelos agentes da rainhal dá busca no in-
terior, desce ás adegas, sobe aos eirados, interroga os crea-
,dos, sonda as paredes, os tectos, os forros e não descobre
nenhum jesuita. Retira-se á bocca da noite, mâs no dia se-
guinte volta e rePete as pesquizas, com o mesmo resul-
tado. Fr-rrioso e como accusando o inferno de o ter enga-
nado em suas promessas, o ,traidor renuncia a mais buscas
e resolve retirar-se; mas ao descer profere uma hor-
 20J
2c)2
* p.
renda'praga e arroia contra â Parede daescadaria
que se tinha servido para sondar todas
o instru-
as portas
se m i m a s
minava todas as demals
q
" : :"-:
;"J T: ;::jil:
foi? Aquelte! Foi Jorg'e
r9;,:H:;i:: l; ;
meritode aquir o monstro qut o ttuhiul Quem
os Judasl Mnl-
da casa,
Elliot que o vendeu pot-ãint'àitot Morram
A parede respondeu ao golpe com um som oco; o apostata ãiq;o I..rriotes! Á íorca os Judasl
orrlena aos solàaclos que a mettam dentrot e elle mesmo padre Camni3l-;enáo para
os
Ás pri- Ninguem se occupâva iá do
aludr, batendo com t;l violencia, que Parece frenesi'
Ellioi que estâvâ longe de espe-
pe- encher de imprecacóes a
meiras pancadas sente-se um abalo, soitam-se algumas
rar tal indignação' (t)
dra., e áppa.ece Eclnrundo Campion com as mãos e os olhos Edmunclo Campion é encerra<lo
na Torre de Londres
levantados para céo, tendo ao seu lado dois sacerdotes se- e met-
da prisão rJe Estado'lord oPton'
culares, companheiros rlo seu reíugio, e logo da sua sorte'
p;-i;;;i..ente o paciente.não pôde Êcar
tido n,uma enxovla ,"o fnl*u que
Elliot ordena âos agentes da rainha que se ápoderem dos ;;;;, . tão estreita que não sã podiaa estender
sobre o pa-
tres sacerclotes papistas, e'interinamente os levem á prisão dobrar as perna§' e
vimento, pelo que se viu obrigado
da cidade mais-proxima; porém Isabel não tardou em dar sem movimento'
p"..*t .lJi* nove tlias inteiros sem luz e da rainha entra-
ordem para que o iesuita fosse levado a Londres' Na tarcle clo dia z de Agosto os agenles
No .àhbndo zz de Julho, quando começava o mercado' ao palacio. de Roberto f)u-
ram na enxovia t o tontlulitum
chegava á porta da cidade a escolta com o apostolo preso; da rainha Isabel tinha
e
dlev. conde a. t-titttitt' O valitlo
,ro *ar*o instante o povo miudo, pago Para este fim, rom- de Es"
peu em gritos de louvores á rainha, e maldições contra a
;"ri;l""'.; . ..,it a" Bedfortl mãossecretarios
e dois
atadas' pallido e
I;;;t ;".;;;'ã;*pi"', com as
iig..|" e.-.ontra os iesuitas, enchendo de iniurias ao padre desÍigurado por seus excessivos
padecimentos' se apresentâ
Cãmpion cprc lhe é represenraclo como um conspirador pe- do reino com umâ^no-
deante d'estes prlmelros ficlalgos
rigoso. lhe attrahem logo o seu respelto'
ltr"r^ serenidade que
O iesuita, sempre manso e humildet mas sempre grave e " faz-lhe logo esta pergunta : nDe que
<tigná, apparecia ao longc amarraclo corllo um criminoso
so- o conde i]e Leicester e Robtt'o Parsons?
colrl mãos a(raz clas cos- missão vos encarrego"ãr'p' ""vóu "
brã o cavallo nlais alto tlit tlopa, âs
tas, os pés Presos unl âo otltro Por uma corda, e um rotulo
no
defender as verdades ca-
-Deconservaraféno'-"ot'çOttcâtholicos!detrazerá
je- ,arduda os que estáo no erro e de
chapéá quà ai, em lettras grirnties: Edmundo-Campion'
tholicas contra aquelles que as atacam'
suit'a sedicioso. O bonr Padre sorri para esta plebe ignorante a propria rainha' O
N'este momen,o upp"Ltt em scena
pedindo a Deus que /áes perdoasse, porque não sabem o com uma digni-
preso saúda-a torn tt"p"ito, *',t.t'*:t* de Isa-
gue faTent.
- á perspicacia
dade que não pu"ot''despercebida
Párem de repente o furor popular mudou de obiectot e
bel.
paisando d'aqullla innocente victima do erro e da tyrannia'
à multidão iniulta e amalcliçôa agorâ o traidor Jorge Elliot' -,ri
náo leYe outra recompensa senáo
ulgumas peças de ouro'
o ,*
0 apostata querendo gozar da humilhação do iesuita' a q,i"'li" ."-:i* lord Walsingham' cnnl ordem de nutrca
mais lhe appare-
des'
que- outr'ora dera o àoce nome de paet e agora vendêra de todos tii'rt'* conlrecido'.ftito ohiccro de
cer. "tt'q"i e morreu comido
i'.i"-pt"r""at miseria'
po. u* pouco de dirrheiro, introduziu'se -na rnultidão do publico, Jorg" rttiot
prczo^b3odorrado ã"ii
povo amotinado para invectivar o apostolo na sua passa: de biclros.
 2())
2o+ e dignocltre lhc
cot1l o seu tom sereno
ucul,tlt tttlt tlissc-lircs alguma^s ha tluc unr
vossas perguntas
rainha tle-Inglaterra ? lhe' crll lrirlrtltürl : 'N'cssas ha ourras quc
Crêdes'me vós verdadeiramente
fazJhe uma rn- ;:1,,;:;:'l;;,;'a'lo tlcve tleixar sem respostai
p.'"g;;;;*^;.obtt"n"' o padre campion
só palavra' l:r,";-..;J"," não dere comprehendet'*":11^u*a O meu
que ir
:;*..r; ,ffirrnotiuu, *"
náo profere nem t'ttlottt"t e vou fazel'o'
nrinha conscienti' pe'tiitt
.uma unla de
*N'esse caso, torna a rainhar accentuando, cadafortuna e De1 q"1i" foi enviatlo por mim ao padre
a vida' liberdade' ír)rrscr)lo das
;.ãr".*,'"t' 'o'.offtteço --Vosso subclito se- ;il;;;; uo P"'1'" Thomás Pound'
erandezas, se consentls "*
tetuit-*e " e o padre Campion
foi posto
mas antes de Estn resposta nao t'titi"i'' dar um
:.t1;.;;;;.f "'ponat o esforçado iesuita I sobre o cavallete, t t"ftt'
aquelie supplicio sem
ser inglez iou christão e câtholico' lhe foi imposto o mesmo ge-
palavra'
sem dizer ll"à..."t*'ôii" ai"t tlepois
A esta tleclaração Íetirou-se Isabel toT o
perseguindo os catholicos' declarava que nero tie tormento, " 'uppottou"o T-".':'paciencia
de íorças
A astuta rainha, conhecia bas- e serenirlade' Quando ;'i;ü"t'* ot "t': ::-:::'.to que o
o seu fim era castigar conspiraclores; 31s Desde o dia r5 :""ffi';;;;oi ,upplitiot' ãit"t" ministros 'iiziamsabiam
perseguição.
tante o odioso de sua ryranÀica iiãt io"o tormentos' Porque
a"'lrü.liu ao elia 3t' de Agosto dã anno.ptecttltrr::1," ilr#;;; '.i"r''" " ou apostata-'Conduziram'o
mil os catholicos que tr- oue a ririnhu o querla o'o'rno"o
r58o calcularam-se em cincoenta at"*"nare Norvel' deáo de
nham sido Preso§r encarcerados e esbulhados dq seus bens llt'u"'n'.rttr" l^'"tr'j'r'-Lna"
reitor do collegio Eton' o es'
,..o."áo assistir aos ofiicios e prégaçóes protes- ;.;il,;;"loutot Day' .de
lhe fazer'ouvir as suas invectivas
contra o
;;;;;; ou livros aas e.nlaaas',11,1.;l; ;;.;';; prra o sabio
tantes e, segunclo os registros ão*p"nt'io ãt lttot'-ptrsuadidos'que
u ,ni.o'màtivo cle taes penas, embora
a rainha as qurzesse ffiJr; "''u moribundo'
de fàrças e quasi
contra a sua vida' sacer,lote n'aquella p'otttuçao
palliar com o Pretexto á"trno'to"pi'açáo e lhes rleixaria nas mãos uma
á enxovia da seria incapaz at ot ttiut"t'
O patllc ()arnpton foi recontluzidosala sua ir com o pa'lre Campion o pa-
'forre, dias tlõois levatlo á da-tortura' onde' facil victoria' Mandaram e' isto
e algrrns que tamb.ám estav^a-preso)
perÍiuntas que le- dre Rodolpho Stt"'*it"
os magistratlos lho lize rlam as seguinres d" to'ttut""i J liuertlade tle cleíensa que deixa-
com o fim íallar
;;";"út escript, : I)or (lonr
instignção,3u Po-r,'lrfl:n, 1t :tt:
vâm aos accusados ' ;; ;';"
cautela
!:'l::t:*-''"s ataca-
qire linl cstrtis vr'rs n'esta ct-
estais vós em Loudrcs i' d'aquelles em que iossem
a"at-l casa' alimento e apoio
?
sobre outros pontos alem
clacle? Quern ó qut uo"t'll to*"'osae n'ella se aúal'a o logar te-
imprimir o itvro <las clos. A assembtén tt* Camnion ap-
Onde c ao*o tt'-"ltt vós mandado
vós ce-
o^yadr1
nente da prisão de E,tt'arl' Quandose 6tam n'elle' e o mar-
De| '!ltlC'cs? Onde e em presenca de quem -tenJes os olhos
qu"t-'ão uquelit',qué tendet convertido pareceu na tribuna, todos t:outza tlo seu
lehraJo missa ? d'aquel' pronunclar n^útl, mostra o-:T,1 os seus mem-
p'pi'*o? Quaes sãÀ os peccados tvr' sem
<Io calvinismo uo ;;;;" da sua fó apresentantlo
te"des ouvido? Quaes sáo os
vossos ::$'; pelot iustrumentos dos
;;;;;;-.;"fi'sáe' V? (r) bros clespedaçuao' oo-àt'tocàos
..t,irn..,"t ácerca da Bulla de Pio estavam alli á vista e na pelle' exclama
rrrtti.iàl t;;toff""' Apenas vos tocarameu-faliar com mals
Todos os instrumentos de tortura patlecicllPotjo
Campion guar«lou silen- lorcl Opton' Do que tenht que dar
os algozes uo pe a'"tít'' Éd'nu"do q;"';;;' lu" naà 'fizestes nrais
as perguntaste quando conhecimento d"
cio até que os magistrados acabassem o paciente'
ortlens aos algozes, respondeu
Isabel'
(r) Era a blllo de excommunháo contra a rainha
 'il',7
206 mais
Campion loi interrog'ado
dcsconiuntâvatn os ossos'
como muitos outros iesuitas e alguns sa-
Àdiscussãotheologicafoidasmaisvivas'-eopadre rluits vezes assim
de logica uit, q"". no dia zo^ile Novembro
Campion sustentou-a com uma
tal superioridade cetdotes presos <1o E't"Jo'
tendo-annunciado to<ios para o ultimo interrogatorio na grande
e eloquencia, que os "ut "l"t'utios'esta primeira sessão compareceram
seis qtresitos ProPostos aos
accu-
que ella <iuraria quatro.dias' acharam ;,t]';;;;;in*à..'e" campion:,"Esses irão
rie continuar' Lortl Opton sados, respondeu por t;;
; iadre
mais que sufticiente, " ot'ittitarn d""ntt 'l'este tribunaf ins-
II.;;;;l' *ii'ti't'^ confessado'ob:" : :11"'l:l: ::::o
são quesitos q'" p'uiánhu'o
" fàctás materiaes' e não para.s.ondar pen-
;';;;t;;.t.iu'u tub"' d'elle' e Para que^se não ouvtsse ilü;;;;- iulgar de tes-
táo feia calumnia' le- por-via
.t}.-t." p."i'.tt" tto -uttyt'tonttu samentos: o seu dever é proceder it1tlltt"
d'estas náo são
Thomás Pound' ouvindo temunhas, e não por inquitiçáo'- Questóes
varam-o logo para " "'n tn*oui" Campion tinha e tractam-se de dou-
dizer na sua prisão qo" o p'a" Edmundo para tribunaes, mas para universidarles'
hospedes e os segredos^11"::": tirados cla Escriptura ou dos
revelaclo os nomes do' 'eus tor a tloutor, com argumentos
mas mandou âvlsar o
n.rào, .rao acreclitou em tal coisa' e o padre Campion SânctosPadres:oraentreaquellesqueme<levemiulgar
padre da fraqueza. qu" ir't imp"tarium' s m i n h a s'
respondeu: «Eu stnto em mim
coragem e esPero que I)eus
peIa
" I T'J i ll
nem ao metlos um nonlem li' ;' il: i:T,:Tff llil,lfi;
:,
uu IrcLLrar':
maiores tormentos soltar uma exPlicar'
me dará força para nem nos que
os ^^-_-^-*^.
Nã tlescreve-
tormentos' Náo
tle Christo'' Este bilhete A esta resposta seguiram-se
,",*.r-t*i;dicial á Egreia Jesus que-.soÍIreu o missionario e
ião in.,o..n," toi int.?..ptado pot Optoncatholicos e do
e_apresentado
remos os horriveis supplicios
que os valorosos
como nrova .t" ton'pi'ut'áo dos
soberanos ;;;;;. companheiros,'" tó.,-,tnit diremos
nada tla sua paciencia e
Papa ct.rntrrt a vida dc lsabel
! confessores da Fe não perderam este si-
Íim.ao.leitor
inalteravel serenidarle. d.i*.*o.
-, ^-i, da heresia por
era uma -.:
victoria
Mas o tlue mals se tleseiava puzeram schel : com
,ro'.rrri"'a"utrinal' I'a'ni"o' a r8-de setembro
;il;;;tt t.rt",no"ho clo protestànte 'EmÊm
nouo1.'dut*tll't^' uma d'estas conspiraçóes que o espirito de
o padre hldnrr:ntlo .* f"ttrrçn 1".:'utt q.Ttj.t' para mals o auxilio «le
de con-
(iood e Iiolk' soube inventar'' achou-se o meio
ii tonraram a pre-
lu'.-.r.,r., os cloutorcs o sett adversario' ;J;;;';.;;re cumplices por
demnar Campton e ooze rle seus suppostos
Íàcilmente derrotarem de seus compa-
o-cavallete antes
.i; o pôr pcla terceira vez sobre náo
.;;ã; "."rorri..-'e ..i.* a" alta traição' Campion e alguns com fana-
assembléa; porém tinham elles nheiros podem t"' a"cut"tlàs de ter procurado
irl"f apostolo sus- estavam inno-
c1e Deus' o heroico- do martyrio, mâs certâmente
:;t;* ;;;^o totto"o tismo a honra
este novo ataque' e-defendeu tão centes de todo o <lelictá poii'ito'
Foram executados no clia
tentou com tanto vigor dos outros foi re-
valorosament. " fO a" fg"1n'
qut o to'na;, 1" Arundel'fi- r.o de Dezembro de r58i, e o supplicio
a.esra.disc-ussáo' decla- o povo periodica-
lho do duque at Uotfàiftip-t"tente. tardado para que se poclesse t"gàti1"t
resistir á victoriosa apologia cle alguma execuçáo capital'' (r)
rou em alta voz qot nao'poAin mente com o
tt catholico' ",pttt"'loprotestantes que tão altamente se
:i"i e , tolerancia
do sabio pua" aa*'iJ'ro- " q"t n1otlL:,1ua o sancto '1os
E triumpho
este assignaiado teve de exni^al'o .1u.i*"." cla intolerancia dos cathoiicos I
desesperaram porém
. martyr com novâs a.,'"t-nJtottura; ouvlram-cântar o Te-
quando..o d,es États ant"opéens' t' XVIII' p' z6'
de vencer a sua coragem os membros e
(r) ú'orrrt d,'histoire
the dilaceravam
lDeunt aopa§so que o'?rg;';t

208
foi annunciada
Quando a nova do martyrio de Campion
ao collegio inglez de Roma, um grito universal rompeu de
todos aquelles coraçóes novos de apostolos! Todos.pediarn
a honra tle ir substituir na brécha os vaiorosos campiões que
acabavam de subir ao ceo, mas poucos obtiveram e§ta graça"
IV
a
de Jesus estão seus filhos
[lEsDD a fundação da Companhia
[f ,, po... serem accusados de todos os acontecimentos,
de
<le toàas as calamidades, de todos os flagellos e de todos
os crimes; e por isso pouco se admiraram quando em r58z
se viram accusados «le ter transtornado as estaçóes com o
fim de chegaren: mais deptessa e com mais segurança a
transtorrlar o mundo. O inferno em todo o tempo tem sa-
bido abusar da credulidade humana' !'oi o caso que um sa-
bio da epocha, o cloutor l-ilior de Verona, tinhê tentado a
reforma rlo antigo calerrdario. O Papa Gregorio XIII nomeou
uma congrcg,itçiro pirra cstu.lal estr itléa de reforma cuias diffi-
culdades pareciattt nLtttlurosits c insuç'peraveis na execução,
e encarregou um iesuita, celebre pclir sua sciencia em as-
tronomia e mathemtticâs, clt solucão cl'estas difficulda-
des.
Era o patlre ChristoviÍo Olavio, de Bamberga, na Ba-
viera, que
"não
foi appellittacio o llttclides catholico' O padre
Clavi,o sómente approvou a idéa, mas tambem, alte-
rado q plano clo doutor Lilio, tornou possivel a execu-
da ,àforrnu de tal arte, que propoz um calendario per-
ção
petuo, e para dar d'elle uma idéa ao Papa, escreveu o seu
'Camputo" O seu plano, a<lmirado como solu-
Ecclesiastico,
entáo pârecêra quasi insolu-
ção àe um problema que âté
vel e cuja utilidade devia ser inapreciavel para todo Ô
mundo, lioi resolutamente adoptado I Gregorio XIII deu-
de
ihe o seu nome e qrdenou que d'ora em deante servisse
regra pâra o anno ecclesiastico.
2( )1).
grc-
Os soberanos catholicos adoptaram logo o calendario
gorinno, porérn os protestantes de todas as con{issôes' diz
íolt^i.e em seu Ettsaio sobre as costunles, obstinaram-se
em não receber do Papa ltma verdacle que âte dos turcos
De to<jas
se deveria receber, se elles a tivessem proposto'
terÍl-
as partes da Allemanha se levantava uma verdadeira
de Jesus uNão contentes corn
pesir.le contra a Companhia
progressos da Reforma e levar para
àa,". po. toda a parte os
o p"pirolo tar-rtos calvinistas e lutheranos, os iesuitas altc-
ram o calendario, mudan:r as estaçóes e querem trânstornâr
o munrlo; agora pertence-nos a nós, diziam os sectarios'
transtornar os iesuitas obriganclo-os a desapparecer Pâra
sempre. Náo bastava aos |esuitas dominarem- os povos e
o, ..iu, constituindo-se arbitros <las nações e decidindo da
paz ou rla guerra entre os estados! Que influencià e que
perigol É Àais que tempo de destruir e aniquilar a Com-
pu"Ài" cle Jesus, e para começar é necessario repellir o ca-
lendario de que os iesuitas são os inventores'
Estâs exagÀeraçóes se espaihavam até nos pâizes cathoLi-
.rnrr.-ãceites com a maior simplicidadc e hoa fé sem
"or; "
se lhes exarninar a origern. Entáo, como, hoje não se pe:'-
guntava se os rumores que andavam em circulação eran
ãbsrrdos ou provaveis; porque para tal exame seria pre-
ciso refiectir, e sempre Íbi mais commodo adoptar ur':na
opinião feita cio que dar-se ao trabalho de estudar o seu
,nlo.. Em toclo o tempo o espirito de trevas contou rnuito
corn a credulidade universatr, e, ainda que seia muitohun:i-
llrante para o orgulho humano, devemos confessar que eXia
ntrnca faltou senão em casos râros.
l,lr-r-rquanto os heref es faziam assim circular nas fileiras
eatholicas a necessidade <1e clestruir a Companhia de 'Iesus,
o l'rrpa Gregorio XIII inaugurava com a maior pompâ Íro'
rliu r5 ,.1e .Agosto de r583 a esplendida e rnagnifica egreja
dc (ir:sÍr, q,rã o cardeatr A'trexandre Farnesio tinha feito ie-
t'ltttt;rt ri :itta custa.
J,lstrr irssignalacla mercê irritoLl tanto os protestantes, qLte
r4
iltfi'tot{t^ I)À c. DE J.
i
2to
se decicliram a dar um golpe mortal na Companhia. Segundo
o calendario reformado, a quaresma caÍa em r 585, muito mais
cedo que o costume. O senado de Augsburg tinha adoptado
o calendario gregoriano sem pedir previamente o conselho
<1os cortadores da cidade, que eram quasi todos prostes-
tantes, e por consequencia oppostos a esta novidade. Sa-
bendo da mudanca ordenada pelo senado revoltaram-se os
cortadores com o prete*to de que, tendo-se íornecido de
carnes sem contârem corn a abstinencia antecipada pelos
Foi ne-
1'esuitas, ficavam agora completamente arruinados'
cessario empregâr a força para deter os excessos da sua re-
volta. Chega a Paschoa e não ha carne porque os talhos
apparecem fechados: o senado quiz obrigar os cortadores
a abrir os seus ar,mazens, porém elles responcleram que co-
rneçavâ então o verdadeiro tempo de abstinencia, e que fi-
zessem os catholicos a sua penitencia em tempo oppor-
tuno: e como a camara tomasse providencias para fazer
cessar a carestia causada pelos protestantes, os iortadores
cieclarando-se aincia mais arruinados correram de impro-
viso /r casa clos jesuitas, e a cercaram gritando que devia
ser abatida, c toclos os padres sepultados debaixo das suas
ruinas. Os lutl-reranos $opravam a indignação dos carnicei-
ros e corrcrflrrr a aiudal-os nos sctts clesmandos. Iam elles
já pegar fogo á casa clos rcligiosos, tluando uma br:a mu-
lher correu a prevcnir os amotinados que o cluque cle Ba-
viera enr pessoa vinha contra elles, á frente da tropa. A
estâ voz díspersa-se a multidão aterrada, e aqr:elle rebate
f,also salvou a casa.
No meio de todos estes abalos proseguia a Companhia
de Jesus o seu unico fi,m, a maior gloria de Derrs, e con-
tava já no céo um bom numero de Sanctos, apostolos, mar-
tyres, e confessores.
A China acabava de abrir-se ao seu zelo Forque o grande
Francisco Xavier, que lhe morreu á porta com ardentes
desejos de a evangelizârr tinha alcançado de Deus que ella
se abrisse aos seus irmãos; e os padres Miguel Ruggieri, e
2tt
lirrzio livcrrrrn n lclicidade de penetrar n'aquelle imperio, o
lrirne iro enr r.5l{ r, o segundo no ânno seguinte, e Íinalmente
crn r5SJ o paclre Matheus Ricci, de Macerata, plantava
rr'clla a (lruz. A r5 de Julho d'este mesmo anno a Compa-
nl'rirr de Jesus augmentou a gloriosa phalange de seus mar-
tyres nas pessoas dos padres Rodolpho Aquaviva, sobri-
nho do geral Aquaviva, Affonso Pacheco, pedro Berno, An-
tonio Francisco, e do irmão Francisco Aranha, que foram
immolaclos no mesmo dia pelos selvagens da ilha de Salsete,
r;ue iam evanqelizar.
Na Italia a Companhia de Jesus gozava de grande popu-
laridade,'e de um predominio que parecia um prodigio,
.como se vê do caso seguinte. O reino de Napoles suppor-
tava com impaciencia o jugo de Hespanha e não esperava
senão qualquer pretexto para se insurgir e retomar a sua
.antiga independencia. Sobreveio uma alta caresria de vive_
res e os napolitanos aproveitaram logo estê pretexto, e per_
.correm as ruas da cidade dando gritos sediciosos. O gover-
nador Vicente Staraci interpõe a sua auctoridade, mas é
"desapiedadamente morto: a revolta assanhava-se carla vez
mais, quando um jesuita se lânça ao meio d'esta multidão
.exasperada, e the faz
ouvir a sua voz com uma forca que
.domina o tumulto.
Este povo ebrio de colera pára, cala-se, baixa a cabeca
,á palavra do apostolo, escuta suâs reprehensóes, approva
os seus conselhos e não oppóe já a mais pequena resisten_
cia. Este jesuita era o padre Carlos de Mastrilli. Ainda elle
,fallava quando chegaram ao theatro da sedicão todos os
padres do collegio e da casa professa caminhando em pro-
.cissão e cantando as ladainhas dos Sanctos. passaram
pelo
meio d'esta multidáo, e dividindo-a em duas partes condu-
ziram uma á cathedral e a outra á egreja rla Annunciada,
oncie este povo, vencido pela voz de um só religioso e le-
vatlo como um menino até ao pé do altar, se mostrou pe_
l)ctrado de arrependimento.e prometteu tornar ao seu dever
coru inreira submissão e fidelidade. eue exercito teria já-

mais alcânçâdo umâ tai victoria sobre rebeldes? E todavia
estâ sorte de influencia, tão doce e ao mesmo tempo tão'
salutar, tem sido sempre exprobrada á Companl-ria de 'lesus"
como urn crime, quer Pelâ má fé dos herejes, quer pela irre'
flexão dos catholicos.
O Surnmo Pontifice Gregorio XIII, grancle estimador da
Companhia de Jesus, a qual tinha sempre escudado com a
sua confiança e affeição, veio a fallecer no dia ro de ''\bril
de r585, succedendo-lhe a 24 do mesmo mez nâ Cadeira
de S. Pedro Felix Perettir,Cardeal de MÓntalto, que to-
mou o nome de Sixto V. Sobre o tumulo de Grego-
rio XIII representâram o padre Clavio offerecendo o ca-
tendario gregoriano ao Summo Pontifice, sem que o sabio
iesuita podesse evitar aquella glorificacão. A
cidade de
Bamberg tinha-lhe pe<lido com instancia que fosse pr<.rfes-
sar as scienciâs exactas na sua universidade, e propunha-se
erigir-lhe ainda em vitla uma estatua de tlronze, se elle
consentisse; rnts o humilde religioso recusou energica-
Ínen1e o seu conscntinlcnto e contilluou no seu obserYato-
rio do collegio romatlo-
A acceitaçÍo do calcn«lario gregr:riano irritava cada vez
rnais os protesÍantes; e con)o o scnado de ltiga lhe tinl-ra cladc'
força <le lei, era prcciso conÍirrtrtat'-sc conl ella, ou soffrer
as conseqrlencias tia iníi'ircção. Os hcrc,ics rcvolÍam"se e a z'1
de Dezenrbro clc 15.95 pclits t t horas da noitc se reunenl sob o
commando clc uur nlinistt'o lutherano, que lhes faz uma
arengâ a provarcltle os jcsuitas transtornam tudo no universo,
a religião, as sciencias, as linguas, o curso dos tempos e atei
os rnàvimentos dos astros;que é tempo de exterminar os
jesuitas e abater esle rlominio universal. Aos jesuitas I Aos'
jesuitas! grita corn {odas as forças a cohorte heretica, sem
perceber o ridiculo da linguagem que vinha de-ouvir' Era
rneia noite; os aÍnotinados correm á egreia da Companhia,
onde comecava a missa da meia noite, arrancam o celebrante'
do altar,roubam a egrejarsaqueam â casâ, e o governador não
poden<lo apaziguar o medonho tumulto, teve de empregâr-
.,
, -l-
;r lbrça e pôr lr citlade em estado de sitio' Afinal os here-
1., só con...1;uiram perturbar a cidade
e destruir ou rou-
t". prop.i.ilade dos padres, que aliás o senâdo e os ca-
"
tholicos se apressaram a cornpen§ar'
v
fls iesuitas de França tinham tomado pârtido pela liga
as-
U .i* .o*o to,las as mais ordens religiosas; pois não viam
nos ailiactos outro fim senão o de manter a religião catho-
lica rro reino christianissimo: e por suâ parte tambem
.Sixro V obriEiava todas as ordens monasticas a sustentarem a
liga com toclos os meios que podessem; porém o padre
Aluaviva, penetrando o seu alcance politico, tinha orde-
ruào seu.s religiosos que recusassem toda a participação
"
nos pârtidos qo. .liui,li"* a'França, e tinha até revocado
o
padre Matthieu, provincial, cle quer'n os p;incipes se serviam
ãpesar das suas repetidas advertencias'
Com isto mostrava o geral a sua firme vontade de con-
.servar o espirito do Instituto denro dos limites marcados
pelo sancto funclador; e o duque de Guisa'assimo enten-
àin trrnbe- I comtudo persuadido que o padre Aquaviva
não lhe faria uma recusação directa, escreveu lhe enviando-
the papeis importantes, os quaes lhe pedia que entregasse
ao Paia e a aiguns cardeaes. O padre Claudio Aquaviva
não porlia permittir-se a si mesmo o que elle prohitria aos
seus subditos; queria que a Companhia ficasse estranha á
liga e elte mesmo deu o exemplo recusando o serviço que
os aliados lhe pediam.
Sixto V, descontente com esta sorte de opposlçãor
qr-reixou-se do excessivo poder attribuido ao geral pelas
conslituiçóes da Companhia, e determinou revel-as e mo-
diíical-as. As muitas mudanças que o Fapa pensava em in-
trotluzir n'ella teriam destruido toda a economia do Insti-
tutó e alterado essencialmente o seu espirito, de modo
,quc tlesappareceria a Companhia de Jesus e surgiria ern seu
t).i. .;-,
it:,

214
repre-
logar uma ordem nova. O padre Claudio Aquaviva
-

,"íroo os inconvenientes' ínsistiu, e fez comprehender

ao" rl
a impossibilidade de conciliar o-pensâmento do
;;;fi.; das que'
fundador com umas constituiçóes tão drfferen-tes
cot't'
tint , dado á Companhia, e obteve emfim algumas
"it.
;;;ã;t, que não o páditt satisfazer e da sua parte sixto'
í ;à.'ql.ri" ceder mais nada' Assim se prolongava
a lucta sem resultado, quando muitos soberanos' conhe-'
'
sup-
cendo as intençóes formaes do Papa, lhe escreveram
na constÍtui-
pli*ta*llr. quà não fizesse mudança alguma
uma Ordem que iá tinha produzirlo táo grandes.ho-
cão de
servicos' porém Sixto
lã"t-. i.i. á Egreja tão eminentes
e espe'
V estava inflexivel, Claudio Aquaviva oravatcom tant&'
do alto, luctando sempre' mâs
;"r;-; soccorro
em sua lingua-
mansidão em sua firmeza e tanto respeito
g.*, qu. o PaPa não podia iulgar-se offendido de sua hu-
Ãi1de iesistencia.
da
O Sacro Coliegio vendo approximar-se o momento to-
insta' recorda
execução faz um ,,ouo ttfotçài supplica'
;: os heroes' todo.s os
;;; serviços da Companhia'.todos
á Egreia'*
sabios, todos os martyres que ella iá tem d,ado
Íicá inabalavel e particularmente contra '
;;;il o Pontifice que os-soberanos.
ã- titulo de Companhia de Jesus' e Para
não possar'n
catholicos, protectores todos da Companhia'
iniciativa da aboliçáo do titulo' or-
i'rr., ,..ni. ,obre elle a
o decreto
ã*o ,o geral da Ordem que rediiâ elle me§mo esta suppres*'
ã. rnoao"que se iulgue que o Papa concede
são a rogos do proprio Claudio Aquaviva'
-- á grande alma
I pror'" e., doloio", mas não era superior obediencia ao
ao g.rul. Claurlio Aquaviva fizera. voto d.e
prirneiro que tudo
Surnmo PontiÍice, * "o*o iesuita o e
tal como lh'o man-
obdienre, §ubmette-set lavra o decreto
vai enÍregar nas mãos
ãu* rur"r; assigna-o, á elle mesmo o

Sixro V. O Papa satisfeito com o seu triumpho toma o

tle
Succedia isto
decreto, Iê-o e o encerra no seu escriptorio'
a rB de'Agosto de r59o'
 '.ltf

Sainclo do (ltririnrtl o plrtL'c gclal vai ao noviciado de

Sancto Antlrc, c ortlcnit aos uoviços qrrc logo no clia se-
guinte con:cçcr)I ttrt'tit novena parl pedirem a Deus, que
prera.ua a ()orrrlrirttltia cla clesgraca que paira sobre ella' A
iolução tlo cits<.r Íbi tal que nem era cle desejar nem rie es-
peràr: ml$ rl)rouve ao Senhor que a 27 de Agosto, ultimo
dia clâ rrt,r,,:uir, Sixto V atacado, havia muito tempo? de uma
doença nrolt:rl, e por outra parte exgotado pelas íacligas e
pelos unrr,is, tlósse o ultimo suspiro, morrendo antes de ter
promrrlgrrtlo o tlccreto que devia abolir o titulo dâ Cornpa-
nhia de Jcsus. liste decreto foi achado no mesmo logar
oncle o l'aprt c-r tinha posto em presença do padre Aquaviva,
e no cstârlo em que o tinha recebido'
O succcssor cie Sixto V náo viveu mais que treze clias
depois ,lr, cleiçáo, sem ter tempo de mostrar aos iesuitâ§
neur oppr.rsiciro, neút benevolencia; porem o cardeal Sfon-
drrrti, clcito a 5 de f)ezemtlro do mesmo ânno de t5'1o,com
o r-l()r'r)c cle (iregorio XIV, não tardou em publicar urna
lltrllir pcla quatr conÍirmava ao Instituto o nome tão doce e
tÍ<> quclido cle Con:panhia de Jesus.
À zl de Junho do anno seguinte subiu do collegio ro-
mano parâ o céo um verdadeiro anio'
Luiz Gonzaga, tractando os doentes nos hospitae-s, fôra
salteado por uma febre que o consumiu, na edade de z3
annos, dos quaes tinha passado seis na Companhia, que
elle tinha constãntemente edificado com as suas virtudes,
e encantado com a suâ pureza angelica. O sabio Bellar-
-pés,o tinha ciirigido, pediu o
mino, que favor de ser enterrado
ir seus quando chegasse para elie a hora de Partilhar
lu ultir-na rnorada de seus irmáos.

I
I
VI

1 z3 cle l)ezembro de 1588 o duque de Guisa foiassassi-

§. luia
|l no castello de Blois; e no dia seguinte o cardeal §eu
n,,.1,,
Gonza{a s" I. irurão caíu tambem morto de uma estocada, um e outno
 2rt)
l)or ordem do rei Henrique III. immediatamente um grito
de maldição retumbou de uma á outra extremidade de
França contra o assassino real: as universiciades e os par-
lamentos uniram-se; setenta doutores de Sorbona declaram
os subclitos <iesligados do juramento de fidelidade, e cha-
mam sobre a cabeca do monarcha todas as coleras do céo
e da terra, e no primeiro de Agosto de r58q Jayme Cle-
mente, dominicano, assassinou a Henrique III, com applausc
dos parlamentos, da Sorbona e das universidades. A 6
rie Agosto, cinco dias depois do assassinio do rei, o conse-
lrho dos c7)e1aseis enviou aos prégadores dedicados á Liga
âs recommendacóes seguintes que elles deviam desenvolser
efir seus sermóes: r.o Justificar o facto clo jacobino (Jayme
íllemente) como um facto egual ao de Judith, tão reüom-
rvrendado na Sagrada Escriptura; z.o gritar contra aquelles
que clizen que se deve receber o rei de Navarra, se elle fôr
ri Missa, porque elle nrlo póde usurpar o reino estando ex-
commungâdo, e até excluido do cie Navarra; 3.o exhortar o
masistrado a qr-re faça publicar que totlos aquelles que
slistentârem o rei de Nrlvarra estío incursos no crimes de he-
i'esia, e como taes procecla contra elles,.
Mas nem por isso Flenrique de Navarrtr deixava de avan-
car á frer-rte do seu exercito, indn de victoria ern victoria,
atd que chegou ás portas da capital. 'I oclos os parisienses
torcarâm as armas para o repellir, aintla n:esmo os sacer-
clotes e os religiosos. A universidacle suspendeu seus cur-
sos, e decretou que prof-essores e estudantes deviam con-
correr pâra a tlefensa comrnum; mâs os jesuitas absti-
nham-se, e as suas aulas continuavam com a mesmâ regu-
lanida,le. Os alliados tomavam isto corno injuria e accusâ-
vam a Companhia de não se importar com a causa catho-
lica, e de favorecer o rei de Navarra, herdeiro do ultimo
Valois, e assassino dos principes de Guisa
Entretanto iam faltando os viveres e a forne era amea-
cadora. Fizeram-se procissóes de penitencia e os jesuitas
rrão appareceram n'ellas, o que foi tido por um novo ag-
2t7.
gravo, Todavi:r conro l)crrs pltlccia inllcxivcl, e a penuria
âugmentava, o povo correcou a cluvidar da infallibiliclade
da Sorbona, a rcspcito cla successão ao throno, e con-
sultaram o cartloal (Jaetano, legarlo da Sancta Sé. O car-
deal conrnrcttcu a consulta aos padres daCompanhia)para
que deci,lisseur, se os parisienses incorriam em excommu-
nhão lcconhecenclo o rei tle Navarrâ por seu soberano. Os
padres Ilcllurmino e Tyrio, encarregados de resolver a difiÊ.-
culclatlc, dcciciiram negativamente, mas a universidade e os
I alliatlr:s, tlcsapprovando a escolha d'estes casuistas, não fi-
zerrnr nenhurn caso da sua decisão, e continuaram a de-
fensl tlc l)itris.
linr rltrento a luta entre os sitiantes e os sitiailos se pro-
longuvu, Ilenrique IV se determinou a tornar â entrâr no
fl scio cla l.)greja, abf urando o calvinismo na basilica de S.
t{
ií
,,1
I)iniz a z5 de Julho de i5q3. A z7 de Agosto Pedro Bar-
riórc, soldado da I.iga, tentou assassinal-o; porém sendo
fl proso, applicado á tortura em Melan, declarou que este
crinrc lhe fôra aconsell"rado por uns theologos que consul-
Iriru, c nomeou um carrnelita, um capuchinhorAubry, dou-
tor cla Sorbona e outros. Perguntaram-lhe o nome do seu
confessor e declarou que erâ o jesuita Pedro \rarade, mas
fl
fi ilue lhe tinha occultado a intencão do seu crime. Pedro
,[
rEi Ii;rrriere foi roclado vivo.
A r7 de Setembro do mesmo anno viu-se a Companhia de
.lesus obrigadâ â acceitar o sacrificio e âo Inesmo tempo a
'honra que ella mais temia, e que tantas vezes desde a sua
in stituição tinha repellido : o sabio padre Toleto foi chamado
ao Sacro Cr:llegio, apesar de todas as suas instancias,
rupoiadas com as dr: padre Claudio Aquaviva, para se sub-
trrrlrir a esta dignidade.
I,lntretanto o padre Possevino continuava em Padua, onde
cnsinava com brilhante sucesso desde o anno de r587. Alli
cncontrára elle um estudante, que se lhe tinha affeiçoado
'e cncommendado a direcção da sua alma. Era Francisco
rle Sales, o futuro sancto e bispo de Genebra. Á vista da
 I
2r8
affeição fitial que elle teve sempre á Companhia de Jesus,
e-.da terna yeneracão com que fallava d'ella a suas queri,las
filhas da Visitação, parece coisa digna de espânto que ran-
tos christãos no mundo professem
-a.-o t"-po a maior
veneracão a S. Francisco de Sales,"oe um sentimento intei_
rame-nte contrario parâ com a Companhia, que elie amava,
e cujo espirito tinha em alto gráo : mas tem d'estas inco_
herencias o espirito muntiano.
Clemente VIII ainda não levantara a excornmunhão que
pesava sobre Henriqr_re IV, parecendo-lhe talvez que a sua
abiuração não tivesse outro motivo, .enáo n ,*tição d.
reinar: mas sabendo que este principe lhe envia Luiz Gon-
zaga, duque de Nevers, a Íim de soilicitar a absolvicão pre_
cisa para poder ser acolhido cle seus novos subditos, o papa
faz chamar o padre Possevino e lhe manrla que vá en-
contrar-se com o enviado e lhe diga que a entra«la de lLorna
the é prohibida) como a embaixaclor d,um excomrnungado,
mas ao mesmo tempo recommencla ao padre que adoce os
termos. P<lssevino parte no mesmo instante e tanto aclocou
os termos que I-uiz Gonzaga, não comprehendendo cle modo
nenhun: que a cidade ponrificia lhe fosse prohibida, entra
n'ella a r9 de Novembro cle r 594. Clemente VIII a esta noticiâ
exprime tal «lescontcntamento, que o padre Possevino se vê
obrigado a partir cle noire e â retirar-se a lierraru, onde
morrell ern r6r r. O nrir-ristro de l;'rança em Veneza, philippe
Canag,e, escrevia nrais tartje a d'AIincourt, embaixadoi àe
Henrique lV:
"O Padrc Possevino, além <Ja sua rara pietlade
e erudição, se empregou na reconciliação cle Sua Maies_
tade com tanta affeição, que toda u F-.ança lhe deve ficar
obrigada». A.final o Pontifice coníerenciou com o carr.leal
Toleto, e se decidiu alevantar a excommunhão e a absolver
o rei. (r)
{r) O cardeal de Ossât escrevia a Villeroi, .llu não posso, nem devo ca-
lar os bons serviços que juncto do papa, e em outras pâÍtes tem feito o .Em,mo
caqdeal Toleto, de tal sorte que se póde dizer com verdade, que
depois de
Deus é ao dito senhor cardeal que mais deyemos,.
2Í9
O parlamento e a universiclade não tínharn esperâdo o
exito das negociaçóes rlo rei com a côrte de Roma para
âpresentár a iua submissão. Jayn-re' d'Amboiser-medico do
pàço, foi escolhido pela universidade para fallar em seu
.rorná, u quanrlo a 22 d,e Abril de r594 os doutores foram
prostrar-se aos pés do soberano, Jayme cl'Amtroíse the pe-
àiu per.lão para aquelles que tinhâm tantas vezes pedido a
sua morte. ilh.io. c1e zelo depois d'este passo táo humilde
os universitarios instam com os ailiados e com as Ordens
Religiosts, pâra clue subscrevam a formula do iuran-rento
que clles tc'enr PreParado.
Os jcsuitas recusam-se, e declaram que não reconhecerão
o rei senato ciepois de terem recebido para e§se Íirn a au'
ctolização da Sancta Sé; mas obrigam-se a náo fazer nada
contril clle. A universidade trir-rmpha com esta recusa, que
nâs suas máos vae ser uma arma contrâ a Companhia' E
verrlttle que todas as outrâs Ordens deram a mesma res-
posta pouco mais ou menos, porém só os fesuitas faziam
somb.a á universidade com â educação da iuventurle' Com
eíl'eito a zo <le Maio a universidade âpresenta ao parlarnento
um memorial em que recorda to<los os seus aggravos con-
tra a Companhia de Jesus, e conclue requerendo que esta
seita seia exterminada não sómente da dita universidade,
mas tambem de todo o reino de Flança' No mez de Julho
Jayme Bongars, calvinista, escrevia de Paris: nNós estamos
aqui occupados etr"t fazer expulsar os iesuitâs; a universi-
tlacie, os parochos, e tocla a cidade está coniurada contra
esta peste püblica,' Tal era iá então o conluio dos adver-
sarios da Companhia de Jesus com os protestantes: o pas-
sacio expiica o presente.
A z7 de Dezembro do mesmo ânno João Chastel tentou
assassinar Henrique IV, mas não o feriu senão levemente
no labio. Posto a tormentos, Cirastei declarou ter feito os
seus estudos na universidade, a phiiosophia nas escolas dos
iesuitas, e que voltára á'universidade para estudar o di-
reito. Os adversarios da Companhia de Jesus não ouviram
 220
senãô uma coisa, a saber que o culpado se,{uiu o curso de
philosophia do padre jesuita Guéret; logo, foi a Companhia
de Jesus que poz o punhal na mão de Chastel: a conclusão
pareceu tão clara a todos estes sabios, que não hesitaram
em pedir que todos os jesuitas fossem presos. Chastel pro-
testou âté á morte contra esta accusacão, affirmanrlo que
nunca jesuita algum lhe tinha aconselhado semelhante
coisa I mâs foram vãos todoÀ os seus protestos. O regicida
sentou-se nos bancos dos jesuitas muito menos tempo do
que nos da universidade, e á universidatle pertencia
na
occasião do crin:e, logo foram os jesuitas os que fizeram
d'elle um assassino. A universidade rinha arnrarlo a todos
os seus alumnos contra f{enrique IV, e ensinado que todo
o francez, qrre reconhecesse a este principe, seria excom_
mungado ; os jesuitas não tinhanr ensinado tal coisa; tinhâm
conservado os seus estudantes nas aulats clurante o sitio cle
Paris; tinham decidido que os parisienses não incorriam
em nenhuma censurâ pelo facto de reconhecerem Henrique
de llourbon; )ogo os jesuitas aconselharam a Cl.rastel que
matasse a IIcnriclr-re IV. Esta consequencia não era muito
logica; mas ern que tempo se obrigaram á logica os adver-
sarios da Oon:prruhia cle.lcsus?
O chancellor de Iíranca, qLro era entío I{eyrault <_le Chi-
verny, devia sal;cr a verclarle sohrc estc nc,gocio, e lalla as-
sim em suas Memorias : «l)or occasiáo cle que Jolio Chas_
tel tinha estudado nlguns annos no collegio <ios iesuitas, e
de que os principaes do parlamento lhes queriam mal, ha_
via já bastante tempo, e andavam procurancfo algum pre-
texto pâra destruir esta Sociedade, achando este plausivel
para todos, ordenaram e commetteram a alguns rl,entre
aquelles que erâm seus verdatleiros inimigos, para irem dar
busca por tocla a pârte no collegio tle Clermont, onde, ou
realmente acharam, ou talvez, como alguns cui<iam, fingiram
achar certos escriptos parriculares contra a dignidade rlos
reis, e algumas memorias contra o defuncto Henrique III.
«O parlamento, continúa o chefe da justica,
man«lou
221
_
prender os jesuitas e leval-os ri cadeia, e ordenou que to-
dos os demais jesuitrs fossem detidos no collegio de Cler-
mont; e depois, conro addicão á sentenca de Chastel, orde-
nou que tod«rs os icsuitas saissem de Paris dentro de tres
dias, e tle todo o reino quinze dias depois, sob pena de se-
rem toclos cniorcados passtrdo o dito prazo». Alem d'esta
iniustiçrr houve o parlamento por bem impressionar os es-
piritos corn o supplicio de alguns d'estes religiosos) e mân-
char col'» o seu sangue a pagina l"ristorica destinada a con-
servar a lcrrhranca do regicida Chastel, e deixar á posteri-
dade um testemuntro que a má fé podesse invocar a todo
o ter)rpo, colro prova da sua cr:mplicidade n'este crin-re. A
7 de .)lnciro de r5g5 o parlamento fez comparecer os pa-
dres (-itrclet e Guignard; o segundo, não tendo confessado
nada nos tormentos, ordenou o tribunai, tiiz L'Etoile em
ser: ,Iorrnl de Henriquc 1V, qte o jesuita Íosse enforcado
nâ prlcl de Gràr,er e que seu corpo losse reduzido a cin-
zas. O mesrno autor pensa que o padre Guignard Í'oi immo-
lntlo ao oilio dos inimigos da Con:panhia de Jesus, e faz
uD)a tocante narracão da sancta morte d'este martyr. O pa-
tlrc (luiret e outros seis fôrâin submettidos aos mais dolo-
rosos supplicios, e os soffreram com egual resignacão até
ao dia em que as portas das suas enxovias se abriranr para
os lancar fóra da capitai. Os seus irrnãos estavam já no des-
terro, recebidos na Lorena com amor, ao mesmo tempo que
o parlamento, a universidade e os protestantes de Paris r-e-
pârtiam entre si os seus despojos.
uli'oran: expulsos de Paris, diz o chanceller de Chiverny
eor suas Memorias, não sem grande espanto de muitos, e
l"rcsur tle nruitos outros, Os senhores do parlarnento con-
lis*rrunr os bens dos jesuitas; e depois de terlancaclo mão
de tLrdo e disposto cle tudo, rnandaram edificar uma bella
pyranritic c1e pedra, tudo á custa clos bens dos;'esuitasl dos
quaes lrens os ditos senhores do parlamento dispuzeram
semnrc cm quanto aquelles religiosos estiverâm fóra de
Parisr. l:ista pyramide em cada nn:a clas suas faces conti-
 222
nlra uma inscripção composta pelo protestânte .losi Scali-
ger, a qual recordava o crime de Chastel, e em nome do
parlamento attestava a cumplicidade dos jesuitas.
Era um tribunal de iusric;a que assim entreےirvir ris nral-
diçóes da posteridacle uma Ordem, cújos instantes torios
eram consagrados á salvação das almas !. , . A sentenca di-
zia qrse os seus bens fossem confiscados para serem enrpre-
gatlos ern obras pias: mas o parlamento e a universiclaele
julgaram que a obra pia mais meritoria era dar pensóes aos
l-rerejes, que os tinharrr servirlo tão bem n'este triste üego-
cio e acharam obra delicada dar-lhes pensóes dos proprios
bens das suas victimasl
E para que o accorclo clo parlamento, da universidade e
do calvinismo náo podesse ser posto em cluvida n'este
roubo, em que cada um puxâva para si, ciois ministros pro-
testantes, Baugrand e Gosselin, um membro da universidade,
Passerat, e alguns outros inimigos da Companhia de Jesus,
se estabeleceram no collegio de Clerrnont, onde o sabio
Passerat morreu poucos annos depois.
VI
tr perscgrriçío contrrl os catholicos era pcrrnanel'ltc na In-
-l'honr;is (]«l1tam
ll gl"t.r.^. O [)arlre tinl:a morrido no ca-
dafrrlso clepois dc sollrcr o supplicio chrrmado cla Íilha de
Scavir-rger. Iirl,
tliz Critincuu Joly, na Historia da Cornpa-
nhia dc ./r,sus, unt supplicio ao qrral os aigozes deram o
nome do inventor, e consistia em dois arcos de ferro 1un-
ctos em uma das suas extremidades; â outra extremidade
era recurvada parâ fórâ e por meio de um annel vinham a
formar um circulo que se apertava á vontatle. O paciente
punha-se de joelhos sobre a parte onde os dois arcos se
uniam; o algoz calcava a cabeça e o peito, e carregava
com todo o seu peso sobre este corpo, calcando e recal-
canclo quanto era possivel I e de repente fechava os arcos
pela ertremidade recurvada. No mesmo instante ficava o
'l'l ..'
colprr rio pirr'ienlt: corlro trl)1il cspecie cle bola, que não in-
.lit'irvir st'r' lrrrllitno sr:niio pelo sângue que retrentava dos
lllrrize s, tlrrs nrÍos, e dos pés. horrivei tnrmento des-
- Este
r irrrr.lo iros mais infames faciriorosos, applicava-o uma
lirirrha, unra mulher, aos apostolos da Religião de Jesus
(lhristo ! Os historiadores inglezes querem votar a rainha
Maria á execração da postericlade, porque esta princeza ten-
tou restabelecer o Catholicismo na Inglaterra por meio da
l'orça; e para Isabel, que perseguiu os câtholicos com uma
crueldade que só acha egual nos prinreiros perseguidores
cla Egreja, não teem senáo elogios! Que cegueira! Que
inconsequencia I
O Paclre Cottam supportou o torrnento da horrivel ma-
china com a paciencia e mansidão de um anjo ; mâsr como
não confessou que tivesse tido a menor parte em conspi-
ração alguma contra a vida da rainha, isto mesmo se con-
siderou como prova sufficiente da sua culpa e foi morto com
Íres paclres secuiares.
Como estas mortes eram frequentes, pareciâ que os mes-
mos supplicios mutiplicavarn os apostolos. Isabel não po-
dia bastar para tantas perseguiçóes, tormentos e cadafalsos;
e vendo que a sua reputação perderia na Europa, e a suâ
memoria no futuro; para justiÍicar a s-ua tyrannia aos olhos,
da posteridade, orclenou ao seu conselheiro Cecill que com-
puzesse o livro intitulado a Justiça Britannica. Cecill assim
o fez obtenrlô que Candem o ajudassd n'este trabalho, que
niro carecia de difÊculdades. N'este livro, publicado em la-
tim e in64lez, aflfrrmavam os âuctores, sem o poder provar,
tlr-re os sacerdotes papistas e os jesuitas que tinham sido ator-
mentaclos e mortos, eram culpados de traição contra â
rairrlra. Candem, em seus Annaes do reinado de Isabel, pro-
cura iustificar esta princeza, e todavia faz confissóes que
muito compromettem a sua causa : nÉ verclade, diz elle
cluc se tinha recorrido á fraucle para espreitar os coraçóes:
Íabricavam-se cartas que se.diziam mandadas furtivamente
pela rainha de Escossia e pelos catholicos homisiados I lan-
 q').I '!'!)
'-1
I

fingidas nas casas dos papistas' para ,l'i\'i,t,lt, r'tllr,rl,lirri,l,'t'.lllt o ttrttltc tltl rrrlris íirn're apoirl tlir
çilvam-se estâs cartas
1

LIma lr,'li1iiri,,, ttr;ttl,'llo ,l,rs hr:rr:gcs c llaluarte da ligreia, o Padrc

alli serem achadas e seivitem de prova contra elles' theologicas' Al"re-
a parte' reco- l !r'llrr r r uirro l,rtl rl icott its sLIlls conÍ'erencias
multitláo de espióes penetravam por toda
irrã- i.a, o q,-,. ,. ài'in, t todo aquelle que podesse re- nrr ill)l)rt c(:ctt e stit {rbrâ, toclos os doutores anglicanos se
,'1,1,1ic,,,r', rt cstuditl-ir e procuram comtratel-a,
mas viram-se
;;;;;-q;;iq.,", t.gnt.l^ contra catholicos era logo admit-
por ,,1»i1i.,1,,* a a,lmiral'a. Withaclrer dedicanclo -a Cecili a
ilao Assim se eflectuaram numerosas prisóes
:;tra llt:li.rtaçito das Oonferencias do illustre iesuita' lhe
diz:
simples
"'a"pàr.
susPeitas". corn os traba- I,lrr csiimo a Bellarmino como a um homem de rrrofundo
A missáo tll Escossia prosperava multo
quando Isabel ordenou a Jayme Stuart sabcr, tie genio feliz, de juizo subtil, e de muita licção ;
lhos dos iesuitas, sobre tudo
todás os sacerdotes cathollcost conro ltotnetn que procede com mais clareza e franquezal
lu" "*prrí.rrse tlo tluc fazem cie oràinario os papistas, que desenvolve o ar-
os da ComPanhia de Jesus'
vista da or<ien'r da cruel prin- g,,n,.nto com mais viveza do que qualquer outro, e não se
0 rei da Escossia tremeu á
,,y.u.rn ,rnan da materia. Seus escriptos nos tem
feito ver
.t"rp.diu os lesuitas condemnanclo a sua propria frtr-
qual é, por assim dizer, a medulla do pa-
quela." Isabel, como se estivesse arrependida
"ariu, ou carrçada de ,rrais claramente
que todos os sacerdo- pismo, que pensavâmos estar mais entranhada no coração
seus excessos sanguinarios, decreta
juramento,de obedecer ás ,los iesuitas d.o que no do proprio Papa'
tes e iesuitas) que prestarem
Ieis e'estatutos da rainha em materia de religiáo' quer A propria rainha conheceu que os doutores anglicanos'
lor-rge de vencerem o seu terrivel adversario,
pareciam des-
,a,alnaa, qr-rer futuros, potierão
residir em InSlaterra sem
pcclacarenr-se contra o seu raciocinio; mas não querendo
incorrcrnltsuaclesgraca.Eraumr,erdadeirolaçoqueella vencido, Íundou em Ox-
,,,". àt podianr
não .1ue o anglicanisno se confessa'sse
qri."rio n,.r,,r; iàsrritas conheceram-o; com o firt
cottscietlcia' e se consefvaÍam es- t,rrl.1, p"r'.onselho de David Paré, um collegio'
pa"ara, este iut'attletttt'r ct.lt contra
clo (lllc nLlllca : os que cstilvalr encarcera- cspecial de formar jovens que sustentassem-theses
cont.lidos ntais isio o llome de eÁcademia Artti-
llellarmino, e po, deu-lhe
dosforammctticlr::;cnrllarcoselarlçltclosllasc<lstasclos
bellarntina.
vizirrhos.
'"lini*,rrl,o
estados
echoou de lloma Llma voz' cuja fcrrça
e poder Era isto confessar á face do mundo a insufficiencia Ce
da
Era a resposta ao supracitarlo livro todos os sabios anglicânosr e reconhecer o triumpho
abalaram a Inglaterra'
cloutrina c1a Egreia Romana'
de Cecill e Canclem' caÍn-
de Jesus no Emquanto o coilegio rle Oxford iria formando os
A heresia não podenclo veücer â Companhia mandou Isabei publicar um novo
desafiara-a para o teÍreno' peóes do anglicanismo,
,"r..no da discusião theologica, porque os he- ae perleguição, no qual se atreveu a dizer: uEu sei
ào'*.r,y.i" ; vencicla tumbá* n'este campo' outros com enthlr- "aito
con] certeza que os collegios clos jesuitas são os ninhos
uns aos
roes apostolicos se succediam britannica ean c os anffos onde se acoitam os rebeldes'' Esrte edito que
;1".*;; o anglicanismo lançou a sua Justiça Jesus tinha ctre tir-rha a ciara cle r8 de outubro de r59r, fez ievâÍrtâr
os câ-
todos os cantos da Europa' A Con-rpanhia.de dos martYres da Compa-
rat-o a" t-tt'.' motlo formidavel
por meio da rlrÍllsos, e augmentou o numero
;;;"il; " e mais brilhante do seu rrlri;r r'le Jesus, nem a motte de Isabel, succedida a
3 cXe
rlenna ao mesmo tempo mais sabia
pJ." e"iiálÀiuo, a quem os cardeaes de sordis' de rr3o3, suspenitrer: os effeitos cl'este inf r'rsto decreto'
5.ir.ã ^iiolito
IIIS'I'OI(IA DÀ C. DE
,5
'.
 ,o{i
VII
r Fé cada clia mais se dilatava no vâsto imperio do Ja-
I pão pelo nrinisterio da Companhia. Os Bonzos chegavam
algumas yezes a excitar um levantamento popular, ou umâ
pe"rseguição contrâ os christãos, orà n'um estado, ora n'ou-
i.o; potá- missionarios, sem se deixarem desalentar
'estes os
coln ataques tlo inimigo, aÍrâvessavâm um rio ou
uma montanha, passavâm a outrâ região, e até algumas ve-
zes â um Estado lizinho para ficarem ao alcance de seus
neophytos, onde elles faziam frente á perseguição conforme
air.r-i,nncias, e não tardavam em retomâr á idolatria
".
as conquistas que ella lhes tivesse por algurn tempo tirado'
Estas pe.seguiçóes parciaes não detinham os desenvol-
vimentos da missão; pois que embora nâscente, apresen-
tava-se já com a organização e recursos de uma Egreia
perfeitamente constituidâ: hospitaes, escolas, confrariirs,
imprensas, e sobre tudo seminarios, onde se preparâvarn os
elernentc.rs ,Jo Clcro indigena. Já os neophytos iapóes eram
aclmittidos na Oon'rpanl-ria) e pol' meio de estudos fortes e
pelo exercicio moderatlr: da prigação preludiavam o seu
iorr.o ,por,olatio. l)cstlo o ânno dc I56o tirrham os missio-
narios pediclo a llorra um llispo, <1ue porle'sse ordenar sa-
cer<Iotes intligenas, e en-r r53o o padre Valignano, então
provincial <io Japão, decidira iunctamente com todos os
missionarios, que os )esuitas japóes receberiam uma educa-
do mesmo modo que os
ção completa, e seriam tractados
padres europeos.
Em r58r propoz o padre a alguns principes christãos que
enviassem embaixadores a depôr aos pés clo Summo Pon-
tifice a homenagem <la sua submissão e respeito' Os reis
de Bungo, d'Arita, e d'Omura renderam-se ao deseio do
jesuita,i deputaram dois principes de sangue real, Mancio
'Migo"l
ito, Cingiva, âos quaes associaram outros dois
" da Àais alta nobreza, Martinho Fara, e Ju-
"-trui"rdore.
'!'!7
lr,rrro Nrrr'rrrrrn, (.n(.irÍr'clliu"l(io dr: os acompanhar um jesuita
l,rpí)ncz, tpre tinlrrr lorntrclo o nome de Joree I_oyola. O pa-
,lre VrrliHnrrrrr)! ir (lr.rcrn o bern da Religiáo e da Companhia
,llrrrlrvant ir ltornu, partir-r com estes embaixarlores a zo de
li,,vcrciro tlc r5liz; e a zo de Marco de 1585 chegavam á
,;rpitll do nrundo christão, depois.de terem passado por
l lcspanha, oncie foram apresentados a philippe II. trm r5g7
o rci d'Omura, e o velho Francisco Xavier Civanrlona,
rci cle Br"rngo, ambos elles fervorosos christãos e sustenta-
crrlos da lleligião em seus esrados, passaram a melhor vida,
tlcixando ao redor de si o exemplo de grandes virtudes, co-
rôrrdas com a mais edificante morte; mas a protecção com
,.1rre o imperador protegia os christãos, consolava os mis-
si,rnarios d'estas duas grandes perdas. Havia tres annos
(lrre o numero dos neophitos tinha augmentado tão rapida-
n)ente, que chegavam a duzentos mil, contando-se entre
clles mr-ritos reis, principes e fidalgos, e tres rninistros do
im peraclor.
O bonzo Jacuino, encarregado de procurar as mulheres
nrais formosas do Imperio para as apresentâr á escolha do
solrerano, queria levar duas jovens christãs d,Arima, porém,
como ellas recusavam aquillo que pârâ as pagãs era uma
honra invejavel, Jacuino denunciou-as a Taicosama dizendo-
lhe: Esta recusa das mulheres d'Arima é uma affronta para
r'ós, principe; para vos que protegeis a lei christã. por
obeclecer a esta lei é que estas donzellas vcs offendern. Se
rleixais correr as coisas, quando os bonzos daEuropa tive-
rom usurpado todo o poder que ambicionam, vereis que
vossos desejos mais legitimos seráo desprezarlos, como a
lci que nos mantla respeitar os bois, cuja carne sagracla jri
os Europeos comem sem nenhum respeito. UconrJono, pr.o-
tegido pelos navios portuguezes e pelos bonzos christáos,
n5o tardará em vos tomar o throno, e vós perecereis, por-
rlue assim o qriizestes,
O imperador âssustoLl-se e ordenou a Justo Uconclono,
scu rninistro, que abjurasse o Christianismo, mas o minis-
 'r21)
228
,lrlcr illIll(lll tltteitttnr ort tlcrrihar §etenta egreias' e todas te-
á apostasia-
Íro respondeu que preferiâ o exilio e a morte os seus ,]a,, ,r'',,,,,i,t,1.r',leslrrtir, sc não temôra um levantamento dos
ããtn-"k"i,o foi condemnado ao desterro; todos chris- , hristíos, cttirl trrtnlero não podia -deixar
de.aterral-o' O
aquelle valente
b.n, fo.u* confiscados, e assim ficou mulher ,,'i ,t. ti,,nt,rr, tcnren<Io ' toltt" rlo imperador' despede
ia" r.árria" á indigencia como seu velho pae' sua
lagrimas nos cinco icsuitrrs) aos quaes a principio tinha.dado utyl:.::
Jirio.. rnt,t* .oà elle os amigos com as
professava. A maior misefla
ate ,,,',.1 n"u. i., tleserta rla fé que
olhos para gue dissimule por algum tempo,sómente' ,li",tlrã.'-*à,., Joscimuntlo, poii que para dar ao imperador
do imperador! Porem elle,fica inaba' matar dois chris-
ã"" t"'r.làe a ira que é táo christã como elle' se rego-
;;;;-p;"t; da sua sinceriàa'le'-mandou
tlvel: e sua familia, martyres
tÍos, joaquim Namura e Joram Nicamo, primeiros
;l; ;tr a Deus um testemuüno da sua viva
';;;"; ';t; do Japão.
- -X(as
fé.
do Japão no ,l'este primeiro sangue derramado pela fé'brotaram
Taicosama ordena aos iesuitas que saiam milhares «le christãos no reino de Arima
e de Amacuza' e
to<io o que for encon-
prr^ à" vinte dias passado o qual por acharem os até os reis pediam e solicitavam â graça do baptismo' de-
irado será trâctado como traidor; e se se
seriam os defensores da Religião li
li.r^nao quà até á morte
distancias uns dos
L

ÀirJ"""ti"t disseminados a immensas revelára ao imperio do Japão'

de táo ra- oue o srande Xavier
or,ror, o impera<lor reconheceu a impossibiiiclade reunis- ''N"" ;r;;;..te. tr.brlhos e coniolações os iesuitas da
i

piJr-pàt,iaá, exigiu porém que todos..os iesuitas se o.padre Coe-

pot" alli o momento da reti- *irúo laponeza perderam o seu provincial' âposto-
I

sem em Firanrio laborioso

"tpti""m um edito' pro- ll-ro,que'foi recebei â recomperlsa do seu i

rada. Ao mesmo tempo mandou pubiicar la,lor'ao qual succedeu o padre Gomes'
e declaranclo que clesterraos bon- cotn
trribinclo o culto christáo, Errt..tánto o padre Vaiignano, l'oitando de.Roma
porque a sua religião é do demontot pols Goa' e n'esta cidade
zos europeos, os embaixadores iaponezes,"tocou em
comem c,,rtrc .le vaccir e destroem os
idolos do paiz e com
desterro ou It rnorte todo o ia- foiinformarlodosacontecimentosdoJapão;esabendoque'
outro e,iito conclcnrnl ao só pelo
ltcligiío de 'lesus Christo' ..orrao uma lei do imperio, todo o contlemnadofica
!ãrl., .fl.ir,lo renuncie per-
quc niío ri
em Firando erl ;;:; ;" ser admitti'lo á presenca d<'r imperador familia
õ.s jesuit,,r, 1brçaclos a ollcdccor, rsuncm-so doatlo, e qlle esta gt'ço extende a toda a sua e
'à a D' Eduardo
numerodccctrt<lotlczcsctc,porqllcollaclreorgantinie
christãos
seus âté âos seus amigos, o padre Valignano pede
outros dois licavrur cscontlidos para animar ã. ú.n.r.., vice'rei dàs Indias, que the dê o titulo de em-
missionarios
pãr.-Sri.eo. 0 narvio pottugut', "o.q11l os üritrã". iunto do impera'Jor do Japão' a Macáo'
"" nnÀta na bahia c1e Firando no "-.to:t"
deviam embarcar, l'nçou do Japão Taicosamá, lisongeado com a honra que
ihe fazem os so-
p.i*.i." de Janeirlo de r5S8; porérn.os apostoios
a abrndonar esta b.rrno, de I-Iespánha, de Portugal e das Inilias' lisongeado
ã ,rltima hora, não se podendo resignar não lhes cons- ,ob.etu,1o por saber que os embaixadores iapóes
fallaram
d'um honrem' e
ão...."r,r" n is.ão á vàz ,lo ,eu podet-" grandeza, rec.ebe.o padre
Valignano
deum soberano ido- ""Ért"p, de religiáo' A r3
tando assaz claramente que a vontade mas com n .or,áiqão que lhe não fallará
ao capitão
;;;;.;" a manifestacáo àa d" Deus' declararam o capitão fez-se .i.-1t..ç" de r59r foi o padre levado ao palacio imperial
;;;'rili .; À.orr.* á mercê da Provi«lencia'
,r',-,rn" litei.a -rito ,icat adeante iam os presentes clesti-
prin-
á vela, e os missionarios ficaran-r' .rtào. , Taicosama e faziam'lhe companhia os quatro
'faicosama, furioso por ver suas ortlens assim desacata'
 zll r
z3o
r't>rrr ttltlos os grrtrdes tltr suil côrte, e
ordeuou a todos os
cipes e fidalgos japões, que eram chegados da Europ a, ve sti-
jrrrrlamcr-rtos .ki reino que renrlessem as mesmas honrena-
dos com seus esplendidos trajos á italiana, que o Summo
f.icns á metrtoria clo
grande homem, que Deus acabava de
Pontifice lhes tinha offerecido; dois padres jesuitas Íêcha-
Yam o apparatoso corteio. tirar ao mundo.
Chegado á presença do imperador entregou-lhe Vali- liallecia um carrleal c1a Companhia de Jesus e já o seu
o quai a tres de
gnano as cartas do vice-rei, e'laicosama, encantado com successor estava no Pe[sâmento do Papa'
Bellarmino que acceitasse
o elogio que os jesuitas tinhâm feito cl'eile, otrriga-se a to- ,Viu.ço a. r599 ordenàu ao paclre
bem se prostrou a seus pés
leral-os em seu imperio, com tanto que se abstivessem de ;;;;";;. ó;odesto Bellarmino
da
na humildade
prégação, e de culto publico, «porque, disse o imperador, ,.láalnao-ffl" com lagrimas que o deixasse
lhe pecliu.de que
a Religião christã tem ârclentes inimigos ao redór de mim,. ir, tr".t" vocoçío.b ptoptio geral ioelhos
qLre taes
Estes ardentes inimigos eram os Bonzos. Effectivamente não expuzesse a Conrpanhia ás itléas c1e ambição
no espirito de alguns-'. porém não
desde aquelle dia os missionarios tíveram de exercer os ;.r.ê;' podianr suscitar
sagrados ministerios occultamente para não despertar un:a pã,i. a"fr.". o PontiÍlce : ul)u escollti este' diz Clemente
'\iIíI, porqu" a Egreja de Deus nãa o tenx egual em dou'
ira que se converteria em perseguição. No mez de Feve-
reiro de r59z saiu o padre Valignano do Japão, Íicando o lrina».
pols pa-
padre Gomes por provir.rcial. A,lgum tempo depois o impe- Esta promocão não podia agraclar aos sectârlos'
contra as perseguicóes com que elles
rador fez guerra á Corea e escolheu por general das suas recia um protesto
Ainda poucos
tropâs um christão. Este levou comsigo dois iesuitas, que honravam sem cessar a Companhia de Jesus'
iancaram rr'acluelle reino a primeira semente do Evang,elho, mezesanteslhetinhamellesassaca<loumd'aquellescrimes
a vergonha da humaniilade' Foi o
caso que um homem
c Íizeranr Ílun)crosas conversóes con-r grandes esperanças, ;;;. Panne se apresentou á porta do
cliz o paclrt: ()hltrlcvoix, dc vercm com tantas ber-rçíos de ão pouo, poi rrorn" Peclro
e aos guardas
Deus todir it (lot ca [rrcvcnrentc rc.luzida ii sancta fe. prrJ.i. áá Mro.icio de Nassau, Perguntou
encontrâr o conde'' Os guardas' r'endo o"
.onde pocleria
embriagado'
seo ar inquieto e as maneiras de um homem
IX confessou Panne sem hesitação
p.e.,ieru*-o. Interrogado,
a Làyde por dois principaes habitan-
o Carilell folcto acabava cle morrer em Iloma a 14 de l,-,e fôra enviado ''lo-s
capitáo-ge-
tes de Bruxellasr que o encarregaram de matar o
U S.t"*bro de r59í;, e o Cardeal Ossat, bispo de Rennes logo de
e embaixa<lor de França iunto da Sancta Sé, escrevia ao neral das Provincias Unirias' ós hereies tractàram
facto prometteram a Panne que lhe restitui-
ministro Villeroi: nFallecetr no sabbado r.1 deste mezr o se- aproveitar este e
riam a liber,lacle, se elle accusâsse os iesuitas
de o terem
nhor carcleal Toleto em quem a trgreia perdeu uma muito principe' A circumstancia de
grande luz, o Papa o seu principal conselheiro, e o rei e a encarregaclo c1e assassinar o
mritas vezes ao collegio dos iesuitas' por ter
França um personâgem muito seu affeiçoado., Henrique IVr ter ido Panne
O mi'
recebendo esta noticia na Normandia, escreveu no mesmo l:i um parente empregado, tornaria crivel a accusaçáo'
..rouai acceitou à i,-rfnrn" contracto e accusou os padres'
instante e de seu proprio punho uma cârta de pesames ao
rnils, como nem por isso deixou de ser condemnado
á
Summo Pontifice, fez celebrar a ry de Outubro na cathe- retra-
clral de Ruão exequias pelo sabio jesuita, ás quaes assistiu rnorte, vingou-se efitão d'aquelles que o engânâram,
 232
ctou a sua falsa accusacão e certificou que os fesuitas es-
tavam absolutamente innocentes do crime que elle queria
commetter. Panne foi executado a zz de Junho de i5q8.
Os protestantes não cluizeram fazer caso das suas ultimas
retractaçóes, e sempre metteram os iesuitas no auto de ac-
cusação1 mas permittiu a Providencia que nos mesmos ter-
mos da accusação se manilestasse a má fé, porque fizeram
uma tal confusáo de nomes, datas e logares, que foi facil
provar-lhes a faisidacle do aleive. Provou-o o padre Coster
com toda a evidencia: mas o espirito do mal' que ás vezes
e assás engenhosor suggeriu aos magistrados calvinistas a
idéa de se servirem do proprio escripto do padre Coster
nara .reÇtiÊcarem os erros que elle assignalava e comPorem
por fim uma íabula capaz de se apresentar á creciulidade
publica, que é bem pouco difficil em. materia de verosimi-
ihança.
o ,universidade e clo parlamento de Paris. Ao mesmo tempo
E é sobre taes documentos que se estribam sem sa-
ber muitos christãos de boa fé, fazendo'se echo da heresia
sem se darem ao trabalho de examinar I
No mesmo anno de 1598 alguns corsarios lutheranos as-
soldadados pclo principe Carlos' duque de Sudermania, se
apoderaram do padre Martinho Laterntr, prégador do rei cie
Polonia, e o prccipitaritrrl nas ont]as. Mais tarde, em t6oo,
em quanto o exercito cntlrolico sitiava Ostende, os hollan-
<1ezes forçaram os cntrincheira'mentos, e venllo tres iesui-
tas inciinados caridosamente sobre uns soldaclos feridos,
lançam-se sobre estes apostolos e os degollan:. Eram os pa-
d.res Lourenço Everardo, Otl'ron de Camp e Burelin'
Emquanto os lutheranos suecos afogavám jesuitas, e os
calvinistas hollandezes os assassinavam, o parlamento de
Paris, sempre de accordo com a universidade, vendo a af-
feição que as provilrcias de França mostravâm aos padres,
e que alli conservavam todos.os seus collegios, a t8 de
Agosto de r598: «Inhibe e defende a todas as pessoas que
enviem estudantes aos collegios tla supposta Sociedade em
quaesquer logares que elies esteiam para n'elles serem ins-
233
truidos; e desde ih tcrn ordenado e ordena que todos os sub-
ditos do rei instruiclos e eclucaclos nos collegios dos preten-
sos membros clir sobretlita Sociedade, dentro ou fóra d'este
reino, não gozarío ilos privilegios da universidade, como in-
capazes dos seus graos».
As familias sc indignaram de ver a auctoridade Paterna
rão desconheciila, e declararam que' se os collegios da
Companhi.a cle Jesus fossem prohibidos e supprimidos em
França, enviariam seus filhos aos paizes estrangeiros, que
saberão apreciar e conservar taes mestres. Pelo contrario,
.o parlamento cle Tolosa cleu a e3 de Setembro uma sen-
tença inteiramente opposta) mandando que ninguem per-
turbasse em seu ministerio e em seus collegios os sacerdo-
tes e os estudantes da Companhia de Jesus. Bordéosr Li-
,moBesr Leáo, Diion, todas as grandes cidades protestam do
mesmo modo, e não fazem nenhum caso das ameaças da
.o padre Coton, atacando com todo o vigor do seu talento
'os herejes do Delphinado, reduzia ao silencio os seus dou-
tores mais afamados, e isto em presença do parlamento e
,rlos maiores personagens da provincia. Estas derrotas, que
.deveriam esclarecel-os, ainda mais os irritaram, e a luz que
trrilhava tão viva e tão esplenclida a seus olhos, não servia
'senão para os deslumbrar e augmentâr a sua cegueira. Po-
bre orgulho humano I
O marechal <ie Lesdigiéres, posto que fosse calvinista,
gostava cle ver o padre Coton, aclmirava sua sciencia e elo-
quencia, e estava tão encantado do seu talento, que muitas
vezes fallava d'elle a Henrique IV, e lh'o elogiava com o fer-
vor tlo catholico mais zeloso. Por outro lado o Papa pedia
ao monarcha uma reparação para a Companhia cle Jesus,
ultraiada pelas sentenças do pariamento de Paris; e o pro-
prio Llenrique IV iá tinha pensado em a desaggravar, mas
queria por emquanto poupar os calvinistasr aos quaes a sua
abjuracão exasperava. Entetanto deseiou o monarcha conhe-
.cer este padre Coton, que era o terror e a admiração dos
 234
hereies, e uma vez que o tractou, não quiz separar-se nunca
mais d'elle, e nada fazia sem o cohsultar. Estava então vagÔ
o arcebispado de Arles, e o rei quiz prover n'elle o seu novo
amigo:.oÉ irnpossivel, Senhor; lhe responcle o padre Co-
ton: entrando na Companhia de Jesus fiz voto de náo ac-
ceitar nunca nenhurna dignidade ecclesiastica'. O rei com-
prehendeu todo o alcance d'este clesinteresse'e d'esta hu-
mildade no pensamento do Fundaclor, e ordenou ao seu
conselho que trectasse sem demora do restabelecimento dos
jesuitasl e no mezde Setembro de r6o3 deuáCompanhia o
seu castello de La Flêche, para alli fundar um collegio e uma
residencia. O parlanrento e a universidade de Paris aterra-
ram-se com estas demonstraçóes, e o alio tribunal resolve
dirigir uma representação ao rei, porém o soberano res-
pondeu com firmeza sem poupar nem o parlamentor neÍn
à universida<l e. nYos dees'vos por entendidos em negocios de
Estado, e com trtdo não sabeis tnais do que eu allegar um
processo. Qttero pois que saibais, rclativamente a Poissy,
-que
se todos alli tivessem Jeito tanto bem, corno um au dois
jesuitas, que alli se achavam muito bent empregados, as coi'
-sas
teriarn ido alli melhor Pdra os catlrolicos' Desde logo se
reconhecett n'ellc.s não anbição, nms capacidade' Não sei
em qlte bases /tutdais o ctnceito de antbição, a respeito d'es-
ses hornens quc racusdn? as dignidades e prelaturas, quando
lhes são oferccidas,
t'erdade qtte a Sorbôna, de que Jallais, os condemnoul
É
mas /e7 isso cttttto vóst antes de os conhecerl e se a antiga
Sorbôna os não quii, por inteja, a novd nos seus collegios
tent Jeito seus estudos, e d'uso se Preíd. Se os jesuitas ate
ao presente não teem estado em França senão cotrzo tolera'
doi, é porque lDeus me reservavd d graçá de os estabelecer
n'elta,-A uiiuersidade tem'os contrãriado muíto, é verdade,
nas estít opposição pravinha de que elles ensinavammelhor,
como se vê da afittencia dos estudantes aos sel's collegios ' ' '
Se n'estes collegios não se ensinava melhor do que em ou-
trds pdrtes, d'onCe veio gue com a ausencia d'elles a'vossa
235
unfuersidade ficou desertat e aPesar das vossas sentençds
uão pracural-o§ 4 l)oucti, a Pont, e até fóra do reino?
Diqeis que elles attrahem os meninos de tdlento e escolhent
os ,nelhores; ,nas Por isso os estimarei eu. Não escolhemos
nos tambem os melhores soldados Pard d guerra?, . , Foi
por meio d'elles que Deus converteu as lndías, e eu digo
muitas veqes: Se o Hespanhol §e set'víu d'elles, porque não
se sert)ird d'elles o Francel? Mas diTeis vós: Elles entrdtn
como podcnt. Assim fa1 toda d gente, e tambem eu entreíno
meu reino como pude. Eu não os estinú ntenos, pelo qué
uós diyeis, de serem muito obsen'antes do scu Instituto, por'
que isso é o que os conservará. QLanto aos ecclesíasticos que
se escandrtli1am d'ellesr'em todos os tempas a ignorancia
tem renhido contra a sciencia; e semPre vi que, quando eu'fal'
lava de os restabelecer, duas sortes de pessoas lhes erant
pdrticulctrrnetúe oPpostas, os hereies e os ecclesiasticos que
uivem mall e é isso justamente o que fa1 com qlte eu mais
os estime.
Quanto á opinião que elles teem do Papa, eu sei que elles
o respeitam muito: tambem eu... e estoú persuadido que,
quando se quiler taqer p'rocesso.ás opiniões da Contpanlúa,
será preciso /a1el-o á doutrina da Egreja Catholica.
Q.uanto á doutrina de ensinarem a mdtar os reis, urna
coisa nte Ja1 crer gue esta accusação não tem fundamento,
e é que, ha trinta annos que elles estão ensinando a moci'
dade em França; cem mil estudantes, de todas as condtções,
teew saído de seus collegios, teem ttivido entre elles e cont
elles, e d'este grande numero não se acha nenl unt só, que
afirme ler-lhes ouvido tal linguagem. ?oucas Pes§oas se
quereriant expôr a estít Pfovd, e e preciso confessar que
àeve estar mtito segura tuna consciencia, quando se remette
aa testemunho do seu adversariot».
O parlamento, obrigado a ceder deante da vontade do
rei, expressada tão energicamenter teve de acceitar o res-
tabelecimento dos jesuita§ em Faris, e mau grado seu, a 2
Janeiro de r6o4 registrou o decreto reai que os chamava' No
 2.\7
236
mas não des-
nula u ttttrtirlitt iri () ll()vcrnldor tinha partidoi
do crime eram a umâ
anno seguinte â pyramide levantacla em memoria ulan,nr,,,r, tttlttcllt:s religiosos, chamados como
por do rei, e o collegio de navio no porto de lSor-
à.^ãlr.,.r Íbi destruida ordem ;;i;r;,, 1,..i1i,,r"; c, niro encontranclo
ôi"r*nnt, aberto de novo e mais frequentado do que nunca' iC"r, ,,'lri.pp., oncie acham um prestes a ,se fazer á
que se conti- "1"
,ain.'t'..t",'r., logar'n;elle e apresentâm as ordens
do reil mas
;;; ;; testemunho brilhante da cànfiança esforços da ca- que a to-
;r";, ter nos iesuitas, apesar de toclos os os armaclores, io*o linos hereles, responderam
lumnia. Finalmente 'egoindo livremente
os impulsos do
.too o, .o.".áo,"., de qualquer Ordem que seiam' darão

.a" ,"f os padres traúlhavam para o futuro' não sómente

;;;tú-, ietttii" Bem sabiam os calr'inistas
excepto ao,
", mas tambem pen- , .o* qo" são procurados os paclres da Com-
educando os nreninos nos seus collegios' .yÀputtliu
os padres tenrer na Nova
.r. t- ",f"^ção christá das meninas' Para issoLestonac nanhia. e este attractlvo erit- tanto mais para
a Maclame-de a predicadores da heresia tinham tomado a
B..i;t e Raymundo inspiraram Nossa Senhora'
i.;;;Ç,,; oncie os
a congregaqão religiosa de deantei ru.
idea cle fundar --A
rnurqu.ra rie Guercheville, cujo zelo tinha obtido
éo do
B* i.,r,i,u,o, ".t^bei"cido em Bordéos em t6o6' não Pedro n'esta
oue com o mesmo nome fundou o Bemaventurado ,.i o de uma missão da Con'rpanhia
a sua exis- "r,nu"l.cimento obra começadal e' como os l-rereies
;;;;':; J qu.t In.tituto Lieve tambem em parteconcurso do
colonia, quiz acabar a
os ren-
com
i.*f" e Companhia cle Jesus, porque o fundador -o com-
,. opprnho* á partida dos missior-rarios, facilmentedos secta-
parentet é que de.,iàzen,to brilhar um pouco cle ouro aos olhos
puà." fo"tti.rr 1..'itu, seu
o padre Gon-
poz âs suas constltulçoes Fài tambem iesuita' rios.
que teve o prlmeiro peusamento fazer vir para Biencourt, fr1ho clo governarlor, deselava emprel-iencler
o
thóri, -d.e não tinha
i;;.;;,, as Llrsulinas, Ls q'ues Magdalena.daLhuillier' senhora
commercio da pesca e das pelleterias mas' como
a §Lla câsâ rua de S' Jayme frta.t ,ec".s".ios po'à tttn empresa, offereceu-se-lhe
i"' 'lir;rrr. 'l)('ttt'l, oíJ'ereceu
"t cotl-
em I)aris.
-'En,r.,unroosirrimigostla()ompanhiarnalpodiamdige- Mo,lu*a de Guercheville para ser socia n'este neS';cio'
uma parte cla sua grande fortuna sem erigir
correndo com
rir o restabelecimentotlos icsuitts n'csta r:idirde' Um tlia para si o.,tros lucrás, senão a passagem dos missionarios
Canallá' Em
atteoreimandoucontltlzirácasaprol.essaopadreCoton i-ro nuoi" que ella fretar) e o selt sustento- no
côrte, um nriseravel que espreita*a aiuste, os paclres Biarcl-r e h{asse desembar-
:; ;,;";;t,,"1,"'' 'lt o ferir: ao
virtr.rcle cl'este
of deu-lhe unra-estocada, que felizmente.só cavam a tz cle .lunho cie 16rz nas costas c1a Nova França'
por
"ar"
-Joe cieu occastao
de leve, a taes clernonstraçóes de affecto Os protestantes souberam logo por meio de Biencourtt
rei e da côrte, que depois cura dizia Henri- porque prccc este se encarregou cle os trazer, e logcl
a calu-
;il .da para se ver que os
iu" fV, .Muito a proposito veio aquelle âÍaque) mnià lançou máo d'este facto e fez correr o rumor
prégar o Evangclho' vierarn á
1'esuitas, com o pretexto
é amado'' cle
qurrto o Padre Coton cle Potrin- da sua
Em r6o8 o mesmo rei nomeando o Senhormandou-lhe il.rr" Frurlçu ,rni.rrn..,t" para traÍicar em pror''eito
que
gou..na<ior de Port-Royalt no Canaclá' Co*prt t-tia, em prejuizo do commercio dos calvinistas
"ou.it"uu*ra dois lesuitas puta introduzirem a Fé n'estas co- * propunnn* urrui.r*., mas os padres, acostumados iá âo
^,,. pre- entra-
I;;;, ;;;;; Poi'incou'i que Íodo era dos calvinistas' irrieri,c da calumnia e fortes em §ua consciencia'
feriu ministros Protestant;s e fez-se
clesentendido' Quando nham-se t-ras florestns, trepam as montanhir, eYangelizam
tvl"tO apresentaram no dia assignalado
p"at.. Biard e
'"
",

238
os selvagens e fazem numerosos christãos' Os inglezes ó que
,ráo peràoavam á França a posse tl'uma colonia americana'
e em 1613 caem de improviso sobre as margens de S' [-ou-
renço, destroern a aldeia de Pentacoet e Port-Itoyal, e en-
conirando os iesuitas, que tanto procuravam' matanr logo
o irmão coadf utor Gilberto du 'fhet, e levam Presos parâ
Inglaterra os padres Biard e Massé'
Estão os religiosos da Companhia semPre promptos pâra
irem a toda a parte aoucle os chamarem O imperador Ro-
dolpho, rompendo guerrâ com os turcos) offereceu o com-
*rrldo'do seu exercito ao rluque de Merceur, e o valente
capitão respondeu que accditava aquelle testemunho da
,eal co.r&ançar mâs que the pedia alguns jesuitas, para ter
mais confiança no autilio de Deus contra os infieis'
E,ffecrivamente 1á foram os jesuitas, assistiram á batalha
de Stuhl, de<licararn"se a servir os feridos, e o Deus dos
exercitos foi servido dar ao exercito christão uma victoria
brilhante, com â derrota completa dos inÍieis'
x plica a Roberto Bancroft, mas este responileu-lhes assim :
os ciltholicos inglezes que a ffiorte de Isabel
rspEt{AvÀIlr
L po.i. termo í pcrscl4uiçÍo, tras erlganaram-se, porque
üy-" Stur.,, rei ,1e [scossia, seu successor no throno de
Inglrt.r.", senl rnimo para resistir i'r influencia ou ás astu-
.1os ministros de Isabel, tornou-se tyranno e
cií persegui-
crueldades' Desalenta-
dor como ella, e até a excedeu em
iá os catholicos e alguns d'elles se-dirigiram a
ao
vam-se
Summo Pontilice e aos principes catl'roiicos, implorando
sua intervenção; mas como os ernbaixadores ile Inglaterra
representavaln pelo contrario a mansidão do seu governo
e a p".feita liberdade que gozavam. os papistas, as côrtes
estrangeiras e até mesmo a Sancta Sé, tomaram pol' exagge-
ração as queixas dos Perseguidos'
itni .rr,ào que alguns jovens cavalheiros, depois de mal-
lograrla a uitima tentativa conr o embaixador de I'lespanha'
" li:l
:;r! concct lnÍnnr cnr l)roct.rrrlr um meio de acabar com as
,lt:sgrnçns tlc srrrr 1r;ttri:t, c dts Íàmilías fieis nos tres reinos.
( )s jcsrrilus lrcnr
1,t'úgitvam a submissão, a paciencia, a feli.
«'i,li'rrlc c i.r l.ilori:r .lo martyriol mas a liberdade religiosa
l)ílrec(: ir cslits citbecas novas maior gloria, e teimam em
grlocurul.ir, t todo o custo. Calculam clles que a insurrei-
r:Ío d ruuito clifTicil de se organizar, tlue os jesuitas se oP-
porÍo, e que por conseguinte no seu prc,jecto uão deve en-
tnrl serrão o menornumero possivel de confidentes, para que
ninguem os denuncie aos padres. Elam estes iovens Ro-
berto Catesby, de idacle de trinta e tres annos) Tom Wín-
ter, da familia I{uddington, Thonrás Percy de Northum-
berland e João Wright. Depois de muitas idéas acolhidas,
<iiscutidas e reieitadas acceitou'se a de Roberto Catesby.
 sua execução pedia muito tempo, e o segredo mais abso-
luto; e como se tractava do triumpho da Religiáo catholica,
entenderam os jovens fanaticos qr:e náo havia obrigaçáo de
iallar n'isto a seus conlessores, os quaes antes aconselhariam
o martyrig do que semelhantes meios de procurâr a pazao
seu rebanho. Os catholicos tiniram apresentado uma sup-
No tempo de Isabel vossos tormentos não eram mais que
uma brincadeira, porgue ainda igncravamos quem succede-
ria á rainhal mas agora que o rei está em plena posse do
throno e já tem tantos filhos que lhe succedam, é preciso
acabar com o ultimo papistar.
Esta cruel resposta tirou toda a esperânca aos conjura'
dos, e determinou-os a pôr mãos á obra. Um dia porém Tom
Winter, andando pensativo, acaba por confessar a Roberto
Catesby que não tem a sua consciencia em pâ2, que quizera
saber a opinião dos jesuitas se póde sem peccado contiuuar
na conspiração; porque o mesmo golpe que rnatasse o rei
e seus ministros, rnataria com elles muitos catholicos' Ca-
tesby, advertindo tambem n'esta terrivel consequencia, inra-
ginor.l um meio de consultar ,rs jesuitas sem todavia lhes
tlar conhecimento do facto. O seu plano era introduzir bar-
 240 241
.
ris polvora em um subterraneo por cima clo qual se reu-
<ie catholicos que não esteian-r clcscsperados, e aos meus ouvi-
nia o pariamento) e lançâr-llie fogo no dia-da abertura das dos chegou por acaso tluc r:ruitos cl'elles se queixam amar_
.es.õ"., presi<1ida pelo rei. Os conjurados obtiveram licença gamente de quc os jesuitas os impedem de se resgatarem
para se'ilem alistar em Flandres no exet'cito do archiduque pela força. Quncs scrÍo os seus pensamentos ?
eue anclarão
Á,lb".,o, e n'estâ qualiclade Catesl'y proPoz o seu caso de elles prepartndo ? NÍo sei, nem o posso saber, segundo a
consciencia aos jesuitas e outros sacerdotes câtholicos
n'es- regrâ quc nos intimou o padre geral de não nos intromet_
nsuppondo que cleante de uma fortaleza que termo:j nuncir cnt tires negocios.,.
tes termos:
um official det'e tr.rmar de assalto, os hereies collocam os O quc rlrais âterrava o provincial era a linguagem myste_
catholicos nâ frente para a deÍênder, qLre hão-de fazer os riosu dr>s conspiradores : que a hora clo livramenro se ap_
câtholicos sitiantes? Para náo matarem seus irmáos deve- prorimava, que dentro de pouco se veria brilhar a egrela
rão deixar a praça aos hereies? Ou poclem, salva a conscien- cle Inglaterra com o mais vivo esplendor, qu" , ho.u
cia, dar o segundo o uso da guerra?' A decisão dos da justica não tardaria em soar para todos." O padre até
"rrr1,o O pa- chcgou a supplicar á Sancta Sé que arneaçasse com excom-
casuistas foi conlorme aos deseios dos consultantes'
munhão a todos aguelles que se associassem á menor cons-
dre Garnett responcleu do modo mais affirmativor bem con-
piração ; mas Clemente VIII acabava tle morrer, o seu suc_
vencido que se tractava do caso proposto, e não de outro'
e

por sua parte os coniurados deram-se por sâtisleitos da cessor não viveu mais do que um mez, e a l5 de Nlaio foi
con.ult" e jrtnndo guarclar segredo entre si, vão ter com o eleito Camillo Borghese com o nome de paulo V, Tudo
padre Gerárdr ,.ru.rn missa e commungam da. sua mão,
isto causou demoras, e a conspiracão de l_onclres seguia
ávante. Emquanto Catesby exaltava as cabeças, o pádr.
iem lhc tlizercnl nem uma palavra da sua consptracao'
Garnett se aÍIligia, e escrevia ao seu geral .que nem todos
Christovirtn Wright e Iloberto Winter' irmãos dos con-
os câtholicos inglezes se renderiam ás ordens do papa; que
jurados, Íoraru aclnlitti.los tla conspiracão, e) como este
ou*aro não erl ltirrtlrr suÍliciorrtc pâra superar todas as clif- vivendo ainda Clemente VIII alguns houve que ousaranà
perguntar se o PontiÍice tinha o poder de lhes prohibir que
ficuldades, associrratll tiln,bcrrl ii clrrpt'esa liverarclo Degby'
se defendessem; que estão todos apostados a não revelar
Thomás Ilates, Arnbrosio llor-rli-Woocl, Joío Orant, Iioberto
nada aos sacerdotes, e que se queixam em particular dos
Keys e Frlrrcisc<.1 'l'rcsham, toclos grancle's senhores, e de
jesuitas porque nos oppomos ás suas machinacõesr.
grandc riqueza conr excepcão cle Thomás Bates'
" Catesby, venclo o seu negocio em bom caminho' deu-se Catesby, vendo que os jesuitas extranham aquelia dis-
iá
posição dos catholicos, e que desconfiam
a excitar a irritação dos cathoiicos contra os seus perse- iá de alguma
jesui- conspiracão, procura um meio de lhes fechar a bocca. Vai
guidores, e a prégar a revolta, ao mesmo tempo que os
'contia.L exhortavam-os á paciencia e submissão' procurar o padre Osrvald Texmund, â quem os inglezes cha_
á. p.lo mavam o padre Grennx,ellr e lhe revela o seu plano mas
Entào o chefe dos conspiradores observanclo que a voz
os Je- sob o sigillo da confissão. O padre Texmund, chéio <Ie hor_
<l'aquelles padres impede que escutem a sua., e que
ror e espanto, fez quanto pôde para lhe inspirar pensamen_
suiàs são para elle um obstaculo, declara-lhes interior-
tos mais saudaveis e christãos, mas debalde, porque o fa-
mente a guôr." -.i. perigosa e clesleal, qual,é a do inimigo
h[aio natico só via no seu crime a salvacão de Inglaterra, a gloria
occulto. ô padre Garnett, provincial, escrevia a 8 de
Parsons: «Ha agora aqul multo poucos de l)eus, o triumpho da Egreja, e nada pôde corrigir-lhe as
de 16o5 ao padre
HISTORIÀ DÀ C. DE J, I6

-2+? _
Íalsas iclóas, nem acalmar a exaltâção. Tudo o que elle con-
cedeu ao bom padre foi dar-lhe licença para conferir com o
seu provincial, mas sempre debaixo do sigillo de confissão-
F-rancisco Tresham, vendo approximar-se o dia da aber-
tura do parlanrento, e sentindo a sua.consciencia pertur-
bada pelos remorsos, náo podia resolver-se a ver sacrifi-
cadas tantas vidas, cobertos de vergonha os catholicos de
Inglaterra, e manchada a Egreja com esta immensa nodoa
<ie sangue, que os protestantes não deixariam cle fazer
recair sobre a Religião romana. Ceclendo, portanto, á sua
consciencia, ft-ri avisar o ministro Cecill, e voltou depois a
seus amigos a declarar-lhes que o n:inistro estava inforn'lado
rla conspiracão, e que deviam fugir quanto antes, se que-
riam escapar á morte: mas os coniurados não the deram fé,
e seguiram o seu plano sem nada alterarem. Percy e Winter
estáo prestes a pôr-se á frente do movimento de Londresl
Catesby e João Wright partem para dirigir o do condado
cle Waru'icl<, e Far,vkes, que se dizia creâdo cle Percy, fica
para litnçar fogo á mecha.
 5 Llc Novembro, dia fixado para a sessão real, o bailio
<le Wcstrninstor, ircompalli-rar-lo da força armada, desce aos
subterrancos, clescotrrc os barris cle polvora, e dando com
Falvkes, clue lr:vavtt Llmit litl-ltcl'ull c trcs Irechas Para ac-
cende r, pren.lc-o c lcva-o porxnte o consclho de ministros,
presidiclo pelo rei. Ii'awlies confcssa o crimc, chamando-lhe
icto ,le lcgitirna dcfesa contra um principe hereje, perse-
guidor dos catholicos, qLle, como tal, não póde ser o ungido
áo Senhor; mas recusa-se a clescobrir os seus cumplices'
Submettem-no a todos os supplicios da questão, mas
Fawkes fica rnudo, e sómente a 7 de Novembro, sabenclo
que seus cumplices haviam tomado as armas, e que iá seus
nomes não podiam ser ignoraclos, é que os inanifesta'
Ao rnesmo tempo os ministros protestantes e os purita-
nos de Fscossia, ufanos por terem a prova de uma conspi-
ração catholica, chegam a imputar a idéa ao Papa e ao rei
de Hespanha, dos quaes os jesuitas seriam meros instru-
'r.l :t
rr,nlorr fl cnt \ull:i lrrd'Hllçõcs cxcitam os seus ouvintes a
rrrrrlru torlos rrs r'rrllrolicos, sohretudo os jesuitas, que orgâ-
ntriri ilnr rr t'orrspillçiio e quizeram fazer morrer todos os
1'rrritrrrrrrs c lo(l()s os tnglicanos.
( lour trrtlrr os t lrcÍbs da insurreicão não tinham feito abalo
rr:rs nlrrrrs r:irtholicas, e qualquer que fosse o seu grau de exal-
trrçri(), srirucr]tc poucos homens se renderam ao convite dos
(:r)nirrril(los pâra pegarem em armas. O resultado da sedi-
r'iio Íiri 11r,re :r 8 de Novembro, estando humitla a sua provi-
srio tlepolvora, quizeram os conspiradores seccal-a ao
Irrrrrr: antesda batalha que se ia travar, mas saltando-lhe
cur cima uma faisca, estourou a polvora e queimou o rosto
c 0s mãos dos culpados, Alguns, reconhendo que a Provi-
tlcncia se declarava d'aquelle modo contra a sua fanatica
crrpresa, fugiram aÍÍayez dos camposl os outros esperaram
irs tropas do rei, e se lancaram como desesperados na luta ;
(latesby, Percy e os dois irmãos Wright ficaram mortos no
curnpo da batalha, e os outros foram feitos prisioneiros.
'l-ractâva-se agora de comprometter a Companhia
de Jesus
c quasi prôvar a participacão dos iesuitas na conspiracão
rla poivora, Erâ este o ponto principal, e os ministros de
.layme, o clero anglicano e os magistrados estavam resolvi-
clos a sacriÍicar tudo, até a mesma justiça e verdade, afim
cle interpretar as respostas ou o silencio dos accusados,
de modo que envolvessem os jesuitas n'este crime. Bates,
seduzido pelas promessas que se ihe fizerar:1, coníessou que
tres dos conjurados se confessavam aos jesuitas Garnett,
'l'exmund e Gérard; e que poucos dias antes ilo dia 5 de
Novembro elle, Thomás Bates, tinha visto o padre Garnett
conversar com Catesby. Tanto bastava já para a sâtisfacão
da heresia. Os tres padres deviam ser presos, e o edicto
cle prisão continha estes termos: nSegundo os interrogato-
rios é evidente e positivo que todos tres foram fautores
pirrticulares da conspiracão, e que por consequencia náo
siio menos culpados do que os auctores e conselheiros da
traicão.»
 2rl1
2++
,.nulrutcl o llrlrlrt'(;rlrllott lbi preso emllenlip, perto de
com escrever as' 'l'honrás Abington I o padre
Nos interrogatorios não se contentavam rrr,,,.i"rrc,, rt,', c,r.lcll,' de
senão que inseriam tudo o que'
,".rorr", dos"accusados, ( )lrlrroltlc liri lrtrrtltcrtr preso, assim como os dois creados
;ã".*;;;ar culpa dos padres' mas quando.estes depoi- ()w.rl Lr (llrrrrtrhcrs. .loão Orven, sendo posto a tormentost
contra
*anro, óram lidos aos accusados, estes protestavam (,rIlr'()u sclr) !cr rlito nem uma só palavra contra os jesui-
u'."u iof.iO"de, furando que não tinham nomeado iesui-
tinha só- ,,,i. ,),,.rr,,,r', putrlicar que elle se tinha suicidado na pri-
.,r.plí.es da cóniuração' Fa'n'kes' que que
;.;;. feitas' não s:io; c zornbou-se a tal ponto da credulidade publicat
À"rr,. ,.rponiiao at perguntas- -qu: lh". e.ram
do seu de- (:lrcllur.lm a dizer que elle tinha aberto o ventre com uma
;;-.";;;t a sua indigna-cão ouvindo a leitura li,c,,' por medo cle comPrometter o padre Garnett'
Era
á que me.<iiz respeito' ao
;;i;.;i": oEu não
"tgo :i1:,T":
um negoclo' o ,,,,,i,., porao verosimil que se tivesse-deixado uma faca
elle, mas nego o que se tem inserido em foi só- rrrcso i mas para a heresla a verosimilhança nada vale'
por-
e quânto á-execucão'
ot.",J á comtrinação lt".'..t" q,rl o born publico tudo recebe sem nada exami-
"""f.
;";;";;;. ie ,lgo* t'ãt tem factos que revela'
"ntt" menos' «liga'nos o tri- ""à
contra os iesuitas, que falle I ou, pelo ,r.,r" Garnett foi interrogado mais de vinte vezes ern
com que se possa provar
bunal de qrrem é o depoimento p...àç* clos ministrosr e sempre- sem resultado pâra os
cuipados' Se o não podeis [azer' que
oue os ies,.,ita* são ."us inimigos: mas como era preciso achal-o culpado'es-
E porque
;; ;;J;.. os padres com o Írosso processo? o que está tão' palhou-se ã bo"to que o iesuita tinha emfim confessado'
e
tentaes inserir entre as nossas confissões escriPta a r5 de Abril 16o6 pelo pa-
,egunclo umâ carta .de
ao mi-
longe
-- da verdacle?" rtrã Bautloin, o secretarià de Jayme mandava dizer
fodo. os accusa«los attestarâm até ao ultimo momento nistro britannico em Bruxellas, qúe o padre Garnett con'
q". inteiramente extranhos á conspiração 1
primeiro instigador da conspiracão' Isto
Íêssava ter sirlo o
"li.*i,t. "'u'n estes in-
rrorémtoclasilssuasattestaçílesctodososseusprotestos mesmo foi afBrmado aos embaixadorest para que
fi;;il,,,,' ntnl""" alicração nos proce'ssos verbaes' Íbrmassem os seus governos! Tudo isto não
passava de
iluctoridade na his-
de accuslrção destiuados a Íitzcr ,fÍi.-u.õe, gratuitas, e merâs palavrasl e como os here-
""ra,'", dcvia ver conspi-
toria <Ia iustiqa britannica' Â postericlil(le cla Companhia jes queriam ter ao menos alguma apparencia de provas
,rã"..rr'atri.iores c homicitlas n<'s n'rembros peças reputa- paÍa apresentarr recorreram a uma infamia, porque
a he-
legar-Il're
aà .t.r.rr, e para isso era necessario .".i" ,rão é mais escrupulosa nos nleios do que na verosi-
dasauthenticasporto<lososinteressados,eprocurardes.
a sua falsi- t'$ffffir.."vel,
truir tudo quanto podesse servir a demonsrarmorrerâm no subornado para e§te triste Papel, aPresen-
;;;;. ;3o e 3r dã Janeiro os prisioneiros
dos iesuitas em frente ta-se ao pa<lre Garnett como um ferl'oroso câtholicot
de-
;;;;il;" Pt"clamando a innocencia
t seu cativeiro e a tyrannia exercida contra a re-
de seus cumplices ti-
plorando
da multidão que os cercava' Alguns iigião Rornu.ta, e offerecendo-lhe os seus serviços para
o
já dissemos' e foram aco-
nham podido escapâr-se, como paclre entreter as suas relaçóes com os perseguidos' O trai-
pí oo*ingos de Vic, governador de
thidos corn attenção e fallaram a .lo. chegoo d'esta arte a ganhar a confiança do padre' re-
Chalais, e esta§ testemunhas pádiam fallar' de cebia cl'elle cârtas para os catholicos e entregava-as
ao rnl-
osrvald Texmund' depois
verdade. os padres G;;*;à" e nistrol mas este não achava n'ellas nem uma syllaba que
,.,.*.".'io"osmaioresperigos,chegaramasalval-serro,
I

2,17
24'o
tostlosltotttcttsl()srrnglicirn<lsnãoacharamnadaqueres.
se podesse inculpar. Era preciso recorrer a.outro ainda trinta
expe-
pontler a cstit lopi,"rt c t'csolveram rleixal-o viver
que o
diente. Um dia ã espião de Cecill diz á sua l:ictima e seis .lrn* tt{irtt tltr ilcur preparando o povo para
esta exe-
padre Oldcorne ucrb* de ser transferido pará a Torre' e cucão. l)ttrrtntc est(} tempo fabricavam-se.:,"t:"'
em que
entre ambos' Esta pro- Iibellos infarna-
iue poderia arraniar uma entrevista elle sc conÍe ssavir culpado, espallravam-se
portà a"ui" t., os olhos ao padre; porem elle na ,torioscotrtraaSanctaSércontraaCompanhi4deJesus'e
'.i-pfi"ia"a. da "i.rto
sua innocencia não duvido.u nada da sin- l..b;;;;i; .;nr* o p"d'" Garnett, até que finalmente a3
como'
ceridade d'este Judas, nem se perguntou a si mesmo' de Inglaterra era levado ao
Íã.- ú,,i" a" 16o6 o provincial
era possivel que um catholico tão fervoroso tivesse tanto l;;til;i; . ,.u ,.n.àndo corpo foi esquarteiado pelos car-
credito corn seus perseguidores' Caíu no laco, e âcceitou' / .r=cos anglicanosl
'-õ-r.a.1
O traidor poz os àois presos em Pre§ença um do outrot I oldcorne iá tinha sirlo executado em
\Mor-
podianr pttt"*to que tendo abor-
de modo qrre estrndo em diversos compârtimentos / .;.,:" l; a. au,it .orn o de
Ftrllavam nàtu- nem re-
\r€r-s€r orrii.-.a, e cuidar que estâvam sós-'
do estado da Re-
I i^ao u conspi.acão, e1le não a tinhâ louvado
o
ralmente da sua sorte, das suas penas, e especie cle approvação' merecia Pati-
que \ ;;r;';;;;".i;
ligião em Inglaterra. Nas expansões d'esta entrevista' t'f"l
proposito da cons- tão tris-
fãaiu ..t a ultima, o padre Oldcorne, a
\ é a verdade sobre a conspiração da-polvora,
ao pal aqui
piruçao e dos interrogatorios que tioham soffr"ido' fez \ t"*.tt" ..,.0*, a qunt no' pt'u de não poclermos dar
mui singela
dre Garnett uma pergunta, á qual elle deu esta
\mais extensão'
fosse sabe- sobri-
resposta: "Não existe nenhuma prova de que eu \'--n ,l c1e Junho de 16o8 o padre Thomás Garnett'
e só uma pessoa poderia dizer que eu foi preso em Tyburn'
ao, aa conspiração, \.,'n. ã" *^1,r, Henrique Garnett,
para os calu-
a souber. lr)stas palavras forám um thesoiro bl; ,* ,irr* .À-t'tido ""nl''u,, crime'demas era iesuita'
.rt" ,'"'" ser prisioneiro Estado e con-
rnniadores. [';;;;;;" para
Dois personagens estavâm escondidos em tal distancia' L,"il; ^o-a.,t.tto' Na vespera do dia em que devia ser
que podi.* oruir t,r.-lo, e iá não precisavam mais' O trai- ffi;;;;. Br"croft, arcebispo cle cantuaria' desceu á- s*a
os m'omen-
clor tornou a apparecer) e disse aos padres que H"**lia. f.opoá o iuramento imPosto
aos câtholicos'
tos concediclos eram passa<losr e que deviam separar-se' O' preço: mas o patlre
ffi;;;J";j;rne-" tiu"'a'ae por este urar n'estes ter-
que elle'
puat" à"tr.,t foi interrogado outra vez;.dizem-ihe 'le-;;;;;' promptificando-se torlavia a f
ã não a denunciou' e citam-lhe as corte celeste' e esta
conheceu a consptração J.; t-,,E; rr.ofe.'o <le bocca, deante dasentimentos
proprias palavr-as que disse ao padre Oldcorne n'aquella ;.1;;.";;;" sincera clos verdadeiros rei legitimo'Jayrne'do meu
que elle não de-
entrevista. A este cargo responde o padre .#il.-;;;* t.,ti parâ com o meu
da o obrigava a um' se-
nunciou, porque o segredo confissão ;J;;';;.üi,,1.,t" . oblditncia devidas a sua maiestade'
então a todos os tormen- Egreia
sitrencio'"úsol,'rto' Submettem'no ;;i.JJo ,'""t", cle Deus e da verdadeira
,or, p.." o obrigarem a certificar a exactidão dos
interro- "lia;
lt:'Til àrrri.i". s" se iulga insufficiente este penhor da
lh'os náo e do
gatorios, em que o fazem confesso; mas comÔ
;l'*Li;;;' -; '"á"to aoexisir
iuizo de Deus'
leem e Presume que o§ falsificam, recusa-se) e ás instancias ';
;ffi';;;;i;'u.,r"'qn rei póde uma fidelidade
Livros
,urpora": Aquelles que teem falsificado o texto dos *it.. a"'t"" " r"i o" Deus prescreve' e nenhum subdito
palavras e os pensamen-
Sagrados, nãá poderão alterar^'as

i,
i

)
 .r,11)
..

24E
da que XI
e ao rei uma obecliencia maior
,u",;; prometter iurar.
póde
;;;;; n
:I" 9:. qt
oJ
i1,i:i TJà,:^,* od ",..* a p ena
i

n soverno dir lcpublica <Ie Veneza tinha sido excommun-

E bastou isto -l
Para r e' *l: --'^'
aà Abril de 16-o6 Excitatl.l'^havia muito
a ; ;tia ;' ; J t' p i t ur
r A o p é ã o c a d a ía L' o a p : t,l ;;;;^'^ li conversacóes de Fr'
ÍenrDo. ncl()s cscrintos, prégacóes e
que assignasse lura' o
",, aà padre
o conde Exeter a persuadir o fiel ser.vitas' que se tl-
rnento, e que ate p"tli"
;t;r.ú"""'itiao mental' nraspouca\ p""i"'S,,rt,i e Fr' Fulgencio, religiosos

sacerdote respondeu ' "ÀliAu

e a liberâade sáo coisa
;;;; ..;.gado de corpo e aima aos hereies' andava
qo' dissimular''\ ..piutaá algum pretexto Para sacudir o
para miml ,""tu' *"'l#;;;;;;;à' curta vida'
il;i,.';;;;;no
-iuso da Sancta Sé , *ut t"-J o não achava' começou elle
coüta a sua \
Depois, o innocente condemnado da \ aos direitos e im-
q"t;;th; a sua alma peia esperança ';:;il;;;.to ,,.t decretos contrarios
falia da consoiação e termina \ ao braço secular
felicidade eternat commove todos os coracóes ;il;;;;.;;;lesiasticas, e entresando âos canones' A Sancta
com esra commovente tttçá"'t 'Sttn":l:,:t^-::ldli:T: \ ã"it--r...d",es sem nenhum respeito
contra este re-ino' Náo tomets o seu governo' queriam
Àé .".la.rlor, mas Veneza, ou antes
vos applacar â vossâ "oleta
1

;-;;;r;háo aÊm de romper abertamente com Roma'

, in s, n ç d o m e u' i" ii,"; ilT.'"'Jll: V' o se-
" ill'J;
;;.I ;",;T:.:,X / ; ;t;; e*communhão foi-lhe lançada por Paulo
quer regular' quer se-
:;il3"r":í;ff ,i'*,* ;;';;";;ili= : ::*:"-;:,§ I
l.Iado orohibiu que nenhum clerigo'
cular,'publicassó ou affixasse Q Breve'
nem sequer o rece-
;;.À ; "" b,:*p:::.iJlt'll11i,,T: ffi::',',:H: ;'.;.r
miso
I ;;.;;i ;;t apesar d'isso, na noite de z para 3 de Maio foi
!i
I
l.Yii';,:;: # xJ'.',"Iil ài" ã
co m
" "i "'o.ú'anio ao céoJ
/
elle affixa<lo nas Portas de cinco egreias'
tJt' Gttte O senaclo estava satisfeito : estava excommungado'
e
li no ci'o I " A cst,s 'tt'*lt",l"ll'"*t a vic.toria' A6 do
,a:nio pr..rao ttittta e quatro annos sobre.a-terra' <l'aqueila triste guerra contâva iá com
""i'*rà. " qucrn a Escossta sq cleclarou inlusto e illegal o inter-
a"ptis chanrou l)eus outro' tle quf
;;;;;;, "
Rãpublica
a todos os sa-
tornava indigna, o"'nt
tn*n a Inglaterra o era dos ardentp
clicto que ella mesmo provocára, e ordenou
Íi1:s;em nenhum
ittlit"*'t" com
cer<lotes seculares ou regulares' que náo
martyrizou' O pu'ire i"lrl-ilgiff'-y que urd otllctos como era
ceritlrtle á salvaçito ti'"tr-tltti'i Sttcccdeu' pois' o dÇ- caso d'elle, e continuassem a celebrar os
de bens'
c1.ia alguns puritanos
;; ãi;;;"t" fizeramlhe constar ;;.;";.,
--ô. sob pena de desterro e confiscaçáo
com semelhante
Ji"it*ti" para abluraret"- :,"*[ conformar'se
seio que tinham 'I" t;; i.lti"t não po'Jiam ao Breve pon-
p.ai"do-lhe que íosse 1er t:* 9.t^.':i:t^u"" ordem do governo) e prestarâm obediencia
:l^1"^'-
perfidos Protqs- No dia ro foram cita-
"il-;,
padre correu togo toà alvoroço' Porem os iin.iq ".,i.grndo-.e á Proviclencia' doge Leonardo
;mtiutt' que-' por commissáo flo ào. p..rnr. ã ,enn,lo, e interrogados pelo
tantes entregu'"*'";';;i Obede-
gover'u1 dtru«Yqlrr * --t-au,aâo ;;.i.,'-'11::,f '::,i:l,l,l:*il õ""á,.. Que pretendeis vós fazer? perguntou este'
soverno,anclavam'ffi como um malfeitor, cereis as decreto do senado ou suieitaes-vos
ao interdicto I
demnadoámorteeexe o interclicto' responde o supe-
ir",, " quatro annos de edade ! Em todo o tempo que <lurar
rior dos lesuitas em nome de todos' não celebraremos
nos quizer obri-
missa nem prégaremos, e se a auctoridade

t
 f*,-4iif ,::-". r l- -.:r r

25o

gar a isso, aqui declaramos iá que preferimos o tlesterro

e para tudo o que o summo a;;,,;.. ordenasse; prova clara
a confiscação.
que os'jesuitas conspiravam. z.o O senado descobriu que
Com efieito n'aquelle mesmo dia foi decretado o des- elles se serviom da confissão para penetrar habilmente nos
segreclos das familius e do Estado. 3.o Enviavam duas ve-
terro dos iesuitasr e no dia seguinte cleixaram-elles a cidade
g.*.rá" alegria de Fra Paolo e de seus adeptos zes no anno âo seu geral uma narração'circumstanciada
"o* escreveu o superior ao padre gerai'
oPãrto cias Arõ-Marias,
.
das forças militares e das rendas do Estado' 4.'Tinham
poucos obie- pedido ao Papa a excomrnunhão do governo de Veneza'
chegaram as gondolas, nas quae§ puzemos os
qu. no, d.i*"r"- levar' Estivemos sempre «lebaixo Provas d'estas accusaçóes não as havia, mas a singelleza
"roí
ao, oito. de officiaes, enviados para espreitar todos os popular dispensava.as e bastava que Fra Paolo as soubesse'
os ttol:l A 14 de Junho decretou o senado que os jesuitas fossem
nossos movimentos. Vindo depois o.uiq':i: com
egrefa as ladainhas e as oracoes desterrados pâra semprer e que seus bens se applicassem a
mos, rezamos em a nossa
uma feliz viagem' e nos dirigimos obras pias; e a I r de Julho o senhor Canage de Fresne,
I
ão ítin.rr.io para obter
embaixador de França em Veneza, mandava dizer a Ville'
pr." ,a gondolas. O caes estava cheio dos nossos amigos'
'desconsolados com a nossa partidat e sem terem licença de roi «A nullidade e abusos da excommunhão são o obiecro
I da prégação em todas as festas e em todos os quarteiróes da
ri ,.-ah.grr"rn a nós. Assim distribuidos em quatro barcos'
ir cidade: já este povileo tem o Papa por inimigo da sua sal-
I
emisttrracloscomossoldadosquenosguardavam,rleixá-
I
vação, e antes quererá arrancar a Fé christã das suas al-
mos Venezar.
I mas do que diminuir suas Íiquezas e ambição; já as con-
inHuencia dos iesuitas era 1ão grande, que
se iulgou
A Como fissões dos jesuitas são a máteria das conversacóes nas
dar ao seu desterro ainda outro motivo'
necessario
tractà- tascas e tabernasl já, a auctoridade dos inquisidores está
os tlteatinos e os capuchinhos e outros ecclesiasticos
cle imitar o siu exemplo, e o patriarcha se retirou por terra, e deu-se toda a liberdade aos impressores para
vam
I oara Paciua. procLlrou o senatlo deter tão grande
tlo que estê estado de
deserção' e
coisas era
mandarem vir toda â sorte de livros que impugnem o Pon-
tificado. Deus sabe que proveito tirarão d'estes livros os
i ir." it.o pcrsr"ra.liu povo
Iira Paolo nãà onrittiu nada para produzir espiritos italianos".
ãü." A'", iá.rrras.
lr ,rr. t.r.t r. o eíI'eito deseiado, e fez com que o senado
pu- Com effeito chegavam de Inglaterra a Genehra estes li-
que pretendia ter contra os pa- vtos com direcçáo a Fra Paolo e a Fra Fr-rlgencio, seu cum-
blicasse totlos os aggravos
a escrevel-os plice, os quaes tinham íormado uma associação, com o fim
l1 ãr., a" Companliii de Jesus' Tornaremosestas sortes de de subtrahir a Republica de Veneza á Egreia Romana para
;ü J" tanto'niais bom grado, porquanto
i'
I
urnâ perseverança
imputaçóes se renovam ainda h'oie com'
expro-
a dar depois ao protestantismo: coisa difficil de conseguir
de italianos, cuja natureza expansiva e ardente tem neces-
rli mri e*pr.gn,la em semelhante causa' Eis os crimes carta
de Veneza:.r'o Uma sidade de toda a pompa exterior do culto catholico.
br",1o* aos'-jesuitas pelo senaclo
Estado' mas Os bens confiscados devianr ser applicados a obras pias,
it á; ;r. -ri, prnh'm em risco â segurânçâ doprovava que-o como ordenava o decreto; comtudo aquelles mesmos que
l1 muito felizmente interceptada pelo governo'
ti,l
lll
*"pàtiá. a* iesuit4s, muito bem
Reprbli.a, infornrata o Papa, e o
inteiratlo
prevenia
dos
de
segredo.s
que mais
da
de
tinham provocado esta applicação, começaram a applical-os
a si, e Fra Fulgencio, imitando o exemplo dos protestantes e
,lrr ,r.r.rro, jovens da principai nobreza estavam promptos universitarios de Paris, se introduziu por sua propria aucto-
I

it
I
rli
llir
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fr
ll
i

i
2 5.i
I

XII
I

ridadenacasadaCompanhiadeJesus.ocardealdeJoyeuse'
;;;;;;;á; po. Heniiqoe lv tle propôr a sua. mediação
resultado algum' e at-
entre Roma e Veneza, não obtinha 1 Oompunlrirr tlc lutas em
.lcstrs teve de sustentar grandes
a guerra ia estalar entre a
;;; , irritação dos espiritos A qr,,t,to o p1111'sClaudio Aquaviya â governâva; e tinha
--ô sido ueccssaria toda a sabedoria, toda a habilidade, e todas
Aquaviva, vendo ã obstinação da Republica'
e
fr.r." as virtutlcs ti'este gerai para dirigir todos os seus movimen-
reconciliasse com a Sancta
a.J.;ãrrJo .ot.etotlo'que eila se
tos cnr todas as partes do globo durante esta guerra en-
de parte a reintegração
êe, J"ppri."" ao Papa-que puzesse carnicatla que nem lhe dava treglla, nem conseguia afrou-
e se cont;ntasse com o chamamento das
da Companhia, xar o seu zelo e caridade. Na Belgica, na Inglaterra, na
offendirlo sobretudo pela
li,,*, O'ra."s. Paulo V achava-se provado que não França, na Italia, e ate no extremo Oriente a calumnia, a
suerra feita aos iesuitas, pois que estava perseguição, os tormentos, o desterro e a morte eram as
po' terem susten-tado os di-
ffi; il; ;;;;;;;;' 'ànaopotém o geral da Companhia recompensas de seus trabalhos e dedicação. Coisa estranha !

..i,* a. Sr:mmo Pontificel reclamaqão' ao me-

Esta Ordem, ao mesmo tempo tão infamada e tão amada,
.a"rp.a .fr"g.u a faze-lo desiitir d'esta todo pre-
parece que crescia com a humilhacão, e prosperava com a
á Republica
nos por então, e com isto tirou-se calumnial as vocaçóes se multiplicavam cada dia para este
a
--ô. de romPimento e fez-se partir
texto Paz'
pa.ra levarem os soc-
Instituto, que não podia offerecer aos candidatos senão op-
fesuitas que vimos t-l:i:- probrios, perseguição e cadafalso. Este facto, para quem o
"irr.o
corros e consolaçóes do seu sagrado
ministerio
""t
a morrer âssls-
quizer ponderar, era então, e ainda hoje é, um dos sellos
ião, .np,iuot em Constantinopla' vieram o padre Cani- divinos da Conrpanhia de Jesus.
tindo aos empestados t *"t togo'acudiram Depois da reconciliação da Republica de Veneza com a
então que o em-
thac e outros quatÍ'o â substituil-os' Foi governo' Sancta Sé, como parecia reinar a tranquillidade para os ie-
merecer clo seu
i baixador vettezian{1, cluere ntlo bern suitas na maior parte da Europa, o Padre Aquaviva apro-
tlivitn, qtrc os eram uns sim-
;;;;;;", pcrsua(lir de I{oma, e queiesrritas
ao.
corriam todos os pat-
veitou estes momentos de treguas para adeantar a canoni-
it"s tla cortc zac'ao do Sancto Fundador da sua Ordem, e a do grande
".pio!.
zesdomuntlocomopretextodeapostolado'masemrea. Apostolo das Indias e do Japão. Os soberanos de todas as
li,1.d. prro excitarem os povos á ot seus so-
revolta toll:l naçóes onde a Con:panhia de Jesus era conhecida e apre-
que o divan mandasse
;;;1. Não foi preciso mais para feiizmente o legado da ciacla rogavam á Sancta Sé que ouvisse os desejos de toda
metter os jesuitas em prisão: mas a christandade proclamando â sanctidâde de Ignacio de
de França e d'Alle-
ilip"t,n"'ioi togo deimentido pelos livramento dos presost
Loyola, e de Francisco Xavier, attestada tão altamente corn
manha, que exlglrâm o immediato apostolico
tantos milagres. Henrique IV, sempre solicito err mostrar
e arcÍorizaçáo para t*ttt"tt"' o seu ministerio
a suâ veneracão para com a Companhia, cu)o espirito e or-
em todo o imPerio ottomano' ganizaçáo admirava tânto, quanto apreciava a sua sciencia
cont-ra a Compa-
Notemos aqui que atraz dos ataques e Úabalhos, 1'untou suas instancias com as dos reis da Eu-
heresia: n'este câso era
nhia de Jesus sempre se encontra
a
ropa e do Japão.
;';;;*; Fra Paolo a servir-se d'um catholico' Não podiam os calvinistas perdoar ao l'ei este testemunho
fl

254
rrirrpÍrrcrrr rl'cstc rrruntl() o scu projecto de matar o rei. Não
brirhante -do :' u *l:'":l:i-":[. i I ;l li"]'"1:'J':3 I; irnIo1111I o ;l;11'1i1111ç11(o c a universidade, querendo a todo
zerârn-se fazel'o
exptar r) (:r.rsto (luc ()s jcsuitas Íbssem inculpados d'este crime,
l";.';;;;;;; ^ta cidade de Paris; em
um rumo. sinistro ic]::l';; ;irro., a" todos os olhos bro- rrocur'.u'ilnt provirl-o ordenando que o livro do padre Ma-
liirnu lbssc queimado por mão do algoz.

üi;;',', ;:"ô ; :: i::Hi :l':* *lí:,T i:lf :.i l,l não se lembravam que este mesmo Iivro tinha sido
conclenrnado pela.Conrpanhia de Jesusl,não se lembravam

t' f;#"Tl,x' i1*;

(luc esta doutrina do regicidio era por aquelles tempos ma-
l,:, : *::: ç"]u :;"1'';"*; teriir de controversia em toclas as escolas de theologia, e
",;;i Henrique IV a
:H T:r.,.?"'1,["iill; i;;;;;;;rque tinlra seus defensores em todas as Ordens religiosas e em
;;;,.;i;, v en r al' a'., I lJ ",l';;;:"ff :tT ; ; : ;il Hf f,""[
e toclas as universidades, e que os calvinistas e lutheranos a
professar.am abertamente em suas predicas e aulas; esta_
H:
"1x: .
:
L
rü ! o :*:i;*:h *í: * :""i* *::
;
1'.'":t^"::":;t'^.-"n...ao
vam esquecidos finalmente que o proprio parlamento e uni-
mand, provincial' e de conti,: do mo- versidade tinham sustentado esta doutrina rlurante a Liga
;;;; ã^. mãos do PrinciPe ^t-::t
levaram ao seu col- corn o maior enthusiasmo. Os doutores da universidarie àe
tiht'tu'tegado' e o
narcha, que elle tt'es rleselos do finado'
Paris deviam lembrar.se que n'aquella occasião accusarâm
legio de La Fleche' "onià'*t"ot os jesuitas de não excitarem as turbas contra l-trenrique IV.
e.a^universiilade
Durante a âusencla.
i;;ll;;, o parlamento Illas todas as lembrancas se sumiam á vista iia necessidade
., i',,t t,* o
",, " "
-
:'Plll"l li:
:: Í* f ;;:::,.:,1". ;ff :'.:T'-; Seis de accusar os jesuitas por causa da deserção que se tinha
tios iestritrts, tt* forca: sentido nos bancos da unrversidade. Nem faltarain orado-
*"""'."iU" era cl'esra ao padre res christãos que se puzessem da parte d'esta, e alguns, ex-
n*oi,"' mlar
ir
I
f.;:: :ll::'llliJl,l,Llll"#'J'
cgreirr a""i:rr'n ptoftttti
á de to'los os citados pelos seus amigos do parlamento ou da universi-
dade, lhes prestarâm o auxilio da sua eloquencia, chegancio
Auhigny nu '']t':" Ravaillac' e
circumstflntcs t tngu
ot-là'rtitn* conl'ecjam" aconse- um antigo religioso celestino, chamado Dubois, a exclamar
c claro' C evitlenrc:T
visto quc o tut''l''"tio'i' qu" 'ntforte am-
mais
com o tom rnais pathetico r «Ah segundo Alexandre I Hen-
lharitnr o assassinato
ià ptit"ip"' ":-"-: rique IV, grande Rei, terrôr do n:undol Se tivesseis acre_
":; ;"ú:::,lJ: ditado vossos fieis medicos, os senhores <io parlamento,
JJ; i ;::X'.
-;;";" ff :l,HJT:üi:: resse - ainda hoje estarieis cheio de vida. Henrique, nosso bom
::';X i'J'L:l:'J'i;:: ;'i;; ii ; ash.ab
humana; que
m con
Rei, está morto, bem o sei, mas quem o matou, não o sei.
mos tambem' p"'"
t'ã'g;nf'a çla cre'lulidade Quem foi a causa? Lêde.o, Senhores: o tigre é tão inimigo
il; ; ; ; ; ; * u: 1"-J"' I lã',111"," o - * c ti nh a do
i

",
a ra 1r a
do homem que sd com lhe ver a imagem, se enfurece a
ponto de a despedacar com os dentes: assim tambem esta
uma
iofo no'uitto' tinha rido gente mais feroz que os tigres, inimiga de Deus, não pôcle
"-T"i;':l"0i:::il;';;
obra do pta'" ltntiul"""pitüriüa" ?T'Ittp'nt'n'
escrrpta
ver a sua irnagem n'aquelle bom Rei, e o fizeram morrer
em trarim, na qual ,1 i'f iin'",o ":1,..lll-,#**rtlàlliii- ás mãos de um infarne assassino. Senhores de paris, abri os
oihos, tiraram-nos o nosso Rei I guardemos agora bem
*LT"'fi ixrã "J"' x'i[] ;;; ;'; iú'' o * *"nic aLlo a

Cr

t
 'l:\'i
256 lil
rreretlitirrcut o:. i('suilitsr c crtr pitrticular o paclre Coton
coni ;r rcpicrrl.'. l'rrlrlicuritnr um libello infame, intitulado o
aque, e lue t: mo:t ::iT:
f)eus Pelo rei, Pela ratnr
j;.',â:"i';;lxxfli; ? iiü§"i t'iltt!i-Ootort, ,1rrc liri attlibuido á penna de Pedro Dumoq-
lin, nrirristro I)rotcstante de Charenton, e impresso pelos
;il #
i ; ;; ":
".' *:.';:,,, :: j
;ü, ,.i
us urrvrt ::iii ".i, i.'lfi'fi i: calvinislirs. 'l'íío fircil foi ao padre Coton iustificar-se das
sentido em nós; âDramos i';-l-^,: -- por odioslrs crrlumnias de que era alvo, e apresentar as provas
d'este; e não vos deixeis ensanar
::;';;*;;;'p'iuu' por essas da sua innocencia, quão difficil seria ao autor do libello
::;.;;1; uip"t"n'io" por essas :"'.,fi-'-':"^t'.espiritr-raes' dar tla sutr parte âs provas dos factos que tinha ousado af-
:"";ffi;t,'àtt"t ai*Jt"to' e conferencias
Íirn'rarl e pàr isso viu-se obrigado ao silencio. Isto não im-
engodo e,astucias tlo 'liabo"'
;il;;" A rainha reg-e:te) o ihan- pediu o parlamento de fazer novos esforcos para perder os
Assim fallou aqueue ;;;i;;' um termo a estas jesuitasl porém o clero, a nobreza e os principes sentianr
;;itpt de Paris ãetti"u'- pôr tanto, quanto o consellr.o da regencia, que erâ necessario
""il;';'
ridiculasimputaçóes,*oo""op^"topreladcpublicoua de Paris, Con- preparar por meio da educação novas geracóes catholicas,
.le Gàn,ty, bispo
I
carta seguint., H.n.io,i" cte Estaclo privado' etc' câpâzes de resistir aos ataques e ás seducçóes da heresia,
selheiro do Rei "'n '"t''Con"lho do cruel parricidio com- e achando que os jesuitas eram eximios rra arte de educar
.,Como sela assim' o* tl"poi' e ensinar, foram estes religiosos conservados em França
I

i"?"n.to, a quem Deus absolva,

mettido na pessoa ao'ã
1
l
Paris apesar cla opposição de seus ininrigos' O padre Coton foi
tc,"iãcl pot ttt^ cidade de
muitos rumores tttt'"* deseianclo cãnserva,lo em suas funcçóes para com o rei, que era me-
com pre)uizo notavel
àtt"p"attt l"t:ituti-::t
nor; o padre Joáo de Suffren, pregador celebre, foi no-
i1.".'.',,',,"',,::X*r""f,í:1,3'i,Ul""l,**ffi "l
i'
l, meado conlessor da rainha regente, e o padre Marguestaucl
I

.i11:, :';,:,,i: :^::'T:T;

;;;"; ;;"" s diro ; adres' pera
o s ficou confessor da princeza Isatrel. D'esta ârte protestavâ â
côrte contra os inimigos rla Companhia de Jesus, e este
li jl
i, à.. ",. u.., "' :::"r ::,.::,i: *; : i:;nH :' i,.""J.:il "l' - pÍotesto era de grande valor.
i'o cra rtel igião catho - O principe de Condô, que tinha abiurado o calvinismo,
iL:"::;:;:J ::: #':;il'jo n'- p'"1 tó"]-tlll' os ditos pa'
u

qu" '''áo declarou-se amigo dos iesuitas, e contribuiu para que o seu
lica, apostolitu, 'on."tntt' "ocentest mas tambem que a sua numero augmentâsse no Berry, de concerto com o mare-
dres estão intti'n"'-'t"inT
é utilissima chal de la Chatre, ao passo que o duque de Longueville os
Ordem, assim pela U""t'it"-**o pela virtutle'Em fé do que favorecia na Picardia multiplicando as suâs casas. O car-
Estado'
áEgreiacle Deus "
*";;;;;à;-"a a este
deal de Joyeuse, arcebispo de Ruão, desejando tambem
. ;# i ; : ::
i
", "' : i ::: J' :': : Xl :;:.1','.':.' lTJ : i:*:T
punho' :,*1*i:":ô:""';;;.;..uo. de
mostrar-lhes a sua confianca, chamou-os para a direcção
nr.it,'6 cle Junho do seu seminario, e fundou-lhes á sua custa umâ residencia
vesse, e the hzesse Pt em Pontoise. Em Paris a universidade via-se mais cleserta
r6to"'
q" JTu:'ltllo ou" a côrte do que nunca; porque a confianca das familias estava unica-
Os inimigos da Çompanhi' de ser mente na educação suave e paternal dos padres da Compa"
ainda a protegia'
" ;;';-; padre Coton acabavade todo nhia cle Jesus, pelo que onze dos principaes coliegios do
nomeado conÍêssor
l""i*tl"-'"i,,t'T ac'cusaÇóes
^:::utto do par- quarteirão irrtino depressa se reuniram com o ,los fesuitas'
a" todas as
o ruido dos universitJriol " fabulas para des' t7
i*'ginutun;'ul''i.,ui' t''o"tndas
HISTORIÁ DÀ C, DE J.
lamento,
rl

t'
ri

dl
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I
ll
258
Nenhum espirito serio deixaria de reconhecer que an-
dava aqui tanrbem o dedo de Deus, mas com estetriumpho
ainda mais se exasperavarn os calvinistas, e como se viam
obrigaclos a respeital-os em França, procuravam indemni-
zar-se em outras pârtes. A 5 de Julho de t6tr rebentou
em Aix-la-Chapelle uma insurreicão dirigida pelos hereies:
os insurgentes abrem as prisóes, apoderam-se da camara,
e prendem os principaes magistrados' Tres jesuitas se en-
no caminho d'estes furiosos: eram os padres João
"orl,r"* Nicolau Smith, e Bartholomeu Jacquinot, superior
Fladio,
da Casa professa <le Paris. Os amotinados lancam-se logo
sobre elles gritanrlo que querem fazer iustica n'estes PaPis-
tas; mas os catholicos ainda puderam arrancal-os de suas
rla noite o collegio
mãos, manchadas com crimes. No meio
é assaltado pelos protestantes; o pa<lre Philippe Bebius vai
fallar aos asialtantes, porém cáe debaixo de seus goipes; a
turba do povo se precipita sobre a casa, prende todos os
padres, u..u.t"-o, á camara I e iá se prepara para ihes tirar
, i,i.lr, qu^n,to uma voz exclama que urn dos paclres é fran-
cez. ILr-rmediatamente os chefes da insurreição, bem certos
que a lir:lnça vingará o sangue de seus filhos, ordenam que
o jesuita lirincez scia posto em liberdad.e' Não, erclama en-
tão o padre Jactluinot, eu não consentlrel em separar-me
de rneüs irmãos, que cstão tão innocentes colno eu'
Mas,re-
por
plicau-r os cheÍ'es, nós não vos restituimos a liberdade
.1" vossa innocencia, tnas sómente porque sois sub-
""r*n
dito I'rancez' Na Companhia, treplica o padre, não conhe-
cemos allemães nem francezes, somos todos irmãos: ou
to-
dos os meus irmãos ficarão livres commigo, ou eu morre-
rei com ellesr. Os insurgentes não ousaram ir mais longe,
e entretânto os soccorros pedidos pelos catholicos vieram
reprimir a insurreição e restituir a ljberdade aos jesuitasl
mas sómente a 4 de Dezembro poderam tornar a entrar
em suâ casâ e tomar posse de not'o da sr:a egreja, que os
sacrilegos protestantes titlham conYeriido aiguns dias
em
theatro de suas ignobeis orgias.
z 51r
.No rrrt:snr,r irnno sollriam os jesuitas de praga as conse-
rlrrcrreins rlir grrcrr.n civil, que havia entre os principes de
Ncuhutrrg e os principes de Brandebourg. Os herejes, tendo
tomirrlo ils Ílrmas com o protesto de repellir o exercito im_
pcrial, atiraram-se com violencia aos conventos, e commet_
tcram toclos os excessos. Os dos dominicanos, dos benedi_
ctinos e dos conegos regrantes foram saqueados, as irnagens
dos Sanctos quebradas e lancadas á fogueira formada de
cluadros, ornamentos e sagradas imagens. N,esta fogueira
lançaram tambem quatorze franciscanos, e com alegria in-
fernal viram soffrer e morrer suas heroicas victimas n'este
cspantoso supplicio.
A tolerancia da heresia, e o seu respeito á-liberdade
de consciencia não param ahi: um protestante grita que ha
trezentos soldados e um deposito de armas em casâ <1os je-
suitas. Desde a instituição da Companhia de Jesus entrou
esÍe eslrantalho no programma cle todas as revolucóes, e
não é o artigo que tem menos successo; e assim succedeu
em Praga, Os ban<los protestantes correm .m t.opei ,o
collegio, apanham tudo quanto podem levarl mas conten_
tando-se todos com o sâque e devastacão, nem um só d,es-
tes ladróes sacrilegos pensou em procurar os trezentos sol-
dados e as munições de guerra.
Quanto aos ;'esuitas, arrancados os padres pelos catholi_
cos ao furor cego d'estes homens extraviaclos, tutlo se limi-
tou á perda da casa e da egreia, que em breve restauraram.
Os historiadores protestantes continuaram, já se t ô, a asseve_
rar a fabula dos trezentos solclados e petrechos escondidos, e
alguns catholicos ainda'teem a simpleza de o crer e repetir.
XIII
l[ metropole das Indias porruglrezas, aquella cidade cle
ll- Gôa, que tão querida foi do seu illustre apostolo Fran-
cisco Xavier, e que tem ,o privilegio tle conservar seu
sancto corpo, a cidade de Gôa estavâ em grancle agitação
t'
z6o
ern um dos primeiros dias do anno de r5B5: portuguezes,
hespanhoes e 'lndios estavam todos suspensos e procurâ-
vam penetrar o motivo do extraordinario acontecimento.
Desde a vespera a curiosidade publica tinha sido excitada
pela chegada de um personagem, cuia apparencia e cortejo
annunciavam uma alta dignidade, porque tinha feito a sua
entrada na cidade montado em um elephante branco, ajae-
zado com tanta magnificencia, como se fosse algum dos
grandes monarchas da Asia. Todos os senhores que com-
punham a sua comitivâ traiavam os mais ricos vestidos e
montavarn em elephântes da maior belleza. N'este mesmo
ditr que se seguiu ao da sua pomposa entrada na ciclade
o grande personâgem) vestido todo de ouro e pedraria, apre-
sentou-se no palacio do governo, e ficou muito tempo em
conferencia com o vice-rei, e d'alli passou ao collegio dos
jesuitas.
Foi o caso que o padre Rodolpho Aquaviva, como
dissemos, tinha sido assassinado en'r Salsette; e o grão-mo-
gol Aclibar, que a muito custo o deixára sai'r das suâs têr-
ras, íicou muito nragoado corn o seu martyrio, e mandou
um embuixatlor uo vicc-rei cias Indias portuguezas, e aos
jesuitas clc (iô1, 1-rrtrt lhcs tesilcmLlnhar il pilrte que elle to-
mava n'csta percla, c llrcs cxprir»ir o deseio de ter em
sua côrtc out|o srcerdotc clt Oorrpanhiir dc Jesus. Tal
erâ o motivo tlc tão grarrcliosa enrbaixada.
O paclrc llodolpho Aquaviva não tinha, como parecia,
tirado outro fructo da sua tnorada no irnperio do Mogol,
rnais que o de agraclar ao imperador, e como não é sómente
para agrarlar aos homens que os iesuitas se fazem amar
d'elles, senáo para os dar a Deus I quando não podem al-
cancâr este Íim, levam a outra parte o seu zelo apostolico"
Os paclres de Gôa entenderam que convinha dernorar al-
gurn tempo antes de satislazer os desejos de Ackbar, e só
correndo o ânno de r595 é que o provincial lhe enviou o
padre .leronymo Xavier, sobrinho do grande apostolo, o
qual, corn a sua poderosa proteccío, foi mais feliz no seu
i'
li
z(ir _
rulrostr.rlittlo tlr: rltrc o padre Aquaviva. O momento da graça
cr:r chcgatlo, rrÍo para o soberano, senão para os seus
srrbditos, scrvintlo-se Deus da affêição do monarcha ao pa-
rlre llodolpho para preparar e facilitar a conversão dieste
lovo.
Âs bencãos do céo desceram abundantememente sobre a
palavra do missionario, cujo appeilido parecia Prognos-
tico de bons resultados, e em poucos ânnos o numero dos
christãos era já consideravel. O paclre Jeronymo habitava
no côrte, mas pouco ten:po dava ao imperador; porque os
trabalhos da missão lh'o levavam todo, e até o obrigaram
a pedir reíorço a Gôa. Em r5g9 celebrou o padre Xavier
solemnemehte pela primeira Yez as festas do Natal em La-
hore, que foi um espectaculo que produziu nas aimas ef-
Í'eitos admiraveis. Numerosos catechumenos foram em pro-
cissão á egreia, vestidos de branco, e levando palmas nas
mãos, os quaes, baptizatlos pelo missionario, foram depois
conduzidos ao presepio preparado na egreia, o qual esteve
exposto por espaço de vinte dias.
O imperador, ainda que encantado de toda a pompa do
culto catholico, persistia em sua infidelidade, sem ter animo
para sacrificar âs suas paixóes. Tinha o padr:e collocado na
egreja uma imagem da Sanctissima Virgem, pelo modelo
da l:ladona del Popolo, de Roma, a qual o imperador man-
dou levar ao paço para que fossê admirada pelas suas mu-
lheres; e elle mesmo leu com um vivo interesse uma'í)ida
de Nosso Senhor Jesus Christo, escripta em lingua per-
siana pelo padre Jeronymo; porém a sua admiracão ficou
infructuosa sem o ârrancar da infidelidade. Comtudo sem-
pre ella serviu, e muito, para a propagacão do Evangelho
em seus estados, tanto que em r6tor logo depois da sua
morte, tres principes da sua familia pediram o baptismo.
Depois que foram sufficientemente dispostos, o padre Je-
ronymo Xavier, assim para fazer irnpressão no povo, como
para honrar a familia imperial, veio recebel-os á porta da
egreja, ao som de trombetas e timbales, e os baptizou com
 z6z
grande solemnitlade. Assim se estabelecia definitivamente
o christianismo no imperio do Mogol.
A Tartaria tinha tambem seus missionarios da Compa-
nhia de Jesus, e em r6o3 o padre Zgod,a, estando em Kame-
nitz, e sabendo que um embaixador do Grão_Kan da Tar_
taria, de caminho para a côrte da polonia, parava n'esta
cidade, todo se alvorocou cle alegria .o..áu a apresen_
tar-se ao tartaro, porque via n'elle uma" esperanca para o
seu zelo,
O enviado do Grâo-Kan recebe o padre, o qual lhe per-
gunta: Será possivel introduzir-me em vossa patria, por qual_
quer preco que seja, para the levar a verdade, e lhe fazer co_
nhecer oDeus do céo e da terra, oCreador do universoro Re-
demptor dos l-romens ? Não se póde lá entrar, lhe responde o
târtaro, senão com um firman do sultão, ou como prisio-
neiro. O jesuita fica sciente é toma iogo a sua resolucão.
Escreve ao rei de Polonia, põe-se a caminho, faz que os tar-
taros o prendam e falla-lhes de Jesus crucificado. Escutam-no.
aquclles infieis com admiracão e curiosidade, e quando o
embaixatlor volta da Europa, pede em nome do rei de po-
lonia prra o yrarlrc Zgocla a liberdade e a autorizacão de
prégar a nova tloutr.inu. Conr aquelle sancto arrojo pôde o
apostolo tla 'l'trrtuliir dar cm breve espaco a Jesus Christo
e á sua Egreia unla nova christandade.
No Madr,rrc o cclcbre padre cle Nobili com um meio tão
estranho con-ro ingenhoso, e que sómente lhe podia ser
suggerido pelo zelo da salvacão das almas, chegava a fazer
brilhar a luz do Evangelho aos olhos dos infieis ainda sen-
tados nas trevas e sombra da morte.
Este padre, cuja familia estava alliada com a dos Summos
Pontifices Julio III, e Marcello II, assim como com a do im-
perador Othão III, era sotrrinho do padre Bellarmino, tinha
nascido em N,lontepulciano em 1577, e eotrado muito novo
na Conrpanhia dg Jesus. Solicitou elle com tantas instan-
cias as missóes estrangeiras, que foi enviado a eilas, sem
ter ainda mais de vinte e oito annos de edade. Muitos ie-
'.r ( ilJ
slritas dc (iírr tirtltirrr: penetrado no Indostão, mâs â sua
vitla pobrc, () tlitio e os usos europêos) fazia.m-nos.despre-
ziveii aos olhos tlos indios, e feriam de esterilidâde os seus
hcroicos tnrhallr os.
Enviaclo ao Maduré pelos seus superiores em r6o5 o pa-
<ire Nobili, e ensinado da experiencia de seus irmãos, segue
por oLltro caminho. Vendo que os hrahmanes sa'liass's, ou
penitentes, fornram a casta mâis estimada e mais honrada,
.o* approvação de seus superiores e do Arcebispo de
"
Cranganor faz-se sariassi; toma o traio <los brahmanes pe-
nitenies, aciopta o regimen da sua vicla exterior e falla a
sua linguagem mysteriosa, construe para si uma pequena
cabana, nãó come nem carne nem peixe, nem bebe licores
de qualidade alguma. Mandou râpar a cabeca) sem deixar
senão alguns cabellos no alto, levantados em fórma de tufo;
-.oo
cobre-a ,rrr" trunla de éeda, de côr cle fogo, sobrele-
vada por um veo comprido, que lhe cae pelâs espaduas,
deixa pender compridos anneis de cabello pelo pescoço:
traz um vestido de cassa, e por calcado uns tâmancos com
cavilhas <le marÊm, e finalmente para completar a illusão,
rnarcou-se na testa com uma pasta amarella, extrahida do
pau de Sandanam, D'esta arte disfarçado vive só em sua
paquan" cabana, estudando em segredo a linguagenr, as
maneiras e os habitos dos personagens que quer imi-
tar.
Náo tartlor-r ern passar por um perfeito sani'essi, e os pro-
prios brahmanes, n-raravilhados de tal émulo, procurarn
approximar-se d'elle, e o interrogam sobre a sua pessoa, a
srrà prtri, e a sua familia. O paclre Roberto iura que des-
cenCe de uma tamilia illustre, e este iuramento o torna di-
gno de ser admittido no numero dos brahmanes mais sa-
úios e mais sanctos do Oriente. Deram-lhe o nome de
Tatouva-Podogar'Suami, que quer dizer: homem pas-
sado mestre nas noventa e seis qualidades do verdadeiro
sabio. Por nruito tempo tinha ellé reslstido ás instancias
dos curiosos, e recusâdo dar as liçóes de sabedoÍia que
 t'
264 "
os rajas, e os brahmanes lhe pediam: mas por fim cedeu e
abriu escola. A multidão apinhava-se ao redor d'elle para
receber os sells ensinos, e depois de quatro annos de aámi-
r"avel perseveranca, teve a felicidade <Ie ver alguns bra-
lqigtt prostrarem-se deante da Cruz de Jesus Christo, e
de esperar que com o soccorro do alto clepressa se estabe-
leceria n'aquellas regióes o christianismo. Já o proprio rei
se dispunha a abracal-o, porém os brahmanes, suspeitando
dos seus intentos, o matarâm em pleno conselho, e publi-
carâm que brahma. o tinha transportado á sua gloria em
lecompensa das suas virtudes.
Coisa semelhanre fazia o padre Matheus Ricci na Ciina,
na cidade de Tchao-king, da provincia do Cantão, onde ti-
nha comprado uLra câsa. Depois de reconhecer que a po.
breza não attrahia senão o desprezo, precisando o missio-
nario de attrahir a consideracáo e o respeito, adoptou para
,l a China o que o padre Nobili fazia no Maduré e procurout
i
identií'icar-se com os costunles e idéas do povo, que ia
I
cvangelizar. Vesticlo como os lettrados e coberto com o seu
i barretc conico, ;:arecia não tractâr senão de sciencias hu-
lr
Drânáls, ncnr de <>trtra coisa fallnva rnais que de physica e
astronomiit, provando ltr:rn aos sabios chinezes q ue, âpesar
das suas prctençrii:s, tinlrarn aincla rnuito que apreniler.
Depois que conscguiu lrlquirir reputacão e adrniradores,
que vinhanr curiosos de mr:itas provincias, pôde emÍim fal-
lar c1o Deus creador de taütas maravilhas, e firzer alguns
proselytos, sern todavia comprometter o Christianismo no
presente, e Íalvez no futuro, corn um ministerio franca-
mente apostolico, emquanto não alcancasse âuctorizacão do
imperador, Para poder chegar a fallar ao presumido filho
do sol, pediu o padre Ricci aos negociantes portuguezes,
que commerciavam em Cantão, que lhe trouxessem ricas
pecas de fazenda, instrumentos de physica e de astronomia,
e tudo o que nos productos da industria europêa podesse
ser mais digno da attenÇão do imperador Van-lié. Em
quanto esperava aquelles objectos, o sâbio iesuita, consul-
rlr
l
265
tado já pelos grandes e lettrados, ia'lhes faiiando de Deus
e do culto que lhe rentliam os sabios da Europa, e era es-
cutado com tanto prazer, que seLls discipulos em physicat
em mathemâticas e cm astronomia )á lhe pediam com ins-
tancia o baptismo. I)orém, como estes catechumenos, leva-
dos de nimio zelo, derribavam i.lolos e os quebravâm) su-
blevou-se o povo e quiz vingar nos jesuitas a iniuria feita
âos seus deuses. Os mandarins, cl'rristãos de coração, pro-
cecleranr com rigor contra os sublevados: mas os jesuitas
correríirn aos tribunaes a torytar a defensa d'aquel'les mes-
mos que os tiRham querido matar : sublirne generosidade
que produziu nos grandes a mais viva impressão, mas dei-
ioo o pouo insensivei. Alguns dias depois os pa<lres Antonio
rl'Almeida e Francisco Petri morreram dos maus tractos que
soffreram clo povo furioso, e o padre Ricci ficou só n'esta
China, onde era tão difficil penetrar'
Chegaram finalmente os presentes destinados ao sobe-
rano. ô padre Ricci vae a Pekimr mas antes de entrar na
cidade, procurou a protecção de um mandariml este porém
cubiçou-lhe os presentes destinados ao imperâdor, e rnan-
dou prender o padre: mas deu contâ na côrte de ter pren-
<lido um estrangeiro portador d'um sino que por si mesmo
dava sons. Táo estupencla maravilha chega aos ouvidos .ao*do
imperarlor, o qual manda lhe levem o estrangeiro o
seu sino. D'este modo foi o padre Ricci conduzido á côrte
por fins de Julho de 16oo, e acolhido pelo imperaclor com
a maior benevolencia, fez-lhe presente do relogio que lhe
destinava. Van-lié mandou-o collocar n'um'a torre segundo
as in<iicações <1o padre, e na sua propria camara poz dois
quadros que representavam Noiso Senhor e a Sanctissima
Virgem.
Este momento da Provi<lencia esteve-o aguardando o pa-
dre Ricci por espaÇo cle dezesete annos sem se desalentar;
pois que tinha chegado ao imperio da China em r583, tra-
balhando sem âfrouxar e sem successo visivel com uma Per-
severançâ que confunde o espirito humano. O admiravel je-
 266
suita não se tinha enganado em seus calculos pela gloria de
Deus: a sua habitacão na côrte fez suppôr que elle gozava do
insigne favor de se approximar do soberano, e os grandes
procuravam com empenho ganhar a suâ benevolencia. 0
padre aproveitava-se d'estas disposiçóes para annunciar o
Evangelho a estes grandes da terra, e dentro de pouco
tempo teve a consolação de ver todas estas frontes humil-
demente curvadas deante da Cruz de Jesus Christo, e de
baptizar um grande numero de mandarins e de lettrados,
até que o povo, movido pelo exemplo do alto, solicitou a
graça de ouvir as verdades chlistãs. Ao mesmo tempo mui-
tos jesuitas chamaclos pclo parlre Ricci evangelizavam as
provincias com grandc successo. Ern r6o7 estava estabele-
cido em Pekin: um noviciado dirigido pelo padre Ricci,
que ao mesmo ternpo dirigia as missóes do imperio, escre-
via livros cm lingua chineza, e dispunha por ordem diaria-
mente os acontecimentos de que era testemunha, ate que
morreu cste infa_tigavel apostolo em Pekim no anno de r6ro"
I{ouve por sua morte lucto geral em todo o imperio, os
grandes e o povo quizeram contemplar pela ultima vez
aquelle que tinhà sido por tanro tempo o obiecto da sua
admiração pela sua sciencia e virtudes, todos o acompanha-
rarn á sua' ultinra morada, e o imperador determinou que
uma egreja catholica fosse levantada no logar onde repou-
savam os restos preciosos do maior homem que a ChiDa
jamais tinha possuido e a quem os pagãos tinham comparâdo
pela sua sabedoria ao seu Confucio.
XIV
fl padre Organtini com um bordão na mão e o seubrevia-
U rio debaixo do braço acabava de deixar uma aldeia in-
teiramente christã, e voltava a Nangasahi. Em um dia do mez
de Junho este apostolo oravâ pela inteira conversão d'este
vasto imperio do Japão, ao qual tinha já consagrado vinte
.'zl\7
e quatro annos tla sttit virltr, c solrrctutlo peclia a f)eus que
toiasse o coraçío tlo ittll'rcratlor, e lhe abrisse os olhos á
luz da verdadeirt ÍÚ. .lí o padre não estava senão a uma
distancia muito pctyr.rcnrt de Nangasaki, quando avistou um
navio hespanhol tra enseacla. Trazia elle novos missiona-
rios. Traria clrtas cle lloma, de Hespanha, ou <le Gôa? Mas
eis que a cnrblrcação recêbe entre os passageiros um grupo
de ieligiosos franciscanos' Grande foi o espanto do padre
Organtini, e tanto maior, Porque os iesuitas do Japíro, tendo
promettido ao pâdre geral que pediriam ao Papa um reforço
rle missionarios) tomados nas outras ordens para os aiudar
n'esta tão vasta região, o Papa lhes tinha recusado este soc-
corro) por temer alguma especie de conflicto da falta de
combinação e uniclade nas operações. Gregorio XIII de-
clarou-se por conseguinte contra esta proposta por meio
d'uma Buila de z8 <le Janeiro de r585; e Philippe II, que era
então rei de Hespanha e de PortLlSal, mandára dar conhe-
cimento d'esta Bulla a todos os Sovernadores.das suas com-
panhias da India, e ao mesmo tempo prohibira expressa-
mente por um decreto, que nenhum missionario, alheio á
Companhia de Jesus, saisse de suas coionias para o Japão
com o Íim de alli prégar o Evangelho. O padre Claudio
Aquaviva tinha enviado aos padres do Japão â resposta do
Summo Pontifice e a do rei de Hespanha, assim como as
providencias tomadas Por um e outro, e com isto se tinha
ienunciado a toda â nova tentativa d'este genero. Era pois
muito natural o espanto do padre Organtini com a chegâda
de quatro franciscanos âo solo iaponez.
Mas por outra parte se a vista dos religiosos de S' Fran-
cisco era um motivo de espanto para o Padre Organtini, a
vista de um iesuita não causou menor admiração nos qua-
tro franciscanos. Emfim os hespanhoes tocam em terrâ,
abraçam o iesuita e dizem: Ha então iesuitas no Japão?
nsomos cá cento e vinte e seisr responde opadre Organtini.
Julgastes talvez que tinharrios fugido á perseguicão". Os qua-
tro religiosos olham uns para os outros, e para D. Pedro
 268 2(it
. I

(ior-rçalves Carvajal, fidalgó

portuguez, que os âcompanhava lução th'a podia tilrrr: pol isso rctlobrou a vigilanci4, mas
mr:ito admirados do que viam e ouviam.
sem persegllir os cllristiios, rltrc beu sâhia serem nrais fieis
Era o caso que se tinha espalhado nas philippinas que
os jesuitas foram expulsos do Japão, e que os ct ristaos
e submissos qlrc os Ilt1;iir.)s. lintretanto aquelles zelosos
per_ franciscanos, alcglcs por acharem christãos tão fervorosos,
seguidos ficaram sem soccorro. Os hespanhoes, desejando
não se pocliirnr scpilrilr cl'elles, e trabalhavam com todo o
muito estabelecer relacões commerciaes com os japóes,
instavam com o governador que lh.es enviasse L.r.r.ii.ànor,
seu fervor. Os jcsuitas estavam proscriptos; e os padres
por meio de uma. embaixada cujo motivo apparente fosse Organtini c liodrigues, unicos que tinham a liberdade de
apparecer com o habito da sua Or<lem, regulav3m os seus
propôr um tractado vantajoso ao comuercio dos dois pai-
ministeri<.rs pela mais rigorosa prudencia, ao passo que os
zes. Que bem podiam entrâr no Japão os franciscanos,
por_ outros religiosos, novos nâ terra) pouco habituados a mo-
9...-:1? esrando já os jesuitas no Japão, a Bulla rle Gràgo_ derar o zelo, e fiaclos em seus titulos diplomaticosr proce-
rio XIII e o decreto de philippe II ficavam invalidados <Ie
diam no Japão como o teriâm feito nas Philippinas. Ora
facto. O governaclor caiu no láço e compoz esta embaixada
tudo isto observavam os bonzos e preparâvam a desÊorra.
de. D. Pedro Goncalves de Carvaial pá. pn.t. de portu_
Em urn dos prirneiros dias de Fevereiro de r596 clegaram
gal, e do padre João Baptista aon, ou1ro. tres lranciscanos
ao Japão alguns jesuitas para ajudar os seus irmãos n'a-
por parte .le Hespanha.
quelle apostolado, sempre perígoso e sempre abençoado.
O imperador Taicosama achou-se tanro mais lisonjeado
Entre elles vinham os padres Jeronymo cle Angelis e Car-
peltr proposta do vice-rei das philippinas, porque
os japóes Ios Spinola, fllho <1o conde Octavio; e alguns mezes depois
Farirnrla e Iraxeda, interpretes clos embaixaclores, deram á
veio o pâdre Nlartins, bispo do Japáo, que ia tomar posse
carta do vicc-rei um sentido que ella não tinha, fazendo-lhe
da sua Sé. Apresentou-se ao imperador Taicosama que teve
rüzer quo estc governarlor, esperan<1o .".po.,u clo rei de
grande satisfâccão em ver o grande sacerdote dos christãos
Ilespanha, sc tlccllrat,u )ri vassallo e "tributario do Japão.
e o prelado pôde percorrer o Japão á sua vontacle. Ora suc-
l Este erro ou trtição Ílrangcou rros li.arrciscanos uma liber_
cedeu que no mez de Julho se perdeu nas costas cle Niphon
clade absolutil l)âr:l cxcrccrcnr as llnccrjes sacerdotaes;
po- um gâleão de Marselha, e como) segundo as leis do paiz, os
; rcnr Iogo (llr(. cstcs r.r.li11iosos crrtcrrrlcr;rnr a lingua japoneza,
bens dos naufragos são acljudicaclos ao soberano, a carga foi
e tivcrant conhccintento da interpretaçao que se dera á toda tomada para elle. O padre Gomes recolheu os marinhei-
carta do vice-rei, protestaram altamente conira ella. En_
ros que ficaram destituidos de to<los os recursos I os doentes
tão I'aranda e Faxeda, preven,Jo a colera tlo imperaclor, foram recebidos no collegio de Nan5Jasahi, e o bispo en-
conr o Íim de prevenir âs sllas consequencias, accusaram
os carregou-se de sustentar e conservar os outfos, até que se
franciscanos de. não terem vindo senão para'augmentarem
construisse um navio em que proseguissem a sua viagetn.
o numero já tão formidavel dos christãos do imperio ; e Um cortezão do imperador, achando a bordo âlgurnas car-
aterrarâm a Taicosama com a icléa que estes estrangeirosl
tas geographicas, perguntou ao piloto : oA quem pertencem
de concerto com os jesuitas, acabariam por desthronal-o todos estes reinos e imperios ?, O piloto, que era hespanhoi,
em. favor dos christãos, e talvez d,algum principe europeu.
ou por jactancia e orgulho nacional) ou por gracejo, respoll-
Taicosama, como não tinha herdado., .o.ôq, à'u-. ..ro_ deu resolutamente, sem rir: ná meu soberanor. E como
lucão a recebêra, facilmente se persuadiu "
{u. out., ..uo_ pôde elle fazer-se senhor c1e tantâs terrâs na Europa,
 2io
na Asia, na Africa e na America? Por meio das armas e
por meio da Religião. Primeiro entram os no_ssos sacerdotes
e preparam-nos o caminho com a conversão dos povos, e
quando o christianismo já chega a ser.dominante, chegamos
nós e a conquista é-nos tão facil como um brinco de meni-
no§.
Estas palavras são logo referidas ao imperador, o.qual
manda irrtmediatamente prender todos os bonzos europeus
em Ozaca e Meaco. Seis franciscanos e tres jesuitas, Paulo
Mihi, João de Gotto e Diogo Kisai, assim como dez chris-
tãos iaponezes são mettidos em prisão, e Taicosama dá
uma sentença âe morte, concebicla n'estes termos : oPorque
estes homens chegados aqui das Filippinas, sob o nome de
embaixatlores, teem prégado contra nossa prohibiçãô a lei
christá, edificado egrejas e abusado de nossos beneficios,
mandamos que se)am suppliciados com os iaponezes que
tiverem abraçado a sua religião. Serão crucificados em
Nangilsalii, e de novo prohihimos esta lei, e queremos que
o munclo o siriba. Todo aquelle que contravier esta nossa
prohitricão ser:i castigado de morte com toda a sua familia.
Âo zo." tllt r r." ltta.
listtr scntcnçt irr scr cxcctttlcla ncl ilia l5 de Fevereiro de
r597. Plulo Miki, nÍo 1>r:tlontlo contcr os transportes de
alegria, lbi ulrraçar conr ltlvoroct> a catla utl dos francis-
canos, agrnLlccenrlo-lhes cont e[l'usão a felicidade que lhe
occasionrnrm. Morrer com a mesma morte do Salvador
Jesus era para iesuitas uma gloria que os enchia de alegria
e consolação. Com egual transporte acceitaram a morte os
outros martyres, tanto que o imperador se viu obrigado a
reconhecer que se tinha enganado em seus calculos. Poucos
dias depois d'esta execuçáo, o padre Luiz Froes succumbiu
em Nangasalii debaixo tlo peso dos annos, e Taicosama fez
publicar um decreto que condemnava os missionarios ao des-
terro. A morte era-lhes tão agradavel, que o imperador
achou melhor iurpôr-lhes outro genero de per-ra ; mas no
momento d'esta promulgacão apresentava-se o padre Vali-
I rpl ,tf wi#S'ffiiii'i
I

t.
_ .'t7 -
I
gnffi trazdàdo novo josuitus, e acompanhado pelo padre
Cêiçiueira,.ooadiutor do bispo do Japão.
Or'Padro'Vnllgrrurro cra querido e veneradp de todos os
japonezer, o tlnllu umir influencia real sobre Taicosama I
pórque crto priucipc sentia, sem o saber, aquelle immenso
iredominio dn virturle chamado pelos que não reflectem a
ínexplicalel itrllttt'ncia dos jesuitas. Elle não via senão tres
padror do Oourpanhia e'isto mui rarâs vezes, os unicos a
quem sru porrnittido andar livremente e sem disfarce pelos
seug Eitrrdos : nras de tal sorte amava â todos tres que não
, ,il't;t:; lhes potlin resistir. A presença. do padre Valignani acalmou
"a soleru d'cste pagão e o decreto foi suspenso por algum
I -.trl:rit rri.
tempo, No tr:no seguinte de r598 o padre Martins, Bispo
i

- ':, il.lr:i lt do Jap6o, rlcixando a direcção dos negocios ao seu coadju-

tor, nllrliu pnra Gôa, e morreu na viagem, succeden,lo-lhe
..,r no episcopaclo o padre Cerqueira, e alguns mezes depois
':'''.'. ,
.'t:i1\rl.:i . morrcu a r 5 de Setembro o imperqdor sem ter aberto
ii
t'
,] os olhos
'âbnndonou.
Í verdadeira luz, que nem no leito da morte o_
,il1:ff(,: , Os padreg Rodrigues e Organtini fizeram vãos
i l riii;i !
, ôtforços para salvar o perseguidor dos missionarios, é até ao
:;rtt",.
ultin:o momento iàstavam caridosamente com elle ; mas t_i-
iffi"
.liil:il"llôil
'.,+lrl:l
verom â dôr de o vei expirar em sua deploravel cegueira.
'.'làii Cor:ro o herdeiro do.throno não tinha mais que seis annos,
t,i: Iili confiada a regencia a um dos reis do Japão, ch4mado
, i.,l/ , Dnifú que tomou o nome de Daifusama,, o qual, para adqui-
.,,rifi,il.trl
'::l;:!lil{i, rir parti«larios entre os fidalgos christãos, seguiu os conse.
,',:.;)g ,
lhos clue os jesuitas lhes davam, com um fim muito diffq-
:
:,llti:
ririi;,.,1:'
rsl)te e se declarou protector do christianismo. Durante
"
.
.rriit,.J
. .' ir
,
.
cstc tcmpo o rei de Firando declarava guerrâ aos christãos
,| 1,:':; i l
que cm tropel se refugiavarn em Nangasahi, onde o padre
:
. :r:,
;:: .lll,r
t Valignnni promettia recebel-os e protegel-os com todo o
,ifil 0ott pocler. Os que não fugiam resolveram tomar as armâs
:ii;iíi lr;' contfll o seu tyranno; porém of esuitas detiveram este co-
rii:l,j
| | mêço de insurreição, ensinand,b aos seus neophytos que
., '11

:\.. i;:,
, náo (i ú ponta da espada quqlse póde g,anhar a palma do
rir:ll
i :l:i '' martyrio, a não ser L* nfiorr\" iu"..""."n.t., que obri-
\

li
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 »

?l:-
bran<lo-se tlo lrcspanhol que disse: «Quando o Christianis-
gue a combater pelâ Fé. A revolta apaziguada pela simples mo estú estabelecido, a conquista não é para nós mais que
de Firando todo o po-
[al"vtu dos iesuitas fazia ver ao rei um brinco de meninosr: manda logo ao governador de Nan-
àe. da Retrígião christá sobre os coraçóes dos chris- gasaki que afaste da praia a todos os hespanhoes.
tãos, e lhe lez conhecer que a Perseguição seria inutil Estava então a morrer em Meaco, o padre Valignano, e
aos seus planos, emquânto os )esuitas estivessem no im- sabendo d'esta triste noticiar mandou pedir ao imperador
perio; pe1,o que <lecidiu espacai-a para tempo mais oppor- que tivesse mais confiança na palavra dos jesuitas do qüe
tuno. em seus proprios temores, e lhe fizesse esta ultima graca
Entretânto dilatava-se o christianismo com admiravel de suspender as ordens dadas contra os christãos. O impe'
rapidez. Só no anno de r599 o numero dos neophytos foi rador deiia-se dobrar e a zo de Janeiro de 16o6 o sancto
accrescenta<lo com rtais setentâ mil, e muitas vezes o
pa-
jesuita foi receber no céo a recompensa da sua bella vida,
<Ire Baeza precisou, como o primeirô apostolo do Japáo' e gloriosos trirbalhos, tendo sessenta e nove annos de idade'
que ll-re aurtartr.r"- os braços para continuar a adminis- Tres annos tlepois a 7 de Abril de 16o9 tambem o paclre
trar o Sacramento da regeneração' Organtini cleixou este mundo, enlutando com sua morte to-
Daifusama tinha usurpado a corôa imperial, e querendo das as christandades que tinha evangelizado.
ganhar cad.a vez -ais a benevolencia dos christãos, deixa- Os protestantes viam de longe as conquistas da Egreia
ía-os edificar egrejas até nâ sua capital"foclos os estabe- no Japão pelo ministerio dos iesuitas, e perguntavam uns aos
de
lecimentos funclarios pelos jesuitas prosperavam a1ém outros como lhes seria possivel destruir a influencia d'es-
toda a esperança; a cidade de Nangasaki possuia cinco pa-
tes apostolos infatigaveis, que invadiam todas as partes do
rochits aàministrailas por sacerdotes indigenas, saidos do mundo para as subrnetter á lei de Jesus Christo. Não acha'
senrinario clos suitas Facinura no reino d'Arima; e uma
c1e
ie
expos-
ram outro meio senão o seu já muito usado da calumnia, e
acacicmia assint couo um hospital para os menlnos corno parâ o empregarem era necessarlo estar nos Proprlos
tos. O patlrc Orglntini fr:ncllira esta casa para recolher os
logares, a estes se passaram,
meninos pirgãos, (ltlc os pues t1r'tcriam afogar ou suffocar Em r6rz foi um na.rio mexicano procurar ancoragem nas
por não iara,a, ,'',,"i,r. I)ilrll os sLlstclltar' O patlre compra- aguas de Nangasahi, levando uma embaixada encarregacla
,u-os os cr'>lrÍinv;r ít ittllâs clrri:;tãs, e os ftzia educar : era de propôr ao imperador do Japão um tratado de commer-
"
o S. Vicentc tle I)ar"tlo clo Japão' Outro oL'jecto dâ
sua terna
tratava' cio com o Mexico. Daifusama chegou-se para a praia, e per'
solicitucle eriltll os leprosos, o§ quaes recolhia, e
guntou ao capitão d'este navio o que significava aquella ope-
lhes procurava todos os allivios possiveis'
racão de sondar que estava executanclo. O capitão, que era
Peios fins do anno de r6o5 os hespanhoes, procurando
a
o Japão, des- inglez, aprovei-to: a occasiío para preiudicar ao mesmo
to<lo o transe ter relacóes commerciaes com
francisca-
tempo a y*itgi-a,o e o commercio <ios portuguezes e dos hes-
embarcaram de novo em Nangasahi com alguns panhoeíSondar os portos, respondeu o anglicano, e consi-
que
nos. Daifusama quiz vel-os, interrogou-os, e-sabendo derado na Europa coroo um acto de hostilidade: os hespa-
ás Philippinas um
n'este mestno anno a metropole enviára nhoes com a ambição de dominar toda a terra, teem resol-
grande relorço e ârmas, quiz saber o motlvo
c1e -solclados vido apoderar-se ctro Japão I e Para este Íim começou por
á'artna ,"*..au, , É prto submetter as l'1o1ucas, ihe respon- enviar os jesuitas, que são os seus espias e ltre preparam
e lem-
deram. Esta palavra ibi ,* raio que o assombrou I HISTOI{IA DÀ C. DE J. r8
 274 275-
pré'
o caminho, É co* este intento que os iesuitas andam lo., 9 povo acompanlrova es mârtyres ao cadafalso ou á
oundo rlrna religiáo falsa, e é por isso que lá na Europa el- fogueirar e o espcmirculo cla fortaláza e alegria
com que
i", ,".rn sido eipulsos de Inglaterra, Aliemanha, Polonia e elles morriam Ílerilv. novos ch,ristão, fJÀ"uo ,ouo,
repellem " a gloria de tal
Éollanda. Todos os soberanos e todos os estados martyres. [Jns pediam o baptismo, outros
os iesuitas como traidores. supplicio, e todos os que se declaravam chiistãos
eram
úão ,.precisava tanto pârâ irritar os melindres do usur- lançados n'um rol e condemnados. Foram elles
em grancle
pador, o qual mandou logà intimar a quatorze familias
das numero; porque, como nos termos do decreto
do christianismo ou o imperial, se_
rnais nobres do imperio a abiuração riarn considerados como pagãos e deixatlos em
desterro' paz toclos
desterro. Optaram generosamente pelo aquelles ,que se não fossem denunciar a
si mesmos como
Não foi tão generoso D' Miguel, filho do rei ile Arima' christãos,.-resultou que em poucos dias
se foram reÉíistar
Offereceu-lhe Daifusama a investiclura do reino, se
elle alguns milhares de neophytos e muitos _ai,
os christãos; e ." rJispunham
apostatasse e promettesse auxilial-o contra parâ a mesma honra. O governador de Meaco
ficou assom_
o'pob." principe, vencido da ambição, abiura a.verdadeira brado com o numero das. victimas que se
oÍ{.e.eciam para
féi mandà matar scu pae, derrubar cruzes,e egreias e expul- a morte, e reduziu.o a mil e ..ta.aninr. Os jesuitas
qu"."_
uns obe-
sar os iesuitas dos seus estados' Dos missionarios sidiam em Meaco eram quinzel
-as .o*Ui'nrrr* ant.a .i
deceraml mas outros ficaram escondidos para confortarem dar os nomes de seis para morrerem com os
p.rincipe apos- christãos, e
os neophytos durante a perseguição' Tinha o occultaram-se os restantes para animarem
o seu ."urniro
,",n ,uriã. irmãos, todoi de oitos annos para baixo, e levou nâ cruenta perseguicão.
a sua cieshumaniclade ao ponto de os mandar matar: mâs Muito estimavam os christãos aquelles seus
pastores,
os innocentinhos, com ,*u lo' superior á sua edade, soube- tanto que para os conservarem entre si, obrigaram_se
por
rarn aprcciar a palma do martyrio e prepararam-se para juramento assignado com seu sangue
a opporem-se com
ella com quarentír tiias cle jelum e orações' todas as suas forçaS ao desterro .to, p"d..r'.i,
Companhia:
0 protestantismo tractou logo cle pescar n'a-quellas aguas e ficaram no juramento. tão. firmes, que resisti.a_
a quân-
turvas da perseguiçío, Os ir-rglezes e os holla.ndezes, chega- tos esforços fizeram os jesuitas pro à annuil*em.
Ora este
dos do Mexico, entrarilm a rePresentar ao imperador que compromisso veio a ser .lescoúe.to
e .l"nrnci"do ao pri_
com
nada pertleria o Japão, rompendo todo o-commercio meiro ministro do imperador, e deu .* ."rriirà"
que logo
os portuguezes, e que pelo contrario ganharia muito pas- cento e d_ezesete jesuitas e vinte e sete
*s"r, religiosos hespa.
,rrrào o t."fico paia negociantes inglezes e l-rollande- nhoes de S. F'rancisco, S. Domingos
. À.'À,;ã.,i"rro, com
commer-
zes; que como homens unicamente occupados no sete sacerdotes indigenas fossem ábrigados
a'en_rbarca.
pois que to- em
cio'r-rào iriam perturbar a religião do imperio, Nanga.sahi, uns para Macau e outros para as I,-ilippinas.
<las as religióes respeitavam egualmente, e só perseguiam a ucondono, rei de Tomba, e muitas famirlas tras mais distin-
dos jesuitas. ctas associaram-se ao desterro clos seus
no anrmo rilissionarios: des_
Estes perfidos conselhos não deixaram de calar tqcros que sorlriam no nirvio pelo que uns
do impeiador, porque logo no anno seguinte, que foi
o de ::::^:_:T..
morrerâm duran\a ;
viagem e outros ao chegrr, e entre es_
a perseguição aos extremos da braveza' e por tes o fleneroso rei $condono.
1613, chegou
,insuf"t g"."ç" .i" Deus, multiplicou o numero dos neophy- Ficavam ainda no\Japão vinte e
seis jesuitas e alguns reli-
 276

a numerosa christan-
giosos d'outrâs ordens para asisdrem anno de r(lr-5 estrtvtt rt rnissão de Ethiopia nas melhore§
era uma agonia pro-
ãade do Japão: mas a sua existencia condições de ProsPcriclade.
longada. N'esta altcrnntivir de perseguição e prosperidade vivia sem'
pre a Conrpanhia de Jesus, habituada a gosar hoje a estima
xlv e ámanhii o rnartyrio. Mas nem por isso lhe faltavam voca'
ções que a habilitassem a mandar apostolos e martyres
â
l, or-TEMos
-ô agora os olhos para a Abyssinia' -- todos os pontos do universo. Em Africa ainda os jesuitas
t| P' ovíedo, patriarcha de Ethiopia' falleceu no anno evangelizavam a Guiné, onde os seus missionarios penetra-
seu rebanho sem pastort porque os ie-
à" ,177, deixando o sdus traba-
vâm em r6o4 depois de estabelecerem o christianismo em
i"i,"r'ót. tinham acompanhado o prelado nos Angola. O veneravel P. Gonçalo da Silveira foi martyrizado
tinh'm-no precedido na corôa' Alguns
il;; **.iro, irmãos caPtivost
no Monomotapa: mas muitos outros pediram logo a graça
nadres de Gôa tentaram penet;ar até seus <le se irem dedicar áquella perigosa missão, quando a Pro'
n-ridu nt'uttisca'1a empresa I até que final-
f;;;;;; da Silva chegaram'
videncia dispoz que o proprio rei pedisse para as suas ter-
;;;; ; padres Pedro Paes e Melchiorentre aquelles chris-
ras missionarios da ComPanhia'
+..rraa. a'a armenios, a introduzir-se Foi o caso que no anno de t6o8, em consequencia d'uma
tilh.1* os con-
tãos, que eram perseguidos e-não !11-t::qtt revolta de seus subditos, estava aquelle potentado em pe-
com indizivel con-
fôrtassem. Por isso mesmo foi
recebido rigo de perder a soberania.
qual, depois «le ab.ençoar e ani-
;;.-* . heroico P' Paes, o
logo ar- N'estes apertos recorreu ás armas dos pÓrtuguezes, e
;;;;';;;k, àvelhas desampáradas e perseguidas' com o soccorro d'elles assegurou o seu dominio.
que cercam o
rostando com âs ctmitarras muisumanas Em reconhecimento d'este serviço o rei pede-lhes iesui-
deante clo imperador' Este lance de
throno, llprescntou-se tas, e promette protegel-os, Os jesuitas correm; porém como
sentar o padre
valentit cncantolr acluellc principe' Mandou a pala-
.o navio encalha em um banco de areia, alguns passageiros
a seu latlo no throtlor uu'lu to- benevolencia sua
chegam a terra, mas outros perecem no desastre' Um cafre
;r" *."g.fi.a, c embora u não acceitasse Para:ifT:::: .doente e sem força para fugir á morte, ficou estendido no
propagâsse no,seu rmperlo'
ao missiãnario que a prógasse e .Çonvez: mas o padre Paulo Aleixo sabendo do seu desam'
Gôa esta noticia' e logo de
Grantle ahoroço "ot"ã''' em paro corre ao navio, tomâ o moribundo aos hombros e
o, pod".' I-uiz de Azevedo' Antonio de Ange-
1á;;;;- d'aquelie apos-
leva-o á praia por entre os recifes, que lhe rasgâm as per-
iise outros, para qurnhoarem os trabalhos nas, e com esta caridade heroica salvou aquelle desgraçado:
porque em r6ro
iá as
ã;".;;;'ácava'elle infructuoso'tinham construido colle-
mas dois dias depois o padre Aleixo, extenuaclo pela sua
de Ethiopia heroica dedicação, expirou em Ztmbáo, deixando um exem-
;;;;i;;t povoaçóes que d'alli a pouco
ãio. .".", da ôompanhia' É verdade plo de sublime caridade, que facilitou o apostolado a seus
"
i",L",,"rãàJ", ã.rii.o"uao por uma revolução p.op_ular:
irmãos pela impressão que produziu nos pagãos e musul'
protector dos christãos' e
mas p seu successor (lecl"tot'-se manos.
Pontifice' Sela-Chris-
n'esté sentido escreveu ao Summo Nas duas Americas o ministerio dos jesuitas dilatava o
de sua íamilia e varios per-
i;;; ,.t irmão, alguns membros christianismg e a civilização; os seus collegios e residen-
,oíug.n, da côrte pediram o baptismo' de modo que no cias multipli\avam-se, as povoaçóes mais remotas ouviam

\
 278
a sua voz e âcceitavam o iugo do Evangelho, e os menlnost
que em toda parte são rnais laceis de ganhar, tornavam-se
seus catechistas e rnissionarios. Em r6o4 tinha-se alargado
tanto o christianismo no Mexico, que os iesuitas, conside-
rando-se poucos para cultivar esta fertil região, chamaram
em seu auxilio os irmãos de S. João de l)eus.
Em r8o8, ateando-se â peste no Mexicor os padres exhor-
târam ôs habitantes a fazer um voto a Nossa Senhora do
Loreto, e log;o o flagello desappareceu, peio que os mexi-
canos, fieis ao seu voto, fizeram uma imagem da Sanctis-
sima Virgem, composta das mais bellas pennas das aves
mais raras, e a enviaram ao Sanctuario de Loreto'
O padre Antonio Lopes tinha nrorrido no Perú em r5qo'
envenenado pelos selvagens; o padre Miguel Urrea alguns
dias depois expirou debaixo do machado d'estes inÍieis, e
o padre Barsena continuâva a missão âté que morreu de
cansâço: mas em I6o4 chegaram cincoenta e seis iesuitas,
cheios de arclor e zelo, a esta parte do Novo l\Iundo, onde
cstavilm certos de achar uma morte tão gloriosa deante de
l)eus, quanto travia de ser igtrorada dos homens. Em Cusco
ficam os missionrtrios atlnlirad«rs clo numero de cégos que
alli encontrarl, c (lue sÍo os prirneiros a receber a luz
do Evangelho, pitr:t clcpois it cott.tttltttlicitrem aos operarios
das oíficinas, ris suas Iirrnilits c anligos. Não eram alli me-
nos numerosos os sttrdos-mudos ; n-las instruidos pelos jesui-
tas por meio tle signaes, foram aproveitados como cate-
chistas dos que pârtilhâvam esta dobrada enfermidade. Bem
depressa os progressos do Evangelho tornam necessaria a
divisão do Perú em tres vice-provincias, o Chili, o Tucu-
man e o Paraguay.
Na extremida<ie do Chili os araucanios aborreciam a na-
á sua
ção hespanhola; porque estes selvagens, acostuma<los
independencia, irritavam'se com a escravidão a que esta-
vam reduzidos; â suâ aitivez natural se revoltava á vista
d'estes conquistadores, que não contentes de os vencer conl
as armas, e de apoderar-se das sues terras, se apoderavam
')7ll
tambem clils srrrrs l)(:ss()irs, e lrs vcnrliam a quem mais offere-
cia. Ern unm re volt:r f.icratr cm r593 os araucanios tinham-se
atirado ir{r ;.iovclrrrrlor, I). Martinho de Loyola, e o ti-
nham nrirtirtlo. O Sancto Í.rndador da Companhia de Jesusr
venclo scrn rluvida do alto da sua gloria o crime commet-
tido corrtrir seu primo segundo, devia vingar-se no céo,
como tinha cosÍume de se vingar na terra, orando pelos as-
sassirros ile Dom Martinho de Loyola; porque no mesmo
anno os filhos de Sancto.Ignacio penetravam na Araucania,
sob a direcção do padre Valdivia, durando ainda a insurrei-
ção. O padre Martinho d'Aranda ousa apparecer no meio
d'este povo revoltado; falla-lhe, annuncia-lhe uma religião
que liberta da escravidão mais formidavel, porque é eterna,
e ao mesmo tempo lhe promette que o rei de Hespanha
deixará livres todos os Araucanios que receberem com res-
peito a lleligião de Jesus Cbristo, e merecerem a graca do
baptismo. A taes palavras cessa logo a revoltal d§ jesuitas
são escutados, e a palavra de Deus fructiÍica nas almas. En-
tão o padre Valdivia embarca para Hespanha; pede ao rei
a indcpendencia d'este povo, ao qual prometteu a liberdade
em nome do soberano; e o rei concede-lh'a. O jesuita
volta ao Chili triumphante; e os araucanios iançam-se-lhe
aos pcs para lhe mostrarem o seu reconhecimento; e achando
Iibertadores nas pessoas d'aquelles apostolos que lhes tra-
ziatn a Cruz de Jesus Christo, todos pediam o baptismo com
as mais vivas instancias.
Mas o Chili devia ter tambem seus martyres. O chefe de
uma povoacáo vizinha, sabendo que tres mulheres tinham
deixado a tribu para abracar o christianismo, protestou que
se vingaria: e como foram os jesuitas que converteram as
tres mulheres, serão os jesuitas os primeiros que elle immo-
lará ao seu furor. Disseram-lhe um dia que os padres iam
prégar o Evangelho para o interior das terrasl Aganonon,
que assim se chamava este chefe, segue-os a distancia acom-
panhado de duzentos cavalleiros, e quando os vê no meio
dos selvagen\..a annunciar-lhes as verdades da Fé, atira-se
l'1"
if

z8o

aos missionarios, lanca-os Por terra, e dá-lhes a morte'

Eram os padres Aranda é Vecchi, e o Irmão coadjutor
Diogo À{ontalban.
Generalato do
'Padre Mueio Yitie-
Eitás mortes augmentarâm ainda mais a actividade dos
iesuitas em procurâr a liberdade ás povoaçóes do
Chili que losehi - Sexto Geral da ComPa-
andavam evàngelisando. Por sua parte o rei de Hespanha nhia
ratiÊcava todos os seus compron'lissos relativos a esta ma- l(3I5'16'4ã'
teria, e todo o escravo, que os hespanhoes dessem ao seu
Collegio tle Sanct'Iago, era libertado por elles' D'aqui §e A r5 de Novembro de r615 o padre Mucio Vitteleschi'
vê que os negrophilos filhos do nosso seculo não teem o sexto Ge'
nascido em Roma, e assistente de Italia, foi eleito
nreràcimento da iniciativa; nem os anglicanos a podem rei- cincoenta e dois
nri au Co-punhia de Jesus, tendo de edade
vindicar com fundamento, porque ella pertence áquelles annos,
missionarios catholicos. Havia tres ânnos que os hereies e outros inimigos
dos
Depois da morte do padre José de Anchieta, que foi um iesuitas se esforÇavam em propagâr um iinmundo folheto
prodigio de zelo e caridade para corn os escravosr o rei de
ânony-o, que continha uma fabula ridicula' Este infame
He.pánhr, querencio render á sua veneranda memoria uma iit utto, cio qual ninguem oüsava declarar'se âuctor, tinhâ
1-romenagetn digna d'elle, prohibiu a seus vâssallos fazer es-
sido ií-r.p.esso etn Cracovia, com o titulo lton-ita secretd
cravos no Brazil. em
ou inrtrucçóes secretas do Geral da Companhia de 'Jesus
I"lnr r6r5 cont:rva a Companhia de Jesus cincoenta e seis n g."ng"r. influencia e fortuna pelos meios mais cri-
o..l.n',
religiosos na l3ahia, sessenta e <iois no Rio de Janeiro e Per- procedeu )uri-
minosos. ledio Tilicki, bispo de Cracovia,
nambuco, e quilrenta nas cidacles vizinhas, destinados a irem JeronimoZaororvshi, parocho de
tlicamente em r6r5 contra
soccorrer os seus irmãos ntrs nrissóes dos carnpÔs ou nos a quem a voz publica attribuia o vergonhoso es-
Oozdziec,
collegios, que por causa do nunlero crescente dos alumnos
cripto.
exigiam maior numero de proíessores.
 supposição do libello diffamatorio erâ táo grosseira-
O patlre Claudio Aquaviva, que havia trinta annos gover-
,,","n," àüruràa, que não pôde achar echo em espiritos
se-
nava a Companhia dé Jesus com tanta prudencia e habili-
riosl mas estâva reservado para o secuio seguinte o fazer-se
clade, estava exhausto de forças, mais pelas fadigas e traba- mons-
assaz ingenuo para dar mostras cle acreditar estas
lhos do seu pesadissimo cargo, <io que pelos annos' A z6 de não que-
truosiciaães. Todavia a S. Congiegação do Index,
Janeiro de 1615 foi atacado de uma doença que o levou a sobre a Companhia
rendo deixar pairar esta odiosa calumnia
3I do mesmo mez cheio de virtudes e merecimentos, dei- <le Jesus, aonda*noo a iT4onita secreta a to de
Dezembro
xando sinceramente penaliza<los a todos os principes que falsamente attribuida aos jesuitas'
cle r6l6 como
tinham tido occasiáo de o apreciar, e todos os romanos Esta ignobil diflamação, reimpressa no anno de r86o em
que o tinham sempre admirado. eAmi de la
França, ioi refutada do modo seguinte pelo
No dia em que morreu contava o instituto treze mil je- ,Ileligion de z de Agostó de r86r : oAcaba de reimprimir-se
.suitas, e quinhãntas e cincoenta casas divididas por trinta e folheto
em Paris, e de se espalhar por toda a França, um
Íres provincias.
 283
282
clls perve-rsidades que elle
en-
festa tornirl'os resPôltsirvcis se-cretd e obta
já cluas vezes secular, que para muitos leitores parece ter t O flt'to Monita
cerra. Ortt rr cs(rr l)cr6ul'tt' cada'qual deci-
ainda todos os atfactivos da novidade: lrlslrtt':i onfà' t"' respostas
i
dos icstrit:rs Polonia' onde
Monita secreta Societatis ..Iesz.' Instrucções secretas da
siva. À prirrrcirrt vc'trt u" ho-"t
a sei"nda de
Companhia de Jesus. 1"'; n terceira é dada
o livro lbi irnpresso peta primeira
Tal e o titulo. Quanto ao livro em si mesmo, eis-aqui em
por lrrrt slrllio bibliographo francez' Index' feitos
duas palavras o seu pensamento. a sagratta Congregação do
l. l') prinrcirttmente
.Procurando imitar ate em seu estylo alguma coisa das àeclaroo formalmente a
iuridicos do lostu*e'
formulas mais usadas nas Constituições da Companhia de "r";;,1,;;.,
lt>tlcMaiocle1616queaMonitasecretderafalsamente
Jesus, o auctor d'esta impostura soube reunir com perfida o testemunho authen'
attribLtida á Companltia de Jesus'Eis
habilidacle em dezasete capitulos todos os conselhos, todas IStlext oA ro de
as combinações imaginaveis de hypocrisia, astuciar cubiça,
tico do Secretario au êong"gtçá:.d: celebrada no
Maio rle r6r6 na Cottg'eg"çá õeiat
do Index-'
ambição, deslealdade e velhacaria, tudo sabiamente dissi- Ca.deal ti"ttlt*ino' tendo sido feita a relação
mulado debaixo das apparencias austeras da vida religiosa ,,,,i,"t.,".t. Societatis "Iesu' No-
tlc trrtr livro intitulado M'"ito Secreta
mais irreprehensivel. os Senhores Cardeaes
tobirgrrc r6rz, sem nome de auctor'
Depois eite suppóe que estâs Instrucções foram achadas faisamente attibuido á
tlcclitlaram que o tlito iiu'o, to*o
manuscriptas nos archivos dos iesuitas, e que por conse- (lonrpanhia de Jesus, tf'tio de caiumnias e--imputaçóes
quencia são elles os seus auctoresr e tambem por conse- "
ser absolutamente prohibido' orde-
tlitlrrnratorias' devia nin-
quencia são estas Instrucções a regra do governo dos Supe- permittido a
nantlo que de ora em deante não
fosse
riores e dos iriciados da Ordem. Emquanto ao mais, exce- em suâ casa o dito livro' Em
grrcur vender, Ier ou guardar
pto o Íbrn-rato tlo livro e mais algumas mentirâs, nada de
lódoquedeiestetestemunho,assigna<Io-dopropriopu.
,rouo ." acha nir ediçÍo de t86r, nem sequer a Advertencia Magdaleno Cop-
nho a zB tle Dezembro ie r6r6' Franiisco
preliminar. IlÍfectivarncnte quc mais se podia escrever de- dos Prcgadores' Secretario.da dita Con-
pois da in1çenhosa narração do descohrimcrlto dâ Monita i.lirf..o, da Ordem rGrT' Com
gregação. Roma, in,p'entaã" Ctm"a Apostolica
iurrrtn nos archivos dos jcsuitas ? l'lstri bem inventaclol sulerlor»'
Mas, a par das invençóes da malevolência, a historia for- I,ermissão da Auctori«lade zo foi
I)ortanto este livro, ''Jnao é obra dos Jesuitas'
nece felizmente sobre a Monita secretd alguns documentos em t6rz, 3'" o editor anonvmo de
de certo valor; e como na Advertencia nada se diz d'elles,
: i-p;;;;; ;- cracouía dizer cento e
não será inutil repararmos aqui esia omissão' É evidente
,'iit J.o.,r"ncido de impÔstura quando ousa da.Congregação
quarenta e cinco i"poit do tiecteto
que totla a questão se póde recluzir a um só ponto historico: "nno. de Bruns"T'ick'
do Index: oHa alguns 'nnà' q"" um I)uque
Á, Manita secreta é ou não obra dos Jesuitas? Começamos de Halbusúr, tendo saqueado o collegio
orre se dizia Bisrro
por aqui porque é inutil discutir cada uma das suas partest da sua bibliotheca
l;; ;;.;;;;; ã.'p"a.'uo'n' fez presente
," ,a à"-o.tttiar pelos factos ser obra de um vil calumnia- «l'elles e de todos os seus puptit 'ot Padres
Capuchinho-s'
dor, que, escontlido na somhra, se propoz arruinar por to- esta Instrucçáo secretd entre as memorias do
que acharam
dos'os meios na opinião publica a reputação de uma Or-
Padre Reitor d'este Collegio''
{em Religiosa que elle detestava. Provado que este livro Ainda mesmo ,"pponio que esta fabula
náo estivesse
não é obia <Ios iesuitas, não se póde sem iniustiça mani'

284
cheia de contradicçóes (r), esta Instrucção secreÍo estava
já impressa e era do dominio publico, havia perto de r5o
drflos antes de r76r.
.I,?,ros, que sempre sáo alguns
Esta Instrucçáo secreta estâva iá solemnemente conde-
I mnada em Roma, havia t45 annos, comofalsamente attribuida
I
I
aos jesuitas. E é em vão que parâ escâpar aqui a evidentes
contradiccóes o editor de r8z4 e o de 186I suppóem que a
I primeira edição de Paris (Paderborn) teve iogar em 166r.
I É ignorancia ou má fé, como logo veremos.
II. Antes da condemnação pronunciada pela Congregação
clo Index, o Bispo de Cracovia, Pedro Tylicki, em cuja dio-
cese acahava de ser impresso o livro da Monita, tinha ins-
taurado a r4 de Julho de r6r5 um processo contra o auctor
supposto d'esta calumnia, o qual era um sacerdote chamado
Zaorawshi, que vivêra algum teqpo na Companhiar e por
causas que deu foi despedido d'ella pelos annos de r6r I (z).
Pouco depois todos os Bispos de Polonia se uniram a
Pedro Tylicl<i, Bispo cle Cracovia, para protestar contra
este insigne embuste, que nunca achou credito, diz um his-
toriador, senão entre os ignorantes) ou entre aqueila casta
de homens quc não podern viver sem tl'aPâcas.
Alem d'isto o Nuncio clo Papa ern Varsovia apoiou com
a sua auctoridade, a r5 de Noverntrro de 16t5, o processo
intentado pelo llispo «le Cracovia contra Jeronimo tleZao'
rowshi; e linalnrente, ir zo cl Agosto de r66r, André Lipslii,
A<iministrador do I3ispado de. Cracovia depois da morte de
Pedro Tylischi, condemnou o livro da Monita secreta como
um libello diffamatorio e prohi§iu a sua leitura.
N'este mesmo anno de r6r6 o conde de Ostrorog, pala-
tino de Pos.nania, escrevia a seus Íilhos n'um livro impresso
em Neüs na Silesia. oNunca existiu escripto concebido com
mais malicia do que o que um impostor anonymo acaba
de publicar com o falso titulo de Instrucções secretas da
(r) Veia-se -Le Monder:6 Juin 186I.
(z) Barbier, I)itlionnai,re dts Anongmcs.
zti5
Conpanhirr rír' ./t'stt.§. l')ste lmpostor, não tenclo podido
achrlr n()s rtrttrlrrtts tllr Companhia nada que se prestasse a
umü flcdusllçli() c()tltrâ a )ustiça, ou contra os bons costu-
mes, l(Iilorl o expecliente de os accusar deante do mundo
to.l,i. t': parir que se désse credito a suas palavras fingiu ter
bcbitlo os segredos que revela, não em fontes estranhas,
scrrÍo no proprio seio dâ Companhia".
*
$ ()ra de todos estes factos resulta que ainda mesmo antes
da condemnacão pronunciada em Roma contra o livro da
1
Monita secreta, iá elle era considerado em toda a Polonia, *
unico paiz do mundo onde então era conhecidorcomo obra
de um impostor, e que este livro foi alli condemnado pela
auctoriclade ecclesiastica como /alsantente attribttido aos
Jesuitas.
IIL Um bibliographo distincto, cuio juizo faz auctoridade
entre os sabios, Barbier, em seu Diccionario dos anonymos
e pseudonymos, t. III, n'o 20:985, colloca o livro da Monita
secrctít entre ats obras apocryphas. E accrescenta que
Gretzer, na refutação que publicou d'este livro em r6t8,
o attribuiu a um Polaco plebeu, e que Mylio t' II' p' I356
nomeia este autor Jeronimo Zaororvsliy, expulso <la Com-
panhia pelos annos de r6rr. Appareceu, diz tambem, uma
traducção francezanos Segredos dos Jesuitas, Colonia r669,
in-r:, reimpressos com o titulo de Gabinete Jesuitico' Joáo
Ie Clerc fez imprimir outra traducção com o texto iatino
no Supplemenro tlas Memorias de Trévoux em Maio e Ju'
nho rie r7or. Existe uma edição particular com o titulo de:
As intrigas secretds dos Jesuitas traduzidas da Mbnita se'
creta, Turim I7r8, in-8'o. A mesma traducção foi reimpressa
com algumas mu<lancas e o texto latino com o titulo de
Monita secreta, ot Avísos secretos da Sociedade de Jesus'
Paderborn (Paris) r76r, in-rz' Limiterlo-nos aqui a tres
observaçóes :
r,o Este sabio bibliographo, a qr-rem ninguem accusotl
nunca cle parcialidade a favor dos iesr"litas, reconhece que
este livro lhes e falsamente dttribuido,' porque dizer que
l
 287
286
e disserem todo o nral contra vós nrentindo: alegrae-
livro e apocrypho é dizer que as asserçóes que contém
este vos, porque o vosso galardão é copioso no céo. S. Matth.
prouuãut, nem são àuthenticas' z'o Não foi
em
.á. "rta, ediçáo' mas um se- V. ro. rr.
.o*o diz a Advertenciâ da nova
,ààr,
em r76r Monita secreta foi impressa pela
qrse a
"rio'a.poi. em'P"'is (Paderborn)'.A d.":* náo é indiffe- II
;;;;il; da philosophia voltai-
renter porque ..u tt""o o reinado
dmtgos, que sempref.cara alguma coísa' lprsÁrr cl'estas infames imputacões a Companhia de Jesus
r\arta'. Menti z,eus
fl continuava a dilatar.se na .A.llemanha, na Polonia e na Rus-
gr," aiui.u de Voitaire e á'-'ou tttol" basta para explicar
sia I mas, como os progressos da Companhia são os da
muita calumnia. ligreja Romana, entenderam os Lutheranos que cumpria
houve
**ôUr..u.*os
-. finalmente que ao menos então ainda cletel-os, ou âo menos embaracal-os. Para esse eÍfeito no
astut;mente com o nome de Pader-
;;;;t de occultar Mas anno de l6r8 tomam as armas, sublevam as povoaçóes da
born esta edição, que ninguem ousava reconhecer' editores llohemia sob o commando de Frederico, eleitor palatino,
hoie estamos a* p'og""lo : visto que um dos
e perseguem na À[oravia os jesuitas que se tinham refu-
o seu
*ilt .ott,..idos de Éaris iá se atreve a collocar pessoas' <liz giado em Brun. Expulsam-os do seu reriro a 5 de Maio de
edição' Muitas
nome no frontispicio da nova por 1619, largam fogo ao collegio, e depois d'esta expedicão,
nâ cârta já citada' teem refutado
o conde de Ostrorog que a querendo os vencedores recompensar nobremente o prin-
a.aripto esta insigne irnposturat e comtudo Pensam dar a taes cipe que os conduziu á victoria, tornam a entrar na Bohe-
resposta que se-póde
melhor e a mals sr*plàs mia, Ievam outra vez o ferro e o fogo, como argumentos, ás
effectivamente não ha
calumnias é um dcsrttctttido aisoluto: cidades catholicas por onde passam, e coilocam na fronte
por gosto'
tàtf.tt^ mais conveniente a mentirâs inventadas de ver' de Frederico a corôa de Bohemia,
a isto, como acabamos
A Provitlencia cleu remeclio a calu- O Duqúe Maximiliano de Baviera era alumno dos jesui-
IIa dois seculos, que cstc libello está a derramare chegou tas, e seus sentimentos de piedade e sua ardente fé não
chegou'
*niu roUr. os jesuitas; mirs o tlesntcntido conro cla podiam deixal-o tranquillo espectador de tão tristes devas-
,o ,rrar*o terr-,po ,.'in' da Attctoriclttrle episcopal tações. Portanto desde o começo do anno de 16zo reune
Sú Apostolica à .las i'r'llgaçtics cln scicncia'
,
Companhia suas tropas, põe-se á frente d'ellas e para obter a bencão
Ms sem duvida a razáo-porque os Padres da tle Deus sobre as suas armâs pede á Companhia que con-
emquanto de novo se es-
cle Jesus guardam hoie silencio ccda ao exercito bavaro dezoito jesuitas que o acompa-
por toda a França este folheto astuto
oelhancorà rrrofusão rrhem, como penhor de bom resultado. Com effeito o ee-
i iin n',u,orio. É ."ito que elles teem direito a refutadoProcessâr
e ncroso duque marcha até Prâgâ de victoria em victoria,
io. ãir"*"çao o editor dL um escripto mii vezes rlcrrota o Principe Frederico, tira-lhe âs suas conquistas, e
nlarrifestanrentementiroso,maspreferiráonãooppôratan. lcsttrbclcce por toda a pârte a ordem.e a subordinaçáo. O
e absoluta' oppondo
tâs mentirâs senão uma rrcg'açãnio'mal rci rlos herejes teve de retirar-se, e como tinha reinactro a1-
á ignoranciã ou áimpostura os testemunhos
simpiesmente qnns n)czcs sómente, os Allemães deram-lhe o sobrenome
da
..unido, da aucúriclade ecclesiastica e das indagacóes rlc rci tlo inverno. A guerra seguiu-se a peste, e os soldados
Utttt
sciencia, e lembrando-se que o divino Mestre :1?:: íirrunr os priurciros atacados I porém os padres da Compa-
aventuradossoisquandovosinjuriarem,ePersegulrem
 I
288 zÍl1t

nhia logo se dedicaram a assistil-os, e seis d'entre elles l,,sta rrorl.lrc/,tdc dos irtttoccntes dc ral sorte lrgntrlorr :,r
*;;;.í* n'esta sublime dedicação' Esta sancta abnegaçáo'
mesmo
rrnivcrsidirrlc dc Lovaina, que decidiu enr sessão plenit rrrun_
dar copius cla c:rrta de Cracovia a todas as universirladcs,lrt
tão eloquente em seus effeitos, não impedia.assim
sempre aquelles religiosos com o l,)uropa. A de l)aris distinguiu.se pelo moilo corn que lhc
, de perseguir
"rirrnrri*
infernal veneno ! rcspondeu prodigalizando maldições á Companhia <Ie Je_
--ó
seu
."i de Polonia, Sigismundo, queria fundar um colle- sus, fezendo os maiores elogios aos insurgentes polacos, e
niod.i".rrit*snacidatledeCracovia;mâsauniversidade rlcclarando que ella chorava amargamente as victimas ,la
il;";i";i;g" altos clamores dizendo que isto êra levan- crueldade dos ;'esuitas. Se os universitarios de Cracoi.ia
tu, cãntrc e redigiu uma Memoria que apre- livessem dirigido a sua attencão fara o lado da Lovaina,
"."olu ".cola, em parte teriam visto n'este rnesmo anno de r6zr os Lutheranos
,.n,ou ao rei. Sigismundo tinha sido educado os uni-
que suecos ohrigando a cida,le de Riga a uma capitulação, <-"m
p.J.tl.."i,^tr pãdiu apreciâl-os melhor-do
"
versitarios, que e§tâvâm cegos pela inveia'
I eu na Memoria que um dos artigos, e o mais importante, era a expulsão
em mil artificios' versados na dos jesuitas; e teriam visto estes religiosos rieixar a cidade
o.," o. J.rrritn. são sabios
;; jã nr*i.-tl-pri.idade ; mas a respostâ que lhe deu foi tão humildemente, como tinham entrado n'eila, sem petr-
s".., proie*o, e fundou o collegio' os
uni- sarem em matar nem innocentes, nem cu.lpados, mas orantlo
;;;;#.io
,"rriturio., ven.lo a Polonia ameaçada d'um.ladoâ
pelos sempre por seus inimigos e perseguidores. Alguns dias de_
Lutheranos, e do outro pelos Turcos) aprov.eltam -con- pois Gustavo os expuliral's de Venden, e elles saíam de Vetr-
e obterem pela tnsurretçao o den do mesmo modo com que tinham saído de Riga com
iunctura para se revoltarem
qre Sigisn-,r,rclo negava a seus rogos' O throno é electivo' o coracão cheio de caridade para com aquelles mesmos que
outro re l, e the imporiam a condiçáo de nunca por sua extrema cegueira os amaldicoavam. E como eram
escoll-reliarn
pernritti. tqttr.: t ttt-tivcrsitlutle àe Cracovia seia ameaçada da Cornpanhia de Jesus, não deviam esquecer esta palavra
dos icsuitas l)cciclido este pla.o em r6zt de Jesus aos primeiros Apostolos: «Se vos expulsarem dê
;;i;;;;.";."ncit
tomam as ilrmits, o rci prlrctlr lirz nlarchar as suas. tropas uma cidade ftrgi para outra». O palatino de Smolensli, Cor-
contraestessabioseeslLlditÍ)tcsrebellados,efeenvlaâuns vino Gosiewshi, não deixou Gustavo Adolpho ir mais para
seus bancos' (lcante; rnas foi ao seu encontro, atacou-o perto de Duna_
DAra :ls suas ca.leiras, c â outros Para os
t de novo rrruncle, e o desbaratou: e depois, para dar gracas a Deus
O. ,.n.i.los, ohrigados a depôr as armas' tomâm
um resultado nrenos clesas- I)or csta victoria, fundou um collegio da Companhia na ci_
a penna com a esperanca de
í
irJ.o. er.r.ue* "tiue'si<lade de Lovaina' fazem-lhe a tlltle d'onde acabava de expulsar os inimigos d'ella. Dei-
a cidade de x('nr-nos repetir aqui esta observacão: por trâz de todos
;;çã á". acontecimentos tragicos de que
acaba cle ser theatro) e com o tom.nlâis
grave os orlios, de todas as accusações, de todas as perseguicóes,
Crucouiu
z8 de Juiho e passou c()nr que a Companhia tem sido sempre honrada, se bem
dizem n'esta carta, que tem a data de
o san-
i*p....n á poste.idáde : uA cidacle íoi inundada come não se
so Jrrocurar e examinar acha-se sempre a inveja, a heresia,
;r irnpicrlacle, ou as nrás paixões.
gue dos innocentes que os iesuitas <lerramaram'
de matança' enrpregaram algo- l')rrrt;rranto os jesuitas eram repellidos pelos universila_
dantlo ainda por sactados
movidos de com- r r,,:, (l(: (lracovia e expulsos de Riga e de Venden
zes, cuios braços se cançâram, âté que por urÍr
continuar esta mortandade»' crlr'.'ito rlc Lutheranos, os Hungaros faziam instancias na
paixão se recusararn emflm a
ll}.l t(,lil^ t)À C. t)L J. r9
 290
côrte de Roma para qr:e o Arcebispo <Ie Gran não fosse
outro senão um Padre da Companhia de Jesus, Pedro Paz-
many. Este iesuita era o apostolo amado da Hungria, onde
tinha convertido mais de cincoenta familias das mais no-
bres; pelo que tendo morrido o Cardeal Forgaez, Arcebispo
de Gran, foi o Paclre Pazmany chamado pelos votos una-
nimes de toda a diocese a occupar aquella Sé. Mas todas
as instancias iam-se quebrar na humildade do Religioso,
nem o Imperador Fernando II foi n'ellas mais feliz do que
os seus subditos. Recorreram então ao Summo Pontifice,
dizendo lhe que ninguem seria capaz de conservar a Fé
como o Sancto Religioso, a quem a Hungria devia tão bri-
Ihantes e tão numerosas conquistas sobre a heresia, e que
nenhum conheceria tão bem as necessidades da diocese,
nem sustentaria com mais viBor a lucta contrâ o Luthera-
nismo, e que nenhuma outra voz seria comprehen<lida,
amada e obedecida como â yoz Íáo respeitadâ do Padre
Pazmany. Moveu-se o Papa com estas razóes e o Padre Ge-
r'âl teve de ceder e ordenar ao humilde jesuita que accei-
tasse aquelle peso.
Em Italia e no reino de Napoles, onde os herejes tinharn
rlcnos entrat.lir, cntregavam.se os jesuitas com mais segu-
rança do futuro ir tocllrs as obras inspiradas pelo seu zelo
e carittrar-le. [Irn Napolcs o Prrclrc l)irvone fundou uma Con-
gregacão cle Saceri,totcs tlestinados a formar jovens nas lir-
tudes sacerdotâes) e esta Congregacão teve taes resr:ltados
para bern da Egreja, que clentro d'alguns annos deu-lhe um
Summo Pontilice, quinze Bispos) cento e oitenta Frelados,
e un:a mr-iltirlão de Sacerdotes cle um rnerito en:inente. Oi-
tenta casas <l'esta Instituição se estâbelecefam nc rc,ino, e
1á continúa ainda cheia de vida. Na mesma cidade estabe-
ieceu o Padre Piétro I'eragut em r6r7 a Confraria da Mi-
sericordia para allivio ou iivramento dos prisioneiros.
Ilm Luca tinham'se levantado graves diíficuldacles entre
ô Bispo e os habitantes; rflas o Padre Constancio, sendo es-
colh.ido para medianeiro, restabeleceu a união e harn:onia
21)I._
Éutrí! í) lrlst(,t= (! o rcblrnho. lim Malta tinham-se formado
,llir lrtrlirLrs .:nlr() ()s cavalleiros, que rompiam em frequen-
tr': lrriHrrs. Mrritos l)rincipes se tinham esforcado pârâ os
rr.r'onciliirr; nrils sem resultado, até que o padre Carlos
l\lrrstrilli crrrprehencleu conciliar os espiritos e nenhum lhe
r*iistitr, scrr?Ío que fazendo cada parte as concessóes pro-
lrostrrs pclo l)adre, ficou restabelecida a concordia.
l,lur lilança o Padre Coton tinha obtido a permissão de
lr t'opoLrsâr por algum tempo em Roma da vida agitada,
(llle como confessor do rei tinha passado no meio de tan-
trrs intrigas cla côrte e de tantas ambiçóes de particlos,
srrr:ccdendo-lhe, como confessor de Luiz XIII, o Padre Ar-
ruorrx. O uome de jesuita devia suscitar inimigos ao padre
ALuotrx, como os tinha suscitado ao padre Coton; porque,
irl)esrrr (las calumnias que o espirito do mal se comprazia
t.rrr lirzcr pairar sobre a Companhia de Jesus, sabia-se, nem
s(,us nrcsmos inimigos ignoravam, que os jesuitas não tran_
stH()r)rcom a sua consciencia, nem se porão nunca ao ser_
viço da ambição. Nada havia portanto que esperar do con_
li:ssor do rei, quando a gloria de l)eus não pedisse a sua
irrtervenção. As intrigas da côrte tinham feito uma cleplo-
lavel clivisão entre â rainha e seu filho, Maria de Nféc.licis,
presa no castello de Blois, era tiradâ d'alti pelo duque
d'Épernon, que a conduzia a Angoulême, d'onde seus par:
tidarios se propunham defendel-a contrâ o filho, que, com
escandalo do reino, se dizia que ia declarar guerra aberta
zr sua mãe. O Pa<lre Arnoux já se tinha opposto, mas em
vão, aos factos consummados ; mâs quem o podia saber ?
Empregar agora o mesmo meio para impedir a guerra par-
ricida teria sido expôr a palavra de Deus a uma ásterili.lade
<lesconsolada: com tudo para evitar um grantle crime e
tuma grande effusão de sangue, atreveu-se o padre pré_
gando deante da côrte e do rei, a fazer allusão ao ruido
rlue corria, e a exclamar,com liberdade apostolica: nNão
se deve crer qlte um Principe religioso puxe pela espada
;rara derramar o sangue de que é formado... Senhor, vós
';:-': .
292
não dismentireis o que estou dizendo na cadeira da ver-
dade ! Eu vos peço encarecidamente pelas entranhas de Je-
sus Christo, que não accÊiteis conselhos violentos, nem deis
este escandalo á Christandade".
O rei entrou em si, reflectiu e, seguindo os conselhos
do Padre Arnoux, reconciliou-se com Maria de Médicis.
Porém o Duque de Luynes não perdoou ao iesuita um
successo que mallograva Íodos os seus planos occultos, e
dois annos rlepois em 16zr, caía o Padre Arnoux em des-
graça como intolerante, aintia que jesuitp, e era substi-
tuido pelo Padre Seguiran. Não era isto o que deseiavam
os cortesãos que com um iesuita não ficavam á vontade I e
por isso logo que o Padre Séguiran appâreceu na côrtet
foi accusado de aspirar ás primeiras honras e disputar o
passo aos Bispos e aos Cardeaes. Este ruido chegou aos ou-
vidos dos Cardeaes de la Rochefoucauld, e de Richelieut
que logo o desmentiram, como odiosa calumnia; mas já
elle tinha corrido assás para ser explorado e acreilitado ao
longc, conro todas as outras imputações assacadas contra a
Conrpanhia.
No c«rnreço d'este mesmo anno de r6zr subia á decisão
du Stnctn Si unra causn singular. I.embram-se do meio en-
gcnhoso enr que tlcu o zeloso Patlrc Roberto de Nobili
porü collvcr(sr os lndios do Mrrclurc? Nío Ítrltou quem se
cscirrtrlulizrrssc tl'estc nrotlo tlc sc Jaicr tudo para todos
a.fim ,lc guthat' t lodos l,drtt Jasus Clústtt' Fizeram'se
qucixus cnr (ióu, o utú enl l{oma, nits quaes o sancto missio-
nario e ra nccrrsudo dc sc 1cr l'eito lJrahmane, de se accom-
I
modar á idolatria Indios, de approvar as suas super'
tl«rs
ii
stições, en'l uma puhvrir, tlc ter abiurado a fé e de offerecer
incenso aos idolos. 0 Cardeal Bellarmino, seu parente, di-
r"ii
rigiu-lhe ternas erprotrrações, e as ordens severas do Padre
Provincial e do Patlrc Ccral foram deterozelodobom Padre
no meio dos mais brilhantes successos, e purifical'o com a
1i
prova mais dol«irosa que ha para o coração de um apostolo'
O Padre Nobili ainda insiste, expõe as suas razões que
I
ll
1,93
o Àrc'elrispo tle Oranganor, em cuia iurisdicção está a Mis-
xiírr rlo MltlurC, approva, e D. Aleixo de Menezes, Arce-
lrispo rlc ( iriir o Primaz das Indias, ionÊrma. Um e outro Pre'
Irrrlo, conro conheciam asSás o valor e significação propria
rlos d<lstumes dos Indios do Maduié, eram iuizes compe-
tcntcs (1.'r tolerancia do Missionario. A sua decisão serenou
('stíl tempestade, e o Cardeal Bellarmino assim como o Pa.
tlrc (lcral consoiaram por meio de suas cartas o generoso
Missionario, assegurando-lhe que a sua causa triumphava
cnr llomir. Assim estavam as coisas quando, sendo revocado
o l)r'inraz para o reino, o seu successor, ignorando os costu'
lnos (lue elle julgava idolatricos, resuscitou a controversia e
proscgtriu o negocio com uma especie de encarniçamento.
.,() I'rrtlrc Nôbili foi chamado a Gôa, e alli se apresentou
corn o Ârcebispo de Cranganor, levando uma Memoria que
rrirrrl;r lro;'e é considerada como o mais bello rnonumento
rlrr sr:icrrcia e do genio apostolico.
l,lstrrva reunido em Gôa um concilio para iulgar o me-
tlro,lo clo Padre Roberto, o qual methodo soffreu no Con-
r:ilir> violentos ataques da parte do Primaz, do Inquisidor,
c tlc alguns membros do Clero; mas foi vigorosamente
tlcfendido pelo Arcebispo de Cranganor, pelo segundo In-
tlrrisiclor, pelo Visitatlor, pelo Provincial, pelos Superiores,
c pelos Theologos da Companhia, que, tendo-o reprovatlo
ao principio, ficaram agora esclarecidos pela leitura
rlrr Memoria do Padre Nobili. A senlença <le condemna-
çÍo estava de ante-mão preparada ; mas o Primaz não
()usou pronuncial-a, e limitou-se a enviar a Roma as Actas
<lo (loncilio. Lá,.a Sancta Inquisição deu o seu iuizo, e Gre'
gorio XV ternrinou estes longos debates por meio da sua
lltrlla de 3r de Janeiro de 16z3 em favor do Padre Nobili'
Assim acabou uma discussão que por espaço de doze
:rr111os tinha suspendido os progressos da Missão, e lhe tinha
cirusado males irreparaveis (t).
(r) Iista discussão avivou-se, passado mais d'um seculo, e teYe uma
rolrrçÍrr rnuito ilift'erente.

29+
Pelo mesmo tempo, querendo o Papa Paulo V dar á Com-
panhia de Jesus um testemunho do seu reconhecimento
pelos serviços que ella tinha presta<Jo á Egreia durante o
seu pontiÊcâdo, resolveu elevar o Padre Geral á dignidade
de Cardeal : mas o Padre Vitelleschi, tendo conhecimento
d'esta noticia, reune os Assistentes das provincias, annun-
cia-lhes o golpe de que está ameaçado e ordena-lhes que
empreguem todos os meios possiveis para o desviarl e feito
isto, esconde-se. O Padre Balthasar, Assistenle de Franca,
foi o encarregado de levar aos pés do Summo Pontifice a
expressão da viva dôr da Companhia e da do seu Padre
Geral, que amava immensamente mais a humildade do que
a sua propria vida. Dissipou-se porém o perigo, porque o
Summo Pontifice, minatlo já por longa doença, veio a falle-
cer por aquelles clias, e a 9 de Fevereiro de 16zr Grego-
rio XV succedeu a Paulo V.
No mez de Agosto do mesmo anno os Anjos roubaram á
terra o foven jesuita João Berchmans, alumno do Coliegio
llonrano e tligno emulo de Luiz Gonzaga e de Estanislau
I{ostl<a; e a r7 tle Setembro seguinte o CardealBellarmino,
sempre jcsuita clc cspirito e de coração, coroou a mais bella
vida com a mais suncta morte, tendo de edade setenta e nove
annos. 'l'otla a l,)grcja lconrpanhou a côrte romana no lucto
e na dôr. A C<-rnrpirrrlria dc Jcsus, n'aquclla imrnensa perda
que soffria, só se podia consolar; porque perdendo nâ terra
tão grande Íjloriil, contava no cio mais uma gloria e mais
um intercessor. Crcgorio XV, da familia Ludovisi, fôra
altrmno dos 1'esuitas no Collegio germanico, do qual teern
saido tantos homens celebres (l). Apenas fôra elevado á
Cadeira de S. Pedro, todos os Soberanos catholicos da
Europa e do oriente se apressaram a renovar as suas ins-
(t) Áté ao fim do secnlo XVIII sairam do Colleeio sernranico r paoa.
(Gregorio XV), z r Ca ,draes, 6 .Eleitores do Sacro'Ímoãrio. ra princio'es.
zr Arcebispos e Prelados, zzt Bispos, q6 Abbades mitraios e Geraes de'Orl
dens, l l MürtyÍes da Fé e l3 -Martyres da Caridade.
_-I-or sua paite o Collegio Romíno derr á Fgreia q Papas, inc)uindo Leão
Àlll, gÍande numero de Cardeaes, sabios iliustles e grandes sanctos.
I
295
tâncias para a cânonizaçáo de St." Ignacio de Loyola e de
S. Francisco Xavier, ambos beatiÊcados por Paulo V, seu
predecessor. Tres Principes) antigos alumnos dos jesuitas,
o lmperaclor Fernando, Segismundo, rei de Polonia, e
Maxirniliano de Baviera e alem d'estes Luiz XIII, rei de
Franca, Philippe IV, rei de Llespanha e de Portugal, to'
dos os Principes de Italia, todos os reis christáos das In-
dias e do Japão solicitavam simultaneamente a glorificação
cl'aquelles dois heroes do Evangelho, aos quâes o Proprio
Deus se comprazia em glorificar por neio cle tantos mila-
gres. Gregorio XV, cedendo â tantos tleseios, pronunciou
o elogio C'estes dois sanctos no Consistorio cle rz de Fe-
vereiro de 16zz, e celebrou a festa da sua canonizaçáo a
rz de NIarço, mas a morte não the deu ternpo para publicar
a Bulla apostolica, que devia ser o remate tle totla a obra.
Esta consolação estava reservarla para outro alumno da
Companhia cle Jesus, o Cardeal Barberini, qLle cursara o
Coliegio romano, ao qual a Egrefa deve grantles luminares
de sciencia e virtude. Assumpto no dia 6 de Agosto de 16z3
ao Summo Pontifica<Io, tomou Barberini o nr:me cle Ur-
bano VIII, e deu ao mllndo câtholico no mosmo dia cla sua
exaltação a tão <leseiada Bulla.
É consolador ver assim unidas nas mesmrs honras e no
mesma gloria Igaacio e Xavier, estas duas grandcs almas,
das quaes só Deus era o vinculo, qLle se arnavam coffi
aqueila ternurâ viva, e aquelle desapego sublime clue são
o sello divino das affeiçóes sanctas d'este munclo.
III
ToDos os Princípes allemães colligados em odio da Fé lto'
I *"n, tinham escolhido Christiano de Brunsrvih para ge-
neralissimo do exercito dos Confederados; o clual tomou o
titulo de Bispo de Herbestadt e em sua dupla qualidade se
fazia preceder de dois estandartes, que não deixavam ne-
nhuma duvida sobre o que se devia esperar cle tal vence-
.:;''r*l
296
rlor.f Na primeira d'estas bandeirasl que ,tremulavam na frente
do exercito que elle commandava, se via uma tiara lan-
çada por terra, e nâ outra se lia a divisa adoptatla por Chris-
tiano: «Amigo dos hornens, e Inimigo clos Jesuitas., Nada
prova com mais evidencia que os iesuitas e a Egreja não
erârn para os hereies senão unra e a mesma coisa, e que o
odio que elles proíessavam á Companhia de Jesus era uma
consequencia do o.dio que elles tinham á Egreja Catholica.
João, Conde de Tilly, alumno dos iesuitas e general do
eaercitc imperial, atâcou a Christiano perto de i{oêstings,
v{3nceu-o, e depois tomou ao eleitor Palatinn, Frederico, a
ciCade de Heidelberg, da qual este ultimo se tínha apode-
ratir:. O Conde de Tilly levava alguns Padres da Compa-
nli:ria no seu exercito; náo só para não expôr os seus sol-
dauios a morrerem sem os soccorros da Religirio, mas tam-
bem para attrahir sobre as suâs armâs as bencãos do céo.
Dopois cie retornacia a cidade de l-Ieidelberg tornarâm os
Padres a ertrar n'ella, e a dedicar-se com o rnesmo he-
r:úismô de sempre. Tiveram assim gran<les ruinas que levan-
ta r, grantles tlores que consolar, e grandes miserias que soc-
crirrer; nrirs lt suíl caricla<ie pôrle abranger a tudo,
Ao nresnro tcmpo o l)adrc Sanrl caía debaixo do alfange
clos l-utheranos, c o l)irrlrc Arnold lloecop era envenenado
pelos soltlaclos clc Lirncsto dc Mlnsfcld.
A zo cle .lanciro rlc r(iz4 o l)adre l)ecan, confessor de
Iiernando Il, nrorreu em Viennr, e lbi substituido pelo Padre
I-ar:-rormaini. J'oclos os l)rincipcs Catholicos rie Allemanha
queriarn ser dirigiclos por um membro da Companhia de
Jesusl e como na epocha a que somos chegados a maior
parte d'estes Principes tintrarn sido educados no Collegio
germanico, ou tinham recebido cedo os seus ensinos pie-
dosos, todos podiâm ser considerâdos como seus alurnnos.
D'aqui vinham as declarnaçóes furibundas dos herefes sobre
o poder occulto dos jesuitas, declamaçóes tantas vezes re-
novâdas, que teem adcluirido, em virtucle da credutidade
publica, a importancia de um facto historico. Elles tinhaml
297
é verdade, e terão sempre um poder immenso, que ê o oç
làzer bem; o outro poder que lhes exprobram, esse não é
rnais que a influencia da humildade e mansidão, e o predo-
minio da virtude: Os mansos possr.rirão a terra. Esta pala-
vra divina saída um dia dos labios do Homem Deus sobre
a multidão que cobria uma montanha cla Judéa, explica bem
um poder que a Cornpanhia de Jesus não empregou nunca
senão na gloria e nit mtior gloría de Deus.
Em Allemanha nos Estados governados por Principes ca-
tholicos podiam os jesuitas pedir e obrar com toda a liberdade,
eisto lacilitava ao seu zelo os prodigios que allioperavam. Em
Iglau, em Znaym, e na Moravia, não havia nem um só ca-
tholico; o Cardeal Dietriehstein pede Padres cla Companhia
de. Jesus, e os estabelece no meio d'estas povoaçóes here-
ticas, e tres annos depois a cidade Znaym offereceu ao Im-
perador Fernando II um Crucifixo de ouro massico, no
qual tinha mandado gravar esla lettra: de fideli-
"Penhor
dade offerecido a Fernando II pela cidade catholica de
Znaym,.
Náo havia,nem um só câtholico n'esta ciclade) e agora
não ficava n'ella nem um só hereje; e a de Iglau apresentava
egual maravilhzi: Os I-utheranos de Giatz, rebellando-se
contra o Iirperador, tinhan-r expulsado os Padres, como
consequencia de tocla a insurreicão. Fernando submette os
rebelcles por meio das armas, e determina exercer n'elles
um grâve câstigo;mas os Lutheranos, como conheCem bem
a indole das victirnas de suas calumnias, recorrem aos
mesmos jesuitas, que tanto perseguiram, amaldicoaram e
expulsaram, e supplicam-lhes que thes impetrem o perdáo
do soberano. Os jesuitas aproveiram esta occcasião de
fazer uso do seu tão calumniado poder, imploram clemen-
cia do Impera<lor para os seus pe.rseguidores, e a obtêem.
Os habitantes de Glatz, vencidos entáo por este grande
exempio de caridade evangelica, tornaram a chamar os je-
suitas, e consolaram-os com o seu regresso ao seio da
Egreja. Em 16z6 Fernando II mandou fazer o recensea-
 ,gti
mento dos herejes do seü imperio que tinham sido conver-
tidos pelos jesuitas, e achou que subiam a mais de um mi-
lhão. Devemos concluir d'aqui, diz o doutor Raohe, que o
Protestantismo não ttnha ainda lançado raizes profundas
nas povoaçóes, ou deve-se antes attribuir e§ta revolução
,l
á propaganda habii dos jesuitas ? Ao menos não lhes faltou
nem zelo nem prudencia. Vós os vedes alargarem o seu
zelo successivamdnte por todos os logares que os cercamt
attrahir e arrastar os povos de modo que as suas egreias
são sempre as mais frequentadas, Se encontram em alguma
i
parte um lutherano versado na .Biblia, cuio ensino exe.rça
I predominio sobre os seus vizinhos, logo os iesuitas em-
i' pregam todos os meios para o converter, e quasi sempre o
i conseguem, como tão habituados á controversial Mos-
tram:se caritativos, curâm os doentes, procurarn reconciliar
os inimigos, obrigam com juramentos sagrados aos que iá
lr
t,
teem trazido á fé, enfileiram os fieis debaixo clas suas
I bandeiras parâ as suas peregrinacões, e n'estas procissóes
I misturam-se até homens que, ainda ha pouco, eram protes-
tan te s.
l. i
Os Protestantes em sua revolta de máo armarla ti-
hham-se apoderado dos bens do Clero e das Ordens Reli-
t't. giosas, e sem nenhum escrupulo os apropriaram ao seu
uso particular. O Nuncio do Papa, Carlos Caraffa, aiudado
f' do Padre Lamormaini, conseguiu que o Imperador orde-
t.
nasse a restituição d'estes bens, como a Sancta Sé exigia,
e que os Mosteiros deshabitados fôssem destinados a es-
tabelecer Seminarios e Collegios dirigidos pelos iesuitas
e por outros Religiosos. Estas providencias irritaram a co-
lera dos hereyes, e a g de Agosto de 16z9 o Padre Burnat
foi morto ao pé do altar na aldeia de Libun e, passado
pouco tempor morriam tambem ás mãos do§ Protestantes
ii'
,t' os Padres João Meag e Jeremias Fischer e os Irmãos Mar-
tinho Ignacio e Venceslau Tronoski.
i1
Na Allemanha e em outros povos catholicos, de envolta
i'í com os magicos e feiticeirosr.que eram condemnados á fo-
íii
l,l
irli
;f
I
299
gueira, morriam do mesmo supplicio victimas innocentes
arremessadas ao fogo pelas mãos do odio e da vingança.
A accusação de sortilegio e magia suppria por qualquer
crimel o fanatismo suppria a falta deprova;os juizes raras
vezes sentenciavam com conhecimento da causa, e por con-
seguinte as execuções tornavam-ce cada vez mais nume-
rosas,
Em r593 Cornelio de l,oos, sacerdote zeloso e illustrado,
levantou a voz contra aquella deshumanidade, mas pagou
com a perda da liberdade a franqueza da sua indignacáo.
Algum tempo depois o Padre Adão Tanner, sahio jesuita
e chanceller da Universidade de Praga, publicou uma obra
em que expunha aos Allemães os eíl-eitos deploraveis da
sua credulidade fanatica : mas o livro nãro achou leitores
bem dispostos: recusaram-se.lhe as idéas, respeitando.se
todavia as intençóes e a pessoa do auctor.
O Padre Frederico de Spée era muito chamado para as-
sistir no seu ultimo transe ás victimas d'aquelles cegos tri-
bunaes, e soffria torturas incriveis á vista de tantos suppli-
cios injustos. Succedeu pois que no anno de 16z9 ouviu o
bom Padre fallar da condemnação de grande numero d'es-
tes innocentes em \Mierzburg, Corre logo o Padre Frede-
rico para ao menos soccorrel-os e consolal-os n'aquelle
martyrio que a divina Providencia lhes deparaval e assis-
tiu-os até ao ultimo suspiro, consolando os ainda mais com
as lagrimas do que com a voz embargada pelo pranto : mas
a impressão que recebeu foi tão intima e dolorosa que, en-
contrando-o no dia seguinte o conego Filippe de Schônborn
e custando-lhe a reconhecer o caridoso jesuita, lhe pergun-
tou assombrado:,-Que é isto, Padre? Ainda hontem não
tinheis nem um cabelio branco, e hoje a vossa cabeça é a
d'urn velho.
Quarenta annos tenho, respondeu o Padre, mas assegu-
vos, Senhor Conego, que se acompanhasseis ao cadafalso
tantas victimas que até ao ültimo suspiro, e com toda a
expressão da sinceridade, tomavam a Deus por testemunha
 JOL)
da sua innocencia, innocencia que aliás por outros motivos
me constâva : asseguro-vos que saírieis d'alli com os ca-
bellos tão brancos como os meus.
O Conego commoveu-se com o phenomeno, com as pa-
lavras e com as lagrirnas clo caritativo religioso, e subindo
depois á Sé archiepiscopal de Moguncia, supprimiu logo
na sua cliocese os processos contra feiticeiros.
Por sua parte estava Freclerico de Spée escrevendo a sua
obraCautia criminalis, que veioa publicar no anno de 163r.
A sciencia clo auctor, a sua reputação litteraria e â venerâ-
cão que inspiravam suas amaveis virtudes, fizeram esti-
mar o livro e lhe deram uma Íal voga e acceitaçáo, que
d'alli em deante as causas de feitiçaria não se admittiam
sem provas evitlentes, e as condemnacóes vieram a ser tão
rarxs que eram casos ex"'epcionaes.
O santo jesuita podia morrer com a consolacão d'este
grande bem que lez á sua patria.
Estava elle em Tréveris qr:ando a 6 de Maio de r635 os
impeliaes, depois de clerrotarem os Francezes, fizeram alli
a sua cntrada.
O l)irrirc Spcc, scmpre compassivo e caridoso, não viu nos
vencidos sc nío irnrãos c tleu-se a fazer'lhes todo o bem
que pudesse. I)ara 4oo prisior-rciros irnpetrou a Iiberdade, e
aos fericlos essistia tle ili;r e dc noite, esquecenclo-se de si
mesmo e tlos seus pitdccimcr-ltos, ató que no ciie 7 de Agos-
to, com 47 annos de r:tlatle expirou, no exercicio d'este hu-
milde e sublime apostr:lado.
Poucos annos depois em I6,42 os Í-utheranos, vencedores
em Leipsick, vendo um iesuita inclinado sobre os soldados
que Íicaram no campo da batalha (era o Padre I-ourenço
Passok) propóem-lhe que blaspheme do Nome da Virgem
Imrnaculada, se quer conservar a vidal porém l-ourenco
Passok prefere a morter e a recebe no mesmo instante' Um
pouco mais adeante o Principe de Lawenbourg reconhece
o Padre Cramer, que ouvia a confissão d'um soldado mo-
ribundo, e descarrega-lhe um tiro de pistola na cabeça'
JOI
IV
parlamento c u Universidade de paris, não podendo sup-
fl
U portar coul paciencia os testemunhos de estima e affei_
ção que o Cardcal Richelieu prodigalizava á Companhia de
Jesus, esprcitavam a occasião de excitar as suspeitas do
sombrio Ministro, e fazer d'elle o nrais poderoso inimigo
dos jesuiras. É verdade que a empresa lhls parecia diffi;I,
mas a tudo estavam resolvidos para chegarem âos seus
Êns.
Em 1624. o joven Principe Henrique deBourbon,alumno
dos jesuitus, era nomeado para o Bispado rie Motz, e clevia
sustentâr uma these de Theologia. 0 rei tir-rha maniÍcstado
deseio dc assistir a estâ solemnidade com tocla a sua côrte,
e o Principe, por gratidão parâ com seus qucritlos mestres,
escolhôra o seu coilegio para ser examinaclo, apcsar de os
jesuitas o exltortarem a que désse a preferencia ri Sorbôna.
A Universidade, não podendo impedir esta homenagern bri_
lhante, rendida âos que ella chamava seus rivacs, jurou que
se havia de vingar.
Voltava de Roma o Padre Coton com o titulo cle pro-
vincial de Franca, e com um novo <jireito ao odio rlos he- 1
rejes, por ter convertido o seu illustre amigo Contiestavel
Lesdiguiêres. Chegado a paris, logo o padrã teve conheci- l
I
mento das coleras da Universidade contra a sua Orclem, e
I
da violencia com que era atacada toda a obra escripta por
jesuitas, que a Sorbôna accusâva <Ie monopoliztrrenr a educa_
ção. O Padre Coton se faz ouvir na côrte, oncle contaami-
gos dedicados; mas em quanto justifica seus Irnrãos das
imputacões universitarias, outro ataque ihes era apresen_
tado em outro logar. Um habitante de Dieppe accusaya o
Padre Ambrosio Guyot de con_spirar em favor dcls llespa-
nhoes a respeito da Valtelina. É verclade que o p.op.io àc_
cusador, convencido de traição, e levado ao caàafalso, re-
tractou-se antes de ir apparecer no tribunal de Deus, e de-
 3oz
lir3
Paris, e os iesr.ritus íi.ancczcs são cleclarados responsaveis!
mas no espirito de Ri-
clarou o Padre Guyot innocente: O parl,arnento nrcl)írrâ a sua sentenca de desterro, e eu vinr
chelieuÍicavasempreumatristeimpressão,eeraistoo a sua secretamentc avisar-vos. O Cardeal de Richelieu quer fil_
q"."Ot..ir* os inin-rigos da Companhia de Jesus: zer-vos sentir o seu poder, e provar que a vossa existencia
primelra Pedra estava lancada' em Frlnça depende do seu benepiacito, porque presente_
uma obra
"';';;;'; J.neiro de 16z6 apparecia em Paris mente elle está de accordo com o parlamento, e quer que
{ em Roma pelo Padre San-
em latim, escripta e publicada sobre o livro do Padre Santarellí seja queimado na prâca de Grêve
í no quol os principios ultramontanos
;;;.iii;'l;:rt,r, pela mão do algoz.
i
àl ái.Lii"- ,la S'tncia Sé com relaçáo aos Principes eram O Padre Coton estava doente, e a novâ que lhe trazia
,l
sustentttdos cm todo o seu rigor
primitivo' Bella occasião
altos clamo- Lamoignon âggravou o seu estado; mas felizmente no <Iia
,{
o Sorbtintl c t'.1-''erl"*eãto levantarem
p^.o e-Luiz Servin' seguinte Matheus Moié, arrostando a colera de Richelieu,
I
res. llichulicr"r farttclpâ cla sua indignaçáo' doutrina pro- apresenta-se deante do rei, recorda-lhe os immensos ser-
ger,,l, t" encarrega de denunciar a vicos prestados á trgreja e á Franca peia Companhia de
"ãrog"ao
;;.;ã;-n.i;, (l.mpanbia Jeu" na obra accusada' o rei Jesus, e a injustiça de uma sentenca que faz caír sobre a
'1ã Março' e foi esse
ã""f" p*tfdfr ito prrrlatnento no dia 6 de qtit t-:11]:: Ordem toda a colera excitada por um jivro d,um particu_
qual
o clia escollriilo por Serrin, o esperava
:
determtnarta
lar, e accrescenta : Quanto a mim, Senhor, eu <ieclaro a
Iur.á .n, 1,r.*t"lç" tle I'uiz XIII e <la côrte Vossa À[agestade que nunca sanccionarei uma tal iniqui_
."1. -"no, a cxptrlslio da Companhia' dade ! Porém Luiz XIII, dominado pelo seu Ministro, irão
"'Effaa,iu,,',r"'ltc,t 6 tle Março aPresentou-se o rel no podia ter vontade propria, e deixando correr as coisas ao
e chegaclo o
nâr'lamento. ltotttlc t-L:rttlitlas todas as camaras arbitrio do Cardeal, o livro de Santarelli foi queimado, e a
'*o*an,o, o a.lv.11:ttl, gr:r.l toma a palavra e prepara o ca"
no ponto questão do desterro debatida. Muitos membros do parla_
oratorias;' mas
minho com totllls lts 1"t":nttçócs mento propunham que, por precaucão emquânto se espe-
cntregrr a mocidade a
;;; qr" ia clenuttcirtr t' 1""i1t'n tlc írrlminado por um
rava a sentença, se prohibisse no mesmo instante o pulpito
;;.;;t que professrtrrr t'r':s 1'r'ine if i.s'.c' cle Matheus Molé'
e o confissionario aos jesuitas: mas o decano clos conse_
tttl:t1rós
ataque apopletico c r:;ic rt"lr1t' theiros, Deslandes, exclamou admirado:
s':t' Lrrlrn liçÍo para o parla- eue dizeis vós?
Este acontccill'l!:l1lo 'lt:virl t"t substi- Havemos c1e prohibir ao rei e á rainha-mãe que se con_
nlento; rnâs trÍio stti:i ctltrtt rtssiru :
I'uiz
()
ltill" e a l3 de tinuem a confessar ao padre Suffren, e nonrear-lhe outro
t,i;;-;". omcr'l'rrl.rt, l)r'í)cosso-continuou' n'uma capa' batia á
director ?
l\{arço á noitc ttnr l"""ln" cmbuçado Esta pergunta inesperada fez que os graves conselheiros
Padre Provin-
p".ú a" casa proíi:ssrt, " ptttiu para fallar,aovendo ao Padre conhecessem o ridiculo da sua proposta) e se contentassem
cial: era o presidentc Ltmoignon' o qual
com a de mandar ao banco do parlamento o provincial e
Padre meu? que
Coton, o abraça e cxclltma: Que desgraca' e os Superiores dos jesuitas. Os padres Coton, Filleau, Bros-
fim' O tractado
.f.rg.rirf O atlvogatlo gct^i a-lcancou.o 1eu em Itaiia' e em sald, e Armand comparecem a perguntas, e são intimados
clo Paclre Santarelli, cscripto e publicado a assignar quatro ârtigcs rejeitados em r6l4 pelos Estados
de Roma; este'livro'
Roma, segr:ndo os prir-rcipios e iàéas Romanos e
Geraes. O Padre Coton, que tinhâ respondiclo a tr:das as
;;;;ip;" J publicado lor Lrm Italiano P-1lu pcrguntas com notavel clareza, apesar do seu estado ele
-o'
peio parlamento de
Italianos, é conclemnado em Franca
I

ti
I

I
 3o4 lJo5

do par= Â 7 rlc Murço d'este mesmo anno de t6z7 lançou o llei

debilidade e doença grave) respotlde a esta ordem solcnrncnrente a primeíra pedra rJa Casa professa clos je_
Sociedade' que
Iamento: Eu declaro, em nome da nossa
stritils da rua de Sancto Antonio, e contribuiu para as des_
para assig'nar o que a Sorbôna ea
nós estamos promPtos pezas da sua construccão, assim como o Cardeal. O Colle_
do Clero tiverem assignaclo' Com esta resposta
Assembléa gio de Clermont, achando-se já insufficiente, e precisanclo
o-pu.lu*anto achava'se apanhado' Pois ern que motivo
ser abatido e reconstruido, a cidade de paris correu com
fundaria elle a sr'ra §cntençâ de desterro conffâ uma Ordem
as despezas necessarias.
que assignava a llresnlfl profissão de Fé que a 'Sorbôna
e
Provincial' cuja A g de Maio de 164r o Rei e a côrte assisriram á missa
J Cl.ro ãe Françu ? A rli tle llarco o P'rdre celebrada pelo Cardeal Ministro na nova egreia dos jesui_
morte era accelcrlrtlu por tantos abalos, estavâ na
agonta'
a sentençâ do parla' tas (r), e n'ella recetreram a Sagrada ComÃunhão o rei, a
[u"nao um betlcl llrc veio signilicar
ao céo os olhos re- rainha, os secretarios de Estado e todos os principes e Íi-
àan,o. O moriburl,l,r, lcvâtltondo então dalgos. Fra impossivel dar á Companhia de Jesus ,ma prova
rig""a"t e nrícrs tlesltllccidas, faz ouvir estas palavras de
morrer como cri- mais brilhante da benevolencia real. Alguns dias depois
ia"cerante simplii:i,lrrtlc : IJasta clue hei-«ie Cardeal de Richelieu e toclos os grandes da côrte assistiam
o
minoso de lcsit nrrtge :'tutlc c peiturbardor da tranquillidade aos exercicios academicos, que coroavam o anno escolar,
publica, depois tlc lor scrvido por espaço.'de trinta
annos
nos quaes exercicios tomavam pârte como âctores Armanclo
à aoi, ,.lt rJc Iirirrrçit c()rlr lirnta fidelidade !
de Bourbon, Principe de Conti, e o principe de Nemours
Riche-
No dia scgr'tit'ttc r» cclclrri: jesuita já não existia; de Saboia, seus alumnos: mas taes favores deviam nalural-
tlc despoir:s mortaest e o Ar-
lieu vinha n,in, ,,,, littlo scr-rs
mente ausmentar a irritacão dos Universitarios.
rr cnr <iar a úsolvição' Esta
;;;itp" de [)itris qrr!:riir pessoa
A Companhia de Jesus proseguiu os seus trabalhos com
mort; deviâ itcitltltttr l 1e rrrpàstade renunciando o Curdeal um zelo infatigavel, e resultados crescentes, que lhe gran_
deRichelieualcvttrrrrlrisl.rngeirt.cspeitodaCompanhia geavam vocacóes entre as familias mais illustràs.
mostrado
de Jesus a nraniícstílçiirt tlo sr:tt potler' Tinha-lhe Carlos de
Lorena, Bispo de Verdun, despo.l'ou-se da sua corôa e
dcixando-a viver e con-
qu" era mais Íbrit: tlo tlr-tc cllit, seus titulos para vestir a roupeta de jesuita; Florencio.
dos
"lt"
zumir-se cle tralrullro cttt lit itttça como em outras
partes; e e
e á Universidade Francisco de Monrnrorency lánçaram iong" á" si todas
ao mesltlo tempo lll()slt'irvlt ao parlirmento as
grandezas terrenas, que acompanhavrm oúescendentes
conro elles: com i'sto ficava a sua clo
lue elle era tílo l)()(lctos() primeiro barão christão, e procuraram as humilhações
politica sÍrtisÍ'cit{r, c o (llt't.lr:al não pensou senão empregar e
adversidades, que não cessavam de perseguir os cliscipulos
pora b.- do reirro <t r'clo e os talentos dos Religiolos pos'
declarou manifes- de Sancto Ignrrcio de Loyola. As familias"de Beauveau, rie
tos debaixo rla suit tlepcndenciat e até se BolíIlers, de Suffren, tle la Valliêre, de la Trémouille,
tamente seu protcctor. de
genio tão Sabran, de Pins, de Ventadour, de óanilhac, de Gourgues
Por outra parte ltichelieu era táo habil' e seu etc., contavam jesuitas com os seus nomes. -lalvezseja
elevado, qr. não poclia cleixar apreciar quanto valiam os
«le esta
no ensi- uma das causas da reputacão de poder attribuido
.".uiço. que os ie'suit,ls Prestavam á França' tanto panhia de Jesus, porque não era ,ó*.rrta em
á com-
no cámo'na p.úgnçío, pois que segundo o recenseamento Franca que os
de Pa-
de ú27 o n,r*"Ã de seus alumnos só na provincia (r) Hoje S. Paulo e S. Luiz: rua de St.o Antonio.
ris subia atíeze mil cento e noventa e clnco'
HISTORIÀ DÂ C. DE J.
 50() 3o7
de- â guerra que succedeu á peste: mas a providencia se en-
nomes mais gloriosos da historia vinham collocar-se
homens carregou de reparar este desastre pela generosidade do.
üoiro au sua Éumilde bandeira, senão que todos os
Europa concorriam para lhe dar este reflexo de glo' conde de Nedonchelles, tio do padre l-ibersaert.
illustres da
ria, que o mundo aprecia. Emquanto os aconteclmentos'
que No Meio-dia da Franca, entre os padres que se clistin-
pâssavam em Paris, oNoviciado deNancy guiam mais, havia um que se tinha consagr.ádo especial-
vimos de contar, se
deve re- mente á conversão das povoaçóes ruraes ào pai, das
era testemunha d'uma reconciliâçáot que a historia Ce-
gistar. vennâs: era este o humilde padre João Francisco Regis,
Duas familias das mais nobres e honradas
estavam sepa' cujo maravilhoso apostolado ieferimos em vida a parti
e
,rã". po. uma d'essas nodoas de sangue, cuios vestigios ao mesmo tempo o padre Maunoir percorria a Bretanha
senão depois de muitas ge- c.om o mesmo zelo, e com resultados egualmente
não ,.'rp.gum orrlinariamente consola-
pu. a" Francisco cle Gournay tinha matado em dores.
.uaO"t, à
dr;il" pàe de Carlos Harcourt' os dois iovens nunca mais A Companhia de Jesus tinha sempre clc combater, ora
"
se tornâram a ver: mas elles eram christãos,
e um e outro contra â heresia, ora contra a inveja, orâ contrâ
a impie_
à.plor"uu* a inimizade de suas familias' e le perdoavam dade ou immoralidade. Sendo o ponto de mira
clo inferno,
*oro"rn.n," do fundo «lo coração uma culpa que aliás não a Conrpanhia tinha de repellir os ataques tl,elle quando
Um dia-Francisco de ella.não lhe clescarregava os primei.o. gà1p... Em
it". de modo netthum pessoal' r63g os
"ru
Gournay se apresenta no Noviciado dos iesuitas de Nancy' I-utheranos cle Utrecht descábriam um"a àor.pir,rção
cujo
a Francisco' fim entregar a cidade aos Hespanho... (j.,, como
oncle Cár1os acubava de entrar' Carlos vendo .ertr os
ir- jesuitas tinham converrido o Duqrá
estencle'lhe os braços, apertâ-o ao peito, chama-lhe de Bouillon, que fôra
um mistura âs suas lagrirnas e penas governador da praca e hereje ardente, logo
mão, e tl'este rnoclo os hcrcjes pro-
pede palaram que se deviam procurarno Coll{io tla (Jornpanhia
com as llglirrrrs c penas do outro' Carlos de Harcourt
servir a Francisco de os principaes chefes da conspiracão. O Êoa." I]oddens
ao seu Superior quc lhc permitttl re-
Gournay durantc o. p'i''t"itt's tlias de provação' e alegre
:.b.": , abjuração do Duquã de Bouillon, logo i o Paclre
do assas-
o á.rpr.ho vcm rrioclhar-se aos pós clo fillro
Boddens que e o auctor da conspiracão, a.g,r,ir"ntavam
el_
"o-
sino <le .À pn" a litvitr lh'os ! llra um modo de começar les. Quem a descobria era um soldadà que fãria parte rl,ella,
cle heroes, que, de to<los os e conhecia todos os seus cumplicerl o.u n" lisia
dignan-rente ,r'".1,. .o,-,,ptnhia que d,el-
laãos uff.ontrvam toclos os perigos e em toda a parte se Ies_apresentou, não se acha nern um
só jesuita: nem, por
mais instancias que lhe fizeram p"r" .oáp.omctter
faziâm martyres da carirlade ou do zelo apostolico' os je-
Em Douai dedicavam-se elles em favor das victimas
da suitas, se resolveu a denunciar ntgo*. OIIerecem.lhe ri_
fome, e as pre§erYavam cle uma morte inevitavel' Em Lille
1r".r:r a liberdade, se consente em accusar os Padres
e mor- lJodclens" e Paêzman; e afinal o soldado
e em'Bethune corriam em soccorro dos empestados' acceita o contracto
consolando-os' e depõe que fallou da conspiracão Íquelles
.iua * lado dos moribunclos, tractando-os e
I.T.nd9l tlois
quatro jesui- Padres. Não
Em ,636, só na cirlade de Bethune, de vinte e disse mais: mas era o bastante pu." o. here-
ges. Os innocentes Religiosos, apresentam_sà
tâs, onze morreram d'este martyrio'
--'É* no tribunal
de acompanhados do coadiutor philippe Nottin
,nrgniÍica derlicação não impedia os prÔtestantes e são acarea_
,uqr.u..r.r"" destruirem o Collegio da Companhia durante dos com o denunciante; mas este sente-se
tão embaracado
 3o9
3oB

urgentes interrogações por isso mesmo que os 1'esuitas tinham vencido no canrpo tla
nâ suâ accusação e em responder ás discussão, empenharam-se os seus adversarios na dcsÍbrrit.
prarar, que os Lutheranos, furiosos' resolvem aquel-
ao. Desembara- Cornelio Jansenio, alumno dos jesuitas no Collegio tle
cortar a cabeça'
ülrr..i,rqã.i mandanclo-ihe Lovaina, tinha mostrádo desejos de entrar no seu Institutol
.nfu'etem agora contrâ as suas victi-
;;;;;;rt.to, porém os Superiores, não reconhecendo n'elle signaes suf-
mas,
--- e as entregam aos mais horriveis tormentos' ficentes de vocação para a vida religiosa, recusarâm-se a
dispostâs ern
ôállo.uru*'Ã sobre quatro chapas de ferro' recebel-o. Offendido em seu amor proprio, o candidato dei-
Joly, ligaram-lhes os pés e as
fó;;;; utpa, rliz Crétineau
aço'.que penetrâ' xou os bancos do Collegio, e foi sentar-se nos da Univer-
de
mãos com .àd.itt armadas de pontas dade, onde Jayme Baio, sobrinho do celebre Chanceller,
o pescoço n'uma rede de
vam na carÍle; e metteram-lhes postos e professava as doutrinas erroneas do seu tio, doutrinas con'
ordens de denticulos' e asslm
aiu*to com tres eram en- demnadas pela Sancta Sé, erros que o proprio auctor tinha
."nrroa os cercaram de brazas' Apenas as cârnes reconheciJo e abjLrrado.
e a polvora caiam sobre
..?;;; p.r" rãÀ", o sal, o 'inag'e da crueldade não pa- Jansenio tinha adoptado aquelles erros por espirito de
..irt-.trgrt gol.jon"t' os requintes
dos Pa- opposição á Companhia de Jesus, que <lepois de os ter va-
.n.o- "ri dores tao agudas; applicaram- ao peito phalange por lentemerlte combatido desde o seu apparecimento, por meio
Jr., ,.ra brandóes uttttot; cortat'am-lhes
da sciencia e talento dos Padres Bellarmino e Toleto, se
.h,lnnn.osdetlos.]asmáosetlospés.Depoisdevintee poz a combatel-os de novo, visto que procuravam exaltar
"o;;; ;;.* tlc supplicio, sem nenhuma confissão do sup- as cabecas dos jovens contrâ a auctoridade que os tinha
dos pade-
nôsrô crime. declararm os medicos que a vida conclenrnado. Em seu tractaclo sobre a graça o bispo de
I
a morrer aos
I..i"* ." ia ásgotantlo; e foram condemnados Ypres sustentava estas doutrinas, mas não querendo mor-
algoz' nPassados poucos 1'::11:t::
I

;;ü;; .1" .,,^cia.lo ao

o§ seus pes rer l-rereje aos olhos dos homens, coisa que seria contraria
í*La", trm tlcpois clo ourro ao cadaíalso, porque no mez de
I

morreram ao seu intento, deixava a sua obra na pasta ê contentâva-se de

nisados i/i ol; niro potliarl sustefltar, e a communicar por fragmentos ao seu discipnlo mais dedi-
auctores
I
Í""fr" AL r633 pcttintlo a l)ctrs tlue perdoasse eos cado, Duvergier de Hauranne. Este fallava d'ella no mundo
<l'aquelle
- -O's assassinio iuridico'' : .. de um modo mysterioso, e com termos proprios para fazet
que ninguem a lnl-
n,.lg,ist.,rtlos crirrhccilm mclhor do deselar a sua publicaçáo; mas recommendava muito se'
Conselho das Pro-
qria,,J. í. ,*r'tnl cxccr'rcão; c por isso o gredo, porque, <iizia elle, este livro deve operar uma verda-
vinciasUnidasameaçoucomasmaisrigorosaspenasatodo deira revolução religiosa, O livro intitulava-se Augustirtus, e
aquelle que ousassc publicar o mais
p":-T:::tttipto ten-
conspiração que tinha no fim d'elle o auctor protesta que quer viver e morrer na
dente a perpetuâr a lenrbrança da obediencia da trgreia Romana, submettendo-lhe a sua obra,
sacrilega ferocidade'
servido de pretexto a tío repugnante^e acceitando, retractando, condemnando e anathemattzcndo
o a" ll'if ãe 1638' tinha a peste levad'o
Um mez antes, a tudo o que ella decidir que se deve acceitar, retractar, con-
<1eclara<lo da Companhia
Jansenio, Bispo cleYpres, adversario demnar ou anathematizar, Mas apesar d'este protesto, sem-
deJesus.oPreiar]o.tei,.avamanuscriptoumtracta<losobre pre foi recommendando a Duvergier uma grande pruden-
da quai os
;;;;;;t" qual fazia reviver a doutrina de Baio' levando cia na escôlha das pessoas ás quaes revelasse a sua dou-
tã1
iesuitas tinham triumiha'lo 1$miravell;nte'
retractação' Mas trina, e do livro destinado a publical-a.
Raio e seus iltscipulot *
"*o'brilhante
rl
1
3Io
Não é inutil observar que Duvergier de Hauranne, mais
conhecido com o nome de abbade de S. Cyrano, não se diri-
gia senão aos adversarios da Companhia de Jesus. Todavia
Jansenio, clesejando ganhar o apoio de alguma Congrega-
ção religiosa, recommendava ao seu agente que sondasse
o terreno: oSerià uma grande coisa, mandava dizer Janse-
i
nio, se a minha obra fosse auxiliada por alguma Congrega-
I
ção similhante. São Cyrano nas suas tentativas foi repetlido
por Pedro de Berulle, Geral da Congregação do Oratoriol
foi então tentar a S. Vicente de Paulo I ignorando que este
grande Apostolo da caridade nunca teria pensado em fundar
I
a Congregação dos Sacerdotes da Missão, se a Companhia de
Jesus tivesse podido ajudar as suas intençóes relativamente
ás missóes dos campos, e que só por os jesuitas se sen-
tirem muito poucos para acudirem a tudo, e auxiliado dos
seus conselhos e experiencia é que elle tinha fundado a So-
ciedade á qual se deu o nome de LaTaristas.
Ignorando esta intimidade de Vicente de Paulo com os
Padres da Conrpanhia de Jesus, Saint-Cyran procurou fa-
zel-o seu amigo, e quando lhe pareceu ter ganhado a sua
confiança, the disse: l)eus tem-nre dado, e dá ainda, gran-
<les luzes e fez-me conhecer que, ha cinco ou seis seculos,
não ha já Egreja. Em outro tcmpo csta Egreia era como
um grande rio que tinha as aguas limpidars, mas agora o
que parece trgreja niÍo e jh mais que lodo.
Tomae sentido I Responcleu o Sancto: olhae que todos os
heresiarcas teem tornado esse pretexto para estabelecerem
os seus erros.
Calvino, replicou Saint-Cyran, não tem andado mal: mas
defendeu-se mal. (r)
Com isto ficou S. Yicente conhecendo bastante o discipulo
de Jansenio, e como tal apartou-se d'elle e náo o conside-
rou já senão como um hereje, que não tardaria em se des-
mascara r. Saint- Cyran, não podendo fazerproselytos entre os
(r) Carta de S. Vicente de Paulo.
JTI
religiosos, cuja reputacão de sanctidade ou de talento the
poderia servir, voltou para a abbadia de Port-Royal, onde
a abbadessa Àngelica Arnauld, fitha do celebre inimigo dos
jesuitas, exercia uma grande influencia sobre a sua familia
e sobre uma pârtc das pessoas da côrte. A imaginação das
religiosas deixou-se captivar das idéas do abbade Saint-
Cyran, e conseguido este portto de apoio, o apostoio das
novas doutrinas poz-se a trabalhar com tanto ardor e ha-
bilida«le, clue chegou a reunir muitos iovens de grande in-
telligencia. os quues, com o nome de Solitarios de Port-
Royal, se estabeleceram na vizinhanca da abbadia, que as
religiosas tinham deixado ir-rdo para o arrabalde de Saint'
Jacques. Alli se entregaram os taes solitarios ao estudo, e
tambem se puzeram â escrever para a mocidade, a{im de
se apoderarem da educação que estâva nas mãos dos ie-
suitas. Assim se ftrndou o collegio de Port-Royal, com dou-
trina opposta. Os fesuitas exhortatn á frequencia dos Sacra-
mentos; os Solitarios apartam d'elles. A rnoral dos iesuitas
é suave e attractivâ como o Evangelho: a dos Solitarios de
Port-Royal é secca, fria, severa, e leva á desesperação. Só
quem fosse em tudo oPposto á Companhia de Jesus, nas
icléas e na practicar era digno da sociedade de Port-Royal-
des-Champs.E effectivamente a opposição era grande, se
a houvermos de iulgar pela opiniáo que os Solitarios ti-
nham cle si mesmos. Antonio Le Maitre, celebre advogado,
e sobrinho de Angelica Arnauld, attrahido Por sua tia á so-
ii<ião de Port-Royal, escrevia a um sacerdote, Antonio de
Singlin, esta admiração de si mesmo:
.Náo se tem ouvido dizer, ha talvez um seculo, que um
homem no logar e no estado, em que eu estava, na corru-
pção clo palacio, na flor da itlade, na qualidade de nasci-
mento, e na vaidade do eloquenêia, quando a sua reputa-
ção está mais bem fundada, seus bens mais avantaiaclosl
sua proÍissão mais honrosa, sua fortuna mais augmentada
e suas esperanças mais ri§onhas, que um homem âssim te-
nha deixado de rêpente todos estes bens, tenha quebrado
'|J*
i
i
712
todas estas cadeias, se tenha feito pobre, quando trabalhava
por adquirir riquezas, se tenha mettido em austericlades,
quando vivia nas delicias, tenha abracado a solidão, quando
estava cercado de pessoas e negocios, e se tenha conde-
mnaclo a um silencio eterno, quando fallava com assás de ap-
plausos. Toclavia ainda que este milagre seja maior e mais
raro do que dar vista aos cegos e falla aos mudos, o nosso
seculo está tão pouco espiritual, que apenas se tem consi-
deratlo como coisa extraorclinaria o que se devia reveren-
ciar como coisa sanôta».
A palavra de Saint-Cyran a S. Vicente de Paulo: Calvino
fe7 bem o que Je1, ntas não soube de/ender-se, e o orgulho
repugnante d'estas poucas linhas de Le Maitre explicam
sufficientemente a indole do jansenismo.
Logo depois da morte de Jansenio apressaram-se os seus
amigos â dar ao prelo o seu Augrlstittusl os jesuitas, adver-
tidos d'isto, previnem o Internuncio, e lhe dão a conhecer
as folhas da impressão, e a Sancta Sé prohibe a publicação
da obra: porém os Jansenisras náo respeitam esta prohibicão,
e fazem apparecer o livro em r64o.
Foi então que se levantou aquella guerra interminavel de
pennas em que lidaram mr-rito tempo os sabios clos tlois
partidos. O Papa tinha chamado .Jansenistas aos partidarios
do Augustinusi estes chamirrlm ilos seus adversarios l\{o-
linistas, pretendendo que a doutrina d'elles e a de Molina.
E verdade que os Jansenistas de Franca e tla Belgica pro-
testavâm a sua submissão á Sancta Sé, mas não se vendiarn
a nenhuma das suas admoestaçóes; portanto a côrte
Roma, tendo esgotado inutilrrente toda.s as providencias
paiernaes, formulou uma estrondosa condemnacáo do Au-
gustínus a 6 de Marco de 1642. Os jansenistas não acceita-
râm esta condemnacão com o pretexto especioso de que
tinha sido provocáda pelos jesuitas. S. Vicente de Paulo
mandava dizer ao abbade d'Orgny: (r) O abbade de Saint-
(I) Os francezes dáo o nome de abbade a todos os padres, ainda mesmo
seculares, que trazem o habito clerical.
JIJ
Cyran confessou ao Senhor de Chavigny, secretario de Es-
tâdo, que o ílm clos partidarios do bispo de Ypres é cles-
acreditar os jesuitas sobre o dogma e sobre a administra-
ção dos Sacramentos.
Foi corn cste fim que Antonio Arnauld publicou o seu
iivro cla Communhão frequente, que excitou umx nova con- [,
troversitr, e exacerbou a irritacão nos clois cân)pos oppos-
tos, pelo clue escrevia S. Vicente de Paulo ro abbade de l,
Orgny: nSe esta obra servia a uma centena tlc pcssoas para
as fazer n'rais respeitosas corlr os Sacramentos, ltz mal peio
menos â dez mil retirando-âs inteiramentc rl'cllcs. Muitos
parochos de Paris se queixam d'isto I em S. Sulpicio ha
tres n-ril communhóes menos, clo que era costrrnrc; em S.
Nicolau de Cl-rardonet mil e quinhentas pcssoils Íultaram a
este dever de religião, e o mesmo se pótle clizcr rlc outrâs,).
O livro foi muito censurado pelo Clero, pclir Sorbonr, e
pela [Jniversidade. exceptuando alguns I]ispr>s quc sc cieí-
xarÍrm ârrâstar pâra o pârtidq jansenista, e pot. ÍirD foi de_
lataclo li côrte de Roma como tendente a âpitrtur as almas
do Sacran-rento, onde achariarn forca e vida. O rrbbacle cle
Saint-Cyran tinha de tal modo posto n'este ri:girtrc as reli-
giosas <Ie Port-Royat, que a abbadessa lhe cscrcvcu ulrl
dia: «Algurnas de nossas religiosas ;'á não se coní'cssrrm, ha
quinze mezes.» Este ardente propagador clo .lirnscnisrno,
este inimigo encarnicado da Companhia dc .lcsrrs, morreu
de um ataque apopletico no exercicio de suas 1-rcccamino-
sas funccões a r I de Outubro de 16,43.
cle Alguns dias antes, a z5 de Setembro, o principc .loão Ca-
simiro, que não.tardaria em subir âo throno dc l)olonia,
recebia conr jubilo o sancto habito d'esta Con-rpanhia de
Jesus, contra a qual se ligavam com tanta perlitlia os so-
berbos inimigos da auctoridade da Sancta Sé, tle que ella
foi sempre baluarte.
 3r5
3t4
a opinião
dre Cassia quem lhe aconselhou a prohibição-;
é necessariamente a de toda a Companhia:
VI de um iesuiia
i"g;;"á;; os iesuitas são muito severos, e esta severidade
e intoleravel: Ao menos n'aquelle dia a moral.dos Padres
çr'a Malta
eram os jesuitas atacados pela immoralidade' não era relaxada. Exaltados portânto os esplrltos,
um
Jansenistas se
l- Em quanto em brança e na Belg'ica^os da Companhia' e não n.n chamado Salvatici, se constitue improvisa-'o-
"uu"tt.i.o, sacrilego'
irJ"r"l* a" excessiva indulgencia-
elles chamavam a Maral *.rt" .ft.f. áos rebellados, organiza um nrotim
em correr as
cessavam de escrever sobre o iue e alguns dias depois deram muitos cavalleiros
revolta-
,rtr*ra, dos iesuitas, ot tuu"ilti'ot de Malta sedos mes- .or*".o* o hablto da Companhia de Jesus, gritando que
;;;-;;;"" o que elies chamavam o rigorísmo divertimentos; que são os aucto-
os fesuitas se oppóem aos
mos jesuitas.
Íinha-ar- res'da ordern que deu o Grão'Mestret e que a sua severi-
A ociosidader semPre perigosa para as almas' Ásslm como
ier tolerada por mais tempo l'ascaris man-
dacle não deve
a tlesordens'
algumas
dou prender a Salvatici, no forte -de Sant'Elmo; mas
os
,u.toao os cavalleiros fé' quando os
cheios de vão de-
e se despe'iavam seus particlarios tomam as ârmas' livram o preso'
"."- "r*","sr
infieis os obriqavam u tt"'ut mares' ou quando o Summo
os
pois ao Collegio dos iesuitas, saqueam-no inteiramente'
em defensa da Egreia:
Pontifice appellava para o seu valor e se deixa- i."rr.l.* o. Àr. Padresque que o habitamr.€ os conduzem
;r.1; ;"*ü;* ." "lu"u'u'n em sua disciplina' quando tinham de- para bordo de um navio estava de vela p'rra a Sicilia'
;;;;..rt e arrollecer pelos prazere.s'
b Grão M"r,re escreveu ao Papa, e Urbano VIII ordenou
sua ilha for'
e viviam ântrintheirados em a u ,.in,"g."çáo dos iesuitas na sua casa de Malta' I-uiz XIII'
I ;;;,;;;;;;"s em termos muito
cla sua parte
"tãrn -lols
tificada. redu- Rei de França, escrevia
I o Grão-Mestre Paulo Lascaris' querendo .e.i"*rrrdo uma reparação d'este escandalo' e a
que lhes era imposta
I ,i, o, ."rí cavalleiros á vida christã'
,, {" Dezernbro os Padres tornavam a entraf no seu Col-
"na.gi.o.
empregára em vão meios seve- ca-
ii í"r* *rt,ãs cla orrlem, legio com applauso dos habitantes e até dos mcsmos
opposto â uma representação theatral pre- os regoziios clo car-
Ir ros, e se tinha ,"'Íl.i.or. Tááauia, approximando-se
I paracia para o carnaval, por lhe p'lt::t-*tnos
honesta'
naval de t64o,, uma certa fermentação corueçou a
agitar
reclamam' tn-
i
6; ";;"[;i;.s, irritatlos tá* ttto prohibiçã,o'
tEu não dei esta de novo os espiritos e o cavalleiro Salvatici ins,tou de novo
sistem, Íogam â Lascaris que o t"ti'e: com o Grão-Mestre, o qual d'esta vezt parâ evltar uma ln-
para nos confor-
I\ ;;il^*', .ãípona" o c'ao-útttre', senão,
pela religião e pelos
surreição séria, the concedeu a autorização para
â mesma
marmos com o que not é otdtt"tlo precerlente' Salvaticiovendo-se ven-
peça recusada no ânno
I

Cassia declarar que eu posso jovens conrpanheiros de

nossos estatutos; se o Padre ceàor, a noti;ia, e seus
tai divertimento, náo me opporel
a "up.lhou pelo'
iolerar armas .leram grande expansão ao seu iubilo' O povo
Ii "il-aon..r.n.ia que por
.ii.., o Fadre Cassia foi consultado' e respondeu contrario, aterrou"se: 'ôs bons Padres Jesuitas, dizia'
des-
representação' A
.;; p.;,; não podia âpprovar similhante tt exaltam' uppaouuuo* este divertimento, e os cavalleiros expulsa-
o'
iJ,jã. subiu de poniá' iovens cavalle'::' râm-nos pârâ se vlngarem da sua severi'lade: quem
sabe
sobre og iesui- dos cavallei'
e fazemagora recalr o seu descontentamento da prohibição' ugoru ." Deus não intervirá Para se vingar
iniciativa
.ü .rr.s.";a" até a imputar-lhes a
rãs?, No dia marcado para a representacão, na qual Sal-
oGrão.Mestretemtodaaconfiançan'elle,logofoioPa.

I

3r6
vatici tinha um papel importante, o cavalleiro Roberto
Solaris, que tanrbem representava, trava-se de razões com
ellel os animos se esqrentaml Salvatici, iulgando-se offen-
dido, leva a mão á guarda da sua espada, mas Solaris ven-
do este movimento, mais veloz que o relampago atravessa
o infeliz de lado a lado ! O cavalleiro Salvatici morreu an-
tes de ter entraclo em scena, e a peça não pôde ser repre-
sentada. Juizos de Deus, dizia o povo; bem diziamos nós
que Deus interviria.,
Em Inglaterra continuâvâ a perseguição. A morte de
Jayme Stuart não alrouxou o zelo clos Puritanos; pelo con-
trario tanto se tinham elles f á desmascarado, que mostra-
vam combater não sómente o Papismo, mas sim a auctori-
dade em si mesma: a heresia nunca teve outro fim, Em
quanto ella enviava os jesuitas ao patibulo, recusava o ne-
necessario a Carlos I, seu Soberano, e o tinha debaixo da
mais humilhante tutela. Os jesuitas, banidos juridicamente
da Gran-Bretanha, não a abandonavam I queriam alli con-
servar a Íé entre os Catl-rolicos que tinham ficpdo fieis, e
para isso viviam escondidos, disfarçados, e náo exerciam
os sagraJos nrinistcrios senão em segredo e tle noite, por-
que todos os quc cram clcscobertos eram postos em tor-
mentos, e depois concluzitlos ti nrorte,
Quando o [)aLlrc Oorby lbi prcso, o cmbaixndor de Alle-
manhr propoz que o tr'()Lilsscn) por un) pri"iorrciro escos-
sez; mas o iesuita sc reclrsou ir isso, e preferiu o martyrio.
Tendo-se assignaclo o dia r7 de Setembro tle r644, para o
supplicio, desceram á sua enxovia na vespera de tarde o
presidente tie Belliôvre, embaixador de França, a Duqueza
de Guisa e a Marqueza de Brossay, pârâ terem a consoiâ-
ção de ouvir as ultimas palavras do Martyr, e receber a
sua benção pela ultima vez. Elle os confessou, celebrou a
sáncta Missa, deu a Communhão aos piedosos visitantes,
pâssou com elles â noite em orações, lançou-lhes a benção
pela ultima vez deixou-os beijar-lhe de joeihos suas mãos
carregadas de cadeias, e depois encaminhou-se para o Io-
'3r7
gar <1o suppiicio. Stj o embaixador o acompanhou ao pati-
buio.
Os Paclres llicar-do Bradley e João Grose estavam, ha-
via muito tcnrpo, encerraclos nas enxovias de -Manchester
e de L,incoln, privados de ar, luzr alimento, movimento,
e carrcgitrlos de cacleias. A 3o de Janeiro de 1645 Ricartlo
Braclley succumbiu debaixo do peso de tão excessivos sof-
frimentos. No primeiro de Fevereiro o Padre Flenrique
More, prcso nâ Torre de l-ondres, era acompanhado ao I
patibulo pelo embaixaclor c1e França: e na vesperâ os re-
I
presentantcs de todos os Soberanos catholicos tinham ido ,l
I
lançar-sc-lhe aos pés â pedir-lhe com lagrin-ras de venera-
ção e synrpathi,a sua preciosa benção, e o Presidente de
BelliÔvrc tcve oLltra vez a honra de a receber no meslno
momeuto em que o céo se abria para receber o strncto Mar-
tyr. Vinte e seis dias depois expirou o Padre Grose na sua
enxoviir de Lincoln.
No nresmo tempo via-se a Companhia dc Jcsr-rs atacada
em 1{orl;r por quem menos era de esperar. A nossa primeira
irrtenção era passar em silencio este factol mas como utTl sa-
cerdote italiano assás recentemente o mencionou no pulpi-
to, d'uma das principaes egrejas de Paris, apoiando-se nas
calumnias de um âuctor inimigo da Companhiil, cleixare-
mos agora fallar Cretineau Joly, que verificou por si mesmo
todos os rlocumentos, e prova claramente clue a obra de
Tosetti e um tecido de mentiras. O prégador a que alludi-
mos é verdade que faliava na lingua cla suanação ; mas em
Paris muitos francez es entendem e fallam o italiano.
uPouco tempo depois de fundada a Ordem das Escolas-
Pias, cliz Crétineau Joly, succedeu que alguns religiosos
d'esta Ordem fomentassem perturbaçóes contra a auctori-
dade de S. Jose cle Calazans, seu fundador. Os Padres Nta'
rio, Stozzi e Estevão Cherubini dos Anjos puzeram-se á
frentc dos revoltosos) e á .Íorça de astucias e irnposturas
excitaram a opinião publica, e conseguirarn engânal-4. A
intriga lbi tão habilmente urclida, qr-re S, José cle Calazans
 3r9
3r8
não teem nom o tcmpo, nem os meios de remontar á ori-
gem <las coisns, poz âs suas calumnias á sombra do pro-
scviucitadopeÍanteoSancto-officio,despo}adodotitulo
Um religioso
à" ê"*r e prohibido de abrir novas casâs' por fes.o ,1o canonizacão do Sancto' O escriptor mentiu scien-
chamado Agostinho Ubaldini' foi designado
temente, c â sua mentira foi acceita pela credulidadet
pela
ôã--rr.o,
uma. discorciia lamen- Tosetti baseia as suas im-
Visitador da Ordem, na qual lavrava procla-
ignorarrcia e pela má fé. Diz que
,*.i. Úrraal"i comprehÉndeu o estado das coisas'
culpados os rebel-
prt.çõ". sobre clocumentos: mas nós temos consultado estes
,ioí'ulnno."ncia do íundador, declarou ,rarn'o* ciocumentos que elle invoca, temos estudado as
fatigado das
ã.t, . ã.p"fs de ter feito iustiça' retirou-se passagens qr.re elle indica, e d'esta comparação resultou
a

que provocava em roda de si' mais brilhante justificação do lesuita'

hostilidacles
---À VIII' por um
.rr." .àntinuau" pendente' e Urbano a Ubai-
Seria muito prolixo enumerar aqui todas as fraudes que
a" u,io de 1643, substituiu cômmetteu o uo.to, do'Ileswrto da Vida de S' Jose de
breve conr data <le 9 de Je-
Companhia
Calayans. (Edicão impressa em Roma em t753, por João
da
dini o Paclre Silvestre Pietra-Santa' reputação me-
uma
."rr. qr"f gozava então em Roma de
Zempel): mas-alguns exemplos bastarão, e âté sobrarão
virtudes e sciencia' Poz elie mãos á obra; parâ convencer os espiritos mais desconfiados'
r".ia"l,"irJtuas do'
norém Mario e Stozzi, que tinham usurpado as.funccóes No livro IV, capitulo III, pag. 156 da sua obra' affirma
Piàs, acharam um meio de impe'lir
a
"*"tnii..,r.no P..oi"'
fi;;;;;;;; Tosetti que o Padre Pietra-Santa, fizera causa commum
os religiosos
.la verdade, tlesterranJo a todos com os perturba,lores, e procurára opprimir o Sancto Fun-
e fazendo
qr"',**; Ocado Íieis ao seu verdadeiro chefe' daclor, e- extinguir as Escolas Pias. Um pouco mais aileante
soffreramesmasorteaosquedesapprovavâmosactosdo isso Pie-
u.,"rá.,. qo. ã* relatorios escriptos por Pietra-Santa dão
H;;;;. ; li'i" a" tantos obstaculos nem por conhecer provas d'estes seus depravados intentos'
difficil
tra-Santa clesanimou, f orque nio
lhe era Ora i-rós temos deante dos olhos o summario do anno de
a sua
i. *"'l"u. c.t^ua o'ii'"iio' Ten'lo pois esciareciJo tZt41 em cuia pag. z4 se acha o relatorio autheutico clo Pa-
e a clos Consul-
Iãnl.*n.in, quiz esclareccr a clo Pontifice
redigiu tres relato-
dre Pietra-Santa, dividido em quinze paragraphos, e o que
;;;;;;" Sancio-oÍIici., c para este {im
que S' José
alli achamos é o elogio da Ordem das Escolas Pias, e o
rios, e em totios tres '" llpptito' a rlemonstrar e que
voto mais formal clo jesuita para que os Cardeaes reinte-
a"-brtor"n. não tinha nacla cle que arrepencler-se' grem a José de Calazans no seu tttulo de Geral' Vamos
e conservar nelle
devia ser reinte5lrado em suits funcçóes' ádeante e a pag. 36 lêmos uma carta de Pietra-Santa, na
.^ Egreja uma Ordem utii
á e Piedosa' qual cleclara que José de Calazans é um excellente Reli-
ã".,"t factos e cleclaraçóes eram' e ainda são nÔtorlos em gioso, e que suas intençóes são muito sanctas) e seus cos-
de 1753 se começavâmâ tumes dignos de louvor. O iesuita não se limita a istol
Roma. Comtu«lo, quandá no anno
da suppressão 'los iesui- mas diz que redigiu uma memoria para obter o restabele-
nerceber os primeiros symptomas
Tosetti' rlas Escolas Pias' saiu a lume
i;, ;;;;;'ú;b;" cimento ào Fundador, e que supplicou aos Cardeaes da
de Calazans' e atreveu-se
; ,; resumo da vida de S' José Congregação encarregada das Escolas Pias, que procedam
das perseguiçóes
a representar Pietra-Santa como auctor da parte
no mesmo sentido.
Escolas Pias tinha soffrido Na pag. r7 do summario de r7r9 estão classificados os
i*'o lrraraor das
nenhumas tinhâ
provâs
de seus proprios i'*áo', e porque actos cle Congregaçóes cardinalicias, e em toda a parte se
melhor enganar os homens que
d'isso, inventou'as, e para
t1
f
i

3zo 3zt
encontra que Pietra-Santa insiste fortemente parâ que a excitar a colera tlos I
Orclem nãá seia destruida, e para que o Geral sefa reinte- narios de vista. Náo'."1i?il.1xL'Í:,,T':::
das.outras
:l,Hiiil.
grado em seu cargo. _Ordens, os quaes censuravam a prudencia dos
jesuitas, achando-a
Seguindo passo a passo as mentiras de Tosetti, verificará incompativel co_ o ,eto que os
ani-
o leitor que- os postuladores da causa de S' José cle Cala- mava e recusavam sujeitar_se a tanta
circumspeccão. Os
zans se servem das palavras de Pietra-Santa parâ provar ê 'é
Jesuitas previam que a tempestade não
tarciaria em re_
heroicidade d.as virtucles d'aquelie varão que o lesuita ben ta r.
accusado de ter calumniado, e é sobre os relatorios d'este Pelo fim do anno um navio mexicano
tocou em Nanga_
mesmo jesuita que se fundam âs respostas ás ob)ecçóes do sahi, e vinte e quatro Franciscanos aaaan
frorà,.r,m brava-
promotor da fé. mente n'âquelle solo tantas vezes regado
- cotn o sangue
No livro IV, capitulo VI, pag. ry6, diz Tosetti que o Pa- -se espaltra,io no Mexico o-i,ou,o
::.1.^,"r:-Illra <re que
dre Pietra-Santa propoz que se reduzisse a estado de Con- os hespanhoes assignaram um tractado
de corumercio com
gregação a Ordem das Escolas Pias, e o annalista diz que Xogun, e que rodo o missionario d,
.u";;;;; scria admir_
áu ptoaa..ot onde se conserva este escripto, se acham na tido no Japão_a préga1 o. Evangelho, ;;rl;,;,;,,
que não
poSgino z5 clo summario <le r7r9. Este escripto existe real- pertencesse á Companhia de Jesus.
OsFranciscanos,trans-
porta(los pelo seu zelo, nem
mànte; porém n'elle se 1ê logo na primeira pagina que foi sequer pararah-r eur se certiíi-
..rrlpo.io pelo Paclre Estevam Cherubini, religioso das carem do facto, senão que logo .à
a*bn.a,,r,rrn, no pri_
I

Escolas Pias, e demais a mais estii refutado á mar5;em com ,i"i. que navegava parâ os mares tla Cl.rina
I:,j: e tomaram terra e do
i observaçóes extrahidas dos Relatorios ou Memorias de Japao, em Nangasaki, cidade ncutrr, aberta
Pietra-Santa. aos comrnerciantes estrangeiroi.
I

Segunclo o mesmo tcxto do processo de canonização, Ma- Xogun, assustado não sómente com
o seu nur.nero, senão
rio Sozzi, Cherubir-ri, e olltros membros clas Escolas Pias tamhem com o seu apparecim"n,o,
i_uginri,,Bu .1r" ,ao
foram os unicos pcrscguidorcs de Josc cle Calazans' Estes enviados pelos hespanhoes para p."pr.u.À_
i os .lapircs a se
actos são tão ofliciacs corllo i'I historier : mas apesar d'isso á Hespanha,'" pur.u'r;;;;;;"
l,l.T._,:.."T qne com_
Tosetti e seLls cotltinuildol"es attribuiram a um jesuita mlna pena de morte contra todo o
subdito do Lrp"rlo que
factos que cstc rcligioso foi o primeiro a reprovar e de- ouse dar asylo a um missionario
der a todos os habitantes das Idez .u.u, ; .1"u" ..,.n-
pena qu.
nunciar' rnrir; vizinhas
vII onde um aposrolo ,r" E"rrs;ú; .ã
Ll::",11esre momento tiu.. ..ru-
gron:. ? por deante os jeiuitas não reem ou_
I
primeiro tro abrigo senão as Ílorestas ou os rochedos
[lerrusar,le,, Imperador do Japãortinha morridô no
I
das nrontanhas,
i
nem exercem o seu sancto ministerio
U de Junho de 16r6, deixanclo a seu filho Xogun uma co- senão em segrecio e
rôa e um porler usurpados. Esta mudanÇa de Soberano sus' com o disfarce mais nroprio pr.u .I..ui",
bonzos e enganar a sua vigirancia,
áii.nç,io ao,
penrleu a perseguição contra os christãos1 porém os missio- "
e recomnrendam aos
narios da Companhia de Jesus, embora se aproveitassem neonhftos a maior moderação.'p"lo
1;_t1 .orrtrorio os i.ran-
d'estes momentos de socego para percorrer as suas christan- compromerter a sua consciencia sujei_
dades, procediam com uma extrema prudencia para não
:l::i:::, :.:::1:
Lduuo-se a este regime de prudencia,
arrostam manifêsta_
IIISTORIÂ DÀ C. DE J.
2l
 \to 325

dá logo a SaDcho' tando a sua prisão, os missionarios entoam o Te Dewn, e

nrcnte a colerâ do Irnperador' Xogun
e apostata, orrlem cle fazer.prender todos chegados ao interior d'aquellas paredes d'onde não espe-
Itei <le Omura,
em Nangasaki' ram tornar a sair senão para morrer, ouvem duas vozes
"'ú;bonzos europeus resideàtes
os
e um Franciscano'
jesuita, o Padre João Machado' responder ás suas, e cantar tamhem o cantico do reconhe-
Ascensão, caem nas mãos dos agentes de Sanchol cimento e amor. São dois Religiosos, um Franciscano, ou-
Pedro i1a
Tres dias de- tro Dominicano, encerrados, havia um anno, n'este logar de
;-; ;t cle Maio de t6r7 foram decapitados'. levantâm uma
noi, ,r. Dominicano e um Augustiniano supplicio, os quaes acolhem com accentos tle alegria e acção
estes foram «le graças os cornpanheiros de captiveiro. Chegados á pre-
:;;il; .ãt.u,r- n'ella a missa, mas tambem.d'este zelo ex-
iJgo-ã;golr"aos: e alguns outros' imitadores sencâ uns dos outros, o seu canto terminou com os abra-
pru- cos da caridade.
c"I.iro,.off..m o mesmo castigo' Os iesuitast.sempre Deus
gloria de
á""i.1'q"..ao pelo bem clas almas e maior procurar e me- O governaclor dc Nangasahi tinha mandado construir se-
vindo gr-rndo um plano seLr unra prisão tai, para os missionarios,
renunciavam ão martyrio, que tinhâm
os christãos em se5;redo' e lá iam que só conr I vista devcria desaientar os bonzos europeus, e
recer, visitavâm sempre
prociig'iosamente o seu numero' os
pagãos' desgostal-os tlr: apostolado do Japão. Esta prisão, e cliÍicada
'- ""g;""i"rrat
aclmirados cla constancia da sua fé á vista das ameacas do sobre um pequcnô promontorio á borda do mar e exposta
conhecer urna Reiigião que iá tinha a todos o:i vcntos, era um recinto cercado cle estacas, que
ffi"."dor, queriam
com a sua n?io tllva rrenirum repato contra os ardores do sol ou ri-
feito tamos martyres) e como Deus acompanhava
thes era dada' solicita- gorcs rlo Írio, no nreio da qual se elevava urnir espccie tle
graca on-rnipotente a explicação -que
tornarern filhos seus e da Egreja' para qaiola crn extrerno estreita. Era alli que o prrtlre Carlos
vam a mercô cie se
i"r"* ,rrfr"m t lcliciclade de morrer por Jesus Christo' de Spinola e o Irmão Fernandez estavam eucerraclos cor-n
re-
A estes Íervorol;os neophytos, seclentos de supplicios'
para não
quatorze tr ranciscanos ou l)ominicanos, Sctc .lirponczes,
os Paclres a prudencia' conduzidos a esta prisão, oncle o espaco firltlvil I)irril torlos
conrmenclavam sobtett'tlo
I
aãt"p..*",t"rem o (lhristirtnistt.lo provocanclo tal auqmento os heroes que ella continha, pretendiam a honrrr rlc sor in_
I
porqLle os mârty- corporados na Ccmpanhia de Jesus. Carlos rlc Spirrolir os
de perseguição, tltte prtrlcssc irniqtrilal-o'
cosiillr llils enxclvitts e na nlorte' O Pa- atlmittiu ao noviciado, n'esta gaiola, onde soÍliiarn os hor-
res se sr.tccetlillnl sem
de url portuguez rores da fome, sede, nudez, infeccão, e onile as suas almas
dre Spinolrr, qLte cstilva escÔncliclo em
ca-ca
dcscoberto no mez cle Agosto de r6I9 louvavam a Deus com tanto amor por tel-os jrrl*arlo dignos
Xln6n.,,f.i, u,,ntlt'
"- um e C,'este longo e <loloroso martyrio de todos os instantcs.
juntamente corn o cc)âdiutor Arohrosio Fernandez'
Entretanto cirrco estrangeiros, uns em habito de rncrctrrlores
outroforatr:enca<ieailos,elevaclosperânteogovernaclor.
da prurlencia parâ o va- e outros rle marinheiros, desembarcavair em Nanglsalii, e
Com isto tirrha já passaclo o tempo
não eram inquietados de modo nenhuur: todos cir-rco cr.:.rrn
lentesoldadodaCompanhiatleJesus,eera.chega<1oodo
juiz o rosto jesuitas.
do seu com
heroismo. O Padre ^ppu""t deante
intrepido' e depois de Os Ár:glicanos e os Calvinistas hollandezes porsrrrrliram
serenor com o porte humil'lemente de
não <leixa nenhuma esperanca ao Xogun que os jesuitas conspiravam para cntrcgur o Ja_
um interrogatorio que
faz conrluzir á mas- pão ao rei rle Flespanira, e offereceram-se-lhe pirr.l vigiar
,arra*, o, lra,"t', o 1;overnador os
presos no mesÍno dia' Avis- os navios qi:e chegassem e as mercadorias que troLlxessem:
ntorra com dois Domi-nicanos
 324 325

e Xogun tinha acceitado os seus serviços' Com este ar<lil O menino dirige o seu doce olhar para o heroe veneran-
não tinham os hereies outro Íim mais que tirar aos hespa- <lo, junta as mãozinhas, e o Padre, que tres annos antes lhe
nhoes e aos portuguezes a vantagem do çommercio do
Ja- derramou sobre a fronte a agua do baptismo, invocou n'este'
pão: mas pai" chãga.em a este fim todos os meios para el- momento sobre este anio, que vai deixar a terra. todas as
i.. .ru* úonr, poi* que de caminho fechavam o Imperio bençãos do céo. Um grito de admiração rompe de todos
aos iesuitas e á Egreja. Quando os iesuitas lhes
escapavam' os coracóes christãos, e logo se dá o signal da execucáo I o
àunln.iurr* outios religiosos I e assim'fizeram prender a fogo crepita ao redor da fogueira, e as trinta e uma cabe-
que cobre o
Pedro «le Zuniga, augustiano, e a Luiz Florez'dominicano' ças rolam em presença da multidão recolhida,
no momento da sua chegada' Esta denunciação provocou promontorio e inveia a felicidade dos martyres, rogando a
novos rigoresr e a ro de Setembro de t6zz vinte e
quatro i)e,rs pelos que ainda vivem, para que a sue fe não desfal-
,"tigio.o"t sairam das gaiolas de Omura para subir ás fo- ieça no ultilno instante. InÍelizmente e§ta mxltiJáo piedosa
g.r"í.ut. Na sua frente marcha o Padre Spinola, conduzindo tinha de scr testemunha de desfallecimentos' Dcis, vencidos
ã. ,.,. noviços que tinha recebido na prisão: segue-os o Pa' pelas chatnruas,que os abrazam e suffocam, renegam o Deus
dre Leonardo Kimura, e os outros missionarios
condemna- que tinlrâr1r vindo fazer conhecer e adorar, e fogem do-ter-
dos ao mesmo supplicio. Trinta e um christãos iaponezes rivel bnrzeiro; mrs os algozes empurrâm nos outra vez para
estão reunido, p.tià das fogueiras para serem decapitados' as chrrnrrrtts, zornbanclo da sua cobardia, e os miseraveis
Logo que os missionarios se apÍesentam n'este promon- expirirrr: illnto dos hcroes, que morriam calltàndo hymnos
,oriofqrà tem sido banhado por ondas de sangue christão de triunri,ho c ilnlor. (lonfessa o historiirJor protestante,
doutor 1,. Ilitrtlic, quL:, cm virtude d'esta perseguição e só
qr. po. isso era chamado úonte Sacro, o Patlre Spinola
"er-rtô" à psalmo Lattdate, puerí, Dom-inum, elogo todas as n'este unn,rr rtllritçarutn a Ic mais de duzentos e trinta nove
juntam á mil e trezcntr)s gentios.
vozes d'estes milrtyres p,ãtt"t a subir ao céo se
sua, e fazem ,u1r',,r',1ru. os ares com os âccentos
da suasan- Xogun acabava dc clltreÍjtrr a seu filho as redeas do go-
cta alegria. A heroica phalangc sóbe á Íbgueire e
cle Iá o verno: e Xoqun II, quercrrdo exceder a seu pae, reservou o
Paclre ilarlos Spinola, quc, ha vinte annos, supplicio do fogo parit o vcrío, e inventou outro pâra a es-
.evarrilelizava ' tação do irrverno. Tcndo os l)trdres Diogo de Carvalho e
e táo do-
aquelle vasto Impcrio ri custa de tão duras fadii;as
lo.o.a. tribulaçóes, dirigiu pela ultima vez aos seu§ queridos Francisco Iluzoni voltado tlrt Cochinchina ao Japáo, foi o
cl-rristãos , ,uo ao-n]ouedàra palavra' Acabanilo' e vendo Padre B.rzoni ilescoberto I zr tlc ll'evereiro Je r6z4 em uma
Isabel Fernan<les, mulher <1o portuguez em cuja
casa tinha floresta, na qual cercado dc nutnerosos catechumenos exer-
.iao pr".o em 16rq, o Apostolo'M":yt.n cha''na: Dona cia secretamente o seu laborírlso apostolado. A força ar-
Isabei, lhe «liz, onde está o vosso Ignaciozinho?
Eil-o aqui' mada prendeu o pâstor e o retrltnlro, c <l birrbirro impera-
Padre meu, responcle a ioven mãe levantando a
craânça' que dor mandou'os despoiar de todos os vestidos e rnergulhar
estavâ com os seus u"riidot de festa, assim
como todos os em um tanque de gelo por espilço de tros horas. No dia se-
que iam subir ao céo' Eil-o aqui: e muito alegre guinte a agua do tanque estava coberta dc t-tovo com uma
"itl.,a.,
de morrer .ornror.o. E voltando-se logo para o filho: OIha' espessâ camada de gelo: quebram'ua e mergulham os
Ignaciozinho, aquelle é o que te fez filho de Deus na ves- christáos n'esta agua gelada, e n'ella os conservam Por e§'
pera do dia em qr'le foi preso em nossa casa'
paço de seis horasl depois como, com o frio da noite, o
 327
326
gentlos'
gelo se tornasse a fechar em redor dos christãos, sem que ouc os leva ao martyrio e á evangelizâção dos
estes pelo entorpecimento dos membros podessem fugir, li-l fim os hereies obteem do Imperador um decreto
"t,.
pelo qual d'ora em deante todo o estrangeiro
que entrarno
os algozes abandonam as victimas, e alguns instântes de- pés o signal sagrarlo da Re-
l"i" irp"r., deve caicar acs
pois estava consumado o martyrio. Correndo o mesmo
anno, o iesuita Miguel de Carvalho e outros tres missiona- dempçáo'
O'primeiro Apostolo tio 'Iapão, o in:m-oltal Xavier'
seguta
rios pagaram com a vida o crime do seu apostolado. a
Os embaixadores reclamavam contra estas barbaridades: do aito do Céo esta grande luta, que fazia correr lorros
dos christáás, e dizimava a Companhia de Je-
mas os herejes estavâm guardando as aveniclas do throno o-rurgu.
e o littoral do imperio, e o soberano, enganado pelas suas sus.
Ao mesmo tempo que o cr-rlpado Ferreira renegava ao
calumnias, ficava surdo ao grito da sua consciencia e á voz
Deus que por tanto Íelnpo tinha adoraJo. e servido com
da humanidade. Correndo o anno de 1633 vinte e quatro a utra das familias mais
jesuitas, dos quaes dezesete eram incligenas, augmentaram ,alo, u* ioven jesuita, p""t"t""
illustres áe Napoles, era feritlo na cabeça por um rnartello'
a gloriosa phalange dos martyres da Companhia de Jesus. t1e alturtr:era r:ste o-Padre
Em r634 o Padre Vieira, Provincial e administrador do l,-r" .ni,,, de ri.rt. e cinco pés que nâo tl-
Bispado, e preso com cinco de seus lrmãos, e como se re- úarceilo Francisco Mastrilli de San-Marsano)
edade' Anclantlo alguns ope-
á apostasia, são condemnados e mortos. Erarn nha mais que $inta annos cie
"ra"ara* rarios sob a sua <iirecçáo a ârmar a egrcirl dr Ot.rLlpanhia
estes os ultimos jesuitas que estivessem no Japáo. Ultimos, citir '-.r mar-
sim, porque um dçsgracado havia lá que a illustre Compa- para uma solemniclade, um delles tinha dr:ixildo
do Padre Levlrrrtirr-irrlr-no como
nhia jri não poclia reconhecer por seur que a Egreia náo iello sotrre a cabeça ioven
morto, mas estâva sómente desmaiado c lcrirlt>l porém a
podia iri contar no numero de seus fllhos, e que só o in- cinco dias es-
ferno poclia, ílo menos por então) reivindicar como a sua comn-roçáo foi tai, qr"re por espâço de vinte.c
a morte' Na noite de vintr: c einco ap-
mais bella conquista. Il'oi o caso que no anno precedente teve enire a vicla e
S. Francisco Xavier, clizendo-lhe cluc lirçt voto
offerecendo-se a brilharrtc corôa dos martyres a vinte e parece-1he
e.logo lhc rcstitue
cinco athletas da Oonrprtnlria tlc .lesus, aclrou-se entre elles à. i. no Japão para alli ser martyrizado,
clue no rlia seg'uintc i:i o l)adre cli-
um cobarcle, e Íoi o l)irtlre Christovam Ferreira. Nas Íilei- a saude tãocompletamente
Este
ras da Companhia scrvira clle muito tempo com honra, mas zia MÍssa, com espanto tlo povo que concon ou ii cgreia
milagre, attestaclo por totlas as auctoridadcs, divulgou-se
por fim passoll-se pâra o inimigol Esta apostasia era um
golpe proftrndo e riok:roso para os irmãos do desgraçado tão iapiclamente, que o rei <le Hespanha quiz ver o futuro
transfuga e para os christãos do Japão, que não cessavam Martyi e o recebei con: a maior honra' D'alli crubarcou-se
de pedir pela sua conversão. o Pá." para Gôa com outros muitos iesuitas sctlentos t1a
con-
Os jesuitas destrppareceram do imperio do Japão, e os salvaçáo das almas, e" resolvidos a soffrer turlo pitra
.".u". fé no Imperio ilo Japão Fim Gôa outros Apostolos
protestantes tiveram a fetoz satisfação de os ver todos im- " os espera'
molados ao seu odio sacrilego; mas nem i§so bastava. Os se reunem com eiles: sabendo bem a sorte que
christãos coru os seus minis-
mas deseiosos c1e acutlir aos
iesuitas são intrepidos, e sempre acharão algum meio
de
ás Philippinas táo felizmente se aprovei-
penetrar n'aquelle solo, d'onde nem os tormentos mais crueis terios. CÁegaclos
teem podido apartal-os1 cumpre Portânto deter o impulso taram das áccasióes, que- ionseguiram engânar a attenção

lr
 3e8
dos seus inirnigos e penetrâr no interior sem serem reco-
nhecidos. Algüns mezes depois, a 14 de Outubro de r637,o
Padre Mastrilli era conduzido pelas ruas de Nangasaki le-
vando nas costâs â, sentençâ do Imperador, que o conde-
mnava á morte.
Christovão Ferreira assistia constrangidamente á morte
de todos os christãos, porque as auctorídades iaponezas lhe
impunham esta vergonha para o confirmar na idolatria: e
esta testemunha forçada dos indiziveis torrnentos e do he-
roismo do PaCre Nlastrilli não deu signal algum de com-
moção! No fim d'este.mesmo anno o soberano prohibia a
seus subditos que passassem a fronteira dos seus Estados.
Os christãos, exrspl.ador com similhante tyrannia, tomâm
as armâs, são porem vencidos e, refugiando-se em Xima-
bara, são sitiados pelo exercito imperial, e depois d'uma
resistencia valorosa de seis mezes são obrigados a iende-
rem-se. A cidade foi tômada a r r de Abril de 1638, e logo
trinta e sete mil christãos foram tomaclos e rrortosl
Em r64o o Padre Pedro Pazzo e quarro jesuitas indige-
nas recebem a palma do mârtyrio deante dos olhos de Fer-
reira: e aihda o apostata offereceu incenso aos idolos! Mas
Francisco Xavier continllava a interceder. Tres annos mais
tarde os Padres Rubini, Menciski, Cappecci, Marques e Mo-
ralez, desembarcando n'umn praia deserta, foram descober-
tos pelos soldados de vigia e conduzidos em prisão a Nan-
gasaki. Chegados ao tribunal o juiz lhes pergunta: Quem
sois vós? Porque viestes aqui? Nós, responde o Padre Ru-
bini, somos sacerdotes da Companhia de Jesus, e vimos
annunciar a Jesus Christo, que morreu por todos.
Abiurae a vossa religião, replica o juiz, e ficareis cheios
de riquezas e digni{ades, Só a cobârdes se propõe umâ tal
deshonra, tornou o sancto jesuita; nós esperamos que o
nosso Deus nos dará valor para morrermos como chris-
tãos e sacerdotes. A estas ultimas palavras'o iuiz levanta'se,
pronuncia á pressa uma sentença de morte e foge. Este juiz
era o apostâta Christovão Ferretra. S. Francisco Xavier ou-
r1t
I
,,
!
3zg
viu no Céo esta sentença sacrilega: pediu pelo culpado, e
digamos sem demora que em 1652, cem annos depois da
glãriosa morte do illustre Apostolo, Deus se compadeceu por
fim. Christováo Ferreira sentiu sua alma penetrada de ar-
rependimentol ma§ achando-se só, isolado, sem soccorro
algum espiritual para reparar o grande escandalo que tinha
dado por espaço de dezenove annos, não lhe restava outro.
recurso senão o martyrio. Tinha elle entáo oitenta annos;
mas, apertatlo pela dôr e pelos remorsos, recobrou todo o
vigor e energia da mocidade para expiar os.seus crimes nos
máis horriveis tormentos' Apresenta'se pois ao governador
de Nangasalti e lhe cliz com lagrimils e soluços: Pequei con-
tra o Deus rlo Céo e dâ terrâ I Sotr christão, sou sacerdote,
sou jesuital e clepoís de sessenta e oito horas dos mais
crueis tormentos, durante os quaes nem o seu valor nem a
sua paciencia desfalleceu um só instante, deu a vida nos
.uppiiciot. Os Angelicanos e os Hollandezes, tendo des'
truido o Christianismo no Japão, conseguir'am o-que dese-
pensar em voitar
iavam, e a Companhia de Jesus não podia f á
1á senão para fazer derramar inutilmente o sangue christão
mais píecioso para gloria de Deus. E,stes iesuitas quer como
diz um auctor protestante, Engelberto Kaempfer, se acreditâ-
vam (no Japão) pela sua modestia exemplar, vida virtuosa,
soccorros que desinteressadamente davam aos pobres e
doentes, e pela maiestade do.culto divino, tinham sido sub'
mettidos aos nrâis medonhos supplicios, tinham sido quei-
rnaclos vivos, tinham sido degollados, tinham soffrido to-
dos os Éieneros de martyrio, porque os Protestântes os
accusavam de conspirar contra o imperador a favor de um
principe europeu.»
Sempre se encontra a heresia e a inveja por traz de to-
das estas calumnias que teem provocado tantâs persegui-
ções. A Companhia de Jesus pôde porém consolar-se
dos
desastres do Japão com o marâvilhoso desenvolvimento de
todas as suâs outras missóes' A propria provincia do Japão
conservou o seu nome; a sua séde foi estabelecida em Ma-
lr

JJO
cau, e de lá continuou a governar as missões da Cochin-
china, de Sião, cle Tonkin e outras qüe novamente se esta-
beleceram'
vrl
Qr o Japão estava fechado aos Jesuitas, a China offerecia
ü "o a"u zelo um campo mais vasto ainda para arrotear e
cultivar, e com difficuldades ainda maiores e mais numero-
sas do que em qualquer outra parte por causa de muitos
usos supersticiosos, âos quaes os Chinezes estavam ferre-
nhamenie apegados, Por jsso esta missão requeria nos seus
apostolos uma sciencia pouco communr, um iuizo rnuito se-
gu.o prr" discernir o que se podia tolerar, é o que se de'
íia piohibir absolutamente. A Sancta Sé tinha-os auctori-
zado a náo prohibir senáo o que Íbsse contrario á fé ou
aos
missionarios assustâvam-se
bons costumes; porém muitos
com certas urnnço.. Para thes socegar a perplexictade de
consciencia o Provincial reuniu-os a todos em Pekirn no
anno de r628, para que estâs questóes fossem agitadas e
discuti<las em assembléa geral, e se podesse adoptar urn
plano uniforme como convinha. Para obectrecerem ao cha-
Lrrn.rrto do seu Superior muitos Paclres se viram na ne-
cessitlade <Ie andar oitocentas'leguas aüavessando pessimos
caminhos.
O Padre Adão Schall, sabio mathematico adrnirado pelos
Chinezes, tendo sido encarregado pelo Imperador Xum-
Chin de corrigir o calenrlario do celeste imperio, aprovei-
tou esta o.ar.ião para fazer' ciesapparecer d'elle os dias fas-
tos e nefastos, o que era umâ revolução completa aos olhos
dos mesmos lettiados: comtudo o sabio e habil iesuita
soube fazel-a acceitar com o auxilio de seus raciocinios
scientificos, e o Povo adoptou com confiança o que os let-
trad'os lhe apresentavam. Aproveitando assim as occasióes
que a Providencia fizesse nascerr esperavam tambem os
rnissionarios que chegariam a extinguir pouco a pouco cer-
tos costumes que eram mais de ceremonial do que de su-
55r
perstição; até lá faziarg'se tudo para todos para as ganhar
'a
todos, e se'limitavam a prohibir o que erâ contrario á fé,
ou aos bons costumes, cónforme a auctorização que para
isso tinham da Sancta Se. Esta condescendencia facilitava
os progressos do Evangelho, e dilatava a fé tão rapiclamentet
qrr" 1á-f"ltnuam operarios para recolher a messe' Pedia-os
de.al da Companhia o Padre Dias, e como n'aquelles
"o
tempos a navegação apresentava immensos perigos n'aquel-
les mares, mandava-lhe dizer o missionario com uma sim-
plicidacle que revela o heroismo dos intrepidos apostolos:
«Eu vos peço vinte: e não seriam de mais, §e todos, por
graça especial do céo, chegassem vivos a Macaul mas não
é raro morrer na viagem ametade pouco mais ou menos'
Por isso, parn contar com clez, convCm mandar vinte por
annO».
Coúo tinha corriclo nas Philippinn§ que os iesuitas não
eram sufficientes para cultivarem as missões da China, logo
tres Dominicanos, os Paclres Angelo Cogni, Thomás Serraz
e Morales, com o franciscano Antonio de Sancta Maria, cor-
reram a ajudal-os. Chegaram elles pela ilha Formosa á pro-
vincia dé Fo-kien, ignorando a lingua, os co§tumes e usos
nacionaes, mas cheios de zelo para trabalharem n'esta vi-
nha tão esperancosa.
Esta provincia, uma das ultimas na evangelizaç-ão por
falta de operarios, estava confiada aos cuidados dos Padres
Manuel Dias e Julio Aleni, que já tinham alli levantado de-
zesete egrejas e edificavam os povos, que de muito longe
concotriam, com a mapsidão de suas palavras e sanctidade
de vida. Ora succedeu que logo á sua chegada os novos
missionarios ficassem mal irnpressionados com os costu-
'mes tolerados pelos jesuitas, e escandalizados da sua con-
descendencia, se recusassem a acieitar as razões que elles
davam. Aprendei primeiro a lingua, diziam-lhes os jesuitas,
estudae os costumes e os usos) profundae as idéas do povo
e dos lettrados, e quandô'tiverdes observado e estudado os
Chinezes, então iulgareis como nós, que ao principio con-

(
ilii
Ir
I
ll
* li'
532
vém tolerar celtas prâcticas nacionaes. que nada teem de
idolatria, se não quizermos renuncia. pui" se*pre a plan-
tar a fé n'este paiz,
O conselho era prudente; porém os missionarios, jul-
gando-o'interesseiro, repelliraÀ-o, e escreveram ao Arce-
bispo de Manilha e ao Bispo de Zebu que ôs iesuitas per-
mittiam aos christáos prosrrarem-se deante de urn idolo,
renderem um culto supersticioso aos antepâssados e sacri_
ficar a Confucio, e accrescentavam que os padres occulta-
vam aos neophytos o mysterio da Cruz. Os prelados enten-
deram que o caso erâ grave e levaram-o ao conhecimento
da Sancta Se.
Emquanto aguardava o resultado da denuncia que fize-
ram por consciencia, os novos missionarios apressaram-se
a destruir a obra dos jesuitas, prégando por meio de inter-
pretes e annunciando que Confucio e todos os sotieranos
da China estâvam condemnados, e que os jesuitas trahiarn
a sua fé e o seu dever, occultando estas verdades e permit-
tindo practicas idolatricas. Os ouvintes, irritados com estâ
linguagem, atiram-se aos novos prégadores e os arrastàm
perante o Mandarim, que os faz conduzir escoltâdos a Ma-
cau, e depois desterra tambem os dois jesuitas da provin-
cia, por temer que a sua doutrina se torne um dia tão se-
verâ como a dos novog missionarios.
Durante este tempo em r636 um.exercito de salteadores,
comn:andado pelo terrivel Licon, sitiava a cidade de pe_
kim. O imperador mâtourse para não cair vivo nas mãos
de Licon, e Usanguay, um dos seus generaes, chamou os
Tartaros em soccorro do celeste imperio. Então o grande
Kan Zrrptê correu á frente das suas tropas para combater
o âventureiro Licon e apoderar-se do thtono imperial.,
No meio de todas estas agitacóes politicas os jesuitas
conservavam-se neutraes, e a r4 de Julho de 1637 o padre
Aleni pôde reenttar nd Fo-hien, e achar-se cle novo com a
sua égreiâ e o seu querido rebanho.
No mesmo anno o Arcebispo de Manilha e o Bispo de
q
333
Zebu lmravlam n []rbuno VIII que, melhor informados so-
brc er preetlcâr e costumes dos Chinezes tolerados pelos
jeeultml h€rrr como dos motivos da sua tolerancia, justifl-
crm plênsmerrte estes religiosos, e não podem deixar de
apphudlr o seu zelo.
O Padre Shall tinha evangelizado toda a provincia cle
do Chon'ri, e o Padre Jayme le Faure, francez, tendo vindo
a €rtâ missio em seu auxilio, n'ella obrava prodigios, e era
vcn6redo como um sancto,
Em r6r4 o gran Kan da Tartaria, tendo vencido e demo-
tado o srtlteador Licon, deu o sceptro da China ao principe
Chun.Tchi, seu filho. Os herdeiros do ,neto de Vanlié reti-
rararlr.se para o meio-dia do Imperio sem renunciar á espe-
rança de reconquistar um dia a corôa do seu avô e do seu
p8e,
Na Cochinchina e no Tong.King era a [é dilatada admi-
ravelmente pelo apostolado da Companhia de Jesus. O Pa-
dreAlexandre de Rhocles chegou em r624, na edadede trinta
e tres ânnos, em auxilio dos missionarios que alli tinham
penetrado desde o anno de r6r5, e de.tal arte se identificou
com estes povos, que thes captivou o affecto, e exercia so-
bre elles uma salutar inÍluencia, Passdva elle das missões do
Tong-King ás da China, d'estas voltava ao Tong-King, e em
todas era acolhido com alegria do coração pelos seus neo-
phytos; mas em r64o os superiores destinaram-no á Cochin-
china, onde era tão amado e venerado como no Tong-King.
Tambem lá os seus successos eram tão admiraveis, que o
Soberano se assustou com o grande prog,resso do Evange-
lho, e quiz sustal o por nreio da perseguiçáo; porem os
christãos preferiam a morte á apostasÍa.
O governador de Charn-Tao, bsperando que os neophy-
'tos não ousariarn arrostal-o confessando-se christãos, orde-
nou que se fizesse o recenseamento de todos os sequazes de
Christo; porérn todos se confessaram christãos e nem um
só hesitou. O governadôl deu-se por qffendido e vingou-se
no missionario, condemnando-o a sair do territorio do im-
 -1-1f
i34
conta estrl tlioccso rrrlis de trezentos sacerdotes indigenas,
pelio. O Padre Rhodes não pôde resolver-se a
abanclonar
refere elle todos í'orurrrrlos pclos l)adres da mesma Companhia nos di-
ã seu rebanho: .Eu era alli o unico sacerdote,
versos sr:rrrirrrrlios tl'esta regiãor.
de deixar sem pastor nenhum
-artro, e não tive animo
es- I'istu tliot:csc auÍjmentou consideravelmente com a con-
i.int" *it christãos. Retirei-rne da côrte e conservei'me vcrsío rlos christãos chamados de S. Thomd, reliquias dos
em uma pequena
condido, habitanclo de dia ordinariamente cl:ristiios primitivos da India, mas quei havia muitos secu-
barca com oito <.los meus catechistas, e á noite ia
procurar
em algumas ca-
los, tinham sido arrastados á heresia dos Nestorianos. Os
os christáos, que se reuniarrr occultamente
vivia assim' ie suirls, por meio de prodigios de paciencia e ceridade, re-
sas. Flavia um ânno que o Padre Alexandre corrtlr.ristaram para Jesus Christo esta Egreja de cento e
rio, passava o dia, e levatlo á pre-
q""ra" tbi preso no oncle
cirrcocnta mil christãos, e a cultivaram com urn zelo infa-
rei, o qual sem olltra fórma c1e processo lhe man-
.'*nçu do tignvel.
habitado por
I áor, .o.r". a'catreça. O PaCre Alexandre tinha No Nladuré o Padre Roberto <le Nobili, ao qtial a Sancta
onde a sua mansidão' sirnplicidade
ll *.ri,o ,*olpo na côrte, até dos Se tinl-ra auctorizado em rtí23 a continuar a sua missão nas
da vitla o fazian-l amado e adrnirado
e .a.r.tidaà. conrlictics em que a comecára, até novo exame e ultirna cle-
I
moral: e por isso' logo que
;;rt. que não the acceitavam a cisão, o l)adre Nobili trabalhava sem cessar em dilatar o
"aourr" sua contlemnaçÍo, todos il uil-la voz pcdiram ao
l" a impr:rio dir Cruz, e tinha obtido adrnirar.eis resultad,rs con-
lr resistir a
.áU"r"no que lhe periloasse' O rei, náo po'len:1o tanrlo pcrto de cem mil christãcs. Náo contente cle se con-
desterrou clos seus
tantas inst;nciils, lhe peidoou a virla e o
saqrírr ao laborioso ministerio do apostolaclo em uma ex-
'l Estaclos. O coraçiro do A'postolo Íicou penetrado de dôr :
mercô dos seus
tensÍo tão consideravel, occLrpava-se ttlmbem em facilitatr
tlintir rr:ril christíros iam íicar sem soccorro á
aos seus successores â contiüuacão da sua ohrra, compondo
i inimigos
"crueleit fre nte t-le '.lma perseguição qu-e p.odia tornar-se livros de grandissimo merecimeirto, que ei.;lm o pasmo dos
mais L1e dizr para tlir' Ao menos o Pailre Alexandre' sabios da India. Na ilha de Cei[ão a priineira semente evân-
pro-
obrigarlo sepârar-se rlos sctls qucriclos :reophytos'
a gelica, lancada por S. Francisco Xavier, tinha fructiticado,
mett"eu-lhes que traballl'rliir crlt'tl totlas
as sttls forcas em
con- e apesar dos IJrahrnanes o Christianismo se e stcndia peio
e sc os rrão tleixrlu
ll,aa pao"rana outros tttis:;ionitt'iO:i, ministerio dos iesuitas, aos quaes se tinhan-r iunt:rclo alguns
solados, ao menos os tliixrlr: Lttll pouco
trenos infetrizes'
Franciscanos. De vez e'm quancio as sétas envenenadas dos
À[alabar' que era
com .i esperançir tlo futuro Na costa cto
pagíos envial'am missionarios parâ o céo; mas outros je-
cl'cste notne, continLlavam os iesuitas
á-.ar-r,." iia p.ovinci,r suitirs corriam a substituil-os ua brecha, onde elles tinham
a.lesenvc,,lve.estaf]orescctrtecirristtrradetie'quefôr.aaspri. cahido tão p;loriosamente. Os Protestantes sabiarr isto e ti-
lormado
micias r1o apostolatlo do grande Xavier'.Tiniram nham sobre todo o littoral tÍe Gôa uma vigilarrcia fbrrnida-
in.ligena nutneroso, que corria corn a e''lminis-
já um vel para os exierminar na passe gem. Os Padres JoÍo X,Ie-
'iero
ir".ao ,:^, p,,rorhiu., parâ ôs Padres se entregarem livre- tella e Matheus Palingotti foram nrortos ás lirncaclas pelos
menteáss.,"scontinuasrnissóeseexc.ai:sóesapostoiicas. Inr.lios tla ilha de <lellao; ern t6z7 o paclre Soeiro caiu
À ."rp*ito i1,: seus trabalhos escrevia o Aicebispo de Cran- traspasstrdo clas suas sétas, e a r.ç <le Setembrr.l cle rizS os
gor'ro. un 16:9 á Frop'rgarrtle: nAiem tlo' Religiosos
da
Padres l,tatheus Fernandes,e Bernardo Peres pereccram
E;;r^eja' e susten-
óorupatilria .le Jesot q'l'j perc'rrrcm esta do mesmo rrodo.
tuo, à p..o r1o día corn [ento successo como perieverança'
 331
336
na Syria, e já os vimos na Africa,
um navio Portuguez é
atacado e'in- I:::,ir**
ttanrsmo continuava a propagar-se onde o Chris_
Algum tempo depois paravel caridade.
pelo seu zelo e incom_
.#;";ilp.ilu","a:;::'"'lo'::."i,ilJ:iil'";;'.ti'"]::
n'este navio achavam-se ao mat P*i::"^1 r as cham- IX
se lança
Moreira' A equipagem
*'uàtt-Uot"ita segu'e a o matam a
equipagem ;
mas devoradorâs) e o e
que correm a elle
mas é visto ptto' tl""1J" ""I" J#'::
l{ ;1 :: ",..J;ü::
H ; :ff [:, :.J]
golpes de harpéo' . -633
-
In-
D. Afltonio de vasconcellos' di' tigo continenre. A sua inrtt".or.iiJ;;.;i
,
ff :
":.nmrn.
dl' e lrgeri..
.ft'":i^tiTil i,i.ll.'.;*;;;;
sidão, e inexgotavel cariclade
tuu'honras
selvagens, e as civilizavnm,
a"rrl"**1.'#tu."rr. rn"i,

í..-o
f"," ",,,.,,
il,à;:; dia e hora
por
{:m*l li"ii,X1X,i,"iifJ:
"*rtil;"i;;igo, Au Companhia, que
Christianismo, e dancto.h;,
inicianJo-r, ,".'Lr.,"rios
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attractivas virtudes. Esres ,.,..^o ;;::.:^
ír',
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dos é envenenado .- ---- .r^"i-nins- It no anno se- ü
tiveram conhecimento
,:::rr;: ili" n.aruou por alguns vrsta".,do": :: r
::-, n ;, ,.; ilT., "JJ ;:,
Missionurio:. mas .tepois
i:; í;i :.rr,",ili,l
por curio_
lljâ i
ffiil: ';:i"I';fftt"'utJo'*àut
: l";:;i;;"!" : a^Piov d enc a
tntriutt" e não p'ermittia
"-T^ aos
i i

;:'il1'',;.1,.T'J'.i;i T'
encan ta dos"r.l;;;;;';
clo seu rloce olhar, an -
velava sobre ot prendessem e mLatassem
â (o- meçavam a amar .r," ürL,ffi '.XlJij,il,T?#;;;:;
oagãos, nem aos r-'tttlJt"q* se dilatava sotain.a neqra, e já não queria_,"prrà._r"'A,"11".
ào-. o, apostolos 'I"
t; ;;iha' e o Ev-angelho tlos
;'""';;:'p-tl'o "io úcomparavel A invasão Ingrezes, como temos visto,
cada dia mais em """'1 .dos
rompido a missão tinha inter_
do canadá .rn ;;;3.
;l*t,";,:""iTiJi:'à';JJ,'"'iln";"3^a'o.rhibetrede guns religiosos Recolietos
r"."* "'rãio"o"
que al-
i*t* t" espalhavam os iesuitas por nuar; mas elles mesmos em r6z5 .rrr*"ãor'0u." a conti-
lá rrassou a Nepaul' t:tln: regióes co-
as p.ai.r*-lJ.riras, reco_
nhecendo e confessando_a superioridade
toda a Asia, e rtuuu"íã'l-uotgtrüo ^'till^'T':n'ndonado o d,eile, n,este ge-
ii;*t;jã *"
nheci«las do oriente'
nero de apostora<ro; e solicitavam;;-;;;;;mpo
sotação de os ajudar n'esre,taborior" a con-
,"i;;;;;;.
"É;; :r -'""::q::*l1* :mffi',i,nl:'.'lq+Iâ:
menre os padres Massé.,João.d" Effectiva-
n.eU.rf,
o''r"a::','[:*-;::"; Ragueneau, Anna de None (r), prrr"-L.à".ioJlrtt"..,rn,,
:::,IJI'i::",1:;'I:i,;'""*-'f vinte jesuitas chegaram successivamente l.ri" " ou,r",
:"â:. ;üi", :._"; :i Tv_etuu§
:['jÍ i]^r^].-"r"rrâm
"" ;;J;3 n u. M o, u. n u,
ordemrãar prohibia
ao C-anaOa. Em
ao Céol Agora os """,Til'J' com os gene- :13..1*"e os "".;;l;j;;r;. ient.ada da
I
na coréa' onde penetrall: . ,t" cochin- coronla, Inglezes foram expulso, p*to
ãAio dos natu-
*"rr"púiippitas, raes: podiam pois os
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 338
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mando parre na
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uid"''ã"tl',;.;ffi:'.:l-?mli: rostava) em fazer conhecer o Deus que elle tinha
vindo pré-
no. rJ,1 amor do qual elle soffria com tanta resignação.
g"n, p.o.uiJr";tt:-:" cuItura e tio'trabalho, .ri;;;;;: {,rrl_" _lo.
Os Hollandezes do Michigan faziam todos os e.lo.cã.
rorça de p".a
0..;;;;;;':1"j.ij,1,1'"-"'l'^ l'esra arre cheíiaram á salvar a vida do jesuita e tiral_o da escravidão, esperando
a vi a e l m talvez- que este nobre procedimento lhes abriria
iJn: i::l;.";;
i" ilY:J,::' ;,'i"1'.' :,x
cr d ra
entrada do Canadá.
de novo a
zelos ch risrã". l"i"ji- *, r'
"'rl]11'-' "ffi:.:i.1'Jl:l;: N'esre c,ontinuado supplicio vivia o padre Jogues,
entendendo por certos indicios que os I.oquãzes
quando,
.,uü,'"'r'"'.J,,*,T.';íjiü:.fl I'ffi i:::;'ti"'i,
um coilegio vam umâ expedição contra os Hurons com o firn
prepara-
do che-
i s-as ursulinas ,',..",]-'nl'Tntt' " "* loiu l9u
-"i:;: gar mais facilmente a atacar por surpreza a colonia
fran-
iri da d e um cor g o .' J J: :-::- ceza, o Padre escreve logo ao governador tla
,,j re i
"::"i:":11#.','": colonia a
prevenil-o por carta datada de 3 cÍe Junho rle r643,
,',:XT, :'; T x,tl" j
r : -li; r
; ;L I T'J.]i, ff n: : T . a qual
reduccão
:: Dentro de pou :: terminava por estas palavras: «Tenho baptizaclo aqui
mais
i;';;;";"-::entes' t"-no ia u de sessenta.p-essoas, muitas das quaes já àh"g...*
ao Céo.
murras ourrds .oo t esta a mrnha unica consolacão e a vontadc tlc Dcus, com
A conceicão ;.i.1]'lum.titnà,".ãl'if""
,"r ,i.i"".rlreclso levantar
,'l::.!0" s' a qual conformo a minha.,
"
sancra *rü"i.:;;si:,'-i"' Francisco Xa
S' Os Hollandezes chegaram por fim a salvar o rlissionario
Hurons, Algonquins onll'"t ,,r,.. uirL", ;;yl"t'
José''
,
de uma morte inevitavel, o qual tendo clois
suitas. ^ Montagnez,;i;;;.ii:::Ti::f[:
e
.e não podendo já celebrar
tlerlos cortacios
sancto sacriÍicio, pctliu para
O. I.oquezes e os voltar Franca. Anna <ie -o
Austria qoi, ,c, o irnimoso
:i" .: podiam re
. F
vrdâ sedenrari,,, -para
,apostolo.
,.oi1llll^t Elle sollicitou clispensa pa.a dize. u sirr.rctir
oa t ho para u, u
" :[r1 com as mãos mutiladas, e logo que à obteve
missa
voltorr ao Clnrrdá.
Hurons itcceitar a lei ev
",..o,ltl,"tt"tio'inãáãr;t."i"*,ii:
o."rrrrr-*'i.l:"::'t ', os Poucos annos antes, duzentai familias
ingter,,. alrirntlona-
sernpre indoceis, nl;,:l:. "b''"tt";; ;;;;;svanselica' ram uma patria, onde não lhes era já permiitirio
oto d, cjvilizacão. rrirrrr-os t ,""pJrtin"ni"üJ;ff1t; catholicas, nem educar seus Íilhos nafé
vivcr como
de seus ples, e de-
, Em de 1643, indo o pacl
Y"i*o.1".direcção de quarro jesuiras, paC.es AnO.O WIli,.,
ton8o um rio ...o,,rli^loIues.e o irmão Rene Goupil ao J-oão Altham, Knowles e Tom
Gerváck, a.r"nJ,,r",,.n. .r"
tor,_o. Iroqr"ã n'ralsumas canoas ilha de S. Clemente nas
"",i'j::::
oo pacire e do rrmão aaoiour";; de 1634. A p";;;;;;;ff, :.T:*ffI ;'il1;l
corpos "'l-u:. ",llliiiiJ;
os christãos; irl"*-rh., ii:,Tl[.-
oJ"r"., ;"T:.:'*
tro para"- .-oã."ã"rli^^lu'*, assim de um log. o, çou até ao Sancta Mnria, e se apresentou ao cheÍ-c tlt
tribu
I
" dos Piscatrvays. o chefe a.colhzu-a .";
". ;i;;;;, portluc ti-
;rÍ1"$ri[:i#n{i{ii,'i;-U : t #i;{H:ff lli"rrt*o fallar dos ;'csurtas, e os amava sem
r-ogo se levantam algurnas choupanas
os conhccer.
u.,., *,í, ài;ü
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á pressa parâ os co-
H,ii?.:: ;fi :rJ.:"Til: lonos, os Padres annunciam a boa
nova'a erta, l;"lurgens,
fi:li *l .aos quâes os seus instinr
.oeb er, e,,. i,","u.'
"
lil H J;,1::.[ il,j.ãrj:,#ü,],i5.
I
l
 34o
Os Anglicanos estabelecidos na Virginia, irritados iom
a chegada dos jesuitas e com â docilidade dos indigenas
em escutar as suas instrucções, espalham o boato de que
os missionarios são uns Hespanhoes, que vêm preparal-os
para soffrerem a mais dura escravidão I porém os eslorços
dos Padres, a sua doce caridade e ternos cuidados para
com os Indios triumpham das calumnias anglicanas I e iá em
r64o tinham ganhado muitas tribus, contavam um grande
numero de neophytos e pediam apostolos da Companhia
que viessem ajudal-os e substituil-os na morte, porque el-
Ies se sentiam iá extenuados por este penoso apostolado'
Ao mesmo tempo os Padres Empteau e Bouton evânge-
lizavam as Antilhas com os mais consoladores resultados,
e o Mexico contava collegios e residencias cla Companhia
de Jesus.
Em Carthagena, na Nova Granada, o Padre Sandoval ti-
nha gasto a sua vida na instrucção e conversão dos escra-
vos negros, que n'esta cidade se renovavam sem cessar'
Carthagena, sobre o golfo do Mexico, era o emporio do
commercio para todo o mundo, e um mercado continuo de
escravos. Os mercadores de negros para alli os levavam
cada dia de todas as Indias Occidentaes e de todas as cos-
tas africanas. O Padre Sandoval tinha-se dedicaclo á salva-
ção d'estas raças de homens, aos quaes a cubiça tractava
.como vil gado, e por esta causa contrahira enfermidades
que eram um verdadeiro martyrio e o traziam coberto de
ulceras. Porém Deus, que quiz morrer pela salvação de to'
dos, não abandanava os pobres Indios escravos, pois que
no anno de 1615 enviou ao Padre Sandoval um successor
digno d'elle, o Padre Pedro Claver, hoie canonizado, que
se dizia e realmente se fez servo e escrat)o dos Negros, e
lhes consagrou toda a sua vida. A vida e sublime apostolado
de S. Pedro Claver íoi escripta pelo auctor d'esta obra.
As missões do Brasil alargavam-se cada dia mais, e pe-
diam numerosos operarios dispostos a trabalhar no meio
clas privaçóes, Í'adigas do clima, opposiçóes suscitadas pela
34t
cubiça dos colonos, e soffrimentos de toda a sorte, que
os esperavam e não se lhes encobriam. Porém nós sabe-
mos que cada espinho d'este rude ministerio era um at-
tractivo mais para os discipulos de Sancto Ignacio, e que a
emulação entre elles era sobre quem obteria estas perigosas
missóes, que já tinham feito tantos martyres. Elles sabiam
tambem que o Oceano na passagem engulia bom numero
de missionariosl porém até com isso se regosiiavam, por-
que era morrer no exercicio da caridade apostolica e pela
gloria de Deus. A 3o de Abril de 1643 quinze d'entre elles
embarcaram em Lisboa para a missão do Maranhão, que
fôra recentemente creada pelos Padres residentes em Per-
nambuco. O navio chegou felizmente á vista da costâ, e to-
dos se felicitaram de se ver chegados ao termo tão dese-
jado: quando de repente o navio vai de encontro a um re-
cife e, corr.r um estalo espantoso, é levantado e n'um pes-
tanejar de olhos, submergido e com elle doze missionarios:
os outros tres salvaram-se e chegaram ao seu destino.
Os jesuitas do Rio de Jtneiro tinham ouvido dizer que a
vinte leguas para o Norte pouco mais ou menos vivia um
povo de extraordinaria ferocidade: os Guaitasses, que se
repastavâm com voracidade nos cadaveres arrojados pelo
mar, e que, quando este os privava por muito tempo d'este
horrivel festim, se punham de emboscada nos confins do
seu territorio, espreitando a passagem dos Europeus, para
os agarrarem, matarem e comerem. os colonos nunca ti-
nham ousado emprehender guerra contra estes formidaveis
anthropophagos, parecendo impossivel toda a tentativa de
civilização a seu respeito; porém os iesuitas não pensaram
assim, e n'este ânno de r643 enviaram oito missionarios aos
Guaitasses. Os Padres ignoravam o idioma d'estes selvagens,
nem tinham outras armas defensivas, senão o seu crucifixo,
o terçor o breviario e a confiança em Deusl armas suffi-
cientes ao menos para o martyrio. Partem pois alegremente
para estâ conquista e chegam á presença dos tão temidos
selvagens. Admirados de tanta confiança e das maneiras táo

342
aífectuosas, os Guaitasses rodeam os Padres, examinam-os,
interrogam-os por meio de signaes, e não podem crer que
estes brancos venham tão espontaneamente entregar.se
ao seu feroz appetite. Por fim, prevalecendo a curiosidade
i,
a qualquer outro instinctoi nove d'entre elles cedem aos ie-
l
suitas e vão com elles até ao Rio de Janeiro, Aqui são el-
les acariciados, instruidos, baptizadosl depois voltam como
i catechistas para a sua tribu, e ahi estão os Guaitasses sua-
vemente rendidos.
i
I
x mão da charrua, e mostraram aos seus alumnos tudo o que
I
fls colonos do Brasil não podiam perdoar aos i'esuitas a d'um trabalho bem entendido.
U protecção que caridosamente concediam aos indigenas.
convertidos. O rei de Hespanha, a rogos do Padre Valdi-
via, como temos visto, tinha livrado da escravidão os Indios
baptizados, e ordenado aos Hespanhoes qLre os deixassem
inteiramente á disposição dos Padres da Companhia, que
os traziam á civilização por meio do Christianismo. Esra
decisão do Soberano privava ós colonos de um commercio
lucrativo, e isto os irritava contra os missionarios. Empre-
garam pois todos os meios para os obrigar a abandonar
estas regiões, onde. os selvagens os amavam e olhavam
como libertadores; mas os jesuitas não se desalentavam tão
facilmente. Os Hespanhoes privaram-os de esmolas: mas
os Padres acceitara.m esta privação e comecaram a viver
de hervas, raizes e milho, declarando que só a morte os
poderia separar do seu querido rebanho.
A primeira Reducção que tinham estabelecido na provin-
cia do Paraguay, com o nome de Loreto, prosperou ra-
pidamente I os Indios corriam para eiia e attrahiam cada
dia novas recrutâs, de modo que foi.logo preciso formar
segunda Reducção, chanrada de Sancto Ignacio, depois ter-
ceira e quarta. Os bons Indios não podiam resistir á doce
influencia dos Padres, e se sentiam tão felizes, e mos-
travam-se tão doceis debaixo da sua direôção, que se
t..
I
545
operavâm maravilhâs de civiliza.ção n'estas diversas co-
lonias.
Todas as artes e todos os misteres tinham lá a sua offi'
cina, ao principio dirigida por âlgum Irmáo coa«iiutor, e
depois pelos Inclios mais habeis. Cada um escolhia o ge-
nero de trabalho que mais lhe agradava: um se fazia car-
pinteiro, outro serralheiro, outros aprendiam a esculpirrou
a pintar, outros teciam, outros edificavam casas á europêa.
O trabalho que menos lhes agradava era o da terra; mas por
isso mesmo e para lhes dar exemplo, os Padres lançaram
é possivel obter da terrâ para o bem commum por meio
Bem depressa as Reducçóes se converteram em pequenas
cidades, com ruas bem alinhadas, casas commoclas e bem
construidas, e egreias convenientes. O trabalho de cada um
erâ regulado. Todas as segundas feiras se dava a cada mu-
lher a iã ou o algodão que devia fiar durante a semana, e
entregar ao sabbado; e os homens tinhum tambem a sua
tarefa segunclo o estado ou profiss6o de cadu um. A cera e
o mel recolhido nos bosques e o Caamani, herva medicinal
muito procurada pelos Hespanhoes, vieram a ser nas Re-
ducções objectos de commercio par os indigenas, Mas a
vida d'estes neophytos era tão pura e tão sin:ples, que os
missionarios, para lh'a conservarem, lhes prohibiam todo o
contacto com os Hespanhoes; e ensinanclo.os a ler e escre-
ver estâ lingua, não os habilitavam pâra a Íàilar. Só os Pa-
dres tractavam com os europeus. Cada pequena cidade era
dirigida por dois Padres jesuitas, dos quaes um era Paro-
cho e o outro Vigario; e eram elles que regulavam as ho-
ras de oracão, trabalho, repouso, e recreaçóes, e os guarda-
vam e seguiam por toda a parte. Faziam-se os Padres amar
tanto dos neophytos, com seu tracto pâternal, que esta vi-
gilancia era para elles suave e sobremodo os alentava. De-
pois que os indigenas tinham aclquirido o espirito de ordeú
.de
e economia, assignavam-lhes os Padres uma porção de
 344
l(:r'reno para cultivar, e os constituiam donos e proprieta_
rios: mas cada anno uma parte das colheitas era depásitada
em celleiros de reserva para acudir aos enfermos, e preve_
nir um anno de esterilidade, ou prover a quaesquer neces_
sidades imprevistas.
A felicidade tão socegacia dos povos governados assim
pelos Padres excitava o ciume e irritacão àor r"r. vizinhosl
e até os Hespanhoes, comparando esta doce existencia
com
a escravidão em que traziam os indigenas, sentiam augmen-
tar a sua colera contra os jesuitasl porque viam n,aquella
caridacle e dedicação para com os povos, umâ censura
con-
tinua e muito eloquente da sua cruel cubica. Os padres
conhecendo estas disposicóes contrarias e temendo algum
ataque ás suas Reducçóes com mão armacla, obtiveram
do
.rei de Hespanha auctorizacão para os seus neophytos usa-
rem armas de fogo, para repellirem os inimiqos que se
apresentassem, ainda quando estes fossem Hespanhoes.
Munidos d'esta auctorizacão, os padres ensinaram aos seus
povos a fabricar toda a sorte de armas europêas, até ca_
nhóes, e estabeleceram um arsenal em cacla paqu"n" po-
voação para a delesa commum. Catla uma d'àstas povoa_
ções tinha a sua milicia composta de infanteria e cavalla-
ria, com seus officiaes e soldados, e exercicio militar em
dias certos, tudo com uma subordinação perfeita.
A preguiça era castigada pubiicamente, e a ociosidade
não era nunca tolerada. Todos os neophytos, assim como
os christãos primitivos, se soccorriam mutuamente e se ti-
nham por felizes, participando todos dos fructos do traba-
lho de carla um. Não conheciam auctoridade senão a de
seus Padres: mas estes lhes ensinavam que acima d'elles ha-
via o Soberano espiritual de todos os ihristãos da terra, o
Soberano temporal clas Hespanhas e o Bispo da <liocese
I
e que todos deviam amar e respeitar estas auctoridades, e
na palavra de seus Padres estes christãos simples e singe_
t
los declaravam-se promptos a obedecer com alvoroco ao
i primeiro signal d'estas tres auctoridacles.
3+5
Quando D. Peclro Faxardo, Bispo c1e Buenos-Ayres, vi-
'sitou estas Ileducçóes, os Guaranis mostraram-lhe a maior
alegria e venerução. Examinou elle, em todas as suas par-
ticularida«les, csra lnaravilha da civilização christã; e dando
.conta do incrivcl succsso dos jesuitas, mandou dizer ao
1
) rei: «Eu não creio (lllc se commettâ nem um só peccado
mortal por ânno n'cst:rs lletluccóes.,
Esta rcpulrlic;r rlo I)rrnr{rra/r clue os iesuitas governavam
com o liv;rngclho na rniio, c qt.lc a l,)uropa aclmirava de
longe conro unr protligio rrnico c scur cxemplo na historia
do mundo, ia-se augntcnt;rnrlo corrr rurritos ou.tros povos
que tambem se rencliam á cruz .lc .[csus (]hristr:. Os Sapez,
os Guananas e muitas outras tril)l.ts sc tiuhlrr.t.r suhnrettido
ás suaves leis dos Padres, e as pequolras citlirtlcs so ularga-
vâm, ou se ediÍicavam outras de novo para recctrcr os tluc
vinham vindo. Os Padres Jose Cataldino, Sirniio Mircer.r,
Gonzalez e Antonio Ruiz de Montoya governavam as prin-
cipaes colonias. Alguns collegios dos jesuitas nas provin-
cias rlo Paraguay, do Tucuman e do Rio de la plata rece-
biam os jovens incligenas para formarem geraçóes futu-
ras. Outros missionarios iam a novas conquistas, e traziürn
sempre novas tribus que a sua intrepida cariclade e zelo
incomparavel iam descobrir no fundo das florestas, oncle
ainda nenhum europeu tinha ousado penetrar. porém to-
das estas maravilhas apostolicas muitas vezes não as obti-
,nham os missionarios senão á custa da sua vida. Algumas
vezes acontecia que os primeiros missionarios vistos pelos
selvagens caíam mortos a golpes de machado, e então o
sangue do martyr abria o caminho aos que lhe succediam.
Outras vezes a invejosa cubiça dos colonos vingava-se sus-
citando inimigos ás colonias de neophytos, e clesde r63o a
r63r os Mannelas, tribus selvagens das fronteiras do Brasil,
assolaram e destruiram as bellas Reducções de S. José, de
S. Francisco Xavier, de S. Pedro, da Conceição, de Sancto
Ignacio e do l-oreto. Os Hespanhoes nenhum soccorro leva-
vam âos neophytos, e diziam despeitados: Os iesuitas qui-
il
3+6
zeram conservar-lhes a liberdade, quizeram civilizal-os e
governal-os a seu rnodol pois agora defendam-n'os tarnbern
a seu modo.o
É o que frzeram os Padres. Como os neophytos não esta-
vam em estado de se defendçrem n'umaguerra de selvagens
com settâs envenenadas, fizeram-n'os emigrar para as suas di-
versas colonias abandonando todo o seu material aos inimi-
gos. Sob a direcção dos Padres Montoya, Suarez, Contreras e
Espinosa, todos os christãos embarcaram no Paraná, des-
ceram o rio até ao Grand-Sault, e foram pedir hospitali-
dade a outras colonias mais recentes e ainda ignoradas dos
Mannelas. PoucoS annbs depois, em r64o, estas Reducçóes
forarg atacadas pelos mesmos inimigos; porém d'esta vez
as precauçóes estavam bem tomadas, os christãos eram nu-
merosos e aguerridos, e estavam em estado de repellir o
exercito de selvageps, que vem cair sobre elles. Os iesuitas
dirigem a defesa, conduzem as turmas dos seus 6;uerreiros,
animam-os com a voz e com o gesto, e fazem-os vencedo-
res: os Mannelas íoram csmagados e desbaratados, e os
que escaparam foram Í'eitos prisioneiros, mas o captiveiro
foi para elles a salvação de suas almas.
Mas os Paclres não gozaram muito tempo do socego tra-
zido ás suas colonias pela victoria dos neophytos. As Reduc-
ções tinham-se tornado tão numerosas e consideraveis, e
comprehendiam uma tal extensão cle terreno, que se tor'
nava necessario criar um bispado no Paraguay. Os Religio-
sos de S, Francisco trabalhavam tambem com zelo nas sua$
missóes do Brasil, e entre elles o Padre Bernardino «le Car-
denas, que se tinhâ sobretudo distinguido pelos seus talen-
tos e virtudes, foi proposto ao Rei e ao Summo Pontifice'
para a nova Sé da Assumpção, cidade fundada pelos iesui-
tas Gonzalez e João del Castillo. Bernardino de Cardenas
gostorl da nomeação e de ter uma diocese para governar;-
e como as Bullas não chegam tão cedo, quanto elle deseia,
impacienta-se, e não se contém. Apresenta ao Bispo de Tu-
cuman as cartâs, que the annunciam a expedição das Bul-
3+t
las, e tanto faz, que decicle o Preiado a sagral'o, ceremo-
nia que teve logar no mez de Outubro de 164r.
tts Esta sa64ração era irregular: e por isso os jesuitas da
universidade de Cordova, melhor informados do que os ou-
1106, tinhâm procurado dernora-la: mas em vão, Logo que
se viu sagrado, D. Bernardino citou-os para que reco-
nhecessem por escripto a validade d'esta sagração: e
como o Padre Boroa, Reitor da universidacle, declarasse
que não podia em consciencia ceder a esta orclem, D. Ber-
nardino se fez seu iniinigo e de toda a Companhia. Em r64o
pretendeu apoderar-se, á força, de uma casa pertencente
aos iesuitas da Assumpção: mas o Governador D. Grego'
rio interpõe a sua auctoridade, para que os Pad;es Íiquem
senhores de sua casa n'aquella cidade, que lhes deve tudo
o que é.
Então o Prelado appella immediatamente Para os maus
instinctos dos Hespanhoes, publicando um escripto pelo
qual os exhorta a expulsar aquelles unicos apostolos e sus-
tentaculos da liberdade dos'Indios, unicos que põem obsta-
culos ao commercio dos escravos, e que privam os colonos
das riquezas que poderiam adquirir com o traÍico dos indi-
genas. Os Hespanhoes lá ha muito suspiravanr Por um tal
apoio, e o Bispo, contando com eiles, chega ao extremo de
excommungar os jesuitas para os obrigar a retirar-se'
Dom Gregorio, inforàado d'esta violencia, ordetra a seis-
centos neophytos que tomem as armas e o sigam. Assim
acompanhado, se âpresenta sem ser esperado deante do
Bispo, e lhe intima uma ordem de desterro e confiscação
de bens. Não esperava Dom Bernârdino similhante desen-
lace, e vendo-se obrigado a ceder, deixa a provincia, espe-
rando que cedo ou tarde os Hespanhoesr cuia cubiça lison-
geára, expulsarão os jesuitas com mão armada, e o torna-
rão a chamar com alegria.
Enretanto lá ficaram os missionarios a continuâr a obra
civilizadora, cujos prodigidsos resultados ultrapassavam to-
das as esperancas.

3+B
l)ouco depois, a zg de Julho de 1643, Urbano VIII deixou
csta vida, e o Cardeal Pamphili lhe succedeu a 16 de Se-
tembro do mesmo anno com o nome de Innocencio X. O
Padre Mucio Vitelleschi, Geral da Companhia de Jesus, sob
cujo governo se tinham concluido tantas e tão grandes
coisas, e a qnem por sua mansidão e humildade Urbano
VIII dera o sobrenome d,e Anjo, não sobreviveu a este pon-
tiÊce mais que alguns mezes, morrendo a 9 de Fevereiro
de r645, e deixando a Companhia mais forte, maior e mais
propagada do que nunca; porém violentamente ameaçada
pela nova seita do Jansenismo, da qual um auctor protes-
tante, o doutor Rank, disse: nSe procurarmos caracterizar as
relações existentes entre os Jansenistas e os pârtidos que
dominavam na Egreja, vemos evidentemente que estas re-
laçóes recordam o Protestantismo.» (r)
(r) Histoire de la Papauté, rom. III, page 3o3,
-
_ -...:..Trril
Generalad.o do Padre Vieente Caraffa,
septimo Geral
1(I4t5-1(}.LÍ)
Oitenta e oito Professcls se achavam reunickrs na casa de
Jesus para a Congregação Geral a zl de Novcml-»ro cle r645.
Caiu a escolha sobre o Padre Caraflà, Íitho clo l)LrqLre de
Andria, o qual tinha sessenta annos, rtras promcttia ainda
larga vida.
Antes de se separar, a Congregação fez muitos tlecretos,
e o que pareceria inexplicavei, se não tivessemos jri visto
muitas vezes até onde póde chegar a abnegacão dos filtros
de Sancto lgnacio, é que n'esta assembléa os Professos vin-
dos de França e dos Paizes Baixos não se occuparam da
questão que de alguma sorte lhes era pessoal, a do Janse-
nismo. Talvez não previssem as incalculaveis consequen-
cias que elle.viria a ter para o futuro do seu Instituto. Se-
parâram-se os Padres a 14 de Abril de 1646.
N'este mesmo anno um facto que, pelo modo nobre e de-
licaclo com que foi reparado, seria de honra e gloria para
qualquer outro Instituto religioso, veiu servir de pretexto
ao odio para calumniar mais uma vez a Companhia de Je-
sus, e isto por occasião de um novo assumpto. Muitos col-
legios de Hespanha muitas vezes não tinham o necessario
para se sustentar; porque os jesuitas não punham limites
á sua caridade, e recebiam mais alumnos do que permit-
tiam os seus recursos. Fstes momentos de penuria, aincla
que eram logo adoçados pelas esmolas, eram comtudo fie-
édit. r848.
quentes. Um Irmão coâdiutor, que era o encarregado das
 35o
rendas do Collegio de Sevilha, entendeu gue o úelhor e
mais seguro meio de fazer cessar esta indigenciâ era met-
ter-se no commercio. Para este fim contrahiu emprestimos,
comprou e embarcou mercadorias, sem que os Padres nada
soubessem, nem ao menos suspeitassem. Deus não quiz
abencoar uma empresa que não tinha inspirado" e que o Ir-
mão tinha occultado a seus Superiores. Os naufragios e os
calculos errados rnallograram todas as esperançâs do Irmão,
e os capitaes emprestados desappareceram dentro de algum
tempo) sem terem produzido coisà alguma senão um pre-
texto para imputacóes abominaveis.
Os creclores appareceram a reclamar o seu clinheiro aos
Padres. Estes, ignorando o que tinha siclo feito, affirmam
que elles não tinham recebido nada emprestado: mas como
o emprestimo tinha sido feito em seu nome) obrigam-se a
reembolsar todo o clinheiro, e ajudados pela Providencia
cumprem noLlremente a sua palavra. O irmão impruclente
foi expulso c1a Companhia, e longe de accusar os Padres
para se desculpar a si, pelo contrario sustentou âté á
morte que nunca lhes tinha fallaclo em tal emprestimo e
negociação. Pois apesar d'isso sempre a impiedade, a he-
resia e a inveja disseram, escreveram e I'epetiram que em
r643 os jesuitas fizeram em Sevilha uma bancarrota, que
lançou muilas farnilias na rniseria. E assim se escreve a
historia !
O Summo Pontifice quiz mostrar ao mundo que estas
calumnias não tinham echo na cidade eterna, e alguns me-
zes depois d'este acontecimento, emquanto os protestantes
e os Jansenistas o exploravam com mais ardor, em r647 In-
nocencio X tornou á Companhia.de Jesus um de seus mem-
bros para o Sacro-Collegio. Era João Casimiro, filho de
Sigismundo III, rei da Polonia, e neto de João III, rei da
Suecial sua mãe, segunda mulher de Sigismr-rnclo III, era
Constança, Íilha cle Carlos tla Austria, João Casimiro ti-
nha entrado no noviciado dos jesuitas a z5 de Setembro de
r643, na edade de tÍinta e quatro annos e, passados na Com-
35r
panhia sómente quâtro, o Summo Pontifice lhe ordenou
que acceitasse o chapéo de Car.deal. (r)
Emquanto a seita atiçada pelo odio contra os jesuitas,
trabalhava activamente na sua obra destruidora, um mem-
bro da illustre Corppanhia dava uma triste prova de quanto
o espirito de ambiçáo é incompativel com o d'este sancto
Instituto. O Padre Jarrige, iulgando-se com os talentos,
virtudes e capacidade necessaria para os ernpregos mais
importantes, levava a mal que seus Superiores não tivessem
d'elle a mesma opinião. Dissimulou por algum tempo o seu
desgosto, mas vendo-se chegado á edade de quarenta e um
annos sem ser chamado a nenhum dos cargos de que se
julgava digno, quiz vingar-se cla Companhia toda. O des-
graçado não via que a suâ alma ia ser a primeira victima
do seu orgulho e ambição! Deixa o Instituto em t647,
pârte para a Rochella, e no proprio dia de Natal, apostata
da fé no consistorio calvinista! Como a apostasia era cas-
tigada em Franca com pena de morte, parte para Hollanda,
onde é acolhido pelos hereges com uma alegria frenetica,
porqLle prêsas cl'este genero eram raras e preciosas para
elles. O apostata não se limita a isto I sohe ao pulpito de
Lyde, espraia-se em calumnias infames contra a Compa-
nhia de Jesus, que era indigna de o possuir; clepois publica
um escripto intitulaclo : Os jesuitas postos no cada,falso por
muitos crimes capitaes. Este tecido de horriveis imputaçóes
levanta a indignação geral,, porque toclos querem ler á por-
(r) Ilste Principe foi proc)amado rei da Polonia n zo de Novembro do
1648 depois da mortc de seu irrnáo V/ladislau VtI, que náo deixou filhos, O
Papa dispensou-o dos votos, e o obrigou a acceitar o sceptro para felicidaclo
da Poionia, e lhe deu dispensa para casar com Maria Gonzaga, viuva de seu
irmáo Wladislau, porém nío teve d'elh nenhum filho, Joáo Casirniro V foi
coroado a r7 de Janeiro de 164o, rcinou com notavel rnansidáo e piedade, até
que abdicando nâ dieta de Varsovia a r6 de Setembro de 1668 entre as lagri-
mas de seus subditos, retirou-sc para França. Luiz XIV deu-lhe a Abbadia
de S. Germano dos Prados, oode estii depositâdo o seu coraçáo, e a de s,
Martinho em Nevers, onde morreu a r5 de Dezembro de 167:, O sencorpo
foi levado a Varsovia.
 352 -r 5J

tas heresias, que a sabia faculdade reduziu a cinco princi-

Íia a obra do iesuita apostâta. Ha momentos em que aPPa-
paes.. Os theologos da trniversidade, achando-se d'estemodo
rece uma certa sêde de mentiras e escandalos' Quanto
forçosamente no câmpo dos jesuitas, o choque era dos mais
áquelle libello até os hereges acharam que o calumniador foi
rudes para Porto-Real. Os solitarios não podiam recebel'o
muito longe, e lhe observaram ingenuamente quê disse de-
sem o repellir, e dizer que os iesuitas tinham arrastado a
mais para ser acreditado; mas os J ansenistas apoderaram'se
Sorbôna atraz de si. O famoso Paulo de Gondi adminis-
da caiumnia, e acharam'a boa para ser exploradat feste-
jando o pamphleto embora desprezassem o auctor' trava a diocese de Paris a titulo de Coatliutor do Arcebispo,
' seu tio; souberam lisongeal-o e fazel'o amiE;o, para con-
Emquànto um iesuita renegava o seu Deus, e era quei-
tarem com o seu apoio, mas isto não bastava, Fizeram fogo
mado em eflÊgie na Rochella por crime de apostasia, outros
com as suas baterias para obterem tambem o assenso e
filhos da Companhia tlavam generosamellte o seu sangue e
concurso de alguns outros Bispos, queixosos da influencia
vida em defesá da sua fé. A zo de Fevereir o de t647 o Irmão
dos jesuitas e dispostos a se colligarem com os inimigos cla
coadjutor Cuthbert Prescott expirou em Inglaterra nos
Companhia. A tempestade approximava-se.
mais horriveis torlnentos. A r3 de Setembro os Indepen-
Emquanto a Companhia de Jesus era assita ameaçacla
dentes, partiilarios de Cromwel, fizeram morrer sete mii
em França, perseguida em Inglaterra, calumniacla eno tocla
catholicás Irlandezes, que preferiram a morte á apostasia'
Tres mezes depois o Paclre Edmundo Nevil, de edade de a parte onde houvesse um herege, continuava a derram:tr
oitenta ,.t" ánno., íoi despoiado de seus vestido's, ârro' o sângue e a vida dos seus membros com uma generosi-
jado a "um pontão, exposto assim aos rigores clo inverno, dade incomparavel:
âo supplicioda fome, aos ardores da sêde, aos insultos dos
O Padre Jogues, que nós vimos voltar ao Canadá, alli
chegou em 1646, e os Iroquezes fizeram d'elle urn mar(yr
te."gu. e aos ultrages dos Independentes' Quando viram
f*çn, da victima totalmente exgottaclas, e a sua fé sem- de cujo sangue havia de brotar uma nova christandade.
", ,do viva, deixaram-no livre, mas abandonado, e oito
p." Apenas o Sancto Apostoio caiu aos golpes do machado dos
seus algozes, quando a tribu dos Abênakis, vizinha dos
àias depois expirou em consequencia d'estes inqualificaveis
Iro(uezes, quiz conhecer esta religião, por amor da qual os
tormentos.
brancos de roupa negra davant a vida com tanto gosto' Os
Os jesuitas, martyrizados pelo Soverno de Carlos I,
Abênahis enviam deputados ás Reducçóes, e elles, encan-
eram-n'o tu*ú.rn pelo partido de Crqmvell mas isto não
tados com as maraviihas que viram e com a doutrina do
impediu os heregãs de fazerem pesar sobre a Companhia
Senhor do Céo, cuios principaes artigos lhes forarn expli-
rle Jesus todo o odioso de uma revolução que acabava de
cados pelos missionarios, voltando para a suâ tribu fize-
levar o rei ao cadafalso. O ministro caivinista, Pedro Jurieu,
râm-se como catechistas cla fé. Não tardaram os Abênal<is
hollandez, não temeu publicar esta calumnia em seu livro
a pedir Padres da nova doutrina, e no mez de Outubro do
intitulado: ?olitica ilo Clero d.e França, e os Jansenistas
mesmo anno de 1646 o Padre Dreuillettes foi evangelizar
aproveitaram.n'a com tanto maior ardor quanto a Sorbôna
aquelle povo tão bem disposto para o receber. Ao rnesmo
se ,leclar"va manifestamente contra a doutrina de Jan-
senio.
tempo os lroquezes dgsignavam á fero.cidade dos Aguiers
N'este anno de r649 Nicolau Cornet, syndico da Sorbôna,
e dos Tsonnonthouers a Reclucção de S. José, e estes dois
povos deram-lhe assalto no tnomento ern que sós as mu-
«lenunciou-lhe o livrá do Augustirtus como encerrando mui-
HISTORIÀ DÁ C. DE J. 2a
 35+ 355

lheres e os meninos estavam debaixo da protecção do seu gelos e grande adversario dos jesuitas. João de Palafox era
bom Padre Daniel, que tinha envelhecido no meio d'elles' homem de sciencia e virtude, mas de um carâcter sombrio,
O Pu.tr" foi logo c.ivado de frechas e como ainda respi- inquieto e turbulento. Os missionarios jesuitas gozavam de
rasse, um chefe dos Aguiers se atirâ ao martyr
e lhe en- muitos privilegios concedidos pelos Summos Pontificesl
terra a lanca no coração' Alguns mezes depois os Iroque- mas em toda a parte onde encontravam um Bispo, ha-
zes atâcaram ao mesmo tempo as Reducçóes de Sancto viam-se com a mais perfeita submissão, e com o proprio
Ignacio e de S. Luiz, habitadas pelos Hurons' Os neophytos Dom João de Palafox tinham vivido em muito boa intelli-
d"efendem-se com valentia; porém opprimidos
pelo numero' gencia até âo tempo da contenda dos padres com Dom Ber-
são mortos, ou feitos prisioneiros, e levad.os.com os Pa- nardino de Cardenas.
dres Brébeuf e Gabriel Lallemant âo captiveiro' Como
o Quando este ultimo, refugiado em Corrientes em r645, e
Padre Brcbeuf, sendo dilacerado ás mãos dos selvagens' irritado pelo seu desterro, fez retumbar a provincia com as
Ihe suas queixas contra a Companhia de Jesus, Dom João de
não cessasse de exhortar os seus queridos neophytos'
jesuita, como Palafox, relacionado com elle, exigiu dos jesuitas da sua
ordenam os Iroquezes que se calel mas o
diocese dizimos e rendas, de que elles estavam dispensa-
apostoio qo. .r", continúa âs suas exhortações' Os selva'
gan. então o seu corpo de fachos accesos parâ o dos, Os iesuitas recusaram-se a esta pretenção iniusta; o
"arar-
ãb.ign, a se calarl mâs nem assim cessa-então o bom pastor Prelado insistiu, desattendeu os privilegios dos missiona-
de piéga" e exhortar. Cravam-lhe roda do
á pescoço ferros em rios e suspendeu-os a todos. A z5 de Maio de 1647 escre-
br"r"i-u, o sancto jesuita abençôa a Deus pela força que veu ao Sumrno Pontifice para lhe submetter a questão;
o Padre LaI- mas ao mesmo tempo deixava-se transportar de tal modo,
the dá no meio cle .rri irrtol.,.,eis dores' Então
de pinheiro para ser queimado' que calumniava os Padres, accusando-os de muitos crinres
lemant, envolvido em câscas
p.o.,rn-." aos pés do martyr e lhe p-ede a sua benção' O imaginarios. Logo que a sua cârta partiu, apoclerou-se do
no céo com uma seu espirito um tão vivo terror, que o Prelado deixou a sua
badre Brebeuf abençôa-o, e põem os olhos
inefiavel expressão á" ,*ot e alegria' Os Iroquezes põem-se cidade episcopal e foi-se refugiar na casâ de campo de
u .orn.r, .leante <tos olhos do apãstolo, os corpos dos íran- Dom José Maria À{ier. que o acompanhou n'csra viagem
fervente com a suâ familia e creados. Esta casa de recreacão estava
cezes que alli mataraml rlepois lançam-lhe agua
a cabeça, e o martyr é corado no céo a de Março situad.a perto de Otomba, e contigua á tlos jesuitas) o que
sobre -16
prova que elle não temia muito a vinganca rlos padres. To-
à" ,0a9. No tiia seguintó o Padre Lallemant foi participar
da sua gloriosa recompensa queimado a fogo lento por davia, exaltando-se-lhe a cabeça e exaggerando com a ima-
heroes d'esta Compa- ginação as diíficulclades da situação em que elle mesmo
espaço d"e dez horas ! Taes eram os
o inferno perseguia sem afrouxar em todas as se tinha posto, não espeÍou a decisão do Papa e escreveu-
,rn;n, q,ra
lhe de novo, a 8 de Janeiro de r849, dizenclo a Innocencio
partes do globo.
Temos ii.to u, iras despertadas no Paraguay pelo
orgu- X, depois de novas calumnias contra os jesuitas, o seguinte :
de Dom Bernardino de Cardenas' Este Pre- oVi-me obrigado a fugir para as montanhas, a procurar na
Iho offendido
as pai-
lado continuava a fomentar cio fundo do seu exilio
companhia dos escorpióes, <las serpentes e de outros ani-
maes venenosos â segurânça e a paz que não podia achar
xócs vingativas dos Flespanhoes, e se apoiava na auctori-
de los Àn- no rneio d'esta implacavel Companhia cie Religiosos, De-
rlirtle de í)om -loão de Palaíox, Bispo de Puebla

t

356
pois de ter passado vinte dias com grande periSo da minha
vida, e em tão grande necessidade de alimento, que estava-
mos reduzidos ao pão da affiicção e á agua das nossas la-
grimas, descobrimos finalmente uma pequena cabana, onde
estive escondido perto de quatro mezes. Mas nem assim
deixaram os jesuitas de me fazerem procurar por toda a
parte, empregândo pâra este fim muito dinheiro com a es-
perança de me obrigarem a abandonar a minha dignidade,
ou a fazer-me morrer.»
Assim escrevia o apáixonado Bispo: mas aquella cabana,
aquellas serpentesr aquella fome e aquelle retiro selvagem,
que se não podia acharr erâm, como temos visto, n'uma
quinta de campo âo pé da casa dos Padres.
D'esta carta, assim como da primeira, circularam muitas
copias entre os inimigos da Coúrpanhia, dirigidas aos here- '
ges da Europa, com grande gosto dos Jansenistas, seus al- '
liaclos, que as exploravam em favor da sua causa.
Os jesuitas da diocese de I os Angeles deíeriram ao Rei de
Hespanha a ultima carta de Dom João de Palafox ao Summo
P«rntifice e ficaram esperando o iuizo da Sancta Sé' O Pre-
lado foi aclvertido d'este passo, e escreveu immediatamente
ao Rei para retractar a carta que escrevera ao Papa, e fazer
o maior elogio dos Padres da Companhia'
A.r4 de Maio de 1648 saía um Breve de Innocencio X
resumindo a opinião da Congregação dos Cardeaes, e re-
partindo egualmente o elogio e a censura com o fim de con'
iiliar a-bos os partidos. Censurava o Bispo de ter cedido
ao primeiro .movimento de colera, e sobretudo de ter sus-
pendidos Religiosos que tal pena não mereciam: e censu-
ruu, àt iesuitas de terem appellado da sentença do Bispo
para juizes conservadores, em logar de se submetterem a
uma decisão, talvez injusta, até que chegasse o iuizo da
Sancta Se.
Emquanto a côrte de Roma se occupava das difficuldades
que tinham sobrevindo entre o Bispo de la Puebla de los
Àngel"s, Dom Bernardino de Cardenas, Bispo desterrado
l
35r
da Assumpção, espàlhava o rumor de que os jesuitas do
Paraguay tinham descóberto minas de ouro, que explora-
vam em segredo, e cuias riquezas todas enviavam a Roma'
Os colonos europeus apressaram'se a denunciar o facto, e
pediram que as Reducçóes fossem governadas por officiaes
do rei, e não por jesuitas. Chegando similhantes queixas
até ao throno, Philippe IV deu por missáo especial a Dom
Diogo Osorio, novo governador do Paraguay, que se oppo-
zesse energicamente a toda a tentativa de hostilidade con-
tra os Padres da Companhia de Jesus. Dom Bernardino,
que ign«rrava estâs instrucçóes, e não sabia outra coisa mais
que dâ muclança de governador, correu á sua diocese e or-
denou que expulsassem os jesuitas do paiz das Statinas.
Os Padres retiraram-se : mas os neophytos, vendo-se assim
abandonados, fugiram tambem e deixaram o paiz deserto,
persuadidob de que não lhes arrancâvam os seus Padres se-
não para lhes tirarem depois t liberdade, que sobretudo es-
timavam. Os magistradôs fizcram cntrâr de novo os iesuitas
nas suâs Reducções apesar clo l3ispo I mas os neophytos ao
principio não voltaram senão ern partcr pelo muit<i que te-
miam os colonos hespanhoes.
Quanto ás minas de oiro, por instancilrs do Padre [leitor
da Casa de Buenos-Ayres, tinha'sido nomcntla uma com-
missão para fazer uma inquirição sohre aquelles boatos:
porém tudo mostrava a falsidade da denuncia: uTodaviar
dizia o Bispo da Assumpção, eu tenho esta noticia da boca
de um neophyto que esteve muitos annos em uma Reducção
do Uruguay, e respondo pela sua véracidade. "O neophyto
denunciador chamava-se Boaventura, e affirmâvâ que as mi-
nas estavam no Uruguay, mas que não podia clesignar o lo-
gar d'ellas. De modo que o denunciante tinha habitado
n'esta Reducção, tinha visto os factos gue denunciava, e
não poclia dar as provas d'elles nos proprios logaresl As
indagaçóes continuavam'sempre a rogos dos iesuitas, até
que morreu o governador Dom Diogo Osorio.
Esta morte avivou todas as esperanças do Bispo da As-

35E
sumpçãor o qual correu logo a excitar de novo os colonos
hespanhoes; e, contando com o seu apoio, expulsou os je-
suitas pela seguncla vez. Ainda que a sua primeira tentâtiva
não teve outro resultado senão o de lhe comprometter a
dignidade e auctoridade, iomtudo d'esta vez o Prelado es-
perava ser mais feliz: tantô póde o amor proprio pffendido
cêgar o )uizo !
Os jesuitas nas missões gozavam de um privilegio do
qual julgavam dever fazer uso n'estas circumstancias. Por
uma Bulla de Gregorio XIII estavam auctorizados parano-
mear um juiz conservador que examinasse as differenças
que se viessem a Ievantar entre elles e os Bispos, e profe-
risse a sua decisão em nome da Sancta Sé.
Os iesuitas escolheram o Padre Nolasco, da Ordem das
Mcrces, e cm r643 submetteram-lhe o.negocio, e ficaramá
cspern dir suir clccisão.
O vcncltvcl (ieral da Companhia de Jesus, a quem a sua
terrru tlcvoçío ii ngonitr dc Nosso Senhor inspirára o pensâ-
nrento dc unrit rtssociução cle oraçóes e boâs obras para
obte r uos ruorilrurttlos tl gntçl cle uma boa morte, teve a con-
solaçÍo tlc ver rertlizutlit cstrr l)iedosa icléa. Innocencio X insti-
tuiu enr ltontu rt ()ongt'ogrrçíio tla Boa Morte a z de Outu-
bro de r64tl: c ulguns tttczcs tlepois o Jrroprio sancto Reli-
,1 gioso dava o cxetrrltlo clu srrtrctu mortc, quc elle desejava a
todos, cxpirrtndo tt fi rlc.ltrrtho de r649. O Padre Florencio
de Montmore»cy, Vigtrio (ieral, Íixou a reunião da Con-
gregação geral pura o dirr r 3 de Dezembro do mesmo anno'
Í
i$
I
il
ll
Generalatos do Padre Franeiseo Pieo-
Ionrini, oitavo Geral, o do Padre
Alexand,re Gotl,iflredi, nono Geral
l(} Íí)-1.(l6,'J
I
1 Congregação, reunida desde o din l3 tle l)czcurbro, deu
fl .a gtã.,.i" maioria dos votos ao Padre I)icolorttini, clue foi
eleito e proclamado oitavo Geral da Contltanlritr tle Jesus
a zr do mesmo mez de 1649.
Estava então em Roma o Padre Alexarltll'c tlr: Rhodes,
chegaclo alli alguns dias sómente <iepois da tlortc do Geral
Vitelleschi, para, em nome dos seu superiorcs, expôr ao
'l'ong-King
Summo Pontiâce o estado das christandttclcs tlo
e da Cochinçl-rina, e representar-lhe a neccssitliltlc de se no-
mearern Bispos e se formar clero para aqucllcs nllmerosos
neophytos. O Padre Rhodes tinha feito a stta vingem atra-
vessando a Asia, percorrendo a Persiar a Motliir, a Natolia,
a Armenia, procurando conhecer o bem que havia para fa-
zer, ou se podia esperar em todas estas regi<1cs. lnnocen-
cio X acolheu conr affeição paternal o veneravr:l rnissiona-
rio, que trabalhára com tanto zelo e frlrcto nos paizcs infieis
por espaço de trinta e um annos) no meio dos maiores pe-
rigos e entre obstaculos sempre renascentes. O Papa pen-
sou em fazel-o Bispo da Cochinchina, mas o sancto religioso
se recusou a isso. É verdade que elle tinha ido pedir bis-
pos, mâs entendia que para o maior bem das almas convi-
nha estabelecer bispados inclependentes do padroado por-
tuguez: questão, como se vê, muito melindrosa e que iria
certamente comprometter a Companhia. Assim o iulgararn
Á

ü
36o
os iesuitas de Roma e o proprio $apa, .e por conseguinte
foi decidido que o Padre Rhodes iria a Franca, depois de
ter repousado em Roma todo o tempo que os seus supe-
riores iulgassem conveniente. . dor da Congregàção de S. Sulpicio, de têrem empregado ro-
No anno seguinte de 165o o Padre Ponthelier, que se
achava em..Haya, ouvindo dizer qüe estava alli o apostata
Jarrige, procurou-o; e, depois de muitas conferencias, teve a
consolaçáo de o trazer ao arrependimento. Esta conversão
foi sinceru e brilhante; porque os Esrados Geraes da,Hol-
landa estavam dando uma generosa pensão ao apostâta;
nras elle renunciou a ellal e, caído ern pobreza, acceitou o
asylo clue lhe offereceram os iesuitas de Anvers. D'esta ci-
dade publicou um livro intitulado: Retractação de Jarrige,
no qual se nccusou de calumnia e desmentiu tudo quanto
tir'rhu escripto contrn il Cou:panhia de Jesus. Mas como ti-
nha muito que rcpurur, e queria provâr com esta reparação
a sinceritlodc do ser.r arr.opendimento, abandonou-se á dis-
posição du Snnctu Sé e drr ()ompanhia de Jesus, e foi para
a (lasa l)r'ottesga de l)aris espcrâr gue a suâ situação fosse
regulada pela côrto do llorna. Os padres impetraram-lhe
autorização para fic[r no munclo em habito de sacerdote se-
cular sem todavia ser dispensndo «los votos, Jarrige saiu en-
tão da casa dos jesuitus, parrip puro Tulle, sua cidade natal,
onde viveu até á moÍte conr grande ediÍicação. Seis mezes
tir-rha 'elle estaclo entre oc ie suitas de Paris, e por sua esco-
lha se retirou para Tullel mas os protestantes e os Janse-
nistas disseram que os jesuitas oÍizerumdesapparecerrma-
tando-o em umâ enxovia I tira Íacil fazer a viagem de Tulle
I
iÍ
para se convencerem do contrario I mas nenhum pensou
n'isso: porque sempre foi rnais commodo crer cágarneíte
t n'uma calumnia do que dar-se ao trabalho de examinar-
t
aincla mesmo quando ,a arar"u" a historia.
ii A calumnia parecia n'esta occasião tânto mais necessaria
ir
aos jansenistas, porque na assembléa geral do clero de
Franca, celebrada em Parrs no anno de 165o, oitentaeoito
,i[ Bispos declararam hereticâs as cinco proposiçóes extrahi-
il
i
lli
'n"!ryqÇmãF\
'36t
das do Augustinus, e as delataram ao iuiao da Sancta Sé.
Descontentes com este choque, os iansenistas âccusarâm pu-
blicamente os 1'esuitas, e até mesmo o padre Olier, funda.
dos os meios e até ameaças para arrancarem a assignaturg
d'aquelles Bispos. Quanto a S. Vicente de pa{rlo, que erâ
amigo clos jesuitas e tinhâ a mesma opinião que.elles a res-
peito do Augustinusr, os jansenistas limitaram"se a dizer que
era um devoto ignorânte, semipelagiano, molinista, a quem
os Bispos tinham cedido para se livrarem rle suás importu-
nidades. Entretanto, prevendo que as cinco proposiçáes se-
-porto
riam condemnadas em Roma, os soliiarios de Reat,
apoiados por onze Bispos do seu partido, tentaram contra_
balancar a io'#uencia do partido opposto, e para isso envia_
ram deputados a Roma, encarregados de sustentar e det'en_
der perante a Sancta Sé a causa do Augustinus, protestando
a sua submissão á decisão da Sancta Sé. Estes deputaclos
eram Luiz de Saint-Amour, Natal de la Lane, e Desmâres.
Uma yez que os iansenistas tinham representantes seus em
Roma, entpnderam S. Vicente de pauloo o padr.e Olier e o
Padre Dinet, conlessor do rei, que tambem o clero de
França devia lá ter os seus, e escolheram os doutores: Joi-
sel, Hallier, e Lagault, aos quaes se juntou o padre Brisa-
cier para representar os jesuitas de paris.
As conferencias abriram-se em Roma a rz de Abril de
165r, declarando-se contra a doutrina de Jansenio a Sor-
bôna, ortenta e oito Bispos, os rnais sanctos personagens
do clero de França e os jesuitas I e do outro lado pronun_
ciando-se em favor d'aquella doutrina onze Bispos, os Soli_
tarios, todos elles homens de talento superior, mas de um
orgulho egual ao talento, e as religiosas de porto Real, ás
qLraes seiunctaram algumas mulheres de grande nome, mas
de moral duvidosa. Para todo o espirito sensato o exito das
conferencias estava previsto. O Arcebispo de Sens, Luiz
Henrique de Gondrin, posto que fosse alumno dos jesuitas,
e ihes devesse a suâ promoção á Sé que occupava, tinha-se
tn

362 JOJ

seus Esta-
entregado de corpo e alma ao partido iansenista, e não licismo, afim de não excitar uma revolução em
hesitou em lhe dar uma prova evidente do seu. apoio. Ti- dos.
corn
nha elle até alli dissimulado as suas opinióes aos seus anti- Como ella mesmarde ordinario, tractava directamente
certo dia'
gos mestres, e por isso os iesuitas do Collegio de Sens, os embaixadores os neSocios mais importantes'
José Pinto Pereira'
logo que tomou posse da sua Sé, se apresentâram cheios ;; ;;;"q. de r65o, foi-ihe apresentado
u*boi*o.io. do reino de Portugal, acompanhado de
urn
de confiança a fazerem acto de submissão relativamente An-
interprete, e se chamava
aos privilegios que â Companhia tem da Sancta Se. C) novo L

I ;;;;;;;r, que lhe servia denotou a expressão de bondade

Arcebtspo deu-lhes a sua approvacão, mas pouco depois, l
tonio de Macedo. A rainha
pelo fim da Quaresma, prohibiu-lhes o conlessarem durante a
I

do interprete, propoz-se interroSçal'o em particulnr e cscla-

semanâ da Paschoa. O Padre Nicoiau Go<let,Reitor clo Col' recer todas as suas duvidas'
na ccr-
legio, appellou para â Sancta Sé: e como a appellação sus- i Na primeira entrevista não official a ioven rainha'
l
entendida pelas pessoas que a rotlearn' cliz-
pen<lia o effeito do acto episcopal, os Padres continuaram a nar, ,1" náo ser
Ihe de chofre ern lingua portugueza: Ou muito mc cngano'
confessar. como costumavam. O Prelado queixou-se d'isso:
sorl sâcer-
mas o Sunrmo Pontifice. tendo conceclido aos iesuitas a au- ou sois.um sacerdote catholico'-Effectivamente
com modesta confianca Antonio tlc Maceclo'
torização de escolher um luiz entre tres Prelados designa- dote, responcle
rios, os Padres entregaram a sua causa á decisão do Bispo *, ao'Co*panhia de Jesus''-Christina rccontnrctldr:u-
rlc Scnlis. O Arcebispo de Sens appellou do Bispo árbitro "lhe prudencia, prometteu-lhe segredo e mostrorr deseio de
capir de politica'
I)Íllir í) 1rírrlrlrttcÍltor mas o Conselho do Rei pronunciou-se conversar Írequentemente com elle com
rcligiosas' De
n Íirvor tlos iesuitits. l)ttra os Jansenistas esta sentença foi mas realmente sobre as sua§ preoccupaçóes
sun)r)rÍlnl('il10 lr)olcsta c pot isso procurâÍam envenenâr a fu.io ,*u" Iongas conferencias com o iesuita' c rlc cacla vez
a esclarecer o scu espirito'
cotrtcnrlit irlJrcllinrlo rr l,triz dc Gondrin ás ultimas extre- .an,i" ,*n
--ú. luz'mais abundante
anno dg 1(i5r' Antonio
rr id at lcs. air, nos primeiros mezes do
repentinâmentc.(le- Stol(olmo' A
Arl ntcsmo temllí) ('stilv;l'so l)rcparan(l<l unr aconleci- de Macedo desappareceu (r)t rnas
diz Leopoldo ltanlc
mcntô (llrc rlcvilt rtttlitttettltrr it irt'itilçío no campo dos he- ,ri.rtru *or,.a""-.e atltnirada,
di-
que o tinha enviaclo a Roma para communicar
rejes. Ohlistina, ntinlrit tl:r Strccia, não se entenclendo cont ur" pe-
o livre exÍuret crn quc tirrhasiclo eciucada. sentia a neces- "ltn
,L.,"*"rri" ao Geral dos iesuitas as suirs intcnçóes' e
estes a Sto-
sidade de reconhecer umit auctoriclade nas materias de íé. à;.--lh" nigon, pr.l,"t cla sua ordem' Clrcgarrrm
Quanto mais estudava as diversas seitas nascidas do [-u- l.ol-ono"mezcleFeverciroder65z,cseÍizcramapresentâr
(lue andavam via-
theranismo, tanto mais via que nenhuma estava funclada nn .ô.t" conlo gcntis-honrens italianos'
rainha quenr ellos cratn : convi'
n'uma auctoridade que lhe inspirasse confiança. Conhecia i"tÀ.. s"* enüt"lt'.t tt quantlo entrarâm na sala de iantar
todas as linguas da Europa, e das antigas o Srego e o latim; dou-os para a sua mesa' e
cartas pârâ rnim? Sim'
pâssâva a vida nos mais serios estudos, e procurâvâ â con- ctisse báixinho a um ci'olles: Trazeis
A que não fal-
versação dos philosophos e dos sabios com tanto ardor, ;;;;;J." elle" sobcrana recom.mendou-l1.re
enviou o servo de
quanto qualquer outra mulher empregaria en: lrivolos pra- lasse com ning,uem, e <lepois de iantar
zeres. Como rainha era obrigada a practicar em publico o
Lutheranismo e dissirnular a sua inclinacão para o Catho- (Í) Ili,stoíre de la Paynuté \tttare lII, page z6t)'

36q
corrÍirrnça, João Holm, a buscar as cartâsr e com o rnâl§
proÍundo segredo fez conduzir no dia seguinte ao palacio
os mesmos jesuitas.
D'esta arte, continúa o rnesmo historiador protestante, no
palacio real de Gustavo Adolpho reunirarr-se uns enviados
de Roma corn a filha dc monarcha, mais zeloso defensc'r
do protestantismo, para tractar com ella da sua conversáo á
fé romana !- Estes dois iesuitas, enviados de Roma, erarn
os Padres Paulo Casati e Francisco À4olinio
A Missáo tle Inglaterra augrnentava sempre o numero iá
tão consideravel rlos martyres da Cornpanhia de Jesus. O
Fadre Guilherme Boyton tinha persuaditlo a rnuitos catho-
licos que se refugiassemr na pequena cidade de Cashel, onde
elle os mântinha e fortiÊcava na fé corn a sua sancta pala-
vra e com as consolacóes do seu cloce e poderoso ministe-
rio. Um dia uma muttidáo cle catholicos inglezes, expulsos
tle tocia â parte, e sempre perseguiclos Pelos IndePendentês
do exercito cle Cromwell, correm a Cashel, e procurâm re-
Iugio na egreja da Rocha de S' Patricio. O Padre Boyton'
tem por certo que os terriveis Independentes penetraráo até
ao logar sancto parâ alli degolltrrenr a§ suas victirnas: mas
isto mesmo é rnais um motivo para náo os abtrndonar sem
soccorros espirituaes n'este momento supremo. Corre, pois,
ao meio d'estes fieis catholicos. o crnquirnto os prepara para
o martyrio, precipitam-sc os soltlados na egreia, e passâm-
n'os a toclos ao Íio da espatla, incluindo o proprio padre'
Foi isto a 15 cle Junho cle 1643. Poucos mezes depois
Cromwetrl decretava a pena de morte contra todos aquelles
que abrigassern um jesuita debaixo clo seu tecto, ainda
que não fosse senão por alguns minutos. Os Fadres Roberto
Netervil, Henlique Cavel e .Ioão Bath são descobertos e
mortos, e alguns dias depois o Padre Worthington soffre o
mesrno martyrio. A z6 de Fevereiro de rô5o um novo de-
creto promettia aos que descclbrissem o retiro de um ie-
suita uma recompensa tão consideravel como a que é con-
cedida aos que clescobrem os mais perigosos malfeitores:
365
e assim foram descobertos e presos todos os padres quc
andavam clispersos pela Gran-Bretanha' Cromwell assegu-
ravâ que a Republica não peclia o sangue dos iesuitasl mas
o Padre Peters Wright nem por isso deixou de ser execu-
tado como criminoso a z3 de Maio de r65r.
Na Irlanda iá não restavam entáo mais do que dezoito pa-
<lres tlir Companhia, Porque todos os mais tinham morrido
martyres, e os Padres Lee Kilkenny, Jayme Walsh, Jorge
Dillon, Dorvdal e o Irmão Brien tinham morrido tractando
dos enrpestados. Depois dos ultimos decretos de proscri-
pção, os paclres que sobreviveram, viram'se obrigados a con-
servarem-se escondi<los nas florestas ou nas Sargantas das
montanhas, vivendo de raizes e hervas agrestes) e o Padre
Joáo (larolan, exposto ao frio, não pôde supportar o seu ri-
gor, e morreu. A melhor sorte foi a d'aquelles que pocle-
ranr achilr uma grutâ nos rochedos das mais escarpadas
n:ontrrnhas. Mas nem esta vida de privaçóes, de perigos in-
cessrtrltcs e continuas an8ustias podia deter o zelo dos dis-
cipulos rlc Sancto Ignacio. Os padres irlandezes ou inglezes
que rcsidirrn-r no continente) estavam promptos a passar á
sua patria ito pt'imeiro signal de seus superiores. Cromrvell
bem o sabr:r, c l)ropoz"se extinguir tocla a materia de zelo,
arrebatando cnr tlrtltidão os Íilhos de catholicos pârâ serem
amontoados ent ttitvios e enviados á America do Norte.
Mas lá estavam tutrlront os iesuitas para receberem as vi-
ctimas da intolerrrncirr lrcrctica e do clespota republicano,
porque as l\Íissõcs pr()sl)cr':lvirnr alli Gcundadas pelo sangue
dos primeiros apostolos.
Na Nova França os il'0rlttczcs eraltt sctllpre o terror dos
neophytos. A 7 tle l)czcntlrro íizcraLn ellcs ttma irrupção na
christandade de S. .loiio, ,lirigitla pelo l)ltlre (iarnier. Os
neophytos sairam"lhcs l() cr)(:ontro, rcsoltrtos a vencer ou
morrer, mas os selvergens sortltcntm lirrtar-lhes as voltas e
lançar-se sobre a Reduccão, Jrrssando por caminhos desvia-
dos e intransitaveis para quircs(lucr outros homens. Á vista
d'isto o padre aconselliit a<l sctt rlcsgraçado rebanho de mu-
tl1,
366
lheres e meninos, que fujam, e deixa.se Íicar com os feridos,
porque os iroquezes atiram de toda a parte, e querem matar a
todos os christãos. Em breve é o Padre Garnier ferido por
duas balas: mas levanta-se com abnegação apostoiica pãra
absolver os moribundos de que está cercâdo I até que, ferido
de novo, torna a cair, sem poder levantar-se. Todavia o he-
roico apostoio, que iá mal respirava, notando que lhe mor-
ria alli ao lado um neophyto, arrasta-se tle joelhos para elle,
absolve-o, e no mesmo instante dois golpes tle machado the
abrem as portas do cio.
O Padre Natal Chabanel conduzia a sua coionia de chris-
tãos para abriga-la contrâ os âtaques cla tribu temida; maó
era preciso transportâr-se para longe, atravessar florestâs co-
bertas de neve, e luctar contra uma multidáo de obstacu-
los. De repente os neophytos reparam que o seu padre des-
appareceu. Param logo na suâ fugida, esquecidos do seu
proprio perigo, pârã procurârem o seu padre a todo o custol
porérn as suas pesquizas íoram infructuosas e só Deus co-
nhccc a sorte do sancto missionario, que nunca mais tor-
nou il appalcccr.
Na ilha tle S. .losó os christáos indigenas, ameaçados in-
cessilntentcnte pclos :clv:rgcns, ro6an) ao seu missionario, o
Padre liaguenru, quc os contluzir l loglr scguro onde fi-
qucnr dcbtixo tla protccçÍo tlo crrrrlrão li'nnccz. O padre ef-
Ítctivanrcnte rcLlnc-os) llric.sc cnr rlurcha com elles através
de rios, montlnhas, prccipir:ios c Ílorestas, e no fim de cin-
coenta clias cl-rega conr ellcs a Qrrebec e, entregando.os ao
cuidadq do governador cla ci,.lacle, e ás Irmãs Hospitaleiras,
volta a novas conquistas.
No Paraguay os jesüitas tinham ganhado a causa na ques-
tão do desterro a que foram condemnados pelo Bispo da
Assumpção, pela sentença que deu o juiz nomeado, a r9 de
Outubro de 1649, ao passo que D. Gabriel de Peralta,deão
do Cabido da Assumpção, proferiu peio mesmo motivo um
juizo contra os partidarios do Prelado. Os padres iesuitas
foram depois judicialmente reintegrados em suas casâs, e
361
D. Sebastiáo de Léon, goyernador interino do Paraguay,
encarregou-se de executar a sentença,
Estava, pois, D. Bernardino condemnado por todas as âu-
ctoridades ecclesiasticas e seculares, e ficava provado que o
seu despeito era o unico motor do seu odio aos jesuitas. Mas
este odio conciliou'lhe â estima dos jansenistas, que fizeram
logo do infeliz Prelado um martyr dos jesuitas, o mais san-
cto dos Bispos e o heroe dos dois mundos. Não ha calu-
mnia que não tenha recaído sobre a Companhia de Jesus
por occasião de D. João de Pelafox e de D. Bernar'dino Car-
denasl e estas calumnias teem sido transformadas em fa-
ctos historicos para uso dos que náo reflectem nem inves-
tigam. E quantos não formam assim as suas opiniões.
As missões da China estavam florescentes, apesar das guer-
ras civis que agitavam o imperio. Os jesuitas conservaram-se
fóra dos partidos quer dos herdeiros do imperador desthro-
nado, quer do usurpador tartaro; mas tractavam de redu-
zir á fé ambas as familias, pâra com mais efficacia evange-
lizarem aquelles povos imrnensos.
Os descendentes c1e Van-l-ió retirat'trm-se para o sul do
imperio, e Jun-Lie foi acclamado imperador por muitas
provincias mericlionaes. Sua familia tinha conservado com-
sigo os Padres Coeffler e Miguel lloyne, que a convertêra
ao christianisrno: e â imperatriz, que foi baptizada com o
nome de Heiena, deu ao filho que teve em r65o, o nome de
Constantino, tudo com o consentimento ilo imperador, que
ainda então era gentio.
No anno seguinte de 165r teve esta princeza a devoção
de escrever de seu punho ao Summo PontiÍice a testemu-
nhar-lhe a sua submissão e respeito: e pediu ao Padre Mi-
guel Boyne que fosse como seu enviado levar ao Vigario
de Christo aquella homenagem de sua piedade filial.
Em Pekim continuava o P. Adão, Shall, admiraclo dos
sabios, tractado com honra pelos principes tartaros, havido
por todos como homem extraordinario em sciencia e vir-
tude: mas cultivando a vinha do Senhor no meio de todas
 368

estns n(lmirações e honras, sem nada perder de sua pro-

funda humildade nem do espirito da Companhia de Jesus,
O Padre Geral da Ordem, Francisco Piccolomini, falle-
ceu em Roma a r7 de Junho de 16511e o P. Gosvino Ni-
chel, vi6;ario geral, convocou a congregação geral, a qual INDICE
se reuniu em Roma a 7 de Janeiro de 16.52, e a zr do mesmo
mez elegeu o P. Alexandre Gottifredi. Mas este bom Padre PÂG.
veio a morrer logo a ru de Março, pelo que os mesmos pa- PreÍ'acio....... 5
dres congregados a tz do mesmo mez nomearam por de- Origem e funclagã,o d.a ComparhÍa ilo tôrra (f522-f551) I
cimo geral ao P. Gosvino Nickel. I. - Convorstio <le §. Ignacio - Mor:rlrlt, orn lllnrrlosr, Po-
-
regrinação Estudos o
IL *
-
S. Ignacio ern ParÍs D Corrrl»r,rrlrin .-- l,ri-
. - Form&-Bo
meiros trabalhos na ltalia 13
III.-âpparição na Storta-Prégação om Ilornn 'Crlrr-
mnias Seutenga Plarro dts Oo»n[il,rri çrr)r,x
- -l'ome -
Approvagão da Oompanhia * S. Igrrrroio gtrrrr l l'l
-
GereÍeLato cle S. Ig'flaci.o fLe n oyotrâ (f541-f55o)
. I

zti
I. - Missão na Irlanda - Zelo e ileclicagão tlosjosuilns --
Legarlos apostolicos 2ri
II. Tra,balhos na Italia *
Novos aspirantos. .
III. -
.

Os jesuitas em Franga .- Seus progressos em I'Iosprr,-

- nha-Àraoz, sobrinho ile S. Iguacio - §. l'rarrcisoo
Xavier o Simão Itorlrigues om -Portugal..
IY. - Pedro Fabro
- Jaio e Bobaelilla na Allemarha - l'c-
FIM DO PRIMEIRO VOLUME dro Canisio l'abro em Hespanha - Sua rrror,to --
-
Funrlagões oaritativas clo S, Ignncio * S. l'rancisoo
Xavier nae Indias-Missões estrangeilas - §, Fral-

V.
cisco Xavier no Japíio
- Sua morte...
Os jeeuitas rro Concilio rle Treuto. Recusam mitras...
39
50
-
VI. - Bobadilla na rlieta de Ratisbona. tr'er{clo no exercito-
- Os josuitas em
O lntcrim
Mnrto do Papa
Cu,no.
Salarnanca
Julio III
- Melchior 5t
- -
VII. - O tluque do Garrrlia - Continuação do Concilio -
Collegio Gorrntrrico.... 60
VIII. * Liga do parlunorito o do ulivereidatlo cloParis oontra
a Componhiu -' LÍl)xes provincial - Àmeagado da
purpura. 65
IX, - Exoommunhío orn Saragoga : Reporação ,., ., . . . .. 7L
X. Missão tlo Brasil - Os jesuitas na Ethiopia ,.... .. .,.. 75
XI. -- Àpostolado rlo P. Canisio na ÀIlemanha - S. tr'ran-
oisco de Borlin rocuso o carrlinalato -- Morts ile §.
Ignooio 79
 t)
37,
37o
PÀG.
PÀG.
IY. Missão ilo ltrn'nil o l'. Árrolrirrl'rl - Prrrgronro rlrr F6
-
alo P, Leyltog' a6g:u'n'Lo Gorâl (1556-15,65) ' " no Japfro l'. littrlollrho Ârltttrvivrl l'orl.rtl Oulrisirr
83
Genera,la,to * Ze' -
I. - Ctn'lorr V o §' I"rtlttcixtlo do Ilorlin - D' §obnstião na Suisstl -- Mrtt'lo tltt l'. Mtrttttttin,llo . '. '. . " ' " 182
'log tlo trôrltr Otllntnrritrs * I)io I\r " " ' 83
Gexlexalato dLo F. Olrtrrtllo .A.qlrevlv&r clrrlnto Gera1
II. -- Zolos ttttivtrt'xiítrrios ..- I'riviltrgiox rlrl Collogio romano (1541.1616) 189

" ox l»tlrlrt'x lrltlttttttttltt Âttglrr tt I'rrllotiororn l"tança I. - O P, Possovitt, lttgtttltt rttl lrolottitl o Mr>tc(i()\'ia'- Sue
{i .-'( )plx,Hi(lr'i,o
88
mocliogiio t!nl,rlt r)É rlois soborttrltls. Nogooi:4rão tlo P'
(!olll'rtr' ÔÂ'io-
,{ III. * O llttrlltttllttlo rr tt ttttivrrrxlrltrrltt rltt l)ttlis tltt'l'nrttkr- Poànovitt ottttt ttx cl'lt'ltts rlo Not'l;o 'l\ucttltlo de paz 189
siril,rrx Ortllrrgio rltr Prtltry Oolroilio y) If, - O tnlir.lol llllirrl, ()s l'lr(lrl)H l)tltsott o Campian-Per-
! 'l'ritttttlllro (lo l'. lrlr,y,lllB " "':" " " .. soguig)rrr lttk,rtogttlolios, srrpplicios e martyrio
lV, -.O ltttrúo rlrrs Ârlrt'ls () l' ltrlrrrrtttrlo--'Á lxrsin os
o dox I'trrlrox l,llrtuutrlo O»mpiutr, Sherwin e Briant ..
i 198

. Jtrxrtil,n'x () l'' I'oxxrrvlrt

100
III. - O oulrlrttlntio gtrrgttt itttto - {Im tumulto de carniceiros
V, iiii,,trt,, rttt rllt'ltr rlo I'r'l't'lhrrrv Otlltttttttilr rlos hotejoo * Mnll,ylio rlo P. lilrrlolllho Àquaviva e compâ,nhei-
- .. () (lttrrlllrl (,'ttt'lttx llttttrrtttt'tt ' .. I)rrxttggrtwo " " " r04 tos -.-.[nsttt rrriçro rlrr Nnpoles ap*ziguada pclos je-
Vf. * MlxrÔrrr rlnx ltrrllrn i rlo 'lttprio; tlo llt'rt'sil I
r1o Âl'rica- §uitil,rl -. Ottl,t tt vrrz o calendtlrio - Levantamento
108
Morlrt rlrt lr, lrllllrtrH " om.llign. 208

Gcnslolnto (lo É. Frlüro:lsoo dr SorJ[' terceiro

Gsera1 IY. - Sixto Qttittkr rr n l,ig-ru 0 Papa propõe-§e mudar o
119 nomo í, Ootttlrttttltitt' Ilumilcle firmeza do Gerâ,I -
(1õo0-187s).
l)l'flllrllllllrr rlttl ttrlt'rrt'Htttittn rlrl Cornpanhia- l\[orto rlo Sirl,o (f rrirrkr llorte de S. Luiz Gonzaga
T. --l)io V
l'ipirlotrrltr' 'lortill ttr t' 1"'''r''ils" " " " "' 119
Y. - Morto rlo Ilrrtrt irlttr, I I I - Henl'ique Ilr e os da liga -
IT. On tltotttrrH tlrr (lt'ltltrttltt A lrrrkr '- lfltrtttlisco d'Itrs- O P.'l'olrl,o (jrrtrlonl S. l'rnncisco tle Sales, clisci-
124
lrttttlttt, ' , lnrlo rlo ['. I'osÉrvir l]ossovin e o Carileal Toleto
rl.on'l' nrril'trs,- O P'
llI.'- ;tt'rlt' t'ltt l'ul'lttglrl ll' t"irlttrttrl't igtrn rlrr r'6tlo Os lilzotr ltrvtt'tti,tt,t' tt' oxttommunltiÍo de Henrique IY.
^ (lnt,,,tt'tr, pl lt'rrltl'ot' rlrr li' i I - Joiio (llrrut't,l I rrirlrtirl:lde do pallamento - 1\{arty-
() l'' I'r'rpigtrrrtro -..Colrspira- lio rlo l'. ( I rrigtttt Irl a cxpulsão clos jesuitas de Paris
.ilBrlilllc t'trr l"tttrr'1t l)u I'rrrlton Àu-
2t5
çtio rrrrr l'tt'r'ix - (ll t'r'lrr'lrrrr rlrr l't'ti'rr VL -- lorsogrrir,,titt tttr ltt*ltltcrra -Martyrio tÍe jesuitas-
129
gl»'ttl'rllnovitt ' '' ' Mol'kr rltt' Ilrrirrlrtr 222
IV. -- O-ÀIr,rslrrlo rl'Âllrfirrtttrlrtr ( itrttirio' ltrgtlrlo nltoslnlico VII. I'orsr:grrir,rirr tto ,ltprlo. - Martyres e novos christãos 226
-- S. Itlsl,rlrlinlrr'tt l(rtrl lt n' lr'ttt rrt rltlx lrotr"ios - O P' ' VIIL - Morto rlo Orr,rlonl 'l'olol;o 0 P. Bellarmilo Cardeal-
136 -
M a,ggio ' Vingntrçrr rlor ltrrtrr.jt,s - O P, Coton-Henr{que IY
Y. - l\{íssàirn oni,ttttrgtrirttx A lflot irltr O I'rrrti ' O lrnllnrrrlrrl,o r,ottt rnetlo aos josuitas-Henri-
140
-que
Vi. - O llnrsi'l -- 7{) ,iorriihtx ttttr t l l'r'iztrtltts lrolos c:llvirrist*s t&4
lV lovrrrrlrr,-llros o tlcsterro - Yão evangelizar o
- lrrdirls'- ,lttptio ' Canadíl 230
Portugal
VII. - !'ranoinco rlo llotiitr rr'iÉ rri;r'loH llosp'lnhe'
([o IX. - Oonspiraltíio rltl polvotrr om Ilglaterra ?38
e l'rangn - O J'' 'l'olllo' coln o Cerdeal-Comme[- tle
X. O selailo tlo Votrozrt rorlrl)c com a S, Sé -Desterra
-
os
cloni ilrltalhn fl6 l;r'ltrttttlrn-Mortc do Papa o ].65
jesuitas por lltrin tto l'tt1tu 249
S. Fraucisoo rlo llor'.ilr "'.:, " " " ' XL - Canonizaçilo rlo §. Igrttoio tl tle S. I,'rancisco Xavier-
159
Geflel:âLato o F. Strexc[']! rr'rrr', qrrarto Geral-(tr-572-L58o)
atr deMorto I \r
Horrllryrtrr Orliosa accusação - Osini-
I. * Crueltlado clos I uguttl t,l'rrs - Grogorio XIII -
Otliosa migos dos josrrihrs sirt ttontundídos-InsurreJção em
159
calumnia-1'riutttl'lt'r' " "":" Àix-la-Cha,ptlIo : orrr l'nrgn-Quatorze Frauciscanos
Colera
II. - Tumulto em Ànl'urrr'pirr' - D' JoIo d"Àustria - do
queimados--.ltsttil,tru ocrcados o saqueatlos ........
ilos herejes - l3ttio tr rr l)' Bclhrmino -'Iriumpho 169
XII. - O P. Jeronyrno Xtviol tto imperio cle }togol-O P.
P. Toleto-S' Onr:loH lior:romou'' "' "' ' Zgod.a na Tar:ttr:in O P. Nobili:no Maduré - O P.
Os
III. - Isabel persogüe os (!Írll)r)licos - Thomás Pound - r7ú
Rloci na ChinÍI..... 259
jesuitas râ' IngltrtÔLl'rr
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5'12

XIII. : FranoiÊcanoe no - Vinte MertYr'os -

Ja oão -Traigão
Iio'o" Clriúão: ;^l{-.o^-
Tres jesuitns -
""t'oin-àa*
,ou ú*"ty,u" - Os protestante§
ponetram no Japâ'o
2ffi
I i"ít'- " ;ã"uitos
",,tt da' Ethiopia' om torll a África.e rtas d ua§ rrme- qq.
XIV. - Missoes
ncas - :,nMorte tla P' Clautlio Aquavrra' ' ' ': "-" ' ' ' 'te
e"runol'io"*ão u*oio-vitt"r"""r'i'.t:i::..:::':i 281
(1615-1645).'. "':""'':"t.: ':"'"'. tl8i
,l' $,:?il.ii"'aX't;";;i,;';;; ;';n;;o;;nai"r"'i'
a 1"'
ltalia -
R,ussia pelos ;"tolit'* - Seus-traba-Ihos
l"'i' Xff yo't9 ao eala' tfe {}j.
O P. Àrnoux
" -
àui"nÀtot, o tlo Ciarüoal Bell*rminoXavior - Gregorio XY
S' fg"a"lo e S' Francisco ' ' ""' 2W
ôiluoniza 2%
ilL - d;;;il;il;,. lT; *:
j§Í"; : ;
IV. - Novas Persegul(roeÊ "9",:":§3:"#
i-ent Perdãu cle iritnigos" '
": 301
tou - Renovolencia - Saint-
V, - ,leJJt*s martyli'ados em
Utrechi - Ja'nsenio -
Port-Royal' ''"" ' 307
Cyran - S' vit'"rrtãaà Paulo - martyt'os Ôm
JesuitRs
Vl. - A liru rle Maltu e nc iesuitns - e o P'-Pistra-Santa
lnglaberra-'q" Ésáotas-pias " S14

tla' perseguiçío no Jnpão--

NuÜretosog
vlr. - A;;;;;amento
'^ii;;;*" - os Parlres B-uzo^ni o Car-
- o R''spi,àtr Un: apostuta - 0 P'
vslho - 24 josuÍtailartyres -
Mastrilli -- Um &poet&ta sa'rtyr -" () " ': -l-" "' "' 820

ua mi""iio da Chiun P' ]l'horlosnfl'

VI[. - DiÍiicuiilatlee drlÀrio"' "' Íl80
Coohinohitra
"n'o'il"trtiÀ-llirgõon "' l]87
IX.-Mresõosems'nrbosnsÀtnsiloü1""' ::""'':-''
'i: r ii:i"xl'1,',:il :n';'m,l'';;ii Jilili'lliifi li'i,lliiijlxl ,,4r
t't'mo Ôóre'l
o.r.rrnrrii'''ál- l' vtocntrr oorlÍÍn' """"'
(lollE're'g) '- Mtlri'yrox tlo Onnoilá
S40

Bunonrrotu, tlo l{ovlthn rl ii'

'l'"r'tgt'
frilrtodo I'' Goral''"'"' " S{9
-l).ãogJoõoour'ti"fu*
itcrer iioorturtnt' oltâvo Goral'
ê .e'le'
Geaoralato Osral (L649-1652) "' ' 3ã9
'' xandre e"to!,*"ãi'
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Fim do indice do Primeiro
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