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ATENEO PONTIFICIO REGINA APOSTOLORUM

Faculdade de Filosofia

ORIGEM DO MAL,

UMA COMPARAÇÃO ENTRE CATOLICISMO E CULTURA


RACIONAL.

Professor: Pe. Sameer Advani, L.C.


Estudante: Ir. Eduardo Vidal Di Maio, L.C.
FILO1005: trabalho escrito
Roma, 13 de maio de 2018
1

ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 2

II. CULTURA RACIONAL ...................................................................................... 4

III. CATOLICISMO ................................................................................................... 7

IV. COMPARAÇÃO ............................................................................................... 11

V. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 16

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 18
2

I. INTRODUÇÃO

Dixitque Deus: “Fiat lux". Et facta est lux. […] Viditque Deus cuncta,
quae fecit, et ecce erant valde bona. Et factum est vespere et mane, dies
sextus. Igitur perfecti sunt caeli et terra et omnis exercitus eorum.
Igitur perfecti sunt caeli et terra et omnis exercitus eorum.
Complevitque Deus die septimo opus suum, quod fecerat, et requievit
die septimo ab universo opere, quod patrarat1 e 2.

Vê-se através dos séculos que no espírito humano existe constantes


perguntas, perguntas que não o deixam em paz até que se ofereça ao menos
parcialmente uma resposta, seja ela racional ou não. Hodiernamente, a essa
categoria de perguntas se costuma denominá-las de existenciais.

Entre tais perguntas, o questionamento sobre a origem do mal é, sem


sombra de dúvida, das problemáticas mais angustiantes da humanidade
desde os seus princípios mais remotos. Isso é o que atestam os inúmeros
mitos em todas as religiões que hão surgido até os nossos dias 3. Apenas
temos citado um dos trechos mais famosos sobre a criação de todo o
universo. Este é o início de um de muitos mitos possíveis que poderíamos
ter evidenciado.

Neste pequeno trabalho nos propomos comparar duas diferentes


respostas ao mesmo problema da origem do mal. Faremos isso depois de
caracterizar duas posições religiosas em grosas pinceladas. Ao final

1
Gênesis 1,3 e 1,31-2, 1-2.
2
O livro do Eclesiástico completa: “Opera Domini omnia bona, et omnem usum hora sua
subministrabit” (Eclesiastico. 39, 39). E o livro da Sabedoria explicita: “Nolite zelare
mortem in errore vitae vestrae neque acquiratis perditionem in operibus manuum
vestrarum, quoniam Deus mortem non fecit nec laetatur in perditione vivorum” (Sabedoria
1, 13-14).
3
Cf. Nostra Aetate 1.
3

proporemos um quadro sintético-comparativo do resultado da nossa


pesquisa.

As religiões escolhidas são o Cristianismo Católico, para o qual nos


serviremos de alguns números do seu último Catecismo, e a da Cultura
Racional, cujo livro Universo em Desencanto, em seus 21 volumes, nos
serviremos.
4

II. CULTURA RACIONAL4

A Cultura Racional conta assim a origem do nosso mundo material e


a nossa proveniência do Mundo Racional:

Existe lá em cima uma grande planície onde vivem os Racionais, muito


maior do que este mundo. Vivem eles com o seu progresso de pureza.
Sim; puros, limpos, sem defeitos, diferentes dessa bicharada. E nesta
planície, havia uma parte que não estava pronta para entrar em
progresso. Uns tantos Racionais entraram por esta parte, várias vezes
e foram chamados a atenção; e numa das vezes não atenderam ao
chamado de atenção, começando a progredir por conta própria, e esta
parte, não estando pronta para entrar em progresso, começou a
deformar-se5.

A deformação da planície fez com que surgisse a matéria. Esta é


composta de duas forças principais, a Eletricidade e o Magnetismo 6. O
desequilíbrio destas duas forças fez com que surgissem as doenças, o
sofrimento e a morte. Por isso, a matéria e as duas principais forças daquela
oriundas são a causa dos males desta vida.

De acordo com o Prof. Porfirio das Neves, o bem e o mal neste mundo
não existem, são apenas aparentes, uma vez que são categorias relativas
nossas como fruto de da deformação inicial de uma perfeição ainda não apta
para o progresso dos seres racionais. Teriam, portanto, uma mesma fonte,
diferenciando-se apenas num maior ou menor enfraquecimento do que fora
parte do Mundo Racional7.

4
A Cultura Racional é uma religião brasileira fundada em 1935, no centro espírita “Tenda
Espírita Francisco de Assis”, na cidade do Rio de Janeiro, rua Lopez da Cruz, Méier. Seu
fundado, Manoel Jacintho Coelho, nasceu no Rio de Janeiro no dia 30 de dezembro de
1903 e faleceu em 13 de janeiro de 1991.
5
Cf. M. J. COELHO, Universo em Desencanto 1º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford
Roxo, s.d., 8.
6
M. J. COELHO, Universo em Desencanto 2º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford Roxo,
s.d., 30: “O elétrico e o magnético são da origem do mal, são da origem da matéria”.
7
Cf. (https://www.youtube.com/user/terceiromilenio21/videos) [13/05/2018].
5

Depois que da planície apareceu a matéria conhecida, os espíritos


racionais, os temerários, receberam um corpo, análogo a uma máquina, mas
atuada por estes; a tais espíritos num corpo denomina-se homem. A máquina
corpórea é capaz de comunicar-se com os espíritos do mundo de origem
através da glândula pineal, sempre que esteja imunizada pelo Fluido
Racional.

A vida presente é um estado dos espíritos racionais temerários8; é uma


condição imperfeita, impura, de maneira que se deve buscar a justa
purificação, dita também imunização, da matéria e o equilíbrio das forças de
origem do mal, a eletricidade e o magnetismo, que agem na realidade
material.

A imunização se dá pelo recebimento do Fluido Racional acontece com


as leituras dos mil livros que essa religião possui, especialmente os
intitulados Universo em Desencanto. Ou seja, é o que chamam de salvação ou
redenção universal9 dos espíritos, produzida pela leitura dos livros
revelados pelo Racional Superior através do médium e fundador Manoel
Jacintho Coelho. O espírito racional, se corretamente imunizado, pode gozar
da vida com paz e serenidade porque pode estar seguro de sua salvação, pois
é capaz de separar o certo dos certos10.

Quando morrer, após uma falha irreversível na máquina corpórea, o


espírito racional poderá voltar ao seu mundo de origem, sempre que
purificado convenientemente, isto é, sempre que continue imunizando-se

8
M. J. COELHO, Universo em Desencanto 18º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford Roxo,
s.d., 77: “E assim, vejam que a vida é somente de aparências, por ser uma vida falsa nessas
condições. Por dentro é uma coisa e por fora é outra”.
9
Cf. M. J. COELHO, Universo em Desencanto 1º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford
Roxo, s.d., 201.
10
Idem, 217.
6

pelo fluido racional nos sucessivos estados de gradual perfeição, mais


semelhantes ao estado original11. Porém, caso haja desequilibrado de
maneira contundente as energias elétricas e magnéticas, este descenderá a
estados mais impuros até que se purifique12.

Sinteticamente, o mal não é algo que o homem possa individuar com


sua capacidade e parâmetros convencionais precários. Porém, é indicado e
evidenciado na Revelação contida em Universo em Desencanto. O mal surge
como uma planície do mundo racional que se deformou por ser usada de
modo indevido. O mal é, portanto, a matéria e as duas forças que brotaram
da matéria, a eletricidade e o magnetismo.

11
M. J. COELHO, Universo em Desencanto 5º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford Roxo,
s.d., 23: “E assim é tudo, nesse conjunto elétrico e magnético, somente para destruir,
porque está deformado. O que é deformado está mal, vai sempre de mal a pior, porque vai
se transformando, degenerando, minguando. E se transformando em outros seres e pela
multiplicação da g1 degeneração chega à extinção, se transformando em outros seres e
extinguindo-se entra em outra formação mais degenerada. Então, tudo se transforma,
porque tudo se degenera e o que degenera, diminui, o que diminui enfraquece, o que
enfraquece vem a desaparecer pelo seu estado de decomposição e se transformando em
outros seres”.
12
M. J. COELHO, Universo em Desencanto 16º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford Roxo,
s.d., 244: “Agora, o MUNDO RACIONAL, o mundo dos puros, limpos e perfeitos, o
mundo de onde saíram para parar aí nessa deformação de impuros, cheios de defeitos.
Agora, todos de volta para o seu verdadeiro mundo, o MUNDO RACIONAL, todos sendo
outra vez puros, limpos e perfeitos, em seu verdadeiro Mundo de Origem, voltando todos
àquilo que eram: puros, limpos e perfeitos”.
7

III. CATOLICISMO

Agora passamos a considerar a solução ao nosso interrogativo de


acordo com a doutrina católica. A Igreja reconhece não ter uma resposta
racional, verificável como dois mais dois são quatro, para a existência do mal,
melhor, para a não-existência do bem em algum ato13.

Contudo sustenta que a origem de todo o mal é o pecado, que os


primeiros a pecarem foram os anjos, entre eles Lúcifer, que o homem também
pecou, tentado e enganado pelo demônio14.

Que é pecado? Um mistério, Mysterium Iniquetatis15, que só vem


corretamente abordado fixando o olhar de fé, n’Aquele que é o único
Vencedor do mal, em Jesus Cristo16.

Em Jesus Cristo, Deus nos revela ser Trindade Santa, uma relação
subsistente, onde o Pai eternamente gera o Filho, onde o Filho, Imagem do
Pai, que eternamente diz Pai, ambos se amam eterna e infinitamente no
Espírito Santo. Um Deus, uma natureza e Três pessoas.

Deus Pai no Filho cria. Cria os anjos, os homens, os animais, o


Universo todo e os mantém em existência. Cria o homem à sua imagem e
semelhança, cria-o para que seja filho no Filho, de modo que o homem é
desde sempre imagem da Relação eterna da Trindade Santíssima.

A partir daqui o Mysterium Iniquetatis pode ser melhor abordado. O

13
Metafisicamente falando, o mal é a ausência de uma devida perfeição, é a negação do
bem, do Sumo Bem.
14
Cf. Gênesis 3, 1-24.
15
Cf. 2 Tessalonicenses 2,7.
16
Cf. CIC 385.
8

pecado é uma ofensa infinita de um ser finito ao Ipsum Esse per Se Subsistens.
É a criatura que se rebela contra seu Criador, que decide romper, extirpar de
seu espírito a relação de filho no Filho, para fazer-se ele igual a Deus.

Quando Deus cria, cria para que as criaturas, especialmente as


dotadas de liberdade, O adorassem, O servissem dando–Lhe glória. Não cria,
porque Lhe faltasse alguma coisa, mais por puro amor, pura e gratuita
doação para que participassem de seu Ser.

Como já dito, os primeiros a se rebelarem foram Lúcifer e seus anjos,


e estes, por inveja dos bens do homem, o tenta e engana para que também
estes últimos se rebelassem.

De fato, Adão e Eva decidiram, induzidos, mas não obrigados pelo


demônio, comer do fruto da árvore que Deus lhes tinha proibido rompendo
a relação com seu Criados. Esse primeiro pecado feito pelo homem é Pecado
Original, transmitido por geração e que afeta a todo o gênero humano17. Em
virtude disso, a Igreja ministra o Batismo até mesmo aos recém-nascidos18.

O Pecado Original destruiu a relação Deus e Homem de filhos no


Filho fazendo impossível a presença humana no paraíso. Lesou fortemente a
natureza humana, fazendo-a propensa a cometer mais atos infames e
privados da devida bondade e perfeição19, além de acarretar a ''servidão
debaixo do poder daquele que tinha o império da morte, isto é, do Diabo"20.

17
Excetuando a Virgem Maria, por favor especial de Deus, e Jesus Cristo, Filho de Deus,
nascido da Virgem Maria, em tudo semelhante a nós, menos no pecado. Cf. Hebreus 4, 15
18
Cf. CIC 403.
19
CIC 1707: "Instigado pelo Maligno, desde o início da história o homem abusou da própria
liberdade." Sucumbiu à tentação e praticou o mal. Conserva o desejo do bem, mas sua
natureza traz a ferida do pecado original. Tornou-se inclinado ao mal e sujeito ao erro: O
homem está dividido em si mesmo. Por esta razão, toda a vida humana, individual e
coletiva, apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas.
20
Cf. CIC 406-407.
9

O pecado é possível porque Deus cria, e assim o quer, um mundo “em


estado de caminhada” para sua perfeição última21. De maneira que os anjos
puderam fazer mau uso de sua liberdade, bem como o homem, porque é para
a liberdade de filhos no Filho que fomos criados. Esta liberdade é condição
sine qua non para o exercício do amor, e nesse exercício a criatura eviterna
pode alcançar o seu propósito existencial, a sua felicidade eterna em Deus22.

Ainda que o homem tenha pecado Deus não o abandonou nessa


condição. Na narração do Gênesis, “Deus chamou ao homem e lhe anunciou de
modo misterioso a vitória de Cristo sobre o mal e o soerguimento da queda”23. A
Igreja chama de Mysterium Pietatis a verdade de que “Deus não nos
abandonou ao poder do mal e da morte”, tendo Ele mesmo enviado a Jesus
Cristo, Quem sendo o Unigênito Filho de Deus, Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade, o único capaz assumir e satisfazer uma culpa infinita:

“Desceu dos Céus; e por obra do Espírito Santo se encarnou no seio da


Virgem Maria e se fez homem. (Padeceu e) foi crucificado sob Pôncio
Pilatos, morreu e foi sepultado. (Desceu à mansão dos mortos),
ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos Céus onde está sentado à direita
de Deus Pai e virá na sua glória para julgar a vivos e mortos, e o seu
Reino não terá fim”24.

Isso aconteceu para liberar o gênero humano da escravidão do


pecado, para pôr no último dia um ponto final ao domínio de Lúcifer e dos
espíritos caídos, para redimir e salvar a humanidade abrindo as portas dos
Céus de uma vez por todas, as mesmas cujo pecado de Adão havia fechado25.

21
Cf. CIC 310-312.
22
Cf. Gálatas 5, 1-13.
23
CIC 410.
24
Cf. Credo Símbolo dos Apóstolos e Niceno-Constantinopolitano.
25
Cf. Romanos 5, 1-21.
10

Qual é a resposta da Igreja Católica ao problema do mal? Jesus Cristo.

“Então, por que o mal existe? Para esta pergunta tão premente quão
inevitável, tão dolorosa quanto misteriosa, não há uma resposta
rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta
pergunta: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente
de Deus que se antecipa ao homem por suas Alianças, pela Encarnação
redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pelo congraçamento da
Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamado a uma vida bem-
aventurada à qual as criaturas livres são convidadas antecipadamente
a assentir, mas da qual podem, por um terrível mistério, abrir mão
também antecipadamente. Não há nenhum elemento da mensagem
cristã que não seja, por uma parte, uma resposta à questão do mal”26.

26
CIC 309.
11

IV. COMPARAÇÃO

Tendo apresentado brevemente as características gerais das duas


visões sobre a origem do mal e algumas de suas consequências, passamos a
comparar velozmente ambas.

Parece-nos claro que há aspectos de semelhança entre ambas posições.


Como por exemplo: um ato inicial desestabilizador, um quê a ser purificado,
uma fonte comum a todos os males, um exitus-reditus da criatura.

Na visão da Cultura Racional, o espírito se deve purificar do mal


através da leitura dos livros ditados e Revelados, primado do esforço
individual. No cristianismo é Deus quem sai ao encontro do homem e espera
dele uma resposta.

No Catolicismo existe salvação, na Cultura não, apenas um retorno


que mais cedo ou mais tarde se dará. Nesta última parece-nos que falta o
sentido de culpa a reparar por haver ofendido alguém, portanto não existiria
pecado, apenas uma espécie de temeridade.

No Catolicismo o bem é objetivo e faz parte da realidade mundana, é


participação do Sumo Bem. Na Cultura Racional, existe o perfeito, o puro,
mas o bem é algo que é menos enfraquecido que o mal, vem de uma
degradação inicial, no fim será subjetivo.

Em ambas existe um Ser superior, mas somente no catolicismo este


Deus é Trindade e relação subsistente, que cria e mantém em existência as
suas criaturas e por amor.

O mediador entre Deus e os homens na Cultura Racional é o mesmo


12

fundador, Manoel Jacintho Coelho, quem foi instrumento para transmitir


uma revelação. No Catolicismo é o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus no
qual e para o qual tudo foi feito.

No Catolicismo existirá um juízo final onde os que morreram em


amizade e graça de Deus irão ao Céu e os que não o quiseram irão ao inferno.
Na Cultura Racional é um constante ciclo de reencarnação até que o espírito
consiga imunizar-se para voltar ao mundo de Origem.

E por último, na Cultura Racional se voltará a um estado de perfeição


inicial, no Catolicismo, e talvez das suas maiores novidades em relação as
demais religiões, a natureza humana redimida é mais perfeita do que quando
Adão e Eva foram criados, ademais pelo Batismo o católico se torna filho no
Filho de maneira real e mais perfeita que os não batizados.

Resposta Jesus Cristo é a resposta O espírito racional se


ao ao mal e ao pecado. deve purificar através da
problema imunização da matéria e
do mal e das duas forças desta
sua oriunda.
solução Em Jesus Cristo a Imunização pelo fluido
humanidade foi racional, através da
redimida e cada homem leitura dos livros
é salvo. revelados e ditados ao
médium Manoel,
especialmente, Universo
em Desencanto.
13

Fonte do O pecado é a fonte do Deformação da planície


mal mal. É uma eleição feita do mundo racional da
por uma liberdade mal qual surgiu a matéria e
exercida. desta duas forças,
eletricidade e
magnetismo27.
Presença do Tentador Inexistente, a pesar de
invejoso dos bens da admitir a existência de
humanidade. espíritos no mundo
racional superior.
Exitus- Criação por amor, com Pré-existência da alma
Reditus causa final de toda as humana em relação ao
criaturas. mundo material, este
não querido
inicialmente pelo
Racional Superior, se
deve retornar ao estado
primitivo.
Depois da encarnação do O espírito racional deve
Verbo, a humanidade foi retornar ao estado inicial
elevada a um grau de pureza e perfeição
superior de perfeição, para voltar ao seu
em relação ao estado da mundo de origem28.
natureza original.

27
Cf. nota 5.
28
M. J. COELHO, Universo em Desencanto 9º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford Roxo,
s.d., 36: Então, tudo se transforma, mas EU falo em morte para melhor interpretação dos
primários, para melhor compreensão dos primários, dos confusos. Então, é preciso usar os
termos de melhor compreensão, como “morte” e outros termos mais. Mas, na realidade
ninguém morre, tudo se transforma. Então, essa vida deformada é continuação para a outra
vida de puros, limpos e perfeitos no seu verdadeiro mundo de origem, porque tudo se
transforma para o seu estado natural. Qual é o estado natural? É de Racionais puros, limpos
e perfeitos, na PLANÍCIE RACIONAL, no seu lugar verdadeiro.
14

Valor Boa, uma vez que Deus a É má em si mesma, fruto


ontológico criou ex nihilo para que de uma degradação
da Matéria existisse o homem, mais inicial, de algo puro e
propriamente, por Jesus perfeito. Fonte de todos
Cristo, verdadeiro Deus os males desta e das
e verdadeiro Homem. demais vidas
imperfeitas
Existência Deus Trindade, Um ser transcendente
de um Ser Santíssimo, fonte de imune a qualquer ação
Superior todo o bem, criador de dos demais espíritos,
tudo e Pessoal, de quem único e não é trinitário.
se pode atribuir todas as
perfeições puras (Ipsum
Esse per Se Subsistens).
Culpa Pecado Original, eleição Progresso de espíritos
Inicial consciente de querer ser racionais em zona ainda
como Deus, indo em não bem preparada pelo
contra a própria Racional Superior para
natureza, soberbamente receber o progresso.
depois de desconfiar dos Parece não haver pecado
desígnios divinos. propriamente falando,
Transmitido por pois não há um Quem
nascimento a todos os ofendido.
seres humanos, exceto
dois29.
Mediador Mediador único, Jesus Manoel Jacintho Coelho,
entre Deus Cristo, verdadeiro Deus homem muito
e o homem e verdadeiro homem. capacitado e purificado

29
Cf. nota 16.
15

capaz de comunicar-se
com o mundo de origem
e instrumento do
Racional Superior para
transmitir a verdade.
Bem e mal Bem é a participação ao Neste mundo são apenas
neste Sumo Bem. Este é a fonte aparentes, não existem
mundo de todo Bem. realmente, são
O mal é a livre negação categorias relativas
da criatura à relação de construídas pelos
filho no Filho com Deus, homens, mas possuem
é ausência de perfeição uma mesma origem,
devida. nada mais que um é
mais forte ou menos
enfraquecido que o
outro30. Necessária
revelação para mostrar o
mal que é a matéria.

30
Cf. M. J. COELHO, Universo em Desencanto 5º volume, Ed. Gráfica Racional, Belford
Roxo, s.d., 41: “Então, nunca que podiam encontrar o puro, o certo, o perfeito, na
deformação, porque tudo se degenera e tudo se transforma, hoje é uma coisa amanhã é
outra e, por isso, hoje está certo assim, amanhã já não está. Hoje está novo, amanhã está
velho. Hoje está bom, amanhã está ruim”.
16

V. CONCLUSÃO

Poder-se-ia seguir seja com o desenvolvimento de uma e outra


doutrina, seja com a comparação maior e mais sistemática da origem do
mal de acordo com cada religião aqui apresentadas, mas acreditamos que
o objetivo proposto para este trabalho foi felizmente alcançado. Vimos os
traços que consideramos principais de cada posição, qual é a origem do mal
e sua repercussão neste mundo, e qual é a posição do homem diante de
seus atos e diante de sua morte.

Restam ainda subtemas à nossa problemática a serem resolvidos,


como se na Cultura Racional realmente pode existir a concepção de pecado.
Acreditamos que não, por faltar essencialmente o caráter de ofensa a Deus,
mas isso necessitaria um estudo mais acurado pelas páginas de Universo em
Desencanto, um livro conhecido também pela multiplicação de palavras,
repetições sem fim de certos argumentos e conceitos. Da Cultura Racional
poderíamos dizer ser uma religião que é fruto de um grande sincretismo
religioso, com tendências e influências gnóstica, maniqueísta, platônica,
espíritas, umbandistas.

Acreditamos que considerar o pecado desde uma prospectiva onde


Deus seja Trindade que criou tudo e tudo criou era valde bona, mas sempre
como alguém externo, ofendido, que exija somente que o homem se
comporte bem para ser premiado, seja um risco seríssimo a integridade da
Fé, pois seria cair em um racionalismo, onde a transcendência, a
Encarnação e a cruz de Cristo tenham pouca importância, nada além de ser
um ponto fixo num sistema ético perfeito.

Com este trabalho não queremos dizer que o Cristianismo seja mais
logicamente bem construído doutrinalmente que a Cultura Racional, ainda
17

que isto nos pareça um fato, pois no final a Fé sempre dependerá da adesão
da vontade humana a uma revelação de pelo menos um Ser Transcendente
ao homem. A verdadeira religião não é aquela que possui o sistema
racional lógico imune às criticas alheias passadas e de porvir, mas sempre
será o encontro de uma pessoa, de uma sociedade com um Deus que Se
revela, com uma Pessoa31.

31
Cf. J. RATZINGER, Introduzione al Cristianesimo, Queriniana, Brescia, 1996.
18

BIBLIOGRAFIA

BETTENCOURT O.S.B, E., «Qual a mensagem de “o Universo em Desencanto”»


Pergunte e responderemos n°521, (2005).

COELHO, M. J., Universo em Desencanto todos os volumes da obra, Ed. Gráfica


Racional, Belford Roxo, s.d.

VATICANUM II, S. OE. C., Nostra Aetate,


(http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/
vat-ii_decl_19651028_nostra-aetate_po.html) [13/05/2018].

VATICANUM II, S. OE. C., Unitatis Redintegratio,


(http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/
vat-ii_decree_19641121_unitatis-redintegratio_po.html) [13/05/2018].

-, Catecismo da Igreja Católica,


(http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-
pagina-cic_po.html) [13/05/2018].

-, Nova Vulgata Biblorum Sacrorum Editio


(http://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/n
ova-vulgata_index_lt.html) [13/05/2018].

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