Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Gestao Esc PDF
Gestao Esc PDF
CAMPOS, Marli1-FURB
marlyic@gmail.com
Resumo
O artigo discute a construção social do conceito de “bom” gestor fundamentado na Teoria das
Representações Sociais, com um grupo de gestores das Unidades Escolares do Ensino
Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Blumenau, levando em consideração o novo
enfoque de gestão escolar, incorporado pela sociedade contemporânea, a partir da
promulgação da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional nº. 9394/96. A construção social do conceito de “bom” gestor é uma dissertação de
mestrado que se encontra em andamento e está ancorada na Teoria e Metodologia das
Representações Sociais. A referida teoria é o meio para compreender os saberes do grupo, as
marcas sociais, o contexto histórico e social onde a renovação desses saberes é elaborada por
meio das práticas sociais, das experiências individuais desenvolvidas pelos sujeitos da
pesquisa no desempenho de sua ação profissional. A atuação do gestor no âmbito de suas
atribuições perpassa por três dimensões: técnica, pedagógica e política como espaços de
competências interligados. Como instrumento de pesquisa foi utilizado um questionário, cujas
questões foram elaboradas com base na técnica da associação livre e hierarquizada dos itens,
de acordo com Bardin. Os gestores conceituaram a função de gestão escolar quando
solicitados que completassem a frase: Bom Gestor... e, indicassem as palavras mais relevantes
naquela concepção. As palavras foram classificadas e aglutinadas de acordo com as
competências de gestão e a mais relevante serviu para agrupar nas referidas competências. Os
resultados obtidos até o momento apontam que a dimensão técnica exige dos gestores
conhecimento da legislação educacional, do sistema de ensino e da escola. A dimensão
política é a ação, onde os gestores pesquisados estão mais focados. Na dimensão pedagógica
as ações culminam com a elaboração do Projeto Político Pedagógico.
1
Graduada em Pedagogia/Administração Escolar e Supervisão Escolar pela Universidade Regional de Blumenau
– FURB; Especialização em Administração escolar pela UNIVALI; Mestranda em Educação pelo PPGE/ME da
FURB (Turma 2008); pesquisadora na Linha de Pesquisa Educação, Estado e Sociedade. Diretora do Ensino
Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Blumenau/SC, no período de 15/01/07 a 09/02/09.
2
Doutora em Educação Matemática pela UNESP – Campus de Rio Claro-SP. Professora permanente no
PPGE/ME/FURB na Linha de Pesquisa Educação, Estado e Sociedade, tendo Representações Sociais como foco
de pesquisa.
1861
Introdução
A pesquisa que fundamenta o presente artigo está sendo realizada como dissertação de
mestrado no Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação pela Universidade
Regional de Blumenau – PPGE/ME-FURB, na linha Educação, Estado e Sociedade, no Grupo
de Pesquisa Edupesquisa que estuda a Teoria das Representações Sociais, cujo precursor foi
Sérge Moscovici3. O artigo apresenta a construção social do conceito de “bom” gestor, a
partir de um grupo de gestores das Unidades Escolares do Ensino Fundamental da Rede
Municipal de Ensino de Blumenau, Santa Catarina, sujeitos da pesquisa. A pesquisa justifica-
se pelas dificuldades no cotidiano dos gestores quando descreviam suas ações à pesquisadora
e a preocupação dos mesmos em serem “bons” gestores, no sentido de articularem a teoria
trabalhada nos cursos de formação e o exercício diário de suas funções.
A elaboração da construção social do conceito de “bom” gestor definida pelo grupo de
gestores escolares são construídas a partir da apropriação que eles fazem da prática, das suas
relações e dos saberes históricos e sociais. Para compreender o conceito de gestão do grupo
pesquisado, foi aplicado um questionário, onde os sujeitos da pesquisa completariam a frase
com o que significaria para eles ser um bom gestor. A partir da definição, da concepção que
os sujeitos possuíam a respeito de gestão, os mesmos destacaram as palavras relevantes. As
palavras relevantes foram classificadas em categorias de competências: técnica, política e
pedagógica.
O conceito de gestão escolar passa a ser incorporado pela sociedade contemporânea, a
partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, quando no seu Art. 206, dispõe ao
longo do mesmo, a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei” e da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº. 9394/96, no seu Art. 14 destaca o
preceito da gestão democrática como um dos seus princípios, pressupondo a gestão
democrática como um trabalho coletivo, participativo e dialógico.
A relevância do estudo como produção científica para a área de Representações
Sociais e Gestão Escolar está na escassez dos trabalhos que discutem os saberes sociais
construídos pelos próprios gestores no desempenho de suas funções, na construção do
conceito social de “bom” gestor.
3
Sérge Moscovici – estabeleceu a Teoria das Representações Sociais por meio de uma redefinição dos
problemas e conceitos da Psicologia Social, a Psicanálise. O referido estudo é sistematizado na obra La
Psycanalyse: son image el son public (1961).
1863
Para efeitos de organização do artigo o leitor encontra quatro tópicos; a gestão escolar
sob novo enfoque; os conceitos e competências da gestão escolar; o contexto, os sujeitos da
pesquisa; a metodologia e a definição dos gestores nas competências, permeados pela Teoria
das Representações Sociais que estuda os saberes do senso comum, no caso, a construção do
conceito social de “bom” gestor. Finalizando a discussão, as considerações finais.
necessária, e que os mesmos são elaborados através de práticas sociais é que a escola é
concebida.
Dotta (2006) confirma que por meio da Teoria das Representações Sociais podemos
apreender esses saberes, pois, está envolvido o esforço em apreender os problemas da
educação no processo que articula o homem concreto, em sua especificidade e complexidade,
à totalidade social, dentro do movimento histórico que os engloba em espaço e tempo
definidos.
O gestor escolar sob esse novo paradigma passa a atuar de forma mais dinâmica,
comprometido com os destinos da instituição escolar, co-responsabilizando todos os atores da
instituição escolar e da comunidade escolar no fazer pedagógico.
A gestão escolar vai além do sentido de mobilizar as pessoas para a realização eficaz
das atividades, pois implica intencionalidade, definição de um rumo, uma tomada de decisão
diante dos objetivos sociais e políticos de uma escola. A escola, ao cumprir sua função social
influi na formação da personalidade humana e não é possível estruturá-la para o cumprimento
da sua função social, sem levar em consideração objetivos políticos, técnicos e pedagógicos.
Segundo Libâneo (2004) a intencionalidade projeta-se nos objetivos que dão o rumo, a
direção da ação. Na escola, isso leva à busca deliberada, consciente, planejada de integração e
unidade de objetivos e ação, em torno de normas e atitudes comuns.
O gestor responsável pelo espaço educacional, assume posturas profissionais
decorrentes do seu compromisso profissional na dimensão educacional. Essa postura envolve
os aspectos referentes ao contexto da prática escolar, suas experiências pessoais, a influência
das políticas públicas, do entorno onde a escola está inserida, do grupo de profissionais nas
dimensões: pedagógica, técnica e política.
Segundo Wittmann (2004) podemos falar que a gestão escolar possui três aspectos
inalienáveis e interrelacionados: a competência técnica, a liderança na comunidade e o
compromisso público-político, as demais funções da gestão escolar, por mais importantes e
indispensáveis, são adjetivas e complementares.
A dimensão pedagógica envolve a organização do trabalho escolar no que diz respeito
à elaboração do projeto pedagógico, no planejamento anual, nas reuniões pedagógicas, nos
1866
delega responsabilidades decorrentes das decisões dos membros da equipe escolar, presta
contas e submete à avaliação do grupo o desenvolvimento das decisões tomadas
coletivamente.
Essa dimensão associa-se ao desenvolvimento do trabalho no sentido de buscar
parcerias, articular a comunidade escolar na representatividade dos conselhos escolares, nas
ações que envolvem o trabalho no cotidiano escolar, trazendo a comunidade exterior para o
interior da escola, ou seja, abrir as portas do espaço educacional para que toda a comunidade
possa usufruir e participar das decisões decorrentes daquele ambiente educacional.
O gestor escolar na dimensão política exerce o princípio da autonomia que requer
vínculos mais estreitos com a comunidade educativa, os pais, as entidades e organizações
paralelas à escola. (LIBÂNEO, 2004).
Segundo Libâneo (2004) “autonomia é a faculdade das pessoas de autogovernar-se, de
decidir sobre seu próprio destino”. Autonomia de uma instituição significa ter o poder de
decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, manter-se relativamente
independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros. As escolas
públicas como não são organismos isolados, dependem do sistema central, das políticas e da
gestão pública, possuem uma autonomia relativa, ou seja, a autonomia de uma escola pública
pauta-se no planejamento, na organização, na orientação e o controle de suas atividades
internas estando sujeita a adequação e aplicação das diretrizes gerais que recebem dos níveis
superiores da administração do ensino.
A presença da comunidade na escola, em especial os pais, significa representatividade
e participação nos Conselhos de Escola, Associação de Pais e Professores para a elaboração e
ou reformulação do Projeto Político Pedagógico, acompanhando e avaliando a qualidade dos
serviços prestados.
Contexto da pesquisa
representações são sociais e estão ao redor de todas as pessoas e fazem parte do mundo e por
isso existentes na vida de todas as pessoas.
A pesquisa sobre a construção social do conceito de “bom” gestor foi realizada no
município de Blumenau, que localiza-se na região metropolitana do Vale do Itajaí, ao longo
do rio Itajaí-Açu, no Estado de Santa Catarina, na região sul do Brasil. O município foi
fundado em 02 de setembro de 1850, pelo filósofo alemão Dr. Hermann Bruno Otto
Blumenau que obteve do governo Provincial uma área de terras de duas léguas para nela
estabelecer uma colônia agrícola, com imigrantes europeus. (SILVA, 1988).
Segundo os dados do sítio eletrônico: www.furb.br/ips/sigad o município de Blumenau
possui 296 mil habitantes, sendo destes 270 mil residentes na zona urbana e o restante da
população residentes na zona rural. É a terceira cidade mais populosa do Estado, constituindo
como um de seus principais pólos industriais e tecnológicos, com destaque nas áreas de
informática, comércio e indústria. A indústria têxtil é a principal atividade econômica do
município.
Segundo os indicadores demográficos e educacionais divulgados pelo Ministério da
Educação - MEC o município apresenta Índice de Desenvolvimento Humano4 - IDH de 0,86,
Índice de Desenvolvimento Infantil - IDI de 0,77.
A cidade de Blumenau apresenta-se como um dos municípios com o nível de educação
acima da média brasileira. A taxa de analfabetismo é de 0,8 na faixa etária de 10 a 15 anos de
idade e de 2,8 na população de 15 anos ou mais. (http://portal.mec.gov.br).
A taxa de escolarização líquida no ensino fundamental, de acordo com o censo
demográfico de 2000, fonte IBGE, em Blumenau, é de 95,3%. O Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica – IDEB5, da rede municipal apurado em 2005, foi de 4,4 nas séries
iniciais e 3,6 nas séries finais do ensino fundamental; No ano de 2007 o índice apurado nas
séries iniciais foi de 4,8 e nas séries finais 4,3 (www.mec.gov.br).
“O conhecimento só pode ser analisado tendo como contraponto o contexto social em
que emerge, circula e se transforma”. (SPINK, 1994, p.93). Ainda nos apoiando em SPINK
4
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma referência para avaliar o desenvolvimento humano dos
países, utilizando como critérios indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade
(esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita).
5
O IDEB foi criado pelo Ministério da Educação, no ano de 2007 para aferir a qualidade de ensino das escolas
públicas. O indicador é apresentado numa escala de zero a dez. O índice é medido a cada dois anos e o objetivo
do país é alcançar a nota 6 até 2022, indicador este, que corresponde à qualidade do ensino em países
desenvolvidos.
1869
(1994, p. 121) “o contexto só nos interessa porque sem ele não poderíamos compreender as
construções que dele emanam e nesse processo o transformam”.
Sujeitos da Pesquisa
Metodologia da Pesquisa
A categorização dos dados foi feita de acordo com o modelo proposto por Bardin
(1977), organizada em três momentos:1) A pré-análise; 2) A exploração do material; 3) O
tratamento dos dados, a inferência e a interpretação.
Considerações Finais
Este artigo buscou discutir a função de gestão escolar sob o novo enfoque, permeado
pela Teoria das Representações Sociais, onde o gestor passa a atuar mais comprometido com
os destinos da instituição escolar, co-responsabilizando os parceiros no fazer pedagógico.
O gestor escolar no desempenho da sua função, assume posturas profissionais que
decorrem do seu perfil profissional e da influência de políticas públicas, do entorno onde a
escola está inserida, do grupo de profissionais que compõem o quadro funcional, apresentadas
nas dimensões: pedagógica, técnica e política. As referidas dimensões entendidas como
competências dos gestores estão interligadas e no cotidiano da ação indissociáveis para a
concretização dos objetivos educacionais da Escola.
Na representação social do grupo de gestores escolares sobre “bom” gestor, a partir da
categorização das palavras mais relevantes indicadas pelo grupo e aglutinadas conforme os
sentidos sobressalentes são categorizadas três dimensões: técnica, política e pedagógica como
competências intrínsecas no desempenho de suas funções.
A atuação do gestor na dimensão técnica amplia as suas responsabilidades para gerir a
complexidade da escola atual. Competência técnica no sentido de ser um conhecedor da
legislação educacional, da origem dos recursos financeiros, bem como a prestação de contas
dos mesmos, das atribuições do sistema de ensino e da escola. A categoria que formou essa
dimensão foi representada pela palavra gerenciamento.
Na dimensão política sua atuação está vinculada à pertinência e relevância do que
executa na escola. O significado social, político e histórico da aprendizagem é que faz com
que a proposta educativa da escola seja um projeto político, além de pedagógico.
(WITTMANN, 2004). As palavras liderança, democrático e humanista constituem a
dimensão política, onde a ação dos sujeitos pesquisados está mais focada.
Encerrando a discussão a dimensão pedagógica é definida pelos gestores pela palavra:
Projeto Político Pedagógico, onde o mesmo engloba e norteia todas as ações da escola, sendo
este, liderado pelo gestor e construído por todo o coletivo de educadores.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ângela Maria de Oliveira; COSTA, Wilse Arena da. Teoria das representações
sociais: uma abordagem alternativa para se compreender o comportamento cotidiano dos
1873
indivíduos e dos grupos sociais. Rev. Educ. Pública. Cuiabá, v. 8, n.13, p.250-280,
jan./jun.1999.
FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Gestão Democrática da Educação para uma Formação
Humana: conceitos e possibilidades. Em Aberto, Brasília, v. 17, n.72, p.167-177, fev./jun.
2000.
JODELET, Denise. (Org.) As Representações Sociais. Tradução: Lílian Ulup. Editora Uerj.
Rio de Janeiro. 2001.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5 ed. Revista e
ampliada. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.
_____, Heloísa... [et al.]. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2005.
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. 2ª ed. Blumenau: Fundação “Casa Dr.
Blumenau”, 1988.
SPINK, Mary Jane. Desvendando as teorias implícitas: uma metodologia de análise das
representações sociais. In: GUARESCHI, Pedrinho e JOVCHELOVITCH, Sandra. (Orgs).
Textos em Representações Sociais. Petrópolis: Vozes, 1994.