Você está na página 1de 4

Texto de Apoio 3

1. Conceito de supervisão escolar

Segundo Viera (2010 cit. em Cohen, 2014), a supervisão é entendida como sendo a
teoria e prática de regulação de processo e aprendizagem. De acordo com Alarcão &
Tavares (2003 cit. em Cohen, 2014), a supervisão pedagógica é entendida como o
processo em que um professor, em princípio mais experiente e mais informado, orienta
outro professor ou candidato a professor no seu desenvolvimento humano (p.322).

Para Simbine (2009), a supervisão pedagógica resume-se na verificação superior das


actividades pedagógicas dos escalões relativamente inferiores, com o objectivo de
verificar, acompanhar, avaliar e apoiar a implementação do processo educativo,
inteirando-se dos avanços, problemas ou irregularidades que, durante o período lectivo,
possam a estar a ocorrer numa determinada instituição ligada ao ensino (p.13).

Como destaca Nérici, “A supervisão escolar visa à melhoria do processo ensino-


aprendizagem, para o que tem de levar em conta toda a estrutura teórica, material e
humana da escola” (1978, p. 26).

De acordo com Nérici (1974, cit. em Rolla. 2006), supervisão escolar é a visão sobre
todo o processo educativo, para que a escola possa alcançar os objectivos da educação e
os objectivos específicos da própria escola (p.15).

Como vimos anteriormente, o conceito de supervisão pedagógica é polissémico, ou seja,


possui vários significados de acordo com a visão de cada autor. Contudo, a supervisão
centra-se na orientação e aconselhamento dos professores e demais intervenientes.

Assim, é imprescindível que o supervisor saiba articular o administrativo com o


pedagógico. Para que esta função seja efectiva, o especialista da área da supervisão deve
ter pleno conhecimento da didáctica, para poder dar apoio aos professores. Segundo
Vieira, o supervisor pedagógico deve acompanhar a prática dos docentes de maneira
que os ajudem a se tornarem os supervisores da sua própria prática, ambos em constante
interacção, diálogo e troca de experiências, para que possam assim, contribuir para um
processo de ensino e aprendizagem significativo e contextualizado. Tendo em vista que
a supervisão requer o domínio da liderança para que possa consciencializar os
envolvidos no âmbito educacional a desenvolverem uma educação de qualidade, esta
função requer o pleno exercício de uma liderança educacional activa, ética e em
constante comunicação com todos os envolvidos.

Vale lembrar mais uma vez, que o ato de liderar não é mandar e somente chefiar, mas
exercer as funções de liderança com as “habilidades” necessárias na busca de
harmonizar o trabalho de forma cooperativa e harmoniosa. A acção do supervisor deve
propiciar que os objectivos da educação sejam alcançados e para isso, o supervisor deve
criar as condições para esta efectivação, buscando sempre se aprimorar no embasamento
teórico e prático, de forma diferenciada e inovadora.

2. Breve Historial da Supervisão escolar

No período colonial, vigorou mais a inspecção do que a supervisão propriamente dita.


No período da luta de libertação nacional, a supervisão caracterizou-se por uma inter-
ajuda, ou seja, devido a falta de professores formados e com prática psicopedagógica,
cada professor supervisionava as aulas do outro. No período pós-independência, a
Frelimo adoptou o regime socialista, e foi atribuída também a educação o papel de
formar o homem novo, dotado de ideologias revolucionárias, socialistas e anticoloniais.
É neste âmbito, que a supervisão/inspecção estava virada para a difusão e cumprimento
das ideologias marxistas-leninistas. No âmbito da democratização em vigor no país, a
supervisão passou a ser integrada ou multissectorial. Aliado a isto, devido a crescente
expansão do ensino superior, a inspecção nesta área passou a ser interna e externa.

3. Etapas da Supervisão Escolar

De acordo com Nérici (1978), a actuação do supervisor escolar se desenvolve por meio
de três etapas: planeamento, acompanhamento e controle.

O planeamento é o ato de elaborar um “roteiro” de tudo que será realizado no período


lectivo, seja semestral ou anual. É necessário dizer que planejar significa analisar uma
dada realidade, reflectir sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de
acção para superar as dificuldades buscando alcançar os objectivos propostos. Este
planeamento deve ser composto por um conteúdo objectivo e flexível, para que possa
ser ajustado com as necessidades que surgirem no quotidiano escolar. Alguns aspectos
relevantes deste planeamento, como lembram Nérici (1978), são: determinar ou
reformular o currículo, organizar o calendário escolar, prever diversos tipos de reuniões,
prever cooperação na elaboração dos planos de ensino e das normas de verificação e
avaliação da aprendizagem, refletir sobre a vida disciplinar da escola, levantamento da
realidade dos alunos e do meio, selecionar métodos e técnicas de supervisão
contextualizadas, dentre outras.

Já a etapa de acompanhamento o supervisor deve analisar diariamente se todos os


planejamentos estão sendo executados com eficiência. Esta etapa propicia que o
especialista observe a atuação e o desempenho dos educadores, para posteriormente,
orientá-los e coordená-los. A atividade profissional executada pelo acompanhamento
deve ser realizada durante todo o período lectivo. Tal ação permite que o supervisor
faça replanejamentos, quando for preciso. Já a etapa de controle, é aquela fase da
actividade da supervisão, em que se efetua uma análise acerca dos resultados obtidos. O
intuito desta fase é prevenir desvios, retificações e alterações buscando atender às
necessidades da escola, do professor, do aluno e da comunidade. Esta etapa tem como
característica avaliar o rendimento escolar, observar a mudança de comportamento dos
educandos, tratar e analisar os dados obtidos e recomendar meios para sanar as
deficiências levantadas em todo o processo.

4. Funções da Supervisão escolar

Com o decorrer do tempo, percebe-se que a função do supervisor escolar sofreu diversas
mudanças significativas, passando por distintos perfis, tais como o de fiscalizador,
controlador espontâneo, inspector e actualmente, tem-se a visão do supervisor como
parceiro e companheiro do trabalho pedagógico. A função primordial é de orientar para
a acção educativa abrangente, dentro dos princípios legais e de formação integral.
Partindo do princípio de que as funções da supervisão são múltiplas e significativas, faz
se necessário destacar algumas delas conforme Brigs e Justman apud Nérici (1978, p.
42-43), que são:

 Ajudar os professores a melhor compreenderem os objectivos reais da educação


e o papel especial da escola na consecução dos mesmos.
 Auxiliar os professores a melhor compreenderem os problemas e necessidades
dos jovens educandos e atender, na medida do possível, a tais necessidades.
 Exercer liderança de sentido democrático, sob as formas de promoção do
aperfeiçoamento profissional da escola e de suas actividades, buscando relações
de cooperação de seu pessoal e estimulando o desenvolvimento dos professores
em exercício, colocando sempre a escola mais próxima da comunidade.
 Estabelecer fortes laços morais entre os professores quanto ao seu trabalho, de
tal forma que operem em estreita e esclarecida cooperação, para que os mesmos
fins gerais sejam atingidos.
 Identificar qual o tipo de trabalho mais adequado para cada professor,
distribuindo tarefas, mas de forma que possam desenvolver suas capacidades em
outras direcções promissoras.
 Ajudar os professores a adquirir maior competência didáctica.
 Orientar os professores principiantes a se adaptarem à sua profissão.
 Avaliar os resultados dos esforços de cada professor, em termos do
desenvolvimento dos alunos, segundo os objectivos estabelecidos.
 Ajudar os professores a diagnosticar as dificuldades dos alunos na aprendizagem
e a elaborar planos de ensino para superação das mesmas.
 Auxiliar a interpretar o programa de ensino para a comunidade, de tal modo que
o público possa compreender e cooperar nos esforços da escola.
 Levar o público a participar dos problemas da escola e recolher suas sugestões a
esse respeito.
 Proteger o corpo docente contra exigências descabidas de parte do público,
quanto ao emprego de tempo e energia dos professores. Estas funções, só serão
concretizadas, se a relação supervisor e professor decorrer de uma perspectiva de
resolução de problemas e atendimento às reais necessidades da escola e se
houver dedicação ao trabalho em grupo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barbosa, A. G. & Mauride, F. (2017). A Supervisão e a Inspecção no Enquadramento


Legal da Educação em Moçambique. In: A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita
& I. Mussagy (Coords.), Desafios da Educação: Leituras Actuais. Nampula,
Moçambique: Década das palavras, pp.73-94.

Cohen, M. A. (Org.). (2014). Supervisão. Liderança e Cultura de Escola. Mangualde,


Portugal: Pedago. Ministério da Educação (2012). Colectânea de Legislação do Ensino
Superior. Maputo, Moçambique: MINED Rolla, L. C. (2006). Liderança Educacional:
Um Desafio Para o Supervisor Escolar. Dissertação de Mestrado. Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Porto Alegre,
Brasil.

Simbine, R. J. (2009). Guia prático do supervisor pedagógico. Maputo, Moçambique:


Alcance Editores.

Você também pode gostar