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Contextos Clínicos, 8(1):67-78, janeiro-junho 2015

© 2015 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2015.81.07

Transtorno de Ansiedade Social: um estudo de caso

Social Anxiety Disorder: A case study

Juliana de Lima Muller, Clarissa Marceli Trentini, Adriana Mokwa Zanini


Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 119, 90035-003, Porto Alegre,
RS, Brasil. julianalm@hotmail.com, clarissatrentini@terra.com.br, adrizanini@gmail.com

Fernanda Machado Lopes


Centro Universitário Metodista. Unidade Dona Leonor. Rua Dona Leonor, 340,
90420-180, Porto Alegre, RS, Brasil. femlopes23@gmail.com

Resumo. O Transtorno de Ansiedade Social é o transtorno de ansiedade


mais comum e apresenta elevadas taxas de prevalência, com prejuízos fun-
cionais importantes, demandando abordagens terapêuticas de longa dura-
ção em casos de maior gravidade. O objetivo do presente estudo é relatar
um estudo de caso com intervenção cognitivo-comportamental, sem o uso
associado de psicofármacos, em um adulto jovem do sexo masculino com
esse diagnóstico. No tratamento, distribuído em avaliação inicial, interven-
ção, avaliação final e seguimento, foram utilizados critérios diagnósticos do
DSM-5 e técnicas cognitivo-comportamentais. Na avaliação inicial, identifi-
caram-se dificuldades em diversas situações sociais, em realizar o trabalho
de conclusão de curso de sua faculdade e em buscar oportunidades de tra-
balho desejadas. Os resultados obtidos na avaliação final e no seguimento
de seis meses indicaram melhora considerável das queixas iniciais, redução
da ansiedade social, correção de crenças errôneas, desenvolvimento de ha-
bilidades sociais, redução de estratégias de segurança e de comportamentos
inibitórios. É importante que mais estudos de caso com indivíduos do sexo
masculino sejam realizados, possibilitando o melhor entendimento do trata-
mento de pacientes com Transtorno de Ansiedade Social através de técnicas
cognitivas e comportamentais. Uma vez que diversas técnicas vêm sendo
indicadas como importantes no tratamento desses pacientes, é essencial
considerá-las na prática clínica.

Palavras-chave: Transtorno de Ansiedade Social, tratamento, terapia cogni-


tivo-comportamental.

Abstract. Social Anxiety Disorder is the most common anxiety disorder


and it shows high prevalence rates, with significant functional impairment,
requiring long-term therapeutic approaches in more severe cases. The aim
of the present study is to describe a case study with cognitive-behavioral
intervention without associated psychotropic treatment on a young adult
male with this diagnosis. In the intervention, distributed in initial evalua-
tion, intervention, final evaluation and follow up, DSM-5 diagnostic criteria
and cognitive-behavioral techniques were used. In the initial evaluation the
psychotherapist identified difficulties in several social situations, difficulties
in writing the final paper of his college studies and in seeking desired job
opportunities. Results obtained at the final evaluation and at the six months
follow up indicated considerable improvement of the initial complaints,

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reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Transtorno de Ansiedade Social: um estudo de caso

reduction of social anxiety, correction of incorrect beliefs, development of


social skills and reduction of safety strategies and of inhibitory behaviors.
It is important that more case studies with male individuals are carried out,
enabling a better understanding of the treatment of patients with Social
Anxiety Disorder through cognitive and behavioral techniques. Considering
that several techniques have been indicated as important in the treatment of
these patients, it is essential to consider them in clinical practice.

Keywords: Social Anxiety Disorder, treatment, cognitive-behavior therapy.

Introdução Em uma amostra de adolescentes brasi-


leiros da cidade de São Paulo foi encontra-
A ansiedade pode ser definida como um do que 7,8% dos participantes evidenciaram
sistema complexo de respostas cognitivas, sintomas compatíveis com o diagnóstico
afetivas, fisiológicas e comportamentais. Esse (D’El Rey et al., 2006a). No entanto, em um
sistema é ativado no momento em que eventos estudo realizado com adolescentes de esco-
ou circunstâncias antecipados são considera- las de Porto Alegre, 23,12% da amostra apre-
dos altamente aversivos, pois são percebidos sentou sintomas compatíveis com o transtor-
como eventos imprevisíveis, incontroláveis, no (Fernandes e Terra, 2008), porcentagem
com a possibilidade de serem uma ameaça bastante superior à do estudo anterior. Além
aos interesses vitais de uma pessoa (Clark e de ser uma psicopatologia que acomete um
Beck, 2012). A ansiedade torna-se patológica considerável número de indivíduos, vem
quando há avaliação incorreta de perigo de sendo constatado que a incidência de TAS
determinada situação, causando prejuízo no pode estar aumentando (Rapee e Spence,
2004). A falta de tratamento a esses indiví-
funcionamento social e ocupacional diário
duos resulta em prejuízos funcionais graves
do indivíduo e com permanência por muito
e superlotação de serviços de saúde, já que
mais tempo do que o esperado. Além disso, há
não há uma remissão espontânea na grande
medo intenso na ausência de sinais de ameaça
maioria dos casos (Sorsdahl et al., 2013; Gon-
ou associado ao menor estímulo de ameaça e
çalves et al., 2014).
medo em variedade maior de estímulos ou em
De acordo com a 5ª edição do Manu-
situações de intensidade relativamente leve de
al Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
ameaça (Clark e Beck, 2012).
Mentais (DSM-5; APA, 2014), indivíduos com
Os transtornos de ansiedade estão entre os TAS manifestam um medo excessivo e persis-
transtornos psiquiátricos mais prevalentes e tente de uma ou mais situações sociais ou de
muitas vezes são subdiagnosticados, deixando desempenho. Eles temem serem vistos com-
de serem tratados. O Transtorno de Ansieda- portando-se de maneira humilhante ou em-
de Social (TAS), também denominado Fobia baraçosa, e uma consequente desaprovação
Social, é o transtorno de ansiedade mais co- ou rejeição pelos outros (APA, 2014). Obser-
mum e o terceiro mais prevalente entre todos va-se nesses pacientes um medo da avaliação
os transtornos mentais (Clark e Beck, 2012). negativa pelas pessoas, gerando sentimentos
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos esti- de constrangimento, humilhação e vergonha
maram prevalência entre 2,5 e 13,3% para toda (Beck et al., 2005a). Caracterizam-se também
a vida (APA, 2002, 2014; Kessler et al., 1994; Le- por serem extremamente inibidos e autocrí-
crubier e Weiller, 1997) e de 7% para 12 meses ticos nas situações sociais que lhes geram an-
(APA, 2014). Na população geral, as taxas des- siedade, comportando-se de maneira tensa e
se transtorno são mais altas no sexo feminino, rígida, com dificuldades em articularem-se
e essa diferença é mais acentuada entre adoles- verbalmente, ocasionando prejuízos no de-
centes e adultos jovens. Porém, em amostras sempenho social (Clark e Beck, 2012).
clínicas, o transtorno pode apresentar uma Esses indivíduos podem apresentar difi-
prevalência um pouco maior no sexo mascu- culdades apenas em situações de desempe-
lino, em comparação a amostras da população nho, como medo restrito a falar ou se apresen-
geral (APA, 2014). tar em público, ou indicar medo associado a

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diferentes situações sociais (APA, 2014). Um Ainda, enfatiza-se a relevância de trata-


número elevado de pacientes com TAS tam- mentos baseados em evidências, proporcio-
bém apresenta o Transtorno da Personalidade nando o uso criterioso das melhores técnicas
Esquiva (Heimberg, 2002), que passou a ser em decisões sobre o tratamento para cada
denominado de Transtorno da Personalidade paciente (Pheula e Isolan, 2007). Dessa forma,
Evitativa no DSM-5 (APA, 2014). Há autores o presente estudo tem como objetivo apre-
que inclusive consideram esse transtorno da sentar o relato de caso de um paciente com
personalidade como uma forma mais grave do diagnóstico de TAS que realizou um ano de
TAS (Chambless et al., 2008). psicoterapia individual de abordagem cogni-
Alguns dos fatores predisponentes ou tivo-comportamental, sem uso associado de
etiológicos possíveis para o desenvolvimento psicofármacos.
do TAS podem ser fatores genéticos, neuroló-
gicos, timidez na infância, maus-tratos e ex- Relato do caso
periências traumáticas (APA, 2014; Machado-
Participante
-de-Souza et al., 2014; Picon e Knijinik, 2004).
O TAS tende a iniciar na infância, de forma
Daniel (pseudônimo utilizado para manter
gradual, com prejuízos significativos na vida
a confidencialidade), sexo masculino, adulto
profissional, social e afetiva (Rangé, 1995).
jovem, filho único, estudante de nível superior
Constata-se que na prática clínica o TAS é
e heterossexual. Apresentava como queixas
raramente a principal razão para busca de
principais ansiedade em diversas situações so-
tratamento e hospitalizações. Contudo, co-
ciais, dificuldades em realizar seu trabalho de
morbidades psiquiátricas, como Transtorno
conclusão de curso e na escolha profissional.
do Pânico, Transtorno de Ansiedade Genera-
lizada, Fobia Específica, Transtorno Depres-
sivo Maior ou Transtornos Relacionados a História de vida do paciente
Substâncias Psicoativas, levam esses pacien-
tes a procurar auxílio (APA, 2002, 2014; Bei- Daniel considerava-se uma criança tímida.
del et al., 2004; Kessler et al., 1999; Manfro et Tinha alguns amigos, mas deixava que eles
al., 2003). o procurassem para falar e interagir, sendo
Quanto ao tratamento, há evidências de mais quieto. Na sala de aula do colégio em
eficácia de psicoterapia, farmacoterapia e que estudava, procurava sentar nas classes
tratamento combinado, sem predomínio de que ficavam próximas à parede, para que não
um desses modelos na literatura. Porém, o chamasse muito a atenção. Apresentava bom
uso rotineiro de medicações deve ser ava- rendimento escolar.
liado com cautela, já que pode gerar danos No início da adolescência, o paciente teve
como tolerância e dependência, com poten- uma drástica mudança no estilo de vida, devi-
cial de abuso de substâncias, entre outros do a sérias dificuldades financeiras da família
(Sordi et al., 2011; Picon e Penido, 2011; Kat- e à separação de seus pais, que ocorreram em
zman et al., 2014; Creswell et al., 2014). Esses tempo próximo. Ele e a mãe foram morar com
fatores enfatizam a importância de pesqui- um familiar, e ele não foi informado pelos pais
sas que abordem indivíduos com esse trans- sobre o que estava ocorrendo. O paciente foi
torno, possibilitando maior entendimento se isolando socialmente, refugiando-se em seu
sobre a psicopatologia e o aprimoramento quarto e evitando ao máximo sair de casa. Por
de técnicas psicoterapêuticas, o que contri- aproximadamente seis anos, saiu de seu quar-
buirá ao tratamento desses pacientes. to apenas para interagir com algumas pesso-
Pesquisadores ressaltam a efetividade das as da família na própria casa ou para realizar
abordagens cognitivo-comportamentais no obrigações (estudos e estágios). Apresentava
tratamento de indivíduos com diagnóstico medo excessivo ao lidar com as pessoas.
de TAS, o que se associa ao desenvolvimento Seu rendimento na faculdade era bom.
de estratégias terapêuticas específicas e efeti- Como não se envolvia em atividades sociais e
vas (Juster e Heimberg, 1995; Ballenger et al., de lazer, investia boa parte de seu tempo nos
1998). Além disso, estudos sobre efeitos de estudos, o que também evitava julgamentos
tratamento para o TAS mostram que a terapia negativos dos professores em relação ao seu
cognitivo-comportamental proporciona resul- desempenho. Tinha dificuldades para buscar
tados imediatos e duradouros (Hoffmann e estágios, sentindo-se muito ansioso em sele-
Barlow, 2002; Hollon et al., 2006). ções profissionais. De preferência, procurava

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estágios e empregos em locais onde já era indi- História de vida afetiva


cado, pois pensava que a seleção ocorreria de e sexualidade adulta
maneira mais fácil.
Daniel já havia realizado psicoterapia com Daniel relatou dificuldades de se aproxi-
outros profissionais por um período de três mar de meninas nas festas que frequentava
anos no início da adolescência. Quando adul- durante a graduação. Sentia-se muito atraído
to jovem, retomou a psicoterapia, em função por algumas delas, mas quando se aproximava
da ansiedade desencadeada em determinadas não conseguia falar, pois acreditava que não as
situações sociais e da ansiedade antecipatória agradaria. No final da adolescência/início da
(momento que será considerado para o relato idade adulta, tentou ter relações sexuais, mas
e análise do presente trabalho). Importantes sentiu-se ansioso e não teve ereção.
pontos já haviam sido abordados e supera- Alguns anos após, iniciou namoro com
dos através de processo psicoterapêutico do uma pessoa já conhecida, com quem está junto
paciente, tais como: dificuldade de relaciona- há mais de dois anos. Sentiu-se ansioso antes
mento com seu pai, sintomas depressivos, de- de ter a primeira relação sexual com ela, mas
senvolvimento de determinadas habilidades com o passar do tempo conseguiu ter relações
sociais (p. ex.: conseguir olhar pessoas nos sexuais continuadas.
olhos, atender telefonemas e conversar com
colegas de trabalho), sofrimento associado à Procedimentos realizados
separação dos pais, relação exageradamente
próxima com a mãe. O tratamento psicoterapêutico do paciente
foi conduzido por uma psicóloga especialista
História familiar em Psicologia Clínica com três anos de expe-
riência na área. A psicoterapeuta realizou su-
Daniel é proveniente de camada socioeco- pervisões semanais em que foram abordadas
nômica favorecida. Ambos os pais eram en- questões técnicas, teóricas e práticas para a
volvidos com ele em seus primeiros anos de melhor condução do caso. Realizaram-se no
vida, preocupando-se com sua educação, estu- total 48 sessões individuais de aproximada-
dos e lazer. A mãe sempre foi muito próxima mente 50 minutos cada (sessões semanais), ao
e excessivamente protetora, tendo deixado de longo de 12 meses. Realizou-se uma avaliação
trabalhar para cuidar do filho. No início da inicial no decorrer de 10 sessões, verificando-
adolescência, a família teve grandes dificul- -se queixa principal; história atual, passada e
dades financeiras, com consequente perda de familiar; história médica; história de vida afe-
imóveis, heranças e reservas. O paciente e sua tiva e sexualidade adulta. Não foram utiliza-
família nuclear tiveram seu padrão de vida dos protocolos padronizados para a avaliação.
Para a investigação de quadros psiquiátricos
drasticamente rebaixado.
utilizaram-se os Critérios Diagnósticos do
Os pais se divorciaram, e o pai mudou-se
DSM-5 (APA, 2014) e foi realizado o exame
para outra cidade, por não saber como solucio-
do estado mental (Dalgalarrondo, 2008; Erné,
nar os problemas. Ele praticamente não auxilia-
2003; Picon e Penido, 2011).
va financeiramente, nem procurava pelo filho,
Em seguida, intervenções psicoterapêuti-
que sofreu muito com esse afastamento. Nessa
cas foram realizadas no decorrer de 35 sessões,
fase, os sintomas de ansiedade do paciente apa-
considerando-se técnicas cognitivo-comporta-
receram mais fortemente, e sua mãe não estimu-
mentais utilizadas no tratamento de pacien-
lou sua autonomia e o convívio social. Ambos os tes com diagnóstico de TAS: psicoeducação;
pais estão recasados atualmente, e Daniel mora treino em habilidades sociais; reestruturação
com sua mãe, o padrasto e o filho desse. cognitiva da ansiedade antecipatória; dramati-
zação ou ensaio comportamental e uso de feed-
História médica back; reestruturação cognitiva de avaliações de
ameaça errôneas; exposição a situações sociais
Paciente não relatou doença clínica im- (Clark e Beck, 2012; Ito et al., 2008; Mululo et
portante. Fez uso de escitalopram e rivotril al., 2009). Em três sessões, executou-se uma
no início da adolescência, quando estava em avaliação final do processo. Além disso, após
acompanhamento psicológico e psiquiátrico seis meses de alta do paciente, foi realizada
pela primeira vez. uma sessão de seguimento. Ao longo desse

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período, não foi constatada necessidade de gura 1. Essa Figura apresenta a conceitualiza-
avaliação psiquiátrica, e, portanto, o paciente ção cognitiva de Daniel (Beck, 1997).
não fez uso de medicações. Verificou-se que seria essencial ao pacien-
te desenvolver habilidades sociais e superar
Resultados e discussão crenças centrais disfuncionais. O indivíduo
Avaliação inicial com TAS ativa crenças centrais de autoima-
gem de inadequação como objeto social ao
Constatou-se que Daniel foi tímido desde defrontar-se com situações sociais temidas.
a infância, e a mãe o protegeu excessivamente. Consequentemente, pacientes com este diag-
No início da adolescência, vivenciou proble- nóstico mostram alterações cognitivas como:
mas financeiros da família, os pais se separa- autoafirmações depreciativas, avaliação ne-
ram e ele sentiu-se rejeitado pelo afastamento gativa de seu desempenho social, exigência
do pai, que praticamente não o visitava, nem pessoal de padrões elevados de desempenho
contribuía financeiramente para o sustento do social, atenção e memórias seletivas para situ-
filho. Acabou perdendo a confiança no pai, ações de desempenho negativas no passado e
que não explicitou para o filho e a ex-mulher a no presente (Picon e Knijnik, 2004).
real situação financeira da família e mudou-se Observou-se que Daniel era pouco eficaz
de cidade, por não conseguir solucionar seus ao avaliar suas próprias capacidades sociais e
problemas. Passou a sentir medo das pessoas, superestimava a chance de eventos negativos
pois nem mesmo em seu pai podia confiar. Na acontecerem. Quando ele se encontrava em
mesma etapa de sua vida, ocorreu a mistura uma das situações sociais temidas, acionava
de turmas de sua série no colégio, o que fez um “programa de ansiedade” que se iniciava
com que se afastasse de amigos, dificultando com a ativação de crenças de incapacidade e
ainda mais sua interação social. inadequação, percebendo a situação social
A timidez na infância e as experiências como perigosa. Sintomas cognitivos, somáti-
traumáticas condicionadoras podem ter sido cos e comportamentais associados à ansiedade
fatores predisponentes ou etiológicos asso- social eram desencadeados, o que ocorre no
ciados ao TAS do paciente (Picon e Knijnik, TAS (Picon e Knijnik, 2004). A atenção que de-
2004). Além disso, estudos indicam que a su- veria ser voltada para o ambiente era desviada
perproteção e o controle exagerado dos pais para ele, em uma monitoração detalhada de
estão associados à inibição social infantil e, seus comportamentos, sentimentos e sensa-
consequentemente, a uma menor exposição a ções corporais (atenção autofocada; Picon e
situações sociais (Rubin et al., 1999). Indica-se Penido, 2011; Woody et al., 1997). Desta forma,
que a inibição comportamental na infância é ele reforçava sua autoimagem distorcida de
um dos maiores fatores de risco ao desenvol- objeto social (de ser incapaz, inadequado, in-
vimento do TAS (Clauss e Blackford, 2012). ferior, desagradável), entendendo que essa era
Essas características também se relacionam ao a percepção que os outros indivíduos tinham
desenvolvimento do paciente. sobre ele. Um círculo vicioso era gerado, em
Na avaliação inicial, constatou-se que Da- que pensamentos disfuncionais geravam sin-
niel apresentava dificuldades em diversas tomas de ansiedade, que acabam reforçando
situações sociais: cumprimentar as pessoas, pensamentos de inadequação social (Picon e
iniciar e manter conversações, fazer ou receber Knijnik, 2004). Daniel acabou desenvolvendo
críticas, expressar opiniões pessoais, defender padrões elevados em relação ao que seria um
seus direitos, pedir/aceitar ajuda e parar fluxo comportamento social adequado.
de carros para estacionar. Além disso, não es- Constatou-se que ele apresentava traços
tava conseguindo desenvolver seu trabalho de do Transtorno da Personalidade Evitativa,
conclusão de curso e sentia-se ansioso ao pen- observado pelas seguintes características:
sar em ir em busca de outro emprego. Com re- preocupação com críticas ou rejeição em situ-
lação aos sintomas físicos decorrentes de situa- ações sociais; percebia-se como socialmente
ções ansiogênicas, observaram-se taquicardia, incapaz, sem atrativos pessoais ou inferior;
náuseas e sudorese. O paciente não apresenta- e era reticente em assumir riscos pessoais ou
va ataques de pânico. Situações consideradas ao envolver-se em atividades novas, pois es-
ansiogênicas pelo paciente, bem como os pen- tas poderiam ser embaraçosas (APA, 2014). O
samentos automáticos (PAs), o significado dos paciente percebia as pessoas como potencial-
PAs, a emoção e o comportamento associados mente críticas e rejeitadoras, o que também se
a cada um deles podem ser visualizados na Fi- associa a este tipo de transtorno e não a ou-

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Figura 1. Diagrama de Conceitualização Cognitiva e Afetiva.


Figure 1. Diagram of Cognitive and Affective Conceptualization.

tros transtornos de personalidade do Grupo C Intervenção


(Transtornos de Personalidade Dependente e
Obsessivo-compulsiva; Beck et al., 2005b). As- No início do tratamento, o paciente foi fa-
sim como ocorria com Daniel, indivíduos com miliarizado com o modelo cognitivo (Ellis,
Transtorno da Personalidade Evitativa têm 1994), passando a prestar maior atenção aos
medo de iniciar relacionamentos sociais, pois seus pensamentos, emoções e comportamen-
acreditam que serão rejeitados, e isto é consi- tos diante de eventos. No decorrer do proces-
derado intolerável a eles (Beck et al., 2005b). so psicoterapêutico, seu trabalho de conclusão
Apesar de os indivíduos com TAS apresenta- de curso e a escolha profissional, além de si-
rem maior risco de comorbidades psiquiátricas tuações sociais específicas, foram importantes
(Beidel et al., 2004; Kessler et al., 1999), não foram fontes geradoras de ansiedade. Suas crenças
identificados outros transtornos no paciente. de incapacidade, inferioridade em relação a si
Através do exame do estado mental (Dalgalar- e a crença de que os outros são críticos e re-
rondo, 2008; Erné, 2003; Picon e Penido, 2011), jeitadores estavam dificultando o desenvolvi-
observaram-se alterações, tais como: atenção mento de seu trabalho de conclusão e sua es-
autofocada; atenção e memória seletivas, com colha profissional.
viés atencional para situações e lembranças de Através da reestruturação cognitiva, técnica
desempenho negativas; humor lábil; afeto res- utilizada no tratamento de Daniel, indivíduos
trito ou limitado; timidez e vergonha excessivas; aprendem a identificar cognições disfuncio-
aceleração do pensamento; conduta evitativa, nais e a realizar teste de realidade, corrigindo
com isolamento social; ansiedade antecipatória; pensamentos disfuncionais (Beck, 1997; Taylor
medo de exposição social. Logo, a partir da ava- et al., 1997). As principais estratégias adotadas
liação inicial, identificou-se prejuízo significati- para a reestruturação cognitiva de Daniel den-
vo no funcionamento do paciente, sendo impor- tre as utilizadas nos transtornos de ansiedade
tante seu tratamento psicoterapêutico. (para maiores detalhes, ver Clark e Beck, 2012)

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foram busca de evidências, descatastrofização Através das intervenções relacionadas ao


e identificação de erros cognitivos. trabalho de conclusão e ao desempenho pro-
Nas primeiras sessões, Daniel mostrou-se fissional, Daniel foi modificando suas crenças
inseguro quanto ao seu ano de estudos e traba- centrais de incapacidade e incompetência. Per-
lho, acreditando que não conseguiria desem- cebeu o quanto subestimava suas capacidades
penhar bem o desejado (emprego, faculdade e e era autoexigente, conseguindo realizar seu
trabalho de conclusão). Buscando-se evidên- trabalho de conclusão com êxito e desempe-
cias e auxiliando-o a refletir sobre seus erros nhar-se bem, concomitantemente, no trabalho
cognitivos através de reestruturação cognitiva e na faculdade. Antes da apresentação final
(Beck, 1997), ele conseguiu perceber suas habi- de seu trabalho de conclusão diante de uma
lidades de organização e planejamento, indi- banca avaliadora, sentiu-se ansioso. Contudo,
cando que conseguiria obter o desejado. conseguiu avaliar distorções cognitivas, redu-
Contudo, em função do cansaço associa- zindo sua ansiedade social e executando uma
do com a demanda de trabalho e estudos e de boa apresentação.
seus pensamentos disfuncionais, em determi- O treino de habilidades sociais é outra téc-
nado momento pensou que não conseguiria nica comumente utilizada no tratamento de in-
concluir a faculdade e o trabalho de conclusão, divíduos com TAS (Ito et al., 2008; Mululo et al.,
devendo desistir dessas atividades. A técnica 2009) e foi utilizada na intervenção de Daniel.
de descatastrofização foi utilizada (Clark e Essa técnica pretende auxiliar o paciente a de-
Beck, 2012) e ele conseguiu visualizar a real senvolver habilidades sociais para que tenha
probabilidade e gravidade da ameaça, aumen- um bom relacionamento interpessoal, através
tando seu senso de autoeficácia para enfrentar de técnicas como modelação, ensaio compor-
a situação. A partir disso, tornou-se possível o tamental, feedback de correção e tarefas de casa
início da execução do trabalho de conclusão de (Mululo et al., 2009). Por meio da conceituali-
curso. zação cognitiva (Beck, 1997), observou-se que
O paciente sentia elevada ansiedade antes ele apresentava dificuldades em diferentes si-
de orientações do trabalho de conclusão de tuações sociais. A reestruturação cognitiva de
curso, devido ao julgamento de seu orienta- avaliação de ameaças errôneas foi utilizada em
dor. Mostrava-se desconfortável frente a pe- conjunto com o treino de habilidades sociais
quenas correções, em que crenças de incom- para que valores, crenças e atitudes fossem
petência e incapacidade eram ativadas. Dessa modificados, conforme recomendado por Ca-
forma, realizou-se reestruturação cognitiva ballo (2011).
de sua ansiedade antecipatória. Por meio do Ele costumava sentir medo da rejeição em
questionamento socrático (Miyazaki, 2004), situações sociais, como em festas, apresen-
informações essenciais relacionadas à situação tando ansiedade elevada uma semana antes.
ansiogênica foram obtidas, como a intolerân- Contudo, não se sentiu assim em uma festa
cia percebida à ansiedade na situação, maneira ocorrida aproximadamente na metade de seu
como se humilharia na frente do outro e forma tratamento: “Estava bem tranquilo, só separei
como pensava que seria percebido pelo ou- minha roupa horas antes da festa” [sic]. Na
tro, conforme recomendado por Clark e Beck festa quase não ficou ansioso ao se deparar
(2012). A partir disso, utilizou-se busca de evi- apenas com pessoas que mal conhecia. No en-
dências e descatastrofização, questionando-se tanto, não conseguiu cumprimentá-las, pelo
seu pensamento errôneo. medo da rejeição. Na faculdade também dei-
O paciente também sentia medo excessivo xava de cumprimentar colegas por achar-se in-
de seleções profissionais. Em um atendimento, ferior e desagradável. A reestruturação cogni-
contou que viu anúncio de emprego almejado tiva, o ensaio comportamental e a modelação
no jornal e isso o deixou ansioso no decorrer foram realizados em situações como essas.
de uma semana, tendo pensamentos distorci- Assim, o viés de interpretação da ameaça
dos: “acho que não darei conta disso”, “seria foi corrigido, sua atenção foi redirecionada a
mais fácil seguir no mesmo emprego” [sic]. estímulos externos, e ele passou a perceber si-
Pensava que precisava ter habilidades que só nais positivos do ambiente, superando crenças
teria em anos de prática no cargo em questão. centrais subjacentes associadas à ameaça so-
Identificando seus erros cognitivos, teve a pos- cial, à vulnerabilidade social e à inadequação.
sibilidade de perceber o quão exigente era con- Esse resultado é esperado em intervenções
sigo mesmo, o que gerava emoções negativas e cognitivo-comportamentais realizadas com
dificultava que atingisse o desejado. indivíduos que apresentam TAS (Clark e Beck,

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Transtorno de Ansiedade Social: um estudo de caso

2012). O paciente foi redirecionando a atenção Outro ponto abordado na psicoterapia do


autofocada, atentando mais ao meio e avalian- paciente foi a escolha profissional. Apresenta-
do as pessoas de forma mais coerente. Consta- va medo de mudar de emprego que exigisse
tou que suas atitudes evitativas o faziam pa- mais dele por achar que não teria capacidade
recer antipático, que as pessoas não eram tão de desenvolver atividades mais difíceis e de
exigentes quanto pensava e que podiam gostar fazer comentários/críticas (medo da rejeição).
da presença dele. Suas distorções cognitivas foram abordadas,
Na sequência do processo psicoterapêutico para a desconfirmação de suas crenças cen-
houve outras festas e encontros. O ensaio com- trais disfuncionais em relação a si e aos outros,
portamental e o feedback de correção (Caballo, o que contribuiu para que se sentisse capaz e
2011; Mululo et al., 2009) foram executados, reduzisse sua ansiedade social, possibilitan-
melhorando habilidades sociais do paciente. do uma melhor avaliação de seus interesses
Ao chegar aos encontros, cumprimentou ami- profissionais. No final do tratamento, estava
gos e conhecidos, iniciou e manteve diálogos. sentindo-se feliz ao participar de seleções pro-
Avaliou o quanto havia sido efetivo em seu fissionais e ao planejar o futuro de sua carreira
comportamento, tendo retorno positivo das de trabalho.
pessoas, o que serviu como um reforço de seu
comportamento. A partir disso, utilizou-se Avaliação final
com maior frequência a exposição a situações
sociais (Clark e Beck, 2012). Ele passou a apro- Observou-se na avaliação final do paciente
ximar-se mais das pessoas e experimentar-se que as queixas iniciais melhoraram de maneira
socialmente, aprimorando habilidades sociais considerável. Como já ressaltado, o tratamento
e aumentando seu senso de autoeficácia. Co- de pacientes com TAS deve considerar alguns
meçou a relacionar-se mais com um familiar pontos importantes, tais como: corrigir avalia-
de idade próxima e com um grupo de amigos ções e crenças disfuncionais de ameaça social
de infância. Pela primeira vez, disse ter se sen- e de vulnerabilidade, reduzir ansiedade ante-
tido parte de um grupo de amigos. Engajou- cipatória, eliminar constrangimento excessivo,
-se em atividades de lazer, como atividades eliminar estratégias de segurança, melhorar
esportivas em grupo, onde conheceu e teve habilidades sociais e reduzir comportamentos
contato com mais pessoas. inibitórios diante de situações sociais (Clark e
No decorrer das sessões, o senso de humor Beck, 2012).
apresentado por ele foi estimulado, reforçan- Esses pontos foram abordados no trata-
do o quanto isso poderia ser uma qualidade. mento de Daniel, obtendo-se importante me-
Ele passou a observar o quanto seu senso de lhora, o que pôde ser verificado a partir de
humor agradava colegas de trabalho e amigos. verbalizações do paciente: (a) “As pessoas não
No trabalho, recebeu retorno de colegas, di- são ruins como eu pensava, parecem gostar de
zendo que ele era comunicativo. Ainda no lo- minha presença e não é difícil aproximar-se
cal de trabalho, pediu aumento de salário para delas” [sic] – modificação de crenças disfun-
sua chefia por ter sido solicitado a executar cionais de ser desagradável, inferior; (b) “Per-
maior quantidade de tarefas, desenvolvendo cebi como sou capaz de desempenhar com
habilidades como defender seus próprios di- qualidade diversas atividades ao mesmo tem-
reitos (Caballo, 2011). Percebeu que, ao avaliar po, meu trabalho, a faculdade e ainda o traba-
pensamentos de maneira mais funcional e ao lho de conclusão de curso” [sic] – modificação
alocar atenção às situações sociais, passou a de crenças disfuncionais de incapacidade e in-
enfrentá-las melhor e a ter resultado satisfató- competência; (c) “Não me sinto mais ansioso
rio nas interações. antes de festas e seleções profissionais” [sic]
No início do tratamento, sentia-se um pou- – redução da ansiedade antecipatória frente a
co incomodado com o relacionamento amoroso. situações sociais; (d) “Não preciso mais chegar
Não conseguia fazer críticas e expor sua opinião, com minha namorada em eventos para conse-
fazendo sempre o desejado pela parceira. Em guir cumprimentar as pessoas” [sic] – elimina-
função da reestruturação cognitiva e do treino ção de estratégias de segurança para reduzir a
em habilidades sociais, começou a expor suas ansiedade; (e) “Agora procuro conversar com
ideias e a desenvolver demais habilidades, como meus colegas e sou visto em meu trabalho
fazer críticas (Caballo, 2011). Passou a questio- como uma pessoa comunicativa” [sic] – redu-
nar comportamentos dela que o incomodavam, ção de comportamentos inibitórios e melhora
sentindo-se melhor com o relacionamento. nas habilidades sociais.

Contextos Clínicos, vol. 8, n. 1, Janeiro-Junho 2015 74


Juliana de Lima Muller, Clarissa Marceli Trentini, Adriana Mokwa Zanini, Fernanda Machado Lopes

Outras verbalizações de Daniel sobre me- ansiedade social, o desenvolvimento de habi-


lhoras obtidas com o tratamento que indicam lidades sociais e a correção de crenças centrais
a mudança do quadro inicial foram: “Pela pri- errôneas.
meira vez me senti feliz ao buscar uma opor- Na avaliação final e no seguimento, ressal-
tunidade de trabalho” [sic] – dito após seleção tou-se ao paciente a importância de que con-
para cargo almejado; “Não me recordo de tinuasse realizando exposições a situações so-
outro momento de minha vida em que tenha ciais e cultivando amizades. Foi dito a ele que
me sentido tão bem” [sic]; “Pela primeira vez a aproximação ainda maior e a relação dele
em minha vida me considero fazendo parte de com o pai poderiam ser abordadas em terapia.
um grupo de amigos” [sic]. Ainda, não foram Entretanto, esse não foi entendido por Daniel
identificadas alterações no exame do estado como um foco a ser considerado no processo
mental, realizado na avaliação final do proces- terapêutico.
so. Paciente recebeu alta com remissão total do O estudo realizado possibilitou um enten-
quadro clínico inicial. dimento mais aprofundado do caso abordado.
De acordo com Stake (1994), um estudo de caso
Seguimento permite a compreensão do caso mais do que
a generalização para além dele, o que foi foco
Uma avaliação após seis meses da alta do do estudo em questão. Apesar disso, pode-se
tratamento foi marcada para a verificação da afirmar que este estudo corroborou resultados
manutenção da melhora do quadro ansio- já encontrados, evidenciando que a terapia
so. Um encontro foi realizado, observando- cognitivo-comportamental produz resultados
-se melhora significativa das queixas iniciais. eficazes no tratamento do TAS (Herbert et al.,
Ele não apresentava mais ansiedade anteci- 2004; Hoffmann e Barlow, 2002). Indica-se que
patória e pensamentos negativos associados a associação entre a reestruturação cognitiva e
às situações sociais que geravam ansiedade, a exposição proporciona resultados mais efi-
enfrentando-as sem dificuldades. Também se- cazes no tratamento do transtorno, em compa-
guiu realizando exposição a situações sociais, ração à exposição como única técnica utilizada
ampliando sua rede de amizades e desenvol- (Rodebaugh et al., 2004). No presente estudo,
vendo habilidades sociais. Constatou-se que ambas as técnicas foram utilizadas, e verifi-
Daniel seguia realizando avaliação positiva cou-se a importância da reestruturação cogni-
e funcional da realidade e dos outros, não os tiva associada à exposição para a melhora do
percebendo mais como críticos e rejeitadores. paciente. Ainda, observou-se a importância do
Além disso, não apresentava mais as crenças treino em habilidades sociais para a melhora
de ser incapaz, inadequado, inferior e desagra- dele, o que já havia sido observado em pacien-
dável. tes com a mesma psicopatologia (D’El Rey et
No trabalho, recebeu proposta de novo al., 2006b).
cargo, passando a exercer funções mais com- Além das técnicas utilizadas, a relação tera-
plexas. Conseguiu desenvolver habilidades pêutica desenvolvida foi favorável, o que pode
necessárias requeridas pelo cargo, não se sen- se constatar pela abordagem de conteúdos ín-
tindo ansioso ao se deparar com situações so- timos (como relações pessoais e sexualidade),
ciais ainda não vivenciadas. Segue participan- pela duração do tratamento, além da sessão de
do de seleções profissionais de empresas em seguimento, ocorrida seis meses após a alta.
que tenha interesse e que possam lhe propor- Somada às barreiras intrínsecas da relação
cionar maior retorno financeiro, como gosta- terapêutica, os pacientes com TAS apresen-
ria. Foi dado um feedback positivo ao paciente, tam dificuldade justamente quanto à intera-
enfatizando-se sua melhora e a manutenção ção social (Picon e Penido, 2011), mas isso foi
da mesma. conduzido adequadamente pela dupla. Outro
aspecto importante é o fato de a terapeuta ter
Considerações finais servido como modelo, principalmente quanto
a questões profissionais e de interação, contri-
O presente estudo teve como objetivo buindo também para romper padrões estabe-
abordar um estudo de caso de um adulto jo- lecidos com a mãe, que reforçavam os compor-
vem com diagnóstico de TAS que recebeu tamentos disfuncionais do paciente.
tratamento psicoterapêutico de abordagem Uma dificuldade encontrada pela terapeu-
cognitivo-comportamental. Verificou-se que o ta no início do tratamento do paciente foi a
tratamento realizado possibilitou a redução da duração das sessões além do tempo progra-

Contextos Clínicos, vol. 8, n. 1, Janeiro-Junho 2015 75


Transtorno de Ansiedade Social: um estudo de caso

mado. Em função da aceleração do pensa- A maior prevalência do TAS na população


mento apresentada por Daniel no início do geral é em mulheres (APA, 2014); ainda assim,
tratamento, ele trazia uma expressiva quan- é importante o desenvolvimento de pesquisas
tidade de conteúdo em sua fala nas sessões. com pacientes do sexo masculino, como o es-
Desse modo, a terapeuta apresentou difi- tudo em questão. Sabe-se que estes transtornos
culdades em finalizar as sessões no horário estão entre os mais prevalentes, mesmo sendo
previsto, assim como em algumas delas não subdiagnosticados (Sorsdahl et al., 2013; Gon-
conseguiu aplicar determinada técnica pre- çalves et al., 2014; Clark e Beck, 2012), o que in-
tendida. Entretanto, com a formação do vín- dica que a prevalência pode ser ainda maior em
culo e a redução da ansiedade de Daniel, esse ambos os sexos. Além disso, observa-se a rele-
problema pôde ser trabalhado. vância do desenvolvimento de ensaios clínicos
Ressalta-se que não houve abordagem far- no formato individual, com protocolos de in-
macológica nessa fase do tratamento, sendo tervenção menos heterogêneos, possibilitando
utilizado somente tratamento psicoterápico. o melhor entendimento do tratamento de pa-
Não há consenso na literatura sobre o mode- cientes com TAS, através de técnicas cognitivas
lo de tratamento mais eficaz (psicoterápico, e comportamentais (Mululo et al., 2009).
farmacológico ou combinado), mas há con- Por fim, conclui-se que as técnicas mais
senso sobre o risco de prejuízos potenciais eficazes para o tratamento do paciente foram
importantes, decorrentes do uso continuado a reestruturação cognitiva, a exposição e o
de medicações específicas para os transtornos treino em habilidades sociais, pois foram as
de ansiedade (Picon e Penido, 2011; Katzman técnicas que mais auxiliaram na redução dos
et al., 2014; Sordi et al., 2011). Dessa forma, o sintomas de ansiedade e no enfrentamento de
tratamento deve ser personalizado, evitando o situações sociais. Ainda, em função da acele-
uso de medicações, sempre que possível, as- ração do pensamento apresentada por Daniel
sim como o caso apresentado. no início do tratamento, ele trazia uma expres-
Um dos pontos positivos do estudo de caso siva quantidade de conteúdo em sua fala nas
foi que a terapeuta realizou supervisões sema- sessões. Esse fato contribuiu para que um nú-
nais, o que possibilitou mais de um olhar sobre mero maior de sessões fosse necessário para o
o caso e uma avaliação mais aprofundada do tratamento dele, pois a aplicação de algumas
paciente, contribuindo a um melhor tratamen- técnicas precisou ser postergada, em função
to dele. Contudo, o estudo de caso apresentou da quantidade de informações trazidas por
algumas limitações, como o fato de não terem ele. Portanto, dependendo das particularida-
sido utilizados protocolos ou escalas padroni- des do paciente, o protocolo para tratamento
zados, e o fato de a avaliação da intervenção do TAS poderá ser eficaz com um número me-
ter sido realizada pela mesma terapeuta que nor de sessões.
realizou o tratamento do paciente. O uso de
instrumentos padronizados e a presença Referências
de mais um avaliador da intervenção pode-
riam auxiliar na validade dos dados obtidos AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION
a partir da intervenção, evitando vieses da (APA). 2002. DSM-IV-TR: Manual Diagnóstico e
avaliação da terapeuta. Além disso, sabe-se Estatístico de Transtornos Mentais. 4ª ed., Porto
que pacientes com TAS apresentam medo da Alegre, Artmed, 880 p.
avaliação negativa do outro, o que gera sen- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION
timentos de constrangimento, humilhação e (APA). 2014. DSM-5. Manual Diagnóstico e Esta-
tístico de Transtornos Mentais. 5ª ed., Porto Ale-
vergonha neles (Beck et al., 2005a). O paciente
gre, Artmed, 948 p.
pode ter relatado somente aspectos positivos BALLENGER, J.C.; DAVIDSON, J.R.; LECRU-
do tratamento devido ao temor da avaliação BIER, Y.; NUTT, D.J.; BOBES, J.; BEIDEL,
negativa da terapeuta e por apresentar um D.C; DEBORAH, C.; ONO, Y.; WESTEN-
viés de desejabilidade social. Dessa forma, o BERG, H.G.M. 1998. Consensus statement on
uso de instrumentos padronizados e a pre- social anxiety disorder from the international
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