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Introdução

Caminhos da Semiótica literária

nosso projeto numa visão mais ampla do objeto e das prin-


abre e descobre.|ia Esse duplo aspecto está no cerne de nosso
íi
cipais orienta ções teóricas que conduzem a metodologia.
método, que pretende associar estreitamente uma semiótica ^
do enunciado, destacando as articulações internas do texto, *
i •
Podemos dizer que uma dupla !tensão\ caracteriza a
e uma semiótica da enunciação, centrada nas operações da posição da literatura no campo dos discursos: \tensão entre h %
discursivização, incluídas - e sobretudo as da leitura/ - literatura e l íngua de um lado, tensão entre literatura e cul- x
Trata-se, com efeito, de procurar a conejão entre turyíie outro lado. E peculiaridade do escritor, dizia R. Bar-
umajsemiótica sistémica e uma semiótica da leitur/ para a thes, “ver a l íngua ”, isto é, apreender ao mesmo tempo o
_ - som e o sentido, o ritmo, a sintaxe e as imagens, a voz e os
^
primeira, todas as relaçõe são mternás ao dispositivo da lín
...gua/ Ela estuda as- regras oe CQrnposi ção transfrásica, os ,> , /
^
princípios da coerência , as - forjrtas de estruturação articula-
l>
conceitos, a convenção que desgasta a l íngua na cotidiani-
dade d ê seu uso e a inova çã o que a torna, em cada obra por
das em diferentes n íveis. A segunda reintroduz Q sujeito~do assim dizer nascente, quase estrangeira a si mesma. Como
discurso e a dimensão intersubjetiva da interlocu ção no ato . escreve Proust em Contre Sainte- Beuve: “Os belos livros sã o
de leitura. Ela reencontra, por conseguinte, as questões co - escritos numa espécie de l íngua estrangeira.” O escritor é
locadas especificamente, no dom ínio literá rio, pelas discus / - *
aquele que sabe se fazer estrangeiro em sua própria l íngua ,
sões clássicas sobre a interpreta çã o e seus lirriites, sobre a(A f^? ele escava n êla possibilidades in éditas, não percebidas até
polissemia dos textos, sobre a pluralidade das leituras. Essas
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entã o. Ele a força a tornar-se outra. literatura exerce pois,
discussões interessam n ão somente à cr ítica literá ria, mas por natureza, uma função cr ítica sobre a l íngua, desapru-
também à didá tica da literatura, tanto no contexto do ensi- mando-a em rela ção a si mesma em cada obra; No â mbito í1

no como em um contexto intercultural. Nessa perspectiva , da cultura , a literatura é esse imenso reservatório da memó-
o leitor / não é mais aquela instâ ncia abstrata e universal 7 ria coletiva , canteiro em que ela se elabora com os materiais
simplesmente pressuposta pelo advento de uma significa- de que dispõe, arquivo em que ela se fixa e se institui como
ção textual já existente, que se costuma chamar “ receptor” referê ncia cultural. Ela é assim reconhecida como meio de
ou “destinatá rio” da comunicação: ele é também e sobretu-
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transmissão dos conteúdos míticos e axiológicos, das manei-


^
do um cènffo doTEscursõ que constrói, interpreta, ava-
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i *

s*
^
lia, aprecia, compartilha ou rejeita as significações.
ras de ser e das maneiras de fazer de uma comunidade, em
parte fundadora de sua identidade; nela se depositam e se
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ii

transformam tanto os modelos da ação (a narrativa ) e da re-


presentação ( “ realismp”, por exemplo) quanto os modelos ( ft í

Método das liturgias passionais (como os do amor cortês ). Ela pro- - 1


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põe - ou impõe, contra sua pr ó pria vontade - formas de or-
t. '

i-
A fim de determinar, neste momento, os fios condu- , ganização discursiva do sentido e dos valores, interpretadas
V-
tores da abordagem semiótica na literatura , convém inserir como hierarquias e exclusões ( o “bom ” e o mau gosto...).
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Ora , bem sabemos que a complexidade da literatura 1

[CCEUR . Ré flexion faite . Autobiographie intellectuelle , p. 56-7. nã o pá ra a í: é também a do comentá rio pululante que ela '!
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