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A PSICOLOGIA
NOS CENÁRIOS DE
ATENDIMENTO À SAÚDE
2
3 UNIDADE 1 - Introdução
6 UNIDADE 1 - Promoção da saúde, prevenção e reabilitação
10 UNIDADE 2 - Comportamento e saúde
10 2.1Comportamento saudável X comportamento de risco
SUMÁRIO
44 UNIDADE 5 - O Psicólogo na saúde pública
45 5.1 Histórico
56 REFERÊNCIAS
3
UNIDADE 1 - Introdução
Enquanto orientadores sempre reco- inserido e exercendo sua função com éti-
mendamos a pesquisa de materiais re- ca e profissionalismo, sempre visando o
centes, porém, ao se utilizar obras clássi- bem-estar da população que se encontra
cas (como no caso deste material em que sob os seus cuidados.
grande parte do conteúdo foi embasado Desde o início do curso falamos em
em obras de teóricos que abordam sobre prevenção, promoção da saúde e reabi-
diferentes autores) isso não se faz possí- litação e, nesse momento, esse assunto
vel – ainda mais em caso de livros que já será aprofundado. Autores como Straub
possuem edições mais recentes, porém (2014), reforçam a importância não só do
lançamos mão de cópias mais antigas. psicólogo, mas de toda a equipe interdis-
Fora isso, é sempre importante manter- ciplinar, trabalhar visando à promoção da
mos o conhecimento científico atualizado! saúde e a prevenção de doenças. Políticas
Também já justificamos o uso de algu- públicas do Ministério da Saúde – assunto
mas citações de citações (apuds), o que que também estará presente neste ma-
não é recomendado do ponto de vista da terial – também discorrem sobre a impor-
metodologia da pesquisa, porém, se fez tância de se adotar este ponto de vista,
necessário em algumas situações devido à o qual é bastante divergente do modelo
dificuldade em se localizar algumas obras biomédico vigente, que preconiza o binô-
originais. Sugerimos que, na introdução, mio saúde e doença.
anotem as questões que mais desperta- Como essa concepção impera há mui-
ram sua curiosidade ou dúvidas e após o tos anos a ideia de buscar os serviços de
estudo da apostila revejam se as mesmas saúde (em especial o médico) quando se
ficaram realmente claras. adoece, já está impregnada em nossa
Intitulada “A psicologia nos cenários de mentalidade. O psicólogo, especialmen-
atendimento à saúde”, esta apostila visa, te os graduados há mais tempo, também
principalmente, abordar os diversos con- possuem essa visão e não devem ser criti-
textos nos quais o profissional da psico- cado por isso, visto que até recentemen-
logia encontra-se inserido. Entretanto, te os cursos de graduação traziam para o
esse material também discorre de outros acadêmico apenas essa visão: de que ele
assuntos da práxis do psicólogo hospita- é um profissional que será habilitado para
lar e da saúde, mas que não falam dire- curar doenças. Isso não é de todo errado,
tamente dos cenários de atendimento à como já foi mostrado nos materiais ante-
saúde. Entretanto, sabemos que a temá- riores, o psicólogo realmente atua em ca-
tica da psicologia hospitalar e da saúde é sos onde a doença já se faz instalada, po-
muito ampla e, de maneira geral, as temá- rém, é importante enxergarmos que nós
ticas aqui abordadas – como prevenção e – assim como a equipe interdisciplinar em
promoção à saúde, equipe interdisciplinar saúde – temos um papel de grande desta-
e comportamento e saúde – dizem respei- que antes que o problema se instale.
to aos cenários em que o psicólogo estará Nesse sentido, observaremos também
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um grande diferencial que é reservado ao dos outros. A clientela não podia ser dife-
profissional da psicologia: a intervenção rente: pessoas abastadas, que podiam “se
em comportamentos que podem – por si dar ao luxo de sofrer de problemas psico-
só, ou associados a outros fatores (como a lógicos, coisa de rico”. Nesse contexto a
genética) – ser preditores de saúde ou de psicologia foi se consolidando como uma
doença. prática exercida por alguns e cujos bene-
Atualmente, somos bombardeados fícios também eram estendidos somente
com informações a respeito da importân- àqueles que poderiam pagar por ela. Em
cia de se adotar um estilo de vida saudá- termos simbólicos, fica compreendido que
vel, porém, mesmo meio a tantas informa- o paciente paga um preço para se desven-
ções (científicas ou de senso comum), por cilhar de seu sintoma. Além dessa visão
que muitas pessoas não adotam padrões elitista, outros estigmas eram também
de comportamentos mais saudáveis? associados à psicologia, tais como “profis-
Esses são alguns questionamentos sional que atende doidos”, “curso que não
que serão aprofundados neste material. dá futuro”, dentre outras visões que aca-
A este respeito, fica a seguinte interro- bavam por afastar tanto futuros profis-
gação: como os pesquisadores chegam a sionais quanto os pacientes da psicologia.
conclusões relevantes (e científicas) so- Frente a isso tudo, uma corrente diver-
bre de que forma determinados compor- gente começou a surgir. A psicologia vem
tamentos relacionam-se diretamente à passando por uma mudança de paradigma,
saúde ou ao aparecimento de doenças? a qual reflete o contexto sócio-histórico e
Retomando a um assunto abordado na cultural pelo qual o Brasil vem passando,
apostila anterior – os métodos de pesqui- principalmente nas três últimas décadas.
sa em psicologia da saúde – fica possível Com a criação do SUS – Sistema Único de
compreender que os resultados dos estu- Saúde – e a compreensão das doenças a
dos são alcançados após estudos sistemá- partir de uma perspectiva biopsicossocial
ticos, de diferentes métodos: experimen- a psicologia desponta, juntamente com
tais, transversais, longitudinais, dentre várias outras profissões que compõem a
outros. Por isso, se faz muito importante equipe multiprofissional em saúde, como
conhecer como os estudos são realiza- uma possibilidade para promover a saúde
dos, já que nessa área há muito “achismo”, mental de todos aqueles que sofrem, in-
muito senso comum, e para o profissional clusive os que não podem pagar pelos tra-
da saúde o que deve importar são apenas tamentos tradicionais nos consultórios.
as informações científicas, devidamente Mas quem irá pagar para ficar livre do seu
comprovadas e divulgadas. sintoma? Nos ambulatórios assistencialis-
A psicologia despontou no cenário tas mais clássicos (como as clínicas-escola
mundial como uma área elitista: os psicó- e os atendimentos psicológicos que costu-
logos eram visto como pessoas de classes mam acontecer em ambulatórios de igre-
favorecidas, que trabalhavam exclusi- jas e outros espaços voltados à população
vamente em consultórios particulares e, carente) paga-se um preço simbólico pelo
além de tudo, ainda carregavam o estig- tratamento, mas no SUS não pode haver
ma de serem pessoas que “liam a mente” esse pagamento em espécie, os profissio-
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de, acesso e posse da terra e acesso tariamente, os modelos de vida não sau-
aos serviços de saúde. É assim, an- dáveis (como sedentarismo, tabagismo,
tes de tudo, o resultado das formas etilismo), dentre outras condições que
de organização social da produção, acarretam em alguma forma de adoeci-
as quais podem gerar desigualdades mento.
nos níveis de vida. (FLEURY, 1992,
Sabe-se que existe um número muito
p.170 apud BAGRICHEVSCHI; ESTE-
grande de doenças, dentre as quais é pos-
VÃO, 2005, p.71)
sível apontar diferentes meios de con-
Por outro lado, em relação ao conceito traí-las e formas de evitá-las. Quando os
de doença, é sabido que devemos abor- fatores de risco dizem respeito a fatores
dar o homem como um todo: um ser único, genéticos, não há o que fazer para mo-
dinâmico, dotado de corpo e alma, que se dificar essa bagagem inata que o indiví-
desenvolve em determinado ambiente, duo carrega, mas, em muitos casos, como
dentro do qual o mesmo interage e sofre nas doenças crônicas não transmissíveis
interações. Neste contexto, entendemos (DCNT), há incidência de fatores multicau-
a doença como a desarmonia orgânica ou sais e o indivíduo pode modificar as vari-
psíquica responsável por interferir na di- áveis ambientais e comportamentais para
nâmica de desenvolvimento da pessoa. visar a promoção da saúde e a prevenção
Assim, este desequilíbrio acarreta conse- nos três níveis estudados.
quências biopsicossociais e culturais.
A importância relativa de cada um
Entendendo por outra linha de raciocí- desses componentes pode variar
nio, o organismo busca a constante home- dependendo do genótipo, da idade
ostase – equilíbrio dinâmico entre as fun- e dos hábitos de vida das pessoas;
ções do corpo e o ambiente – e a doença no entanto, todos demonstram rela-
não permite este equilíbrio, já que há uma ção bastante estreita com o melhor
ruptura nas relações existentes entre o estado de saúde (GUEDES; GUEDES,
indivíduo consigo mesmo e com o mun- 1995, p. 19).
do. Enquanto perdurar sua enfermidade,
Em síntese, é possível concluir que,
a pessoa assume uma nova condição, de
partindo desse pressuposto, algumas
ser ou estar doente, o que acarreta numa
doenças podem ser prevenidas (ou seus
série de mudanças e perdas que alterarão
danos podem ser minimizados visando a
de modo decisivo sua identidade e as rela-
uma melhoria da qualidade de vida) e essa
ções estabelecidas com a sociedade.
prevenção depende diretamente do pró-
Atualmente já sabemos que existem prio indivíduo. Dentre elas podemos citar,
várias causas para as doenças, dentre elas por exemplo, o câncer de pulmão, cuja in-
podemos citar as contaminações (micro- cidência é maior dentre os fumantes. Fica
-organismos, substâncias tóxicas, dentre fácil compreender que a pessoa não taba-
outras fontes nocivas ao ser humano), os gista está, de certa forma, prevenindo o
traumas (físicos, como uma queda, ou psí- aparecimento da doença.
quicos, como a perda abrupta de um ente
Um outro exemplo que encaixa nesse
querido), as condições herdadas heredi-
grupo é o da pessoa que sempre lava bem
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Nesse sentido, torna-se visível que o mento dos níveis de colesterol; aumen-
psicólogo pode atuar visando a educação to dos riscos de doença cardíaca, câncer
em saúde de clientes de diferentes faixas e morte prematura. O autor pontua que
etárias, além de realizar a interconsulta um dos grandes problemas é que a maio-
em equipes interdisciplinares que atuam ria dos tratamentos enfoca a obesidade
no sentido de promover ou restaurar a como uma doença aguda (que se resolve
qualidade de vida dos indivíduos. É pre- num curto período de tempo), sendo que,
ciso que fique claro que nas condições na verdade, é uma doença crônica (como a
em que haja necessidade de mudança de hipertensão arterial).
comportamento – como nas que veremos
As pessoas preocupam-se com o que
a seguir – há muitos fatores psicológicos
e quanto comer devido aos efeitos
envolvidos no processo, o que torna a mo-
fisiológicos e psicológicos negativos
dificação de comportamento mais difícil e
da obesidade. O fato de ser obeso
complexa.
carrega um estigma social em mui-
b) Obesidade tas partes do mundo de hoje, o que
indica a importância que muitas
A obesidade precisa ser compreendida
sociedades dão à aparência física
como um fenômeno biopsicossocial, ou
(STRAUB, 2014, p.189).
seja, suas causas e consequências atin-
gem o indivíduo em todas as suas dimen- Observa-se que o peso afeta homens e
sões. Dentre os fatores biológicos, des- mulheres de diferentes formas. As mulhe-
taca-se o papel da hereditariedade (em res obesas possuem maior probabilidade
interação com os fatores ambientais – pa- de se sentirem depressivas, até mesmo
drão alimentar e nível de atividade física) com tendência suicida, se comparadas às
(STRAUB, 2014). mulheres mais magras. Já em relação ao
sexo masculino ocorre o inverso: os ho-
Para o psicólogo, os fatores psicosso-
mens que se encontram abaixo do peso
ciais envolvidos à obesidade são os que
costumam ter maior tendência à depres-
mais merecem destaque. Os padrões de
são que aqueles mais pesados (STRAUB,
fome e alimentação variam individual-
2014).
mente. Como a maioria das confraterni-
zações e eventos sociais envolvem a ali- Segundo o mesmo autor, uma série de
mentação, é comum associar o estresse à fatores explica por que muitas dietas não
ingestão de certos tipos de alimentos, ou funcionam. Dentre esses fatores citamos
seja, em situações de estresse agudo ou as expectativas irrealísticas, o incômodo
crônico as pessoas tendem a comer mais da sensação de privação de algo conside-
(STRAUB, 2014). rado prazeroso.
Segundo Nieman (1999), dentre os As dietas de maior sucesso são as
riscos associados à obesidade podem-se intervenções clínicas que incluem
destacar dificuldades emocionais (como alguma forma de pós-tratamento
baixa autoestima e depressão) aumento depois da perda de peso, com apoio
de osteoartrite; aumento de incidência social, programas de exercícios ou
de hipertensão arterial e diabetes; au- continuação do contato com o tera-
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Mais uma vez observamos como a mu- Em síntese, o psicólogo que trabalha
dança de comportamento do paciente é com pacientes de cirurgia bariátrica deve
essencial nos tratamentos de pacientes ficar muito atento em sua avaliação pré-
obesos e como a atuação do psicólogo é -operatória, já que ele é um dos profis-
imprescindível para auxiliá-lo a lidar com sionais responsáveis por recomendar ou
as mudanças decorrentes do emagreci- não o procedimento e, caso ele apresente
mento. No caso dos pacientes que se sub- algumas das condições enumeradas an-
metem à cirurgia bariátrica, as mudanças teriormente, o risco é de não resolver o
que ocorrem no corpo costumam ser mais problema da obesidade, como também de
rápidas e significativas, assim o paciente favorecer o surgimento de outras condi-
precisa estar preparado psicologicamen- ções graves a ponto de levarem o pacien-
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te ao óbito. Mais que isso, é importante boa autoestima é uma pessoa mais sau-
conscientizar o paciente da necessidade dável, que lida melhor com as adversida-
de acompanhamento psicológico pós-ci- des impostas pela vida. Mas, o que é auto-
rúrgico, pois as mudanças de autoimagem estima? Segundo Papalia, Olds e Feldman
e comportamentos alimentares também (2006), autoestima significa gostar de si
podem ser danosas ao paciente. Assim, mesmo de modo genuíno e altruísta; não
vemos que há demanda de trabalho para se trata de excesso de valorização de si
o psicólogo tanto em nível clínico (con- mesmo ou de arrogância e egocentrismo.
sultório, ambulatório), quanto no próprio Gostamos do que realmente somos, acei-
hospital. As intervenções podem ser indi- tando nossas próprias habilidades e limi-
viduais ou em grupo. tações. O papel do outro é importante no
desenvolvimento da autoestima, sejam
Entendemos que esse deve ser o último
eles familiares, amigos, ou mesmo desco-
recurso utilizado em pacientes que apre-
nhecidos. Afirmar que um sujeito possui
sentam obesidade mórbida e suas compli-
uma autoestima elevada é o mesmo que
cações, não como um simples recurso de
dizer que ele tem um julgamento positivo
emagrecimento para pacientes que não
de si mesmo.
conseguem modificar seus hábitos ali-
mentares e estilo de vida sedentário. A partir dessa definição, é possível per-
ceber que a autoestima de uma pessoa
c) Transtornos alimentares
com transtorno alimentar (ou às vias de
Assim como ocorre com a obesidade, os desenvolver um desses transtornos) não
transtornos alimentares são um problema é positiva, por isso é necessária uma aten-
muito frequente na atualidade e mere- ção especial no que diz respeito à atenção
cem a atenção da equipe multidisciplinar a este público-alvo, o que será elucidado
em saúde, em especial o psicólogo. Fala- a seguir.
remos aqui sobre a anorexia nervosa, a
Outro conceito que precisa ser escla-
bulimia nervosa e o transtorno dismórfico
recido e que caminha muito próximo da
corporal (vigorexia).
autoestima é a autoimagem. Define-se
Numa sociedade marcada pelo culto autoimagem como a forma como as pes-
ao corpo, onde a necessidade de se mos- soas vêm e percebem o seu próprio cor-
trar se faz evidente, marcada pela busca po, percepção essa que sofre influência
incessante aos ideais de beleza impos- de aspectos físicos, psicológicos e cultu-
tos pela mídia, os quais são muitas vezes rais. Importante destacar que a insatis-
inatingíveis pela maioria das pessoas, os fação com a imagem corporal é comum
transtornos alimentares e da imagem cor- nos transtornos alimentares, associados
poral tornam proporções alarmantes. à adolescência, como também na fase do
envelhecimento, marcada por uma série
Dentre os fatores psicológicos, um que
de mudanças no esquema corporal, como
merece destaque é a autoestima. Ter uma
sinaliza pesquisa de Pereira e colaborado-
boa autoestima é fator protetor não ape-
res (2009).
nas para os transtornos alimentares, mas,
sem sombra de dúvidas, uma pessoa com Os distúrbios alimentares podem ser
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tratamento, tais como idade, gênero, sta- e, por que não falar, em mais anos de vida.
tus socioeconômico e condições culturais.
Já ao se analisar a questão de gênero,
Falaremos brevemente sobre apenas so-
a partir da adolescência é mais comum a
bre os dois primeiros.
busca de serviços de saúde pelas mulhe-
Dentre as faixas etárias, é mais co- res, em detrimento dos homens (COSTA-
mum a ida aos serviços de saúde na -JÚNIOR; MAIA, 2010, STRAUB, 2014). No
infância e na terceira idade (STRAUB, Brasil, as campanhas de prevenção à saú-
2014). Em relação à questão da ida- de da mulher são mais antigas e mais nu-
de, segundo o mesmo autor: merosas se comparadas às campanhas de
prevenção à saúde do homem.
Na faixa etária avançada, os este-
reótipos de idade, que são comuns Em relação à saúde da mulher, cam-
entre os profissionais da saúde e panhas como as de prevenção do câncer
mesmo em alguns idosos, podem re- feminino (mama, colo do útero, ovários),
presentar obstáculos importantes de doenças sexualmente transmissí-
para o alcance e a manutenção da veis, além de campanhas que incentivam
saúde. Entre esses obstáculos, es- o pré-natal e parto normal, redução da
tão as visões de que a velhice é um mortalidade materna, enfrentamento da
período de declínio inevitável, que os violência contra a mulher, planejamento
idosos geralmente não conseguem familiar, assistência ao climatério, assis-
ou não estão dispostos a mudar de tência às mulheres negras e população
estilo de vida e comportamento, que GLBTT podem ser citadas como de grande
sua adesão a regimes de tratamento relevância (SUS, 2013).
e intervenções preventivas é baixa As imagens a seguir ilustram essas
e que os benefícios ganhos com in- campanhas, as quais são normalmente
tervenções voltadas para o estilo de conduzidas por profissionais da medicina
vida e o comportamento nesse está- e da enfermagem, mas também podem
gio da vida são mínimos (p.346-347). contar com a atenção dos demais profis-
Como foi possível observar na citação sionais da equipe de saúde, dentre eles o
anterior, esse estereótipo de velhice en- psicólogo.
quanto sinônimo de doença e dependên-
cia influencia as atitudes dos profissionais
de saúde muito negativamente. Ou seja,
observamos que em muitas situações não
adianta o idoso procurar os serviços de
saúde (coisa que ele faz muito mais que os
mais jovens), pois ele costuma ser aten-
dido por profissionais que não acreditam
que, mesmo em idade avançada, é impor-
tante prevenir doenças e investir na mu-
dança de comportamentos de vida saudá-
veis em busca de melhor qualidade de vida
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Sua atuação é desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos: Acesso e Acolhimen-
to, Saúde Sexual e Reprodutiva, Paternidade e Cuidado, Doenças prevalentes na popula-
ção masculina e Prevenção de Violências e Acidentes (SUS, s.d.).
A figura a seguir, da política de saúde do homem, mostra a importância do homem se
conscientizar sobre a prevenção e a promoção da saúde:
30
para ser bem abordada, necessita de um de-se que essa rede de profissionais foi
olhar biopsicossocial para o paciente que definida a partir de três sintomas que ca-
sofre desse mal. racterizam a doença: depressão, insônia e
dor. Segundo Araújo (2004 apud ARAÚJO
A autora demonstrou que uma visão
2006), esses sintomas servem para inte-
mais holística da doença poderia incluir as
grar um trabalho interdisciplinar entre os
áreas de saber da psicologia, antropologia,
diferentes profissionais que abordam a fi-
medicina (especialidades específicas des-
bromialgia e outras síndromes funcionais
critas na tabela) e fisioterapia. Compreen-
somáticas.
Figura 4: Multidisciplinaridade X interdisciplinaridade
SUS, entretanto, iremos falar sobre a atu- Na década de 80, observa-se que a in-
ação do psicólogo nesse contexto, a qual serção do psicólogo na atenção primária
foi ganhando papel de destaque e hoje à saúde (UBS) foi marcada por uma série
se encontra bastante ampliada, para bem de dificuldades. Dentre esses problemas
além de ser voltada apenas para a assis- podem-se destacar a fraca demanda de
tência ao paciente psiquiátrico. busca espontânea pelo atendimento psi-
cológico, falta de adesão ao tratamen-
Começa-se a falar em atenção básica, o
to (abandono precoce, faltas e atrasos
que, posteriormente, passou a ser deno-
às sessões), seleção e hierarquização da
minado de atenção primária à saúde. Com-
clientela, psicologização dos problemas
preende-se a atenção básica como o nível
sociais, dificuldade de inserção dos psi-
de atenção que enfoca as práticas de pro-
cólogos nas equipes multiprofissionais,
moção à saúde, o que permite a interliga-
defasagem salarial, problemas de intra-
ção entre diferentes saberes profissio-
estrutura que, em conjunto, inviabilizam
nais e permite maior acesso à população
a busca por um projeto mais amplo de ci-
em serviços que valorizem o ser humano
dadania (DIMENSTEIN, 1998; DE-BARROS;
em interação constante com o seu meio,
MARSDEN, 2008). Associado a tudo isso:
além de também visar à reabilitação da
saúde (CONTINI, 2001 apud RONZANI; RO- Psicologia é um campo marcado por
DRIGUES, 2005). teorias essencialistas e universalis-
tas em relação ao modelo de mulher,
Portanto, a Atenção Primária, ou
família, sexualidade, casamento e
Atenção Básica, como se denomina
certas representações como a de
no Brasil, ganha status de prioridade
sofrimento psíquico e corpo, entre
no investimento das políticas públi-
outros. Trabalha-se também uma
cas de saúde, invertendo a lógica do
determinada ideia - tida como uni-
modelo médico-hospitalar, utilizan-
versal - do que seja saúde e doen-
do instrumentos próprios, reconhe-
ça, suas causas e possibilidades de
cendo o território e a clientela, vi-
tratamento e cura, que na verdade
sando à adequação de seus serviços
nem sempre é compartilhada pelos
às realidades particulares e à pers-
pacientes. Isso consequentemente
pectiva da população. Para Takeda
tem repercussões a nível da eficácia
(2004), as principais características
do atendimento dispensado às po-
da Atenção Primária são: ‘a) porta de
pulações que frequentam as insti-
entrada para o sistema de saúde; b)
tuições públicas de saúde (DIMENS-
responsabilidade pelos indivíduos ao
TEIN, 1998, p.75).
longo do tempo, independentemen-
te da presença de doença; c) integra-
lidade da atenção; e, d) capacidade
de coordenar os cuidados às neces- 5.2 Psicólogo no SUS
sidades dos indivíduos, suas famí-
a) SUS, atenção primária e a psico-
lias e comunidades’ (TAKEDA, 2004,
logia
p.79 apud MORÉ; AZEVEDO; STORTI,
2011, p.55). Falar em saúde pública antes da criação
49
boço na seção anterior, essa entrada não dade do indivíduo que são expressos nas
ocorreu de forma simples e imediata. Em relações humanas (interações e afetos),
finais da década de 80, com a promulga- funciona como um suporte para a criação
ção da Constituição, e início da década de de espaços mais democráticos e também
90, data de promulgação do Estatuto da facilitam a interação com a alteridade,
Criança e do Adolescente, o psicólogo en- promovendo interações entre profissio-
controu caminhos de práticas psicológicas nais e usuários (CAMARGO-BORGES; CAR-
associadas à implementação de políticas DOSO, 2005 apud MORÉ; AZEVEDO; STOR-
públicas de saúde e desenvolvimento so- TI, 2011).
cial. Ainda nessa década houve reflexões
Atualmente, a atuação do psicólo-
acerca a reforma psiquiátrica, o que forta-
go nos setores de saúde mental do
leceu a convicção de que os serviços subs-
SUS é ampliada, dinâmica e inter-
titutivos à internação psiquiátrica neces-
disciplinar, atuando em atividades
sitariam do olhar de um profissional da
diversificadas, sejam elas de cunho
saúde mental, no caso o psicólogo. “Esse
clínico, educando a população para
protagonismo foi traduzido na figura do
a saúde e também atuando na capa-
psicólogo, capaz tanto de coordenar gru-
citação dos profissionais da saúde.
pos, como de apoiar redes sociais ou in-
Essa atuação com os demais profis-
tervir junto a pacientes em psicoterapia”
sionais será pormenorizada mais ao
(p.29).
final do curso, quando enfatizaremos
Importante destacar que antes desse a humanização da assistência. Essa
período, as intervenções sócio-comuni- atuação mostra-se relevante porque:
tárias da psicologia normalmente eram
Uma perspectiva teórica que permi-
relacionadas a projetos voluntários ou de
ta transcender o espaço definido por
cunho universitário, ou seja, o psicólogo
algumas práticas da Psicologia clí-
que enveredaria por essa seara não teria
nica e da saúde tradicionais poderá
o seu trabalho remunerado.
oferecer às equipes de atuação na
APS um importante respaldo teórico
e metodológico na inserção do psicó-
O psicólogo que trabalha com a saú-
logo na promoção não somente da
de, inclusive de uma forma extensiva
saúde mental, mas também de ou-
no SUS (maioria dos nossos profis-
tros setores da saúde. Com a capaci-
sionais), atua tanto nas atividades
dade de articulação interdisciplinar
de cunho clínico e educacional para
e na perspectiva de uma teoria psi-
a população em geral, como na for-
cológica contextualizada a questões
mação e aperfeiçoamento de pro-
fissionais da área da saúde, social, de relevância social, como o resgate
educação e jurídica (LAZZARETTI et da cidadania e a exclusão social, o
al., 2007, p.57). psicólogo não será meramente um
especialista em saúde mental, e sim,
A psicologia tem muito a contribuir na um profissional importante na soma
Estratégia de Saúde da Família, pois, ao de esforços pela prevenção e promo-
estudar o comportamento e a subjetivi- ção da saúde através do enfoque do
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