Você está na página 1de 60

1

A PSICOLOGIA
NOS CENÁRIOS DE
ATENDIMENTO À SAÚDE
2

3 UNIDADE 1 - Introdução
6 UNIDADE 1 - Promoção da saúde, prevenção e reabilitação
10 UNIDADE 2 - Comportamento e saúde
10 2.1Comportamento saudável X comportamento de risco

26 2.2 Procurando tratamento

32 2.3 Adesão ao tratamento

34 UNIDADE 3 - Equipe interdisciplinar


37 UNIDADE 4 - Psicólogo clínico x psicólogo hospitalar x psicólogo da saúde

SUMÁRIO
44 UNIDADE 5 - O Psicólogo na saúde pública
45 5.1 Histórico

49 5.2 Psicólogo no SUS

56 REFERÊNCIAS
3

UNIDADE 1 - Introdução

Enquanto orientadores sempre reco- inserido e exercendo sua função com éti-
mendamos a pesquisa de materiais re- ca e profissionalismo, sempre visando o
centes, porém, ao se utilizar obras clássi- bem-estar da população que se encontra
cas (como no caso deste material em que sob os seus cuidados.
grande parte do conteúdo foi embasado Desde o início do curso falamos em
em obras de teóricos que abordam sobre prevenção, promoção da saúde e reabi-
diferentes autores) isso não se faz possí- litação e, nesse momento, esse assunto
vel – ainda mais em caso de livros que já será aprofundado. Autores como Straub
possuem edições mais recentes, porém (2014), reforçam a importância não só do
lançamos mão de cópias mais antigas. psicólogo, mas de toda a equipe interdis-
Fora isso, é sempre importante manter- ciplinar, trabalhar visando à promoção da
mos o conhecimento científico atualizado! saúde e a prevenção de doenças. Políticas
Também já justificamos o uso de algu- públicas do Ministério da Saúde – assunto
mas citações de citações (apuds), o que que também estará presente neste ma-
não é recomendado do ponto de vista da terial – também discorrem sobre a impor-
metodologia da pesquisa, porém, se fez tância de se adotar este ponto de vista,
necessário em algumas situações devido à o qual é bastante divergente do modelo
dificuldade em se localizar algumas obras biomédico vigente, que preconiza o binô-
originais. Sugerimos que, na introdução, mio saúde e doença.
anotem as questões que mais desperta- Como essa concepção impera há mui-
ram sua curiosidade ou dúvidas e após o tos anos a ideia de buscar os serviços de
estudo da apostila revejam se as mesmas saúde (em especial o médico) quando se
ficaram realmente claras. adoece, já está impregnada em nossa
Intitulada “A psicologia nos cenários de mentalidade. O psicólogo, especialmen-
atendimento à saúde”, esta apostila visa, te os graduados há mais tempo, também
principalmente, abordar os diversos con- possuem essa visão e não devem ser criti-
textos nos quais o profissional da psico- cado por isso, visto que até recentemen-
logia encontra-se inserido. Entretanto, te os cursos de graduação traziam para o
esse material também discorre de outros acadêmico apenas essa visão: de que ele
assuntos da práxis do psicólogo hospita- é um profissional que será habilitado para
lar e da saúde, mas que não falam dire- curar doenças. Isso não é de todo errado,
tamente dos cenários de atendimento à como já foi mostrado nos materiais ante-
saúde. Entretanto, sabemos que a temá- riores, o psicólogo realmente atua em ca-
tica da psicologia hospitalar e da saúde é sos onde a doença já se faz instalada, po-
muito ampla e, de maneira geral, as temá- rém, é importante enxergarmos que nós
ticas aqui abordadas – como prevenção e – assim como a equipe interdisciplinar em
promoção à saúde, equipe interdisciplinar saúde – temos um papel de grande desta-
e comportamento e saúde – dizem respei- que antes que o problema se instale.
to aos cenários em que o psicólogo estará Nesse sentido, observaremos também
4

um grande diferencial que é reservado ao dos outros. A clientela não podia ser dife-
profissional da psicologia: a intervenção rente: pessoas abastadas, que podiam “se
em comportamentos que podem – por si dar ao luxo de sofrer de problemas psico-
só, ou associados a outros fatores (como a lógicos, coisa de rico”. Nesse contexto a
genética) – ser preditores de saúde ou de psicologia foi se consolidando como uma
doença. prática exercida por alguns e cujos bene-
Atualmente, somos bombardeados fícios também eram estendidos somente
com informações a respeito da importân- àqueles que poderiam pagar por ela. Em
cia de se adotar um estilo de vida saudá- termos simbólicos, fica compreendido que
vel, porém, mesmo meio a tantas informa- o paciente paga um preço para se desven-
ções (científicas ou de senso comum), por cilhar de seu sintoma. Além dessa visão
que muitas pessoas não adotam padrões elitista, outros estigmas eram também
de comportamentos mais saudáveis? associados à psicologia, tais como “profis-
Esses são alguns questionamentos sional que atende doidos”, “curso que não
que serão aprofundados neste material. dá futuro”, dentre outras visões que aca-
A este respeito, fica a seguinte interro- bavam por afastar tanto futuros profis-
gação: como os pesquisadores chegam a sionais quanto os pacientes da psicologia.
conclusões relevantes (e científicas) so- Frente a isso tudo, uma corrente diver-
bre de que forma determinados compor- gente começou a surgir. A psicologia vem
tamentos relacionam-se diretamente à passando por uma mudança de paradigma,
saúde ou ao aparecimento de doenças? a qual reflete o contexto sócio-histórico e
Retomando a um assunto abordado na cultural pelo qual o Brasil vem passando,
apostila anterior – os métodos de pesqui- principalmente nas três últimas décadas.
sa em psicologia da saúde – fica possível Com a criação do SUS – Sistema Único de
compreender que os resultados dos estu- Saúde – e a compreensão das doenças a
dos são alcançados após estudos sistemá- partir de uma perspectiva biopsicossocial
ticos, de diferentes métodos: experimen- a psicologia desponta, juntamente com
tais, transversais, longitudinais, dentre várias outras profissões que compõem a
outros. Por isso, se faz muito importante equipe multiprofissional em saúde, como
conhecer como os estudos são realiza- uma possibilidade para promover a saúde
dos, já que nessa área há muito “achismo”, mental de todos aqueles que sofrem, in-
muito senso comum, e para o profissional clusive os que não podem pagar pelos tra-
da saúde o que deve importar são apenas tamentos tradicionais nos consultórios.
as informações científicas, devidamente Mas quem irá pagar para ficar livre do seu
comprovadas e divulgadas. sintoma? Nos ambulatórios assistencialis-
A psicologia despontou no cenário tas mais clássicos (como as clínicas-escola
mundial como uma área elitista: os psicó- e os atendimentos psicológicos que costu-
logos eram visto como pessoas de classes mam acontecer em ambulatórios de igre-
favorecidas, que trabalhavam exclusi- jas e outros espaços voltados à população
vamente em consultórios particulares e, carente) paga-se um preço simbólico pelo
além de tudo, ainda carregavam o estig- tratamento, mas no SUS não pode haver
ma de serem pessoas que “liam a mente” esse pagamento em espécie, os profissio-
5

nais, os espaços e todo o tratamento em que se espera do profissional que atue na


si é custeado pelos impostos arrecadados área da saúde, seja em nível privado ou
de todos os cidadãos brasileiros, os quais público.
têm o direito de usufruir da assistência. Os principais autores utilizados neste
Observa-se que com essa mudança, o material são Straub (2014), o Portal de
psicólogo encontra mais campo de traba- Atenção Básica do Ministério da Saúde
lho. Muitos almejam ser aprovados num (DAB), Zurba, 2011, Lacerda Jr e Guzzo
concurso público, porém, para que a prá- (2005), página do Conselho Federal de
tica do profissional da psicologia seja real- Psicologia (CFP), dentre outros.
mente eficaz, ela precisa acompanhar as
mudanças que o contexto de saúde bra-
sileiro vem sofrendo ao longo dos anos. A
mudança precisa começar na graduação,
onde se modifica o foco de formar apenas
psicólogos clínicos para atuar em consul-
tórios particulares. Esses profissionais
são importantes e têm seu espaço de atu-
ação garantido (ainda mais na última dé-
cada, com a inclusão da psicoterapia no rol
de procedimentos disponibilizados pela
saúde suplementar privada), entretanto,
se faz necessário fornecer subsídios para
a formação de profissionais que atuem
em equipe interdisciplinar, que voltem
seu foco para grupos (ao invés de indiví-
duos), para a prevenção (ao invés de prio-
rizar apenas o tratamento de pessoas que
já apresentam sintomas), que conheçam
o SUS e, mais do que isso, que se rompam
paradigmas e estereótipos relacionados à
saúde pública, ao cliente de baixa renda e
ao contexto no qual ele está inserido – de-
finitivamente determinante eu seu pro-
cesso de saúde e de adoecimento. Traba-
lhar em equipe é um desafio, o qual deve
ser encarado diariamente.
Também serão apresentadas as dife-
renças e semelhanças na práxis do psi-
cólogo hospitalar, psicólogo clínico e psi-
cólogo da saúde – denominação que não
é utilizada no Brasil, mas cujos princípios
são diretamente relacionados a tudo o
6
UNIDADE 1 - Promoção da saúde, pre-
venção e reabilitação
Desde o início desse curso, temos re- tilo de vida saudável e compreender isso
forçado a importância do psicólogo traba- é essencial para o trabalho do psicólogo.
lhar privilegiando a prevenção em detri- A seguir tentaremos compreender de for-
mento da reabilitação; voltar sua atenção ma mais detalhada o que é a promoção da
para os grupos em detrimento de voltar o saúde e o que podemos fazer para promo-
foco apenas para o indivíduo e de sempre ver a nossa saúde e a de nossos pacientes.
buscar a promoção da saúde. Mas o que é
Segundo Buss (2000), verificam-se
prevenção? Se eu pensar em só prevenir
doenças, o que faremos nos casos onde progressos mensuráveis nas condições
o mal já se instalou? Como é possível pro- de vida e saúde das populações, na maio-
mover uma boa saúde? ria dos países, nos últimos séculos. Essas
melhorias se dão, principalmente, devido
Pretendemos responder a essas e a ou- aos avanços políticos, sociais, econômi-
tras questões a seguir. cos e ambientais na saúde pública e na
a) Promoção da saúde medicina. Entretanto, as desigualdades
também continuam marcantes em muitos
Às vezes, somos nossos piores inimi- países. Observa-se, em algumas regiões,
gos na batalha pela saúde. Na ado- a permanência de problemas já resolvi-
lescência e no começo da idade adul- dos em outras, assim como o surgimento
ta, quando estamos desenvolvendo de alguns novos e o crescimento de ou-
hábitos relacionados com a saúde, tros já existentes. Para solucionar tais
normalmente somos bastante sau- problemas (como, por exemplo, a AIDS, as
dáveis. Fumar cigarros, comer muita doenças crônicas não transmissíveis, ou o
gordura e não fazer exercícios nessa estresse) têm sido investidos muitos re-
época são coisas que não parecem cursos em assistência médica curativa e
ter efeito algum sobre a saúde. Des- individual, porém, sabe-se que esse não
se modo, os jovens têm poucos incen- é o caminho mais eficaz. A solução para
tivos imediatos para praticar bons esses problemas consiste em medidas
comportamentos e corrigir mais há- preventivas e a promoção da saúde, além
bitos relacionados à saúde (STRAUB, da melhoria das condições de vida da po-
2014, p.153). pulação em geral, ou seja, retirar o foco do
Neste material, iremos falar bastan- individual e voltar para o grupo, prevenir
te sobre a adoção de hábitos saudáveis ao invés de remediar.
– como uma alimentação balanceada e a Numa tentativa de discutir o tema,
presença de atividades físicas na nossa Buss (2000) abordou, em seu artigo de
rotina diária – como comportamentos im- revisão, vários autores e documentos
portantes para uma boa saúde. Isso é uma que trataram do assunto nas últimas
forma de se promover saúde. A questão décadas. Assim, para fins didáticos,
da promoção da saúde é bastante com- iremos compreender a promoção da
plexa, não se resume à adoção de um es-
7

saúde como: trânsito (BUSS, 2000, p.166).

[...] uma estratégia promissora para Para se promover a saúde, deve-se


enfrentar os múltiplos problemas de pensar em estratégias mais amplas, uti-
saúde que afetam as populações hu- lizando, para isso, dos canais de comuni-
manas e seus entornos neste final cação disponíveis. Antes disso, os gesto-
de século. Partindo de uma concep- res de saúde, juntamente com os setores
ção ampla do processo saúde-doen- políticos competentes, precisam elaborar
ça e de seus determinantes, propõe documentos e legislações que têm como
a articulação de saberes técnicos e objetivo geral a promoção da saúde da
populares, e a mobilização de recur- população: “Os psicólogos também pro-
sos institucionais e comunitários, movem a saúde incentivando a ação legis-
públicos e privados, para seu enfren- lativa e realizando campanhas educativas
tamento e resolução (p.165). na mídia. Esses esforços focalizam muitos
níveis, do individual à comunidade e à so-
A partir dessa definição, acrescenta-
ciedade como um todo” (STRAUB, 2014,
mos que o conceito de promoção de saúde
p.153).
reforça também a importância do prota-
gonismo do indivíduo como agente ativo b) Prevenção primária, secundária
de seu estado de saúde (ao contrário de e terciária
ocupar uma posição passiva, onde apenas Além da promoção da saúde, a preven-
a equipe de saúde tomava as decisões e ção é outra estratégia que se faz muito
ações e o paciente, passivo, acatava as importante. Assim como o que foi aborda-
mesmas) (BUSS, 2000). do na promoção da saúde, o foco é o gru-
Em relação ao controle do indiví- po, não o indivíduo.
duo, essa outra citação traz mais de- Importante destacar que, segundo
talhes acerca de uma definição sobre Straub (2014), é comum relacionar o ter-
a promoção da saúde, a qual pode mo “prevenção” apenas em relação aos
ser de interesse para o psicólogo por esforços para modificar os riscos aos quais
abordar aspectos passíveis de mu- uma pessoa está exposta antes que uma
danças comportamentais, tais como doença se manifeste. Essa realmente é
estilo de vida e dieta, que implicam uma estratégia de prevenção, a que ocor-
em saúde: re antes do problema se instalar, porém
[...] os programas ou atividades de existem estratégias de prevenção que
promoção da saúde tendem a con- acontecem durante o curso da doença e
centrar-se em componentes educa- mesmo depois que a mesma já aconteceu.
tivos, primariamente relacionados A partir dos estudos de alguns auto-
com riscos comportamentais pas- res, como Goldston (1980 apud LACERDA
síveis de mudanças, que estariam, JR; GUZZO, 2005) e Leavell e Clark (1976
pelo menos em parte, sob o controle apud BUSS, 2000), as estratégias de pre-
dos próprios indivíduos. Por exem- venção podem ser divididas em três ní-
plo, o hábito de fumar, a dieta, as ati- veis, os quais serão elucidados a seguir.
vidades físicas, a direção perigosa no
8

Atualmente, o termo prevenção pri- terconsulta:


mária (PP) encontra-se em voga e é
Esses profissionais incentivam mé-
compreendido por:
dicos e outros trabalhadores na área
O conceito PP é proveniente da saú- da saúde a aconselharem seus pa-
de pública e refere-se à ação que cientes. Por mais que essa atenção
busca evitar a incidência de doenças. personalizada possa parecer efeti-
As ações neste campo sempre têm va, muitos médicos têm dificuldade
como alvo grupos e não indivíduos em usar medidas preventivas. Uma
(LACERDA JR; GUZZO, 2005, p.241). razão para essa dificuldade é que
as faculdades de medicina tradicio-
A prevenção primária e se caracteriza
nalmente colocam pouca ênfase em
por ações dirigidas a grupos amplos, an-
medidas preventivas. Outra é a falta
tes do estabelecimento de uma doença,
de tempo, devido ao número de pes-
ou seja, busca-se atingir uma saúde geral
soas que os médicos precisam aten-
melhor pela proteção do homem contra
der por dia (STRAUB, 2014, p.153).
os agentes nocivos do meio. A educação
em saúde aparece como um grande dife- Já o segundo nível, denominado pre-
rencial (GOLDSTON, 1980 apud LACERDA venção secundária, ocorre após a identifi-
JR; GUZZO, 2005; LEAVELL; CLARK,1976 cação de fatores de risco. Objetiva evitar
apud BUSS, 2000). que o problema se torne crônico através
do diagnóstico e intervenção precoces
Prevenção primária refere-se a
(LACERDA JR; GUZZO, 2005). Pode-se citar
ações que promovem a saúde, que
como exemplo um filho de pai diabético,
são realizadas para prevenir que
sem nenhuma doença diagnosticada no
uma doença ou lesão ocorra. Exem-
momento, que procura a atenção de uma
plos de prevenção primária são usar
equipe multidisciplinar em saúde em bus-
cinto de segurança, seguir uma boa
ca de mudança de estilo de vida visando à
nutrição, fazer exercícios, não fumar,
prevenção da doença no futuro devido ao
manter padrões saudáveis de sono e
seu histórico familiar.
fazer exames de saúde regularmen-
te (STRAUB, 2014, p.153). Podemos ver na citação a seguir
um exemplo da atuação do psicólogo
Entendemos que o psicólogo tem
num nível de prevenção secundária,
um grande diferencial na prevenção
ou seja, em indivíduos cujos fatores
primária como agente da educação
de risco para doenças cardiovascula-
em saúde, especialmente por poder
res identificados. Vê-se que a situação
atuar com o ser humano em diferen-
é complexa, daí a importância da atu-
tes estágios de seu desenvolvimento.
ação da equipe multidisciplinar, na
Em determinadas situações, o psicó-
qual o psicólogo encontra-se inserido:
logo pode realizar estratégias de pre-
venção primária indireta, ou seja, o Prevenção secundária envolve
psicólogo irá intervir em profissionais ações para identificar e tratar uma
que irão lidar diretamente com os pa- doença, no começo de seu curso. No
cientes, prática essa denominada in- caso de uma pessoa com pressão
9

alta, por exemplo, a prevenção se- Em síntese, sobre os programas de


cundária envolveria exames regula- prevenção podemos observar que:
res para monitorar sintomas, o uso
Os programas de prevenção são
de medicamentos para a pressão e
divididos em universais e específi-
alterações na dieta (STRAUB, 2014,
cos. Os universais referem-se aos
p.153).
programas direcionados à população
Finalmente, o último nível, denominado em geral e têm como objetivo reduzir
prevenção terciária, é o mais específico de a incidência da doença, por elimina-
todos os níveis. Seu foco é a reabilitação rem ou reduzirem fatores de risco
ou diminuir os efeitos de uma doença já que são prevalentes na população.
instalada (LACERDA JR; GUZZO, 2005). Os programas específicos têm como
foco reduzir fatores de risco em ado-
Prevenção terciária envolve ações
lescentes e adultos jovens que ainda
para conter ou retardar danos uma
não desenvolveram a doença, mas
vez que a doença já tenha avança-
têm risco aumentado de se tornar
do além de seus estágios iniciais. Um
casos clínicos ou subclínicos (ÁVILA;
exemplo de prevenção terciária é o
NUNES, 2006, p.100).
uso de radioterapia ou quimioterapia
para destruir um tumor. A prevenção Como os conceitos de prevenção e pro-
terciária também busca reabilitar moção da saúde costumam ser confun-
as pessoas ao maior nível possível didos, finalizamos essa seção com uma
(STRAUB, 2014, p.153). síntese sucinta que esclarece possíveis
dúvidas. Segundo Ronzani e Rodrigues
Observa-se que, mesmo como a ten-
(2006), a prevenção é compreendida
dência atual é priorizar a prevenção primá-
como uma tentativa de se evitar doenças,
ria e a promoção à saúde, nós, profissio-
enquanto que a promoção da saúde con-
nais, acabamos ainda encontrando mais
siste na melhoria da qualidade de vida das
frentes de trabalho nos setores voltados
pessoas avaliada por vários aspectos.
à prevenção secundária ou terciária. Se-
gundo Straub (2014), a prevenção terciá-
ria é menos efetiva em termos de custos
e menos benéfica que os outros tipos de
prevenção, porém esta é a forma mais
comum de cuidados em saúde. Essa es-
tratégia de cuidado é mais fácil de ser ins-
talada porque os grupos-alvo adequados
(pessoas com doenças e/ou lesões) são
identificados com facilidade. Os pacientes
em tratamento nesse nível terciário cos-
tumam ter maior motivação para a adesão
ao tratamento e a adoção de outros com-
portamentos relacionados à saúde.
10

UNIDADE 2 - Comportamento e saúde

2.1Comportamento saudá- blica na atualidade). Nota-se também um


viés biopsicossocial, o qual temos reforça-
vel X comportamento de do intensamente ao longo do curso.
risco Nessa perspectiva, fica evidente que
Sabemos como os conceitos de saúde e o estado de ser saudável não é algo
doença foram sofrendo variações no de- estático; pelo contrário, é necessário
correr do percurso histórico. Inicialmente adquiri-lo e reconstruí-lo de forma
atribuídas a possessões demoníacas, as individualizada e constantemente
doenças passaram a ser compreendidas ao longo de toda a vida, oferecendo
como desequilíbrio entre os humores (lí- indícios de que a saúde é também
quidos) corporais, atribuíram algumas domínio educacional e, por sua vez,
delas a vírus e bactérias, passaram a en- deva ser tratada não apenas com
fatizar a importância dos aspectos emo- base em referências de natureza
cionais tanto na etiologia de doenças biológica e higienista, mas, sobretu-
quanto para uma boa saúde. do num contexto didático-pedagógi-
co (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 11).
Até 1947, saúde estava compreendida
como a ausência de doenças, ou seja, re- Observa-se, na citação anterior, que os
afirmavam-se a visão do modelo biomédi- autores não fazem menção à ideia de do-
co, reforçando a primazia da ausência de ença, rompendo definitivamente a ideia
doenças no corpo. Essa visão também foi da dicotomia saúde – doença do conceito
modificando e dentre várias definições de de saúde. Para se promover a saúde, o in-
saúde merece destaque o conceito apre- divíduo precisa ser protagonista, diferen-
goado pela OMS, o qual é questionado por te de ser passivo em relação à equipe de
alguns autores, mas que reforça a impor- saúde.
tância de uma abordagem multidiscipli- Como consequência dessa definição,
nar – o que sempre pretendemos reforçar tem-se a necessidade do cliente ser abor-
neste curso. dado por uma equipe multidisciplinar que
A Organização Mundial de Saúde (OMS) dê atenção para o mesmo a partir de um
preconiza saúde como o estado de mais pressuposto biopsicossocial.
completo bem-estar físico, mental e so- Outra definição, mais recente,
cial e espiritual, e não apenas a ausência aborda com mais detalhes o conceito
de enfermidade. Esta definição marca um de saúde, também de maneira holís-
avanço na área da saúde, já que englo- tica. Define a saúde coo:
ba aspectos físicos, psíquicos e sociais. A
partir daí passa-se a pensar não apenas [...] resultante das condições de ali-
na cura de patologias, mas nas práticas de mentação, habitação, educação,
prevenção e promoção da saúde (priori- renda, meio ambiente, trabalho,
dade da Saúde, em especial, da Saúde Pú- transporte, emprego, lazer, liberda-
11

de, acesso e posse da terra e acesso tariamente, os modelos de vida não sau-
aos serviços de saúde. É assim, an- dáveis (como sedentarismo, tabagismo,
tes de tudo, o resultado das formas etilismo), dentre outras condições que
de organização social da produção, acarretam em alguma forma de adoeci-
as quais podem gerar desigualdades mento.
nos níveis de vida. (FLEURY, 1992,
Sabe-se que existe um número muito
p.170 apud BAGRICHEVSCHI; ESTE-
grande de doenças, dentre as quais é pos-
VÃO, 2005, p.71)
sível apontar diferentes meios de con-
Por outro lado, em relação ao conceito traí-las e formas de evitá-las. Quando os
de doença, é sabido que devemos abor- fatores de risco dizem respeito a fatores
dar o homem como um todo: um ser único, genéticos, não há o que fazer para mo-
dinâmico, dotado de corpo e alma, que se dificar essa bagagem inata que o indiví-
desenvolve em determinado ambiente, duo carrega, mas, em muitos casos, como
dentro do qual o mesmo interage e sofre nas doenças crônicas não transmissíveis
interações. Neste contexto, entendemos (DCNT), há incidência de fatores multicau-
a doença como a desarmonia orgânica ou sais e o indivíduo pode modificar as vari-
psíquica responsável por interferir na di- áveis ambientais e comportamentais para
nâmica de desenvolvimento da pessoa. visar a promoção da saúde e a prevenção
Assim, este desequilíbrio acarreta conse- nos três níveis estudados.
quências biopsicossociais e culturais.
A importância relativa de cada um
Entendendo por outra linha de raciocí- desses componentes pode variar
nio, o organismo busca a constante home- dependendo do genótipo, da idade
ostase – equilíbrio dinâmico entre as fun- e dos hábitos de vida das pessoas;
ções do corpo e o ambiente – e a doença no entanto, todos demonstram rela-
não permite este equilíbrio, já que há uma ção bastante estreita com o melhor
ruptura nas relações existentes entre o estado de saúde (GUEDES; GUEDES,
indivíduo consigo mesmo e com o mun- 1995, p. 19).
do. Enquanto perdurar sua enfermidade,
Em síntese, é possível concluir que,
a pessoa assume uma nova condição, de
partindo desse pressuposto, algumas
ser ou estar doente, o que acarreta numa
doenças podem ser prevenidas (ou seus
série de mudanças e perdas que alterarão
danos podem ser minimizados visando a
de modo decisivo sua identidade e as rela-
uma melhoria da qualidade de vida) e essa
ções estabelecidas com a sociedade.
prevenção depende diretamente do pró-
Atualmente já sabemos que existem prio indivíduo. Dentre elas podemos citar,
várias causas para as doenças, dentre elas por exemplo, o câncer de pulmão, cuja in-
podemos citar as contaminações (micro- cidência é maior dentre os fumantes. Fica
-organismos, substâncias tóxicas, dentre fácil compreender que a pessoa não taba-
outras fontes nocivas ao ser humano), os gista está, de certa forma, prevenindo o
traumas (físicos, como uma queda, ou psí- aparecimento da doença.
quicos, como a perda abrupta de um ente
Um outro exemplo que encaixa nesse
querido), as condições herdadas heredi-
grupo é o da pessoa que sempre lava bem
12

as verduras e as frutas, além de deixá-las atribuem a causa de doenças graves, como


livres de moscas para evitar sua possível o câncer, apenas ao estado emocional do
contaminação. Lógico que precisamos paciente, como se ele fosse capaz de, so-
compreender que, na maioria das vezes, zinho, sem nenhum tipo de ajuda, interfe-
as doenças são provenientes de fontes rir no seu estado emocional para não ado-
multicausais, ou seja, não são derivadas ecer. Já discutimos amplamente a questão
de uma ou outra situação específica, mas da psicossomática e vimos que essas do-
talvez de um conjunto de variáveis. Entre- enças acontecem de forma inconsciente,
tanto, a adoção de atitudes preventivas ou seja, fazer com que o paciente se sinta
acaba por resultar um modo de vida mais culpado pelo seu estado de padecimento
saudável. só irá gerar ainda mais sofrimento e senti-
mentos conflituosos para ele mesmo.
A relação entre estilo de vida e a saúde
desencadeou grande esforço de pesquisa, A partir de agora, veremos, com mais
visando a prevenir doenças e ferimentos. detalhes, como o comportamento do indi-
Às vezes, a doença não pode ser preveni- víduo pode está diretamente relacionado
da [...]. Ainda assim, mesmo nesses casos com seu padrão de saúde e doença.
extremos, desenvolver nossas potenciali-
É difícil imaginar uma atividade ou
dades humanas pode nos dar a capacida-
um comportamento que não in-
de de florescer (STRAUB, 2014, p.145).
fluenciem a saúde de alguma forma
Outras doenças aparecem independen- – para melhor ou pior, direta ou indi-
temente do comportamento do paciente. retamente, de imediato ou a longo
Como exemplo, podemos citar as doenças prazo. Os comportamentos de saúde
degenerativas, como a Doença de Alzhei- são comportamentos das pessoas
mer, Parkinson e esclerose múltipla, pois para melhorar ou manter sua saúde.
até hoje não foi cientificamente compro- Exercitar-se com regularidade, usar
vado que é possível prevenir as mesmas protetor solar, seguir uma dieta com
ou que algum tipo de comportamento por baixo teor de gordura, dormir bem,
parte do indivíduo aumenta as chances do praticar sexo seguro e usar o cinto
mesmo desenvolvê-las. de segurança são comportamentos
Importante que isso fique claro para o que ajudam a “imunizar” você con-
psicólogo, visto que, atualmente, com a tra doenças e ferimentos. Exemplos
ampla divulgação de mensagens desti- menos óbvios incluem passatempos
nadas às pessoas prevenirem doenças a prazerosos, meditação, rir, férias re-
partir da adoção de um estilo de vida mais gulares e até ter um animal de esti-
saudável, é comum que o paciente chegue mação. Essas atitudes ajudam mui-
até o profissional com grande demanda de tas pessoas a lidar com o estresse
culpa pelo seu processo de adoecimento, e manter uma perspectiva otimista
responsabilidade por algo que, em muitas sobre a vida (STRAUB, 2014, p.145).
vezes, não estava ao alcance do paciente Dentre esses comportamentos de ris-
prevenir ou mesmo evitar que aconteces- cos – muitos dos quais são adotados des-
se. Por despreparo, alguns profissionais de a juventude – os citados abaixo podem
13

ocasionar risco de morte prematura, defi- para prevenir ou diagnosticar doenças


ciência e doenças crônicas. Alguns desses precocemente (ex: vacinas para gripe, de-
fatores interferem na saúde de modo ime- cisões saudáveis relacionadas com o sexo,
diato, outros a longo prazo e ainda há ou- papanicolau, colonoscopias, mamogra-
tros que prejudicam o indivíduo tanto no fias).
presente quanto no futuro:
6. Participar de comportamento vio-
1. Fumar e outras formas de abuso de lento ou que possa causar lesões invo-
tabaco. luntariamente (ex.: dirigir intoxicado)
(CENTER FOR DISEASE CONTROL AND
2. Comer alimentos com alto teor de
PREVENTION, 2010 apud STRAUB, 2014,
gorduras e baixo de fibras.
p.146).
3. Não fazer atividades físicas sufi-
Os fatores de risco para as doenças po-
cientes.
dem ser de ordem genética / biológica,
4. Abusar de álcool e outras substân- ambiental e comportamental, como eluci-
cias (incluindo as de prescrição). dado na figura a seguir:

5. Não usar métodos comprovados

Figura 01: Principais categorias de fatores de risco

Fonte: U.S., 1979 apud POWERS; HOWLEY, p.258


14

Como foi possível observar, existem a) Atividade física


comportamentos de risco extremamente
Como temos enfatizado a importância
nocivos para a saúde no tempo presente
da prevenção, iniciaremos falando sobre
ou no futuro e também comportamen-
uma estratégia de prevenção que, em
tos diretamente relacionados a uma boa
muitos casos, envolve a mudança de com-
saúde. Dentre os fatores de risco acima
portamentos não saudáveis, muitos deles
enumerados, percebe-se que nem todos
praticados durante muitos anos de vida: a
podem ser modificados (biológicos e ge-
atividade física.
néticos), assim o papel do psicólogo reside
junto àqueles fatores que podem ser mo- A vida sedentária tem sido consi-
dificados. É importante que a pessoa se derada como um dos fatores de risco
conscientize de que sua saúde pode estar coronariano (infarto do miocárdio,
em suas mãos, assim, o psicólogo pode morte súbita, angina prectoris). A
ocupar um lugar de destaque junto a esse prática regular de exercícios físicos
contexto. tem sido considerada “fator de pro-
teção” contra processos degenera-
A terapia individual ou de grupo pode
tivos no organismo, principalmente
auxiliar o paciente a abrir mão de hábitos
doenças como arteroclerose sistêmi-
não saudáveis – o que em muitos casos é
ca, obesidade, hipertensão arterial e
difícil, visto que envolve aquilo que pode
distúrbios psicossomáticos leves e
lhe proporcionar mais prazer ou mesmo in-
moderados (LEITE, 2000, p.5).
terferir em situações onde há verdadeira
dependência física ou psíquica. Da mesma Sabe-se que os programas de atividade
forma, é papel do psicólogo auxiliar o pa- física corretamente prescritos e adequa-
ciente a reorganizar sua vida, adequando dos são benéficos para a saúde do pon-
a mesma a partir de estratégias mais sau- to de vista da prevenção, manutenção e
dáveis. Importante destacar que o aban- aprimoramento da capacidade funcional.
dono de um estilo de vida marcado por si- Por outro lado, a falta de atividade físi-
tuações de risco e a adoção de um modo ca regular contribui para o surgimento
de vida saudável é um processo bastante das doenças crônico-degenerativas, tais
difícil e deve ser assistido por uma equipe como a hipertensão arterial, as cardio-
interdisciplinar, dentro da qual o psicólogo patias coronarianas, o diabetes melitus e
deve estar inserido. a obesidade. Essas doenças atualmente
são a principal causa de mortalidade entre
Enfocaremos a seguir alguns compor-
os adultos (GUEDES; GUEDES, 1995).
tamentos relacionados à saúde (atividade
física) e de risco (obesidade e transtornos Segundo Straub (2014), a prática de
alimentares; abuso de substâncias). Exis- exercícios físicos promove o bem-estar
tem outros fatores comportamentais que físico e psicológico, minimiza os riscos de
se reacionam diretamente com o surgi- ansiedade e depressão, melhora a auto-
mento de doenças (como foi mostrado na eficácia e a autoestima, além de ajudar
figura 1), porém, para fins didáticos, limi- a desacelerar ou mesmo reverter alguns
taremos nosso estudo a esses fatores: dos efeitos do envelhecimento. A ativi-
dade física auxilia a reduzir o risco de do-
15

enças cardiovasculares, diabetes, muitos conversas informais, onde o apelo


tipos de câncer e condições relacionadas pela vida saudável é cada vez mais
ao estresse. O tipo de atividade mais reco- evidente. Entretanto, isso parece mais
mendado é o aeróbico. conversa de profissionais da educa-
Nieman (1999) reforça que grande par- ção física do que de psicólogos, não
cela dos casos de diabetes tipo 2 poderia é mesmo? Ao contrário do que possa
ser evitável e tratável por meio da melho- parecer num contato inicial, a ques-
ria nos hábitos no estilo de vida, ou seja, tão da atividade física na promoção
dieta ideal a longo prazo, exercícios físicos da saúde também é área de interesse
e obtenção do peso ideal. Na maioria dos do psicólogo por envolver a questão
casos havendo essa real mudança não se de uma possível modificação de com-
faz necessária a administração de medi- portamento. A citação a seguir deixa
camentos. isso bem claro:
Programas de reabilitação do cardiopa- Às vezes, somos nossos piores ini-
ta com a prática de exercícios físicos pro- migos na batalha pela saúde. Na
porcionam benefícios psicossociais, tais adolescência e no começo da vida
como diminuição da ansiedade e depres- adulta, quando estamos desenvol-
são ocasionadas pela doença, melhora da vendo hábitos relacionados com a
autoestima e consequente reinserção so- saúde, normalmente somos bastan-
cial e profissional. A partir de todas essas
te saudáveis. Fumar cigarros, comer
mudanças, o cardiopata pode encontrar
muita gordura e não fazer exercí-
o incentivo para modificar os hábitos não
cios nessa época são coisas que não
saudáveis e então atingir a necessária
parecem ter efeito algum sobre a
mudança em seu estilo de vida. (GUEDES;
saúde. Desse modo, os jovens têm
GUEDES, 1995).
poucos incentivos imediatos para
Os indivíduos portadores de do- praticar bons comportamentos e
enças orgânicas, metabólicas e psi- corrigir mais hábitos relacionados
cossomáticas (pacientes cardíacos, com a saúde. Muitos comportamen-
obesos, portadores de depressão e tos que promovem a saúde, como fa-
ansiedade) procuram fazer exercí- zer exercícios vigorosos e seguir uma
cios fiscos para recuperarem parte dieta com baixo teor de gordura, são
de suas capacidades funcionais que menos prazerosos ou mais difíceis do
foram debilitadas pela doença, rein- que alternativas menos saudáveis.
tegração social e preenchimento de Se um comportamento (como comer
“vazios existenciais” que acompa- quando está deprimido) causar alívio
nham as doenças crônicas e/ou psi- ou gratificação imediata, ou se não
cossomáticas. (LEITE, 2000, p.4-5). apresentá-lo proporciona descon-
forto imediato, será difícil eliminar
O que foi abordado sobre a ativi- tal comportamento (STRAUB, 2014,
dade física não é nenhuma novidade p.153-154).
nos meios acadêmicos e mesmo nas
16

Nesse sentido, torna-se visível que o mento dos níveis de colesterol; aumen-
psicólogo pode atuar visando a educação to dos riscos de doença cardíaca, câncer
em saúde de clientes de diferentes faixas e morte prematura. O autor pontua que
etárias, além de realizar a interconsulta um dos grandes problemas é que a maio-
em equipes interdisciplinares que atuam ria dos tratamentos enfoca a obesidade
no sentido de promover ou restaurar a como uma doença aguda (que se resolve
qualidade de vida dos indivíduos. É pre- num curto período de tempo), sendo que,
ciso que fique claro que nas condições na verdade, é uma doença crônica (como a
em que haja necessidade de mudança de hipertensão arterial).
comportamento – como nas que veremos
As pessoas preocupam-se com o que
a seguir – há muitos fatores psicológicos
e quanto comer devido aos efeitos
envolvidos no processo, o que torna a mo-
fisiológicos e psicológicos negativos
dificação de comportamento mais difícil e
da obesidade. O fato de ser obeso
complexa.
carrega um estigma social em mui-
b) Obesidade tas partes do mundo de hoje, o que
indica a importância que muitas
A obesidade precisa ser compreendida
sociedades dão à aparência física
como um fenômeno biopsicossocial, ou
(STRAUB, 2014, p.189).
seja, suas causas e consequências atin-
gem o indivíduo em todas as suas dimen- Observa-se que o peso afeta homens e
sões. Dentre os fatores biológicos, des- mulheres de diferentes formas. As mulhe-
taca-se o papel da hereditariedade (em res obesas possuem maior probabilidade
interação com os fatores ambientais – pa- de se sentirem depressivas, até mesmo
drão alimentar e nível de atividade física) com tendência suicida, se comparadas às
(STRAUB, 2014). mulheres mais magras. Já em relação ao
sexo masculino ocorre o inverso: os ho-
Para o psicólogo, os fatores psicosso-
mens que se encontram abaixo do peso
ciais envolvidos à obesidade são os que
costumam ter maior tendência à depres-
mais merecem destaque. Os padrões de
são que aqueles mais pesados (STRAUB,
fome e alimentação variam individual-
2014).
mente. Como a maioria das confraterni-
zações e eventos sociais envolvem a ali- Segundo o mesmo autor, uma série de
mentação, é comum associar o estresse à fatores explica por que muitas dietas não
ingestão de certos tipos de alimentos, ou funcionam. Dentre esses fatores citamos
seja, em situações de estresse agudo ou as expectativas irrealísticas, o incômodo
crônico as pessoas tendem a comer mais da sensação de privação de algo conside-
(STRAUB, 2014). rado prazeroso.
Segundo Nieman (1999), dentre os As dietas de maior sucesso são as
riscos associados à obesidade podem-se intervenções clínicas que incluem
destacar dificuldades emocionais (como alguma forma de pós-tratamento
baixa autoestima e depressão) aumento depois da perda de peso, com apoio
de osteoartrite; aumento de incidência social, programas de exercícios ou
de hipertensão arterial e diabetes; au- continuação do contato com o tera-
17

peuta. [...] Para muitas pessoas, os com expectativas irrealistas e pensamen-


tratamentos em grupo produzem tos autodestrutivos. Esse tipo de terapia
resultados melhores do que inter- objetiva focar na interdependência de
venções de autoajuda individuais sentimentos, pensamentos, comporta-
(STRAUB, 2014, p.198). mentos, consequências, contexto social
e processos fisiológicos. Deve-se também
O objetivo final de um tratamento para
levar em consideração a individualidade
a obesidade é a reeducação alimentar,
de cada paciente, ou seja, os pacientes
perda de peso e sua manutenção, por-
variam quanto ao tipo de tratamento mais
tanto, são recomendáveis programas que
eficaz, pois as pessoas apresentam dife-
incluam dieta, exercícios, modificação de
rentes estilos de personalidade, níveis
comportamento, visando sempre resulta-
de obesidade, história médica e compor-
dos de longo prazo. O psicólogo encontra
tamentos alimentares. “A premissa sub-
espaço dentre a equipe multidisciplinar,
jacente a essas terapias é que os hábitos
evitando que as dietas deem errado.
e as atitudes alimentares devem ser mo-
Em conjunto com os profissionais de dificados de forma permanente para que
saúde, é importante que o usuário ocorra perda de peso e sua manutenção”
dos serviços de saúde reconstrua o (p.199).
modelo de vida saudável e incorpore
A obesidade pode atingir padrões
mudanças de estilo de vida. Não des-
tão alarmantes para o paciente e
prezando as limitações socioeconô-
chegar a ser caracterizada como obe-
micas, presentes na vida da maioria
sidade mórbida, quadro que carrega
dos usuários dos serviços públicos de
grandes implicações para o estado
saúde no Brasil, é fundamental que
geral de saúde do paciente:
a população portadora de excesso
de peso assuma o ônus de reestrutu- Devido ao grande crescimento da
rar suas práticas mais cotidianas de obesidade nas últimas décadas, pro-
saúde, empenhando-se no aumento fissionais de diversas áreas da saúde
de seu tempo de prática de atividade estão sendo requisitadas para tratar
física, bem como a opção por alimen- da obesidade e de suas comorbida-
tos menos ricos em gordura e menos des associadas. No momento, além
energéticos (PINHEIRO; FREITAS; dos tratamentos convencionais para
CORSO, 2004, p.531). obesidade (reorientação nutricional,
uso de agentes antiobesidade e prá-
O papel do psicólogo numa equipe mul-
tica regular de exercícios físicos), a
tidisciplinar – que também engloba pro-
cirurgia bariátrica (CB) é considerada
fissionais como médico, nutricionista,
o tratamento de escolha para obe-
profissional da educação física, dentre
sos graves que não respondem às te-
outros, tem sido cada vez mais valorizado
rapêuticas convencionais (FANDIÑO;
num tratamento complexo da obesidade.
APPOLINARIO, 2006, p.367).
Segundo Straub (2014), a terapia cogni-
tivo comportamental é uma abordagem O psicólogo é um profissional de suma
de sucesso frente às pessoas obesas que, importância na equipe multidisciplinar
normalmente, começam o tratamento que atua com profissionais candidatos a
18

se submeterem à cirurgia bariátrica. No te a lidar com o corpo novo, rotinas novas,


período pré-operatório, uma avaliação padrões alimentares completamente di-
psiquiátrica e/ou psicológica do paciente ferenciados.
se faz de suma importância. Essa avalia-
Em relação aos aspectos psicopa-
ção pode ser auxiliada pelos testes psico-
tológicos apontados como comorbi-
lógicos (os quais são atribuição exclusiva
dades ao quadro de obesidade, após
do psicólogo) e também por entrevistas
a cirurgia, costuma-se observar uma
psiquiátricas estruturadas. Nessa avalia-
melhora no funcionamento psicológi-
ção, objetiva-se rastrear transtornos psi-
co. Entretanto, podem surgir compor-
quiátricos atuais e preexistentes, além
tamentos compulsivos (alcoolismo,
de investigar a capacidade do paciente
impulsividade e bulimia nervosa), o
de lidar com as modificações comporta-
que parece apontar que esses com-
mentais impostas pela cirurgia e mudança
portamentos já existiam antes da ci-
no estilo de vida. A atuação do psicólogo
rurgia, mas eram “camuflados” pela
não se resume ao momento pré-operató-
obesidade, a queixa principal. Alguns
rio, um acompanhamento pós-operatório
pacientes chegam a tentar o suicídio
também é importante para se avaliar o
(FANDIÑO; APPOLINARIO, 2006). Se-
funcionamento psicológico do paciente,
gundo os autores supracitados:
assim como para avaliar possíveis compli-
cações psiquiátricas que podem ocorrer Observamos que, em relação à mor-
nesse período crítico (FANDIÑO; APPOLI- bidade psiquiátrica geral, pacientes
NARIO, 2006). com obesidade grave, candidatos à
cirurgia bariátrica evidenciam uma
Segundo os mesmos autores, para que
prevalência aumentada de transtor-
a cirurgia seja satisfatória é imprescindí-
nos do humor, alguns transtornos de
vel que o paciente esteja motivado e bem
ansiedade e história de dependência
informado acerca da cirurgia e das impli-
cações da mesma para a sua vida; além ou abuso de substâncias psicoativas.
disso, devem se conscientizar de que o Na categoria dos transtornos do hu-
processo não se resume ao procedimento mor, o transtorno depressivo (histó-
cirúrgico, faz-se necessário um tratamen- ria atual e/ou passada) parece ser o
to de longo prazo. diagnóstico mais prevalente (p.372).

Mais uma vez observamos como a mu- Em síntese, o psicólogo que trabalha
dança de comportamento do paciente é com pacientes de cirurgia bariátrica deve
essencial nos tratamentos de pacientes ficar muito atento em sua avaliação pré-
obesos e como a atuação do psicólogo é -operatória, já que ele é um dos profis-
imprescindível para auxiliá-lo a lidar com sionais responsáveis por recomendar ou
as mudanças decorrentes do emagreci- não o procedimento e, caso ele apresente
mento. No caso dos pacientes que se sub- algumas das condições enumeradas an-
metem à cirurgia bariátrica, as mudanças teriormente, o risco é de não resolver o
que ocorrem no corpo costumam ser mais problema da obesidade, como também de
rápidas e significativas, assim o paciente favorecer o surgimento de outras condi-
precisa estar preparado psicologicamen- ções graves a ponto de levarem o pacien-
19

te ao óbito. Mais que isso, é importante boa autoestima é uma pessoa mais sau-
conscientizar o paciente da necessidade dável, que lida melhor com as adversida-
de acompanhamento psicológico pós-ci- des impostas pela vida. Mas, o que é auto-
rúrgico, pois as mudanças de autoimagem estima? Segundo Papalia, Olds e Feldman
e comportamentos alimentares também (2006), autoestima significa gostar de si
podem ser danosas ao paciente. Assim, mesmo de modo genuíno e altruísta; não
vemos que há demanda de trabalho para se trata de excesso de valorização de si
o psicólogo tanto em nível clínico (con- mesmo ou de arrogância e egocentrismo.
sultório, ambulatório), quanto no próprio Gostamos do que realmente somos, acei-
hospital. As intervenções podem ser indi- tando nossas próprias habilidades e limi-
viduais ou em grupo. tações. O papel do outro é importante no
desenvolvimento da autoestima, sejam
Entendemos que esse deve ser o último
eles familiares, amigos, ou mesmo desco-
recurso utilizado em pacientes que apre-
nhecidos. Afirmar que um sujeito possui
sentam obesidade mórbida e suas compli-
uma autoestima elevada é o mesmo que
cações, não como um simples recurso de
dizer que ele tem um julgamento positivo
emagrecimento para pacientes que não
de si mesmo.
conseguem modificar seus hábitos ali-
mentares e estilo de vida sedentário. A partir dessa definição, é possível per-
ceber que a autoestima de uma pessoa
c) Transtornos alimentares
com transtorno alimentar (ou às vias de
Assim como ocorre com a obesidade, os desenvolver um desses transtornos) não
transtornos alimentares são um problema é positiva, por isso é necessária uma aten-
muito frequente na atualidade e mere- ção especial no que diz respeito à atenção
cem a atenção da equipe multidisciplinar a este público-alvo, o que será elucidado
em saúde, em especial o psicólogo. Fala- a seguir.
remos aqui sobre a anorexia nervosa, a
Outro conceito que precisa ser escla-
bulimia nervosa e o transtorno dismórfico
recido e que caminha muito próximo da
corporal (vigorexia).
autoestima é a autoimagem. Define-se
Numa sociedade marcada pelo culto autoimagem como a forma como as pes-
ao corpo, onde a necessidade de se mos- soas vêm e percebem o seu próprio cor-
trar se faz evidente, marcada pela busca po, percepção essa que sofre influência
incessante aos ideais de beleza impos- de aspectos físicos, psicológicos e cultu-
tos pela mídia, os quais são muitas vezes rais. Importante destacar que a insatis-
inatingíveis pela maioria das pessoas, os fação com a imagem corporal é comum
transtornos alimentares e da imagem cor- nos transtornos alimentares, associados
poral tornam proporções alarmantes. à adolescência, como também na fase do
envelhecimento, marcada por uma série
Dentre os fatores psicológicos, um que
de mudanças no esquema corporal, como
merece destaque é a autoestima. Ter uma
sinaliza pesquisa de Pereira e colaborado-
boa autoestima é fator protetor não ape-
res (2009).
nas para os transtornos alimentares, mas,
sem sombra de dúvidas, uma pessoa com Os distúrbios alimentares podem ser
20

ocasionados tanto por fatores invariá- temente esses pacientes apresen-


veis – como genética, personalidade e tam traços de personalidade como
antecedentes familiares – quanto por fa- preocupações e cautela em excesso,
tores mutáveis, como aqueles relaciona- medo de mudanças, hipersensibili-
dos ao ambiente esportivo e sociocultural dade e gosto pela ordem (BORGES et
(WEINBERG; GOULD, 2006). al., 2006, p.341).

Anorexia Straub (2014) elucida que essa condi-


ção pode ocasionar complicações graves,
Segundo Borges e colaboradores
tais como redução da função da tireoide;
(2006), a anorexia nervosa é um transtor-
frequências cardíaca e respiratória irregu-
no alimentar que se caracteriza por perda
lares; diminuição da pressão arterial; pele
significativa de peso que acontece após
ressecada e amarelada; fragilidade dos
ocorrência de dieta extremamente res-
ossos; anemia, tontura e desidratação;
trita. A pessoa que sofre com esse trans-
inanição, amenorreia (cessação do fluxo
torno apresenta uma verdadeira busca
menstrual), dentre outras condições.
desenfreada pelo padrão de magreza que
deseja atingir e a sua autoimagem encon- Bulimia
tra-se distorcida. Além disso, as mulheres
Normalmente, os bulímicos são pes-
com esse problema começam a apresen-
soas de baixa autoestima que se tornam
tar alterações do ciclo menstrual.
depressivas e, num comportamento com-
O portador da anorexia nervosa pos- pulsivo, comem excessivamente numa
sui o agravante de não se enxergar como tentativa de se sentirem melhor. Porém,
anormal, correndo sério risco de morte com a ingesta excessiva surge o senti-
por inanição ou devido a complicações de- mento de culpa, assim o indivíduo induz o
correntes de seu estado de saúde. Duran- vômito ou toma laxantes numa tentativa
te as refeições observa-se que essas pes- de expelir o que foi ingerido compulsiva-
soas beliscam a comida, remexem o prato, mente. Ao contrário do que acontece com
comem alimentos pouco calóricos e men- o anoréxico, o bulímico sabe que tem um
tem sobre a sua alimentação (WEINBERG; problema, porém em alguns casos a buli-
GOULD, 2006). mia pode levar à anorexia. No dia a dia é
comum observar que essas pessoas es-
Geralmente os pacientes relatam
condem comida e desaparecem após as
que o início do quadro se deu após
refeições (normalmente é comum o vômi-
um fator estressante como algum
to ou a diarreia como efeito dos laxantes)
comentário sobre seu peso, ou o tér-
(WEINBERG; GOULD, 2006).
mino de relacionamento, ou perda de
ente querido. Paulatinamente, o pa- A bulimia caracteriza-se, então, por um
ciente passa a viver exclusivamente comportamento compulsivo seguido da
em função da dieta, do peso, da for- purgação. Diferente do que acontece com
ma corporal, das atividades físicas, a anorexia nervosa, esse transtorno difi-
de tabela de calorias e do medo pa- cilmente leva ao óbito, porém também im-
tológico de engordar. Concomitan- plica em consequências graves, tais como
21

dependência de laxantes; hipoglicemia; nados devido a vários fatores:


dentes danificados pelo ácido clorídrico
A abordagem consensual inte-
presente do vômito frequente; sangra-
grando os vários fatores que con-
mento do estômago devido à indução dos
tribuem para o desenvolvimento de
vômitos; anemia e desequilíbrio dos ele-
um transtorno alimentar é o modelo
trólitos causados pela frequente perda de
biopsicossocial, que tem a vantagem
minerais essenciais ao bom funcionamen-
de levar em conta toda a sorte de fa-
to do organismo (STRAUB, 2014).
tores, desde os mais amplos, como
Dismorfia muscular ou vigorexia os culturais, até os mais específicos,
como os biológicos (ÁVILA; NUNES,
Ao contrário do que foi abordado até
2006, p.95).
aqui, com a anorexia e bulimia, transtornos
associados à percepção da imagem corpo- Estudos sobre a questão da influência
ral que atingem principalmente mulheres, de fatores biológicos (como anormalida-
a dismorfia muscular (ou vigorexia) é um des bioquímicas) ainda são inconclusivos,
transtorno que acomete, em sua maioria, por outro lado, estudos mostram influên-
indivíduos do sexo masculino. Segundo cias genéticas significativas nos transtor-
Assunção (2002), a preocupação desses nos alimentares (STRAUB, 2014).
homens em relação à sua autoimagem diz
Outros teóricos afirmam que as
respeito a tornarem-se fortes e musculo-
raízes dos transtornos da alimen-
sos, padrão de corpo ideal, imposto pela
tação podem ser encontradas em
mídia, ou seja, semelhante ao que ocorre
certas situações psicológicas, como
com o padrão de corpo magro, almejado
ambientes sociais semifechados e
por muitas mulheres.
competitivos de algumas famílias,
Um homem grande e musculoso que equipes atléticas e grupos universi-
tem a dismorfia muscular sente-se pe- tários (LESTER; PETRIE, 1998 apud
queno e franzino quando se olha no es- STRAUB, 2014, p.204).
pelho. Em consequência dessa percepção
Há indícios de que vários fatores indivi-
distorcida adota algumas medidas, tais
duais contribuem para o surgimento dos
como dieta hiperproteica, suplementos
transtornos alimentares, tais como tra-
alimentares, uso de anabolizantes, ativi-
ços de personalidade e baixa autoestima,
dade física exagerada (focam na muscula-
além de experiências pessoais e interpes-
ção e rejeitam atividade aeróbica). As con-
soais, como abuso sexual, eventos trau-
sequências desse estilo de vida impactam
máticos e bullying escolar, caracterizado
o funcionamento biopsicossocial do indi-
por apelidos vexatórios em decorrência
víduo (OLIVARDIA, 2001 apud ASSUNÇÃO,
do peso (ÁVILA; NUNES, 2006).
2002).
Em relação aos fatores socioculturais,
Fatores biopsicossociais e trata-
mento psicológico observa-se que a anorexia e a bulimia
acometem mais mulheres do que homens.
Os transtornos alimentares são É mais frequente nas culturas ocidentais,
bastante graves e podem ser ocasio- que apresentam preocupação com o peso.
22

Segundo a visão sociocultural, as que visam abordar os transtornos


dietas e o comportamento alimentar alimentares podem ser tanto a nível
desordenado são as respostas com- de prevenção quanto para quando o
preensíveis das mulheres aos seus problema já houver se instalado:
papéis sociais e aos ideais culturais
de beleza (SEID, 1994 apud STRAUB, As evidências atuais sugerem que
2014, p.204). os programas de prevenção especí-
ficos podem reduzir fatores de risco
A mídia também reforça os ideais de potenciais em adolescentes e uni-
magreza, talvez em proporções menores versitárias [...]. Esforços para preve-
do que costumamos imaginar, mas sua nir esses transtornos são essenciais,
influência não pode ser desconsiderada em função da sua alta prevalência
(STRAUB, 2014). em jovens e do consequente impacto
Os ideais de magreza impostos pela so- na saúde, tanto física quanto psicos-
ciedade mostram-se cada vez mais difí- social, além dos elevados custos do
ceis de serem alcançados e a esses ideais tratamento (ÁVILA; NUNES, 2006,
de magreza associam-se a simbologia de p.100-101).
sucesso, eficiência e perfeição. “No en- Em relação aos tratamentos dis-
tanto, os aspectos socioculturais, por si poníveis para a problemática dos
sós, não determinam isoladamente o de-
transtornos alimentares vale a pena
senvolvimento dos transtornos alimenta-
ressaltar que uma abordagem efi-
res” (ÁVILA; NUNES, 2006, p.96).
caz deve incluir a atenção de equipe
Há suficientes evidências de que as multidisciplinar. Como nosso foco é a
famílias influenciam atitudes e valo- psicologia, iremos enfocar apenas a
res de seus filhos, o que pode aumen- possibilidade de atuação desse pro-
tar o risco para o desenvolvimento fissional nos pacientes com esse tipo
de um transtorno alimentar. É pouco de transtorno, como mostra a citação
provável, no entanto, que essa influ- a seguir:
ência, por si só, seja suficiente para
desencadear tais patologias, a me- Diversas terapias são utilizadas para
nos que seja combinada com outro tratar anorexia, bulimia e transtorno
fator, como vulnerabilidade biológi- de compulsão alimentar. Entre elas,
ca ou psicológica, como demonstrou estão a alimentação forçada, a tera-
estudo de Davis e colaboradores pia familiar, a terapia interpessoal,
(2004) (ÁVILA; NUNES, 2006, p.98). a terapia comportamental dialética,
a hipnose e as abordagens psicodi-
Devido à multiplicidade de fatores nâmicas (WILSON; GRILO; VITOUSEK,
envolvidos na etiologia desses trans- 2007).
tornos, para a abordagem do mes-
Especialistas concordam que o trata-
mo se faz necessária uma equipe
mento deve abordar o comportamento e
multidisciplinar, na qual o psicólogo
as posturas que perpetuam a alimentação
encontra-se inserido. Os programas
desregrada (STRAUB, 2014, p.208).
23

Galvão, Pinheiro e Nunes (2006) tes. Da mesma forma, a abordagem


corroboram essa citação, ao afirma- cognitivo-comportamental tem le-
rem que: vado em conta a relação terapêuti-
ca e os transtornos na autoestima
Os transtornos alimentares (TA) são dos pacientes. Psicoterapeutas de
tidos como patologias difíceis de diferentes escolas enfatizam que é
abordar devido a sua complexa etio- importante o paciente reconhecer e
logia. Seu aspecto multidimensional expressar afetos e explorar padrões
traduz a necessidade de integrar vá- de interação familiar. Também reco-
rias técnicas psicoterápicas, como a nhecem a relevância dos aspectos
psicoeducacional, a cognitivo-com- do processo de desenvolvimento,
portamental e as psicodinâmicas, como separação, autonomia, temo-
que podem ser aplicadas individu- res sexuais e formação de identi-
almente, em grupo ou com a família dade (GALVÃO; PINHEIRO; NUNES,
(p.137). 2006, p.139).
Segundo Straub (2014), o TCC é uma linha A terapia familiar apresenta resultados
de grande aplicabilidade em pacientes bu- satisfatórios para pacientes anoréxicos,
límicos e compulsivos alimentares, já que pois todos os membros da família apren-
visa aumentar a motivação para mudar; dem formas mais saudáveis de interagir
substituir dietas prejudiciais à saúde por entre si e assim resolver seus conflitos. O
padrões de alimentação adequados; re- papel dos pais pode ser decisivo para au-
duz a preocupação do paciente com seu xiliar na modificação do comportamento
peso e previne recaídas do problema. nocivo, principalmente no caso de filhos
Estudos mostram a eficácia da terapia adolescentes anoréxicos, que costumam
cognitivo-comportamental em pacientes requerer maior monitoração (GALVÃO; PI-
com transtornos alimentares, mas isso NHEIRO; NUNES, 2006; STRAUB, 2014).
não afirma que outras linhas de psicote- A atuação do psicólogo nos transtor-
rapia não sejam válidas, pois cada pacien- nos alimentares pode ser a nível clínico ou
te é único. Observa-se que as estraté- hospitalar. Lembrando-se que nos caso de
gias mais efetivas devem considerar uma anorexia pode haver até mesmo risco de
compreensão mais ampla dos processos morte, a intervenção psicológica a nível
de mudança psicológica e outros fatores hospitalar se faz muito necessária, porém,
que possam estar associados às mudan- para um tratamento satisfatório, a conti-
ças sintomatológicas (GALVÃO; PINHEIRO; nuidade do mesmo se faz imprescindível
NUNES, 2006). Ou seja, a questão da mu- mesmo após a alta hospitalar. Fica regis-
dança de comportamento também se faz trado que sem a atuação do psicólogo na
essencial nesses quadros. equipe interdisciplinar que atenderá a es-
Terapeutas psicodinâmicos têm re- ses pacientes o prognóstico dos transtor-
conhecido a importância de focalizar nos alimentares pode não ser satisfató-
os aspectos da alimentação, peso e rio devido à necessidade de mudança de
reeducação alimentar dos pacien- comportamentos extremamente nocivos
24

para outros saudáveis. Abstinência: sintomas físicos e


psicológicos desagradáveis que ocorrem
d) Abuso de substâncias
quando a pessoa para de usar determina-
A questão do abuso de substâncias é da substância de forma abrupta.
algo que merece ser discutido em nossa
Uso de substâncias: ingestão de
sociedade. Enquanto algumas substân-
uma substância, independentemente da
cias, como o álcool, são bem vistas em reu-
quantidade ou do efeito da ingestão.
niões sociais e até mesmo em ritos religio-
sos, outras, tais como as drogas ilícitas, Substâncias psicoativas: substân-
medicamentos que causam dependência cias que afetam o humor, o comportamen-
e tabaco não são bem vistos. De qualquer to e os processos de pensamento, alte-
forma, ressalta-se que todas as substân- rando o funcionamento dos neurônios no
cias são fonte de prazer para as pessoas cérebro; incluem estimulantes, tranqui-
que delas fazem uso, porém o abuso das lizantes e alucinógenos (STRAUB, 2014,
mesmas pode ser extremamente nocivo à p.218).
saúde.
A partir dessas definições, afirmamos
O abuso de substâncias pode ser com- que todas as pessoas, em determinado
preendido como o uso de qualquer subs- momento da vida, podem vir a fazer uso
tância em um nível que interfira negativa- de uma substância, porém nem todas irão
mente nos domínios biológico, psicológico manifestar comportamentos adictivos ou
ou social nos quais o indivíduo encontra- se tornar dependentes.
-se inserido. Algumas dessas substâncias
O abuso de drogas tem aspectos de
são denominadas legais – como os medi-
reforços negativos e positivos. Os
camentos – mas esses também podem ser
adictos habitualmente abusam de
consumidos de forma abusiva. “O uso de
drogas para escapar aos aspectos
substâncias ilegais, álcool e tabaco causa
psicológicos e físicos da abstinência,
mais morte, doença e incapacidades do
desse modo reforçando negativa-
que qualquer outro problema de saúde
mente o uso de drogas. As pessoas
evitável” (ROBERT WOOD JOHNSON FUN-
também tomam drogas para esque-
DATION apud STRAUB, 2014, p.215).
cer seus problemas ou lidar com o
Para darmos continuidade a esse racio- estresse, e isso também envolve re-
cínio, algumas definições precisam ser re- forço negativo. [...] O uso de drogas
alizadas: também é positivamente reforça-
do. As pessoas usam drogas para se
Adicção: padrão de comportamen-
sentir bem. O potencial de adicção de
to caracterizado por dependência física
uma droga específica é determinado
e possivelmente psicológica, bem como
pela velocidade de seus efeitos re-
pelo desenvolvimento de tolerância.
compensadores (GAZZANINGA; HEA-
Dependência: estado em que uso THERTON, 2005, p.204-205).
de uma substância é necessário para que
Diferentes modelos explicam como
uma pessoa funcione normalmente.
as pessoas se tornam dependentes,
25

aqui iremos mencionar apenas os importante que a busca de ajuda parta do


modelos de aprendizagem social. Se- próprio dependente, o qual deve-se cons-
gundo esse modelo: cientizar de seu comportamento de risco.
Faz-se necessária a atuação de uma equi-
Embora as substâncias psicoativas pe multidisciplinar em saúde, dentre eles
de fato produzam alterações neuro- o psicólogo, visando, em linhas gerais,
químicas, e a pesquisa mostre os fa- modificação de comportamento.
tores de risco hereditários na depen-
dência, existem boas razões para Decidir abrir mão de uma substância –
considerar a dependência um com- seja álcool, tabaco, drogas ilícitas ou fár-
portamento moldado pela apren- macos – implica em uma série de modifi-
dizagem, assim como por fatores cações, já que muitas situações envolvem
sociais e cognitivos (STRAUB, 2014, a substância em questão. Assim, a pes-
p.223). soa normalmente precisa modificar seu
círculo social (composto por pessoas que
Segundo o mesmo autor, os efeitos também compactuam do seu vício), parar
fisiológicos prazerosos de determinada de frequentar certos locais (onde ocorria
substância no organismo, assim como ou- o uso e a compra das substâncias), den-
tros aspectos gratificantes da situação tre outras atitudes que implicam numa
social envolvidos no uso dessa substân- mudança radical de comportamento. Em
cia, aparecem como estímulo a este com- suma, a pessoa precisará abrir mão de
portamento. uma substância que lhe proporcionava
Considerar-se um usuário pesado de uma sensação extremamente prazerosa,
álcool ou tabaco, por exemplo, pode de situações e pessoas também de seu
levar à adoção de um certo estilo de agrado, em busca de um novo estilo de
vida que torna a abstinência uma ta- vida, mais saudável e regrado. O papel da
refa monumental, que envolve um psicologia encontra espaço nesse contex-
novo sentido de self. Indivíduos que to.
bebem cujas redes sociais giram in- O psicólogo pode atuar em contexto clí-
teiramente em torno do bar do bairro nico (consultório e ambulatório), em hos-
têm especial dificuldade para parar pitais gerais. Com a reforma psiquiátrica e
de beber (STRAUB, 2014, p.233). toda a mudança destinada ao atendimen-
Entretanto, o oposto também é verda- to aos portadores de transtornos mentais
deiro. Ao se pensar em estratégias de pre- (dentre eles incluem-se os dependen-
venção ao abuso de substância é possível tes químicos), os hospitais psiquiátricos
concluir que instituições como família, es- fecharam suas portas e surgiram novas
cola e Igreja podem ser fatores protetores alternativas para um tratamento mais
ao abuso de substâncias, principalmente humanizado a esses pacientes. Dessa for-
entre os adolescentes (STRAUB, 2014). ma, o psicólogo também encontra espa-
ço nas residências terapêuticas, centros
A questão da dependência química é de atenção psicossocial – álcool e drogas
bastante complexa e não será pormeno- (CAPS-AD) e clínicas destinadas ao trata-
rizada aqui, pretendemos ressaltar que é
26

mento específico de pessoas dependen- Mudamos nosso foco da prevenção


tes de substâncias. primária para a prevenção secun-
dária, ou seja, de ações delineadas
Nesses contextos diversificados, o tra-
para prevenir doenças ou ferimentos
tamento pode ser individual, em grupo e
para ações que visam a identificar e
extensivo aos familiares. Merecem desta-
tratar a doença no começo do seu
que os grupos de ajuda mútua, como AA
curso (STRAUB, 2014, p.341).
(Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos
Anônimos), os quais funcionam em diver- A busca de ajuda é uma etapa muito
sas comunidades e oferecem resultados importante nas situações que envolvem
satisfatórios. o binômio saúde-doença. Sabe-se que em
determinadas situações as chances de
Os grupos de autoajuda como o AA,
sucesso de determinado tratamento se
normalmente envolvem discussões
fazem maiores quanto mais cedo for seu
em grupo sobre experiências dos
diagnóstico.
membros na recuperação do abuso
do álcool. Os membros se benefi- Partimos do pressuposto de que, em
ciam conectando-se com uma nova muitas situações, o próprio paciente nota
rede de pessoas que não bebem e que há algo de errado com ele (do ponto
compartilhando seus temores e pre- de vista biopsicossocial) e, a partir dessa
ocupações com a recaída (STRAUB, constatação, ele se dirige a um profissio-
2014, p.235). nal de saúde em busca de verificar o que
realmente está ocorrendo para, a partir
Definimos anteriormente como deter-
daí, iniciar o tratamento adequado. Entre-
minados comportamentos adotados pelo
tanto, nem sempre é isso que acontece,
indivíduo ao longo do seu curso de vida po-
algumas pessoas, por determinados mo-
dem ser preditores tanto da saúde quanto
tivos, não buscam socorro logo. Quando
da doença. Também buscamos compreen-
falamos de pedir ajuda profissional, nor-
der como o psicólogo pode ser importan-
malmente pensamos no médico, porém,
te frente os pacientes que apresentam
dependendo do problema, o paciente
esses comportamentos insalubres, já que
pode buscar outros profissionais da equi-
a mudança de comportamento se faz ne-
pe de saúde, inclusive o psicólogo. Na
cessária, porém pode ser bastante difícil
saúde pública isso não acontece devido
para o paciente. Tentaremos agora enten-
à dinâmica do SUS, nem no contexto dos
der como se dá a busca do paciente pelo
planos de saúde, já que em ambos os ca-
tratamento.
sos se faz necessário o encaminhamento
do médico.
2.2 Procurando tratamento
Em relação ao psicólogo, como foi fala-
Recapitulando o que foi falado no início
do na primeira apostila do curso, em con-
desta apostila sobre os níveis de preven-
textos ambulatoriais (consultório, clínica
ção, concluímos que a pessoa que busca
e ambulatório) é o paciente quem vai até
ajuda profissional já apresenta alguma
o profissional em busca de ajuda, porém,
condição instalada.
em contexto hospitalar, o movimento é
27

oposto, como o paciente se encontra im- não buscarem auxílio profissional


possibilitado, na maioria das vezes, é o quando sentem algo anormal:
psicólogo que vai até ele a partir de algum
encaminhamento de outro profissional Podemos evitar procurar um médico
que compreende que há uma queixa psi- por acreditarmos que os sintomas
cológica. não sejam graves e tudo o que pre-
cisamos seja 1 ou 2 dias de folga, tal-
A comunicação profissional-pacien- vez uma medicação simples ou cui-
te é um ponto chave num momento dar melhor de nós mesmos. Podemos
inicial, como expresso na citação a evitar o uso dos serviços de saúde
seguir: por não possuirmos seguro de saúde
ou temermos não poder pagar pelo
Os fatores sociais e psicológicos têm
atendimento. Podemos ainda ter
impactos direto e indireto nessas
medo de que o sintoma seja sinal de
relações. Em primeiro lugar, esses
doença grave e, assim, a inatividade
fatores influenciam muito quando e
resulta da negação. Finalmente, po-
como as pessoas começam a aceitar
demos evitar o cuidado médico por
que estão doentes. Em segundo, a
suspeitarmos do sistema de saúde
confiança das pessoas nos profissio-
e duvidarmos de sua capacidade de
nais da saúde influencia sua satis-
tratar nossa condição de forma efi-
fação com o tratamento e o quanto
caz (STRAUB, 2014, p.345).
respondem a ele. Em terceiro, o nível
e a qualidade da comunicação entre É importante para o psicólogo compre-
pacientes e profissionais da saú- ender os motivos que levam uma pessoa a
de têm uma influência indireta em não procurar os serviços de saúde quan-
quase todos os aspectos do atendi- do sente algo anormal, já que, em meio a
mento de saúde, incluindo como os tantas campanhas de educação em saú-
pacientes decidem quando precisam de, muitas pessoas que, por algum desses
de atenção médica, por que, às ve- motivos, não pedem ajuda acabam sendo
zes, as pessoas ignoram sintomas e taxadas de várias coisas e culpabilizadas
por que elas, às vezes, seguem com por seu estado. Não é papel do psicólogo
cuidado as instruções do profissio- julgar as escolhas do paciente, mas com-
nal, mas não em outras ocasiões preender que, em muitas situações, há
(STRAUB, 2014, p.341). motivos fortes que o levam a não buscar
um tratamento. A negação é um desses
Nem todas as pessoas buscam motivos: de forma consciente ou incons-
atendimento de saúde quando apre- ciente, mesmo em meio a sinais e sinto-
sentam algum tipo de sintoma e dis- mas, o paciente nega que há algo ocor-
so pode-se inferir que uma série de rendo com ele. Além da negação, outras
razões justifica tal atitude por parte atitudes do paciente diante de uma doen-
do paciente, mesmo as mais esclare- ça grave serão discutidas num momento
cidas. A citação abaixo elucida alguns posterior desse curso.
dos motivos que levam as pessoas a
Alguns fatores influenciam na busca de
28

tratamento, tais como idade, gênero, sta- e, por que não falar, em mais anos de vida.
tus socioeconômico e condições culturais.
Já ao se analisar a questão de gênero,
Falaremos brevemente sobre apenas so-
a partir da adolescência é mais comum a
bre os dois primeiros.
busca de serviços de saúde pelas mulhe-
Dentre as faixas etárias, é mais co- res, em detrimento dos homens (COSTA-
mum a ida aos serviços de saúde na -JÚNIOR; MAIA, 2010, STRAUB, 2014). No
infância e na terceira idade (STRAUB, Brasil, as campanhas de prevenção à saú-
2014). Em relação à questão da ida- de da mulher são mais antigas e mais nu-
de, segundo o mesmo autor: merosas se comparadas às campanhas de
prevenção à saúde do homem.
Na faixa etária avançada, os este-
reótipos de idade, que são comuns Em relação à saúde da mulher, cam-
entre os profissionais da saúde e panhas como as de prevenção do câncer
mesmo em alguns idosos, podem re- feminino (mama, colo do útero, ovários),
presentar obstáculos importantes de doenças sexualmente transmissí-
para o alcance e a manutenção da veis, além de campanhas que incentivam
saúde. Entre esses obstáculos, es- o pré-natal e parto normal, redução da
tão as visões de que a velhice é um mortalidade materna, enfrentamento da
período de declínio inevitável, que os violência contra a mulher, planejamento
idosos geralmente não conseguem familiar, assistência ao climatério, assis-
ou não estão dispostos a mudar de tência às mulheres negras e população
estilo de vida e comportamento, que GLBTT podem ser citadas como de grande
sua adesão a regimes de tratamento relevância (SUS, 2013).
e intervenções preventivas é baixa As imagens a seguir ilustram essas
e que os benefícios ganhos com in- campanhas, as quais são normalmente
tervenções voltadas para o estilo de conduzidas por profissionais da medicina
vida e o comportamento nesse está- e da enfermagem, mas também podem
gio da vida são mínimos (p.346-347). contar com a atenção dos demais profis-
Como foi possível observar na citação sionais da equipe de saúde, dentre eles o
anterior, esse estereótipo de velhice en- psicólogo.
quanto sinônimo de doença e dependên-
cia influencia as atitudes dos profissionais
de saúde muito negativamente. Ou seja,
observamos que em muitas situações não
adianta o idoso procurar os serviços de
saúde (coisa que ele faz muito mais que os
mais jovens), pois ele costuma ser aten-
dido por profissionais que não acreditam
que, mesmo em idade avançada, é impor-
tante prevenir doenças e investir na mu-
dança de comportamentos de vida saudá-
veis em busca de melhor qualidade de vida
29

Figura 2: Prevenção ao câncer de mama e de colo do útero (nível municipal)

Fonte: Dr Roger Augusto, s.d.

No que diz respeito à saúde do homem:

A COORDENAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE DOS HOMENS (CNSH/DAET/SAS/MS) é res-


ponsável pela implementação da Política Nacional de Atenção Integral da Saúde do
Homem/PNAISH, que foi instituída pela Portaria nº 1.944/GM, do Ministério da Saúde,
de 27 de agosto de 2009.

Sua atuação é desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos: Acesso e Acolhimen-
to, Saúde Sexual e Reprodutiva, Paternidade e Cuidado, Doenças prevalentes na popula-
ção masculina e Prevenção de Violências e Acidentes (SUS, s.d.).
A figura a seguir, da política de saúde do homem, mostra a importância do homem se
conscientizar sobre a prevenção e a promoção da saúde:
30

Figura 3: Política de atenção integral à Saúde do homem

Fonte: UFJF, 2014

Conforme já apresentamos num tidade de doença, ela acabou sendo


outro momento, na idade adulta é co- mais cuidadosa (Enfermeiro, 30a)
mum observarmos diferenças entre (COSTA-JÚNIOR; MAIA, 2010, p.22).
os padrões de busca de atendimen-
to à saúde entre homens e mulheres. Em síntese, é errôneo afirmar que as
Costa-Júnior e Maia (2010) realiza- mulheres adoecem mais que os homens,
na verdade elas têm maior probabilidade
ram uma pesquisa com profissionais
de perceber seus sintomas e relatá-los
de saúde e os relatos apresentados
aos profissionais capacitados, se compa-
a seguir corroboram a afirmação de
radas aos homens (STRAUB, 2014).
Straub (2014) sobre a questão da di-
Ao contrário das pessoas que evitam
ferença entre os gêneros: procurar os serviços de saúde devido a
uma série de motivos, existem outras
[...] Homem é durão, homem não
que costumam procurar médicos exces-
fica doente. “Magina! Você vai no
sivamente, mesmo quando não há uma
médico pra quê? Tá tudo bem, você
necessidade real. São as pessoas denomi-
tá forte aí” (Enfermeira, 26a).
nadas hipocondríacas. A hipocondria pode
[...] culturalmente, foi desenvol-
ser compreendida como uma condição em
vida essa preocupação maior com a
que a pessoa experimenta uma ansieda-
mulher. Até porque é maior a quan-
31

de anormal em relação à sua própria saú- res, enganadores, ou mesmo oportu-


de, ou seja, há uma falsa crença de que se nistas em função dessa preocupação
está doente, quando, na verdade, não há excessiva com seu estado de saúde. A
problema algum. A pessoa hipocondríaca, citação a seguir deixa isso bastante
devido a essa crença, começa a apresen- evidente:
tar sintomas imaginários de alguma doen-
ça ou apresenta medo de contrair outras É particularmente injusto – e incorre-
(principalmente medo de contaminação) to – condenar todos os que chamam
(STRAUB, 2014). um profissional da saúde na ausên-
cia de sintomas físicos indiscutíveis,
Um fator subjacente a muitos casos pois o estresse e a ansiedade muitas
de hipocondria parece ser o neuroti- vezes criam inúmeros sintomas físi-
cismo (instabilidade emocional), em cos que parecem sinais de um distúr-
estado de desajuste emocional que bio biológico (MARTIN E BRANTLEY,
abrange diversos traços específicos, 2004).
incluindo timidez, incapacidade de
inibir desejos, vulnerabilidade ao es- Por exemplo, a ansiedade (talvez com
tresse e a tendência a sentir ansie- exames iminentes) pode perturbar o sono
dade, depressão e outras emoções e a concentração, desencadear crises de
negativas (STRAUB, 2014, p.350). diarreia e náusea, suprimir o apetite e
resultar em um estado de agitação geral
É importante que o profissional da (STRAUB, 2014, p.352).
psicologia compreenda que o paciente Muitas pessoas começam a apresentar
hipocondríaco costuma exagerar a inter- esse tipo de sintoma após terem contato
pretação de sintomas vagos e ambíguos, direto e prolongado com algum portador
transformando os mesmos em preocu- de doença grave (como, por exemplo, cân-
pações excessivas com sua saúde. Disso cer e Alzheimer), daí conseguimos compre-
pode-se afirmar que é errôneo acreditar ender que a pessoa que sofre de hipocon-
que todo hipocondríaco é, na verdade, dria passa por um processo de sofrimento
uma pessoa que costuma simular uma psíquico real e necessita da ajuda do psi-
condição de doente (na apostila anterior, cólogo. Porém, nem todos buscam esse
sobre psicossomática, falamos sobre o tipo de ajuda, pois, da mesma forma como
ganho secundário – inconsciente – di- acontece com o paciente psicossomático,
ferindo esse processo do de simulação, não conseguem compreender a finalidade
onde há real intenção de se obter algum de buscar tratar um problema psíquico se,
tipo de benefício através de uma doença) na verdade, suas queixas costumam ser
(STRAUB, 2014). mais ligadas ao físico.
Essa diferenciação se faz muito im-
portante, visto que muitos pacientes
com esse problema são considerados
(principalmente pela família ou mes-
mo pela equipe de saúde) simulado-
32

2.3 Adesão ao tratamento STRAUB, 2014); apoio da família e dos


amigos (TRIEF et al., 2004 apud STRAUB,
2014); percepção de controle e preferência
Como acabamos de elucidar, a busca por pelo domínio do tratamento (CVENGROS et
tratamento de saúde é um fator decisivo al., 2004 apud STRAUB, 2014); regime de
para a boa evolução do quadro. Um proble- tratamento simples, passível de ser seguido
ma que costuma ocorrer – como ressalta- pelo paciente; boa comunicação profissio-
mos anteriormente – é o fato de existirem nal-paciente (STRAUB, 2014).
vários motivos que justificam a demora por Podemos verificar exemplos da impor-
essa procura. Há também pessoas que bus- tância da adesão ao tratamento das doen-
cam excessivamente. Entretanto, o sucesso ças crônicas não transmissíveis. O diabetes
de um tratamento não ocorre apenas se o é uma doença que pode ser prevenida ou
mesmo foi procurado de maneira precoce, tratada desde o início, minimizando custos
há outro fator fundamental em jogo e tam- financeiros e sofrimentos biopsicossociais
bém diretamente relacionado ao sucesso para todos os envolvidos, porém, para que
ou fracasso de um tratamento: a adesão (ou o tratamento seja realmente eficaz, a ade-
aderência) ao mesmo. O que é adesão ao rência ao tratamento é de suma importân-
tratamento? cia, assim como a atenção multidisciplinar,
que inclui o psicólogo.
A adesão ao tratamento é definida de Nieman (1999) mostra que, além da im-
forma ampla como seguir a orientação portância da terapêutica medicamentosa, o
de um profissional de saúde. Isso inclui tratamento da hipertensão arterial implica
orientações relacionadas com medica- em mudanças no estilo de vida, que incluem
mentos e mudanças no estilo de vida perda de peso, mudanças no padrão nutri-
(por exemplo: perder peso ou parar cional (principalmente redução de sal e in-
de fumar), bem como recomendações gestão de potássio), limitar ingestão alcoó-
sobre medidas preventivas (como evi- lica, praticar exercícios regularmente.
tar alimentos gordurosos ou começar Ou seja, concluímos que a adesão ao tra-
um programa de exercícios). A adesão tamento é um processo complexo, não in-
é uma postura e um comportamento. clui apenas idas aos profissionais de saúde e
Como postura, acarreta a disposição uso de medicamentos, mas também outras
de seguir orientações sobre a saúde, atitudes, tais como dietas, atividade física,
como comportamento, está relaciona- dentre outras ações que implicam em mu-
da com o cumprimento de determina- dança de comportamento. Como reforça-
das recomendações. A falta de adesão mos enfaticamente no início dessa seção, as
inclui recusar-se a seguir instruções ou mudanças de comportamentos podem ser
não se esforçar para realizar o trata- bastante difíceis para o paciente, porém es-
mento (STRAUB, 2014, p.352). senciais para determinados tratamentos. O
psicólogo, nessas situações, pode fazer um
Diversos fatores tentam explicar a ade- trabalho no sentido de auxiliar o paciente e
são ao tratamento, tais como bom hu- enxergar a importância das mudanças para
mor, expectativas otimistas e confiança a sua saúde, trabalhar sua ansiedade e de-
no profissional (TURNER et al., 2001, apud
33

pressão decorrentes da atual conjuntura,


auxiliá-lo a se adaptar frente à nova situ-
ação, dentre outras questões que podem
ser trabalhadas no processo terapêutico
com vistas a tornar maior a adesão ao tra-
tamento.
34

UNIDADE 3 - Equipe interdisciplinar

Com o constante avanço científico nas da área de saúde: Biomedicina, Bio-


disciplinas relacionadas à saúde surgem logia, Educação Física, Enfermagem,
cada vez mais profissionais devidamente Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiolo-
capacitados e regulamentados para tra- gia, Medicina, Medicina Veterinária,
balhar, dentro de sua área de atuação, vi- Nutrição, Odontologia, Psicologia,
sando o bem-estar de seu cliente. Assim, Serviço Social e Terapia Ocupacional.
vemos que, se antigamente um agravo Temos, ainda, inúmeras profissões
relacionado à área da saúde era encami- formais de nível médio que partici-
nhado como de responsabilidade exclusi- pam ativamente da atenção à saúde.
va do médico, hoje se entende que deve- (VELLOSO, s.d., p.25)
mos considerar o ser humano como um ser
Oliveira e colaboradores bem com-
holístico, ou seja, um ser biopsicossocial
plementam a definição de equipe in-
e espiritual. Desta forma, pode parecer
terdisciplinar ao afirmarem que:
reducionista atribuir a responsabilidade
pela prevenção ou reabilitação da saúde Interdisciplinaridade pode ser con-
a apenas um profissional, por isso passa- siderada como uma troca intensa de
mos a falar na equipe interdisciplinar em saberes profissionais em diversos
saúde. A partir daí levantamos a seguinte campos, exercendo, dentro de um
questão: mesmo cenário, uma ação de reci-
procidade, mutualidade, que pressu-
O que é e quem compõe essa equi-
põe uma atitude diferenciada diante
pe interdisciplinar?
de um determinado problema (2011,
A equipe interdisciplinar é formada por p.28).
diversos profissionais, de saberes dife-
Conceitualmente, caso quisermos apro-
rentes, oriundos de formações acadêmi-
fundar mais o estudo, encontraremos uma
cas diferentes, o que lhes proporcionam
diferença entre os termos multidisciplinar
diferentes perspectivas de atuação, uma
e interdisciplinar, porém encontramos
espécie de troca de saberes que se com-
obras que se referem à “equipe interdisci-
plementarão, visando o bem-estar do
plinar em saúde” e outras que se referem
cliente, que é abordado de maneira ho-
à “equipe multidisciplinar em saúde” mais
lística. Após conceituarmos equipe inter-
ou menos como se os termos tivessem o
disciplinar iremos detalhar mais acerca do
mesmo significado. Entretanto, os dois
papel do psicólogo dentro da equipe.
conceitos apresentam suas diferenças
Vários profissionais compõem essa conceituais.
equipe, como mostra a citação a se-
A figura a seguir ilustra de maneira
guir:
prática a diferença entre os dois concei-
Temos, atualmente, 14 profissões tos. Araújo (2006), num artigo sobre a
de nível superior, reconhecidas pelo fibromialgia (condição que foi descrita na
Conselho Nacional de Saúde como apostila anterior), elucida como a doença,
35

para ser bem abordada, necessita de um de-se que essa rede de profissionais foi
olhar biopsicossocial para o paciente que definida a partir de três sintomas que ca-
sofre desse mal. racterizam a doença: depressão, insônia e
dor. Segundo Araújo (2004 apud ARAÚJO
A autora demonstrou que uma visão
2006), esses sintomas servem para inte-
mais holística da doença poderia incluir as
grar um trabalho interdisciplinar entre os
áreas de saber da psicologia, antropologia,
diferentes profissionais que abordam a fi-
medicina (especialidades específicas des-
bromialgia e outras síndromes funcionais
critas na tabela) e fisioterapia. Compreen-
somáticas.
Figura 4: Multidisciplinaridade X interdisciplinaridade

Fonte: adaptado de Araújo (2006, p.59).

A partir da figura e do exemplo da equi- A abertura para esses novos aspec-


pe de saúde que irá abordar o paciente tos resultará em futuras construções
portador da fibromialgia, é possível com- sociointeracionistas mais elabora-
preender que no saber multidisciplinar há das, hoje classificadas como inter-
diferentes profissionais abordando um disciplinares que buscam a transdis-
mesmo paciente, um mesmo problema, ciplinaridade (ARAÙJO, 2006, p.59).
entretanto, os saberes dos mesmos não
se relacionam diretamente, é um saber Assim, entendemos a importância do
fragmentado. Já na interdisciplinaridade, trabalho em equipe interdisciplinar, já que,
os profissionais se inter-relacionam com o em primeiro lugar, o cliente (ou paciente,
objetivo de produzir um conhecimento in- caso prefiram), foco do nosso trabalho,
terdisciplinar emergente, o qual abrange sairá ganhando com a atenção de todos
uma conexão entre as diferentes formas os profissionais, cada um a partir do ponto
de saber sobre um mesmo problema – no de vista de sua especialidade profissional.
caso o paciente portador da fibromialgia. Não podemos também deixar de lado que
36

o profissional – independente de qual seja


a sua área de atuação – também sai ga- Como explícito na citação a seguir, o
nhando, já que na equipe interdisciplinar psicólogo é membro da equipe saúde de, a
todos precisam trabalhar com total auto- qual é reconhecida pelo Conselho Nacional
nomia (em sua área de saber, sem invadir de Saúde. Segundo Lazzaretti et al. (2007,
a área de conhecimento do outro e sem se p.27): “Fazer parte de uma equipe multi-
sentir cerceado pelos colegas de outras disciplinar é uma vantagem, pois só assim
profissões). Dividem-se conhecimentos, se poderá apresentar a especificidade do
somam-se experiências, todos saem ga- trabalho psicológico, considerando-se os
nhando. A citação a seguir ilustra como o múltiplos enfoques.” Trabalhar em equi-
trabalho em equipe interdisciplinar é um pe traz benefícios para o paciente e para
atendimento colaborativo: a equipe, porém também pode acarretar
em algumas dificuldades para o psicólogo.
[...] médicos, psicólogos e outros
profissionais da saúde juntam suas É comum ouvir que uma das maio-
forças para melhorar o atendimen- res dificuldades é a de o psicólogo
to ao paciente. O atendimento não é se inserir na equipe. Nem sim e nem
atingido por meio de responsabilida- não, pois se de um lado pode haver
des separadas de pacientes e profis- incredulidade dos demais profissio-
sionais da saúde, mas por sua inte- nais, por outro lado pode haver inse-
ração harmoniosa. (DAW, 2001 apud gurança e talvez falta de definição
STRAUB, 2014, p.341). do próprio psicólogo, que fantasia
que seu lugar está pronto, bastan-
Diferentes autores (STRAUB, 2014; do ocupá-lo sem se dar ao trabalho
LAZARETTI et al., 2007) deixam explí- de construí-lo. Sem dúvida não é um
cito que o psicólogo deve trabalhar trabalho fácil, pois o psicólogo não
de maneira interdisciplinar dentro da tem o mesmo paciente que o médi-
equipe na qual ele se encontra inseri- co. Onde a ciência médica fecha, o
do nos contextos de atendimentos à psicólogo abre. Não se trabalha com
saúde. A citação a seguir ilustra como verdades científicas de um ponto de
vista cartesiano (LAZZARETTI et al.,
ocorre esse trabalho:
2006, p.29).
[...] os psicólogos de saúde clínicos
A seguir veremos três áreas da psico-
trabalham em equipes hospitalares
logia que são distintas, mas apresentam
interdisciplinares. Como parte de um
alguns pontos em comum. Na psicologia
novo modelo de cuidado integrado,
clínica, o trabalho é essencialmente indi-
essas equipes ajudam a melhorar os
vidual, enquanto que na psicologia hospi-
resultados do tratamento médico e a
talar e psicologia da saúde o trabalho se
reduzir os custos e representam um
caracteriza por ser realizado em equipes
modelo de sucesso para sistemas
interdisciplinares.
de saúde futuros (NOVOTNEY, 2010
apud STRAUB, 2014, p.22).
37
UNIDADE 4 - Psicólogo clínico x psicólogo
hospitalar x psicólogo da saúde
Ao longo desse curso nossa ênfase to de um valor simbólico). É redundante,
maior é dada à atuação do psicólogo hos- mas partiremos do pressuposto de que o
pitalar, porém em muitas situações te- psicólogo clínico é o profissional gradua-
mos falado também do psicólogo clínico do em psicologia que exerce a Psicologia
e do psicólogo da saúde, visto que, como Clínica (não tocaremos aqui na questão da
há diferentes contextos em saúde (o que especialização, o que será abordado numa
iremos detalhar em breve), o psicólogo breve ocasião).
precisa compreender que há diferentes
Mas o que é a Psicologia Clínica? Come-
especializações e diversas formas de atu-
çaremos essa tentativa de explanação
ação.
utilizando as palavras de Ribeiro e Leal
O especialista em Psicologia Clíni- (1996), os quais compreendem a psicolo-
ca (CRP, 2003) também atua na área da gia clínica como uma metodologia de in-
saúde em diferentes contextos, além do tervenção que privilegia a relação que se
consultório particular, inclusive em hos- estabelece entre o profissional e o cliente.
pitais, unidades psiquiátricas, programas A partir de diferentes linhas teóricas, este
de atenção primária, postos de saúde, en- profissional visa decodificar o conteúdo
tre outros, prevenindo doenças no âmbi- que o cliente leva até a ele. Esse conteúdo
to primário, secundário e terciário. Como é vivido pelo paciente como sofrimento,
se pode observar, esse conceito, de fato, mal-estar e desadaptação e espera-se,
está intimamente associado ao que é Psi- com a intervenção psicológica, visar à
cologia da Saúde. [...] A Psicologia Clínica promoção da saúde ou mesmo diminuir os
centra sua atuação em diversos contex- problemas que lhe são apresentados.
tos e problemáticas em saúde mental,
A psicologia clínica pode ser aplicada a
enquanto a Psicologia da Saúde dá ênfa-
crianças, adolescentes, adultos e idosos,
se, principalmente, aos aspectos físicos
em contexto individual ou em grupo. Re-
da saúde e da doença (KERBAUY, 2002)
tomando um assunto que foi tratado na
(CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p.50).
primeira apostila, podemos também com-
a) Psicólogo clínico preender que o psicólogo clínico é o pro-
fissional que realiza a psicoterapia.
Definir quem é o psicólogo clínico não
é uma questão simplista. Como pontuare- Compreende-se psicoterapia como
mos no item a seguir, em diversas modali- uma modalidade de tratamento em que
dades institucionais nas quais o psicólogo um profissional treinado a utilizar varia-
possa estar inserido (dentre elas a hos- dos métodos psicológicos (comunicação
pitalar), muitos profissionais acabam por verbal e relação terapêutica) realiza inter-
“exercer uma prática clínica” mesmo fora venções que visam a influenciar o cliente
do contexto clássico: a clínica (particular, e, assim, auxiliá-lo a promover mudanças
clínica-escola, UAPs, social – voltada à po- de problemas emocionais, cognitivos e
pulação de baixa renda com o pagamen- comportamentais (STRUPP, 1978 apud
38

CORDIOLI, 2008). tora, arteterapia, orientação de pais


e outros. Atua junto a equipes multi-
Como o foco do nosso curso é a
profissionais, identificando, compre-
psicologia hospitalar, no próximo
endendo e atuando sobre fatores
item iremos esclarecer acerca da
emocionais que intervêm na saúde
questão da especialização, porém
geral do indivíduo, especialmente
aqui limitaremo-nos a elucidar as
em unidades básicas de saúde, am-
atribuições do psicólogo especia-
bulatórios e hospitais. Atua em con-
lista em Psicologia Clínica descritas
textos hospitalares, na preparação
pelo CFP (2001):
de pacientes para a entrada, per-
Atua na área específica da saúde, manência e alta hospitalar, inclusive
em diferentes contextos, através pacientes terminais, participando de
de intervenções que visam reduzir o decisões com relação à conduta a ser
sofrimento do homem, levando em adotada pela equipe, para oferecer
conta a complexidade do humano e maior apoio, equilíbrio e proteção
sua subjetividade. Estas interven- aos pacientes e seus familiares. Par-
ções tanto podem ocorrer a nível in- ticipa de instituições específicas de
dividual, grupal, social ou institucio- saúde mental, como hospitais-dia,
nal e implicam em uma variada gama unidades psiquiátricas e outros, po-
de dispositivos clínicos já consagra- dendo intervir em quadros psicopa-
dos ou a serem desenvolvidos, tanto tológicos tanto individual como gru-
em perspectiva preventiva, como de palmente, auxiliando no diagnóstico
diagnóstico ou curativa. Sua atuação e no esquema terapêutico proposto
busca contribuir para a promoção de em equipe. Atende a gestante, no
mudanças e transformações visando acompanhamento ao processo de
o benefício de sujeitos, grupos, situ- gravidez, parto e puerpério, contri-
ações, bem como a prevenção de di- buindo para que a mesma possa in-
ficuldades. Atua no estudo, diagnós- tegrar suas vivências emocionais e
tico e prognóstico em situações de corporais. Atua junto aos indivíduos
crise, em problemas do desenvolvi- ou grupos na prevenção, orientação
mento ou em quadros psicopatológi- e tratamento de questões relacio-
cos, utilizando, para tal, procedimen- nadas a fases de desenvolvimento,
tos de diagnóstico psicológico tais tais como adolescência, envelheci-
como: entrevista, utilização de técni- mento e outros. Participa de progra-
cas de avaliação psicológica e outros. mas de atenção primária e centros
Desenvolve trabalho de orientação, e postos de saúde na comunidade,
contribuindo para reflexão sobre for- organizando grupos específicos na
mas de enfrentamento das questões prevenção de doenças ou no desen-
em jogo. Desenvolve atendimentos volvimento de formas de lidar com
terapêuticos, em diversas modali- problemas específicos já instalados,
dades, tais como psicoterapia indivi- procurando evitar seu agravamen-
dual, de casal, familiar ou em grupo, to em contribuir ao bem estar psi-
psicoterapia lúdica, terapia psicomo- cológico. Acompanha programas de
39

pesquisa, treinamento e desenvolvi- sempre atualizado em função das cons-


mento de políticas de saúde mental, tantes transformações que acontecem na
participando de sua elaboração, co- área da saúde.
ordenação, implementação e super-
Segundo o CFP (2001), o psicólogo Es-
visão, para garantir a qualidade da
pecialista em Psicologia Hospitalar:
atenção à saúde mental em nível de
macro e microssistema (p.12-13).

Abordamos a questão do paciente com Atua em instituições de saúde, par-


indicação para cirurgia bariátrica num ticipando da prestação de serviços
outro momento. Num caso como esse, o de nível secundário ou terciário da
atendimento psicológico se mostra es- atenção a saúde. Atua também em
sencial ao sucesso do tratamento. Esse instituições de ensino superior e/
processo iniciará no âmbito da psicologia ou centros de estudo e de pesqui-
clínica (avaliação do paciente), terá um sa, visando o aperfeiçoamento ou a
momento para ocorrer a psicologia hospi- especialização de profissionais em
talar (internação, pré e pós-cirúrgico ime- sua área de competência, ou a com-
diatos) e continuará com a psicologia clíni- plementação da formação de outros
ca, visando à adaptação do paciente à sua profissionais de saúde de nível mé-
nova condição. dio ou superior, incluindo pós- gra-
duação lato e stricto sensu. Atende
b) Psicólogo hospitalar
a pacientes, familiares e/ou respon-
Através da Resolução 014/00 o CFP sáveis pelo paciente; membros da
discorre acerca da instituição do título de comunidade dentro de sua área de
especialista em psicologia que é concedi- atuação; membros da equipe multi-
do pelo respectivo Conselho. Esse é um profissional e eventualmente admi-
ponto que precisa ser ressaltado, em es- nistrativa, visando o bem-estar físico
pecial num curso de pós-graduação, para e emocional do paciente; e, alunos e
se evitar possíveis divergências de inter- pesquisadores, quando estes este-
pretação. jam atuando em pesquisa e assistên-
cia. Oferece e desenvolve atividades
Entende-se, de maneira bem simplifi-
em diferentes níveis de tratamento,
cada, que o Título Profissional de Espe-
tendo como sua principal tarefa a
cialista é concedido pelo CFP, conforme
avaliação e acompanhamento de in-
regulamentado pela Resolução 014/00
tercorrências psíquicas dos pacien-
(CFP, 2000), o que será detalhado a seguir.
tes que estão ou serão submetidos
Por outro lado, os cursos de pós-gradua-
a procedimentos médicos, visando
ção são aqueles oferecidos por institui-
basicamente a promoção e/ou a re-
ções reconhecidas pelo MEC (como o nos-
cuperação da saúde física e mental.
so caso).
Promove intervenções direcionadas
Lazzaretti et al. (2007) elucidam que, à relação médico/paciente, pacien-
independente da titulação, é importante te/família, e paciente/paciente e
que o psicólogo hospitalar se mantenha do paciente em relação ao processo
40

do adoecer, hospitalização e reper- aliza triagens de pacientes, avaliação psi-


cussões emocionais que emergem cológica e psicodiagnóstico; intervém te-
neste processo. O acompanhamen- rapeuticamente em indivíduos e grupos;
to pode ser dirigido a pacientes em oferece orientação psicológica à família
atendimento clínico ou cirúrgico, nas e à equipe de saúde; realiza atividades de
diferentes especialidades médicas. ensino, tais como, orientações e supervi-
Podem ser desenvolvidas diferentes sões a estagiários, cursos de formação;
modalidades de intervenção, depen- atua em pesquisas científicas na área de
dendo da demanda e da formação do saúde (LAZZARETTI et al., 2007, p.21).
profissional específico; dentre elas
Segundo Angerami-Camon (1995),
ressaltam-se: atendimento psicote-
o psicólogo precisa ter em mente que a
rapêutico; grupos psicoterapêuticos;
sua atuação no contexto hospitalar não
grupos de psicoprofilaxia; atendi-
é psicoterápica (nos moldes tradicionais
mentos em ambulatório e Unidade
impostos pelo setting terapêutico). O psi-
de Terapia Intensiva; pronto atendi-
cólogo hospitalar deve buscar, através de
mento; enfermarias em geral; psico-
suas intervenções, minimizar o sofrimen-
motricidade no contexto hospitalar;
to causado pela hospitalização, ou seja,
avaliação diagnóstica; psicodiagnós-
aqueles provenientes da doença em si,
tico; consultoria e interconsultoria.
como também daqueles decorrentes das
No trabalho com a equipe multidis-
implicações causadas pelo processo de
ciplinar, preferencialmente interdis-
hospitalização em si.
ciplinar, participa de decisões em re-
lação à conduta a ser adotada pela O processo de hospitalização deve
equipe, objetivando promover apoio ser entendido não apenas como um
e segurança ao paciente e família, mero processo de institucionaliza-
aportando informações pertinentes ção hospitalar, mas, e principalmen-
à sua área de atuação, bem como na te, como um conjunto de fatos que
forma de grupo de reflexão, no qual decorrem desse processo e suas im-
o suporte e manejo estão voltados plicações na vida do paciente (ANGE-
para possíveis dificuldades opera- RAMI-CAMON, 1995, p.24).
cionais e/ou subjetivas dos membros
da equipe (p.13). Para aprofundarmos acerca da práxis
no psicólogo hospitalar se faz necessário
O psicólogo hospitalar, então, é aquele retomar algumas dessas ideias. Segundo
profissional que atua nas instituições de Angerami-Camon (1995), a inserção da
saúde (hospitalares e ambulatoriais) em psicologia no ambiente hospitalar propor-
nível de assistência, ensino e pesquisa. cionou uma verdadeira revisão nos pos-
tulados já existentes. A partir daí outros
Os objetivos da psicologia hospitalar
conceitos e questionamentos nortearam
são: “Acolher e trabalhar com pacientes
a busca da compreensão da existência hu-
de todas as faixas etárias, bem como suas
mana. Atualmente, observa-se em cursos
famílias, em sofrimento psíquico decor-
de graduação a presença de conteúdos
rente de suas patologias, internações e
relativos à psicologia hospitalar, tais como
tratamentos.” O psicólogo hospitalar re-
41

morte, saúde pública, hospitalização, tros países. Entretanto, esses dois


dentre outras. “É dentro da fé inquebran- conceitos não são equivalentes, em
tável que o psicólogo adquire cada vez primeiro lugar, pelo próprio significa-
com mais nitidez um espaço no hospital do de tais termos – saúde e hospital.
a partir de sua compreensão da condição Enquanto saúde se refere a um con-
humana” (p.16). ceito complexo relativo às funções
orgânicas, físicas e mentais (WHO,
Reiteramos que a psicologia hospitalar
2003), hospital diz respeito a uma
pode ser o primeiro momento em que um
instituição concreta onde se tratam
indivíduo estabelece contato com o psicó-
doentes, internados ou não. Assim,
logo e realmente constata-se que há de-
o próprio significado da palavra saú-
manda para um acompanhamento (para
de levá-nos a refletir sobre a prática
o paciente ou algum familiar, como num
profissional centrada na interven-
exemplo – bebê com diarreia crônica, cuja
ção primária, secundária e terciária.
demanda, na verdade, provinha da mãe)
Já quando nos referimos ao hospital,
psicológico em contexto clínico, mais du-
automaticamente, pensamos em al-
radouro, após a alta hospitalar.
gum tipo de doença já instalada, só
Para finalizar essa seção e iniciarmos sendo possível a intervenção secun-
a posterior, fica explícito um questiona- dária e terciária para prevenir seus
mento levantado por Castro e Bornholdt efeitos adversos, sejam eles físicos,
(2004) acerca da diferença entre psicolo- emocionais ou sociais (p.48-49).
gia hospitalar e psicologia da saúde (o pró-
A tabela a seguir, elaborada pelos auto-
ximo termo a ser definido):
res supracitados, sintetiza essas diferen-
A aproximação ao que seria no Bra- ciações:
sil a Psicologia Hospitalar é deno-
minada Psicologia da Saúde em ou-

Fonte: Castro e Bornholdt (2004, p.55).


42

c) Psicólogo da saúde e a medicina. Como pesquisadores,


identificam os processos psicológi-
A Psicologia da Saúde tem como ob- cos que contribuem para a saúde e
jetivo compreender como os fatores a doença, investigam questões re-
biológicos, comportamentais e so- lacionadas com o porquê de as pes-
ciais influenciam na saúde e na do- soas adotarem práticas que não são
ença (APA, 2003). Na pesquisa con- saudáveis e avaliam a efetividade
temporânea e no ambiente médico, de determinadas intervenções tera-
os psicólogos da saúde trabalham pêuticas (p.22-23).
com diferentes profissionais sanitá-
rios, realizando pesquisas e promo- Assim como enfatizamos em relação
vendo a intervenção clínica. Comple- ao psicólogo hospitalar, a atuação do
mentar a essa definição, o Colégio psicólogo da saúde clínico se dá em to-
Oficial de Psicólogos da Espanha dos os níveis de prevenção. Segundo o
(COP, 2003) conceitua a Psicologia autor supracitado, no Brasil a psicolo-
da Saúde como a disciplina ou o cam- gia da saúde é uma especialidade não
po de especialização da Psicologia existente, porém convém destacar que
que aplica seus princípios, técnicas os psicólogos clínicos e hospitalares
e conhecimentos científicos para são os profissionais que lidam com as
avaliar, diagnosticar, tratar, modifi- questões relacionadas à saúde e à do-
car e prevenir os problemas físicos, ença. Apenas pretendemos destacar
mentais ou qualquer outro relevante que a pesquisa é uma área de interesse
para os processos de saúde e doen- do psicólogo hospitalar e da saúde, por
ça. Esse trabalho pode ser realizado isso se faz tão importante conhecer os
em distintos e variados contextos, métodos de pesquisa utilizados, assim
como: hospitais, centros de saúde como a ética que envolve a pesquisa
comunitários, organizações não-go- com seres humanos.
vernamentais e nas próprias casas Para finalizarmos essa seção, a ci-
dos indivíduos. A Psicologia da Saú- tação a seguir descreve nitidamen-
de também poderia ser compreen- te as diferenciações entre a psico-
dida como a aplicação da Psicologia logia clínica, psicologia hospitalar e
Clínica no âmbito médico (CASTRO; psicologia da saúde:
BORNHOLDT, 2004, p.49).
A Psicologia Clínica propõe um traba-
Segundo Staub (2014), as atribui- lho amplo de saúde mental nos três
ções dos psicólogos da saúde são níveis de atuação – primário, secun-
diversas, como podemos observar dário e terciário – e a Psicologia da
na citação a seguir: Saúde também propõe um trabalho
abrangente nesses mesmos níveis,
Como professores, treinam estudan- mas aplicada ao âmbito sanitário,
tes em campos relacionados à saú- enfatizando as implicações psico-
de, como a psicologia, a fisioterapia lógicas, sociais e físicas da saúde
43

e da doença. No que diz respeito à


Psicologia Hospitalar, sua atuação
poderia ser incluída nos preceitos
da Psicologia da Saúde, limitando-
-se, entretanto, à instituição-hospi-
tal e, em consequência, ao trabalho
de prevenção secundária e terciária
(CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p.51).

Como foi elucidado, a nomenclatura


“Psicologia da Saúde” não é reconheci-
da no Brasil como uma especialização,
mas é importante conhecer esse viés
devido à sua abordagem biopsicosso-
cial do indivíduo, a qual temos reforça-
do que é bastante adequada.
44

UNIDADE 5 - O Psicólogo na saúde pública

Antes de buscarmos compreender o tes em UTIs;


que é saúde pública, como ocorreu a in- Atendimento aos pacientes e seus
serção do psicólogo na saúde pública bra- familiares em pronto-atendimento;
sileira e onde o psicólogo pode atuar nes-
Atendimento pré e pós operatório;
se contexto, torna-se relevante definir
Participação em reuniões clinicas
em quais locais o psicólogo hospitalar e da
multidisciplinares e interdisciplina-
saúde pode se inserir, seja na esfera pú-
res;
blica ou privada:
Capacitação de cuidadores de pa-
Hospitais Públicos Clínicos e Psiqui- cientes crônicos; [...]
átricos
Trabalho de preparação para o exer-
Hospitais Privados Clínicos e Psiquiá- cício da sexualidade com prevenção
tricos à AIDS e à gestação precoce;
Clínicas e Postos de Saúde Munici- Participação no programa “Parto hu-
pais e Estaduais manizado”;
Programas de Saúde Mental Participação no programa “Aleita-
ONGS mento Materno”;
Clínicas Privadas de Especialidades Participação em parceria com o Mu-
Médicas (LAZZARETTI et al., 2007, nicípio e com a UFPR no programa
p.47) “Vitimas de Violência”;
As atribuições do psicólogo hospita- Acompanhamento no programa de
lar já foram enumeradas anteriormente, captação de órgãos;
entretanto, vale ressaltar outras delas, Acompanhamento da Política Nacio-
algumas mais específicas, apresentadas nal de Humanização;
por Lazzaretti et al. (2007), ao se repor- Participação na Comissão de Ética do
tarem à práxis de psicólogos hospitalares Hospital;
atuantes em algumas cidades da região Participação em reuniões interdisci-
sul do país. Podem-se destacar: plinares com os residentes de medi-
Atendimento psicológico individual e cina (p.47-48).
em grupo nas especialidades, tanto Outras práticas realizadas pelos psicó-
em internações como em ambulató- logos hospitalares dessa região também
rios; foram enumeradas, entretanto enfatiza-
Atendimento em Saúde Mental Co- mos essas, pois aspectos referentes às
munitária, em grupo e familiar; mesmas já foram ou serão discutidos em
Atendimento de acompanhamento algum momento desse curso.
no processo de luto pós-óbito e ou
Fugindo um pouco da psicologia hospi-
outras perdas na família;
talar e da saúde pública, voltaremos nossa
Atendimento às famílias de pacien-
45

atenção à psicologia clínica na saúde pri- bre políticas públicas que:


vada. A atuação do psicólogo (juntamente
com outros profissionais que compõem a a orientação política do Estado que
equipe multidisciplinar em saúde) está in- regula as atividades governamen-
cluída no rol de procedimentos cobertos tais relacionadas ao interesse públi-
pelos planos de saúde desde 2010. O be- co, em várias âmbitos como: educa-
neficiário passou a ter direito de desfru- ção, segurança, trabalho, habitação
tar de até 40 sessões de psicoterapia por e saúde. (p.47).
ano (ANS, 2010). Dentro dessa mesma conceituação os
É importante conhecer essas modifica- autores complementam que as políticas
ções, mesmo no setor privado da saúde, públicas em saúde fazem parte do cam-
já que elas apontam um maior campo de po social do Estado e visam melhorar as
atuação para o psicólogo, assim como au- condições de vida da população no âmbi-
menta a área de abrangência da cobertu- to social e no trabalho. E onde a psicologia
ra desse profissional para a comunidade. se localiza nesse contexto? “Tais Políti-
Entretanto, não está no escopo dessa se- cas Públicas de ação social e do trabalho
ção falar sobre a atuação do psicólogo na já ocorrem nos programas desenvolvidas
saúde privada, mas sim na saúde pública. pelas instituições nas quais a Psicologia
integra a equipe multidisciplinar e inter-
Agora, voltaremos a nossa atenção à disciplinar” (p.47).
questão da saúde pública.
A Psicologia carrega em seu contexto
histórico a marca de ser uma área voltada
5.1 Histórico para as elites. Quando o foco da psicologia
Detalhar fatos relevantes acerca da his- era praticamente todo voltado à psicolo-
tória da saúde pública no Brasil é demasia- gia clínica essa visão era bastante refor-
damente complexo e, além de demandar çada, visto que o processo terapêutico,
muito tempo, fugiria completamente do em especial a análise, mostra-se um pro-
objetivo desse material. Porém, é impor- cesso moroso e oneroso, o que restringe
tante que o psicólogo hospitalar e da saú- o público-alvo que irá se beneficiar com
de compreenda como se deu a inserção de esse tipo de tratamento.
seus colegas de profissão nesse contexto
A história Freud, conhecido como pai da
– profissão que anteriormente era consi-
psicanálise, reforça essa visão, já que os
derada elitista. Assim, iremos citar alguns
casos clínicos discutidos por ele eram de
fatos pertinentes que ocorreram no de-
pessoas provenientes de classes sociais
correr do contexto histórico e favorece-
mais abastadas.
ram a atuação do psicólogo dentro dos
contextos públicos de saúde brasileiros. A cultura na qual estamos inseridos re-
força essa visão de ser a psicologia volta-
A definição de saúde pública não é
da para aqueles mais favorecidos, ou seja,
simplista para ser esgotada aqui, po-
os que dispõem de condições financeiras
rém, concordamos com a definição
para arcar com um tratamento caro. Ob-
de Lazzaretti et al. (2007) que, de ma-
servamos no senso comum ideias de que
neira bastante sucinta, elucidam so-
46

“pobre não tem depressão”, “enxaqueca p.56).


(e outras desordens associadas à psicos-
Segundo a autora supracitada, inicial-
somática) é coisa de rico”, dentre outras
mente (a partir da década de 70), os psi-
expressões que ilustram claramente essa
cólogos foram absorvidos nos setores de
visão. Mas será que a psicologia é real-
saúde mental, ainda caracterizados por
mente voltada apenas para uma classe
um modelo hospitalocêntrico – mode-
social mais abastada? Será que certas de-
lo esse que foi sofrendo alterações até
sordens realmente atingem apenas essas
o Movimento de Reforma Psiquiátrica, o
pessoas?
qual previa um atendimento mais huma-
Atualmente, é esperado que essa men- nizado aos sofredores dos transtornos
talidade acerca da psicologia seja modifi- mentais.
cada. O psicólogo é um dos profissionais
A entrada dos psicólogos na área de
da saúde de compõem a equipe de saúde
saúde mental deu-se, assim, num
do SUS, o que redemocratiza sua atuação
momento de crítica ao modelo asi-
profissional, inclusive entre as pessoas
lar e às equipes de saúde formadas
menos favorecidas economicamente.
predominantemente por médicos e
Segundo Ronzani e Rodrigues (2005), de ênfase na formação das equipes
o psicólogo, para atuar na saúde pública, multiprofissionais, vistas enquanto
precisa visar à intervenção em grupo em condição sine qua non para a concre-
detrimento da individual, deve ser dinâmi- tização do novo modelo de assistên-
co, visando, a partir de sua área de atua- cia em psiquiatria que preconizava
ção, contribuir com o restante da equipe a desospitalização e o investimento
de saúde. em serviços alternativos extra-hos-
pitalares. Em outras palavras, po-
Algumas questões relativas ao contex-
de-se dizer que a partir do final dos
to sócio-histórico e cultural brasileiro fa-
anos 70, o campo da saúde mental
cilitaram a inserção do psicólogo na saúde
configurou-se como um grande polo
pública, tais como:
de absorção de psicólogos, inser-
1. O contexto das políticas públicas de ção que deu-se em parte devido às
saúde do final dos anos 70 e da década de críticas quanto à predominância de
80 no que se refere à política de recursos médicos nas equipes de saúde, e ao
humanos. investimento que passou a ser efeti-
vado em outras categorias profissio-
2. A crise econômica e social no Brasil nais, na tentativa de mudar o mode-
na década de 80 e a retração do mercado
lo médico pregnante e de formar as
dos atendimentos privados.
equipes multiprofissionais (DIMENS-
3. Os movimentos da categoria na TEIN, 1998, p.58).
tentativa de redefinição da função do psi-
Nos anos 80, começou a se observar
cólogo na sociedade.
uma mudança nas atividades desempe-
4. Difusão da psicanálise e psicologi- nhadas pelos setores de saúde, em espe-
zação da sociedade (DIMENSTEIN, 1998, cial pela formação das equipes multidis-
47

ciplinares, como pode ser observado na de pública acabam por proporcionar um


citação a seguir: campo de trabalho mais vasto para esses
profissionais, que passaram a compor o
Dentro desse contexto, a expansão
quadro clínico de hospitais, ambulatórios,
do número de profissionais foi en-
postos e centros de saúde (DIMENSTEIN,
fatizada, sobretudo em relação à
1998).
formação das equipes multiprofis-
sionais. Essa tendência a atribuir às Os primeiros sinais de organização
equipes um papel decisivo no pro- do campo psicológico junto às políti-
cesso de reforma do sistema de saú- cas públicas no Brasil começaram a
de fez com que muitos profissionais, se afirmar ao longo da década de 80,
antes alheios ao campo da assistên- principalmente a partir de projetos
cia pública à saúde, passassem a universitários e em sintonia com a re-
fazer parte dos quadros funcionais. forma sanitária. Depois da 8ª Confe-
Entende-se que o psicólogo foi um rência Nacional de Saúde, em 1986,
dos que se beneficiou de alguma for- bem como com a promulgação da
ma com esse movimento, chegando Constituição de 1988 que anunciava
a ser, inclusive, uma das categorias o SUS (Sistema Único de Saúde), os
que mais teve profissionais contra- psicólogos começaram a despontar
tados ao longo da última década mais frequentemente nas ativida-
para trabalhar nas instituições pú- des dos hospitais-escola, em pro-
blicas, tal como mencionado ante- jetos sociais com crianças e jovens
riormente. No contexto de Teresina, em situação de risco, e em apoio na
a inserção dos psicólogos na saúde atenção em saúde mental dos Muni-
coincidiu com a ampliação da rede cípios. Neste último caso, é notável
básica local, pois até então não se a recente inserção da Psicologia em
contratava psicólogo para o traba- postos de saúde na atenção primária
lho específico do setor (DIMENSTEIN, e também em atendimentos de mé-
1998, p.64-65). dia complexidade, tais como na for-
mação dos primeiros NAP´s (Núcleo
O psicólogo, então, passou a ser inseri-
de Apoio Psicossocial) e dos atuais
do nas equipes de saúde no contexto da
CAP´s (Centro de Apoio Psicossocial)
saúde pública, local em que permanece
(ZURBA, 2011, p.22).
até a atualidade, como temos citado ao
longo desse curso. Esse profissional, cuja A atuação do psicólogo na saúde men-
atuação antes era considerada como ape- tal não foi desmerecida, o profissional
nas para as elites, foi se voltando também apenas passou a ser integrado também
aos aspectos sociais, ao contrário da atu- em outros espaços destinados à saúde
ação classicamente individualista e afas- pública. Posteriormente veremos que,
tada das instituições de saúde. Uma crise após a criação do SUS, o psicólogo conti-
ocorrida nos anos 80 sinalizou, para mui- nua ocupando lugar de destaque em di-
tos psicólogos, declínio social e redução versos níveis de atenção. Não iremos de-
de empregos anteriormente ocupados, talhar aqui dados referentes à história da
assim, as oportunidades na área da saú- saúde mental e à consequente criação do
48

SUS, entretanto, iremos falar sobre a atu- Na década de 80, observa-se que a in-
ação do psicólogo nesse contexto, a qual serção do psicólogo na atenção primária
foi ganhando papel de destaque e hoje à saúde (UBS) foi marcada por uma série
se encontra bastante ampliada, para bem de dificuldades. Dentre esses problemas
além de ser voltada apenas para a assis- podem-se destacar a fraca demanda de
tência ao paciente psiquiátrico. busca espontânea pelo atendimento psi-
cológico, falta de adesão ao tratamen-
Começa-se a falar em atenção básica, o
to (abandono precoce, faltas e atrasos
que, posteriormente, passou a ser deno-
às sessões), seleção e hierarquização da
minado de atenção primária à saúde. Com-
clientela, psicologização dos problemas
preende-se a atenção básica como o nível
sociais, dificuldade de inserção dos psi-
de atenção que enfoca as práticas de pro-
cólogos nas equipes multiprofissionais,
moção à saúde, o que permite a interliga-
defasagem salarial, problemas de intra-
ção entre diferentes saberes profissio-
estrutura que, em conjunto, inviabilizam
nais e permite maior acesso à população
a busca por um projeto mais amplo de ci-
em serviços que valorizem o ser humano
dadania (DIMENSTEIN, 1998; DE-BARROS;
em interação constante com o seu meio,
MARSDEN, 2008). Associado a tudo isso:
além de também visar à reabilitação da
saúde (CONTINI, 2001 apud RONZANI; RO- Psicologia é um campo marcado por
DRIGUES, 2005). teorias essencialistas e universalis-
tas em relação ao modelo de mulher,
Portanto, a Atenção Primária, ou
família, sexualidade, casamento e
Atenção Básica, como se denomina
certas representações como a de
no Brasil, ganha status de prioridade
sofrimento psíquico e corpo, entre
no investimento das políticas públi-
outros. Trabalha-se também uma
cas de saúde, invertendo a lógica do
determinada ideia - tida como uni-
modelo médico-hospitalar, utilizan-
versal - do que seja saúde e doen-
do instrumentos próprios, reconhe-
ça, suas causas e possibilidades de
cendo o território e a clientela, vi-
tratamento e cura, que na verdade
sando à adequação de seus serviços
nem sempre é compartilhada pelos
às realidades particulares e à pers-
pacientes. Isso consequentemente
pectiva da população. Para Takeda
tem repercussões a nível da eficácia
(2004), as principais características
do atendimento dispensado às po-
da Atenção Primária são: ‘a) porta de
pulações que frequentam as insti-
entrada para o sistema de saúde; b)
tuições públicas de saúde (DIMENS-
responsabilidade pelos indivíduos ao
TEIN, 1998, p.75).
longo do tempo, independentemen-
te da presença de doença; c) integra-
lidade da atenção; e, d) capacidade
de coordenar os cuidados às neces- 5.2 Psicólogo no SUS
sidades dos indivíduos, suas famí-
a) SUS, atenção primária e a psico-
lias e comunidades’ (TAKEDA, 2004,
logia
p.79 apud MORÉ; AZEVEDO; STORTI,
2011, p.55). Falar em saúde pública antes da criação
49

do SUS era bastante diferente. A saúde de – como a garantia de acesso à saúde a


era disponível para aqueles usuários que todos os cidadãos, em condições iguali-
tinham condições de pagar por um serviço tárias, respeitando-se as especificidades
particular, ou por um plano de saúde, ou de cada caso. Todo indivíduo tem direito a
para o trabalhador assalariado que contri- um conjunto de ações preventivas, diag-
buía com a previdência. Assim, observa- nósticas, curativas, readaptativas ao con-
-se que as políticas públicas de saúde não vívio social, articulando todos os níveis
contemplavam uma classe de pessoas: os de complexidade no cuidado e promoção
menos favorecidos, que não podiam pagar de saúde. Entende-se que os princípios
pelo serviço, ou que não trabalhavam re- só serão efetivados a partir do momento
gularmente. O SUS surge como uma forma em que forem “consideradas as determi-
de prestar atendimento a todas as pes- nantes sociais do processo saúde-doença
soas em território nacional, sem nenhum e o contexto sociocultural como lócus da
tipo de discriminação: atenção à saúde”. (p.55).

O SUS (Sistema Único de Saúde) é a Anteriormente, já definimos a atenção


política pública de saúde brasileira básica e torna-se relevante retomar essa
– maior política de inclusão social do linha de raciocínio. A Estratégia de Saúde
Brasil – garantido pela Constituição da Família – anteriormente denominada
de 1988 como um direito de todos Programa de Saúde da Família – visa efe-
e dever do Estado, e definido no ar- tivar princípios e diretrizes do SUS, tais
tigo 4º da Lei federal 8080 como ‘o como a promoção da saúde, o trabalho
conjunto de ações e serviços de saú- em equipe, a territorialização e o foco de
de prestados por órgãos e institui- atenção no coletivo e no social. No que diz
ções Públicas Federais, Estaduais, e respeito à equipe mínima (médico, enfer-
Municipais, da Administração Direta meiro, auxiliar de enfermagem e agente
e Indireta e das Fundações manti- comunitário de saúde), o psicólogo não
das pelo Poder Público (...)’ (BRASIL, se encontra inserido (MORÉ; AZEVEDO;
1990). O SUS é uma conquista do STORTI, 2011).
Movimento Sanitário e da sociedade
Andrade, Barreto e Fonseca (2004
brasileira, organizada em Conferên-
apud MORÉ; AZEVEDO; STORTI, 2011) re-
cias Nacionais de Saúde, no contexto
forçam que a equipe de saúde da família
de crise econômica e política do Bra-
enfrenta problemas individuais, biológi-
sil nos anos de 1980 (MORÉ; AZEVE-
cos, coletivos e culturais do indivíduo e
DO; STORTI, 2011, p.54).
da comunidade que assistem e, na tenta-
Os princípios do SUS estão diretamente tiva de abordar melhor esses problemas,
relacionados ao conceito de saúde numa a aproximação com outros profissionais
perspectiva biopsicossocial, ampliada, o além dos que compõem a equipe mínima
que justifica a inclusão do psicólogo na se faz necessária.
equipe multiprofissional de saúde. Se-
Segundo Zurba (2011), atualmente, o
gundo Moré, Azevedo e Storti (2011), é
psicólogo encontra-se realmente inseri-
possível sintetizar os princípios do SUS
do no SUS, mas, como mostramos um es-
– universalidade, equidade e integralida-
50

boço na seção anterior, essa entrada não dade do indivíduo que são expressos nas
ocorreu de forma simples e imediata. Em relações humanas (interações e afetos),
finais da década de 80, com a promulga- funciona como um suporte para a criação
ção da Constituição, e início da década de de espaços mais democráticos e também
90, data de promulgação do Estatuto da facilitam a interação com a alteridade,
Criança e do Adolescente, o psicólogo en- promovendo interações entre profissio-
controu caminhos de práticas psicológicas nais e usuários (CAMARGO-BORGES; CAR-
associadas à implementação de políticas DOSO, 2005 apud MORÉ; AZEVEDO; STOR-
públicas de saúde e desenvolvimento so- TI, 2011).
cial. Ainda nessa década houve reflexões
Atualmente, a atuação do psicólo-
acerca a reforma psiquiátrica, o que forta-
go nos setores de saúde mental do
leceu a convicção de que os serviços subs-
SUS é ampliada, dinâmica e inter-
titutivos à internação psiquiátrica neces-
disciplinar, atuando em atividades
sitariam do olhar de um profissional da
diversificadas, sejam elas de cunho
saúde mental, no caso o psicólogo. “Esse
clínico, educando a população para
protagonismo foi traduzido na figura do
a saúde e também atuando na capa-
psicólogo, capaz tanto de coordenar gru-
citação dos profissionais da saúde.
pos, como de apoiar redes sociais ou in-
Essa atuação com os demais profis-
tervir junto a pacientes em psicoterapia”
sionais será pormenorizada mais ao
(p.29).
final do curso, quando enfatizaremos
Importante destacar que antes desse a humanização da assistência. Essa
período, as intervenções sócio-comuni- atuação mostra-se relevante porque:
tárias da psicologia normalmente eram
Uma perspectiva teórica que permi-
relacionadas a projetos voluntários ou de
ta transcender o espaço definido por
cunho universitário, ou seja, o psicólogo
algumas práticas da Psicologia clí-
que enveredaria por essa seara não teria
nica e da saúde tradicionais poderá
o seu trabalho remunerado.
oferecer às equipes de atuação na
APS um importante respaldo teórico
e metodológico na inserção do psicó-
O psicólogo que trabalha com a saú-
logo na promoção não somente da
de, inclusive de uma forma extensiva
saúde mental, mas também de ou-
no SUS (maioria dos nossos profis-
tros setores da saúde. Com a capaci-
sionais), atua tanto nas atividades
dade de articulação interdisciplinar
de cunho clínico e educacional para
e na perspectiva de uma teoria psi-
a população em geral, como na for-
cológica contextualizada a questões
mação e aperfeiçoamento de pro-
fissionais da área da saúde, social, de relevância social, como o resgate
educação e jurídica (LAZZARETTI et da cidadania e a exclusão social, o
al., 2007, p.57). psicólogo não será meramente um
especialista em saúde mental, e sim,
A psicologia tem muito a contribuir na um profissional importante na soma
Estratégia de Saúde da Família, pois, ao de esforços pela prevenção e promo-
estudar o comportamento e a subjetivi- ção da saúde através do enfoque do
51

restabelecimento do bem-estar da A participação da psicologia nas unida-


comunidade (BENEVIDES, 2005; CA- des de saúde ocorre principalmente em
MARGO-BORGES; CARDOSO, 2005; intervenções com grupos programáticos
DIMENSTEIN, 1998; DIMENSTEIN, e em trabalhos em equipe especializada
2000; DIMENSTEIN 2001; DURÀN- em saúde mental. O psicólogo pode as-
-GONZALES; HERNANDEZ-RINCON; sessorar a equipe mínima na realização de
BECERRA-APONTES, 1995; SPINK, estudos de caso, interconsultas, supervi-
2003; TRAVERSO-YÉPEZ, 2001, apud são, orientação e capacitação do cuidado
RONZANI; RODRIGUES, 2005, p.137). e acolhimento em saúde mental. Obser-
va-se que esse tipo de trabalho ocorre em
Como a citação anterior deixou claro, consonância com o que é preconizado pela
a atuação do psicólogo no contexto do ESF (CAMARGO-BORGES; CARDOSO, 2005
SUS pode ser de grande valia devido aos apud MORÉ; AZEVEDO; STORTI, 2011).
aspectos anteriormente mencionados.
Especificamente, podem-se citar como Moré e Macedo (2006 apud VIEIRA;
exemplos de atuação concreta do psicólo- OLIVEIRA, 2011) também discorrem no
go na saúde pública: sentido da práxis do psicólogo na atenção
básica. Segundo os autores, o profissional
1. Participação nos programas de não deverá selecionar sua escuta de acor-
promoção/prevenção; 2. Atividades do com sua especialidade (por exemplo,
psicodiagnósticas e acompanha- adultos ou crianças), já que essa especia-
mento dos diferentes distúrbios da lização pode mostrar-se como excludente
personalidade; 3. Acompanhamento e não acolhedora a determinados grupos:
psicológico grupal, familiar, de casal,
crianças, adolescentes, adultos e Seu agir deverá, desta forma,
idosos; 4. Atendimento grupal ope- apontar para temáticas, problemas
rativo ou pedagógico-informativo; e questões relacionados à realidade
5. Atendimentos comunitário-do- cotidiana das pessoas da comuni-
miciliares; 6. Intervenção de rede, dade, vivenciados nas famílias, em
ou seja, trabalho junto ao grupo de pequenos grupos ou em grupos mais
pessoas significativas para supor- organizados. Esta atuação deve,
te a pessoas ou famílias em crise; além de atender à demanda clínica
e, 7. Referência como atendimento local, visar a promoção da saúde e,
e acompanhamento dos pacientes em consequência, a melhora da qua-
psiquiátricos da comunidade e às lidade de vida das pessoas e de sua
suas famílias e/ou às instituições. condição de cidadãos (VIEIRA; OLI-
Nestas ações, as autoras dão ênfa- VEIRA, 2011, p.113).
se às atividades orientadas para os
Nas estratégias de inclusão da saúde
grupos, pois, estes priorizam as re-
mental na atenção básica incluem-se a ex-
des comunas redes comunitárias, e
pansão e consolidação da rede de atenção
ao compromisso com as realidades
psicossocial. Estratégias de saúde mental
concretas da população (MORÉ et al.,
passam a ser incluídas na atenção básica,
2007 apud MORÉ; AZEVEDO; STORTI,
2011, p.58). principalmente, baseadas na estra-
52

tégia do apoio matricial do CAPS, do Fugindo da atenção básica, no contexto


ambulatório ou de equipes volantes hospitalar a psicologia hospitalar é exerci-
de Saúde Mental, com a intenção da por profissionais que trabalham tanto
do aumento da capacidade resoluti- em hospitais públicos quanto privados, já
va das equipes (BRASIL, 2003 apud que essa especialidade é de extrema im-
MORÉ; AZEVEDO; STORTI, 2011, portância para o bem-estar do paciente
p.58). hospitalizado.

Assim, b) Programas que contam com a


atuação do psicólogo
Algumas contribuições da Psicolo-
gia nos processos de trabalho das Nessa parte iremos focalizar alguns
equipes de SF passam, dessa forma, programas do SUS que contam com a in-
por fomentar a interdisciplinarida- serção do psicólogo.
de, fortalecer ações de promoção de
O foco da Psicologia, no contexto da
saúde e prevenção de doenças e au-
formação, é a clínica, mas esta for-
xiliar no desenvolvimento de grupos
mação se mantém tradicionalmente
e estratégias. A efetivação destas
distante da evolução dos sistemas
contribuições aponta para a impor-
públicos de saúde. Pode-se, assim,
tância da territorialização do psicó-
considerar esta aproximação da Psi-
logo (com área adscrita sob sua res-
cologia com o SUS como bem-vinda e
ponsabilidade) para que, próximo de
necessária, mas também como uma
sua comunidade, possa atuar dentro
novidade que merece especial aten-
do modelo de saúde pública, evi-
ção de estudiosos e dos diversos ato-
tando, assim, a “ambulatorização”
res sociais envolvidos com a constru-
do atendimento (VIEIRA; OLIVEIRA,
ção do SUS (VIEIRA; OLIVEIRA, 2011,
2011, p.113).
p.104).
Ainda nesse sentido:
Criado pelo Ministério da Saúde em
A Psicologia Clínica está presente nos 1994, o Programa Saúde da Família (PSF)
dispositivos da atenção básica e nos visa melhorar a qualidade de vida da po-
ambulatórios especializados do SUS, pulação brasileira. A partir da redemocra-
mas, diferente da Psicologia Social e tização do acesso à saúde preconiza-se
Comunitária, ainda configura um es- levar a saúde para mais perto da popula-
paço teórico-prático aparentemente ção.
impossibilitado de ser articulado com
A estratégia do PSF prioriza as ações
as questões políticas e sociais. [...] O
de prevenção, promoção e recupera-
resultado é o desencontro entre as
ção da saúde das pessoas, de forma
expectativas dos pacientes e as pro-
integral e contínua. O atendimen-
postas de intervenção dos profissio-
to é prestado na unidade básica de
nais, gerando um ciclo de frustração
saúde ou no domicílio, pelos profis-
e abandono dos tratamentos (DE-
sionais (médicos, enfermeiros, auxi-
-BARROS; MARSDEN, 2008, s.p.).
liares de enfermagem e agentes co-
53

munitários de saúde) que compõem ção dos profissionais integrantes da


as equipes de Saúde da Família. As- equipe mínima, surgiu, como reivin-
sim, esses profissionais e a popula- dicação dos psicólogos, a inclusão
ção acompanhada criam vínculos de desse profissional no nível de aten-
co-responsabilidade, o que facilita ção primária, porém tal reivindicação
a identificação e o atendimento aos não foi aceita pelos gestores com o
problema de saúde da comunidade argumento de que tal profissional
(MP-RS, s.d., s.p.). não seria um generalista, sendo,
portanto, mais adequada a sua alo-
As equipes mínimas do PSF são com-
cação nos níveis secundários e ter-
postas por um médico, um enfermeiro,
ciários, com a função de supervisão
um auxiliar de enfermagem e de quatro a
e monitoramento dos profissionais
seis agentes comunitários de saúde (DAB,
generalistas e de intervenção em
s.d.; MP-RS, s.d.). Outros profissionais que
nível superespecializado (SALOMÃO
compõem a equipe multiprofissional de
NETO; RIBEIRO, 1999 apud RONZANI;
saúde – a exemplo do psicólogo – podem
RODRIGUES, 2005, p.134).
ser incorporados à equipe ou formar equi-
pes de apoio de acordo com as necessida- Como a Estratégia da Saúde da Família
des e possibilidades locais (MP-RS, s.d.). não deixa tão explícita a inclusão do psi-
cólogo dentre a equipe de saúde foi criado
Numa pesquisa realizada na cidade de
o NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Fa-
Juiz de Fora, Ronzani e Rodrigues (2005)
mília –, estratégia que será sucintamente
perceberam que a hierarquização da saú-
explicada nas citações a seguir:
de mental funciona a partir de níveis de
complexidade de atuação. No nível primá- As equipes de SF trabalham num
rio, compreende-se a equipe formada por contexto de grande complexidade
profissionais generalistas, tais como mé- da atenção, não em termos tecno-
dicos, enfermeiros, técnicos e assistentes lógicos, uma vez que as equipes de
sociais, os quais podem ou não ser vin- SF atuam na AP, mas relacionada à
culados ao Programa Saúde da Família. A abrangência de suas ações pauta-
partir desse nível primário, observam-se das nas mais variadas demandas. Em
algumas questões relevantes em relação consequência, em janeiro de 2008,
ao nível de assistência e à atuação do psi- através da Portaria nº 154, o Minis-
cólogo na saúde mental, como é expresso tério da Saúde (MS) criou os Núcleos
pela citação a seguir: de Apoio à Saúde da Família (NASF)
objetivando aumentar o escopo e o
Tal modelo assistencial do Municí-
alvo das ações da AP, bem como seu
pio levantou algumas discussões a
poder de resolução (BRASIL, 2008).
respeito da equipe mínima que se-
A Portaria 154 não caracteriza os
ria formada nas unidades básicas
NASF por um espaço físico, mas por
de saúde (UBS), não somente pelos
equipes multidisciplinares cujo ob-
programas de saúde mental, mas
jetivo é apoiar os profissionais das
também na rede assistencial como
equipes de SF, compartilhando as
um todo. Em decorrência da forma-
ações em saúde nos territórios sob
54

responsabilidade dessas equipes. capacidades e recursos das pessoas


Mesmo estando junto à AP os NASF em si e da comunidade, favorecendo
não se constituem como acesso ini- efetivamente a promoção da saúde.
cial ao sistema, eles devem compor a [...] Conclui-se que a Psicologia pode
rede de serviços de saúde, com prá- contribuir para a estratégia de: pen-
ticas baseadas nas demandas iden- sar sobre os problemas humanos em
tificadas no trabalho conjunto com seu contexto; favorecer práticas de
as equipes de SF (VIEIRA; OLIVEIRA, corresponsabilização e clínica am-
2011, p.106). pliada; e utilizar redes e recursos da
comunidade para promover saúde.
Essa estratégia foi criada em 2008 para
Também, destaca-se a riqueza da
apoiar a consolidação da Atenção Básica.
participação junto às equipes como
Esta atuação integrada permite espaço profícuo para apropriação
realizar discussões de casos clínicos, do território de atuação e desenvol-
possibilita o atendimento compar- vimento do diálogo interdisciplinar.
tilhado entre profissionais tanto na Porém, entende-se que há muito
Unidade de Saúde como nas visitas ainda a ser feito e potencializado na
domiciliares, permite a construção construção do SUS, visualizando a
conjunta de projetos terapêuticos inclusão social, um dos pilares éticos
de forma que amplia e qualifica as e desafio constante para todos nós.
intervenções no território e na saú- E, colocando a Psicologia como mais
de de grupos populacionais. Essas um integrante neste processo, espe-
ações de saúde também podem ser ra-se contribuir para esta que seja
intersetoriais, com foco prioritário uma política preconizada pela parti-
nas ações de prevenção e promoção cipação e compromisso de cidadão.
da saúde (DAB, s.d., s.p.). (MORÉ; AZEVEDO; STORTI, 2011, p.70).

Segundo Moré, Azevedo e Storti (2011, O psicólogo também se encontra inseri-


p.57), do em outra estratégia de saúde pública: o
Programa Melhor em Casa (Atenção Domi-
a criação dos Núcleos de Atenção
ciliar no Âmbito do SUS). Compreende-se
à Saúde da Família (NASF), como po-
como atenção domiciliar uma nova moda-
lítica pública nacional de apoio à ESF,
lidade de atenção à saúde, substitutiva
evidenciou pontos de potencial pre-
ou complementar a outras estratégias
sença do Psicólogo, principalmen-
já existentes. É uma estratégia ofertada
te, no que tange à sua participação
em domicílio e consiste em estratégias de
como profissional de Saúde Mental.
promoção à saúde, prevenção de doenças
Conforme os mesmos autores: e reabilitação. Sua finalidade é a continui-
dade do cuidado, especialmente para os
À luz da experiência vivenciada, des- pacientes com dificuldades de locomoção.
taca-se a importância da presença
do psicólogo na Atenção Básica, de- A atenção domiciliar visa a propor-
sempenhando um papel tanto de cionar ao paciente um cuidado con-
mediador, como de catalisador das textualizado a sua cultura, rotina e
55

dinâmica familiar, evitando hospita-


lizações desnecessárias e diminuin-
do o risco de infecções (DAB, s.d.,
s.p.).

O psicólogo pode compor a equipe


multiprofissional de apoio (EMAP), as-
sim como outros profissionais, como, por
exemplo, o fisioterapeuta.
56

REFERÊNCIAS

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augus- J.E. Transtornos alimentares: quadro clíni-


to. O psicólogo no hospital. In: co. Medicina, v.39, n.3, p.340-348, 2006.

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto; BUSS, Paulo Marchiori. Promoção da


TRUCHARTE, Fernanda Alves Rodrigues; saúde e qualidade de vida. Ciência & Saú-
KNIJNIK, Rosa Berger; SEBASTIANI, Ricar- de Coletiva, v.5, n.1, p.163-177, 2000.
do Werner. Psicologia hospitalar: teoria e
CASTRO, Elisa Kern de ; BORNHOLDT,
prática. São Paulo: Pioneira, 1995.
Ellen. Psicologia da saúde x psicologia
ANS. Rol de procedimentos vigente. hospitalar: definições e possibilidades de
2010. Disponível em: http://www.ans. inserção profissional. Psicol. cienc. prof.
gov.br/planos-de-saude-e-operadoras/ [online], vol.24, n.3, p. 48-57, 2004.
espaco-do-consumidor/17-planos-de-
CFP. Resolução 014/00 de 20 de de-
-saude-e-operadoras/espaco-do-consu-
zembro de 2000. Disponível em: http://
midor/441-rol-de-procedimentos Acesso
s i t e . c f p . o r g . b r/ w p - c o n t e n t / u p l o -
em 15 mai 2015.
ads/2006/01/resolucao2000_14.pdf
ARAUJO, Rejane Leal. Fibromialgia: Acesso em 14 mai 2015.
construção e realidade na formação dos
_____. Resolução 02/01 Altera e regu-
médicos. Rev. Bras. Reumatol. [online],
lamenta a Resolução CFP no 014/00 que
v.46, n.1, p. 56-60, 2006.
institui o título profissional de especialis-
ASSUNCAO, Sheila Seleri Marques. Dis- ta em psicologia e o respectivo registro
morfia muscular. Revista Brasileira de Psi- nos Conselhos Regionais. http://site.cfp.
quiatria [online], v.24, suppl.3, p. 80-84, org.br/wp-content/uploads/2006/01/re-
2002. solucao2001_2.pdf Disponível em: Aces-
so em 14 mai 2015.
ÁVILA, Boêmia Noronha de; NUNES,
Maria Angélica. Risco e prevenção dos CORDIOLI, Aristides Volpato. As princi-
transtornos alimentares. In: NUNES, Maria pais psicoterapias: fundamentos teóricos,
Angélica; APPOLINARIO, José Carlos; GAL- técnicas, indicações e contraindicações.
VÃO, Ana Luiza; COUTINHO, Valmir. Trans- In: CORDIOLI, Aristides Volpato et al. Psi-
tornos alimentares e obesidade. Porto coterapias: abordagens atuais. Porto Ale-
Alegre: Artmed, 2006. gre: Artmed, 2008.

BAGRICHEVSCHI, Marcos; ESTEVÃO, COSTA-JÚNIOR, Florêncio Mariano da;


Adriana. Os sentidos da saúde e a educa- MAIA, Ana Claudia Bortolozzi. Corporeida-
ção física: apontamentos preliminares. de e gênero: relações entre homens e mu-
Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, lheres com os cuidados com a saúde. In:
v.1, n.1, p.65-74, janeiro/junho 2005. VALLE, Tania Gracy Martins do; MELCHIO-
RI, Lígia Ebner (orgs). Saúde e desenvolvi-
BORGES, N. J. B. G.; SICCHIERI, J.M.F.; RI-
mento humano. São Paulo: Cultura Acadê-
BEIRO, R. P.P.; MARCHINI, J.S.; DOS SANTOS
57

mica UNESP, 2010. GALVÃO, Ana Luiza; PINHEIRO, Andréa


Poyastro; NUNES, Maria Angélica. Psico-
DAB. Direção de Atenção Básica. Aten-
terapia dos transtornos alimentares. In:
ção Domiciliar no Âmbito do SUS. S.d. Dis-
NUNES, Maria Angélica; APPOLINARIO,
ponível em: http://dab.saude.gov.br/por-
José Carlos; GALVÃO, Ana Luiza; COUTI-
taldab/ape_melhor_em_casa.php Acesso
NHO, Valmir. Transtornos alimentares e
em 19 mai 2015.
obesidade. Porto Alegre: Artmed, 2006.
_____. Direção de Atenção Básica. Es-
GAZZANINGA, Michael S.; HEATHER-
tratégia Saúde da Família. S.d. Disponível
TON, Todd F. Ciência Psicológica: mente,
em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/
cérebro e comportamento. Porto Alegre:
ape_nasf.php Acesso em 19 mai 2015.
Artmed, 2005.
DAB. Direção de Atenção Básica. Núcleo
GUEDES, Dartagnan Pinto; GUEDES, Jo-
de Apoio à saúde da Família. S.d. Disponí-
ana Elisabete Ribeiro Pinto. Exercício fí-
vel em: http://dab.saude.gov.br/portal-
sico na promoção da saúde. Londrina: Mi-
dab/ape_esf.php Acesso em 19 mai 2015.
diograf, 1995
DE-BARROS, Carolina Fernandes Pom-
LACERDA JR., R.; GUZZO, R. L. R. Pre-
bo; MARSDEN, Melissa. Reflexões sobre a
venção primária: análise do movimento e
prática do psicólogo nos serviços de saú-
possibilidades para o Brasil. Interação em
de pública. Arquivos de Psicologia, v. 60,
Psicologia, v. 9, n.2, p. 239-249, 2005.
n. 1 (2008)
LAZZARETTI, Claire Therezinha et al.
DIMENSTEIN, Magda Diniz Bezerra. O
Manual de psicologia hospitalar. Curitiba:
psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde:
Unificado, 2007.
desafios para a formação e atuação pro-
fissionais. Estudos de Psicologia, v. 3, n.1, LEITE, Paulo Fernando. Aptidão física,
p.53-81, 1998 esporte e saúde. São Paulo: Robe Edito-
rial, 2000.
Dr ROGER AUGUSTO. Campanha saú-
de da mulher será lançada nessa segun- MORÉ, Carmen Leontina Ojeda Ocam-
da-feira. Disponível em: https://drroge- po; AZEVEDO, Eliza Gonçalves de; STORTI,
raugusto.wordpress.com/2010/02/27/ Moysés Martins Tosta. Intervenção da psi-
campanha-saude-da-mulher-sera-lanca- cologia junto a equipes da atenção básica
da-nesta-segunda-feira/ Acesso em 26 no contexto da reunião de área de abran-
mai 2015. gência: relato de experiência. In: ZURBA,
Magda do Canto (org). Psicologia e saúde
FRADIÑO, Julia Nunes; APPOLINARIO,
coletiva. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2011.
José Carlos. Avaliação psiquiátrica na ci-
rurgia bariátrica. In: NUNES, Maria Angé- MP-RS. Ministério Público do Rio Gran-
lica; APPOLINARIO, José Carlos; GALVÃO, de do Sul. Programa Saúde da Família. S.d.
Ana Luiza; COUTINHO, Valmir. Transtornos Disponível em: http://www.mprs.mp.br/
alimentares e obesidade. Porto Alegre: infancia/pgn/id101.htm Acesso em 19
Artmed, 2006. mai 2015.
58

NIEMAN, David C. Exercício e saúde: SUS. Portal da saúde: SAS/DAET: saú-


como se prevenir de doenças usando o de do homem. S.d. Disponível em: http://
exercício como seu medicamento. São portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-
Paulo: Manole, 1999. -ministerio/principal/secretarias/sas/
daet/saude-do-homem Acesso em 19 mai
OLIVEIRA, E. R. A. de; FIORIN, B.H.; LO-
2015.
PES, L. J.; GOMES, M. J.; COELHO, S. de O.;
MORRA, J. S. Interdisciplinaridade, traba- _____. Portal da saúde: saúde da mu-
lho em equipe e multiprofissionalismo: lher. 2013 Disponível em: http://portal-
concepções dos acadêmicos de enferma- saude.saude.gov.br/index.php/cidadao/
gem. Revista Brasileira de Pesquisa em acoes-e-programas/saude-da-mulher
Saúde, v. 13, n.4, p. 28-34, 2011. Acesso em 19 mai 2015.

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, UFJF. Extensão. Nesse sábado, cor-
R. D. Desenvolvimento Humano (8ª ed). po acadêmico de Governador Valadares
Porto Alegre, RS: Artmed, 2006. vai às ruas pela saúde sexual masculina.
2014. Disponível em http://www.ufjf.br/
PEREIRA, Érico Felden; TEIXEIRA, Cla-
proex/2014/07/10/neste-sabado-corpo-
rissa Stefani; BORGATTO, Adriano Ferreti;
-academico-de-governador-valadares-
DARONCO, Luciane Sanchotene Etchepa-
-vai-as-ruas-pela-saude-sexual-masculi-
re. Relação entre diferentes indicadores
na/ Acesso em 26 mai 2015.
antropométricos e a percepção da ima-
gem corporal em idosas ativas. Revista de VELLOSO, Cid. Equipe multiprofissional
psiquiatria clínica [online], v.36, n.2, p. 54- em saúde. Disponível em: http://www.
59, 2009. confef.org.br/revistasWeb/n17/09_EQUI-
PE_MULTIPROFISSIONAL_DE_SAUDE.pdf
PINHEIRO, Anelise Rízzolo de Olivei-
. Acesso em 4 de novembro de 2013.
ra; FREITAS, Sérgio Fernando Torres de;
CORSO, Arlete Catarina Tittoni. Uma abor- VIEIRA, Cibeli; OLIVEIRA, Walter de. O
dagem epidemiológica da obesidade. Re- papel do psicólogo na atenção primária na
vista de Nutrição [online]. v.17, n.4, p. 523- era NASF: ações, concepções e perspec-
533, 2004. tivas. In: ZURBA, Magda do Canto (org).
Psicologia e saúde coletiva. Florianópolis:
RIBEIRO, José Pais; PEREIRA, Isabel
Tribo da Ilha, 2011.
Leal. Psicologia clínica da saúde. Análise
Psicológica , v. 4, n. XIV, p. 589-599, 1996. WEINBERG, Robert S.; GOULD, Daniel.
Fundamentos da psicologia do esporte e
RONZANI, Telmo Mota; RODRIGES, Ma-
do exercício. Porto Alegre: Artmed, 2006.
riza Cosenza. O psicólogo na atenção pri-
mária à saúde: contribuições, desafios e ZURBA, Magda do Canto. Introdução. In:
redirecionamentos. Psicologia Ciência E ZURBA, Magda do Canto (org). Psicologia e
Profissão, v.26, n.1, p.132-143, 2006. saúde coletiva. Florianópolis: Tribo da Ilha,
2011.
STRAUB, Richard O. Psicologia da saú-
de: uma abordagem biopsicossocial. Porto _____. Trajetórias da psicologia nas
Alegre: Artmed, 2014. políticas públicas de saúde. In: ZURBA,
59

Magda do Canto (org). Psicologia e saúde


coletiva. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2011.
60

Você também pode gostar