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Michel FOUCAULT
A partir das suas obras, o senhor foi visto como idealista, niilista,
"nouveau philosophe" anti-marxista, novo conservador... Onde se situa
precisamente?
O senhor diria que seu trabalho está centrado nas relações entre a ética, a
política e a genealogia da verdade?
Sob certos aspectos, se poderia afirmar que procuro analisar as relações entre
ciência, política e ética. Mas não acredito que seria representação totalmente
exata do trabalho que pretendo realizar. Não gostaria de me deter neste plano;
procuro sim, ver como os processos tenham podido interferir entre si na
constituição de um campo científico, de uma estrutura política, de uma pratica
moral. Tomemos o exemplo da psiquiatria: hoje ela pode ser analisada na sua
estrutura epistemológica - mesmo que seja ainda muito fraca; pode ser
também analisada no campo das instituições políticas em que realiza seus
efeitos; pode ser estudada igualmente nas suas implicações éticas, do lado de
quem é objeto da psiquiatria ou do lado do psiquiatra. Mas não era meu
objetivo. Procurei sim ver como, na constituição da psiquiatria como ciência,
na delimitação do seu campo e na definição do seu objeto, estavam implicadas
uma estrutura política e uma prática moral, e isso no duplo sentido, de que
estas eram pressupostos da organização progressiva da psiquiatria como
ciência e de que as mesmas eram também influenciadas pela constituição da
psiquiatria. Sem uma série de estruturas políticas e sem um conjunto de
atitudes éticas não teria sido possível existir uma psiquiatria como a que
conhecemos; mas, inversamente a constituição da loucura num campo de
saber influenciou nas práticas políticas e nas atitudes éticas que lhe dizem
respeito. Tratava-se de determinar a importância da política e da ética na
constituição da loucura como âmbito particular de conhecimento cientifico,
mas também de analisar os efeitos desta última sobre as práticas políticas e
éticas.