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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

O CAPSad:​ alguns apontamentos a partir de visita institucional.

Núcleo Temático: Saúde Mental


Profº Erimaldo Nicacio

Bruna Toledo
Cíntia Faria
Lorruama
Maria Daiane
Noemir
Thais Augusto Moraes

RIO DE JANEIRO
2016
Introdução

Foi realizada visita institucional pelo grupo de alunas da UFRJ ao CAPSad


Mané Garrincha, situado na Av. Prof. Manoel de Abreu, 196 - Vila Isabel, Rio de
Janeiro. A entrevista foi feita com a psicóloga e também diretora da unidade, que
destacou informações sobre os serviços prestados, a dinâmica de trabalho e o
espaço.

Perspectiva histórica e conceituação do serviço (Cíntia)

Os Centros de Atenção Psicossocial para Atendimento de Pacientes com uso


prejudicial usuários de álcool e outras drogas (CAPSad) se diferenciam dos outros
CAPS (CAPS I, CAPS II, CAPS III e CAPSi) por serem especializados neste
atendimento; instituído no ano de 2002, o CAPSad funciona como um serviço
ambulatorial diário, durante os cinco dias úteis da semana, em cidades com mais de
70.000 habitantes ou localidades que tenham uma demanda específica deste
serviço.
Possui capacidade para acompanhar cerca de 240 pessoas por mês; conta
com uma equipe mínima de 13 profissionais de nível médio e superior (1 médico
psiquiatra; 1 enfermeiro com formação em saúde mental; 1 médico clínico,
responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento das intercorrências
clínicas; 4 profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais:
psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro
profissional necessário ao projeto terapêutico; 6 profissionais de nível médio: técnico
e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão).
É importante salientar que a criação desta estratégia de atenção psicossocial
se dá em meio a um processo de mudanças em relação ao campo da saúde mental
no Brasil, a Reforma psiquiátrica. Na década de 70, surge o Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), aumentando as críticas ao modelo
manicomial, às violências instituídas, ao sistema que lucrava com a loucura e ao
saberes psiquiátricos. O primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é
construído na cidade de São Paulo, em 1987, com a proposta de superação do
modelo hospitalocêntrico e como um ponto de assistência diário a casos de doenças
mentais na rede pública. No que diz respeito ao âmbito legislativo, na Constituição
de 1988 é instituído o Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecendo o direito
universal à saúde pública e gratuíta. A década de 90 é então marcada pela
aprovação de leis em vários estados do país que determinavam a substituição dos
hospitais psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental e pela
tentativa de desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação
psiquiátrica; em 2001, a Lei Paulo Delgado é aprovada, determinando uma
estratégia de assistência comunitária e regulamentando os direitos das pessoas
com transtornos mentais. É no final do ano de 2001 que se realiza a III Conferência
Nacional de Saúde Mental, influenciada pela Reforma Psiquiátrica, onde se tem o
CAPS como estratégia fundamental de assistência à saúde mental e se pauta uma
política específica de saúde mental para os usuários de álcool e outras drogas.
Durante a história de políticas públicas no Brasil, é perceptível a omissão do
Estado diante o estabelecimento de uma política pública de atenção aos usuários
que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas. Ao relegar essa questão para
instâncias jurídicas ou religiosas, as práticas de intervenção eram médicas e
psiquiátricas, visando à abstinência total através da exclusão e separação destes
sujeitos do convívio social. A criminalização dos usuários colabora para uma
invisibilidade do contexto e das relações implicadas na realidade dessas pessoas.
No ano de 2002, o Ministério da Saúde coloca em ação o Programa Nacional de
Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas,
influenciado pela III Conferência Nacional de Saúde Mental. Inicia-se um processo
onde a questão das drogas no Brasil passa a ser compreendida como uma questão
de saúde pública. Privilegia-se a partir disso uma política de reabilitação e
reinserção social, com ações de promoção, prevenção, proteção à saúde e
educação dos usuários.
O CAPSad se coloca, então, como um dos dispositivos de uma rede de
serviços extra-hospitalares, sustentado numa abordagem de redução de danos,
estratégia imprescindível que busca reduzir os danos e efeitos causados pelo abuso
de álcool e outras drogas, em contrapartida à exigência anterior de abstinência; se
orienta por atendimentos individuais, em grupo, oficinas terapêuticas, visitas e
atendimentos domiciliares e à família; possibilita tanto um tratamento
psicoterapêutico quanto medicamentoso, buscando atender as necessidades de
cuidado e atenção de forma integrada e articulada ao território; propõe ações junto
aos serviços de atenção primária à saúde e suporte social; promove o
fortalecimento de vínculos afetivos e atividades de lazer; incentiva o papel do sujeito
em seu tratamento e o concebe em sua singularidade.

Perfil dos Usuários

O CAPSad Mané Garrincha, atende pessoas com transtornos graves


associados ao uso de álcool e outras drogas. A área programática é a 2.2, que
compreende toda a grande tijuca, ​e correspondia aos bairros: Alto da Boa Vista,
Andaraí, Grajaú, Maracanã, Praça da Bandeira, Tijuca e Vila Isabel. E além disso,
ainda cobri parte da mangueira, devido a sua proximidade ao CAPS, e também por
ser considerado um território estratégico, por ser um espaço de circulação dos
usuários.
De acordo com a diretora da instituição, não existe um levantamento de
dados a respeito do perfil dos usuários do CAPS em questão, mas de acordo com
ela, a experiência, adquirida pelo tempo de trabalho na instituição, permite que ela
apresente sua hipótese. Esta aponta que os homens representam a maioria dentre
os usuários do serviço, cerca de 70%. Considerando-se a faixa etária, constata que
parcela majoritária dos usuários tem entre 35 e 70 anos de idade. Em relação a
situação profissional, a maioria são aposentados.
Quando questionada sobre qual seria a droga mais usada pelos usuários do
CAPS, ela afirma ser o álcool, e diz ainda que essa maioria que faz uso do álcool,
não o faz desassociado a outra droga. No que se refere ao uso do crack, a diretora
conta que essa droga mostra um perfil social mais claro , diz que são pessoas com
alto nível de vulnerabilidade; em situação de rua; na pobreza quase que extrema;
com laços familiares muito deteriorados (e isso antes do uso de crack); são pessoas
que apresentam um histórico de violência desde a infância, são pessoas negras. Ou
seja, constituem uma população pobre, marcados pelo corte de classe de raça... No
que diz respeito aos usuários de álcool, os aspectos são diferenciados, o perfil
dessa população é constituída por idosos; aposentados; pessoas que
empobreceram muito nos últimos anos e, por isso, intensificam o uso de álcool.
Outro dado muito importante, trazido pela diretora, é que as mulheres
chegam muito pouco no dispositivo, que nesse último ano tem chegado mais. E
esse aspecto, que configura um ponto negativo, trouxe uma grande preocupação
para equipe, o “questionamento” sobre o porquê essas mulheres não chegam e
quando chegam porque não permanecem. Segundo a diretora, a partir deste
questionamento passou-se a se pensar espaços que pudessem fazer com que essa
mulher se sentisse mais cuidada e menos vulnerável.
O ranking das drogas mais usadas pelos usuários do CAPSad, Mané
Garrincha: álcool, cocaína, maconha e crack. Ao passo que, segundo a diretora, o
álcool atravessa quase todas as drogas.

As atividades desenvolvidas pelo CAPSad Mané Garrincha

O CAPSad Mané Garrincha oferece atendimento individuais e coletivos. O


atendimento também ocorre por meio de oficinas terapêuticas que podem ser
executadas por oficineiros de nível médio, ou por profissionais de nível superior.
Além disso, acontece atendimentos à família, atividades comunitárias e visitas
domiciliares, tudo isso visando a inserção do usuário na sociedade.
As atividades desenvolvidas pelo Centro de Atenção Psicossocial Mané Garrincha
são: Oficina de leitura e literatura que se interligam com a Oficina de escrita, na qual
os usuários chamam de “escolinha”, pois estas oficinas trazem a ideia de um reforço
na leitura e na escrita. Muitos usuários não sabem ler e muito menos escrever,
tendo este espaço como um meio para aprendizagem. Oficina de vídeo, que
acontecem sempre às sextas-feiras no final do dia, de 17 horas da tarde à 19 horas
da noite. É basicamente um Cine pipoca, geralmente o filme é escolhido pelos
usuários, sendo esta oficina um meio de descontração para eles. Na Oficina de
artesanato aprendem-se a confeccionar os mais diversos objetos, além de fazerem
atividades com desenhos, voltados para uma discussão da situação atual que
vivemos no Brasil. A Oficina de jardinagem ocorre por meio de cuidado com as
plantas e meio ambiente, geralmente é realizada por um dos enfermeiros. A oficina
de música e a Roda de samba são atividades desenvolvidas por um musico
terapeuta com objetivo de interação e contato com a música. A Roda de conversa e
cidadania são geralmente temas que estão com muita evidência no Brasil,
geralmente esses temas escolhidos pelos usuários. Tem também a Roda de
conversa externa que é realizada em formas passeios com os usuários do CAPS
para visitação em alguns pontos turísticos da cidade, podendo levar alguns
membros da família. A Oficina Grupo de família, como o nome já diz é realizada
com os familiares, podendo ser uma atividade em grupo ou individual, é pode ser
realizada pela equipe técnica do CAPS.
Os profissionais que atuam nessas oficinas são: Oficineiros, Assistente Social,
Terapeutas Ocupacionais, Psicólogos, Pedagogo, Ator (a), Músico Terapeuta e
Educador Físico.

O trabalho dos profissionais (Bruna)

Cada categoria tem seu próprio núcleo no campo da atenção psicossocial,


mas os profissionais devem estar cientes que são trabalhadores da saúde mental,
independente da categoria que pertence inicialmente. O regime de contratação no
dos profissionais no CAPSad varia entre servidores públicos e contratados.
No caso do profissional da psicologia, destaca-se o atendimento terapêutico
para tratar as questões psicológicas dos usuários. Porém, cabe a ele ter uma visão
clara sobre as diversidades sociais, econômicas e culturais dos usuários para que
se realizem práticas humanizadas que vão além do diagnóstico e do sintoma, em
direção à atenção integral a saúde. Portanto, o psicólogo de certa maneira, deixa a
técnica e o lugar de “expert” para atuar junto à uma equipe interdisciplinar com
ações voltadas a promoção, proteção e recuperação da saúde. De acordo com a
entrevista realizada, o CAPSad conta com um número maior de psicólogos (07),
pois as clínicas de álcool e outras drogas demandam escuta mais específica.
No caso do assistente social torna-se necessário conhecer a totalidade da
vida do usuário, seus meios de convívio, suas habilidades e perspectiva de vida,
procurando identificar as expressões da questão social relacionadas ao processo de
uso de substância psicoativa, para assim buscar formas de mudanças na sua
situação social.
O assistente social pode atuar na coordenação, elaboração, supervisão e
avaliação de estudos e projetos na área do serviço social. No planejamento,
organização e administração dos benefícios e serviços sociais assim como
encaminhamentos, determinadas providências e orientações sociais. Na realização
de estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios que possam
ter direitos.
Embora os profissionais possuam particularidades em suas competências, o
trabalho realizado no CAPSad através de equipe multidisciplinar busca o
desenvolvimento de ações em conjunto que identifiquem novas atividades de
trabalho, lazer e relações interpessoais a fim de trabalhar a autonomia e melhorar
as relações sociais e familiares.
O trabalho em equipe procura incentivar a participação da família no
tratamento e mantê-la esclarecida sobre os aspectos psicossociais que perpassam
a dependência química para estabelecer novas relações que tragam mudanças na
vida em sociedade, trabalho e previna recaídas, atuando na perspectiva de
reinserção.
Atividades multiprofissionais como visitas domiciliares, grupos, ações
socioeducativas, avaliações, atendimentos individuais e atendimentos
compartilhados com outras áreas fazem parte da rotina de trabalho. Destacam-se
os grupos de referência (normalmente com 3 profissionais), que operam como polos
de responsabilização e acompanhamento dos casos, de modo que os usuários
sempre estão vinculados a um desses grupos, com técnicos de referência
responsáveis inicialmente por seu plano terapêutico.
A equipe do CAPS ad realiza semanalmente uma reunião de equipe que
ocorre às terças feiras e não se trata apenas de instância formal de coordenação do
trabalho, mas propicia um local para o consórcio de todos os técnicos na promoção
de discussões que resultam em arranjos organizacionais que pautam a realização
das atividades nesse espaço de troca de saberes.
Destaca-se o trabalho em rede como fundamental para continuidade de um
bom trabalho do CAPSad e qualificação nos atendimentos, baseando-se na
integração das políticas públicas, na articulação entre os diversos equipamentos do
território como assistência, saúde família, ambulatórios, entre outros.

Dificuldades enfrentadas no serviço (Thaís)


Uma das grandes dificuldades enfrentadas no CAPSad, ressaltada pela
entrevistada, é o regime de contratação, apenas metade é concursado, tornando o
salário não equiparado entre diversos profissionais. O Caps tem experimentado
ainda problemas com relação à atrasos de salários, tornando dificultoso à ida ao
trabalho para alguns funcionários. Neste sentido, apesar de ser um entrave que
atrapalha o pleno funcionamento do CAPSad Mané Garrincha, a equipe se organiza
para mantê-lo e, assim, causar um menor impacto possível para os trabalhadores.
Não obstante, os usuários estão cientes do momento em que estão vivendo, pois
todas estas questões são dialogadas. Os Caps tem um dispositivo, a assembleia,
que é um momento de encontro entre a gestão de serviço, trabalhadores e usuários.
Falar sobre o serviço é falar sobre os pagamentos, sobre as estruturas físicas que
estão extremamente precárias, entre outros. É de fato fazer do usuário conhecedor
dos limites enfrentados pela equipe que, de alguma forma, influenciam no serviço
que lhe é oferecido e, assim, torná-lo protagonista de seu tratamento.
Evidencia-se uma outra colocação posta pela entrevistada que nos leva à
importantes reflexões: a manutenção do usuário feita exclusivamente pelo vínculo. A
diretora relatou casos de pessoas que chegam ao local muito agressivas, violentas,
e não há muito o que ser feito. Muitas vezes é necessária uma compensação
química, porém não há médicos todos os dias da semana, por isso os mecanismos
de proteção são por vezes insuficientes para conter determinados usuários que ali
chegam.
A estrutura física do CAPSad apresenta algumas debilidades. As oficinas
são, em alguns casos, em salas de atendimento individual, mas na maioria das
vezes acontece em ambiente que também é utilizado como refeitório, por isso são
realizadas de acordo com horário de café da manhã, almoço e lanche. Os usuários
tem acesso à estas levando em consideração o seu plano terapêutico. Uma
exemplificação utilizada pela entrevistada que merece destaque, para relatar a
dificuldade no interior do espaço, seria a necessidade de instalação de tanques para
que os usuários em situação de rua pudessem lavar suas roupas, uma vez que não
há ambientes de higiene adequados para tais. Alguns tem muitas questões
congênitas, o que afeta o serviço que lhes será oferecido.
Ainda no que se refere ao espaço físico, a entrevistada sugere a ideia de um
lugar mais amplo, que comporte um maior número de pessoas. Apesar do número
de profissionais ser significativo em comparação com outras unidades de CAPS,
ainda é pequeno, tendo em vista que a maioria da equipe possui uma carga horária
de apenas 20 horas semanais. Os profissionais estão no CAPSad Mané Garrincha
em 5 turnos, sendo um destes a reunião de equipe. Atendê-los com toda
complexidade de sujeito em uma semana de 20 horas torna-se uma importante
questão a ser discutida. Entender esta complexidade é considerar suas
peculiaridades, contexto histórico de vida emergente da experiência singular do
usuário que se apresenta no serviço. Nesta perspectiva, a diretora entrevistada
considera 30/32 horas adequadas para distribuir as tarefas de maneira mais
equilibrada entre a equipe, garantindo assim uma qualidade no tratamento e
restabelecimento do usuário atendido.
No que tange à casos mais graves, a entrevistada ressaltou a importância de
ter no mínimo 3 referências, a fim de que haja outro profissional com que se possa
compartilhar o caso. Caso haja algum estranhamento afetivo por parte do sujeito,
pode-se afastar determinado profissional, pensando sempre no bem-estar do
usuário atendido. Cabe aos profissionais refletirem politicamente sobre o tratamento
levando em consideração suas implicações na vida do sujeito.

Referência Bibliográfica:
Brasil (2005) Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE.
Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma Psiquiátrica e política de saúde
mental no Brasil.
​Os principais desafios do CAPSad II – Mané Garrincha (Noemi)

O CAPSad II Mané Garrincha, assim como toda organização de saúde


pública, apresenta muitos desafios e dificuldades que demandam da equipe –
atualmente formada por dois terapeutas ocupacionais, dois enfermeiros, um
assistente social, sete psicólogos, um musico terapeuta, três técnicos em
enfermagem, um educador físico, dois oficineiros, uma médica, nove estagiários
(sendo um dos estagiários formado em artes cênicas) e oito residentes (psiquiatria e
saúde mental) – maior esforço para conseguir efetivar os serviços e garantir ao
usuário atendimento às suas demandas.
Um dos principais desafios apresentados pela diretora da unidade foi
exatamente a constituição da equipe; atualmente a mesma possui diferenciação
quanto aos regimes de trabalho, pois, alguns são servidores públicos sob o regime
estatutário e trabalham 30h semanais e outros são contratados através das
organizações de saúde (parceria público–privada) e possuem carga horária de 20h
semanais.
Esta distinção, por mais simples que pareça, impacta na possibilidade de ter
uma equipe completa por um maior período de tempo (o serviço é dividido em
turnos) a fim de conseguirem, por exemplo, realizar pesquisas e levantamento de
dados – quando questionamos sobre o perfil do usuário ela nos informou que
embora possuam a compreensão de quais usuários costumam atender e quais suas
particularidades/especificidades não possuem esses dados sistematizados,
principalmente por ter pouca mão de obra, embora sejam o CAPS ad com maior
equipe profissional da cidade do Rio de Janeiro.
Em uma das falas da entrevistada, foi mencionado um fator muito importante
sobre o principal usuário do serviço e isto no levou a uma reflexão:

... são muito mais homens que mulheres... cerca de 70% de homens para
30% de mulheres, a nossa faixa etária que é diferente dos outros CAPS ad
da cidade é de homens de 35 até 60 anos... quem são esses usuários de
álcool?... não temos pernas para saber isso, mas eu tenho as minhas
hipóteses... o usuário de álcool aqui nós vemos de tudo, muitas pessoas
são aposentadas aqui do bairro da tijuca ou que empobreceram muito ao
longo dos anos e começaram a intensificar o uso de álcool...
Recordemos Netto (2008) que ao tomar o texto de Friedrich Engels
(1820-1895) A situação da classe trabalhadora na Inglaterra apresenta que o
mesmo “se insere no debate social da época sobre um pauperismo sem
precedentes vivido pelos trabalhadores e agravado em tempos de recorrentes
epidemias de doenças infectocontagiosas...”
Ainda sobre o mesmo texto, a professora doutora Rita de Cássia Cavalcanti
Lima reafirma que há uma relação entre a Revolução Industrial e a embriaguez da
classe trabalhadora, em virtude da miséria e do pauperismo que esta era submetida
em virtude dos baixos salários e da piora na qualidade de vida. A equipe do CAPS
ad também possuem dificuldades em manter contato e encontrar o usuário do
serviço – quando este permanece muito tempo sem participar das atividades
planejadas no projeto terapêutico – e isto se dá porque o território que atendem até
começo do ano não era todo coberto pela saúde básica da família e desta forma, o
NASF – Núcleo de Atendimento à Saúde da Família – era incipiente e
extremamente limitado; atualmente a equipe de atenção primária ainda está em fase
de adaptação com o território e com o usuário tendo a participação nos conselhos
de saúde do bairro ainda de forma limitada – o que também dificulta cumprir
atividades e demandas do próprio CAPS, que são as visitas domiciliares, por
exemplo. durante a entrevista conhecemos a estrutura física da unidade que é muito
limitada e pequena e esta observação coincidiu com o principal desafio que foi posto
para a unidade: A falta de infraestrutura.
De acordo com as informações da entrevistada, atualmente eles atendem
240 usuários – que possuem distintos projetos terapêuticos, desde os intensivos até
os que só fazem acompanhamento período semanal (inclusive o horário estendido
da unidade é para contemplar o usuário que só consegue ir ao atendimento depois
do expediente de trabalho), destes usuários, muitos demandam acolhimento noturno
e por ser um CAPS II não conseguem suprir esta demanda e muitas vezes
necessitam encaminhar para a internação no hospital de referência. Outra demanda
dos próprios usuários é ter no CAPSad um espaço para tomar banho e lavar roupas
– possuir tanques e local para a roupa para secar.
Por fim, ao verificarmos o cotidiano da instituição – através da entrevista no
local – percebemos que o trabalho desenvolvido na unidade, assim como em
diversos espaços da saúde, é de qualidade e de fato busca atender as demandas
dos usuários de forma reflexiva e pautada na ética profissional e na superação de
estigmas, entretanto, enfrenta dificuldades e são postos desafios, que em parte
compete à gestão pública sanar mas, que de fato somente com a reestruturação da
sociedade será possível avançar em sua totalidade.

Referências

LIMA. Rita de Cássia Cavalcanti in: Serviço social e o método crítico dialético: uma
contribuição análise do uso de álcool e outras drogas. In: Temas Contemporâneos:
O Serviço Social em foco. Org. GUERRA, Yolanda. LEITE, Janete Luzia. ORTIZ,
Fátima Grave. 1ª ed. Outras Expressões. São Paulo, 2013.)

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