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ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO E SUA INSERÇÃO NO

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO (PPP) DA ESCOLA: DESAFIOS E


POSSIBILIDADES

Ana Clara Gomes, NAZARI, UFU1


Juliano, NAZARI, UFU2
Maria Aldair, GOMES, UFU3

Resumo:

De encontro à necessidade de se contemplar a diversidade humana na realidade


escolar, mais especificamente no que diz respeito ao atendimento das pessoas com
altas habilidades/superdotação, o presente trabalho tem como objetivo principal
discutir sobre os desafios e possibilidades da inserção deste público alvo em meio à
construção de um Projeto Político Pedagógico (PPP). Entendemos que um dos
grandes desafios na atualidade está na identificação/diagnóstico desses alunos com
altas habilidades/superdotação, haja vista que, ainda incorremos em dificuldades
nesse processo. De encontro a isto, entendemos que o PPP tem papel fundamental
para direcionar um trabalho de qualidade para este público alvo. Em meio ao nosso
estudo discutiremos os elementos constitutivos do PPP e em seguida apresentaremos
reflexões sobre a inserção da temática altas habilidades/superdotação neste projeto, a
fim de proporcionar elementos que subsidiem o Atendimento Educacional
Especializado (AEE) para os alunos com altas habilidades/superdotação. Quanto à
metodologia, o presente estudo pode ser classificado como uma Pesquisa
Bibliográfica, de caráter exploratório. Em nossas análises destacamos que durante a
construção do PPP é importante que as atividades a serem desenvolvidas com o
público alvo desta pesquisa sejam centradas nas necessidades e interesses pessoais
destes alunos e tenham fundamento metodológico. Nesta perspectiva, o educando
deve participar de momentos de interação grupal, de atividades de organização de
trabalhos intelectuais e de elaboração de propostas pessoais acerca de um campo de
interesse pesquisável (projetos de pesquisa). Estes elementos quando abordados
tornam a aprendizagem mais significativa e prazerosa.

Palavras-chave: altas habilidades; superdotação; projeto político pedagógico.

1
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Atua como coordenadora pedagógica na
Rede Municipal de Ensino de Uberlândia. Endereço para contato: clara_educa@yahoo.com.br
2
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Atua como professora da educação
básica na Rede Municipal de Ensino de Uberlândia. Endereço para contato:
magomes@centershop.com.br
3
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Atua como professor da educação básica
na Rede Municipal de Ensino de Uberlândia. Endereço para contato: nazari_juliano@yahoo.com.br
1) Introdução

Na perspectiva de uma gestão democrática e participativa, frente à


reflexão sobre o processo de inclusão na escola, torna-se necessário a
participação ativa de todos os sujeitos envolvidos no cotidiano escolar. Neste
sentido, é indispensável o envolvimento da comunidade escolar na construção
do Projeto Político Pedagógico (PPP), no intuito de nortear as ações
administrativas e pedagógicas de modo a garantir as especificidades e
necessidades dos alunos atendidos, tentando contemplar a diversidade
humana em todas as suas dimensões.

De encontro à necessidade de se contemplar a diversidade humana na


realidade escolar, mais especificamente no que diz respeito ao atendimento
das pessoas com altas habilidades/superdotação, o presente trabalho tem
como objetivo principal discutir sobre os desafios e possibilidades da inserção
deste público alvo em meio a construção de um PPP. Neste âmbito,
vislumbrando garantir a participação efetiva e democrática, é imprescindível
promover encontros, dando oportunidade de fala para os alunos com altas
habilidades/superdotação para que socializem seus desejos, suas
necessidades, tornando o trabalho dinâmico onde todos têm oportunidade de
aprender uns com os outros.

Sabemos que o processo de inclusão e o atendimento às pessoas com


necessidades especiais provocam em determinadas situações o sentimento de
dúvida e medo, pois alguns docentes, durante o seu curso de graduação, não
foram/são preparados para receber esses alunos, sendo responsabilidade do
professor buscar aperfeiçoamento, formação e desenvolver
habilidades/capacidades para melhor atender as necessidades de todos os
alunos, sem exceção, ou seja, da diversidade humana como um todo.

Desta forma, partindo do pressuposto que o processo de


desenvolvimento cognitivo de cada criança se dá de forma diferente uma da
outra, a escola precisa preparar o ambiente para receber todos os diferentes
alunos, inclusive os com altas habilidades/superdotação, garantindo a
acessibilidade, permanência e progressão em uma educação de qualidade.
Nesta perspectiva, faz necessário criar recursos pedagógico-didáticos
diferenciados, que levem em consideração o interesse/necessidade/realidade
dos alunos para que estes não se sintam desmotivados. Assim, é de suma
importância que a escola estabeleça uma parceria entre pais, professores e
coordenadores para que o aluno sinta-se estimulado e aproveite de todo
espaço escolar desenvolvendo sua autonomia e independência, aumentando a
autoestima e se colocando como sujeito crítico e participativo no processo
histórico-social.

Entendemos que um dos grandes desafios na atualidade está na


identificação/diagnóstico desses alunos com altas habilidades/superdotação,
haja vista que, ainda incorremos em dificuldades nesse processo. De encontro
a isto, entendemos que o PPP tem papel fundamental para direcionar um
trabalho de qualidade para este público alvo. Deste modo, a seguir
discutiremos os elementos constitutivos do PPP e em seguida apresentaremos
reflexões sobre a inserção da temática altas habilidades/superdotação neste
projeto, a fim de proporcionar elementos que subsidiem o Atendimento
Educacional Especializado (AEE) para os alunos com altas
habilidades/superdotação.

2) Metodologia

Segundo Gil (2008), podemos caracterizar uma pesquisa de acordo com


o seu tipo, podendo ser classificada quanto aos seus objetivos e quanto aos
procedimentos técnicos. Nesta perspectiva, partindo do princípio de que o
objetivo geral de nossa proposta é discutir sobre os desafios e possibilidades
da inserção de alunos com altas habilidades/superdotação em meio a
construção de um PPP, no que se refere à classificação da pesquisa com base
nos objetivos, o presente estudo pode ser considerado como uma Pesquisa
Exploratória. Para Gil (2008), a Pesquisa Exploratória visa proporcionar maior
familiaridade com o problema (explicitá-lo). De acordo com o autor, este tipo de
pesquisa pode envolver levantamento bibliográfico e/ou entrevistas com
pessoas experientes no problema pesquisado.

Ainda sobre a classificação de nossa pesquisa, quanto aos


procedimentos técnicos, o presente estudo pode ser caracterizado como uma
Pesquisa Bibliográfica, uma vez que, realizamos um levantamento bibliográfico
sobre a temática no intuito de analisarmos as altas habilidades/superdotação e
sua inserção no projeto político pedagógico da escola. De acordo com Marconi
e Lakatos (2003), a Pesquisa Bibliográfica é o levantamento de toda a
bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e
imprensa escrita. Segundo os autores, a finalidade deste tipo de pesquisa é
fazer com que o pesquisador entre em contato direto com todo o material
escrito sobre um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise de
suas pesquisas ou na manipulação de suas informações.

Em conformidade, Gil (2008, p. 44) aponta que “[...] a pesquisa


bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos”. Para o autor, a principal
vantagem da Pesquisa Bibliográfica está no fato de permitir ao investigador a
cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que
poderia pesquisar diretamente (p.45). Sobre este tipo de pesquisa, Gil (2003)
destaca que sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que já se
produziu e se registrou a respeito do tema de pesquisa, para a partir dai
avançar nas investigações sobre determinado tema. Tais vantagens revelam o
compromisso da qualidade da pesquisa.

Assim, notamos que, além de permitir o levantamento das pesquisas


referentes ao tema estudado, a Pesquisa Bibliográfica permite ainda o
aprofundamento teórico que norteia a pesquisa. Nesta perspectiva, para o
desenvolvimento de nossa proposta fizemos uso de livros, artigos e
dissertações sobre a temática inclusão escolar e altas
habilidades/superdotação, no intuito de analisarmos a inserção deste público
no projeto político pedagógico da escola.

3) Desenvolvimento

3.1) Discutindo elementos constituintes de um Projeto Político


Pedagógico - PPP

Segundo Lopes (2011), a elaboração do PPP precisa contemplar a


missão, a clientela, dados sobre aprendizagem, relação com as famílias,
recursos, diretrizes pedagógicas, plano de ação da escola. Esta elaboração
pode ser feita durante as reuniões pedagógicas e institucionais, nos encontros
do Conselho Escolar e na semana de planejamento.

No que se refere à definição da missão (ou marco referencial), de


acordo com Lopes (2011), trata-se de um conjunto dos valores nos quais a
comunidade escolar acredita e das aspirações que tem em relação à
aprendizagem dos alunos. Conforme Lopes (2011), neste item é preciso
responder a perguntas como: "Para nós, o que é Educação?" e "Que aluno
queremos formar?". A definição da missão é importante, uma vez que, define a
identidade da instituição e a direção na qual ela vai caminhar. Se um dos
objetivos é formar pessoas críticas e autônomas, deve-se investir na gestão
participativa e em projetos em que todos os segmentos tenham voz e assumam
responsabilidades.

Ainda de acordo com Lopes (2011), os princípios e valores da escola


devem ser discutidos em reuniões pedagógicas ou institucionais (com os
funcionários) e assembleias do conselho escolar, do conselho de classe e do
grêmio estudantil. É papel do diretor participar de todos esses encontros, levar
material bibliográfico que possa embasar as discussões e registrar o que foi
debatido. Depois disso, a direção também deve fazer a redação deste trecho
do PPP - levando em consideração o que dizem os planos municipal ou
estadual de Educação, quando existirem -, compartilhá-lo com toda a
comunidade escolar e acolher sugestões e críticas.

No que se refere à descrição da clientela, segundo Lopes (2011), o


PPP deve apresentar um breve histórico da comunidade e da fundação da
escola e um levantamento detalhado sobre as condições social, econômica e
cultural das famílias. Estas informações são importantes para que a instituição
elabore as diretrizes pedagógicas e defina a maneira pela qual vai se relacionar
e se comunicar com a comunidade. Lopes (2011) destaca que para buscar
estas informações a melhor fonte é a ficha de matrícula, mas também podem
ser preparados questionários específicos ou feitas entrevistas com os pais.
Conforme Lopes (2011), para um resultado mais detalhado, pode-se dividir as
informações sobre cada assunto também por séries e turmas. Segundo a
autora supracitada, tabulados e analisados os dados, é preciso apresentar o
resultado parcial aos demais gestores e aos professores - ainda que faltem
etapas para a conclusão do PPP -, de modo que todos conheçam a clientela
atendida e possam pensar na melhor forma de desenvolver projetos
pedagógicos e institucionais e se relacionar com as famílias.

No que se refere ao levantamento dos dados sobre aprendizagem,


Lopes (2011) sinaliza que trata-se das informações quantitativas sobre
matrículas, aprovação, reprovação, evasão, distorção idade/série,
transferências e resultados de avaliações. Este levantamento tem importância,
pois compõem um retrato da aprendizagem na escola e permitem aferir a
qualidade do ensino. Estas informações podem ser obtidas nos quadros de
aprovação, reprovação e movimentação de alunos preparados para enviar ao
Ministério da Educação (MEC) e à Secretaria de Educação, nos relatórios das
avaliações externas e nas avaliações internas. Faz-se necessário a tabulação a
análise crítica destes dados, a fim de permitir a localização de possíveis
problemas e a definição de metas e ações.

Sobre o item relacionamento com as famílias, Lopes (2011) aponta


que se trata da maneira como os pais podem contribuir com os projetos da
instituição e participar das tomadas de decisões. Este vínculo, relação entre a
escola e a família/comunidade, é importante para o fortalecimento do Conselho
Escolar e a presença nas reuniões de pais.

Recursos

No que se refere ao item recursos, Lopes (2011) enfatiza que se trata


da descrição da estrutura física da escola (prédios, salas, equipamentos,
mobiliários e espaços livres), dos recursos humanos (composição da equipe,
qualificação e horas de trabalho) e financeiros (Programa Dinheiro Direto na
Escola, via Secretaria de Educação etc.) e dos materiais pedagógicos.
Segundo Lopes (2011), a análise destes recursos deixam explícitas as
condições do espaço de que a escola dispõe para desenvolver os projetos, a
formação atual da equipe e as necessidade de capacitação e quanto está
disponível para reformas, construções, cursos, compra de material pedagógico
etc.

No aspecto referente às diretrizes pedagógicas, Lopes (2011) destaca


que estas formam o currículo da escola e descrevem os conteúdos e os
objetivos de ensino, as metas de aprendizagem e a forma de avaliação, por
série ou ciclo e por disciplina. De acordo com Lopes (2011), é baseado nestas
diretrizes que a equipe formula planos para implantar programas e projetos e
produz indicadores sobre o impacto das ações. Estas informações são obtidas
nos dados de aprendizagem da escola, nos referenciais curriculares de
Secretarias estaduais e municipais, nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), nos indicadores de qualidade e no Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE).

No que diz respeito ao plano de ação, segundo Lopes (2011), trata-se


da lista completa com todas as ações e os projetos institucionais da escola
para o ano letivo, estabelecendo o que será feito (na prática) em benefício dos
processos de ensino e de aprendizagem para atingir os objetivos definidos
inicialmente. Conforme a autora supracitada, os tópicos necessários em cada
um dos projetos descritos são: objetivos, duração, profissionais responsáveis,
parceiros, encaminhamentos, etapas e avaliação.

Como podemos perceber estes itens que constituem o PPP são de


suma importância no sentido de nortear o trabalho desenvolvido pela instituição
escolar de maneira estrutura e visando garantir uma educação integral,
significativa e de qualidade para os educandos, além de contemplar a
diversidade humana em todos os seus aspectos.

3.2) Altas habilidades/superdotação e sua inserção no PPP

Entendemos que o debate sobre o Atendimento Educacional


Especializado - AEE para pessoas com altas habilidades/superdotação, ainda
trata-se de um tema com muito a ser explorado e discutido, principalmente no
que diz respeito aos saberes e práticas escolares. Sua inserção no PPP deve
garantir um atendimento direcionado e mais profícuo para esse público; nesse
sentido pretendemos elencar subsídios práticos e teóricos no intuito de
procedermos com essa inserção de maneira significativa.

Segundo Peripolli e Santos (2012), para elaboração do PPP, associa-se


a legislação vigente, que, segundo Brasil (2008), propõe a obrigatoriedade da
matrícula dos alunos público alvo da educação especial na escola comum do
ensino regular e da oferta do AEE como forma de subsidiar essas ações.
Dessa forma, a Resolução n.º 04/09, do Conselho Nacional de Educação,
apresenta as diretrizes operacionais desse atendimento, balizando suas
funções; definindo o espaço e o turno em que essa atividade deve ser
oferecida; computando a matrícula dupla desse alunado, para fins de
recebimento do financiamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação Básica, delineando as competências e as atribuições do professor
especializado; norteando a elaboração do plano de atendimento especializado,
entre outras ações.

Além desses aspectos normatizados pela Resolução n.º 04/09, alguns


pilares são necessários e precisam ser dialogados e definidos no PPP, por
todos os professores envolvidos na ação pedagógica, sendo estes, conforme
Peripolli e Santos (2012, p. 322):

1) Abertura da escola para a diversificação,


flexibilização e inovação do processo de ensino e
aprendizagem, abarcando, neste tocante, a
(re)estruturação e o funcionamento da mesma como um
todo. Ao invés de ideias míticas e concepções uniformes
e homogeneizados de currículo, devem subsidiar, no
PPP, a proposição de currículos abertos e amplos, bem
como a especificação de como a formação continuada
dos professores e dos serviços de apoio serão realizados
para atender os alunos com altas
habilidades/superdotação.
2) Flexibilização dos critérios e dos procedimentos
pedagógicos, favorecendo a distinção na metodologia,
nos processos didáticos, na temporalidade para a
obtenção de determinados conhecimentos e na avaliação
dos alunos. As estratégias metodológicas devem estar
coesas com os objetivos e com os conteúdos
apresentados no currículo. Contudo, ao incluir o aluno
com altas habilidades/superdotação, é imperativo o
oferecimento de alternativas metodológicas que
beneficiem e estimulem mais o pensar do que o repetir
conceitos e, que levem a uma autonomia desse aluno na
resolução de problemas do cotidiano.
3) Processo avaliativo que envolve a aquisição do
conhecimento e da aprendizagem desse aluno. Por tal
motivo, deve-se abandonar a visão obsoleta e tradicional
da prática avaliativa que visa somente o produto final e
quantificável. Esse modelo padroniza e a iguala a
aprendizagem e as idiossincrasias do aluno, não
respeitando nem valorando os níveis de conhecimento de
cada um. Porém, uma mudança de paradigma, em que se
tem uma visão mais progressista dessa prática, poderá
conduzir a uma compreensão de que a avaliação é um
processo contínuo.
4) A identificação do aluno com necessidades
educacionais especiais - versa no (re) conhecimento da
história de vida, ou seja, na bagagem de conhecimento
que este indivíduo traz consigo ou possui em relação aos
conteúdos desenvolvidos em cada proposta de ensino-
aprendizagem.
5) A organização dos serviços educacionais, isto é,
como ensinar esses alunos. Ou seja, como planejar, fazer
escolhas, preparar propostas de ação, com o objetivo de
oportunizar, para aquele que aprende, um aprendizado
significativo. Neste sentido, o enriquecimento é uma
alternativa de Atendimento Educacional Especializado,
visto que complementa a aprendizagem dos alunos com
altas habilidades/superdotação.

Sob este enfoque, tem-se a proposição do Modelo Triádico de


Enriquecimento Escolar, proposto por Renzulli (2004, apud PERIPOLLI;
SANTOS, 2012), e que visa desenvolver o conhecimento e as habilidades de
pensamento adquiridos por meio da instrução formal, com aplicação de
conhecimentos e habilidades decorrentes da própria investigação feita pelo
aluno, resultando no desenvolvimento de um produto criativo.

Segundo Peripolli e Santos (2012) o Modelo de Enriquecimento


(re)significa a prática pedagógica da escola e, conforme Chagas et al (2007,
apud PERIPOLLI; SANTOS, 2012, p. 324), amplia a proposta educacional no
sentido de:

a) desenvolver o talento potencial dos alunos de forma


sistemática;
b) oferecer um currículo diferenciado, no qual os
interesses, estilos de aprendizagens e habilidades sejam
posteriormente considerados;
c) estimular um desempenho acadêmico de excelência
por meio de atividades enriquecedoras e significativas;
d) promover o crescimento auto-orientado, contínuo e
reflexivo por meio de atividades quer estimulem a
liderança e o pensamento criativo;
e) criar um ambiente de aprendizagem propício ao ensino
de valores éticos, que promovam respeito à diversidade
cultural, étnica ou de gênero, o respeito mútuo e os
princípios democráticos;
f) implementar uma cultura colaborativa na escola, de
maneira que direção, corpo docente e discente, outros
membros da equipe escolar, família e comunidade
possam contribuir para a promoção de oportunidades e
tomada de decisão sobre atividades escolares, formando,
assim, uma ampla rede de apoio social no
desenvolvimento dos talentos;
g) criar oportunidades de serviços que não são
comumente desenvolvidos a partir do currículo regular da
escola.

Neste âmbito, Peripolli e Santos (2012) destacam que, o planejamento


das atividades a serem desenvolvidas nos espaços de aprendizagem deve
levar em conta os interesses, potencialidades e estilos de aprendizagem dos
alunos. Mais que o ensino de conteúdos curriculares previstos na educação
formal, esse modelo deve estar voltado para o desenvolvimento de programas,
atividades e pesquisas diferenciadas. Um princípio básico é que a
aprendizagem pode se tornar motivadora quando o conhecimento e o processo
de ensino e de aprendizagem são apreendidos em um contexto em que possui
problemas reais. A efetivação da proposta de enriquecimento implica em uma
prática pedagógica configurada na e para a diversidade. Nesse sentido, é
importante perceber o aluno de forma integral, buscando uma escola
motivadora.

Com base nestas ideias acreditamos que, o plano de ação destinados


ao atendimento as pessoas com altas habilidades/superdotação pode ser
baseado no Modelo de Enriquecimento, que se constitui em uma proposta
flexível, o que proporciona e viabiliza seu ajustamento a qualquer realidade
educacional e sua aplicabilidade em todos os níveis de ensino, independente
da tessitura socioeconômica. Peripolli e Santos (2012), destaca que uma
atividade de enriquecimento é a possibilidade do aluno com altas
habilidades/superdotação concluir em menor tempo um determinado conteúdo,
o que sugere aceleração, contudo, o que caracteriza essa ação como
enriquecimento é o acréscimo de outros conteúdos, mais amplos ou mais
aprofundados, ocupando o lócus deixado pelo que foi finalizado.

Nessa perspectiva, a seguir apresentamos elementos para subsidiar um


plano de ação baseado em atividades de enriquecimento do Tipo I, II e III,
propostas por Chagas, Maia-Pinto e Pereira (2007):

Plano de Ação

Tipo e caracterização

Tipo I - são experiências e atividades exploratórias ou introdutórias destinadas


a colocar o aluno em contato com uma ampla variedade de tópicos ou áreas
de conhecimento e se inicia no espaço de aprendizagem regular, envolvendo
todos os alunos da escola.

Tipo II - utilizam-se métodos, materiais e técnicas instrucionais que


contribuem para o desenvolvimento de níveis superiores de pensamento, de
habilidades criativas, críticas, de pesquisa, de busca de referências
bibliográficas e processos relacionados ao desenvolvimento pessoal e social.

Tipo III - oportunizam a reflexão dos problemas reais, por meio de métodos
adequados de investigação, produção de conhecimento inédito, resolução de
problemas ou a construção de um produto ou serviço.

Atividades propostas

Tipo I - a) apresentação de filmes variados, desde os científicos e técnicos


aos de longas metragens seguidos de questões inquiridoras e de
esclarecimentos; b) discursos de noticiário do dia através de várias
abordagens: criação de painéis de confronto, pastas de opiniões, termômetro
dos argumentos e tabelas jornalísticas; c) Oficinas variadas: origami,
fotografia, robótica, química, alimentos saudáveis, cuidados pessoais, trato
com animais, exercícios de raciocínio lógico, xadrez, construções de
maquetes, atividades de resolução criativa de problemas, organização de
coleções, técnicas de desenho, entre outras de interesse dos alunos; d)
palestras com profissionais de várias áreas do conhecimento como bombeiros,
professores, botânicos, físicos, astrônomos, artesões, artistas plásticos,
atores, veterinários, chaveiros, soldadores, pedreiros e outros, focalizando
diferentes aspectos de suas atividades profissionais, técnicas e métodos
utilizados ou áreas de atuação; e) grupos de enriquecimento organizados
especificamente para atender a curiosidade de alunos por áreas específicas
do conheci mento desenvolvendo atividades planejadas e organizadas como
produção de textos, robótica, filatelia, cálculo, microscopia e outros; f)
passeios, visitas e excursões. Passeios ecológicos e caminhadas em reservas
ambientais. Visitas a museus, laboratórios, centros especializados,
universidades, hospitais. Excursões a parques, cidades históricas etc.; g) uso
de tecnologias computacionais: softwares educativos, enciclopédias digitais e
jogos pedagógicos e simuladores; h) minicursos desenvolvidos em períodos
definidos de tempo (dois ou três encontros), com instrutores e especialistas da
área, como: botânica, cuidados pessoais, saúde bucal, raças de cães, xadrez,
confecção de fantoches, brinquedos alternativos, pescaria e outros de acordo
com a realidade local e interesse dos alunos; i) demonstrações de práticas
como primeiro socorros, banho de animais, jardinagem, esportes radicais,
capoeira, modelagem, mecânica entre outras sugeridas pelos alunos e
comunidade escolar e, j) entrevistas desenvolvidas com pessoas de destaque
na comunidade local ou com profissionais reconhecidos pelo trabalho que
desenvolvem na comunidade escolar.

Tipo II: a) elaboração de roteiros de trabalhos: treina mento específico para a


delimitação de temas, organização de roteiros e delineamento de trabalhos; b)
treinamento em técnicas de observação, seleção, classificação, organização,
análise e registro de dados; c) elaboração de objetivos e cronogramas de
trabalhos; d) treinamento em técnicas de desenvolvimento de apresentações
orais, escritas e práticas; e) treinamento em técnicas de resumo, trabalhos
bibliográficos, esquemas, fichamentos, relatórios, entrevistas, métodos de
pesquisas, entre outros; f) treinamento em técnicas variadas de apresentação
de produtos como álbuns, cartazes, maquetes, móbiles, esculturas,
experimentos e outros; g) treinamento em técnicas de resolução de problemas
e conflitos; h) oficina de ideias com materiais alternativos ou reciclagem de
sucata; i) treinamento no manuseio de recursos áudio visuais e tecnológicos
para o desenvolvi mento de trabalhos como: retroprojetores, slides, televisão,
vídeos, gravadores, fumadoras máquinas fotográficas, banco de dados,
computador, impressora, scanner, xerox, microscópios, lupas, telescópios e
outros; j) treinamento em técnicas de discussão, debates e argumentação; e l)
treinamento em técnicas de liderança e gerenciamento.

Tipo III - a) investigação de problemas reais; b) desenvolvimento de projetos


coletivos e individuais; c) grupos de pesquisa em área de estudos
específicos;d) desenvolvimento de produtos criativos e originais (como por
exemplo, roteiro de peça, revista, maquete, poesia, relatório de pesquisa, livro
ilustrado, desenho em quadrinhos, teatro de fantoches, mural etc); e)
divulgação dos produtos elaborados.

Com base nos elementos expostos acima, corroboramos com Peripolli e


Santos (2012), a ideia de que uma educação para todos precisa considerar as
diferenças individuais e, portanto, oferecer oportunidades de aprendizagem
conforme as habilidades, interesses, estilos de aprendizagem e potencialidades
de seus atores. Nesse sentido, alunos com altas habilidades/superdotação
fazem jus ter acesso a práticas pedagógicas que atendam às suas
necessidades, possibilitando um melhor desenvolvimento de suas
capacidades.

Ainda nessa perspectiva, mais especificamente no que se refere ao AEE


para pessoas com altas habilidades/superdotação no contexto de um PPP
inclusivo, a seguir para melhor revelar as especificidades do trabalho a ser
desenvolvido pelos(as) profissionais do AEE e da sala regular, recorremos ao
quadro sobre AEE (procedimentos gerais), elaborado por Novais (2012),
adaptando-o para o atendimento de pessoas com altas
habilidades/superdotação:

ATENDIMENTO EDUCACIONAL SALA DE AULA DO ENSINO COMUM


ESPECIALIZADO

Realizar avaliação com vistas a Colaborar com a coleta e a análise dos


identificar as necessidades educativas dados sobre o (a) aluno (a),
especiais, com base numa concepção observando-o (a) e registrando dados
interativa e contextualizada do sobre esse (a) aluno (a) em sala de
desenvolvimento e da aprendizagem. aula, principalmente como ele (ela) lida
Essa avaliação deve ser feita em com a sua necessidade, com os objetos
colaboração com outros (as) de aprendizagem e de apoio para o
profissionais envolvidos (as) com o (a) processo de construção de
aluno (a). conhecimento.

Identificar os níveis, os graus e os tipos Utilizar o resultado desse levantamento,


de necessidades necessárias à a partir das orientações do (a)
adaptação curricular. profissional do AEE, para planejar,
executar, avaliar e planejar a prática
pedagógica.

Dar apoio, suporte, orientação e Participar da elaboração, avaliação e


participar da elaboração do Projeto (re) elaboração do Projeto Político-
Político-Pedagógico e do Plano de Pedagógico e do Plano de trabalho,
Trabalho do (a) aluno (a) com vistas ao bem como mediar processos de ensino
desenvolvimento da educação inclusiva. e aprendizagem, considerando as
especificidades do (a) aluno (a).

Orientar, ajudar na elaboração e na Mediar o ensino de conteúdos


adaptação de materiais, recursos curriculares, utilizando recursos
específicos com vistas a favorecer a pedagógicos e de acessibilidade.
aprendizagem.

Orientar quanto à adequação ambiental, Com base na orientação oferecida pelo


ocupação do espaço e tempo, etc. (a) profissional do AEE, observar e
colaborar para que o (a) aluno (a) tenha
ambiente adequado e a melhor forma
de ocupação do tempo e do espaço
escolares.

Apoiar a participação do (a) aluno (a) Fomentar a participação da pessoa com


com altas habilidades/superdotação na altas habilidades/superdotação nas
escola e na comunidade em geral. atividades escolares.

Prestar assessoramento técnico- Produzir material adaptado para apoiar


pedagógico aos (às) professores (as) da processos educativos.
rede regular de ensino com vistas à
inclusão escolar.

Indicar e assessorar o uso de Utilizar tecnologias da informação e


tecnologias da informação e comunicação no ensino de conteúdos
comunicação. curriculares.

Plano de enriquecimento educacional. Ensinar conteúdos do currículo escolar.

Assessorar o (a) professor (a) no que Manter diálogo permanente com o (a)
diz respeito às informações sobre profissional do AEE com vistas a incluir
espaços e recursos de acessibilidade no planejamento escolar outros
disponíveis em outros ambientes ambientes educativos.
educativos que podem auxiliar a
formação ampliada da pessoa com altas
habilidades/superdotação.

Participar de reuniões de pais, mães e Participar de reuniões de pais, mães e


outros (as) responsáveis pelo (a) aluno outros (as) responsáveis pelo (a) aluno
(a) com vistas a discutir sobre (a) com vistas a discutir sobre
processos de ensino e aprendizagem, processos de ensino e aprendizagem,
bem como a organização das condições bem como a organização das condições
de aprendizagem. de aprendizagem.

Participar da construção da rede de Participar da construção da rede de


inclusão escolar. inclusão escolar.

Nessa direção, o Plano de Trabalho do AEE vincula-se aos objetivos e


às diretrizes educacionais expressas no PPP e contempla as especificidades
decorrentes das necessidades de apoio indispensável ao
desenvolvimento/aprendizagem dos (as) aluno (as) com necessidades
educacionais especiais em decorrência de alguma deficiência, transtorno global
do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Assim, o Plano de
Trabalho formulado, também com base nas particularidades de cada aluno (a),
é individual e coletivo. Isto porque a ação educativa requer relações entre
pessoas, modos de funcionamento dos grupos, nos quais a pessoa está
inserida.

Por fim, é importante destacarmos que, ancorados no compromisso de


garantir o ensino de qualidade a cada um de nossos alunos, visando uma
escola democrática, a elaboração do PPP que integre o AEE para alunos com
altas habilidade/superdotação necessita contemplar os itens propostos por
Lopes (2011): a missão, a clientela, dados sobre aprendizagem, relação com
as famílias, recursos, diretrizes pedagógicas, plano de ação da escola.

4) Considerações finais

Em geral as atividades de acompanhamento pedagógico do aluno com


altas habilidades/superdotação são desenvolvidas em salas de recursos que
realizam o atendimento pedagógico complementar. Nessas salas professores
especializados efetivam atividades de enriquecimento e aprofundamento nas
diversas áreas em que se manifesta a superdotação, bem como oportunizam
momentos de desenvolvimento global e de harmonização dos aspectos a
dificultar seus potenciais.

As atividades a serem desenvolvidas devem ser centradas nas


necessidades e interesses pessoais destes alunos, além de se basearem em
propostas metodológicas de correntes da educação e psicologia, bem como em
contribuições de pesquisadores das áreas citadas. Nesta perspectiva, o aluno
participa de momentos de interação grupal, de atividades de organização de
trabalhos intelectuais e de elaboração de propostas pessoais acerca de um
campo de interesse pesquisável (projetos de pesquisa). Estes elementos
quando abordados tornam a aprendizagem mais significativa e prazerosa.
5) Referências

- BRASIL. Ministério da Educação. Resolução Nº 4, de 2 de outubro. Institui


Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na
Educação Básica, 2009.
- BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília.
2008.
- CHAGAS, J. F.; MAIA-PINTO, R.; PEREIRA, V. L. Modelo de enriquecimento
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